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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE VARIÁVEIS BIOMECÂNICAS NA

EQUOTERAPIA:
Influência das variações na amplitude do passo do cavalo
Autores: Milena Julia CHIROLLI¹; Vera Lúcia Freitas PANIZ²; Silvana Cony QUINTEIRO³; Antônio João
FIDÈLIS4
Identificação autores: Ex Bolsista ICJ/CNPq, estudante de Fisioterapia UDESC-CEFID¹; Orientadora
do IFC – Campus Rio do Sul²; Coorientadora do IFC – Campus Rio do Sul³; Coorientador do IFC –
Campus Rio do Sul4

RESUMO

O presente projeto tem por objetivo analisar a estimulação recebida pelos praticantes
de equoterapia em cada variação de amplitude do passo do cavalo. Fez-se uso de
acelerômetros de aparelhos smartphones para registro do movimento tridimensional,
sendo que os dados foram avaliados via Expoente de Lyapunov. Observou-se que,
em média, quando a amplitude do cavalo aumenta, os estímulos recebidos pelos
voluntários também aumentam. No entanto, existe uma suavidade neste aumento que
é contrário à caminhada humana. O antepistar foi caracterizado por estimular o
sistema vestibular de forma mais lenta, enquanto o transpistar estimula de forma
rápida, causando modificações no tônus muscular.

INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

A equoterapia é um método terapêutico alternativo e complementar às terapias


convencionais capaz de promover benefícios físicos, mentais e sociais aos seus pra-
ticantes (ANDE-Brasil, 2012). De acordo com Bertoti (1988), os benefícios físicos pro-
vêm da semelhança o caminhar humano e o andar a cavalo, uma vez que o passo do
cavalo transmite aos pacientes deslocamentos tridimensionais. Esses deslocamentos
estão associados a rotações de 6 a 8 graus na região pélvica dos pacientes (ANDE-
BRASIL, 2012), que ocorrem devido ao alongamento da coluna vertebral do cavalo.
Quanto maior for este alongamento, maior será a amplitude do passo do animal
(CHIROLLI; PANIZ; QUINTEIRO, 2015). De acordo com Pierobon (2008), o passo do
cavalo pode ter três variações de alcance, sendo chamadas de antepistar, sobrepistar
e transpistar. A figura a seguir ilustra estas variações:

Figura 1 - Variações de amplitude do passo do cavalo


Fonte: Gelbke, 2010.
Como observado, o antepistar é caracterizado por uma amplitude de passo
curta, consequentemente, quando o animal demonstra este passo, está em veloci-
dade lenta; o sobrepistar caracteriza-se como um passo de velocidade e amplitude
intermediárias; enquanto o transpistar demonstra velocidade rápida e amplitude longa.
Levando em conta que em cada caso ou patologia abordada na equoterapia
existem especificidades a serem consideradas, como a intensidade de deslocamentos
tridimensionais, deve-se adaptar o a amplitude de passo do cavalo para que os estí-
mulos fornecidos a cada praticante sejam adequados. Neste sentido, esta pesquisa
visa examinar a influência das variações do passo do cavalo nos estímulos fornecidos
aos praticantes de equoterapia. Classificada como uma pesquisa experimental, des-
critiva e explicativa, se realizou por meio formalismo dos sistemas dinâmicos.

METODOLOGIA

Tal pesquisa foi desenvolvida em parceria entre o IFC e a APAE de Rio do Sul.
Os voluntários foram divididos em três faixas etárias sendo: crianças, adolescentes e
adultos. Para cada faixa etária, participaram dois pacientes com algum tipo de defici-
ência ou comprometimento motor e um modelo (grupo controle). Para experimenta-
ção, utilizou-se um aplicativo de aparelhos smartphones chamado "Accelerometer Me-
ter", que está disponível para download na Play Store de dispositivos Android. Este
aplicativo é adequado para mensurar facilmente e com precisão significativa os eixos
e as coordenadas do movimento tridimensional (x, y, z, R, φ, θ). O dispositivo foi ane-
xado ao corpo dos voluntários, em sua região peitoral, com auxílio de fitas de velcro,
ficando o mais próximo possível do corpo, registrando a aceleração a qual estiveram
sujeitos. A trajetória de experimentação foi delimitada em um espaço de 10 metros,
coberta por serragem para melhor visualização da marca do passo do animal, po-
dendo verificar se o mesmo estava antespistando, sobrepistando ou transpistando.
Nas pessoas a pé, observou-se sua caminhada cotidiana (intermediária), assim
como, com velocidade ligeiramente aumentada e ligeiramente reduzida, para poder
comparar com as três variações do passo do cavalo. Também foram obtidos valores
posicionando somente o smartphone sobre o animal. A seguinte ilustração mostra
como a experimentação foi realizada:
Figura 2 - Ilustração da experimentação
Fonte: Autores, 2017.
A partir dos dados experimentais coletados com o acelerômetro do smartphone,
realizou-se a análise dos dados calculando o expoente de Lyapunov para cada me-
dida. O Expoente de Lyapunov, usado no formalismo de sistemas dinâmicos, mede a
caoticidade de uma órbita (sequência de pontos obtidos a partir de um sistema, como
do experimento realizado). Ele é calculado a partir de uma média da aproximação ou
afastamento exponencial de órbitas iniciadas muito próximas, a partir da expressão
visualizada na página seguinte.
1 𝑎𝑛 −𝑎𝑛−1
λ = ∑𝑁
𝑛=1 ln(| |),
𝑁 𝑡𝑛 −𝑡𝑛−1

Na expressão dada, λ é o Expoente de Lyapunov, N é a quantidade de pontos


medidos, ln(a) é a função logarítmica de base e (ln(a)=loge(a), e=2,718284…), an é a
aceleração medida do ponto n e tn é o tempo medido do ponto n.
O expoente de Lyapunov de cada medida foi comparado entre os voluntários
com deficiências e/ou necessidades especiais (praticantes) com os voluntários
modelos, para verificar quais relações são relevantes para o tratamento com a
equoterapia.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A tabela a seguir apresenta o valor médio da divergência exponencial de cada


série de três medidas. Não é uma medida absoluta, mas relativa, conforme as condi-
ções do experimento realizado. Valores maiores estão relacionados à maior variação
de aceleração média.
Tabela 1 – Comparativo: Expoente de Lyapunov entre os tipos de passo: humano e a cavalo

Fonte: Autores, 2016.


Observou-se que os valores obtidos nos voluntários a cavalo foram maiores
que aqueles medidos apenas com o smartphone sobre o animal, isso significa que o
corpo humano absorve o estímulo e tenta equilibrar-se, resultando em maior repasse
ao acelerômetro. Porém, tais valores foram menores do que nos voluntários a pé.
Corroborando com esta informação, a tabela a seguir apresenta o valor médio do ex-
poente de Lyapunov obtido para todos os 9 voluntários:
Tabela 2 – Comparação: Expoente de Lyapunov médio - caminhar humano e andar a cavalo

Fonte: Autores, 2016.


A partir dos dados obtidos, foram gerados 48 gráficos, abordando as diferentes
amplitudes da caminhada humana e do passo do cavalo. Uma vez que não é possível
mostrar todos neste documento, os gráficos estarão disponíveis para conferência em
uma pasta corretamente rotulada no display, assim como, no arquivo PP de exibição.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em média, quando a velocidade do passo do cavalo é aumentada, o estímulo


recebido pelo acelerômetro também é aumentado. No entanto, também foi observado
que a estimulação passada do cavalo para o praticante suaviza sua elevação com o
aumento da velocidade do cavalo. Conforme observado nos gráficos, esse comporta-
mento é contrário à caminhada humana, porque quanto mais rápidos os voluntários
andavam, mais instáveis eram. Isto foi observado com maior significância em pacien-
tes com comprometimento motor, pois, devido às dificuldades de mobilidade, quando
caminhavam rapidamente seu movimento se tornava-se muito instável, expondo-o até
mesmo ao risco de queda. Desta forma, pacientes com esse tipo de deficiência motora
podem receber por meio da equoterapia, estímulos semelhantes a caminhada hu-
mana rápida de pacientes sem deficiência, ou seja, um movimento tridimensional cor-
reto e estável, que eles não são capazes de produzir ao caminhar. Quanto à veloci-
dade e amplitude do passo do cavalo, o antepistar é caracterizado por estimular o
sistema vestibular de forma mais lenta, enquanto o transpistar estimula de forma rá-
pida. Esses estímulos estão associados ao tônus muscular dos pacientes, que, em
repouso, é mantido pelos impulsos provenientes da medula espinal. Quando o paci-
ente está a cavalo, ele recebe estímulos que, através da medula espinal, atingem a
musculatura e podem modificar seu tônus muscular.
Ressalta-se que tal experiência pode ser repetida por profissionais da equote-
rapia que desejam medir os deslocamentos fornecidos pelos seus cavalos-terapeutas.

REFERÊNCIAS
ANDE-BRASIL. Manual do Curso Básico de Equoterapia. Brasília, 2012.

BERTOTI, D.B. Effect of Therapeutic Horseback Riding in Children with Cerebral


Palsy. Physical Therapy, v. 68 no. 10, 1988.

CHIROLLI, M.J; PANIZ, V.L.F; QUINTEIRO, S.C. EQUOTERAPIA: Alterações de di-


ferentes estímulos causadas pela variação na amplitude e frequência do passo do
cavalo. Anais da VI FICE – Feira de Iniciação Científica em Extensão. Camboriú,
2015.

GELBCKE, J.O. A prática da equitação: história, modalidades, ensino e benefícios.


Monografia de conclusão do curso Bacharelado em Educação Física. Centro de
Desportos. Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Florianópolis, 2010.

PIEROBON, J.C.M. et, al. Estímulos sensório-motores proporcionados ao praticante


de equoterapia pelo cavalo ao passo durante a montaria. Ensaios e Ciência:
Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde. Universidade Anhanguera. Campo
Grande, vol. 12, n. 2, 2008. pp. 39-48.

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