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EFEITO HALL: A DESCOBERTA DO ELÉTRON E A UTILIDADE

DESSE EFEITO NO NOSSO COTIDIANO

Márcio Silva Diniz

Laboratório de Física – Universidade Federal de Campina Grande / Campus


Cuité – UFCG

RESUMO
Neste artigo demonstraremos experimentalmente o fenômeno conhecido como efeito
Hall. Podemos dizer que o efeito Hall consiste no surgimento de um campo elétrico
transversal em um condutor percorrido por corrente elétrica na presença de um campo
magnético. Foi um fenômeno percebido por Edwin H. Hall durantes experiências
realizadas para tentar determinar o sinal dos portadores de carga em um condutor. O
experimento consiste em passar uma corrente elétrica em um condutor submetido a um
campo magnético; isso carregará as laterais do material condutor e um campo elétrico
surgirá.

Palavras-chave: efeito hall, física moderna, elétrons, física quântica.

ABSTRACT
In this article we will experimentally demonstrate the phenomenon known as the Hall
effect. We can say that the Hall effect consists of the appearance of a transverse electric
field in a conductor traversed by electric current in the presence of a magnetic field. It
was a phenomenon perceived by Edwin H. Hall during experiments conducted to try to
determine the signal of charge carriers in a conductor. The experiment consists of
passing an electric current in a conductor subjected to a magnetic field; this will carry
the sides of the conductive material and an electric field will appear.

Key words: hall effect, modern physics, electron, quantum physics.


1. INTRODUÇÃO

Durante experiências feitas para se medir diretamente o sinal de portadores de carga


elétrica, em 1879, Edwin H. Hall percebeu que no material condutor surgiam regiões
com carga negativa e outras com carga positiva, o que criava um campo magnético
perpendicular ao campo produzido pela corrente principal.
Naquela época já se conhecia o fenômeno em que quando um fio percorrido por
corrente elétrica era submetido a um campo magnético as cargas presentes neste
condutor eram expostas a uma força que fazia com que seu movimento fosse alterado.
No entanto, as contribuições de Hall foram muito além e, em sua homenagem, o
fenômeno ficou conhecido como efeito Hall.

1.1. O efeito Hall em semicondutores dopados

Podemos definir a dopagem como um processo de adição de impurezas químicas


elementares a semicondutores intrínsecos, tornando assim o material um semicondutor
dopado. Uma vez que um semicondutor dopado é submetido a um campo elétrico, a
corrente resultante é constituída por portadores de carga em maioria e portadores de
carga em minoria. Mais abaixo, na figura 1, é possível observar um esboço do que seria
o efeito Hall.

Figura 1: o efeito Hall.


Na figura, uma fonte de tensão é ligada a uma placa fina de material e um campo
magnético 𝐵 é aplicado perpendicularmente à direção da corrente. Para os sentidos do
campo magnético e da corrente presentes na figura 1, uma partícula carregada, viajando
a uma certa velocidade de deriva 𝑣𝑑 sofre uma força magnética

𝐹 = 𝑞𝑣𝑑 × 𝐵

e a direção dessa partícula com certa velocidade 𝑣𝑑 será determinada pela regra da mão
direita.
Tendo por base a configuração da figura, se considerarmos uma tira metálica
conduzindo corrente na direção e sentido do eixo 𝑥, e um campo magnético uniforme 𝐵
for aplicado perpendicularmente à tira, e se os portadores de cargas elétricas forem
positivos, a força magnética 𝐹𝑚 os desvia na direção e sentido do eixo 𝑦. Com isso, a
carga elétrica positiva se acumula na face superior e a carga elétrica negativa se
acumula na parte inferior, originando um campo elétrico 𝐸 na direção do eixo 𝑦 e em
sentido contrário. O processo continua até que o campo elétrico causado pela separação
das cargas submeta os portadores a uma força que compense a força magnética e, no
momento em que a força elétrica 𝐹𝑒 e a força magnética 𝐹𝑚 se equilibram, os portadores
de carga elétrica se deslocam sem desvio. Como isso, temos que

𝑞𝐸 = 𝑞𝑣𝑑 × 𝐵 (1)

é a condição de equilíbrio. Se a tira metálica possui largura 𝑤, então existe uma


diferença de potencial, conhecida como tensão de Hall, entre a parte superior e a parte
inferior da placa, dada por

𝑉𝐻 = 𝐸𝑤 = 𝑣𝑑 𝐵𝑤 (2)

que pode ser medida por meio de um voltímetro.


O fenômeno do efeito Hall revela que, de fato, os portadores de carga em maioria
são elétrons. Tendo em mãos o valor experimental da tensão de Hall, é possível calcular
a velocidade de deriva 𝑣𝑑 da partícula carregada, através da equação (2). Sabendo que
𝑉𝐻 = 𝑣𝑑 𝐵𝑤

a velocidade de deriva da partícula será

𝑉𝐻
𝑣𝑑 =
𝐵𝑤

Observação: É comum que, intuitivamente, a maioria das pessoas imagine que a


velocidade das cargas é incrivelmente alta; algo como a velocidade da luz. É de certa
forma compreensível quando se imagina uma lâmpada, que, ao ligar um interruptor,
ela automaticamente acende. Entretanto, esse raciocínio induz a um grande erro, pois
dá a impressão de que a carga sai do interruptor e parte instantaneamente até a
lâmpada com a velocidade da luz. No entanto não é assim que funciona. As cargas se
movem de forma extremamente lenta, de modo que uma carga pode demorar várias
horas ou dias para viajar do interruptor até a lâmpada. O que acontece é que o fio
condutor, que normalmente é feito de cobre, é formado por infinitos átomos, sendo
basicamente preenchido desde o interruptor até a lâmpada. Para entender melhor,
basta pensar em uma mangueira que está preenchida de água. No instante em que a
torneira é ligada, a água que está na outra extremidade da mangueira começa a sair
instantaneamente. É basicamente o mesmo raciocínio para a corrente elétrica. Basta
pensar no fio de cobre como uma mangueira cheia de água ao invés de vazia.

2. MONTAGEM EXPERIMENTAL

Tendo compreendido basicamente o que é o efeito Hall, vamos observar, através de


dados coletados em nosso experimento, como o efeito Hall funciona.

2.1. Objetivo

• Observar o efeito Hall para um semicondutor dopado positivamente,


negativamente e não dopado.

2.2. Materiais utilizados


• 1 Aparelho básico do efeito de Hall
• 1 Suporte em U
• 2 Cabos de conexão com conector de 8-PinosminiDIN
• 1 manual de instrução de operação
• 1 placa condutora
• 1 Núcleo em U
• 1 Par de sapatas polares para o efeito de Hall e tensores
• 2 Bobinas, 600 espiras
• 1 Sensor de campo magnético ±2000 mT

2.3. Procedimento experimental

Na pratica o experimento contou com três etapas, para três tipos de dopagem
diferentes: dopado positivamente, dopado negativamente e não dopado. Para cada
dopagem foi realizada a medição da tensão 𝑉, em 𝑚𝑉, para correntes de valores
variando entre 2,1𝑉 e 30,1𝑉. Assim, foram realizados os seguintes passos:

1) Realizar a medição da tensão 𝑉 (em 𝑚𝑉) para correntes de valores variando


entre 2,1𝑉 e 30,0𝑉 para a placa dopada positivamente
2) Repetir o mesmo procedimento, com os mesmo valores de corrente para a placa
dopada negativamente e depois para a não dopada
3) Analisar e observar as diferenças encontradas em cada uma das três etapas.

3. RESULTADOS E ANÁLISE

Após realizar a medição da tensão para cada configuração diferente, obtivemos


algumas tabelas.
Para a placa dopada positivamente obtivemos os seguintes resultados, como
mostram as tabelas 1, 2, 3 e 4 abaixo.

Corrente I (mA) Tensão V (mV)


2,10 0,00
4,90 0,70
9,90 1,80
15,00 3,00
20,00 4,10
30,00 6,50
Tabela 1: medidas da tensão para cada corrente a partir de uma corrente de 0,5A para o
campo.

Corrente I (mA) Tensão V (mV)


2,10 0,50
4,00 1,30
9,90 3,90
15,00 6,10
20,00 8,30
30,10 12,6
Tabela 2: medidas da tensão para cada corrente a partir de uma corrente de 1,0A para o
campo.

Corrente I (mA) Tensão V (mV)


2,10 -0,70
4,00 -1,10
9,90 -2,10
15,00 -3,00
20,00 -3,90
30,10 -5,70
Tabela 3: medidas da tensão para cada corrente a partir de uma corrente de -0,5A para o
campo.

Corrente I (mA) Tensão V (mV)


2,10 -1,20
4,00 -1,80
9,90 -4,10
15,00 -6,00
20,00 -7,90
30,10 -11,60
Tabela 4: medidas da tensão para cada corrente a partir de uma corrente de -1,0A para o
campo.

Para a placa dopada negativamente obtivemos os seguintes resultados, como mostram


as tabelas 5, 6, 7 e 8 abaixo.

Corrente I (mA) Tensão V (mV)


2,10 -0,80
4,00 -1,70
9,90 -4,30
15,00 -6,40
20,00 -8,50
30,00 -12,9
Tabela 5: medidas da tensão para cada corrente a partir de uma corrente de 0,5A para o
campo.

Corrente I (mA) Tensão V (mV)


2,10 -0,50
4,00 -1,10
9,90 -2,70
15,00 -4,10
20,00 -5,50
30,10 -8,20
Tabela 6: medidas da tensão para cada corrente a partir de uma corrente de 1,0A para o
campo.

Corrente I (mA) Tensão V (mV)


2,10 0,10
4,00 0,20
9,90 0,50
15,00 0,80
20,00 1,10
30,10 1,70
Tabela 7: medidas da tensão para cada corrente a partir de uma corrente de -0,5A para o
campo.

Corrente I (mA) Tensão V (mV)


2,10 0,40
4,00 0,80
9,90 2,20
15,00 3,20
20,00 4,30
30,10 6,50
Tabela 8: medidas da tensão para cada corrente a partir de uma corrente de -1,0A para o
campo.

Após realizar cada medida para cada configuração diferente, realizamos o mesmo
procedimento para a placa não dopada. Como temos uma placa neutra, não obtivemos
corrente.

A partir da tabela 1 foi possível obter o seguinte gráfico:


35

30

25

20

I (m A)
15

10

−1 0 1 2 3 4 5 6 7
V (m V)

Gráfico 1: corrente x tensão para a corrente de 0,5A para o campo na placa dopada
positivamente.

O gráfico obedece a uma função linear da forma

𝑓(𝑥) = 𝑎𝑥 + 𝑏

que no nosso caso é

𝐼 = 4,32𝑉 + 2,1

A partir da tabela 2 foi possível obter o seguinte gráfico:


35

I (mA)
LinearFit1
30

25

20

I (m A)
15

10

0 2 4 6 8 10 12 14
V (m V)

Gráfico 2: corrente x tensão para a corrente de 1,0A para o campo na placa dopada
positivamente.

O gráfico obedece à função linear

𝐼 = 2,31𝑉 + 0,93

A partir da tabela 3 foi possível obter o seguinte gráfico:


35

I (mA)
LinearFit1
30

25

20

I (mA)
15

10

−6 −5 −4 −3 −2 −1 0
V (mV)

Gráfico 3: corrente x tensão para a corrente de -0,5A para o campo na placa dopada
positivamente.

O gráfico obedece à função linear


𝐼 = −5,66𝑉 − 2,08

A partir da tabela 4 foi possível obter o seguinte gráfico:


35

I (mA)
LinearFit1
30

25

20

I (mA)
15

10

−12 −10 −8 −6 −4 −2 0
V (mV)

Gráfico 4: corrente x tensão para a corrente de -1,0A para o campo na placa dopada
positivamente.

O gráfico obedece à função linear

𝐼 = −2,67𝑉 − 1,01

A partir da tabela 5 foi possível obter o seguinte gráfico:


35

I (mA)
LinearFit1
30

25

20

I (mA)
15

10

−14 −12 −10 −8 −6 −4 −2 0


V (mV)

Gráfico 5: corrente x tensão para a corrente de 0,5A para o campo na placa dopada
negativamente.

O gráfico obedece à função linear

𝐼 = −2,33𝑉 + 0,02

A partir da tabela 6 foi possível obter o seguinte gráfico:


35

I (mA)
LinearFit1
30

25

20

I (mA)
15

10

−9 −8 −7 −6 −5 −4 −3 −2 −1 0
V (mV)

Gráfico 6: corrente x tensão para a corrente de 1,0A para o campo na placa dopada
negativamente.
O gráfico obedece à função linear

𝐼 = −3,64𝑉 + 0,09

A partir da tabela 7 foi possível obter o seguinte gráfico:


35

I (mA)
LinearFit1
30

25

20

I (mA)
15

10

0 0,5 1 1,5 2
V (mV)

Gráfico 7: corrente x tensão para a corrente de -0,5A para o campo na placa dopada
negativamente.

O gráfico obedece à função linear

𝐼 = 17,46𝑉 + 0,71

A partir da tabela 8 foi possível obter o seguinte gráfico:


35

I (mA)
LinearFit1
30

25

20

I (mA)
15

10

0 1 2 3 4 5 6 7
V (mV)

Gráfico 8: corrente x tensão para a corrente de -1,0A para o campo na placa dopada
negativamente.

O gráfico obedece à função linear

𝐼 = 4,60𝑉 + 0,18

4. CONCLUSÃO

Observando os dados coletados durante o experimento notamos que a dopagem da


placa, obviamente, influencia no sinal da tensão que se obtém. A partir de correntes
positivas para o campo na placa dopada positivamente foram obtidas tensões positivas.
A partir de correntes negativas na placa dopada positivamente foram obtidas tensões
negativas. Uma vez que a dopagem foi invertida, ou seja, a placa era dopada
negativamente os resultados se inverteram: as correntes negativas para o campo
geravam tensões positivas e as positivas geravam tensões negativas. Na placa neutra, ou
seja, não dopada, tínhamos corrente nula, isto é, as cargas eram estacionárias nessa
configuração.
Esse fenômeno estudado no experimento, que foi percebido por Edwin H. Hall, foi
de extrema importância e indispensável para o desenvolver de inúmeras tecnologias e
hoje podemos ver a aplicação do efeito Hall em vários dispositivos do nosso cotidiano:
em medidores de rotação, como o indicador de velocidade dos automóveis, sensores de
corrente e pressão, até mesmo em gatilhos de armas de paintball eletropneumático,
smartphones e alguns sistemas de posicionamento global. Na indústria também
podemos perceber a aplicação desse fenômeno em mineração de caminhões,
retroescavadeiras, guindastes, etc, bem como em joysticks de efeito Hall para controle
de válvulas hidráulicas, em alternativa às tradicionais alavancas mecânicas.

5. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

[1] TIPLER, Paul A. LLEWELLIN, Ralph A. Física Moderna. Trad. de Ronaldo Sérgio
de Biasi. 6ª ed. Rio de Janeiro. Instituto Militar de Engenharia – 2002.

[2] ENSINO À DISTÂNCIA. Efeito Hall.


Disponível em:
http://ensinoadistancia.pro.br/EaD/Eletromagnetismo/EfeitoHall/EfeitoHall.html.
Acesso em: 01/12/2019.

[3] A enciclopédia livre, WIKIPÉDIA, Efeito Hall.


Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_Hall.
Acesso em: 01/12/2019.

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