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Aula 2
Aula 2
Introdução:
Nesta aula, você verá os problemas da definição de religião. No senso-comum, a
origem da palavra religião é apontada como religare, (ligar de novo, ligar algo que
estava rompido) do latim clássico, mas há muito mais elementos que importa a você
conhecer, por isso é importante que você tenha uma visão histórica bem
fundamentada.
Objetivos:
Compreender as características acadêmicas do estudo da religião.
Identificar os principais tipos de definição ou conceituação de religião.
Estabelecer ampla visão histórico-filosófica sobre os conceitos de religião.
Conceito de religião
Para definirmos religião, é preciso que nos libertemos
de toda ideia preconcebida.
Se a filosofia e a ciência nasceram da religião, é que a
própria religião começou por fazer as vezes de ciências
e de filosofia.
(DURKHEIM, 1912)
G1.globo.com <https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/igreja-para-publico-lgbt-
discute-religiao-sem-preconceito-no-am.ghtml> . Acesso em: 28 out. 2017.
Goo.gl/4CRXtQ <https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/igreja-para-publico-
lgbt-discute-religiao-sem-preconceito-no-am.ghtml> . Acesso em: 01 nov. 2017
A segunda, do Jornal Estado de São Paulo, do dia 01-11-2017, intitulada:
Goo.gl/WfZAra <https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/igreja-para-publico-
lgbt-discute-religiao-sem-preconceito-no-am.ghtml> . Acesso em: 01 nov. 2017
Você pode perceber, a partir dessa rápida olhada, que definir religião é uma
tarefa complexa, difícil, controversa, plural (diversidade de perspectivas) e
sempre inacabada. Mas, podemos dizer que as frases do sociólogo Émile
Durkheim, na abertura desta aula, nos trazem o melhor caminho para os
pesquisadores.
Para definirmos religião é preciso que nos libertemos
de toda ideia preconcebida.
O que podemos entender da posição expressa, nessa frase, é que a ideia
preconcebida, isto é, aquela que todos têm de religião antes de estudar
religião, pode ser um obstáculo ao pesquisador que deseja obter uma visão
acadêmica, menos ingênua e mais crítica.
Vivemos uma época de fraturas nos grandes consensos que um dia existiram,
mas, ao mesmo tempo, de muros erguidos (intolerâncias políticas e
religiosas), de grandes deslocamentos sociais, espaciais e culturais e, ao
mesmo tempo, de temores e antagonismos.
Há, nessas críticas, uma beleza poética, por exemplo, quando Nietzsche nos
disse não acreditar em um Deus que não dança. Infelizmente, devido aos
fortes problemas educacionais, no Brasil, ouvimos muitas interpretações ruins
de uma das frases mais impactantes, “Deus está morto”, devendo ser
entendida como uma crítica à filosofia metafísica e ao positivismo, que
representou o avanço da concepção de mundo científico como a forma
dominante na modernidade.
Essas perguntas não são fáceis de responder, mas para a perspectiva adotada
pelas Ciências da Religião não são uma perspectiva “religiosa”, ou seja, não é
o objetivo dessas ciências responder questões sobre a existência ou não
existência “empírica” de Deus, alma, vida eterna, reencarnação, milagres,
entidades espirituais etc.
Sabemos que a divisão entre natural e cultural foi criada pelo pensamento e
pela cultura europeia a partir do século XVIII e XIX. Por exemplo, o
Iluminismo defendia o homem como natural e racional, enquanto que o
Romantismo, logo a seguir, com tom conservador, valorizou os aspectos da
cultura, da história e das tradições.
David Hume, filósofo escocês que citamos na aula 01, falava em religião
natural do homem selvagem (alusão aos povos índios das Américas), em
oposição a uma religião instituída, não natural (Velho Continente).
Quando tentamos aplicar esse termo para explicar outras realidades, surgem
problemas. O termo religião dificilmente se aplica ao cotidiano de muitos
povos, embora eles possuam práticas e crenças que parecem remeter à ideia
de “outro mundo” ou à de seres mágicos e misteriosos. Muitos pesquisadores
optam por usar o termo cosmologias índias (e, em seguida, o nome da tribo
ou da etnia) para dar conta da estrutura de vida desses povos.
substancialistas,
funcionalistas e
funcionalistas e
As definições substancialistas
Antes de apresentarmos as definições que buscam uma suposta substância da
religião, falaremos um pouco sobre a controversa origem linguística e um
pouco de sua história.
01
02
No contexto dos cultos romanos aos deuses e às leis da cidade romana, essa
ideia opunha-se a neglegere, ou seja, à falta de cuidado com o culto, daí a
palavra negligência.
se nós nos compararmos às nações estrangeiras, nós
podemos parecer iguais ou mesmo inferiores nos
diferentes domínios, menos em religião, isto é, no culto
aos deuses, onde nós somos de longe superiores.
A prática religiosa romana é zelosa e busca uma relação respeitosa com os
deuses que torna necessária a repetição precisa dos ritos. O relegere, nesse
sentido, tem a ver com “refazer novamente”, indicando, segundo a cientista
da religião, Cristiane Azevedo: “uma disposição subjetiva, um movimento
reflexivo ligado a algum temor de caráter religioso: ‘refazer’ uma escolha já
feita (retractare, diz Cícero), revisar a decisão que dela resulta, tal é o sentido
próprio de religio”. (AZEVEDO, Cristiane. A procura do conceito de religio:
entre o relegere e o religare. In: Revista Religare, João Pessoa, v. 7, n. 1, p.
90-96, março de 2010).
Textura(Fonte:Shutterstock.com)
com máscaras e tambores africanos.
A história do Cristianismo nos mostra que não é uma resposta tão fácil, pelo
menos, desde o ponto de vista das Ciências da Religião.
Vale a pena transcrevermos o que escreveu Hock (2010, p. 19) sobre essa
parábola: “por um lado, as religiões concretas — no caso, Judaísmo,
Cristianismo e Islamismo — são submetidas a uma crítica voltada [...] contra
suas respectivas pretensões de superioridade. Por outro lado, essa crítica se
baseia na ideia da religião única e verdadeira em si que abre aos seres
humanos futuro e vida (sobrevivência)”.
Saiba mais
A substância ou essência da
religião
Cabe aqui fazer uma reflexão sobre o verbo definir, que dá origem ao
substantivo definição.
dar fim;
apontar com precisão;
revelar;
tornar claro e sem margem de dúvidas;
traçar fronteiras.
Trazemos com isso a ideia de que a definição do termo religião é uma tarefa
que nunca termina, é incompleta e provisória.
Para este filósofo e teólogo alemão, o sagrado seria o elemento mais universal
das sociedades humanas. Poderíamos citar dois de seus elementos mais
centrais, segundo Otto:
O Numinoso
Esses dois itens inviabilizam qualquer estudo científico que, por definição, é
exotérico (externo), público, submetido a críticas, análises, processos de
refutação e falsificação (ou seja, testagem dos limites dos termos e
conceitos).
Nas palavras do historiador Aldo Terrin, ele “deve agir com ‘instrumentos
científicos’, renunciando a qualquer discurso apologético que possa servir de
sustentação para a validade da experiência religiosa” (TERRIN, Aldo Natale. O
sagrado off limits: a experiência religiosa e suas expressões, São Paulo:
Loyola, 1998, p. 15).
Mircea Eliade (1907-1986), outro grande estudioso das religiões, lembra que,
para o mundo moderno, a religião, como forma de vida e concepção do
mundo, confunde-se com o Cristianismo. Ele nos diz que é preciso alargar as
concepções e percebermos que existem muitas manifestações, desde as mais
primitivas — antigas no tempo e no espaço — às mais modernas.
As definições funcionalistas
Contrapondo-se às definições substancialistas, surgem o que chamamos de
definições funcionalistas as quais possuem origem nas Ciências Sociais da
religião (História, Sociologia e Antropologia da religião, em especial).
Leitura
As definições compreensivas
Procuram aproximar-se com cuidado do termo religião. A religião não é
entendida nem como substância ou essência fora do tempo e do espaço e
nem como mera função social ou cultural.
Podemos dizer que esses dois grandes conjuntos “religiosos” ligam o termo
religião a sentidos “negativos”, tais como, máscara, frieza, formalidade
exagerada, relações superficiais e alienadas, falsidade, ritualismo estéril e
outros sentidos.
Não podemos deixar de notar que essas acusações e críticas são parecidas
com aquelas que os polemistas cristãos acusaram a religião greco-romana ao
tentar redefinir o termo religio.
Atividade
1 - O sentido de religio seria confirmado pelo termo derivado religiosus
que designa “zeloso em relação ao culto”. Há outro sentido, o religare,
significando ligar o que estava quebrado ou partido. Um sentido foi
afirmado pelos romanos pagãos. O outro pelos cristãos convertidos.
Referências
SILVEIRA, Emerson José Sena da. Uma metodologia para as ciências da religião?
Impasses metodológicos e novas possibilidades hermenêuticas. In: Paralellus
(online), Recife, v. 7, p. 73-98, 2016. Disponível em: http://www.unicap.br/ ojs/
index.php/ paralellus/ article/ view/ 672/ 856
<http://www.unicap.br/ojs/index.php/paralellus/article/view/672/856> .
Acesso: 24 out. 2017.
Próximos Passos
Explore mais
Assista a este vídeo curto, O que define uma religião? Disponível em:
https://www.youtube.com/ watch?v= 3fyiV1fcB3U
<https://www.youtube.com/watch?v=3fyiV1fcB3U> . Acesso em 06 fev.
2018.