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CIDADES E PAISAGISMO
ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE MONTES CLAROS

Carla Patrícia Costa


Diego Goncalves Pessanha Suzano
Thaís Zampieron Gabbardo
Thalita Beata Santos Fonseca
Valéria Ferreira Moreira de Freitas

RESUMO
As cidades são organizações de indivíduos que incorpora práticas sociais, criando
assim uma identidade cultural, fazendo com que o indivíduo se sinta representado a medida
que a percebe dentro das suas experiências, práticas e interesses. Ela sofre mutações durante o
tempo, alterando sua forma e espaço, mas sempre mantendo a sua história e identidade.
Pesquisas mostram que a cidade através da sua arquitetura e urbanismo influencia diretamente
na qualidade de vida dos seus cidadãos. Assim, a boa prática de gestão de uma cidade é
questão fundamental para que os interesses e necessidades dos moradores possam ser
atingidos. Para alguns autores, o paisagismo de uma cidade está correlacionado à qualidade de
vida que a mesma oferece. A interação entre humano e natureza, onde de um lado, você tem
uma ordem caótica, e de outro, um ideal de ordem absoluta, fazem com que através da prática
socioambiental o cidadão possa identificar relações entre os processos materiais e ideais.
Assim sendo, o artigo tem como objetivo verificar a percepção dos moradores de Montes
Claros sobre o paisagismo existente na mesma. Montes Claros é uma cidade média com uma
população de aproximadamente 394.350 habitantes. Considerada polo econômico do Norte de
Minas Gerais, ela sofreu significativas mudanças nas últimas décadas. A partir da década de
1970, com o processo de industrialização sofrido pela cidade, com programas de incentivos
econômicos, a mesma obteve significante aumento de moradores e atividades econômicas.
Portanto, um planejamento que fizesse com que a cidade pudesse adequar esse crescimento às
suas atividades existentes era de fundamental importância nesse processo. Contudo, percebe-
se que as políticas de gestão da cidade aplicadas nos últimos anos não atendem as
necessidades de seus moradores. Mostrando que ações são necessárias para corrigir esse
problema, melhorando a relação morador-cidade.

ABSTRACT
Cities are organizations of individuals who incorporates social practices, thus
creating a cultural identity, making the individual feel represented as they perceive it in their
experiences, practices and interests. It mutates over time, changing its shape and space, but
always maintaining its history and identity. Research shows that the city through its
architecture and urbanism directly influences the quality of life of its citizens. Therefore, the
good practice of running a city is fundamental to the interests and needs, of the residents, can
be achieved. For some authors, the landscape of a city is correlated to the quality of life it
offers. The interaction between human and nature, where on one side you have a chaotic
order, and the other, an ideal of absolute order, make social and environmental practice by
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citizens to identify relationships between material and ideal processes. Thus, the article aims
to verify the perception of residents of Montes Claros over the existing landscaping in it.
Montes Claros is an average town with a population of approximately 394,350 inhabitants.
Considered economic pole of North of Minas Gerais, it has undergone significant changes in
recent decades. From the 1970s, with the industrialization process suffered by the city, with
economic incentives programs, it obtained significant increase of residents and economic
activities. Therefore, a plan that caused the city could match this growth to their existing
activities was of fundamental importance in this process. However, it is clear that city
management policies applied in recent years do not meet the needs of its residents. Showing
that actions are needed to fix this problem and improving resident-city relationship.

INTRODUÇÃO
A arquitetura e o urbanismo de uma cidade influenciam diretamente na qualidade
de vida dos cidadãos. A cidade pode se tornar mais agradável, oferecer maior acessibilidade
às pessoas com deficiências, e aumentar o conforto e a convivência dos cidadãos.
As cidades devem se comunicar com a natureza em vez de isolá-la, pois o ser
humano busca o meio ambiente naturalmente. Através da arborização, de espaços verdes e de
estratégias bioclimáticas, é possível diminuir a temperatura das cidades, contribuindo para
climas mais amenos. A capital da Coréia do Sul, Seul, inovou ao substituir uma importante
avenida por um parque banhado por um córrego, que antes era canalizado e invisível. Além de
embelezar a cidade, a temperatura da região diminuiu em cinco graus, e os pedestres podem
atravessar o córrego por meio de pedras (FIGURA 1).

Figura 1 – Córrego revitalizado em Seul

Fonte: KOGAN, 2013.

A importância de manter os elementos naturais nas cidades é percebida também


pelo escoamento de água. Em áreas urbanas cinzas com poucos espaços verdes, o escoamento
torna-se difícil e as consequências são alagamentos e enchentes. Cidades com rios, parques e
lagoas recebem as chuvas com maior tranquilidade.
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Toda cidade deve ser adaptada às pessoas com deficiências, e não o contrário. É
essencial que as calçadas tenham tamanho adequado com piso especial para deficientes
visuais, que existam rampas de acesso para cadeirantes e que as portas dos sanitários públicos
possuam dimensões que permita a entrada de cadeirantes. Todos têm o mesmo direito de
usufruir dos espaços urbanos.
Segundo Milano e Dalcin (2000), as áreas urbanas que recebem arborização
podem ser denominadas como floresta urbana e esta tem como beneficio o conforto para o
homem. Os autores ainda enfatizam os benefícios da arborização urbana, tais como: redução
da poluição atmosférica; diminuição da poluição sonora; melhoria na saúde humana, dentre
outros.
A arborização ultrapassa as questões de bem estar e beleza da cidade, assume uma
vertente religiosa, pois afeta na crença e modo de viver de seus cidadãos, além de afetar
positivamente no psicológico das pessoas ao representar sua cidade e seus valores através da
relação árvore-população (FARAH, 2004).
O urbanismo deve despertar nas pessoas o sentimento de pertencimento naquela
sociedade além do bem estar que a mesma possibilita. Os espaços verdes devem ultrapassar a
conotação de laser e tornar-se parte do cotidiano do montesclarense. Essa interação ocorre
apenas como válvula de escape dos dias estressantes ao invés de ser parte da vida diária.
O lado afetivo entre cidadão e cidade é um vínculo que pode ser estabelecido além
de sua cultura, educação ou profissionalismo, sua área verde além de satisfazer seus membros,
cria uma imagem positiva para as demais cidades, possibilitando trocas de experiências e
valores com elas.
Farah (2004), ainda discorre que as pessoas se sentem ligadas a questão de
urbanização quando a ação é feita através das próprias mãos, como nossos avós e pais faziam.
Assim ações como o “Arboriza Moc” tem mobilizado moradores de todos os bairros a se unir
para revitalizar locais em Montes Claros que um dia já foram habitados por árvores, e hoje só
possuem a área urbana concreta (FIGURA 2).

Figura 2 – Arboriza MOC

Fonte: Facebook Arboriza MOC, 2015.


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Segundo página na rede social Facebook, o Arboriza MOC foi idealizado por
diversos moradores de Montes Claros. Essas pessoas estão preocupadas com a herança que
deixarão para seus filhos ao que cerca o clima da região. Eles não recebem apoio nenhum
governamental, porém tem tido adesão de outros moradores, assim é agendado uma data e
horário e assim é divulgado na página dos idealizadores e a pessoa pode levar suas mudas
(eles sugerem árvores Ipês ou Quaresmeiras), mas também há venda de mudas no local e
apadrinhamento de uma árvore. Quanto aos locais, eles são divulgados na página, porém não
é feita uma votação pelos moradores, eles avaliam os lugares que tem uma imagem mais
“devastada”.
A percepção de urbanização e revitalização de áreas que já foram urbanizadas
difere de uma pessoa a outra, bem como essa pessoa enxerga essa questão como algo vital
para o crescimento e desenvolvimento saudável da cidade. Assim, o presente artigo pesquisou
as percepções individuais dos habitantes de Montes Claros, MG, acerca do Paisagismo e
Urbanismo existente.

REFERENCIAL TEÓRICO
De acordo com Saraiva e Carrieri (2012) apud Mac-Allister (2004), cidade é uma
organização social de indivíduos não organizados que se situa no tempo e no espaço, de alta
complexidade que processa coletivamente, e incorpora processos individuais resultando em
uma identidade cultural tanto relativa à cidade quanto à gestão da sua totalidade.
Segundo Pesavento (2007), as cidades são vistas com o centro das transações
capitalistas, são consideradas como um local privilegiado, mas também são consideradas
como um problema e objeto de reflexão das representações e práticas sociais. Elas são obras
do homem nas quais são sempre renovadas. Um indivíduo para pertencer a uma cidade é
necessário se sentir representado e/ou representá-la, seja através da arte ou das práticas
cotidianas. Assim, as cidades são percebidas de acordo com as experiências, sensibilidades e
interesses de cada indivíduo.
De acordo com a autora as cidades se diferenciam em relação a outras nas atitudes
e existências dos seus cidadãos. No modo de organizar o seu ambiente, ela se transforma ao
longo do tempo alterando a sua forma e espaço, mas sempre se individualizando através da
sua essência e história. Assim, elas são referenciadas na arte, na escrita, nas falas, nas
músicas, fixando sua identidade cultural. Como exemplo disso, ao escutar uma determinada
música que se refere a uma cidade, como em “cidade maravilhosa”, de imediato a
identificamos.
Em uma cidade, “os indivíduos e seus grupos sociais interagem, formando uma
cultura lastreada em uma malha indenitária comum. Nesse contexto, só faz sentido observar a
dinâmica das práticas sociais” (SARAIVA; CARRIERI, 2012, p. 550). Sendo assim, as boas
práticas de gestão são de suma importância para o atendimento das necessidades dos cidadãos
visando o bem-estar de toda sociedade.
Costa (1997) levanta questões relevantes no âmbito da conceituação da cidade
saudável. Pode ser saudável uma cidade que se preocupa em facilitar o deslocamento rápido
de veículos e não em aproximar a moradia e o consumo, a moradia e o trabalho? Pode ser
saudável para a população gastar horas no trânsito, fora do convívio familiar? A partir destes
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questionamentos, é possível perceber as mudanças de atitudes e gestão que devem ser


tomadas para melhorar a saúde de uma cidade. Além do transporte, é discutido também o
medo, a violência e a agressão presente nas cidades. Isso faz com que as pessoas não
convivam e o medo de se relacionar aumente.
Para ser considerada uma cidade saudável, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) definiu dez requisitos básicos, sendo eles:

 Um ambiente físico limpo e seguro;


 Um ecossistema estável e sustentável (as cidades devem buscar o desenvolvimento
sustentável);
 Alto suporte social, sem exploração;
 Alto grau de participação social;
 Necessidades básicas satisfeitas (como alimentação, moradia, trabalho, renda,
transporte, saneamento, etc.);
 Acesso a experiências, recursos, contatos, interações e comunicações;
 Economia local diversificada e inovativa (as cidades especializadas apresentam um
setor produtivo apenas);
 Orgulho e respeito pela herança biológica e cultural;
 Serviços de saúde acessíveis a todos, e
 Alto nível de saúde.

Segundo Araújo et al. (2011, p. 114), “todos os assuntos centram-se nas ações do
homem, especialmente no paisagismo que está atrelado à capacidade de visibilidade do ser em
promover condições para ele mesmo viver melhor”. Assim sendo, os autores fazem a
correlação entre paisagismo e qualidades de vida; entendem que as políticas públicas devem
ser vistas ao bem coletivo com estratégias de ações desencadeadas pelo Estado, nas escalas
federal, estadual e municipal.
Cesar e Cidade (2003) apresentam o paisagismo como relações entre a sociedade
e a natureza, tendo como base as visões do mundo predominante. Os autores buscam
identificar relações entre processos materiais e ideias na conjuntura de práticas
socioambientais. Identifica-se a existência de uma relação entre o homem e a natureza, de um
lado a negação de uma ordem caótica e, do outro lado, um ideal de ordem absoluta.
Diante do desenvolvimento do paisagismo, os autores expõem diferentes vertentes
de visões de mundo: o paisagismo com ênfase na arquitetura da paisagem, o paisagismo com
ênfase na percepção e o paisagismo ambiental. O primeiro baseia-se essencialmente na
organização do espaço, valorizando aspectos funcionais e estéticos, de forma tradicional. O
paisagismo com ênfase na percepção busca associar as relações de espaço com o atendimento
de expectativas sociais. Na visão desta vertente, as necessidades dos usuários devem ser
compreendidas, sob análise da psicologia ambiental, e transpassadas ao paisagismo. Isso
influencia diretamente na adaptação e avaliação positiva dos usuários no local. Por último, o
paisagismo ambiental valoriza a relação sociedade-natureza, e utiliza práticas voltadas para a
preservação dos espaços verdes.
Ainda de acordo com Cesar e Cidade (2003), o urbanismo moderno enfatiza o
desenvolvimento sustentável como forma de desenvolvimento econômico, ambientalmente
adequado e suportável no âmbito ecológico. À medida que a sociedade evolui, as tendências
também se transformam de acordo com o panorama social, político e econômico da época.
Assim, é uma tendência no âmbito do paisagismo atual criar cidades sustentáveis.
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Montes Claros, cidade pesquisada neste estudo, está localizada no norte de Minas
Gerais, e sua população estimada pelo IBGE (2015) é de 394.350 habitantes. É uma cidade
média que se destaca como o mais importante polo da região. De acordo com Gomes (2007),
a cidade passou por um processo de industrialização na década de 70 devido a ações da
SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), a fim de fomentar o processo
de industrialização no nordeste brasileiro e reduzir as desigualdades macro-regionais do país.
Com este processo, houve uma melhoria no âmbito de saneamento, transporte e comunicação,
e também um aumento de fluxo nas atividades de comércio e serviço. Nessa época ocorreu
também uma expansão da rede rodoviária, o que permitiu uma maior articulação do município
de Montes Claros com a região do Norte de Minas e com os principais centros econômicos do
Brasil (GOMES, 2007).
Ainda segundo Gomes (2007), foi elaborado um projeto de intervenção urbana na
área central pelo Plano Diretor Local Integrado em 1977, que previa alargamento de passeios
e fechar ruas ao tráfego de veículos. Percebe-se que essas ações foram tomadas em poucas
ruas da área central. O trânsito de veículos e de pessoas é difícil na região, devido às ruas e
calçadas estreitas.

Figura 3 – Rua Simeão Ribeiro no Centro é fechada para tráfego de veículos

FONTE: Dos autores, 2015.


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Figura 4 – Calçadas estreitas no centro de Montes Claros

FONTE: Dos autores, 2015.

Foi realizada uma das ações constantes no Plano Diretor de 2001 que consistia em
recuperar as construções históricas em torno da Praça da Matriz, que é uma das áreas mais
antigas da cidade. As construções refletem a história e a origem do montesclarense.

Figura 5 – Recuperação de construções históricas na praça da Matriz

Fonte: Dos autores, 2015.


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O “Projeto Viva o Centro” consistiu numa proposta da gestão da cidade em 2007


que tinha como objetivo revitalizar a área central a fim de melhorar a infra-estrutura, o
transporte e evidenciar a história e a cultura da cidade.
Na cidade, existem regiões que atuam como centralidades lineares, ou seja,
concentram atividades comerciais ou de serviços. É o caso da Av. Deputado Plínio Ribeiro,
que concentra estabelecimentos relacionados a veículos, como oficinas e concessionárias, e de
outras avenidas como a João XXIII, Mestra Fininha, Deputado Esteves Rodrigues e Cula
Mangabeira.
Os pontos de turismo existentes na cidade, de acordo com a Prefeitura Municipal
de Montes Claros, são:
1. Armazém da Central do Brasil, que retrata a história do transporte ferroviário;
2. Casa do Artesão, que atua como espaço para o desenvolvimento artístico;
3. Centro Cultural Dr. Hermes de Paula, local para eventos culturais;
4. Mercado Municipal, ponto de comércio de alimentos regionais;
5. Praça da Matriz, marco da história da cidade, e
6. Feira de Artesanato, realizada na Praça da Matriz.
Como pontos de turismo ecológico, os parques conhecidos na cidade são o Parque
Municipal, que possui um zoológico e lagoa; o Parque da Lapa Grande, que contém cavernas
e grutas, e o Parque Sapucaia, que é uma reserva florestal.

METODOLOGIA
Os métodos utilizados para estudo do tema serão: a revisão literária e o
questionário semiestruturado. O primeiro tem como objetivo, de acordo com Marconi e
Lakatos (2007), analisar a bibliografia publicada a respeito do tema, afim de problematizá-lo e
identificar novas áreas onde o tema ainda não tenha sido explorado. O segundo, por sua vez,
de caráter tanto quantitativo quanto qualitativo, tem como objetivo, combinando os dois
métodos, facilitar a compreensão do tema através da observação racional e subjetiva.
A coleta dos dados será feita através do Google Docs, um serviço oferecido
online, que permite criar e editar documentos, formulários e planilhas e compartilhá-los com o
público desejado. O uso do instrumento objetiva alcançar o máximo de pessoas com o intuito
de alcançar grande parte das regiões da cidade de Montes Claros. Dessa forma, busca-se
identificar a opinião dos moradores, objetivando verificar se há paridade na percepção dos
mesmos sobre o paisagismo na cidade.
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ANÁLISE DE DADOS

Foram obtidas 147 respostas do questionário compartilhado através do Google


Docs. Como é possível verificar no Gráfico 1, várias regiões da cidade Montes Claros foram
representadas nas respostas. Alcançado o objetivo de verificar a percepção dos moradores de
diversas regiões e identificar a paridade das opiniões.

Gráfico 1 – Participação dos moradores de Montes Claros nesta pesquisa por região da
cidade

19%

16%
15%
13%
12%

10%
9%

4%
3%

Fonte: Elaboração dos autores, 2015.

É possível perceber no Gráfico 2, que a maioria dos que responderam ao


questionário moram há mais de 10 anos em Montes Claros. São 71,3% dos entrevistados.
Desse total, 55,3% são naturais da cidade. Pode-se inferir que esses entrevistados conhecem o
histórico político de desenvolvimento e crescimento da cidade. Passarem por mudanças como:
o aumento da frota de carros, o aumento do número de moradores, o surgimento de novos
bairros. Podendo assim, falar através da experiência vivida se o planejamento político
municipal foi eficaz na construção de uma cidade que seja agradável aos moradores,
mostrando a sua percepção da cidade onde vivem.

Gráfico 2 – Tempo de permanência do entrevistados em Montes Claros

Fonte: Elaboração dos autores, 2015.


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A análise dos dados colhidos mostra uma insatisfação dos moradores com a
imagem da cidade. Ela é de 95,7%. Uma porcentagem alta. Mostrando a necessidade de um
planejamento que faça com que o morador sinta-se representado pela cidade (GRÁFICO 3).

Gráfico 3 – Entrevistados satisfeitos com a imagem de Montes Claros

Fonte: Elaboração dos autores, 2015.

Quando analisados os serviços considerados básicos oferecidos pela gestão


municipal, alguns números são mais favoráveis. 86,7% consideram a cidade limpa e 64,3%
tem todas as ruas do seu bairro asfaltadas. No entanto, quando analisados a frequência de
limpeza das ruas do bairro onde vivem a opinião passa a ser divergente, como mostrado no
Gráfico 4. Mostrando que pode haver uma diferença na satisfação do serviço em regiões
diferentes. 93, 4% dos entrevistados consideram importante a existência de praças de
convivência, mas só 66,4% responderam “sim” para a existência das mesmas em seu bairro.
Mostrando assim uma divergência entre a vontade dos moradores e a política de praças da
cidade.

Gráfico 4 – Frequência de limpeza das ruas dos entrevistados

Fonte: Elaboração dos autores, 2015.


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A análise mostra que, quando considerada percepção do paisagismo, quase que


unanimamente, os moradores estão insatisfeitos com a condição presente da cidade. 93% não
consideram que há espaços verdes suficientes. 96,5% não consideram a cidade
adequadamente arborizada (GRÁFICO 5). Montes Claros é uma cidade que sofre com altas
temperaturas e clima seco durante a maior parte do ano. A arborização adequada ajudaria a
amenizar os problemas causados por esse clima característicos. Assim, melhoraria a saúde da
cidade e por consequência ajudaria na melhoria da saúde de seus moradores, melhorando
assim a relação cidade-morador.

Gráfico 5 – Entrevistados que consideram Montes Claros uma cidade adequadamente


arborizada

Fonte: Elaboração dos autores, 2015.

A cidade possui três parques que tradicionalmente são considerados as áreas


verdes para lazer e são buscados por seus moradores. O Parque do Sapucaia, Parque
Municipal e o Parque da Lapa grande. Quando perguntados, qual lugar mais agradável e
bonito da cidade, 51,3% citaram um desses parques. No entanto, o Parque do Sapucaia e o
Parque Municipal ficam na mesma região, dificultando o seu acesso para os moradores das
regiões distantes. Evidenciando assim, a necessidade de um planejamento que contemple
todas as regiões e aproxime a área de lazer dos cidadãos, evitando a necessidade de uso de
veículos para acesso às mesmas. Quando pedido aos entrevistados para citar o grau de
importância das modificações necessárias na cidade, 73% citaram a necessidade de melhor
arborização da cidade, o que pode ser explicado, como citado anteriormente, pelo clima
quente e seco presente durante o ano cidade. (GRÁFICO 6). Essa informação mostra quais
deveriam ser os primeiros passos dentro de um planejamento que tenha como objetivo atender
as necessidades dos moradores melhorando a sua percepção da cidade.
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Gráfico 6 – Grau de importância de modificações a serem realizadas em


Montes Claros

Fonte: Elaboração dos autores, 2015.

A análise das respostas sobre o que deveria ser feito, de acordo com a opinião dos
entrevistados, para melhorar os espaços urbanos mostra a arborização como uma das
principais soluções citadas, mas também traz a discussão sobre uma maior participação dos
cidadãos no processo de construção de uma cidade saudável, seja agindo diretamente
participando das políticas de planejamento municipal, que é citado várias vezes como parte
importante desse processo. Infere-se aqui, que os entrevistados não consideram que exista de
fato um planejamento organizado pelos órgãos responsáveis. Também é citado a importância
da atenção nas ações diárias do cidadão, como a conscientização do descarte adequado do
lixo.
“Mais investimentos em lugares de convivência coletiva, vejo muitos espaços
desprezados que poderiam ser muito bem aproveitados para o lazer e consequentemente
aumentar áreas verdes e melhorar o meio ambiente.”
“Criando uma comissão organizadora composta com entidades classistas civis
população em geral, delimitando prazos e prestações de contas, cobrando ações sob penas do
município.”
“O espaço urbano deveria ser mais arborizado e gramado, principalmente nas ruas
próximas ao centro, algumas ruas deveriam ser fechadas, deveria haver também canaletas
verdes nas laterais das pistas, forma de drenagem da água das chuvas, problemas recorrente
em nossa cidade.”
“Elaboração de um Plano Diretor e mudanças na lei de uso e
ocupação....adequando as nossas realidades..”
“Fazer uma associação do urbano com o meio ambiente e ,principalmente,
procurar alternativas que solucione a degradação do mesmo juntamente com a sua
preservação e preocupação por parte das pessoas, por exemplo: a reciclagem de lixo que
raramente acontece.”
“Um dia um amigo de outra cidade me perguntou porque cortaram todas as
árvores da cidade. Fiquei com vergonha de falar q sempre foi assim. Educação das pessoas em
relação a limpeza, já que não basta limpar e logo sujarem.”
“É notório que o meio urbano em que vivemos hoje não foi devidamente
planejado. E junto com o crescente desenvolvimento urbano vêm grandes problemas, dos
quais todos já estamos cansados de presenciar diariamente. São possíveis soluções para tais
problemas: Um planejamento mais eficiente da nossa cidade, procurar alcançar o progresso
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sem que ocorra a violação do meio ambiente, e soma-se a isso, a recuperação de áreas
ambientais que hoje se encontram violadas. Implantar ciclovias para que ocorra a melhoria na
mobilidade urbana. Promover campanhas para sensibilizar a nossa população.”

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As paisagens de uma cidade interferem diretamente na qualidade de vida da
população. Desde a presença de espaços verdes, até a quantidade de ruas asfaltadas, vários
aspectos acabam por impactar diretamente na percepção de conforto e de satisfação dos
habitantes dos municípios. Nesse sentido, ouvir a opinião da população é fundamental para
que os ajustes ocorram de acordo com as necessidades coletivas.
Após a análise dos questionários de mais de 147 pessoas, é possível depreender
que a população montesclarense não está satisfeita com a realidade das paisagens do
município. Mais de 90% dos entrevistados acreditam que a imagem da cidade não é agradável
e pensam não haver espaços verdes suficientes na cidade. Como solução, a população
prioritariamente propõe medidas efetivas no que tange ao aumento da quantidade de árvores
nas ruas e avenidas. Em segundo lugar, a população sugere a criação de novos parques no
município. É importante ressaltar que a solução desta insatisfação coletiva, passa pela ação
conjunta entre órgãos públicos e cidadãos. Não é possível pensar na resolução deste problema
sem que haja uma ação de todos os setores da sociedade.
Embora a percepção de grande parte dos entrevistados é de que as ações devam
partir das autoridades municipais, a ação da população é o grande motor na transformação de
qualquer realidade, seja através da cobrança junto aos entes públicos, seja agindo
independentemente de apoio municipal. Por fim, para o alcance da efetiva satisfação coletiva,
a população necessita se mobilizar enquanto principal parte interessada, afim de que o
acompanhamento dos órgãos públicos, e ações populares possam se homogeneizar,
alcançando um objetivo comum.
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REFERÊNCIAS

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disposição do paisagismo urbano: a cidade de Araguaina (TO) em perspectiva. Revista
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KOURY, M. G. P. Estilos de vida e individualidade. Horizontes Antropológicos, Porto


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http://www.montesclaros.mg.gov.br/desenvolvimento%20economico/div_tur/tur_eco.php>.
Acesso em 10 dez. 2015.
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APÊNDICE 1
QUESTIONÁRIO PAISAGISMO
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