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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

FACULDADE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA NOTURNO

Resenha comentada / Ensaio

O papel da mulher na sociedade: uma reflexão.

Márcia Nogueira Morales


Preparação para o trabalho final VIII
Busco com este texto trazer algumas reflexões acerca do papel da mulher na sociedade
e na produção do conhecimento ao longo dos séculos para tanto se fez necessário um passeio
não tão agradável por uma história de séculos de opressão, invisibilização, perseguição e
morte sob a justificativa de uma inferioridade biológica feminina perante os homens.
As mulheres desde o feudalismo vivem sob a tutela de algum homem sendo ele o pai,
marido, filho ou algum parente, sendo impedidas de tomar decisões sobre a própria vida sob a
premissa de sua incapacidade, diante de sua inferioridade constatada, inclusive por médicos
que caracterizavam a mulher como um ser incompleto. Grandes filósofos também as
consideravam inferiores e as atribuíam diversos adjetivos pejorativos, como por exemplo
débeis.
Como mulher que já vivenciou diversas manifestações de machismo ao longo da vida
entendo hoje com mais clareza a partir dos meus estudos da disciplina ECSVIII e aliados as
minhas vivências, que a história das mulheres na sociedade foi definida pelos homens na
intenção de dominar seus corpos e assim definir o futuro da humanidade a partir da divisão do
trabalho e da produção de conhecimento, as mulheres foram impedidas de participar
ativamente da construção da sociedade, pois não tinham direito se quer de aprender a ler
ficando confinadas em casa cuidando dos filhos e do marido e mesmo que trabalhassem muito
não era conferido a elas a importância de trabalho, eram consideradas mais um peso para o
marido que diante da fraqueza da mulher precisava à gerir.
Mulheres que se opunham as condições à elas impostas eram perseguidas e queimadas
vivas, sob o pretexto de serem bruxas e junto com elas todo conhecimento empírico era
queimado com seus corpos, criou-se em torno da mulher basicamente duas visões, a de
mulher fraca doente, fria e portanto submissa e outra de perversa, ardilosa, dominada por seus
desejos e que precisava ser contida de alguma forma, fazendo conexão dos textos e materiais
estudados da história de dominação dos homens sobre as mulheres, e na definição da mulher
na história da humanidade, é possivel entender o porquê de ainda na atualidade vivermos em
uma sociedade patriarcal e no quanto naturalizamos essa prática como ideal e normal, a
educação das crianças ainda é um reflexo dessa visão de homens e mulheres e de seus papeis
na sociedade bem como é possivel refletir sobre a nossa contribuição para que esse modelo se
perpetue.
Ser menino ou menina não se define ou está dado apenas sob uma perspectiva
biológica, mas se trata também de uma construção social e cultural, que começa antes mesmo
do nascimento, quando uma mulher fica gravida a primeira curiosidade é sobre sexo do bebê,
a partir daí começa já a construção da identidade social e cultural dessa criança, sob a
perspectiva dos pais e familiares na escolha das roupas, brinquedos, decorações e até mesmo
nas cores indicadas para meninas e para meninos, reforçando assim as diferenças de gêneros
ao longo da vida desses seres humanos.
Quando falamos para nosso filho que homem não chora, estamos reforçando o ideal de
homem forte que não pode sentir e deve-se manter firme perante as adversidades da vida bem
como quando criamos nossas filhas como princesas frágeis e delicadas a espera de seu
príncipe encantado estamos mesmo que sem querer afirmando a ideia de Ser incompleto,
incapaz, que necessita viver sob a tutela de um homem forte que irá prover seu lar e cuidar da
família tonificando assim a ideologia de uma sociedade patriarcal onde os papeis são bem
definidos, cabe a mulher os cuidados com o lar os filhos e o marido, sem grandes participação
em tomadas de decisão.
Ainda que, a sociedade tenha mudado e evoluído em muitos aspectos e junto com essa
evolução, a partir de muita resistência e luta, as mulheres contam com muitas conquistas no
que se refere a sua participação na sociedade moderna, estamos longe de conquistar um lugar
de igualdade, conquistamos o direito de aprender a ler, ao voto, a propriedade privada e
frequentar as universidades, mas ainda somos tratadas como bruxas ou incapazes, como
intrusas em uma sociedade pensada por homens para os homens, onde nossa luta por equidade
é interpretada como um desaforo e em resposta ao nosso atrevimento de continuar tentando
construir nossa identidade e de contribuir para que a sociedade seja mais justa está a
perseguição e a morte com a falsa justificativa de que a mulher deu motivos para que fosse
assassinada, vivemos em um mundo onde a vítima se envergonha de ser atacada e abusada
graças a uma construção social do que é ser homem e mulher partindo de uma ideologia
machista legitimada por médicos, filósofos, grandes religiões e até mesmo pela família.
É fato de que o machismo está enraizado em nossa sociedade atingindo homens e
mulheres de maneira negativa o que impede uma relação de confiança dentro das famílias, já
que na maioria dos abusos, feminicídio, e outros tipos de violência contra mulher acontecem
no ambiente familiar, reflexo de uma sociedade capitalista que centraliza o poder nas mãos do
homem branco e rico. Além disso é preciso ressaltar a realidade ainda mais cruel da mulher
negra que enfrenta tudo que citamos aqui e ainda lida com o racismo estrutural, onde seu
trabalho e participação na sociedade são apagados, como por exemplo, se a mulher já recebe
menos que um homem fazendo o mesmo papel dentro de uma empresa a mulher que é negra
recebe até menos que a mulher branca, além disso são destinadas a elas papeis de empregada,
ou outras funções que na sociedade são vistas como profissões de menor valor social, também
podemos citar exemplos médicos, como no parto por haver um conhecimento popular de que
a mulher negra é mais resistente a dor acaba por sofrer mais violência obstétrica, por atitude
dos médicos que levando em consideração essa desinformação postergam até o último minuto
a cesariana.
Deixei aqui minhas reflexões sobre um quadro geral olhando a realidade histórica da
mulher na sociedade e agora gostaria de compartilhar minhas experiências pessoais. Quando
criança não entendia o porquê de determinadas atitudes de minha avó, em relação a mim,
porque meu lugar era em casa, enquanto meus irmãos eram livres? Eu só queria brincar, mas
não podia, qual seria o motivo para o meu pai dar a ordem que iria me tirar da escola já que
meus irmãos eram incentivados a leitura e a continuar os estudos? Minha mãe e minha tia
ensinavam-me a lida da casa, mas eu queria estudar queria brincar e ser livre, chorei muitas
vezes ao ouvir, que eu não podia aprender a dirigir, pois “mulher no volante, perigo
constante” e que para uma mulher bastava saber escrever o nome para assinar no dia do
casamento ou algum documento quando solicitado pelo marido, esses questionamentos foram
crescendo ao longo dos anos e minha tristeza transformou-se em revolta na adolescência e em
resiliência com o passar dos anos, mas nunca em desistência.
Olhava para minha mãe, uma mulher com sete filhos sendo quatro homens e três
mulheres e não entendia como era possivel uma pessoa viver sem documentos já que seu
marido não permitia que os fizesse, até porque em sua concepção não era preciso pois ela era
totalmente dependente dele e que ele responderia por ela se preciso e mesmo depois que a
mulher conquistou o direito de votar, meu pai só à deixava votar se fosse no mesmo candidato
que o seu para que não anulasse seu voto. Penso que, mesmo que eu tenha sofrido com o
machismo ainda sofri menos que minha mãe, que teve que desistir de seus sonhos, e acredito
que mesmo ela também tentando me criar da mesma maneira ou de maneira similar ao que foi
criada, ela sentia e entendia como era sofrer com essa ação negativa e repressora e que até
mesmo através dos embates com as filhas que já nasceram e foram criadas em uma época um
pouco diferente e teriam visões distintas, minha mãe pode também evoluir com isso, pode-se
dizer que houve uma certa evolução pois ainda que tardiamente consegui conquistar meus
objetivos, considerando assim que, cada um parte de um lugar, como foi dito não nessas
palavras no vídeo, A invisibilização da mulher na história // Maria Lygia Quartim de
Moraes, e o mesmo ocorre para minha filha que já partiu de uma posição ainda melhor que a
minha e que irá se formar na faculdade mais nova do que eu me formarei.
Essa evolução do ponto de partida de minha mãe para o meu e para o de minha filha é
um pequeno exemplo de que as mulheres não evoluem e constroem seu espaço sozinhas, mas
todas partimos da luta das mulheres que vieram anteriormente a nós , hoje sou estudante de
pedagogia em uma das melhores universidades do pais (UFPEL) só posso me entender como
uma pessoa privilegiada, ainda que tenha demorado mais que o normal, estou neste lugar
graças a luta dessas mulheres ao longo da história, pouco a pouco conquistaram o direito de
participar ativamente da sociedade, é claro que a luta continua e que continuamos perseguindo
o que talvez seja uma utopia que é viver em uma sociedade igualitária.
Por fim para concluir minhas reflexões, gostaria de ressaltar a importância de estudar
esse assunto e de conseguir enquanto cidadã, estudante e mulher, problematizar essas
questões, dessa forma usando esse entendimento para que em nossas práticas possamos
combater a reprodução tanto do machismo como do racismo e da homofobia, que estão
arraigados em nossa sociedade, usadas como ferramenta de dominação e poder sobre os
corpos.

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