Preparação para o trabalho final VIII Busco com este texto trazer algumas reflexões acerca do papel da mulher na sociedade e na produção do conhecimento ao longo dos séculos para tanto se fez necessário um passeio não tão agradável por uma história de séculos de opressão, invisibilização, perseguição e morte sob a justificativa de uma inferioridade biológica feminina perante os homens. As mulheres desde o feudalismo vivem sob a tutela de algum homem sendo ele o pai, marido, filho ou algum parente, sendo impedidas de tomar decisões sobre a própria vida sob a premissa de sua incapacidade, diante de sua inferioridade constatada, inclusive por médicos que caracterizavam a mulher como um ser incompleto. Grandes filósofos também as consideravam inferiores e as atribuíam diversos adjetivos pejorativos, como por exemplo débeis. Como mulher que já vivenciou diversas manifestações de machismo ao longo da vida entendo hoje com mais clareza a partir dos meus estudos da disciplina ECSVIII e aliados as minhas vivências, que a história das mulheres na sociedade foi definida pelos homens na intenção de dominar seus corpos e assim definir o futuro da humanidade a partir da divisão do trabalho e da produção de conhecimento, as mulheres foram impedidas de participar ativamente da construção da sociedade, pois não tinham direito se quer de aprender a ler ficando confinadas em casa cuidando dos filhos e do marido e mesmo que trabalhassem muito não era conferido a elas a importância de trabalho, eram consideradas mais um peso para o marido que diante da fraqueza da mulher precisava à gerir. Mulheres que se opunham as condições à elas impostas eram perseguidas e queimadas vivas, sob o pretexto de serem bruxas e junto com elas todo conhecimento empírico era queimado com seus corpos, criou-se em torno da mulher basicamente duas visões, a de mulher fraca doente, fria e portanto submissa e outra de perversa, ardilosa, dominada por seus desejos e que precisava ser contida de alguma forma, fazendo conexão dos textos e materiais estudados da história de dominação dos homens sobre as mulheres, e na definição da mulher na história da humanidade, é possivel entender o porquê de ainda na atualidade vivermos em uma sociedade patriarcal e no quanto naturalizamos essa prática como ideal e normal, a educação das crianças ainda é um reflexo dessa visão de homens e mulheres e de seus papeis na sociedade bem como é possivel refletir sobre a nossa contribuição para que esse modelo se perpetue. Ser menino ou menina não se define ou está dado apenas sob uma perspectiva biológica, mas se trata também de uma construção social e cultural, que começa antes mesmo do nascimento, quando uma mulher fica gravida a primeira curiosidade é sobre sexo do bebê, a partir daí começa já a construção da identidade social e cultural dessa criança, sob a perspectiva dos pais e familiares na escolha das roupas, brinquedos, decorações e até mesmo nas cores indicadas para meninas e para meninos, reforçando assim as diferenças de gêneros ao longo da vida desses seres humanos. Quando falamos para nosso filho que homem não chora, estamos reforçando o ideal de homem forte que não pode sentir e deve-se manter firme perante as adversidades da vida bem como quando criamos nossas filhas como princesas frágeis e delicadas a espera de seu príncipe encantado estamos mesmo que sem querer afirmando a ideia de Ser incompleto, incapaz, que necessita viver sob a tutela de um homem forte que irá prover seu lar e cuidar da família tonificando assim a ideologia de uma sociedade patriarcal onde os papeis são bem definidos, cabe a mulher os cuidados com o lar os filhos e o marido, sem grandes participação em tomadas de decisão. Ainda que, a sociedade tenha mudado e evoluído em muitos aspectos e junto com essa evolução, a partir de muita resistência e luta, as mulheres contam com muitas conquistas no que se refere a sua participação na sociedade moderna, estamos longe de conquistar um lugar de igualdade, conquistamos o direito de aprender a ler, ao voto, a propriedade privada e frequentar as universidades, mas ainda somos tratadas como bruxas ou incapazes, como intrusas em uma sociedade pensada por homens para os homens, onde nossa luta por equidade é interpretada como um desaforo e em resposta ao nosso atrevimento de continuar tentando construir nossa identidade e de contribuir para que a sociedade seja mais justa está a perseguição e a morte com a falsa justificativa de que a mulher deu motivos para que fosse assassinada, vivemos em um mundo onde a vítima se envergonha de ser atacada e abusada graças a uma construção social do que é ser homem e mulher partindo de uma ideologia machista legitimada por médicos, filósofos, grandes religiões e até mesmo pela família. É fato de que o machismo está enraizado em nossa sociedade atingindo homens e mulheres de maneira negativa o que impede uma relação de confiança dentro das famílias, já que na maioria dos abusos, feminicídio, e outros tipos de violência contra mulher acontecem no ambiente familiar, reflexo de uma sociedade capitalista que centraliza o poder nas mãos do homem branco e rico. Além disso é preciso ressaltar a realidade ainda mais cruel da mulher negra que enfrenta tudo que citamos aqui e ainda lida com o racismo estrutural, onde seu trabalho e participação na sociedade são apagados, como por exemplo, se a mulher já recebe menos que um homem fazendo o mesmo papel dentro de uma empresa a mulher que é negra recebe até menos que a mulher branca, além disso são destinadas a elas papeis de empregada, ou outras funções que na sociedade são vistas como profissões de menor valor social, também podemos citar exemplos médicos, como no parto por haver um conhecimento popular de que a mulher negra é mais resistente a dor acaba por sofrer mais violência obstétrica, por atitude dos médicos que levando em consideração essa desinformação postergam até o último minuto a cesariana. Deixei aqui minhas reflexões sobre um quadro geral olhando a realidade histórica da mulher na sociedade e agora gostaria de compartilhar minhas experiências pessoais. Quando criança não entendia o porquê de determinadas atitudes de minha avó, em relação a mim, porque meu lugar era em casa, enquanto meus irmãos eram livres? Eu só queria brincar, mas não podia, qual seria o motivo para o meu pai dar a ordem que iria me tirar da escola já que meus irmãos eram incentivados a leitura e a continuar os estudos? Minha mãe e minha tia ensinavam-me a lida da casa, mas eu queria estudar queria brincar e ser livre, chorei muitas vezes ao ouvir, que eu não podia aprender a dirigir, pois “mulher no volante, perigo constante” e que para uma mulher bastava saber escrever o nome para assinar no dia do casamento ou algum documento quando solicitado pelo marido, esses questionamentos foram crescendo ao longo dos anos e minha tristeza transformou-se em revolta na adolescência e em resiliência com o passar dos anos, mas nunca em desistência. Olhava para minha mãe, uma mulher com sete filhos sendo quatro homens e três mulheres e não entendia como era possivel uma pessoa viver sem documentos já que seu marido não permitia que os fizesse, até porque em sua concepção não era preciso pois ela era totalmente dependente dele e que ele responderia por ela se preciso e mesmo depois que a mulher conquistou o direito de votar, meu pai só à deixava votar se fosse no mesmo candidato que o seu para que não anulasse seu voto. Penso que, mesmo que eu tenha sofrido com o machismo ainda sofri menos que minha mãe, que teve que desistir de seus sonhos, e acredito que mesmo ela também tentando me criar da mesma maneira ou de maneira similar ao que foi criada, ela sentia e entendia como era sofrer com essa ação negativa e repressora e que até mesmo através dos embates com as filhas que já nasceram e foram criadas em uma época um pouco diferente e teriam visões distintas, minha mãe pode também evoluir com isso, pode-se dizer que houve uma certa evolução pois ainda que tardiamente consegui conquistar meus objetivos, considerando assim que, cada um parte de um lugar, como foi dito não nessas palavras no vídeo, A invisibilização da mulher na história // Maria Lygia Quartim de Moraes, e o mesmo ocorre para minha filha que já partiu de uma posição ainda melhor que a minha e que irá se formar na faculdade mais nova do que eu me formarei. Essa evolução do ponto de partida de minha mãe para o meu e para o de minha filha é um pequeno exemplo de que as mulheres não evoluem e constroem seu espaço sozinhas, mas todas partimos da luta das mulheres que vieram anteriormente a nós , hoje sou estudante de pedagogia em uma das melhores universidades do pais (UFPEL) só posso me entender como uma pessoa privilegiada, ainda que tenha demorado mais que o normal, estou neste lugar graças a luta dessas mulheres ao longo da história, pouco a pouco conquistaram o direito de participar ativamente da sociedade, é claro que a luta continua e que continuamos perseguindo o que talvez seja uma utopia que é viver em uma sociedade igualitária. Por fim para concluir minhas reflexões, gostaria de ressaltar a importância de estudar esse assunto e de conseguir enquanto cidadã, estudante e mulher, problematizar essas questões, dessa forma usando esse entendimento para que em nossas práticas possamos combater a reprodução tanto do machismo como do racismo e da homofobia, que estão arraigados em nossa sociedade, usadas como ferramenta de dominação e poder sobre os corpos.