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Giovanna Andrade Fernandes

Biomedicina | 2022.2

PROFESSOR HUGO – AULA 01

Espermatogênese
ESPERMATOGÊNESE
A espermatogênese é o processo da
formação dos gametas masculinos que ocorre nos
testículos. No testículo, os gametas são formados
nos túbulos seminíferos e daí são acrescidos de
líquidos provenientes dos mesmos túbulos, das
vesículas seminais, da próstata e das glândulas
bulbouretrais, que servem como veículos para
transportá-los ao exterior.
ANATOMIA DOS ÓRGÃOS GENITAIS
MASCULINOS HUMANOS –
TESTÍCULO, EPIDÍDIMO, CANAL
DEFERENTE E URETRA
Junto com o líquido produzido nos túbulos
O aparelho reprodutor masculino é seminíferos, pelas células de Sertoli, os
formado pelos testículos (órgãos produtores espermatozoides são levados até a rete testis e daí
dos gametas), epidídimo, canal deferente e para o epidídimo mediante os túbulos eferentes.
uretra (vias de eliminação dos Nos túbulos eferentes, 90% do líquido secretado
espermatozoides). pelos túbulos seminíferos é reabsorvido. Quando,
Os testículos são órgãos pares situados no camundongo, há uma deficiência na
dentro da bolsa escrotal. Cada testículo está reabsorção, o indivíduo torna-se estéril. As células
envolvido pela túnica albugínea, formada por principais do epidídimo possuem processos
tecido conectivo denso, que emite septos celulares ramificados (esterocílios) responsáveis
dividindo o órgão em lóbulos. No interior dos pela nutrição e pelo amadurecimento dos
lóbulos estão alojados os túbulos seminíferos, espermatozoides. Os espermatozoides, que até
responsáveis pela formação das células gaméticas aqui eram transportados passivamente, são, agora,
masculinas. Os túbulos seminíferos são estruturas transportados sob a ação peristáltica dos
enoveladas, e ambas as extremidades confluem e fibromiócitos, que se localizam na parede externa
se abrem na rete tetis. Da rete testis partem de 10 do epidídimo e estão aderidos intimamente ao seu
a 20 túbulos eferentes, sendo que estes têm epitélio. O lúmen do epidídimo torna-se mais
continuidade com o epidídimo, que, por sua vez, expandido na sua porção mais caudal e, nessa
continua com o canal deferente. região, os espermatozoides são armazenados e
reabsorvidos, se não forem ejaculados. A partir do
epidídimo, os espermatozoides são transportados
até o nível da ampola (uma expansão do canal
deferente) e daí em diante são acrescidos das
secreções produzidas pelas glândulas anexas e
ejaculados pela uretra. A uretra é rodeada pelo
corpo esponjoso peniano, e supra adjacente a este
estão os dois corpos cavernosos. O pênis
apresenta uma parte fixa e uma móvel. A parte
móvel é o corpo peniano, e a fixa é unida ao
diafragma urogenital e ao púbis pelas suas raízes.
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ANATOMIA DOS ÓRGÃOS GENITAIS vivos, nutridos e em um pH ideal para que a


MASCULINOS HUMANOS – fecundação possa ocorrer.
PRÓSTATA, VESÍCULA SEMINAL, As glândulas bulbouretrais e uretrais
GLÂNDULAS BULBORETRAIS E secretam um produto alcalino claro, que é a
URETRAIS secreção preliminar à ejaculação. Geralmente,
ainda não contém espermatozoides, embora não
As glândulas anexas do aparelho seja raro que possa conter algum. A primeira
reprodutor masculino são a próstata, as fração do ejaculado deriva-se da próstata e é rica
glândulas bulbouretrais e uretrais e as em ácido cítrico e fosfatase ácida, sendo,
vesículas seminais. consequentemente, uma secreção ácida. A fração
A próstata é formada por um conjunto de seguinte é a fração principal, que contém a maior
glândulas que se situam ao redor da porção parte dos espermatozoides. Ela consiste em uma
proximal da uretra. A próstata envolve também o parte aquosa proveniente da cauda do epidídimo e
duto ejaculatório, isto é, a porção distal do canal de uma parte gelatinosa proveniente da ampola. A
deferente que se abre na uretra prostática. Ela última fração é a produzida pela vesícula seminal
apresenta dois tipos de glândulas: as periuretrais, e é totalmente gelatinosa, rica em frutose e
ao redor da uretra, e as tubuloalveolares, que se prostaglandinas e apresenta pH básico. O
estendem pelo estroma do órgão, no qual se ejaculado, como um todo, tem um pH que se situa
encontram também células musculares lisas. As em torno de 7,8. Um minuto após ser ejaculado,
glândulas periuretrais aumentam e alargam-se coagula-se, e 20 a 30 minutos depois, volta a
após os 40 anos de idade e são responsáveis pela tornar-se líquido.
comum hipertrofia prostática.
As glândulas bulbouretrais são pares e TÚBULOS SEMINÍFEROS –
localizam-se logo abaixo da próstata. Elas se
ESTRUTURA DOS TÚBULOS
abrem na parte proximal da uretra peniana, na
região do bulbo, isto é, porção espessada do corpo
SEMINÍFEROS
esponjoso. As glândulas uretrais são submucosas O túbulo seminífero representa a
e múltiplas e abrem-se ao longo de quase todo o unidade fundamental da formação dos
teto da uretra peniana. espermatozoides.
As vesículas seminais são estruturas O número de túbulos seminíferos nos
pares. Cada vesícula é formada por um duto testículos humanos maduros situa-se em torno de
glandular de 15 a 20 cm de comprimento, muito 1.200, e cada túbulo tem um comprimento que
tortuoso, que se abre na parte final da ampola do pode alcançar 70 centímetros.
canal deferente. A vesícula seminal não é uma
estrutura de armazenamento de espermatozoides, O epitélio dos túbulos seminíferos de
como o nome pode sugerir, mas uma verdadeira mamíferos apresenta, além das células da
glândula, por isso, alguns autores preferem linhagem gamética, aquelas de sustentação, as
chamá-las de glândulas vesiculosas. células de Sertoli. Os tipos de células gaméticas
ou espermatogênicas são: espermatogônias,
ANATOMIA DOS ÓRGÃOS GENITAIS espermatócitos I e II, espermátides e
MASCULINOS HUMANOS – espermatozoides. As células da linhagem
CONTRIBUIÇÃO DAS GLÂNDUAS NA gamética apresentam uma distribuição espacial
COMPOSIÇÃO DO EJACULADO característica e muito bem definida dentro do
túbulo seminífero, elas posicionam-se sucessiva e
As diferentes composições das glândulas ordenadamente entre as células de Sertoli,
acessórias do aparelho reprodutor masculino apoiando-se nelas. As espermatogônias, células
contribuem para manter os espermatozoides mais basais, por sua vez, apoiam-se na membrana
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basal, seguindo-se os espermatócitos I e II e as TÚBULOS SEMINÍFEROS – FUNÇÕES


espermátides. Os espermatozoides têm suas DAS CÉLULAS DE SERTOLI:
cabeças inseridas no ápice das células de Sertoli e BARREIRA HEMATOTESTICULAR
as caudas livres para o lúmen do túbulo.
As células de Sertoli são as únicas células
somáticas do epitélio dos túbulos seminíferos.
Junto com as espermatogônias, as células de
Sertoli encontram-se apoiadas na membrana basal.
Logo abaixo está a lâmina própria caracterizada
pelo tecido conectivo. Na lâmina própria, existe
um envoltório constituído pela presença de células
mioides, contráteis, unidas entre si por junções
tipo ocludentes.
As células de Sertoli têm suas bases
apoiadas na membrana basal e os seus ápices
livres para o lúmen do túbulo seminífero. Suas
superfícies laterais, altamente irregulares,
amoldam-se para a contenção das células
gaméticas. Imediatamente após as
espermatogônias e os espermatócitos pré-
leptóteno e leptóteno, as superfícies laterais das
células de Sertoli aproximam-se entre si de tal
As células de Sertoli são colunares altas e maneira que se conectam profundamente por
apresentam suas bases apoiadas na lâmina basal e especializações de membrana do tipo ocludente,
seus ápices livres para o lúmen, ocupando, assim, projetando-se totalmente sobre as
toda a altura do túbulo seminífero. A parte basal espermatogônias e os espermatócitos pré-
dessas células é estreita, as faces laterais leptóteno e leptóteno. Estabelece-se, dessa
apresentam muitos processos nos quais se maneira, uma barreira hematotesticular
acomodam os espermatócitos e as espermátides, e altamente eficiente. As substâncias oriundas do
a parte apical, cheia de projeções, engloba as líquido intersticial podem atingir diretamente as
espermátides tardias e os espermatozoides já aptos células de Sertoli e as espermatogônias, mas os
a se lançarem no lúmen do túbulo seminífero. As espermatócitos mais maduros e as espermátides só
espermatogônias ocupam uma posição basal entre terão acesso a tais substâncias através da célula de
as células de Sertoli e a lâmina basal. O núcleo Sertoli.
das células de Sertoli tem forma irregular,
Fica estabelecido no túbulo seminífero
localiza-se na parte basal e apresenta um nucléolo
uma região basal, compreendida abaixo das
(nitidamente tripartido). A parte basal dessas
junções íntimas das células de Sertoli, e uma
células apresenta abundante retículo
região adluminal acima dessas junções até o
endoplasmático rugoso. Na região, também estão
lúmen do túbulo. Na região das junções íntimas
presentes gotas de lipídeos, finos filamentos, grãos
entre duas células de Sertoli, verifica-se logo após
de glicogênio, muitas mitocôndrias alongadas,
essas especializações de membrana, a presença de
além de um evidente complexo de Golgi.
filamentos hexagonalmente arranjados e cisternas
Entre os túbulos seminíferos existem, além de retículos endoplasmático liso subjacente a tais
de outras células, células epitelioides que filamentos.
constituem o tecido endócrino do testículo. Estas
As células de linhagem gamética
células são denominadas células de Leydig.
estabelecem íntimas associações com as células de
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Sertoli por meio de especializações de membrana, entre células vizinhas. Provavelmente reside aí um
como os desmossomos. dos mecanismos para o sincronismo durante a
espermatogênese.
As células gaméticas direcionam-se ao
lúmen do túbulo seminífero por estarem Está demonstrado também que as células
intimamente ligadas às células de Sertoli, as quais de Sertoli produzem uma substância que atua
sofrem mudanças de conformação, que deslocam como fator de crescimento, conhecida como fator
suas margens laterais. Uma alternativa é que as de crescimento dos túbulos seminíferos (SGF –
células gaméticas se movam ativamente para cima seminiferous growth fator), que estimula a
e entre as células de Sertoli. Essa possibilidade proliferação das células somáticas e o aumento na
exigiria que as junções entre as células da formação de vasos sanguíneos durante a vida fetal
linhagem espermatogênica e as de Sertoli fossem e o desenvolvimento pós-natal. As células de
quebradas e depois refeitas. Sertoli do adulto continuam a produzir SGF e
respondem a essa substância produzida por elas
Além da barreira hematotesticular, as
próprias secretando algumas proteínas,
células de Sergoli desempenham outras funções.
destacando-se, entre elas, uma que promove a
Sua localização e forma demonstram uma íntima
ligação dessas células com espermatozoides
associação com a progênie de espermatócitos em
(ABP).
fase de diferenciação, sendo, por isso,
consideradas células de apoio mecânico e de As células de Sertoli apresentam
nutrição. Como a linhagem gamética se receptores para o hormônio folículo-estimulante
desenvolve no microambiente providenciado pelas (FSH) e as testosterona, que são os principais
células de Sertoli, é possível que o controle da hormônios reguladores da espermatogênese.
diferenciação celular das células germinativas
O líquido presente nos túbulos seminíferos
tenha relação com essas células.
é elaborado pelas células de Sertoli,
Tem sido demonstrada a presença de demonstrando, assim, uma função secretora. São
filamentos celulares contendo actina e, por isso, também essas células que sintetizam uma proteína
fornecendo uma certa possibilidade contrátil para específica designada proteína ligante do
as células de Sertoli. Esse fato poderia promover andrógeno, conhecida como ABP (androgen-
ou auxiliar o movimento das células germinativas binding protein).
da lâmina basal para o lúmen do túbulo
As células de Sertoli captam a testosterona
seminífero. Parece também que as células de
produzida pelas células de Leydig e a convertem
Sertoli estão envolvidas no desprendimento das
em deidrotestosterona, mediante a ação da 5α-
espermátides finais e dos espermatozoides para o
redutase, e em estradiol, mediante a ação da
lúmen do túbulo.
aromatase. Esses hormônios são secretados junto
A fagocitose é uma função bem conhecida com a ABP.
das células de Sertoli, pois elas fagocitam
Outra função muito relevante dessas
efetivamente restos citoplasmáticos das
células é a produção do hormônio
espermátides durante a espermiogênese, quando
antimulleriano (AMH), responsável pela
essas se transformam em espermatozoides.
regressão, no macho, dos ductos de Muller ou
Durante o processo de espermatogênese, muitas
paramesonéfricos (ductos que dão origem ao trato
células germinativas, que iniciaram sua
reprodutor feminino).
diferenciação, degeneram, e seus restos também
são fagocitados pelas células de Sertoli. LINHAGEM ESPERMATOGÊNICA –
Junções comunicantes foram observadas ESPERMATOGÔNIAS: MANUTENÇÃO
entre células de Sertoli. Essas junções permitem a DAS CÉLULAS-TRONCO
passagem de íons e de pequenas moléculas de uma
célula para outra, estabelecendo comunicações
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Os vários tipos de espermatogônias análise de um corte histológico transversal de


distinguem-se pela morfologia de seus núcleos e testículo de rato mostra que todas as células
posição de seus nucléolos. gaméticas estão dispostas em camadas
concêntricas e que todas as células de uma mesma
As células pré-meióticas ou
camada se encontram no mesmo estágio de
espermatogônias encontram-se nas camadas mais
diferenciação. Células de um estágio específico da
basais do epitélio do túbulo seminífero e
espermatogênese sempre ocorrem juntas. A
representam o estoque das células a partir das
mesma sequência reflete-se por um determinado
quais se formarão os futuros gametas masculinos.
segmento do túbulo. Embora dentro de uma
Essas células dividem-se repetidamente por
determinada camada concêntrica do túbulo, todas
mitose e tornam-se as espermatogônias. No túbulo
as células estejam no mesmo estágio de
seminífero adulto, encontram-se muitos tipos de
diferenciação, em um mesmo corte histológico,
espermatogônias que se distinguem umas das
túbulos diferentes mostrarão diferentes
outras pela propriedade de coloração de seus
associações ou estágios.
núcleos. Entre a população de espermatogônias
devem estar presentes dois tipos de células: a
célula-tronco e a célula em diferenciação. A
última é a célula comprometida em tornar-se
espermatócito primário e, finalmente,
espermatozoide. A célula-tronco é a menos
diferenciada e é uma célula de reserva que
continua a dividir-se por mitose para formar
futuras gerações de espermatogônias, algumas das
quais se tornarão células-tronco, e outras seguirão
o processo de diferenciação. As células de reserva
ou células-tronco devem ser preservadas de modo Nos túbulos seminíferos humanos, cada
a fornecer células necessárias para a futura tipo de associação celular ocupa um pequeno
diferenciação de gametas. Não fosse assim, a trecho do túbulo e não se prolonga por toda a sua
população de células germinativas se esgotaria no circunferência. Dessa forma, um corte transversal
túbulo seminífero. mostrará duas ou até quatro diferentes associações
celulares.
Diferentes tipos de espermatogônias são
distinguíveis de acordo com sua morfologia
nuclear e destino na linhagem espermatogênica.
Pela análise nuclear são distinguidas as
espermatogônias tipos A e B. As espermatogônias
tipo A não têm heterocromatina no seu núcleo, e
as espermatogônias tipo B apresentam núcleos
com massas de cromatina intensamente coradas,
adjacentes ao envoltório nuclear. O núcleo de uma
espermatogônia B exibe nucléolo central.
LINHAGEM ESPERMATOGÊNICA:
NOÇÃO DE CICLO ESPERMÁTICO E
DE ONDA ESPERMATOGÊNICA
Um exame minucioso do túbulo seminífero
revela detalhes importantes da sua organização
que, por sua vez, fornece uma esclarecedora
informação no processo da espermatogênese. Uma
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Entende-se por estágio combinações O número de estágios de um ciclo é


definidas das células da linhagem gamética em peculiar para cada espécie, assim, o ciclo do rato
um mesmo segmento de um túbulo seminífero. tem 14 estágios, o da cobaia e o do macaco tem 12
e o do homem tem apenas 06. Além disso, é
Segmento corresponde ao comprimento
provável que a espermatogênese se estenda por
no túbulo seminífero que abrange um estágio.
quatro ciclos, sendo que, na espécie humana, cada
Lembrando que uma célula da linhagem ciclo tem duração de 16 dias. Portanto, no homem,
gamética em diferenciação se move em espiral em desde que uma gônia entra em processo meiótico
direção ao lúmen do túbulo, um determinado até tornar-se espermatozoide maduro terão
segmento que correspondia ao estágio I em um transcorridos 64 dias.
determinado momento corresponderá ao estágio
LINHAGEM ESPERMATOGÊNICA:
II, III, e assim sucessivamente em momentos
subsequentes. ESPERMIOGÊNESE

Em outras palavras, uma associação Espermiogênese, ou processo de


celular particular que aparece em um determinado transformação de espermátide em
local e em um determinado tempo sofre uma série espermatozoide, implica um rearranjo dos
de modificações gradativas. Por fim, no mesmo componentes celulares, assim como a criação
local, depois de um determinado tempo, haverá o de estruturas necessárias para a fecundação.
reaparecimento da mesma associação celular  Modificações ocorridas da espermátide
inicial. a espermatozoide
A série de mudanças que ocorrem em O núcleo do gameta masculino, após a telófase
um determinado segmento do túbulo da segunda divisão meiótica (espermátide),
seminífero, entre dois aparecimentos sucessivos assume a estrutura típica de um núcleo em
da mesma associação celular, é definido como interfase, com cromatina fina e dispersa e
um ciclo. envoltório nuclear. Para o espermatozoide efetuar
Os segmentos estão dispostos distalmente sua função, é necessária uma série de
ao longo do túbulo seminífero em ordem transformações que lhe possibilitem de mover,
consecutiva e formam contínuas sucessões de levando seu genoma com o menor gasto de
ondas. energia possível. Assim, durante a passagem de
espermátide para espermatozoide, o gameta
O estímulo do FSH sobre uma masculino se desvencilha de tudo o que lhe possa
espermatogônia produz uma onda ao longo do ser supérfluo, sendo que ocorre uma série de
túbulo seminífero de estágios sucessivos da transformações morfológicas.
espermatogênese. Ou seja, as transformações
desse tipo especial de epitélio ocorrem em ondas e O conjunto desse elaborado processo de
de um modo rítmico. transformações envolve os seguintes aspectos: (a)
condensação e alongamento do núcleo; (b)
Uma onda espermatogênica consiste em formação do acrossomo a partir do complexo de
uma série completa de segmentos Golgi; (c) formação do flagelo; (d) deslocamento
reapresentando associações celulares de uma bateria mitocondrial, constituindo uma
características de cada espécie. bainha de mitocôndrias periféricas na peça
A análise de cortes transversais sucessivos intermediária; (e) perda significativa de
de túbulos seminíferos demonstra que o grupo de citoplasma.
células gaméticas no mesmo processo de
espermatogênese (sincício) descreve uma linha
espiral que inicia com a espermatogônia junto da
membrana basal e termina com o espermatozoide
no lúmen.
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associados ao núcleo das espermátides contribuem


para o alongamento e a forma nuclear, embora, em
algumas espécies, não se observem microtúbulos
durante as mudanças morfológicas nucleares.
A posição final dos dois centríolos é variável.
Nos mamíferos, o centríolo distal colabora na
organização da peça conectora do pescoço antes
que a integridade do próprio centríolo seja
perdida. A perda desse centríolo indica que ele
não serve como corpo basal para iniciar o
movimento flagelar no espermatozoide maduro. O
centríolo proximal também é perdido em algumas
espécies de mamíferos.
A formação da peça intermediária igualmente
varia muito entre as espécies no que diz respeito à
configuração das mitocôndrias. Os
espermatozoides mais primitivos têm peças
intermediárias muito simples. Durante a
espermiogênese, há uma progressiva diminuição
do número de mitocôndrias, acompanhada por um
As espermátides recém-formadas são muito aumento de tamanho das mitocôndrias
semelhantes aos espermatócitos II que lhes deram remanescentes.
origem, os núcleos são menores. No citoplasma,
Durante a evolução da formação do
identificam-se várias organelas: complexo de
acrossomo, o vacúolo perde seu conteúdo líquido
Golgi justanuclear, mitocôndrias perinucleares,
e suas paredes murcham sobre o grão acrossômico
ribossomos livres, um par de centríolos, retículo
e sobre um pouco mais da metade proximal do
endoplasmático liso e algumas gotas de lipídeos.
núcleo, recobrindo-o com sua dupla bainha.
A cromatina do núcleo das espermátides Quando o acrossomo completa o seu
começa a condensar-se, resultando em uma grande desenvolvimento, o Golgi restante destaca-se do
redução do volume nuclear. Essa condensação polo anterior do núcleo, migra livremente pelo
cromatínica, além de lhe fornecer uma forma mais citoplasma e é eliminado com outros restos
adaptada para a locomoção, também o torna citoplasmáticos. Mais ou menos no tempo em que
menos suscetível a danos físicos ou mutações isso está acontecendo, observa-se a formação da
durante o armazenamento e o transporte ao local manchette, que consiste na formação de uma
da fecundação. Todo o ácido ribonucleico, bainha cilíndrica, a partir de microtúbulos
especialmente o presente no nucléolo, é citoplasmáticos, que se prende ao polo caudal do
eliminado, permanecendo apenas as núcleo, em íntima associação à margem posterior
desoxirribonucleoproteínas. Quanto às proteínas, do capuz acrossômico. Provavelmente os
as protaminas são inicialmente detectadas nas microtúbulos da manchette desempenham algum
espermátides alongadas, e as histonas são tipo de orientação na condensação da cromatina,
gradualmente perdidas. No espermatozoide desde que algumas observações demonstraram
maduro, histonas não são detectadas. A forma do que, em algumas espécies, fibras individuais de
núcleo muda de esférica para alongada e cromatina condensada no lado interno do envelope
estreitada, e a forma da cabeça que, em última nuclear são paralelas aos microtúbulos aderidos
análise, se constitui uma decorrência da forma do externamente ao envelope nuclear. À medida que
núcleo, é característica para cada espécie. Muitos a espermiogênese progride, a integridade da
pesquisadores acreditam que os microtúbulos manchette é desfeita.
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Com o final da espermiogênese ocorre a perda seminífero. O acrossomo do grilo Achaeta


do citoplasma residual das espermátides que ainda domesticus, que é um acrossomo composto,
permaneciam ligadas entre si por continuidades adquire uma série de projeções digitiformes ao
citoplasmáticas, o que lhes conferia um arranjo passar pela vesícula seminal. Provavelmente,
sincicial. O excesso citoplasmático acumulado na essas projeções são necessárias para a interação do
região do pescoço da espermátide é chamado de espermatozoide com o óvulo.
corpo residual. As próprias células de Sertoli
encarregam-se de fagocitar os corpos residuais,
resultado no desprendimento e na liberação dos
espermatozoides para o lúmen do túbulo
seminífero e, posteriormente, para o epidídimo. O
processo de liberação dos espermatozoides do
arranjo sincicial é conhecido como espermiação.
 Capacitação
A capacitação é o processo de tornar o
espermatozoide apto para a fecundação. Nos
mamíferos, a capacitação ocorre em nível
molecular.
Nos vertebrados, o espermatozoide ejaculado
já terminou o processo de morfogênese, porém
ainda não é capaz de fecundar o ovócito. No
mamífero, é necessário que esteja em contato com
secreções do aparelho reprodutor feminino para
adquirir a capacidade de fecundar. Vários
fenômenos ocorrem na capacitação do
espermatozoide, como a diminuição de colesterol
na sua membrana plasmática (colesterol que é
sequestrado pela albumina encontrada no trato
genital feminino). Um outro evento que ocorre na
capacitação é a ativação do adenilatociclase, que
age sobre o AMP cíclico, que, por sua vez,
fosforila proteínas cinase que fosfolirizarão outras
proteínas em cascata. É possível que o
espermatozoide se ligue à zona pelúcida mediante
a ação de proteínas fosforiladas. Sabe-se também
que a membrana plasmática do espermatozoide
apto para fecundar tem um potencial de membrana
de -50 mV, ao passo que no não capacitado esse
potencial é de -30 mV. Não se sabe, porém, se
esses fatos interagem na capacitação, nem se cada
um, separadamente, a causa.
Nos insetos, o espermatozoide não está
morfologicamente pronto ao deixar o túbulo

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Ovogênese
INTRODUÇÃO assemelha-se à de uma amêndoa, apresentando de
três a cinco centímetros de comprimento, 1,5 a 02
Ovogênese é o processo da formação do centímetros de largura e em torno de um
gameta feminino. Esse processo implica, além da centímetro de espessura. Distinguem-se duas
redução do número diploide de cromossomos para regiões principais: a cortical e a medular.
haploide, o armazenamento maior ou menor de
substâncias de reserva, levando em conta o que o Cada uma das tubas uterinas tem de 10 a
embrião necessitará para o seu desenvolvimento. 18 centímetros de comprimento. Distinguem-se
Enquanto a substância de reserva é mínima duas regiões, uma proximal (o istmo) e uma
naqueles embriões que desde o início do distal, na qual estão situadas a ampola, sítio da
desenvolvimento estabelecem conexões nutritivas fecundação, e o infundíbulo, sítio da capacitação
com a mãe, ou, passando por um estágio larval, do ovócito. As dobras da mucosa do istmo estão
retiram os nutrientes do meio, em outros dispostas longitudinalmente, o epitélio apresenta
embriões, a substância de reserva acumulada no poucos cílios e o lúmen é reduzido. O istmo abre-
ovo torna o embrião autossuficiente até a eclosão. se no ângulo superior (corno) do útero. Na
Finalmente, é durante a ovogênese que se vão ampola, a membrana mucosa forma uma rede
depositando no gameta feminino produtos de delicada de dobras nas quais as células ciliadas
expressão gênica que influenciarão o estão em maior número do que as células
engatilhamento da expressão de outros genes no secretoras. A ampola continua no infundíbulo, que
início do desenvolvimento do embrião. é um segmento em forma de funil, que se abre na
cavidade do corpo e apresenta franjados (as
ANATOMIA DO APARELHO fímbrias).
REPRODUTOR FEMININO HUMANO
Antes da ovulação, a tuba recebe um
Os órgãos internos do aparelho reprodutor aumento de suprimento sanguíneo e apresenta um
feminino humano compreendem dois ovários, aumento de sua motilidade. O movimento da tuba
duas tubas uterinas, um útero, o colo do útero e a uterina, bem como movimentos do próprio ovário
vagina. permitem que as fímbrias do infundíbulo se
posicionem acima do folículo maduro e capturem
o ovócito no momento da ovulação.

O útero, na mulher adulta, tem de sete a


oito centímetros de comprimento, uma forma de
pera achatada anteroposteriormente, e situa-se no
centro da pelve menor, entre a bexiga urinária e o
Os ovários se posicionam nas paredes reto. A parede do útero consiste em músculo liso
laterais da pelve, nas fossas ovarianas. Sua forma (miométrio), em uma mucosa que o forra
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internamente (endométrio) e em um envoltório A atividade mitótica das ovogônias


peritoneal (perimétrio) que é contínuo prossegue por toda a vida nos invertebrados, mas
lateralmente com o ligamento amplo. O segmento ela se limita ao início do desenvolvimento nos
inferior do útero projeta-se na vagina, constituindo vertebrados superiores.
a parte vaginal do colo do útero. A mucosa uterina
Calcula-se que o número de ovogônias
apresenta variações conforme a fase do ciclo
produzidas por divisão mitótica seja de sete
considerado.
milhões no 5° mês do desenvolvimento humano.
O colo do útero apresenta musculatura lisa Na puberdade, esse número reduzirá para
reduzida, porém o tecido conjuntivo denso é praticamente 0,8%, e deste, apenas serão ovulados
abundante, sobretudo durante a gravidez. Nesse de 400 a 500 (0,006%) Uma das razões para tal
período, o canal do colo do útero fica diminuição é que já antes do nascimento muitos
funcionalmente obstruído pelo tampão mucoso. folículos primordiais começam a crescer, mas
Sob a influência da progesterona, o muco cervical como ainda não há produção hormonal para
torna-se impermeável aos espermatozoides. No estimular seu crescimento, eles se perdem.
entanto, sob a influência do estrógeno, esse muco
Uma vez que o gameta de fêmeas de
se desfaz, permitindo que os espermatozoides o
mamíferos termina o período germinativo, entra
atravessem e cheguem ao útero.
em meiose (prófase) e estaciona nesse estágio até
A vagina é um órgão fibromuscular oco de a fêmea atingir a maturidade sexual, quando
paredes finas. Estende-se desde o colo do útero até então, em cada ciclo, um determinado número de
sua abertura externa, no vestíbulo. Está revestida ovócitos de primeira ordem progride na meiose.
por um epitélio estratificado pavimentoso não
queratinizado que contém abundância de
PERÍODO DE MEIOSE DO GAMETA
glicogênio. O pH vaginal situa-se em torno de 5,7, FEMININO
o que não é benéfico para os espermatozoides. A meiose nos mamíferos inicia e
Esse muco pode ser tamponado por cerca de 50 estaciona na vida embrionária, sendo
minutos pelo líquido seminal alcalino. Mesmo retomada, em alguns folículos, a partir da
assim, 99% dos espermatozoides ejaculados são puberdade e daí por toda a vida fértil da
perdidos na vagina. fêmea. Sua terminalização depende da
ATIVIDADE MITÓTICA DAS fecundação.
OVOGÔNIAS: PERÍODO Uma vez terminado o período de
GERMINATIVO OU DE proliferação, as ovogônias de mamíferos
PROLIFERAÇÃO – A ATIVIDADE aumentam de volume e se preparam para a meiose
MITÓTICA DAS OVOGÔNIAS (entram em prófase meiótica e passam a ser
INICIA-SE NA VIDA EMBRIONÁRIA denominadas ovócitos de primeira ordem,
processo que é irreversível). Esse é o chamado
E PROSSEGUE POR TODA A VIDA estágio dictiado. Na maioria dos mamíferos, a
NOS INVERTEBRADOS, AO PASSO primeira divisão meiótica (reducional), que
QUE, NOS VERTEBRADOS converte o ovócito primário em secundário,
SUPERIORES, LIMITA-SE AO ocorre imediatamente antes da ovulação. (São
INÍCIO DO DESENVOLVIMENTO exceções as cadelas e as éguas, nas quais a
EMBRIONÁRIO formação do ovócito secundário ocorre após a
ovulação). A segunda divisão meiótica
As PGCs (células precursoras dos (equacional), que converterá o ovócito II em
gametas) originam tanto espermatogônias como ovótide ou óvulo, só ocorre se houver
ovogônias. Em muitos animais, as PGCs fecundação, sendo que o espermatozoide agiria
originam-se em locais distantes das futuras como um ativador da complementação da meiose.
gônadas.
Giovanna Andrade Fernandes
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FORMAÇÃO E ACÚMULO DE dividida em pré-vitelogênese, vitelogênese e pós-


SUBSTÂNCIAS DE RESERVANOS vitelogênese.
DIFERENTES TIPOS DE OVÓCITOS Considera-se como pré-vitelogênese o
período em que há um lento crescimento do
O armazenamento de vitelo está
ovócito sem que haja acúmulo de substâncias de
relacionado ao tipo de desenvolvimento da
reserva (vitelo). Nessa fase, o crescimento do
espécie e, em muitos animais, a fonte do vitelo é
ovócito deve-se a um aumento de organelas
o fígado, que, pela corrente sanguínea, é levado
citoplasmáticas, e não à deposição de vitelo,
até o ovócito, onde é captado por um processo
porque, se esta ocorrer, será mínima. Essa fase é
de micropinocitose.
caracterizada pela síntese rápida de ácidos
O período de crescimento dos gametas nucleicos, formação de organelas citoplasmáticas,
femininos é prolongado, sendo que o aumento de como mitocôndrias, complexo de Golgi e retículo
tamanho chega a ser considerável. Em animais endoplasmático. As células foliculares ainda não
que apresentam ovos com grande quantidade de manifestam sua atividade. A síntese que ocorre é
vitelo, o crescimento dos ovócitos ocorre mais ação exclusiva do ovócito.
rapidamente.
A vitelogênese caracteriza-se pela
Os ovócitos dos mamíferos crescem muito atividade das organelas citoplasmáticas formadas
menos se comparados aos dos anfíbios, ovos com durante a pré-vitelogênese, que, estando
moderada quantidade de vitelo, e aos das aves, localizadas na periferia do ovo, facilmente têm
ovos com muito vitelo. acesso às substâncias nutritivas que ali chegam. É
nessa fase que as células foliculares se tornam
Nos vertebrados, a vitelogênese engloba
secretoras, passando ao ovócito substâncias
um processo de síntese e de acúmulo de material,
semielaboradas.
particularmente no fígado. Após, o vitelo é
transportado aos ovócitos pela corrente sanguínea. Em espécies com ovos muito ricos em
O vitelo pode ser predominantemente proteico ou vitelo, identifica-se ainda uma terceira fase na
lipídico ou conter ambos os componentes. Outros qual as organelas celulares tendem a desaparecer
materiais também podem ser encontrados na sua ou já não apresentam atividade metabólica, as
composição. células foliculares também regridem e murcham.
Porém, uma considerável quantidade de vitelo é
Nos anfíbios, é comum notarem-se
acumulada diretamente na periferia do ovócito,
processos de micropinocitose nos ovócitos em
oriunda do organismo materno, mas não do
desenvolvimento para englobarem
ovário. Nas aves, é o fígado o órgão responsável
macromoléculas de alto peso molecular. Várias
pela elaboração final do vitelo.
vesículas fundem-se para formar vesículas
maiores. É durante a ovogênese que certos RNAs e
proteínas, essenciais para iniciar o
Durante o processo de vitelogênese, o
desenvolvimento após a fecundação, são
próprio ovócito é ativo na síntese proteica, porém
produzidos. Em alguns ovos, tais componentes são
sua contribuição é pequena se comparada à fonte
restringidos espacialmente a determinadas regiões,
exógena de vitelo.
produzindo, assim, efeitos que estabelecem zonas
Enquanto nos machos a diferenciação do embrionárias distintas. Portanto, a ovogênese tem
gameta ocorre depois da meiose, nas fêmeas o um enorme significado na diferenciação celular
ovócito é completamente estruturado antes que a durante o desenvolvimento embrionário.
meiose seja completada. Em muitas espécies, a
TIPOS DE OVOS
maior parte da diferenciação do gameta ocorre
durante a prófase I. Nas espécies que produzem A classificação dos ovos é feita de acordo
bastante vitelo, essa fase é arbitrariamente com a quantidade de vitelo que eles produzem
Giovanna Andrade Fernandes
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durante o seu desenvolvimento. Esse vitelo está característica, sendo envolvidos por uma
em função do tempo e da independência de seu camada proteica. Esses grãos são menores
futuro desenvolvimento. que os grãos proteicos e apresentam forma
arredondada.
Durante o crescimento do ovócito, ocorre
 Ovos telolécitos: possuem grande
não apenas um aumento quantitativo do
quantidade de vitelo. Há uma segregação
citoplasma, mas também, principalmente,
do citoplasma e do vitelo, o qual aparece
mudanças na qualidade pela elaboração e
como uma massa compacta no interior do
distribuição regular de várias inclusões, que serão
ovo, o citoplasma está restrito a uma fina
essenciais para o desenvolvimento do embrião.
camada sobre a superfície com um
A síntese de vitelo ocorre no segundo pequeno espessamento no lado superior,
período de crescimento do ovócito. zona que contém o núcleo. (Alguns autores
chamam de telolécitos ovos com
O vitelo não é uma substância definida,
quantidade moderada de vitelo e reservam
mas um termo morfológico. A substância química
o termo panlécito para ovos com grande
componente do vitelo pode não ser a mesma em
quantidade de vitelo).
todos os casos. Os principais componentes do
 Ovos centrolécitos: o vitelo situa-se no
vitelo são as proteínas, os fosfolipídios e as
interior do ovo, e o citoplasma é
gorduras neutras.
distribuído em uma fina camada na
Os diferentes tipos de ovos presentes na superfície periférica. Contudo, permanece
natureza variam de acordo com os animais uma ilha citoplasmática no centro do ovo,
considerados e o meio que os cercam. onde está o núcleo. Assim, não se pode
determinar os polos animal e vegetal do
 Ovos oligolécitos: são ovos com pouca ovo, mas, em contrapartida, diz-se que
quantidade e distribuição de vitelo mais ou possui polaridade anteroposterior. Esse é o
menos uniforme, cujo diâmetro está na ovo típico dos artrópodes, especialmente
ordem de décimos de milímetro. São dos insetos.
também conhecidos como isolécitos ou
homolécitos. Nesses ovos, a única ENVOLTÓRIOS CELULARES DO
referência visível da polaridade é o local OVÓCITO
de formação do corpúsculo polar.
 Ovos heterolécitos: têm quantidade Os envoltórios celulares do ovo nos
moderada de vitelo. Em média, possuem cordados têm múltiplas funções e apresentam
um mm de diâmetro. O polo animal e o íntimos contatos com ele por meio de
vegetal são distintos porque a especializações de membranas.
concentração de vitelo se localiza no polo Nos cordados, o ovócito é envolvido por
vegetal. Os ovos de anfíbios são os um grupo de células foliculares, inicialmente uma
representantes típicos desse tipo de ovo. O camada, que aumenta de número à medida que o
vitelo proteico aparece em grandes ovócito vai se desenvolvendo. No início, a relação
grânulos com forma oval e achatados em entre as células foliculares e o ovócito é muito
um dos planos. Esses grânulos conferem simples, ocorrendo, em alguns locais,
ao citoplasma uma grande densidade. especializações de membrana tipo desmossomos.
Comparados aos ovos oligolécitos, À medida que o desenvolvimento progride, surge,
apresentam um tamanho real muito maior. entre as células foliculares e o ovócito, uma
Eles são chamados por alguns autores de substância densa, rica em glicoproteínas,
mesolécitos, e por outros, de telolécitos. constituindo uma membrana, que nos mamíferos é
Além dos grãos proteicos, os ovos de conhecida como zona pelúcida. As células
anfíbios armazenam lipídeos e glicogênio. foliculares e o ovócito, mesmo assim, mantêm
Os lipídeos apresentam uma configuração contatos, pois se podem observar microvilosidades
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das células foliculares e do ovócito interdigitando- ovócito. Entre as nurse cells e o ovócito não se
se através dessa substância densa. Processos de notam processos citoplasmáticos tipo microvilos,
pinocitose foram observados na base das mas a comunicação entre ambas as células é
microvilosidades do ovócito, demonstrando garantida através de pontes citoplasmáticas.
passagem de material proveniente das células
foliculares. Após o desenvolvimento completo do
OVOGÊNESE EM MAMÍFEROS –
ovócito, tais microvilosidades, tanto do ovócito DESENVOLVIMENTO DOS FOLÍCULOS
quanto das células foliculares, tendem a se retrair. OVARIANOS
Isso é o que acontece nos vertebrados. Nos peixes,
Em humanos, assim como em muitos
quando essas interdigitações retraem, deixam
grupos animais, especialmente nos cordados, os
minúsculos canais na membrana primária do ovo,
ovócitos são rodeados, durante seu crescimento
constituindo as micrópilas, por onde os
e maturação, por células especializadas (as
espermatozoides terão acesso ao ovo no momento
células foliculares).
da fecundação.
 Folículos primordiais: são os mais
abundantes, sendo formados já na vida
embrionária. Estão localizados na parte
periférica do córtex ovariano. O ovócito I
está envolvido por apenas uma camada de
células foliculares pavimentosas. A meiose
se detém em prófase I, permanecendo,
assim, todos os ovócitos até o início da
vida fértil da mulher, quando, então, a cada
ciclo menstrual, alguns entram em
desenvolvimento.
 Folículos em desenvolvimento – Folículo
primário: a cada ciclo, um grupo de 25 a
30 folículos começa seu crescimento.
Quando o ovócito é estimulado, logo se
observa que as células foliculares que o
envolvem começam a aumentar de
tamanho e passam à forma cúbica. É
formado assim um folículo primário.
 Folículos em desenvolvimento – Folículo
secundário: as células foliculares
dividem-se e passam a constituir várias
camadas de células foliculares. O seu
conjunto forma a camada granulosa do
folículo. O progressivo crescimento
folicular reflete uma comunicação
molecular bidirecional entre o ovócito, as
células granulosas e as células tecais, isto
é, células do tecido conectivo adjacente
Em certos animais, como insetos, que envolvem a camada granulosa. Esse
moluscos e anelídeos, desenvolve-se, durante a processo de intercomunicação deve-se a
gametogênese, além das células foliculares, um moléculas de sinalização pertencentes à
grupo de células especiais (as nurse cells ou superfamília do fator transformador de
células nutrices ou trofócitos), que também estão crescimento beta (TGF-β, transforming
relacionadas com a passagem de materiais para o growth factor- β), fatores de
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morfogênese óssea (BMP, bone marrow pedúnculo, também constituído por células
morphogenetic proteins). Quando as foliculares, chamado de cumulus
células da granulosa se dividem e formam oophorus. O folículo que atinge esse
duas a três camadas que rodeiam o estágio de desenvolvimento é conhecido
ovócito, alguns autores denominam essa como folículo maduro ou folículo de
fase como folículo pré-antral. Nessa fase, Graaf. Por estímulo hormonal, na
inicia-se a diferenciação do estroma ao ovulação, é eliminado o ovócito com
redor do folículo em células tecais e aquelas poucas células foliculares que o
forma-se uma membrana basal que limita rodeiam, essas células são conhecidas
as células tecais e as células da granulosa. como células da corona radiata. Esse
As células da granulosa expressam o conjunto é colhido pelo infundíbulo da
receptor para o FSH na presença do qual é tuba uterina.
aumentada a atividade estrogênica,  Corpo lúteo ou amarelo: após a ovulação,
essencial para dar continuidade ao as células foliculares e as da teca interna
desenvolvimento do folículo. que permanecem no ovário dão origem ao
 Folículos em desenvolvimento – Folículo corpo lúteo ou amarelo, que é uma
terciário: entre as células da granulosa glândula endócrina temporária. Produz
começam a se formar pequenas cavidades progesterona e estrógeno, que atuam
cheias de líquido (provavelmente sobre a mucosa uterina, estimulando a
secretadas por elas próprias). Forma-se secreção de suas glândulas. A progesterona
várias gotas que se fundem e originam ainda impede o desenvolvimento de novos
uma gota grande e única. Está assim folículos ovarianos e a ovulação. Quando
formado o antro folicular, preenchido por não ocorre a fecundação, o corpo lúteo tem
um líquido composto por proteínas, uma existência de apenas 10 a 14 dias, ou
hormônios e outras moléculas. Em seja, persiste durante a segunda metade do
decorrência dessa formação, a maior parte ciclo menstrual. Se houver gravidez, o
das células fica rechaçada para a periferia, corpo lúteo aumenta muito e só entrará em
e o ovócito, dentro do antro folicular, regressão após o 5° ou 6° mês, mas não
posiciona-se excentricamente, envolvido desaparece completamente e secreta
por algumas células foliculares. As tecas progesterona até o final da gravidez.
foliculares, constituídas por tecido Porém, ao final, a placenta produz
conectivo, também adquirem aproximadamente dez vezes mais
configurações especiais. São duas tecas: a progesterona do que o corpo lúteo na
interna e a externa. A teca interna toma segunda metade do ciclo.
uma configuração concêntrica em torno do  Corpo albians: as células do corpo lúteo
folículo e suas células adquirem gravídico (após o parto) ou do corpo
características de células sintetizadoras de lúteo menstrual sofrem degeneração,
esteroides. Essas células sintetizam desaparecem por autólise, sendo seus
estrogênio, um dos hormônios do ovário. restos celulares fagocitados por
Como toda glândula endócrina, a teca macrófagos. O local é, então, ocupado por
interna adquire intensa vascularização. As uma cicatriz de tecido conectivo denso (o
células da teca externa assemelham-se em corpo albicans).
tudo ao restante do estroma do ovário, e o  Folículos atrésicos: durante a vida fértil da
seu limite com este é gradual e não é bem mulher, compreendida entre a menarca e a
definido. menopausa, em cada mês, ou seja, em cada
 Folículo maduro (ou de Graaf): o ovócito, ciclo menstrual, vários folículos entram em
com suas células foliculares, não se desenvolvimento, mas geralmente apenas
encontra solto dentro do antro folicular, um chega a ser ovulado. Os demais, em
mas preso ao folículo por um pequeno qualquer estágio de desenvolvimento,
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podem regredir e se tornar folículos as células foliculares desprendam


atrésicos. quantidades crescentes de estrógeno,
hormônio que auxilia o crescimento
OVOGÊNESE EM MAMÍFEROS – folicular. As células foliculares dividem-se
CONTROLE HORMONAL DO CICLO várias vezes e constituem a granulosa do
MENSTRUAL HUMANO folículo. A organização das tecas
foliculares e a formação do antro
Nos vertebrados, as funções gonodais são
folicular também ocorrem nesse período.
reguladas por hormônios gonadotróficos
A proliferação da granulosa é mediada por
liberados pela hipófise. As funções secretoras da
fatores parácrinos conhecidos como GDF9
hipófise, por sua vez, são reguladas por neuro-
(growth and differentiation factors),
hormônios cerebrais, desprendidos pelo
membro da família TGF-α (transforming
hipotálamo, como o GnRH. As gonadotrofinas
growth factor), sintetizados pelo ovócito
(hormônios peptídicos) atuam no ovário e
em maturação. Simultaneamente as células
provocam o crescimento dos ovócitos e a
foliculares secretam fatores de crescimento
ovulação. Elas estimulam as células foliculares do
e diferenciação (TGF-α2, VEFG, leptina,
ovário a produzirem hormônios esteroides.
FGF2), que fazem o ovócito crescer e que
A maioria dos mamíferos ovula em trazem vasos sanguíneos para a região
períodos específicos do ano, tempo folicular. Assim, a colaboração dos
correspondente ao estro. Geralmente são vários ovócitos e das células foliculares é
ovócitos liberados simultaneamente, e a fêmea, recíproca. O aumento crescente do
quando fecundada, dá à luz a vários filhotes. Os estrógeno na corrente sanguínea faz com
primatas apresentam ovulações mais frequentes, que a hipófise diminua a produção de FSH.
geralmente uma a cada mês, e a periodicidade na O estrógeno também estimula as células da
maturação e na liberação dos ovócitos é conhecida granulosa a secretar um hormônio
como ciclo menstrual. Esse ciclo é caracterizado peptídico inibidor, o qual igualmente
pela perda sanguínea e de tecido endometrial em colabora no processo de supressão da
intervalos mensais. Nos primatas, embora vários secreção de FSH pela hipófise. O aumento
folículos entrem em desenvolvimento em cada de estrógeno faz com que o hipotálamo
ciclo, apenas um, geralmente, chega a maturar e libere GnRH, que provoca ondas de
ovular. liberação de gonadotrofinas na metade do
ciclo. Baixas concentrações de estrógeno
O ciclo menstrual representa a integração
inibem a produção de LH, e a alta
de três outros ciclos: ovariano, uterino e cervical.
concentração a estimula. Em torno do 14°
Esses ciclos estão integrados por hormônios do
dia, o LH atinge um pico suficiente para
hipotálamo, da hipófise e do ovário.
causar a ovulação, que ocorrerá algumas
 Ciclo ovariano: compreende o horas após o reinício da meiose. Também
desenvolvimento dos folículos ovarianos, a se nota um aumento de FSH nessa época.
maturação e a liberação do ovócito. Duas Tanto a maturação do ovócito como a
gonadotrofinas estão implicadas na ovulação nos mamíferos são acionadas
regulação do desenvolvimento folicular: o diretamente por ondas de LH. Hormônios
FSH e o LH. Tem-se como início do ciclo esteroides também são indutores efetivos
a fase da menstruação, período em que se da maturação, indicando alguma interação
nota um considerável aumento de FSH na entre gonadotrofinas e esteroides. Depois
corrente sanguínea, produzido pela da ovulação, o LH promove a conversão
hipófise. Esse hormônio promove o do folículo (sem o ovócito) em uma
crescimento e o desenvolvimento dos glândula endócrina, o corpo lúteo,
ovócitos, que, junto com o LH (também produtor de progesterona e de pequenas
produzido pela hipófise), fazem com que quantidades de estrógeno. Esses esteroides,
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à medida que aumentam sua taxa na fêmea. Os ciclos reprodutivos e o seu sincronismo
circulação sanguínea, determinam um com as condições do ambiente são controlados
mecanismo de feedback, atuando sobre o pela liberação de hormônios sexuais.
hipotálamo, o qual comanda a hipófise na
Como em humanos, os ovários dos demais
inibição da produção de FSH e LH. Em
mamíferos também produzem estrógeno e
consequência, como o corpo lúteo era
progesterona. O estrógeno é o responsável pelo
mantido pelo LH, na falta deste ele começa
comportamento receptivo da fêmea durante o
a degenerar e, evidentemente, a produção
estro. O desenvolvimento das glândulas mamárias
de progesterona também decresce
e as características secundárias da fêmea devem-se
consideravelmente. Como era a
parcialmente ao estrógeno. Além das funções
progesterona que mantinha o endométrio,
associadas à reprodução, o estrógeno também
na sua falta, o endométrio começa a
atua no crescimento do esqueleto, na manutenção
descascar, ocorrendo a menstruação.
óssea, na atividade das glândulas sebáceas, no
Quando não ocorre fecundação, a
balanço eletrolítico, na retenção do cálcio e de
degeneração do corpo lúteo inicia dentro
fosfato e no depósito de gorduras. Os estrógenos
de oito a dez dias após a ovulação. A
são esteroides anabólicos. A progesterona assiste
redução de esteroides na corrente
o estrógeno em provocar o comportamento sexual
sanguínea, em decorrência da degeneração
característico associado ao estro, além de inibir as
do corpo lúteo, desfaz a inibição da
contrações da musculatura lisa uterina enquanto
hipófise e ela reassume a produção das
promove o desenvolvimento glandular do
gonadotrofinas, reiniciando o ciclo.
endométrio, sendo necessário para manter a
 Ciclo uterino: o endométrio uterino é
gravidez. Ela também acentua o desenvolvimento
regulado pela taxa de esteroides presentes
das porções secretoras e excretoras das glândulas
na corrente sanguínea.
mamárias.
 Ciclo cervical: o muco cervical também
apresenta variações conforme a fase do Pró-estro: marca o início do ciclo
ciclo considerada. É durante o período de reprodutivo. Nesse estágio, o crescimento
ovulação que o muco cervical, produzido folicular é acelerado sob a influência do FSH. O
pelas glândulas cervicais uterinas, folículo começa a secretar estrógeno, que tem
apresenta condições ótimas para permitir a influência sobre os órgãos genitais. O endométrio
entrada e o direcionamento dos hipertrofia e o tecido conectivo torna-se
espermatozoides no trato genital feminino congestionado pelo grande aumento vascular.
em busca do ovócito a ser fecundado.
Estro: durante o estro, o folículo ou os
folículos atingem a maturidade, e a secreção
estrogênica, o seu pico. A secreção de FSH
OVOGÊNESE EM MAMÍFEROS – começa a decair, e a secreção de LH é iniciada.
CONTROLE HORMONAL DA Disso decorre a ovulação. É nesse período que a
REPRODUÇÃO EM OUTROS fêmea apresenta um comportamento receptivo ao
MAMÍFEROS macho. A influência do estrógeno tem sua máxima
expressão. A ovulação pode ser considerada um
À medida que os mamíferos investem no período transitório entre o estro e o metaestro ou
desenvolvimento gestacional intrauterino, o parte do estágio deste. Durante o estro, a
número de descendentes é reduzido, e o cuidado proliferação epitelial e glandular endometrial é
parental após o nascimento passa a ser exigido mais aparente. O tecido conectivo endometrial
para garantir o sucesso da prole. Em algumas torna-se altamente congestionado e edemaciado.
espécies, os machos colaboram nas atividades de
cuidado com os filhotes e, por isso, apresentam Metaestro: após a ovulação, o folículo que
comportamentos específicos coordenados aos da restou no ovário se modifica e se torna corpo
lúteo. A progesterona tem sua máxima produção.
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Diestro: se a fecundação não ocorre, a fase específicos, os folículos ovarianos,


final do diestro é caracterizada pela involução do estimulando seu desenvolvimento. O
corpo lúteo e sua degeneração para corpo desenvolvimento dos folículos ovarianos e
albicans. A vascularização do tecido conectivo e a a secreção de estrógeno por eles
atividade secretória das glândulas endometriais corresponde à fase de pró-estro dos
involuem. demais mamíferos. Várias são as funções
do estrógeno: 1) promove o crescimento
Anestro: segue-se um período estacionário
do endométrio e o aumento de sua
variável, antecendo o próximo pró-estro. O
vascularização; 2) níveis elevados de
endométrio é de pequena espessura, sendo
estrógeno retroalimentam negativamente
delineado por um epitélio cuboidal simples.
(feedback) o hipotálamo, levando-o a
O período dos diferentes estágios estrais interromper a secreção e a liberação de
varia nas diferentes espécies de animais FSH; 3) os níveis mais altos de estrógeno
considerados. Os animais que apresentam período estimulam os neurônios hipotalâmicos a
estral podem ser do tipo mono ou poliestrais. secretar o hormônio de liberação de LH.
Esse neuro-hormônio, quando atinge a
Monoestrais: um ciclo estral é seguido hipófise, a estimula a secretar e liberar LH
por um longo período ancestral. As fêmeas são na corrente sanguínea. Nesse estágio, o
receptivas aos machos apenas uma ou poucas ciclo reprodutivo humano corresponde ao
vezes por ano. período do estro dos demais mamíferos,
Poliestrais: um ciclo estral termina no isto é, o folículo está pronto para a
período de diestro que emerge no pró-estro do ovulação. Após a ovulação, o LH estimula
ciclo subsequente. Nos animais poliéstricos células remanescentes do folículo para
sazonais (ovelha, égua e gata), o diestro terminal aumentarem de tamanho e formar o corpo
continua como um período de anestro antes do lúteo (metaestro). O corpo lúteo produz
próximo ciclo estral. O período de anestro desses não apenas estrógeno, mas também
animais é significativamente mais curto do que o progesterona, que prepara o útero para a
dos animais monoéstricos. implantação por meio da indução de
secreções uterinas e da inibição das
 Comparação entre o ciclo estral e o ciclo contrações da musculatura lisa. Altos
menstrual humano: na mulher, a níveis de estrógeno e de progesterona
menstruação coincide com o diestro e retroalimentam negativamente o eixo
está associada a baixos níveis de FSH, LH, hipotalâmico-hipofisário, inibindo a
estrógeno e progesterona. Após a liberação de FSH e de LH (metaestro). Se
menstruação, o endométrio uterino está na não ocorrer gravidez, o corpo lúteo
sua fase mais delgada do ciclo. A baixa começa a degenerar, e a secreção reduzida,
concentração de estrógeno na corrente tanto de estrógeno quanto de progesterona,
sanguíneo é percebida por neurônios do resulta no colapso do espesso revestimento
hipotálamo que respondem secretando um uterino, que se desprende formando o
neuro-hormônio (hormônio de liberação fluxo menstrual humano. Esse processo é
do FSH) para dentro do sistema porta- facilitado pela liberação de vasodilatadores
hipotalâmico-hipofisário. O eixo como histamina e prostaglandinas, que
hipotalâmico-hipofisário é reativado. O promovem a hemorragia endométrica. O
neuro-hormônio liberador de FSH, quando metaestro é finalizado, passando ao
transportado à hipófise anterior, influencia diestro, quando o revestimento uterino
essa a secretar e liberar FSH no sangue. começa a colapsar. Se ocorre a
Com o prosseguimento da menstruação implantação, o ciclo sexual da fêmea é
(diestro), os níveis de FSH circulante interrompido e o metaestro é prolongado.
elevam-se e atingem seus alvos O corpo lúteo não degenera e continua a
Giovanna Andrade Fernandes
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produzir altas taxas de estrógeno e de Progesterona: sua produção pela placenta


progesterona. Caso ocorra a gravidez, o vai crescendo durante toda a gravidez, de modo
período correspondente ao metaestro é que, ao final da gravidez, a placenta produz dez
prolongado. Não ocorrendo gravidez, vezes mais progesterona do que o corpo lúteo na
segue-se o período equivalente ao diestro segunda metade do ciclo. Os altos níveis de
(menstruação). Em primatas, não há um progesterona na gravidez devem-se parcialmente
período correspondente ao anestro. O ao aumento de transcortina, um corticoesteroide
diestro é sucedido por novo pró-estro. que se liga à globina e à progesterona.
 Diapausa embrionária: é usado para que a
Estrógenos: os estrógenos presentes
mãe garanta que sua prole nasça em
durante a gravidez são o estriol, a estrona e o
épocas do ano nas quais a temperatura e a
estradiol (E2). Os dois primeiros são menos ativos
alimentação estejam favoráveis para
e são sintetizados e conjugados na adrenal e no
assegurar o desenvolvimento pós-natal de
fígado fetal como sulfato de
suas crias ou para impedir que novos
deidroepiandrosterona (DHEA). Na placenta
filhotes nasçam enquanto outros ainda
são posteriormente desconjugados em estriol e
estão sendo amamentados. Alguns
estrona. O estradiol é produzido pela mãe.
carnívoros acasalam durante o verão
(martas, jaratatacas e texugos) e, por Lactógeno placentário (HPL): a placenta
diapausa, que pode durar 10 meses, produz HPL, que é semelhante a prolactina
retardam o nascimento de seus filhotes até produzida pela hipófise materna. Tanto a
a primavera do ano seguinte. A diapausa prolactina como o HPL estimulam o crescimento e
pode resultar da supressão da produção de a diferenciação das glândulas mamárias.
progesterona pelo corpo lúteo após a
ovulação, de maneira que as secreções
uterinas necessárias para a implantação do
embrião sejam reprimidas. A diapausa é
também observada em alguns morcegos
como consequência de sua hibernação.
OVOGÊNESE EM MAMÍFEROS –
CONTROLE HORMONAL NA GRAVIDEZ
Na gravidez, existem quatro hormônios
OVOGÊNESE EM MAMÍFEROS –
envolvidos: gonadotrofina coriônica humana
(HCG), progesterona, estrógeno e lactógeno CONTROLE HORMONAL DO PARTO
placentário (HPL). O útero é um órgão formado
Gonadotrofina coriônica: é semelhante predominantemente por fibras musculares lisas
ao LH e liga-se aos receptores de LH no corpo desconectadas que permitem grande flexibilidade
lúteo, de maneira que este continua a produzir e distensão estrutural. Esse órgão é lacrado em sua
progesterona, hormônio que mantém o endométrio base por um anel que o veda firmemente, o colo
uterino e a gravidez. do útero. Tais características estruturais são
mantidas pela progesterona produzida
inicialmente pelo corpo lúteo e depois pela
placenta. A placenta também secreta estrógeno,
esteroide de efeito contrário ao da progesterona e
que promove a contratilidade.
Inicialmente, o nível estrogênico materno é
relativamente baixo, e o progestacional, alto, mas,
à medida que o parto se anuncia, ele aumenta. O
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trabalho de parto inicia quando o balanço entre


esses hormônios muda de maneira que o estrógeno
e outras forças favoreçam as contrações.
À medida que o nível estrogênico materno
se eleva, células musculares uterinas sintetizam
uma proteína chamada conexina. Moléculas de
conexina migram até a membrana plasmática e
formam junções que ligam eletricamente as
células musculares umas com as outras por meio
de junções comunicantes. Conectadas por essa
rede elétrica, as células musculares tornam-se
capazes de sofrer contrações coordenadas. Ao
mesmo tempo, o estrógeno capacita as células do
miométrio a exibir um grande número de receptor
para oxitocina (hormônio sintetizado pela hipófise
materna), que faz aumentar a força das contrações
uterinas. A oxitocina, no início do parto, também
intensifica a produção de prostaglandinas pelo
endométrio e pela própria musculatura
(miométrio). As prostaglandinas induzem o colo
do útero a produzir enzimas que digerem suas
fibras colágenas de maneira que ela fique Evidências sugerem que, em humanos, à
convertida em uma estrutura maleável que dilata medida que o parto se aproxima, o hipotálamo
progressivamente para permitir a passagem da fetal e sobretudo a placenta secretam um
cabeça da criança no trabalho de parto. O hormônio chamado liberador de corticotrofina
hormônio relaxina, que é formado pelo corpo (CRH) o qual induz a hipófise fetal a secretar o
lúteo e pelo endométrio, também contribui para o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), que é
relaxamento do colo do útero. A secreção de liberado para a circulação fetal. O CRH age na
oxitocina pela hipófise materna é estimulada por hipófise fetal humana fazendo com que esta
um reflexo neuronal, reflexo de Ferguson, isto é, também oriente a produção de cortisol pelas
a irritação do colo do útero é transmitida via trato glândulas adrenais fetais. O cortisol promove a
nervoso sensitivo ao hipotálamo, que comanda a maturação dos pulmões fetais e auxilia a
hipófise. manutenção da produção de CRH pela placenta.
Em humanos, o estrógeno é produzido depois que
o CRH da placenta e o ACTH da hipófise fetal
estimulam a adrenal fetal a secretar sulfato de
deidroepiandrosterona (DHEA-S), que é
convertido em estrógeno pela placenta.
A placenta de primatas perde a capacidade
de ativar enzimas que convertem progesterona em
estrógeno. Em vez disso, a placenta humana
produz o estrógeno necessário ao parto a partir do
DHEA-S.
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O CRH atua diretamente sobre o útero e o células foliculares a sintetizar estrógeno. Esse
colo do útero. Assim, ele aumenta as chances hormônio, pela circulação, atinge o fígado e o
induzidas pelo estrógeno ou pode, algumas vezes, estimula a produzir vitelogenina (precursora do
compensar uma produção inadequada de vitelo), que, por sua vez, através da circulação,
estrógeno. será transportada aos ovários, onde as
gonadotrofinas promovem a sua absorção pelos
OVOGÊNESE EM MAMÍFEROS – ovócitos por meio de um processo de endocitose
CONTROLE HORMONAL DA LACTAÇÃO mediado por receptores. A teca folicular é
Durante a gravidez, os altos níveis de intensamente capilarizada e, após a saída da
estrógeno e de progesterona induzem o aumento vitelogenina desses capilares, ela passa através de
das glândulas mamárias e inibem, por canais entre as células foliculares e alcança a
retroalimentação, a secreção de hormônios de superfície dos ovócitos, onde é incorporada por
liberação hipofisários. Com a eliminação da endocitose. A superfície dos ovócitos é recoberta
placenta após o parto e o consequente rápido por microvilosidades na base das quais são
declínio dos níveis de estrógeno e de progesterona observadas invaginações e fossas. Essas estruturas
circulantes, o hipotálamo é liberado de sua são recobertas por proteínas que formam uma
inibição e passa a secretar hormônios de liberação camada de diminutas projeções. A principal
hipofisários. O hormônio de liberação de proteína encontrada é a caltrina no lado convexo
prolactina, de modo análogo aos de liberação de citoplasmático e um glicocálice na superfície
FSH e de LH, é secretado para dentro do sistema côncava extracelular. No ovócito em
porta-hipofisário, fator que estimula a secreção de desenvolvimento, o glicocálice contém receptores
prolactina pela hipófise. A prolactina estimula a específicos para vitelogenina que promovem sua
produção do leite pelas glândulas mamárias, mas absorção. As invaginações e as fossas
sua liberação é estimulada mediante a sucção pelo desprendem-se da membrana plasmática e formam
recém-nascido, que ativa os receptores nervosos as coated vesicles, que carregam a vitelogenina
dos mamilos, e a informação é transmitida ao para o interior do ovócito. As vesículas tornam-se
hipotálamo e à hipófise. A hipófise aumenta a lisas interna e externamente e originam os
produção de oxitocina, hormônio envolvido no endossomos que se fundem com os corpos
trabalho de parto e que agora induz contrações das multivesiculares (MVBs = multivesicular
células mioepiteliais das glândulas mamárias, bodies). O vitelo se condensa e cristaliza dentro
provocando a ejeção do leite. dessas estruturas e forma as plaquetas primordiais
de vitelo (PYPS = primordial yolk platelets). A
OVOGÊNESE EM OUTROS GRUPOS fusão das plaquetas primordiais forma os grãos de
ANIMAIS – ANFÍBIOS vitelo.

A fonte exógena do vitelo interioriza-se


no ovócito através das “coated vesicles” que
formam os endossomos e finalmente os grãos
de vitelo.
A produção de vitelo tem sido muito bem
estudada em Xenopus laevis (anfíbio) e tem
servido de modelo para ilustrar esse processo em
vertebrados. O ciclo ovogênico em anfíbios é
sazonal. É típica a interação de hormônios que
existem nas espécies ovíparas, nas quais ocorrem
síntese e deposição de vitelo durante a ovogênese.
Sob estímulos sazonais, o hipotálamo estimula a
hipófise a produzir gonadotrofinas, as quais, pela
circulação, atingem os ovários e induzem as
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Quando a vitelogênese se completa, as Os ovaríolos meroísticos são divididos em dois


gonadotrofinas promovem a maturação meiótica e grupos: politróficos e telotróficos.
a ovulação. Esse último processo é mediado pela
progesterona, que é sintetizada pelas células
foliculares sob a influência das gonadotrofinas.

OVOGÊNESE EM OUTROS GRUPOS


ANIMAIS – INSETOS
Os ovários de insetos são constituídos
por ovaríolos. Cada ovaríolo está tipicamente
compartimentalizado em duas regiões
principais: o germinário e o vitelário. O
ovócito, além de estar envolvido pelas células  Ovaríolos politróficos: as nurse cells
foliculares, relaciona-se com as nurse cells ou estão intimamente conectadas ao ovócito, e
trofócitos. esse conjunto é rodeado pelas células
De uma maneira geral, os ovários dos foliculares.
insetos são formados por um número variável de  Ovaríolos telotróficos: nesse caso, as
ovaríolos. Cada ovaríolo é constituído por um nurse cells permanecem na parte superior
germinário, um vitelário e um pedúnculo do do ovaríolo, e os ovócitos descem pelo
ovaríolo. O germinário é a zona que contém vitelário. Conexões protoplasmáticas entre
ovogônias envolvidas por células foliculares. As os dois tipos de células são mantidas,
células foliculares unem-se ao ovócito por meio sendo assim garantida a transferência
de junções comunicantes que servem como canais nutricional dos trofócitos para os ovócitos.
para o transporte intercelular. Podem sequestrar
Uma forma interessante de regulação da
vitelo da hemolinfa e transportá-lo para o ovócito,
vitelogênese é encontrada na Drosophila, na qual
bem como, em algumas espécies, podem também
o hormônio gonadotrófico é o hormônio
sintetizar precursores de vitelo. Em alguns
juvenil, secretado pelo corpus allatum. A
ovaríolos, além das células foliculares estão
vitelogenina é lançada na hemolinfa e captada
presentes as nurse cells, os trofócitos, ou células
pelos ovócitos. O próprio ovário também é
nutrices, que envolvem os ovócitos e têm a
estimulado a produzir vitelogenina. Logo, na
mesma origem destes. O vitelário é a zona mais
Drosophila, são duas as fontes de vitelogenina. Os
extensa do ovário e é onde ocorre intensa
insetos são um grupo heterogêneo e nem todos
atividade vitelogênica. O pedúnculo do ovaríolo é
obedecem a esse esquema. As nurse cells são
a região pela qual os ovos maduros passam para o
também encontradas em certos invertebrados, tais
oviduto depois de terem rompido o botão epitelial
como alguns celenterados, anelídeos e moluscos.
que os separam. A estrutura dos ovaríolos difere
Os insetos são o grupo no qual elas têm sido mais
nos grupos de insetos conforme a maneira pela
bem estudadas. A maioria dos estudos sobre a
qual os ovócitos são nutridos. Dois tipos
ovogênese em grupo de insetos meroísticos (de
principais são considerados conforme a presença
ovaríolos politróficos) foi realizada em
ou a ausência de células nutrices especiais (nurse
Drosophila melanogaster. É evidente que essa
cells ou trofócitos). Quando não existem células
espécie não pode generalizar os insetos. Quando
nutrices especiais (existem apenas células
uma ovogônia de Drosophila sofre mitose, a
foliculares), o ovaríolo é dito panoístico (somente
citocinese é incompleta, resultando na
ovos). Quando os trofócitos estão presentes, os
continuidade das células através de pontes
ovaríolos são ditos meroísticos (parte de ovos).
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citoplasmáticas. Embora todas as células do clone tenham efeito regulador nas atividades dos órgãos
pareçam equivalentes, uma delas especializa-se e ou no desenvolvimento de caracteres sexuais
se diferencia em gameta. O conjunto do ovócito secundários.
com suas nurse cells associadas forma o
Durante a última fase da ovogênese,
compartimento do ovo, o qual é completamente
forma-se a membrana vitelínica. Sobre essa
rodeado por células foliculares. As nurse cells
membrana, as células foliculares depositam o
parecem providenciar o desenvolvimento do
córion (que é o resultado de uma secreção
ovócito com o transporte de macromoléculas e até
cuticular). A micrópila é um sistema de
de ribossomos através das pontes intercelulares.
canalículos situado no polo anterior do ovo e serve
Um ovaríolo muito estudado é o de como local de entrada de espermatozoides, em
Rhodnius (percevejo). Como ocorre também em parte também tendo função respiratória. Nesse
qualquer ovaríolo politrófico, as células nutrices nível, o córion é secretado em torno de longos
(trofócitos) dos ovaríolos telotróficos são prolongamentos citoplasmáticos das células
altamente ativas na síntese de RNA e de proteínas, foliculares, os quais, quando retraídos, mantêm
e os ovócitos apresentam mínima capacidade seus canalículos. Em alguns insetos, ocorrem
sintetizadora. A disposição espacial entre os várias aberturas na área da micrópila.
trofócitos e os ovócitos determina uma via de
Quando o ovo passa pela boca da
transporte polarizada dos trofócitos em direção
espermateca, pequenas massas de
aos ovócitos. As macromoléculas sintetizadas
espermatozoides são descarregados sobre a
pelos trofócitos migram por cordões tróficos para
superfície da micrópila. O ovo, portanto, é
o interior dos ovócitos. Os cordões tróficos de
inseminado logo que deixa o oviduto. Geralmente,
Rhodnius e de outros hemípteros estão abarrotados
ele é depositado em seguida, mas, em alguns
de microtúbulos. O transporte essencial tanto em
insetos, o tempo de permanência no
Rhodnius quanto em outros hemípteros parece
compartimento genital feminino pode ser maior. O
estar associado com uma malha de
ovo sofre sua divisão de maturação e, logo após, o
microfilamentos que poderia providenciar a força
núcleo masculino une-se ao feminino e o ovo
para propelir as macromoléculas através dos
fertilizado pode iniciar seu desenvolvimento
cordões. Depois de encerrado o fluxo de
quando as condições externas são favoráveis.
macromoléculas dos trofócitos para os ovócitos
através dos cordões tróficos, estes se fecham e os
microtúbulos no seu interior tornam-se altamente
compactados em um arranjo cristalino. Os cordões A ORGANIZAÇÃO DO OVO
podem se retrair e ser absorvidos.
Na sua constituição, o ovo apresenta as
O ovo, tanto dos ovaríolos politróficos quanto organelas características de qualquer célula
dos telotróficos, deixa o vitelário após romper o somática, no entanto, como tem papel
tampão de células epiteliais que o separam do fundamental na manutenção, pelo menos das
pedúnculo ovariano. As células foliculares primeiras fases do desenvolvimento embrionário,
permanecem no ovaríolo e degeneram ou, em adquire uma série de especializações que não são
alguns casos, formam um corpo lúteo que, no encontradas nas células somáticas. Um dos
entanto, não apresenta desenvolvimento posterior aspectos mais característicos da morfologia do
ou atividade secretória. Os trofócitos também são ovo é a configuração espacial de suas organelas e
exauridos e degeneram. inclusões citoplasmáticas. O citoplasma do ovo
também é chamado de ooplasma.
É interessante notar que, enquanto em
vertebrados muitas atividades do organismo estão Os ovos apresentam um polo animal e
relacionadas às funções reprodutivas por meio da outro vegetal. O núcleo localiza-se no polo
secreção de hormônios pelas gônodas, em insetos animal, e, quando ocorre a divisão meiótica, os
não há evidências de que os órgãos reprodutores corpúsculos polares são formados nesse polo. O
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polo vegetal corresponde àquele relacionado com presença de protomelanina. Esses grãos são
a maior concentração de vitelo e seu desempenho chamados de melanossomos. A distribuição do
na nutrição embrionária. Um aspecto crítico do pigmento nos ovos de anfíbios não é uniforme. O
arranjo espacial do ovo é sua polaridade. Os hemisfério vegetal é branco porque perde os
constituintes do ovo são distribuídos de forma grânulos de pigmento, e o polo animal é altamente
desigual ao longo do eixo maior do ovo. Esse eixo pigmentado. Entre a zona escura e a clara, há uma
é uma linha imaginária que conecta os dois polos: outra de concentração pigmentar intermediária, a
animal e vegetal. Certas organelas e inclusões zona marginal. O córtex persiste após a
citoplasmáticas estão localizadas no polo animal. fecundação e desempenha importante papel no
desenvolvimento, pois ali existem
Nos peixes ósseos, nos répteis e nas aves,
microfilamentos corticais que providenciam as
o citoplasma ativo contendo o núcleo fica
forças para constrição celular durante a clivagem,
rechaçado para o polo animal, o restante fica
bem como alteram a forma das células durante a
repleto de vitelo no polo vegetal.
gastrulação.
Marcas visíveis, como grãos de pigmento
NÚCLEO DO OVO
nos ovos de anfíbios, ilustram diretamente a
polaridade. A ausência de tais marcas não pode O núcleo do ovo formará a vesícula
ser interpretada como perda de polaridade pelo germinativa.
ovo. O estabelecimento de especializações
regionais do embrião é determinado pela O núcleo do ovócito torna-se altamente
distribuição desigual dos constituintes do modificado durante a ovogênese. Nas fases
citoplasma do ovo. Consequentemente, o iniciais da ovogênese, ele ocupa uma posição mais
mecanismo que estabelece e mantém a ou menos central no ovócito. À medida que a
organização espacial do ooplasma fornece as célula aumenta de diâmetro, o núcleo toma uma
bases para o desenvolvimento embrionário posição nitidamente excêntrica e passa a situar-se
ordenado. muito perto da membrana plasmática no polo
animal. O núcleo também aumenta muito o seu
CÓRTEX DO OVO tamanho e recebe o nome de vesícula
germinativa. Essa designação deve-se ao fato de
A presença de grânulos corticais e,
que o núcleo de um ovócito, em estágio avançado,
muitas vezes de pigmento são características do
é preenchido por um líquido. Os cromossomos
córtex do ovo.
ainda em prófase I da meiose ficam bastante finos
O citoplasma do ovo apresenta duas zonas: e compridos, dificultando a observação, mesmo
a zona cortical, situada logo abaixo da membrana com técnicas próprias para corá-los, como
plasmática, e o endoplasma, o restante do Feulgen ou o verde de metila.
citoplasma do ovo. Enquanto o córtex apresenta
Em certos animais, como os anfíbios, os
alta viscosidade, um gel semirrígido, o
cromossomos adquirem características especiais, é
endoplasma é de consistência mais fluida.
o caso dos cromossomos com aspecto de “escovas
É comum a presença de duas inclusões de lavar tubos de ensaio”, conhecidos como
típicas na zona cortical: os grânulos corticais, lampbrush ou Muller feaders ou cromossomos
situados logo abaixo da membrana plasmática, são plumosos.
vesículas rodeadas por uma unidade de
O aparecimento dos cromossomos
membrana, contendo mucopolissacarídeos ácidos,
plumosos coincide com outra fase na qual aparece
enzimas e proteínas. Desempenham importante
um número significativo de nucléolos perto da
função na fecundação por estabelecer eficiente
membrana nuclear. Tem-se notado a transferência
bloqueio à poliespermia.
do RNA desses nucléolos para o citoplasma. O
Nos anfíbios, os grãos de pigmento acúmulo de RNA do ovócito é necessário, pois se
apresentam coloração marrom-escura devido à
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sabe que o embrião não apresentará síntese dessa conforme os grupos considerados: nos
substância até o início da gástrula. insetos, moluscos, anfíbios e aves são
conhecidas como membranas vitelinas,
Após a prófase meiótica, os cromossomos
nos tunicados e peixes são conhecidas por
plumosos voltam ao seu estado normal.
córion. Nos mamíferos, o equivalente é
O nucléolo mostra-se muito ativo e denominado zona pelúcida. A camada
altamente envolvido no metabolismo de gelatinosa do ovo do ouriço-do-mar
crescimento do ovócito. Sua atividade na síntese também é uma membrana primária.
de RNA ribossômico é intensa e, por isso, seu Embora as membranas primárias sejam
tamanho encontra-se bastante aumentado. Em vez produzidas durante a ovogênese, elas
de um nucléolo grande, nos anfíbios podem-se podem sofrer modificações após a
encontrar múltiplos nucléolos pequenos. Nos ovos ovulação. A membrana vitelina do ovo de
com pouco vitelo, como no ouriço-do-mar, nota-se Xenopus sofre modificações moleculares
apenas um nucléolo grande durante o crescimento enquanto o ovo passa pelo oviduto, sendo
do ovócito. Em certos insetos, além de um estas essenciais para que o ovo se torne
nucléolo grande, aparecem várias dezenas de propício à fecundação. Nos insetos, uma
pequenos nucléolos. Nos carrapatos, dois segunda membrana espessa é secretada
nucléolos são frequentemente encontrados. É pelas células foliculares na superfície da
comum encontrar-se vários nucléolos iniciais membrana vitelina (o córion), estrutura
também nos vertebrados (mas não em mamíferos, complexa e típica para cada espécie. O
que apresentam um só). Já foi observada a córion é uma secreção cuticular mais
migração de substâncias nucleolares e mesmo próxima da queratina do que da quitina.
nucléolos inteiros para o citoplasma. Essa estrutura é perfurada por uma
micrópila no polo anterior do ovo. Nesse
Os nucléolos desaparecem quando ocorre caso, não confundir com a membrana
ruptura da vesícula germinativa. primária dos tunicados e peixes, também
MEMBRANAS ENVOLTÓRIAS DO OVO chamada de córion. A membrana vitelina é
o resultado de um endurecimento da
O ovo apresenta membranas primárias, periferia do citoplasma ovular. Nos
que se desenvolvem ainda no ovário, e mamíferos, não se forma uma membrana
membranas que se desenvolvem durante sua vitelina, mas ocorre uma outra membrana:
passagem pelo oviduto, denominadas a membrana pelúcida, originada quase que
secundárias. exclusivamente de células foliculares. Essa
O ovo, como qualquer outra célula, é membrana pelúcida é interdigitada por
envolvido por sua membrana plasmática, que se projeções citoplasmáticas das células
chama oolema. No entanto, na maioria dos ovos, foliculares e do próprio ovócito. A parte
com exceção daqueles das esponjas e alguns dessa membrana oriunda das células
celenterados, outras membranas envoltórias são foliculares é constituída por
produzidas. mucopolissacarídeos ácidos, e a parte
interna gerada pelo próprio ovócito é
 Membranas primárias: são aquelas que basicamente constituída por
se desenvolvem ainda no ovário, entre os mucopolissacarídeos neutros.
ovócitos e as células foliculares, no  Membranas secundárias: são secretadas
espaço ocupado pelas interdigitações e pelos ovidutos ou por outras estruturas
pelas microvilosidades. Inicialmente, são acessórias do aparelho genital enquanto o
positivas para mucopolissacarídeos, depois ovo passa pelo oviduto em busca do
são fortificadas pela adição de proteínas exterior. Nos anfíbios, a camada gelatinosa
fibrosas. As membranas primárias têm que envolve os ovos é produzida pelos
recebido diferentes denominações ovidutos.
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Nas aves, distinguem-se cinco membranas:


uma primária, a membrana vitelina, e quatro
secundárias: a clara do ovo, as da casca (interna e
externa), ricas em queratina, e a casca, composta
principalmente de carbonato de cálcio (CaCO3).

PROFESSOR HUGO – AULA 03

Fecundação
INTRODUÇÃO pH em 7,2 no espermatozoide enquanto ele está
no testículo é a alta tensão do CO 2. Nesse pH, não
A fecundação pode ser definida como o há respiração nem motilidade do espermatozoide.
encontro e a fusão de duas células gaméticas Quando os espermatozoides são lançados na água
formando um indivíduo diferente daquele que o do mar, cujo pH situa-se em torno de 8,0, há uma
originou. O zigoto formado é único, porque, como relativa baixa na tensão do CO 2 e eles tornam-se
metade de seus cromossomos vem do pai e metade ativos, aumentano a respiração e o batimento
da mãe, ele é o resultado de uma nova combinação flagelar. Na água do mar, há abundância de Na +,
gênica diferente da de seus pais. Esse processo que, penetrando na célula, faz o H+ sair, elevando,
resulta na variabilidade da espécie. desse modo, o pH. A consequência dessa elevação
Durante o processo meiótico, a troca de do pH é a ativação da ATPase presente nos braços
segmentos cromossômicos, no crossing-over, e a de dineína da subfibra A do axonema do flagelo.
migração de cromossomos na anáfase I, resulta em A atividade da ATPase é muito sensível ao pH.
um embaralhamento do material genético, Em um pH 6,2, ela torna-se inativa, não havendo
tornando-se quase matematicamente impossível a produção de ATP. Com o aumento de pH, há uma
cópia de um indivíduo idêntico a outro. Somente abrupta atividade da ATPase e um subsequente
os gêmeos monozigóticos, isto é, provenientes da aumento acentuado da motilidade do
mesma fecundação, terão o mesmo genoma. espermatozoide.
Ainda assim, cada um continua sendo único, visto
que a expressão é epigenética. Entre os grandes
desafios para o acontecimento da fecundação,
destacam-se: o encontro dos gametas entre si, o
seu reconhecimento, que apenas um dos inúmeros
espermatozoides ganhe o interior do ovócito ou do
óvulo e a ativação do metabolismo adormecido do
ovo.
ATIVAÇÃO E ENCONTRO DOS
GAMETAS
Os espermatozoides são moldados para ir
ao encontro do ovo, mas, enquanto estão nos
testículos, falta-lhes a motilidade. Esta lhes advém
quando já estão a caminho do encontro do gameta
feminino. Tratando-se do ouriço-do-mar, talvez o
animal mais estudado no que tange à questão da
fecundação, o engatilhamento do movimento do
espermatozoide dá-se devido à elevação do pH Em relação à motilidade do
interno da célula, de 7,2 para 8,0. O que mantém o espermatozoide em mamíferos, pensa-se que ele
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seja transportado até a tuba, fundamentalmente


por contrações musculares uterinas. Na tuba,
existe um gradiente térmico que atrai o
espermatozoide até a ampola. Existe uma
diferença de 2ºC entre o istmo e a ampola, sendo o
microambiente da ampola mais quente do que o
do istmo. Existe também um gradiente químico,
e as células do cumulus ou da corona radiata
desprenderiam substâncias quimotácteis. Por isso,
o espermatozoide, quanto mais se aproxima dessas
substâncias, mais ativo se torna.
As células que podem fusionar-se vivem
um momento drástico: ou se encontram e, assim,
perpetuam a espécie, ou esse encontro não ocorre,
e, desse modo, ambas as células, altamente
diferenciadas, morrerão de forma inexorável em
um tempo bastante limitado. O segundo evento é a formação do
Se o encontro fosse simplesmente ao processo acrossômico. Com a entrada de Ca2+,
acaso, não se veria, à primeira vista, grande cria-se um gradiente osmótico que atrai água para
problema em indivíduos de fecundação interna, já o interior do espermatozoide, e, ao mesmo tempo,
que não há muito espaço para divagação. Mesmo a α-actina, subjacente à membrana acrossômica,
assim, sabe-se que, no caso humano, o líquido polimeriza-se em F-actina, criando, desse modo,
folicular, proveniente dos folículos de Graaf, uma invaginação na membrana posterior do
possui uma substância que atrai os acrossomo em forma de dedo-de-luva que se
espermatozoides por quimiotactismo. O projeta em direção à camada vitelina, recebendo o
problema do encontro dos gametas torna-se muito nome de processo acrossômico. A polimerização
mais complexo em indivíduos de fecundação da α-actina é propiciada também por uma
externa, nos quais a chance de encontro por acaso elevação do pH no interior do espermatozoide
diminui significativamente. causada pela saída de íons de hidrogênio.

REAÇÃO ACROSSÔMICA RECONHECIMENTO ESPÉCIE-


ESPECÍFICA
Quando o espermatozoide toca na camada
gelatinosa do ovo no ouriço-do-mar, ocorrem dois É evidente que cromátides provenientes de
eventos importantes. O primeiro é a ruptura da espécies diferentes não se emparelham
membrana acrossômica, na sua parte anterior, e adequadamente e, assim, os indivíduos fracassam
da membrana plasmática do espermatozoide, no seu desenvolvimento. Dessa forma, é
fusionando-se ambas entre si e liberando, assim, o necessário o reconhecimento entre gametas da
conteúdo acrossômico na camada gelatinosa do mesma espécie. No ouriço-do-mar, a proteína
ovo, o que constitui a reação acrossômica. O responsável pelo reconhecimento é a bindin, que
responsável por esse evento parece ser um se situa no lado interno da membrana da vesícula
mucopolissacarídeo sulfatado que faz parte da acrossômica, que, ao invaginar-se, irá posicionar-
camada gelatinosa. Quando o espermatozoide toca se no lado externo dessa. A bindin foi isolada a
nesse mucopolissacarídeo, ocorre uma partir do ouriço-do-mar Strongylocentrotus
despolarização da sua membrana plasmática, e purpuratus. Essa proteína tem receptores na
consequentemente íons Ca2+ ganham o seu camada vitelina do ovo. Esses receptores foram
interior. isolados, e verificou-se serem complexos
glicoproteicos que se ligam seletivamente à
bindin.
Giovanna Andrade Fernandes
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Os mamíferos não possuem membrana efeito, isto é, qual a relação da entrada de Na + com
vitelina, mas, sim, zona pelúcida (ZP), cuja matriz o bloqueio da poliespermia, foi sugerido, então,
fibrilar é formada de glicoproteína sintetizada e que o espermatozoide conteria uma proteína
secretada pelo ovócito em crescimento. Sua fusogênica capaz de abrir os canais de Na+ e que
função, entre outras, é ligar-se ao espermatozoide, essa proteína seria regulada pela mudança elétrica
iniciando, desse modo, a reação acrossômica. O que ocorre na membrana do ovo.
fato de nos mamíferos a fecundação ser interna
diminui o problema da especificidade.
BLOQUEIO VAGAROSO E
DEFINITIVO: REAÇÃO CORTICAL
Uma proteína existente no acrossomo do
hamster denominada PH20 pode vir a dar as bases A despolarização da membrana do ovo
para um controle imune da fertilidade. Essa estende-se por aproximadamente um minuto, após
proteína foi isolada e injetada tanto em machos o qual a membrana se repolariza, e, em tais
quanto em fêmeas de hamster, e todos os condições, outros espermatozoides, presos à
indivíduos assim tratados tornaram-se estéreis por membrana vitelina, poderiam ganhar o seu
vários meses. Verificou-se também que o soro interior. Para evitar isso, necessita-se de outro
desses indivíduos tinha uma alta concentração de mecanismo seguro e contínuo, sendo esse a reação
anticorpos contra a proteína PH20. cortical, que consiste na fusão e posterior
exocitose do conteúdo dos grânulos corticais
BLOQUEIO DA POLIESPERMIA entre a membrana plasmática e a vitelina.
Não é difícil de se imaginar os monstros
que seriam criados como resultado de um ovo que
tivesse sido fecundado por vários
espermatozoides. Para assegurar a continuidade da
espécie, a evolução criou um mecanismo capaz de
bloquear a poliespermia.
BLOQUEIO RÁPIDO E PASSAGEIRO
O bloqueio rápido e passageiro ocorre por
uma despolarização da membrana plasmática do
ovo. Para que o espermatozoide penetre no ovo,
este deve ter a sua membrana polarizada. Como o
meio do ovo é a água salada, onde existe uma
grande concentração de íons Na+, em comparação
com o meio interno, sua membrana está
polarizada. O caso inverso ocorre com o íon K +.
Inserindo-se um microelétrodo no citoplasma do
ovo e outro no meio externo, verifica-se um
potencial de membrana em repouso de O conteúdo desses grânulos corticais é
aproximadamente -70 mV, sendo o lado interno glicoproteico. Entre as proteínas existem as
mais negativo. proteases, que dissolvem a membrana vitelina no
ponto onde ela se prende às proteínas da
Quando o primeiro espermatozoide toca a
membrana plasmática, desprendendo os
membrana plasmática do ovo, ela despolariza, e o
espermatozoides a ela aderidos. Outras proteínas,
Na+ passa para o seu interior, ocorrendo também a
assim como mucopolissacarídeos criam um
saída de K+. Isso faz com que o potencial de
gradiente osmótico entre a membrana plasmática e
membrana suba para +20 mV, ficando agora o seu
a vitelina, atraindo água e criando, assim, um
lado interno mais positivo. Até o presente
espaço entre a membrana vitelina e a plasmática.
momento, ignora-se qual a relação de causa e
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A membrana vitelina passa então a ser elevação do pH é devida à ação de uma bomba de
denominada membrana de fertilização. troca de Na+/H+, isto é, na despolarização da
membrana, entra Na+ e, assim, o H+ sai,
A enzima responsável pela transformação
aumentando, desse modo, o pH interno. Essa
da membrana vitelina em membrana de
bomba de troca seria ativada pela proteína cinase
fertilização é uma peroxidase, que integra os
C, que, por sua vez, é ativada pelo diacilglicerol,
grânulos corticais e cuja função parece ser a de
subproduto da hidrólise do PIPa. Se ovos de
estabelecer ligações cruzadas entre os resíduos de
ouriço-do-mar recém-fecundados são colocados
tirosina com as proteínas adjacentes, tornando a
em uma solução que contém uma concentração
membrana de fertilização mais rígida. Um último
baixa de íons Na+ e a droga amiloride, a qual
componente dos grânulos corticais é a proteína
inibe a troca de Na+ por H+, não ocorre síntese
que mantém os blastômeros juntos nos primeiros
proteica, nem movimento dos pró-núcleos e
estágios de desenvolvimento.
tampouco divisão celular.
Entre o conteúdo da vesícula acrossômica
há uma variedade de proteases que perfuram a
zona, permitindo que o espermatozoide adentre no
ovo.
FUSÃO DA MEMBRANA PLASMÁTICA
DOS GAMETAS
Experimentos com nocauteamento gênico
sugerem que a fusão dos gametas depende da
interação entre uma proteína do espermatozoide e
uma outra proteína do ovo associada à integrina FUSÃO DOS PRÓ-NÚCLEOS
CD9. Fêmeas de camundongos portadores de
nocautes gênicos para CD9 são estéreis porque Depois que o espermatozoide entra, sofre
seus ovócitos não conseguem fusionar-se com os um giro de 180°, o que lhe permite, agora, colocar
espermatozoides. Por sua vez, a esterilidade pode o centríolo virado para o pró-núcleo feminino.
ser revertida se for injetado no ovócito RNAm Esse centríolo organiza os microtúbulos que
para a proteína CD9. No lado do espermatozoide, aproximam os pró-núcleos.
o responsável pela fusão parece ser uma proteína O que o zigoto tem proveniente do
semelhante a uma imunoglobulina denominada espermatozoide é o centrossomo e, logicamente,
Izumo. Espermatozoides de camundongo o pró-núcleo masculino. As outras estruturas do
portadores de mutações de perda-de-função que espermatozoide que entram no ovo se desintegram
podem atravessar a zona não podem, porém, totalmente. Estima-se que no camundongo
fundir-se com a membrana plasmática do ovócito. somente uma mitocôndria em 10 mil presentes no
ATIVAÇÃO DO METABOLISMO zigoto tem origem paterna.
ADORMECIDO DO OVO A orientação do espermatozoide ao entrar
no ovo difere entre os animais. Durante a reação
Antes da fecundação, o metabolismo do
acrossômica, a porção externa da membrana
ovo está adormecido: não existe nem síntese de
acrossômica do hamster vesicula-se e desaparece,
DNA, nem síntese proteica, nem de RNA. Por
ao passo que a membrana interna reverte sua
outro lado, o consumo de O2 é mínimo. Logo após
orientação fundindo-se com a membrana
a fecundação, dá-se o despertar desse
plasmática do espermatozoide. O conteúdo
metabolismo. A célula começa a duplicar o seu
enzimático da bolsa acrossômica derrama-se, ao
DNA com o início das clivagens. Aumenta o
romper a membrana externa, entre as células da
consumo de O2, assim como a síntese proteica. A
corona radiata, quebrando, assim, os vínculos
transcrição, porém, vai ocorrer mais tarde. A
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entre elas e permitindo, desse modo, o acesso à


zona pelúcida do ovo.
A entrada do espermatozoide no óvulo ou
no óvocito representa tão somente o início da
fecundação. O seu térmico é a formação do
sincarion ou união dos pró-núcleos (cariogamia).
No ouriço-do-mar, a união dos pró-núcleos
acontece em torno de 20 minutos após o
espermatozoide ter entrado no óvulo. O núcleo do
espermatozoide, após entrar no óvulo, sofre uma
série de modificações, como a quebra do seu
envoltório nuclear, a desespiralização da sua
cromatina, na qual está implicada a histona H1
que é substituída por uma nova histona H1,
proveniente agora do citoplasma do óvulo, e a
formação de um novo envoltório nuclear. O
óvulo emite uma protuberância ao ser tocado pelo
espermatozoide (o cone de implantação) e, desse
CONTROLE DA DIVISÃO CELULAR
cone, o pró-núcleo masculino começa o seu
deslocamento para o encontro com o pró-núcleo A divisão celular está sob o controle do
feminino. O movimento do pró-núcleo é mediado MPF, complexo formado pela proteína cinase
pelas fibras do áster que irradiam da dupla de Cdc2 e pela ciclina, que regula sua atividade
centríolos aportados pelo espermatozoide. As catalítica. A passagem de G2 para M é induzida
fibras estendem-se desde as proximidades do pró- por uma desfosforilação do complexo MPF. Com
núcleo masculino até o córtex do ovo, alongando- a mitose, a ciclina é degradada, sendo que sua
se na direção do pró-núcleo feminino, que, por sua síntese é retomada ao reiniciar-se o G1.
vez, vai deslocando-se na direção do masculino
sob a ação das fibras, terminando na fusão dos ESTACIONAMENTO E RETOMADA DA
dois pró-núcleos, ou sincarion. Ao contrário do MEIOSE
ouriço-do-mar, o áster nos mamíferos é de origem
Nos mamíferos e nos anfíbios, o ovo
materna, e a singamia não ocorre pela fusão dos
estaciona na metáfase II. Com a chegada do
pró-núcleos. Quando o espermatozoide entra no
espermatozoide, conclui-se a divisão meiótica. Em
ovócito, este finaliza a meiose. Após o término da
certos animais, a meiose permanece em diplóteno
meiose, dá-se, tanto no pró-núcleo masculino
por um longo período. As cromátides, nesse
como no feminino, um período S e ambos os pró-
estágio de permanência, descondensam-se e
núcleos progridem individualmente na divisão
tornam-se transcricionalmente ativas, havendo
mitótica. Ocorre a quebra dos envoltórios
uma considerável síntese de RNAs necessários ao
nucleares, e os cromossomos maternos e paternos
desenvolvimento inicial do embrião, uma vez que
misturam-se e só agora uma placa equatorial
até o início da gastrulação não ocorre síntese de
comum é formada.
RNA, mas sim de proteínas.
O MPF não é a progesterona, já que esse
hormônio, caso fosse introduzido mecanicamente
no interior do citoplasma do ovo, não causaria por
si só a retomada da meiose. Logo, fica claro que a
progesterona, para atuar na retomada da meiose,
deve passar pela membrana plasmática para poder
ativar um fator citoplasmático. O MPF foi
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encontrado mais tarde também nas células fosforilado no aminoácido 161, que é uma
somáticas, onde tem a função de induzir a treonina, e isso torna ativa a proteína cinase Cdc2.
transcrição de G2 para mitose. Um outro degrau na Logo após, dão-se as fosforilações da Cdc2 nos
elucidação da regulação do ciclo celular veio por aminoácidos 14, que é uma treonina, e no 15, que
meio dos experimentos com as leveduras é uma tirosina, inibindo-se a atividade da proteína
Saccharomyces cerevisiae, onde se descobriram Cdc2 e formando agora complexos inativos B
mutantes sensíveis à temperatura que eram Cdc2, que se acumulam durante o S e o G2. A
deficientes no ciclo celular e, assim, não o passagem de G2 para M é feita pela ativação dos
completavam. Tais mutantes foram denominados complexos Cdc2-ciclina B mediante a
cdc (cell Division cycle) e sua característica era desfosforilação da treonina-14 e tirosina-15 por
estacionar no crescimento em pontos específicos uma fosfatase denominada Cdc25, ativando o MPF
do ciclo celular. Um mutante característico é o e passando a célula para M.
cdc28, que não sintetiza uma proteína necessária
para avançar do G1 para o S, como acontece no
Saccharomyces cerevisiae normal Cdc28. Outro
mutante que foi isolado é o cdc2, que não permite
à célula avançar além do G1 ou do G2 para M.
Mais tarde, mostrou-se que o cdc28 e o cdc2 são
genes homólogos exigidos para que a célula possa
avançar no G1, e do G2, para M. A proteína
codificada por tais genes é chamada de Cdc2. O
gene cdc2 codifica uma proteína cinase. Mais um
passo na descoberta do controle do ciclo celular
foi dado com trabalhos realizados com ouriço-do-
mar. Durante a clivagem desses equinodermos,
ocorre o acúmulo e a degradação de duas
proteínas. Na interfase, são acumuladas e logo
degradadas ao final de cada mitose. Essas Uma vez que a Cdc2 proteína cinase é
proteínas foram denominadas de ciclinas (ciclina fosforilada, ela, por sua vez, fosforiliza uma série
A e ciclina B). Hipotetizou-se que pudessem estar de proteínas-alvo que iniciam os eventos
relacionadas com a entrada e a saída da fase M, o mitóticos. Então, começa a degradação da ciclina
que veio a confirmar-se mais tarde, já que se B mediante uma proteólise mediada pela
injetando ciclina A em ovócitos de rã era o ubiquitina, que também desativa a Cdc2,
suficiente para fazê-los passar de G2 para M. finalizando, assim, a mitose e a citocinese, e a
célula retorna à interfase.
O complexo MPF foi purificado mais tarde
a partir de ovos de rã e verificou-se que constava
de duas subunidades: Cdc2 e ciclina B. A ciclina B
é uma proteína reguladora exigida para a atividade
catalítica da proteína cinase Cdc2.
Estudos ulteriores têm confirmado a ação
da ciclina B, assim como tem sido demonstrada a
regulação do MPF por meio da fosforilação e da
desfosforilação da proteína Cdc2.
Nos mamíferos, a síntese de ciclina B
começa no período S e forma complexos com
Cdc2 durante os períodos S e G2. Após a formação
desses complexos Ciclina-Cdc2, o Cdc2 é
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Primeira Semana do Desenvolvimento


CLIVAGEM células. Essas células, que se tornam menores a
cada divisão de clivagem, são conhecidas como
Uma vez que o zigoto tenha alcançado o blastômeros. Até o estágio de oito células, elas
estágio de duas células, ele passa por uma série de formam um grupo sem associações entre si.
divisões mitóticas, aumentando o número de Entretanto, após a terceira clivagem, os
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blastômeros maximizam seus contatos uns com os selectinas são proteínas que se ligam a
outros, formando uma bola compacta de células carboidratos, envolvidas nas interações entre
mantidas unidas por junções de oclusão. Esse leucócitos e células endoteliais, e que viabilizam a
processo, a compactação, segrega as células “captura” dos leucócitos do sangue circulante. Um
internas, que se comunicam intensamente por mecanismo semelhante é proposto, então, para a
junções comunicantes, das células externas. “captura” do blastocisto da cavidade uterina pelo
Aproximadamente três dias após a fertilização, as epitélio uterino. Após a captura pelas selectinas, a
células do embrião compactado se dividem ligação adicional e a invasão pelo trofoblasto
novamente, formando uma mórula de 16 células envolvem as integrias expressas pelo trofoblasto e
(que lembra uma amora). As células internas da as moléculas de matriz extracelular laminina e
mórula constituem a massa celular interna, e as fibronectina. Os receptores de integrina para a
células circunjacentes compõem a massa celular laminina promovem a ligação, enquanto os para a
externa. A massa celular interna origina os fibronectina estimulam a migração. Essas
tecidos do embrião em si e a massa celular moléculas também interagem com vias de
externa forma o trofoblasto, que mais tarde transdução de sinal para regular a diferenciação do
contribui para a formação da placenta. trofoblasto, de modo que a implantação é o
resultado da ação mútua entre o trofoblasto e o
endométrio. Assim, até o final da primeira semana
do desenvolvimento, o zigoto humano já passou
pelos estágios de mórula e de blastocisto, e teve
início a implantação na mucosa uterina.

FORMAÇÃO DO BLASTOCISTO
Por volta do período em que a mórula
entra na cavidade uterina, um fluido começa a
penetrar os espaços intercelulares da massa celular
interna através da zona pelúcida. Gradualmente, O ÚTERO NO MOMENTO DA
esses espaços intercelulares se tornam confluentes
e, finalmente, é formada uma única cavidade, a
IMPLANTAÇÃO
blastocele. Nesse período, o embrião é A parede uterina consiste em três camadas:
denominado blastocisto. As células da massa
celular interna, chamada agora de embrioblasto, 1. Endométrio ou mucosa que reveste a
estão em um polo, e as da massa celular externa, parede interna.
ou trofoblasto, achatam-se e formam a parede 2. Miométrio, camada espessa de músculo
epitelial do blastocisto. A zona pelúcida liso.
desaparece, possibilitando que a implantação 3. Perimétrio, o peritônio que reveste a
comece. Nos seres humanos, as células parede externa.
trofoblásticas sobre o polo do embrioblasto
começam a penetrar entre as células epiteliais da
mucosa uterina por volta do sexto dia. As
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e o tecido fica espessado. Como resultado, podem


ser reconhecidas no endométrio três camadas
distintas: uma camada compacta superficial, uma
camada esponjosa intermediária e uma camada
basal fina. Normalmente, o blastocisto humano se
implanta no endométrio ao longo da parede
anterior ou posterior do corpo uterino, onde ele
fica encaixado entre as aberturas das glândulas.
Quando começa a fase menstrual, o
Da puberdade (11 a 13 anos de idade) até a
sangue escapa das artérias superficiais, e o
menopausa (45 a 50 anos de idade), o endométrio
estroma e as glândulas uterinas se fragmentam.
sofre variações em um ciclo de aproximadamente
Durante os três ou quatro dias seguintes, as
28 dias sob o controle hormonal dos ovários.
camadas compacta e esponjosa são expelidas do
Durante o ciclo menstrual, o endométrio uterino
útero e a camada basal é a única parte do
passa por três estágios:
endométrio que fica retida. Essa camada, que tem
1. Fase folicular ou proliferativa. suas próprias artérias, as artérias basais, funciona
2. Fase secretória ou progestacional. como uma camada regenerativa para a
3. Fase menstrual. reconstrução das glândulas e das artérias na fase
proliferativa.

A fase proliferativa começa no final da


fase menstrual, está sob a influência do estrogênio
e acompanha o crescimento dos folículos
ovarianos. A fase secretória começa
aproximadamente dois ou três dias após a
oocitação, em resposta à progesterona produzida
pelo corpo lúteo. Se a fertilização não ocorrer, o
sangramento do endométrio (camadas esponjosa e
compacta) marca o início da fase menstrual. Se a
fertilização ocorrer, o endométrio ajuda na
implantação e contribui para a formação da
placenta. Mais tarde, na gestação, a placenta
assume o papel de produção hormonal, e o corpo
lúteo degenera.
Durante a implantação, a mucosa uterina
está na fase secretória, período no qual as
glândulas e artérias uterinas se tornam espiraladas

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Segunda Semana do Desenvolvimento – Disco


Germinativo Bilaminar
OITAVO DIA adjacentes ao citotrofoblasto são chamadas de
amnioblastos, junto com o resto do epiblasto, eles
No oitavo dia do desenvolvimento, o se alinham na cavidade amniótica. O estroma
blastocisto está parcialmente encaixado no endometrial adjacente ao sítio de implantação é
estroma endometrial. Na área sobre o edematoso e bastante vascularizado. As glândulas
embrioblasto, o trofoblasto se diferenciou em duas grandes e tortuosas secretam glicogênio e muco
camadas: uma interna, de células mononuclears, o abundantes.
citotrofoblasto, e uma externa multinucleada sem
limites celulares distintos, o sinciciotrofoblasto.
As células mitóticas são encontradas no
citotrofoblasto, mas não no sinciciotrofoblasto.
Assim, as células do citotrofoblasto se dividem e
migram para o sinciciotrofoblasto, no qual se
fusionam e perdem suas membranas celulares
individuais.

NONO DIA
O blastocisto está alojado mais
profundamente no endométrio, e o orifício
deixado por sua penetração na superfície do
epitélio é fechado por um coágulo de fibrina.
Enquanto isso, no polo embrionário, as
células achatadas, originadas provavelmente do
hipoblasto, formam uma membrana fina, a
membrana exocelômica (de Heuser), que está
alinhaa na superfície interna do citotrofoblasto.
As células da massa celular interna (ou
Essa membrana com o hipoblasto forma o
embrioblasto) também se diferenciam em duas
revestimento da cavidade exocelômica, ou
camadas: uma de pequenas células cuboides
vesícula vitelínica primitiva.
adjacentes à cavidade blastocística, conhecida
como camada hipoblástica, e uma de células DO DÉCIMO PRIMEIRO AO DÉCIMO
colunares altas adjacentes à cavidade amniótica, a SEGUNDO DIA
camada epiblástica.
Do décimo primeiro ao décimo segundo
Juntas, essas camadas formam um disco dia do desenvolvimento, o blastocisto está
achatado. Ao mesmo tempo, aparece uma pequena completamente inserido no estroma endometrial, e
cavidade no epiblasto, que aumenta para se tornar o epitélio superficial cobre quase completamente o
a cavidade amniótica. As células epiblásticas orifício de entrada na parede uterina. O blastocisto
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produz, então, uma pequena protrusão no lúmen extraembrionário e, quando convergem, dão
uterino. origem a um novo espaço denominado cavidade
extraembrionária ou cavidade coriônica. Esse
espaço circunda o saco vitelínico primitivo e a
cavidade amniótica, exceto no local onde o disco
germinativo se conecta ao trofoblasto. O
mesoderma extraembrionário que reveste o
citotrofoblasto e o âmnio é denominado
mesoderma extraembrionário somático, e o
revestimento do saco vitelínico é conhecido como
mesoderma extraembrionário esplâncnico.
O crescimento do disco bilaminar é
relativamente lento em comparação ao do
trofoblasto, portanto, o disco permanece muito
pequeno (0,1 a 0,2 mm). As células do endométrio
se tornam poliédricas e preenchidas por glicogênio
e lipídios. Os espaços intercelulares são
preenchidos por material extravasado, e o tecido
se torna edematoso. Essas alterações, conhecidas
como reação decidual, estão inicialmente
limitadas à área imediatamente adjacente ao sítio
de implantação, mas se disseminam pelo
endométrio com rapidez.
DÉCIMO TERCEIRO DIA
Até o décimo terceiro dia do
desenvolvimento, o defeito na superfície do
endométrio já se regenerou. Algumas vezes,
Simultaneamente, as células do entretanto, ocorre sangramento no local da
sinciciotrofoblasto penetram mais fundo no implantação, como resultado de aumento do fluxo
estroma, alcançando e abrindo a parede de sanguíneo para os espaços lacunares. Como esse
revestimento endotelial dos capilares maternos. sangramento ocorre próximo ao vigésimo oitavo
Esses capilares, congestionados e dilatados, são dia do ciclo menstrual, pode ser confundido com
conhecidos como sinusoides. Conforme o sangramento menstrual normal e, desse modo,
trofoblasto continua a abrir cada vez mais causar inexatidão na determinação da data
sinusoides, o sangue materno começa a fluir pelo provável do parto.
sistema trofoblástico, estabelecendo a circulação
uteroplacentária. Enquanto isso, o hipoblasto produz células
adicionais que migram ao longo do interior da
Nesse ínterim, uma nova população de membrana exocelômica. Elas se proliferam e
células aparece entre a superfície interna do formam gradualmente uma nova cavidade dentro
citotrofoblasto e a superfície externa da cavidade da cavidade exocelômica, conhecida como
exocelômica. Essas células, derivadas do saco vitelina secundária ou vitelina definitiva. A
vitelínico, formam um tecido conjuntivo frouxo e cavidade vitelina é muito menor que a cavidade
delicado, o mesoderma extraembrionário, que exocelômica original ou cavidade vitelina
acaba preenchendo todo o espaço entre o primitiva. Durante sua formação, grandes porções
trofoblasto externamente e o âmnio e a membrana da cavidade exocelômica são pinçadas para fora,
exocelômica internamente. Logo depois, grandes sendo representadas pelos cistos exocelômicos,
cavidades se formam no mesoderma
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que são encontrados frequentemente no celoma trofoblasto e o âmnio, bem como a membrana
extraembrionário, ou cavidade coriônica. exocelômica. Quando se desenvolvem vacúolos
nesse tecido, forma-se o celoma
extraembrionário ou cavidade coriônica. O
mesoderma extraembrionário que recobre o
citotrofoblasto e o âmnio é o mesoderma
extraembrionário somático, a cobertura que
cerca a vesícula vitelínica é o mesoderma
extraembrionário esplâncnico.

Nesse período, o celoma extraembrionário A segunda semana do desenvolvimento é


se expande e forma uma grande cavidade, a conhecida como a “semana do dois”:
cavidade coriônica. O mesoderma  O trofoblasto se diferencia em duas
extraembrionário que reveste o interior do camadas: o citotrofoblasto e o
citotrofoblasto e sua camada é conhecido como sinciciotrofoblasto.
placa coriônica. O único local onde o mesoderma  O embrioblasto forma duas camadas: o
extraembrionário atravessa a cavidade coriônica é epiblasto e o hipoblasto.
no pedúnculo embrionário. Com o  O mesoderma extraembrionário se divide
desenvolvimento dos vasos sanguíneos, o em duas camadas: as camadas somática e
pedúnculo se transforma no cordão umbilical. esplâncnica.
RESUMO  Formam-se duas cavidades: a amniótica e
a da vesícula vitelínica.
No início da segunda semana, o blastocisto
está alojado parcialmente no estroma endometrial. A implantação ocorre no final da primeira
O trofoblasto se diferencia em uma camada semana. As células trofoblásticas invadem o
interna, que prolifera ativamente, o epitélio e o estroma do epitélio subjacente com a
citotrofoblasto, e em uma camada externa, o ajuda de enzimas proteolíticas. A implantação
sinciciotrofoblasto, que invade os tecidos também pode ocorrer fora do útero, como na
maternos. No nono dia, desenvolvem-se lacunas cavidade retouterina, no mesentério, na tuba
no sinciciotrofoblasto. Subsequentemente, os uterina ou no ovário (gravidez ectópica).
sinusoides maternos são erodidos pelo
sinciciotrofoblasto, o sangue materno entra na
rede lacunar e, por volta da segunda semana,
começa uma circulação uteroplacentária
primitiva. No final da segunda semana, o
blastocisto está completamente alojado e seu
orifício de entrada na mucosa está fechado.
Enquanto isso, a massa celular interna ou
embrioblasto se diferencia em epiblasto e
hipoblasto, formando, juntos, um disco
bilaminar. As células epiblásticas originam os
amnioblastos que recobrem a cavidade
amniótica, superior à camada epiblástica. As
células hipoblásticas são contíuas com a
membrana exocelômica e, juntas, elas recobrem
a vesícula vitelínica primitiva. No final da
segunda semana, o mesoderma extraembrionário
preenche internamente o espaço entre o
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Terceira Semana do Desenvolvimento – Disco


Germinativo Trilaminar
GASTRULAÇÃO – FORMAÇÃO DO epiblasto e o endoderma recém-criado, formando
MESODERMA E DO ENDODERMA o mesoderma. As células que permanecem no
EMBRIONÁRIOS epiblasto formam, então, o ectoderma. Assim, o
epiblasto, por meio do processo de gastrulação, é a
O evento mais característico durante a fonte de todas as camadas germinativas, células
terceira semana de gestação é a gastrulação, o dessas camadas darão origem a todos os tecidos e
processo que estabelece as três camadas órgãos do embrião.
germinativas (ectoderma, mesoderma e
endoderma) no embrião. A gastrulação começa
com a formação da linha primitiva na superfície
do epiblasto. Inicialmente, a linha é sutil, mas, no
embrião de 15 a 16 dias, ela é bem visualizada
como um sulco estreito entre regiões levemente
protrusas. A parte cefálica da linha, o nó
primitivo, consiste em uma área levemente Conforme mais e mais células se movem
elevada que cerca a fosseta primitiva. As células entre as camadas hipoblásticas, elas começam a se
do epiblasto migram para a linha primitiva. espalhar lateral e cranialmente. Gradualmente,
Quando chegam à região da linha, elas adotam um elas migram para além da margem do disco e
formato de frasco, desprendem-se do epiblasto e estabelecem contato com o mesoderma
deslizam para baixo dele. Esse movimento para extraembrionário que cobre a vesícula vitelínica
dentro é conhecido como invaginação. A (ou saco vitelínico) e o âmnio. No sentido
migração e a especificação celulares são cefálico, elas passam para cada lado da placa
controladas pelo fator de crescimento de precordal. A própria placa precordal se forma
fibroblastos oito (FGF8), que é sintetizado pelas entre a ponta da notocorda e a membrana
próprias células da linha primitiva. Esse fator de orofaríngea e é derivada de algumas das
crescimento controla o movimento celular por primeiras células que migram através do nó
infrarregulação da caderina E, uma proteína que primitivo na linha média e se deslocam no sentido
normalmente mantém as células epiblásticas cefálico. Mais tarde, a placa precordal será
unidas. O FGF8 controla a especificação celular importante para a indução do prosencéfalo. A
no mesoderma ao regular a expressão de membrana orofaríngea na parte cranial do disco
BRACHYURY (T). Após a invaginação das consiste em uma pequena região de células
células, algumas deslocam o hipoblasto, criando o ectodérmicas e endodérmicas bem aderidas que
endoderma embrionário, e outras ficam entre o representa a futura abertura da cavidade oral.
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No ponto onde a fosseta forma uma indentação no


epiblasto, o canal neurentérico conecta
temporariamente as cavidades amniótica e
vitelínica.

A membrana cloacal é formada na parte


caudal do disco embrionário. Essa membrana, que
tem estrutura semelhante à membrana orofaríngea,
consiste em células ectodérmicas e endodérmicas
bem aderidas sem mesoderma entre elas. Quando
a membrana cloacal aparece, a parede posterior da
vesícula vitelínica forma um pequeno divertículo
que se estende até o pedúnculo embrionário. Esse
divertículo, o divertículo alantoentérico, ou
alantoide, aparece por volta do décimo sexto dia
FORMAÇÃO DA NOTOCORDA do desenvolvimento.
As células pré-notocordais que se
invaginam pelo nó primitivo movem-se
cranialmente na linha média até alcançar a placa
precordal. Essas células pré-notocordais ficam
ESTABELECIMENTO DOS EIXOS
intercaladas no hipoblasto de modo que, por um
curto período, a linha média do embrião consiste CORPORAIS
em duas camadas de células que formam a placa O estabelecimento dos eixos corporais
notocordal. À medida que o hipoblasto é anteroposterior (A-P, craniocaudal),
substituído por células endodérmicas que se dorsoventral (D-V) e esquerdo-direito (E-D)
deslocam para a linha primitiva, as células da ocorre no início da embriogênese e provavelmente
placa notocordal proliferam e se soltam do é iniciado no estágio de mórula do
endoderma. Elas formam, então, um cordão sólido desenvolvimento com os eixos A-P e D-V
de células, a notocorda definitiva, que se especificados antes de E-D. No estágio de
posiciona sob o tubo neural e é um centro de blastocisto, o eixo A-P é determinado, e as células
sinalização para a indução do esqueleto axial. que são destinadas para formar o endoderma
Como o alongamento da notocorda é um processo visceral anterior (EVA) na extremidade cranial
dinâmico, a parte cranial se forma primeiro e as da camada endodérmica do disco bilaminar
regiões caudais são adicionadas conforme a linha migram em direção ao que se tornará a região da
primitiva adota uma posição mais caudal. A cabeça. Nesse estágio do disco bilaminar, as
notocorda e as células pré-notocordais se células no EVA expressam os genes essenciais
estendem cranialmente até a placa precordal (uma para a formação da cabeça, incluindo os fatores de
área imediatamente caudal à membrana transcrição OTX2, LIMI e HESXI, bem como os
orofaríngea), e caudalmente à fosseta primitiva. fatores solúveis cerberus e lefty1 (membros da
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família TGF-β), que inibem a atividade de nodal uma cascata de moléculas e genes sinalizadores.
(um membro da família TGF-β), estabelecendo, Quando a linha primitiva aparece, o FGF8 é
assim, a parte cranial do embrião. A ausência de secretado por células no nó e na linha primitivos, e
cerberus e lefty1 na parte caudal do embrião esse fator de crescimento induz a expressão de
permite que a expressão de nodal continue, e este NODAL. A expressão de NODAL é então restrita
sinal estabelece e mantém a linha primitiva. Uma ao lado esquerdo do embrião pelo acúmulo de
vez que a linha primitiva esteja formada, o serotonina (5-HT) no lado esquerdo. Essas altas
NODAL aumenta a expressão de vários genes concentrações de 5-HT no lado esquerdo ativam a
responsáveis pela formação dos mesodermas expressão do fator de transcrição MAD3, que
dorsal e ventral, assim como das estruturas da restringe a expressão de NODAL ao lado esquerdo
cabeça e da cauda. Outro membro da família do do nó primitivo. PITX2 é um fator de transcrição
TGF-β, a proteína morfogenética óssea quatro que contém homeobox, que é um “gene mestre”
(BMP4), é secretada por todo o disco responsável pelo estabelecimento da lateralidade
embrionário. Na presença dessa proteína e de esquerda, e sua expressão é repetida no lado
FGF, o mesoderma será ventralizado para esquerdo do coração, no estômago e no intestino
contribuir na formação dos rins (mesoderma primitivo conforme esses órgãos adotam suas
intermediário), sangue e mesoderma da parede posições corporais assimétricas.
corporal (mesoderma da placa lateral). Na
verdade, todo o mesoderma seria ventralizado se a
atividade da BMP4 não fosse bloqueada por
outros genes expressos no nó. Por esse motivo, o
nó é o organizador. CHORDIN (ativado pelo
fator de transcrição GOOSECOID), noggin
efollistatin antagonizam a atividade da BMP4.
Mais tarde, esses três genes são expressos na
notocorda e são importantes para a indução neural
na região cranial. Os genes que regulam o desenvolvimento
A regulação da formação do mesoderma do lado direito não são tão bem definidos, embora
dorsal nas partes medial e caudal do embrião é a expressão do fator de transcrição SNAIL seja
controlada pelo gene BRACHYURI (T) expresso restrita ao mesoderma da placa lateral direita e
no nó primitivo, nas células precursoras da provavelmente regule os genes efetores
notocorda e na notocorda. Esse gene é essencial responsáveis pelo estabelecimento do lado direito.
para a migração celular pela linha primitiva. Por que a cascata é iniciada no lado esquerdo é um
BRACHYURY codifica uma proteína de ligação a mistério, mas o mecanismo pode envolver cílios
uma sequência específica de DNA que funciona nas células do nó primitivo, que batem para gerar
como um fator de transcrição. Dessa maneira, a um gradiente de Nodal para a esquerda ou um
formação do mesoderma nessas regiões depende gradiente de sinalização estabelecido por junções
desse produto gênico, e sua ausência resulta no comunicantes e transporte de pequenos íons.
encurtamento do eixo embrionário (disgenesia
caudal). O grau de encurtamento depende do
momento em que a proteína se torna deficiente.
A lateralidade (esquerda-direita) CRESCIMENTO DO DISCO
também é estabelecida no início do EMBRIONÁRIO
desenvolvimento. Normalmente, muitos órgãos
apresentam assimetrias, incluindo o coração, os O disco embrionário, inicialmente
pulmões, o intestino, o baço, o estômago, o fígado achatado e quase redondo, torna-se alongado
e outros. O posicionamento desses órgãos e a gradualmente, com uma parte cefálica larga e uma
definição de suas assimetrias são orquestrados por região caudal estreita. A expansão do disco
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embrionário ocorre principalmente na região Essa estrutura determina um eixo na linha média,
cefálica, a região da linha primitiva permanece que funcionará como a base do esqueleto axial. As
aproximadamente com o mesmo tamanho. O partes cefálica e caudal do embrião são
crescimento e o alongamento da parte cefálica do estabelecidas antes que a linha primitiva tenha se
disco são causados por migração contínua de formado. Assim, as células do hipoblasto
células da região da linha primitiva no sentido (endoderma) na margem cefálica do disco
cefálico. A invaginação das células superficiais na formarão o EVA, que expressa genes de formação
linha primitiva e sua migração subsequente para da cabeça, incluindo OTX2, LIM1 e HESX1, bem
frente e lateralmente continua até o final da quarta como o fator solúvel cerberus. NODAL, um
semana. Nesse estágio, a linha primitiva mostra membro da família de genes TGF-β é, então,
alterações regressivas, diminui rapidamente e logo ativado e inicia e mantém a integridade do nó e da
desaparece. linha primitivos. A lateralidade (assimetria
esquerda-direita) é regulada por uma cascata de
O fato de que a linha primitiva na parte
moléculas e de genes sinalizadores. FGF8,
caudal do disco continua a favorecer novas células
secretados por células no nó e na linha primitivos,
até o final da quarta semana tem um impacto
induz a expressão de NODAL e de LEFTY2 do
importante para o desenvolvimento do embrião.
lado esquerdo, e esses genes aumentam a
Na parte cefálica, as camadas germinativas
expressão de PITX2, um fator de transcrição e
começam sua diferenciação específica por volta da
gene-chave para a lateralidade esquerda. O
metade da terceira semana, enquanto, na parte
neurotransmissor serotonina (5-HT) também
caudal, a diferenciação começa até o final da
atua na definição da lateralidade por meio da
quarta semana. Assim, a gastrulação, ou a
restrição da expressão NODAL ao lado esquerdo.
formação das camadas germinativas, continua nos
O posicionamento normal dos órgãos (a esquerda
segmentos caudais ao mesmo tempo que as
e a direita) é chamado de situs solitus, enquanto
estruturas craniais estão se diferenciando, fazendo
sua inversão completa é chamada de situs
com que o embrião se desenvolva no sentido
inversus. Quando um ou mais órgão estiverem em
cefalocaudal.
posição anormal, essa condição será chamada de
RESUMO situs ambiguous ou heterotaxia. Indivíduos com
situs inversus correm baixo risco de apresentar
O evento mais característico durante a outros defeitos congênitos, mas seus filhos correm
terceira semana é a gastrulação. Ela começa com risco mais elevado, principalmente para
o surgimento da linha primitiva, que tem em sua cardiopatia. Em contrapartida, os pacientes com
parte cefálica o nó primitivo. Na região do nó e heterotaxia correm risco elevado de ter muitos
da linha, as células epiblásticas se movem para tipos de malformações congênitas e quase todos
dentro (invaginam) para formar novas camadas, o apresentam algum tipo de anormalidade cardíaca.
endoderma e o mesoderma. As células que não Erros nos níveis de 5-HT ou a expressão incorreta
migram através da linha primitiva, mas de genes da via de sinalização da lateralidade,
permanecem no epiblasto, formam o ectoderma. como PITX2, resultam em defeitos de
Assim, o epiblasto dá origem a três camadas lateralidade, como dextrocardia, situs inversus e
germinativas, ectoderma, mesoderma e anomalias cardíacas.
endoderma, e essas camadas formam todos os
tecidos e órgãos. As células epiblásticas que se movem pelo
nó e pela linha primitivos são predeterminados por
As células pré-notocordais que suas posições a se tornarem tipos específicos de
invaginam na região da fosseta primitiva se mesoderma e de endoderma. Assim, é possível
deslocam para a região cefálica até alcançarem a elaborar um mapa de destino do epiblasto
placa precordal. Elas se intercalam no endoderma mostrando seu padrão.
como a placa notocordal. Com a continuação do
desenvolvimento, a placa se desprende do No final da terceira semana, são
endoderma e forma um tubo sólido, a notocorda. estabelecidas três camadas germinativas na
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região da cabeça, consistindo em ectoderma,


mesoderma e endoderma, e esse processo
continua a produzir essas camadas para as áreas
mais caudais do embrião até o final da quarta
semana. A diferenciação tecidual e orgânica já
começou e ocorre no sentido cefalocaudal à
medida que a gastrulação continua.
Enquanto isso, p trofoblasto progride
rapidamente. As vilosidades primárias adquirem
um centro mesenquimatoso, no qual surgem
pequenos capilares. Quando esses capilares
vilosos fazem contato com os capilares da placa
coriônica e do pedúnculo embrionário, o sistema
viloso está pronto para fornecer nutrientes e
oxigênio ao embrião.

PROFESSOR HUGO – AULA 05

Anexos Embrionários
INTRODUÇÃO ectoderma embrionário. Ela é formada por um
epitélio pavimentoso simples, sendo revestida
Os anexos embrionários de mamíferos são: externamente pelo mesoderma extraembrionário.
o âmnio, o saco vitelino, o córion (parte fetal da Esse mesmo mesoderma forma um pedúnculo
placenta) e o alantoide. Essas estruturas, embora embrionário entre a bolsa amniótica e o córion,
derivadas do embrião, não contribuem muito para que futuramente constituirá parte do cordão
a formação do seu corpo. umbilical.
ÂMNIO
A cavidade amniótica é uma estrutura que
aparece no final da primeira semana de
desenvolvimento e forma uma bolsa acima do
disco embrionário, cujo assoalho é o próprio
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também permite o diagnóstico de alterações


cromossômicas. A dosagem de enzimas e os
compostos químicos diversos auxiliam no
diagnóstico de possíveis doenças fetais.
No trabalho de parto, as contrações
rítmicas uterinas induzem a formação de um cone
de âmnio junto com o córion liso, que agirá como
uma cunha para dentro do canal cervical,
auxiliando na sua dilatação. Quando a membrana
amniótica com o córion liso envolvente é rompida,
há uma perda de líquido pela vagina,
correspondendo ao que comumente se conhece
Com os movimentos de flexões e dobras como “rompimento da bolsa”, anunciando um
do disco embrionário para produzir o embrião parto próximo.
tubular, a bolsa amniótica é puxada, envolvendo
todo o embrião, e o pedúnculo embrionário se SACO VITELINO
localiza na posição umbilical. Com o
O endoderma do teto do saco vitelino,
desenvolvimento embrionário gradativo, o âmnio
devido aos dobramentos do disco germinativo,
ocupará toda a cavidade celômica
formará o revestimento epitelial do tubo
extraembrionária (cavidade cariônica),
digestório primitivo.
fundindo-se com o córion.
Os dobramentos delimitam o intestino
A cavidade amniótica é preenchida pelo
anterior e posterior, ficando o intestino médio
líquido amniótico, que possivelmente tem origem
aberto para a cavidade vitelina. O intestino médio
materna. São várias as funções do líquido,
gradativamente vai se fechando. Durante o
ressaltando-se principalmente a lubrificação do
processo de dobramento do embrião, o saco
embrião, que impede a aderência de tecidos fetais
amniótico empurra o saco vitelino, ficando preso
entre si e com as paredes do saco coriônico. A
ao corpo do embrião por um fino pedúnculo
lubrificação facilita os movimentos fetais. No
vitelino. O saco vitelino, nos mamíferos, persiste
final da gestação, a quantidade de líquido
apenas como uma estrutura rudimentar. O
amniótico pode chegar a um ou dois litros, o
pedúnculo do saco vitelino, bem como o
suficiente para funcionar também como um
pedúnculo alantoico, mais caudal que o primeiro,
amortecedor de choques.
ficarão incorporados pelo cordão umbilical.
A aquisição do âmnio foi uma conquista
Nos mamíferos, o saco vitelino terá pouco
fundamental para aqueles vertebrados que se
significado, pois a função trófica é desenvolvida
desenvolvem fora da água (répteis, aves e
pela placenta. O mesmo não acontece nos peixes,
mamíferos), permitindo-lhes lubrificação e
nos répteis e nas aves, em que a nutrição
proteção contra o dessecamento.
dependerá das reservas do saco vitelino.
O feto, durante todo o seu
Deve-se ressaltar, contudo, que, nos
desenvolvimento no interior do útero, deglute o
mamíferos, também as primeiras formações de
líquido amniótico, que é absorvido pelo seu trato
vasos sanguíneos (as ilhotas de Wolff) têm
digestório, passando para a circulação, excretado
origem no mesoderma extraembrionário que
pelos rins, sendo eliminado outra vez para o saco
reveste o endoderma do saco vitelino.
amniótico pela urina.
A ausência de líquido amniótico ou a sua
ALANTOIDE
quantidade excessiva pode revelar malformações O alantoide forma-se a partir de uma
congênitas. A análise do líquido amniótico evaginação do teto do saco vitelino. Com o
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dobramento caudal do embrião, o alantoide passa A placenta é o órgão-elo entre mãe e filho.
a situar-se ventralmente, ficando logo atrás do Ela permite que os mamíferos se desenvolvam de
pedículo do saco vitelino. O alantoide, como o simples ovos oligolécitos, diferindo de seus
saco vitelino e o âmnio, é revestido pelo parentes mais próximos, répteis e aves, que se
mesoderma extraembrionário. Acredita-se que o desenvolvem de ovos telolécitos, pois proporciona
alantoide oriente a formação dos vasos umbilicais ao indivíduo em desenvolvimento a garantia de
(ou alantoidianos). Forma-se, assim, o cordão suas necessidades básicas: respiração, nutrição e
umbilical que, devido à expansão do saco eliminação de seus catabólitos. O
amniótico, ficará revestido pelo epitélio desenvolvimento dentro do corpo da mãe garante
amniótico. Os vasos umbilicais originam-se a proteção ao embrião, permitindo que se
partir do mesoderma local. desenvolva um ou poucos indivíduos, diferindo
daqueles oligolécitos de postura externa, em que
Nos répteis e nas aves, esse anexo é muito
são necessários milhares de ovos para que alguns
desenvolvido, assumindo função respiratória e de
possam sobreviver à ação dos predadores. Sem
armazenamento de materiais excretados. Nos
dúvida, a aquisição placentária dos mamíferos
mamíferos, nos quais se desenvolve a placenta,
Eutheria é uma conquista que lhes permite investir
essas funções são também assumidas por ela.
diretamente no desenvolvimento de poucos
A parte intraembrionária do alantoide indivíduos, otimizando suas chances de sucesso.
contribui para a formação da bexiga e do úraco, Por alcançarem o estágio adulto mais lentamente e
ligamento fibroso que serve de elo entre o teto da requererem uma alimentação pós-natal por parte
bexiga e a área umbilical. dos pais, os filhotes aprendem comportamentos
complexos durante o cuidado parental.
Inicialmente, o embrião está conectado à
placenta em formação pelo pedúnculo O dispêndio energético é direcionado à
embrionário. Pelo lado embrionário, o pedúnculo placenta, o que permite a absorção de nutrientes
estende-se até a face dorsal da cavidade amniótica. pelo feto a partir da corrente sanguínea materna.
Com o desenvolvimento dessa cavidade e o Assim, a mãe não gasta energia na produção de
dobramento do embrião, o pedúnculo, junto com o ovos com muito vitelo. Além disso, a placenta,
alantoide nele contido, são deslocados para a face por um mecanismo de contracorrente, semelhante
ventral da cavidade amniótica. ao que ocorre nas brânquias dos peixes teleósteos,
permite as trocas de oxigênio e de dióxido de
O pedúnculo do embrião e o do saco carbono entre mãe e feto, pois o fluxo sanguíneo
vitelino afinam-se e conectam-se para juntos dos capilares do feto é oposto ao dos capilares
formarem o cordão umbilical, que une a face maternos. É por esse mecanismo também que os
ventral do embrião (futuro umbigo) com a excretas da circulação fetal são removidos de
placenta. O cordão umbilical é revestido modo eficiente. O alantoide que realizava as
externamente pelo âmnio. No interior do cordão funções respiratórias e de excreção em répteis e
umbilical, o pedúnculo do saco vitelino e o aves é substituído pela placenta nos mamíferos
alantoide degeneram. O cordão umbilical é eutérios. A função do saco vitelino de transferir
preenchido por mesênquima, a geleia de Wharton, nutrientes para o embrião nos répteis e nas aves é
e apresenta três vasos: duas artérias e uma veia. substituída pela placenta nos mamíferos.
PLACENTA Os ovos cleidoicos garantem um pleno
A placenta é um órgão de tecidos, tanto desenvolvimento fora do organismo materno, pois
fetais quanto maternos, que serve de transporte de funcionam como um sistema fechado, no qual o
nutrientes e oxigênio, da circulação materna para desenvolvimento do indivíduo é garantido no que
o feto, e de resíduos metabólicos e CO2 da se refere à nutrição e à respiração, precisando tirar
circulação fetal para a materna. do meio apenas calor e um pouco de umidade.
Como esses ovos altamente desenvolvidos
continuavam sendo vítimas de predadores, a
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natureza desenvolveu a formação da placenta, que B. Decídua capsular: o blastocisto ficou


permite pleno desenvolvimento e proteção no completamente incluído no endométrio,
interior do organismo materno, passando antes que refez seu epitélio no local de
pelos indivíduos ovovivíparos até atingir os penetração do embrião. A zona oposta à
totalmente vivíparos. decídua basal, isto é, a decídua externa ao
embrião, corresponde à decídua capsular.
A placenta humana é formada por uma
C. Decídua parietal: é a área do endométrio
parte fetal (originada do córion) e uma parte
que reveste o restante do útero. Nessa área,
materna (decídua).
não ocorreu implantação.
Designa-se por córion o conjunto
trofoblasto (cito e sinciciotrofoblasto) mais o
mesoderma extraembrionário que o reveste.
DECÍDUA
A decídua (do latim, deciduus: queda)
corresponde à camada funcional do endométrio
gravídico, que será eliminado no parto.
Ela é constituída por três regiões:
decídua basal, decídua parietal e decídua
capsular.
Na implantação, o endométrio é invadido
pela ação erosiva do sinciciotrofoblasto. Ele
destrói (digere) o epitélio endometrial, tecido
conectivo subjacente e, finalmente, sua ação
atinge os vasos sanguíneos e as glândulas
endometriais. Todo o blastocisto fica incluído
dentro do endométrio, e o epitélio endometrial se
refaz sobre essa zona invadida e fecha o local de
entrada. Isso é uma implantação intersticial.
As células do estroma endometrial sofrem
a chamada reação decidual, tornando-se grandes,
pálidas e com grande quantidade de glicogênio e
lipídeos. Provavelmente, estão relacionadas com a
nutrição inicial do embrião e a produção
hormonal, protegendo o tecido materno contra
uma invasão descontrolada por parte do A mucosa cervical não sofre reação
sinciciotrofoblasto. decidual, mas secreta um muco que age como um
tampão, que oclui o canal cervical, protegendo o
Costuma-se, assim, identificar três regiões feto contra ataques externos de microrganismos. O
deciduais em relação à área de implantação do tampão mucoso mantém-se ítegro até o parto,
blastocisto: quando começa a desprender0se devido à
A. Decídua basal: corresponde à parte da dilatação do colo do útero.
placenta. É a porção subjacente ao Com o decorrer do desenvolvimento, com
embrião. O sinciciotrofoblasto não digere mais ou menos 12 semanas, a decídua capsular
completamente o endométrio da decídua entra em contato com a decídua parietal, com a
basal, permanecendo septos que servirão qual se funde, ocasionando a obliteração do lúmen
para sustentar a parte fetal da placenta. uterino.
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CÓRION De início, as vilosidades coriônicas


formam-se ao redor de todo o embrião, isto é, por
O feto desenvolve-se em meio líquido (o todo o córion acontece o processo de formação de
líquido amniótico do saco amniótico). O saco vilosidades. Elas permanecem até a oitava
amniótico, por sua vez, está contido dentro do semana. Mais tarde, à medida que o saco
saco coriônico O saco coriônico apresenta uma coriônico cresce, só persistem aquelas do polo
parte vilosa, que corresponde à placenta fetal, e embrionário, ou seja, as adjacentes à decídua
uma parte lisa. basal. As vilosidades voltadas para a decídua
No início da segunda semana, o trofoblasto capsular regridem, porque se tornam
do polo embrionário do blastocisto apresenta-se comprimidas, e seu suprimento sanguíneo é
mais desenvolvido. Nessa zona, reconhece-se o reduzido. Está formado então o saco coriônico,
citotrofoblasto e o sinciciotrofoblasto. constituído de uma parte viloso (o córion viloso
ou frondoso, que corresponde à parte fetal da
placenta) e o córion liso (do latimlevis: liso).
A partir do segundo mês, as vilosidades
associadas à decídua basal aumentam cada vez
mais em número e em tamanho, ramificando-se
bastante e adquirindo um aspecto arborescente. As
vilosidades apresentam agora um tronco viloso de
onde partem vários ramos. Quanto mais finos os
ramos, melhores as condições de trocas. Alguns
ramos atingem a decídua basal, onde se fixam. Os
troncos vilosos e seus ramos projetam-se para os
espaços intervilosos (originalmente lacunas do
sinciciotrofoblasto), que são preenchidos por
Com 11 a 12 dias de desenvolvimento,
sangue materno. Quando o sinciciotrofoblasto
começam a ser notadas projeções do
invade a decídua basal, deixa zonas intactas (sem
citotrofoblasto para dentro do sinciciotrofoblasto,
digerir) em forma de pequenas cristas, que se
constituindo as vilosidades primárias.
projetam para dentro do espaço interviloso e que
No interior do sinciciotrofoblasto, surgem correspondem aos septos placentários. Os septos
muitas lacunas, para dentro das quais extravasam placentários dividem a área fetal da placenta de 10
sangue dos capilares maternos e conteúdo das a 38 áreas convexas irregulares, que são os
glândulas endometriais. chamados cotilédones. Cada cotilédone contém
dois ou mais troncos vilosos principais, sendo seus
Na terceira semana de desenvolvimento,
ramos banhados pelo sangue materno. Os septos
surgem digitações do mesênquima
são descontínuos, isto é, nem todos atingem a
extraembrionário para dentro das vilosidades
placa coriônica, de maneira que existem
primárias, constituindo as vilosidades
comunicações entre os cotilédones.
secundárias ou coriônicas.
Em torno de 21 dias, o eixo do
mesênquima das vilosidades secundárias dá
origem a vasos coriônicos, formando uma ampla
rede capilar nas vilosidades. Estão estabelecidas
as vilosidades terciárias. O crescimento do
citotrofoblasto é grande, determinando seu contato
com a decídua basal, ao passo que o
sinciciotrofoblasto fica revestindo as lacunas por
onde é despejado o sangue materno.
Giovanna Andrade Fernandes
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Todo o endométrio relacionado com as O sangue materno, que extravasa de sua


vilosidades coriônicas corresponde à decídua rede capilar (os capilares endometriais abrem-se
basal (parte materna da placenta). Somente a parte para os espaços intervilosos), banha as vilosidades
mais profunda do endométrio, a placa decidual, coriônicas e estabelece trocas com os capilares
permanece após o parto e colabora na regeneração fetais. O sangue materno é propulsionado em jatos
do endométrio. para os espaços intervilosos pela corrente
sanguínea materna. Depois flui vagarosamente
Em consequência da necrose da decídua
para as veias endometriais.
basal pela ação invasora do sinciciotrofoblasto, há
deposição de um material fibrinoide, conhecido
como camada de Nitabuch e que limita as partes
fetal e materna da placenta. Essa é uma zona de
menor resistência, e a separação placentária fica
muito facilitada durante o terceiro estágio do
trabalho de parto.
Após o quarto mês, a placenta está
completamente formada. No feto a termo, ela
atinge em torno de 500 g e tem uma forma
discoidal com 20 cm de diâmetro por 03 cm de
espessura. A inserção do cordão umbilical é
A resposta para a transferência de O2 do
ligeiramente excêntrica e ocorre pela face lisa da
sangue materno para o fetal está centrada em uma
placenta, a face fetal. A face materna é irregular
pequena diferença da hemoglobina fetal (F) em
devido às saliências provocadas pelos septos da
relação à hemoglobina materna (A). Moléculas
decídua basal.
de três carbonos BPG (2,3-bifosfoglicerato)
CIRCULAÇÃO PLACENTÁRIA ligam-se à hemoglobina de mamíferos adultos
(A), mas não à hemoglobina fetal (F). A ligação
O sangue materno banha livremente as de moléculas BPG à hemoglobina diminui sua
lacunas das vilosidades placentárias. O sangue afinidade ao O2, permitindo, dessa maneira, que a
fetal fica sempre contido dentro de vasos. O hemoglobina desprenda mais O2 em tecidos do
sangue oxigenado na placenta volta ao feto pela que hemoglobina sem BPG. A afinidade do
veia umbilical. O sangue contendo excretas e sangue fetal (sem BPG) pelo oxigênio é, assim,
que deve ser oxigenado é levado do feto para a muito maior que a do sangue materno (com BPG).
placenta através de duas artérias umbilicais. A grande afinidade pelo oxigênio significa que a
As artérias umbilicais, em número de hemoglobina fetal pode adquirir oxigênio do
duas, deixam o feto, levando sangue venoso. sangue materno e transferi-lo eficientemente aos
Correndo pelo cordão umbilical, atingem a placa tecidos fetais em desenvolvimento.
coriônica, onde se dividem e penetram nas MEMBRANA PLACENTÁRIA
vilosidades coriônicas. Nos ramos mais finos
dessas vilosidades são efetuadas as trocas entre Embora o sangue materno humano
mãe e filho. O sangue materno banha livremente jorre livremente nas lacunas do
as vilosidades, mas o fetal permanece sempre sinciciotrofoblasto, ele não se mistura com o
dentro de seus capilares íntegros. Em condições sangue fetal.
normais, não há mistura entre o sangue materno e
A membrana placentária é constituída
o fetal. Nas vilosidades, ocorre um extenso
pelos tecidos fetais que separam os sangues
sistema arteirovenoso. O sangue fetal oxigenado e
materno e fetal. Até mais ou menos 20 semanas,
nutrido retorna, sendo conduzido pelos capilares
são as seguintes estruturas que compõem a
venosos, vênulas, até atingir a veia umbilical, que
membrana placentária: sinciciotrofoblasto,
volta para o feto.
citotrofoblasto, tecido conectivo (originado do
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mesênquima da vilosidade coriônica), membrana resultantes do metabolismo fetal e que


basal e endotélio fetal. A ultraestrutura do devem ser eliminados.
sinciciotrofoblasto demonstra a presença de
As trocas materno-fetais compreendem a
microvilosidades e vesículas de pinocitose, que
passagem da mãe para o feto de nutrientes, de
facilitam as relações feto versus mãe. A partir da
oxigênio, de água, de hormônios e anticorpos,
20ª semana, o citotrofoblasto vai desaparecendo, e
bem como a passagem do feto para a mãe de
o sinciciotrofoblasto, em alguns locais, forma
catabólitos, de água, de gás carbônico e de
agregados ou nós sinciciais que gradativamente
hormônios.
podem soltar-se e cair na circulação materna. A
quantidade de tecido conectivo também tende a A placenta não funciona como um filtro. Pelo
reduzir-se. Em consequência dessas alterações, os fato de a passagem de materiais depender mais de
vasos fetais aproximam-se cada vez mais da sua estrutura química, certas substâncias maléficas
superfície das vilosidades, facilitando as trocas ao feto podem atravessá-la, como acontece com
materno-fetais. certos microrganismos: o vírus da rubéola, o
citomegalovírus e os agentes da toxoplasmose ou
O tecido conectivo das vilosidades
da sífilis, entre tantos outros.
apresenta fundamentalmente dois tipos de células:
os fibroblastos e as células de Hofbauer, que O mecanismo de trocas placentárias pode ser
parecem ter características de macrófagos. observado sob diferentes aspectos: difusão
(simples e facilitada), transporte ativo e
FUNÇÕES DA PLACENTA
pinocitose.
A placenta tem como principais funções Difusão simples: muitas substâncias,
garantir os nutrientes, a oxigenação sanguínea principalmente de baixo peso molecular,
e a eliminação de catabólitos fetais. atravessam facilmente a placenta em ambas as
A placenta apresenta grande complexidade direções, pois ela se comporta como uma
bioquímica, pois exerce funções múltiplas membrana semipermeável. A maioria dos
relacionadas com atividades efetuadas pelos fármacos atravessa a placenta por difusão simples.
pulmões, rins, hipófise, ovários, fígado e intestino Difusão facilitada: a glicose atravessa a
do adulto. placenta por difusão facilitada.
A. Metabolismo: a placenta é uma fonte de Transporte ativo: muitas moléculas
nutrientes e de energia para o embrião, relacionadas à nutrição fetal são transportadas
pela sua capacidade de síntese de vários assim. Os aminoácidos normalmente estão mais
compostos (glicogênio, glicerol e ácidos concentrados no sangue fetal do que no materno,
graxos, principalmente nos estágios demonstrando, por parte da placenta, um efetivo
iniciais da gravidez). transporte ativo, pois o sistema transportador deve
Ela é a reserva fetal de glicogênio até o operar contra um gradiente de concentração. O
terceiro mês, pois só então é que o fígado começa sinciciotrofoblasto é o componente da barreira
a funcionar. O trofoblasto funcionalmente pode placentária mais envolvido no mecanismo de
ser comparado ao parênquima hepático pelas suas regulação desse transporte. No que se refere aos
atividades anabólicas e catabólicas. lipídeos, ocorre um parcial desdobramento na
superfície materna, para depois serem transferidos
B. Transferência: a atividade placentária é ativamente para o feto.
altamente complexa no que se refere a
transportes, pois é através dela que deve Pinocitose: moléculas muito grandes para
passar uma quantidade numerosa de atravessarem a membrana placentária podem
materiais, que será utilizada na síntese dos utilizar esse processo. Vesículas que demonstram
tecidos fetais, bem como dos produtos atividade pinocítica têm sido observadas no
sinciciotrofoblasto. Certos anticorpos podem ser
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transferidos desse modo. Utilizando-se o mesmo ovários (pelo corpo lúteo). Rapidamente, a
processo, também pode ocorrer a passagem de placenta assume essa função. A progesterona é
agentes infecciosos, vírus e bactérias. Alguns necessária durante a gravidez para manter o
microrganismos infectam e lesam primeiro as endométrio íntegro. A placenta possui toda a
vilosidades coriônicas, atingindo, assim, maquinaria enzimática para a síntese da
facilmente, os vasos fetais. progesterona a partir do acetato ou do colesterol,
mas perde duas enzimas necessárias para a síntese
C. Secreção endócrina placentária: o
de estrogênio. No entanto, elas estão presentes nas
sinciciotrofoblasto atua como uma
adrenais e muito provavelmente no fígado do feto.
glândula endócrina, pois, utilizando
Dessa maneira, a integração de funções ocorre
precursores derivados do próprio feto, da
entre feto e placenta. O aumento de níveis de
mãe ou de ambos, tem a capacidade de
estrógenos placentários na circulação sanguínea
sintetizar vários hormônios.
materna determina o aumento da sensibilidade do
Os hormônios placentários são as miométrio à oxitocina. A oxitocina é um
gonadotrofinas e a somatotrofina coriônica hormônio hipofisário que estimula as contrações
(hormônio de crescimento placentário), que são da musculatura uterina, podendo, assim,
hormônios proteicos e os estrógenos e a relacionar-se com o início do trabalho de parto. A
progesterona, que são hormônios esteroides. progesterona é necessária para manter o
endométrio e, consequentemente, a gravidez. É
Gonadotrofina coriônica humana (hCG): possível que a parturição decorra também da
bem no início da gravidez, esse hormônio é diminuição, ou da diminuição brusca, da produção
produzido pelo sinciciotrofoblasto e estimula a de progesterona pelo corpo lúteo e pela placenta.
produção inicial de estrogênio e de progesterona O que se observa a respeito do estrógeno é
pelo corpo lúteo. Ele é uma glicoproteína que exatamente o inverso. Injeções de estrógeno (em
mantém o corpo lúteo (pois sua ação é similar ao ratos) podem causar aborto. O início do trabalho
hormônio luteinizante), até que a placenta seja de parto deve estar, portanto, relacionado com
capaz de produzir progesterona e estrogênio por si dois fatos: decréscimo de progesterona e
própria. Precocemente se difunde ao sangue simultâneo aumento de estrógeno.
materno pelas lacunas do sinciciotrofoblasto,
sendo que sua presença na urina ou no sangue ESTÁGIOS NO TRABALHO DE PARTO
serve como diagnóstico de gravidez. A produção
desse hormônio atinge seus níveis mais altos O trabalho de parto ou parturição (do
durante o terceiro mês de gravidez, declinando latim, parturitis: nascimento da criança) envolve
depois. três fases:

Somatotrofina coriônica humana (HCS) ou Estágio da dilatação: contrações uterinas


hormônio lactogênico placentário (HPL): é um regulares determinam a dilatação progressiva do
polipeptídio de cadeia simples. Processos colo uterino. As contrações, espaçadas no início,
imunocitoquímicos demonstram claramente que o diminuem seus intervalos gradativamente,
HCG e o HCS são elaborados no culminando com a completa dilatação do colo
sinciciotrofoblasto. Contudo, há evidências de que uterino. Esse período dura cerca de 12 horas para
também o citotrofoblasto basal pode estar mulheres nulíparas ou primigrávidas (primeira
relacionado nessa síntese. gestação), e cerca de sete horas para mulheres
multíparas ou multigestas.
Progesterona e estrogênio: a produção desses
hormônios é também realizada pelo Estágio da expulsão: quando o colo
sinciciotrofoblasto. Essa síntese aumenta uterino está completamente dilatado, as contrações
gradativamente durante a gravidez. Durante as uterinas determinam a expulsão do feto. Para
primeiras semanas de desenvolvimento, grandes primigrávidas, esse tempo é em torno de 50
quantidades de progesterona são produzidas pelos minutos, ao passo que, para multíparas, ele se
reduz para cerca de 20 minutos.
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Estágio placentário: é o estágio posterior Divisão precoce de células embrionárias


ao nascimento da criança e consiste na liberação (dois a três dias): os blastômeros podem separar-
da placenta e das membranas. Esse estágio deve se, resultando em gêmeos que tem dois âmnios,
estar concluído em torno de 10 minutos. As dois córions e duas placentas que podem ou não
contrações uterinas persistem nessa fase e estar fusionados. É o caso mais raro de formação
promovem o destacamento da placenta ao nível da de gêmeos idênticos. São idênticos porque
camada esponjosa da decídua basal. As contrações resultam da mesma fecundação, mas, em termos
uterinas comprimem as artérias espiraladas de membranas fetais, comportam-se como gêmeos
endometriais, impedindo um sangramento fraternos. Pela análise de membranas não se pode
excessivo. concluir se são mono ou dizigóticos.
GEMELIDADE – GÊMEOS
DIZIGÓTICOS OU FRATERNOS
Os gêmeos dizigóticos são originados de
duas fecundações independentes, ou seja,
provêm de dois ovócitos e dois espermatozoides
Divisão da massa celular interna
distintos.
(embrioblasto) em dois primórdios embrionários
Gêmeos dizigóticos ou fraternos são (primeira semana): cada gêmeo terá sua cavidade
oriundos de duas fecundações independentes. São amniótica, porém, saco coriônico e placenta
dois irmãos que apenas tiveram coincidência no comuns.
tempo da fecundação, originaram-se de dois
ovócitos e dois espermatozoides distintos e que se
desenvolveram simultaneamente. Esses gêmeos
sempre têm dois âmnios e dois córions, mas os
córions e as placentas podem estar fundidos se as
implantações ocorrerem muito próximas.
À incidência de gêmeos dizigóticos tem Divisão tardia das células embrionárias
aumentado atualmente devido à administração de (disco germinativo) nove a quinze dias: esses
gonadotrofinas humanas para estimular a gêmeos necessariamente compartilham o mesmo
ovulação. saco amniótico, o mesmo saco coriônico e,
GEMELIDADE – GÊMEOS consequentemente, a mesma placenta.
Dificilmente eles sobrevivem, pois seus cordões
MONOZIGÓTICOS OU IDÊNTICOS
umbilicais podem estar muito dobrados,
Os gêmeos monozigóticos são prejudicando uma circulação satisfatória e
provenientes de uma única fecundação, isto é, levando, assim, à morte de um, ou ambos os fetos.
são originados do mesmo ovócito e do mesmo Nesse caso, pode-se observar ainda que, se a
espermatozoide. Eles são geneticamente divisão do disco embrionário não for completa,
idênticos. resultará em gêmeos unidos em determinadas
regiões. Eles são conhecidos como gêmeos
Gêmeos monozigóticos ou idênticos são siameses. Se a ligação for superficial, atingindo
aqueles oriundos de uma única fecundação, isto é, apenas a pele e os tecidos cutâneos, pode-se
de um ovócito e de um espermatozoide. Esses conseguir, com sucesso, uma correção cirúrgica.
gêmeos são do mesmo sexo, geneticamente
idênticos e fenotipicamente muito parecidos.
O fenômeno que resultará em gêmeos
idênticos pode ocorrer em diferentes fases do
desenvolvimento inicial:
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íntimo entre membranas fetais e mucosa uterina,


não formam uma verdadeira placenta. O
nascimento dos Metatheria ocorre muito
precocemente, em torno de 12 a 13 dias após a
fertilização no gambá e de algumas semanas no
canguru. Após o nascimento, os embriões de
gambá, geralmente em torno de 13, migram para
dentro da bolsa marsupial onde se fixam a uma
PLACENTAÇÃO: ESTUDO teta da glândula mamária que se intumesce e os
COMPARATVO EM VÁRIOS GRUPOS mantém retidos. Nesse grupo, geralmente o
número de embriões “nascidos” é maior do que o
Os prototheria ou monotremados: o
número de tetas maternas. Provavelmente esse
ornitorrinco e a equidna não desenvolvem
número maior é produzido para garantir o sucesso
placenta porque são mamíferos que põem ovos
de uma prole, já que nem todos conseguem chegar
como os répteis, dos quais todos os mamíferos
ao marsúpio. Por outro lado, trata-se, também, de
descendem. Os ovos de casca mole iniciam seu
uma pressão seletiva para que somente os filhotes
desenvolvimento ainda no útero materno. No
mais aptos ou rápidos em escalar o corpo da
momento da postura, apresentam um
fêmea atinjam a mama e sobrevivam. O canguru
desenvolvimento correspondente a dois dias de
tem um filhote de cada vez. O canguru recém-
incubação das aves. O sistema digestório e o
nascido é ainda um feto e não é maior do que uma
reprodutor dos adultos abrem-se em uma cloaca,
abelha do gênero Bombus, com dois a três
nome que do grego significa mono = simples,
centímetros. Emerge do útero em torno de 33 dias
único + trema = orifício, abertura. Esses
após a fertilização e por sua própria conta escala o
mamíferos vivem na Austrália e na Nova Guiné.
corpo materno até entrar no marsúpio e fixar-se
Diferentemente dos outros mamíferos, os
numa teta onde permanece por mais ou menos seis
monotremados não têm dentes.
meses. Depois sai da bolsa e começa a ensaiar
A equidna transfere seus ovos para sua uma vida independente até atingir a idade próxima
bolsa ventral, e o ornitorrinco põe ovos no ninho a oito meses. Enquanto isso, a mãe pode ter outro
construído na sua toca. Na eclosão, o filhote na bolsa, bem como outro embrião no
desenvolvimento dos filhotes ainda é muito útero. Ao contrário dos Eutheria, que direcionam
precoce e eles se alimentam lambendo a secreção seus gastos energéticos nas trocas placentárias, os
láctea que escorre pela região mamária da mãe. Metatheria, em que os nascimentos ocorrem muito
precocemente, investem mais na lactação. Os
Os mamíferos placentários correspondem filhotes dos Eutheria nascem mais desenvolvidos e
aos Metatheria e Eutheria. dependem da amamentação posterior por um
Os Metatheria ou marsupiais como o período de tempo menor se comparados com os
canguru, a coala e o gambá, têm ovos oligolécitos, marsupiais.
embora um pouco maiores do que os dos Eutheria. Nos Eutheria (placentas verdadeiras), as
Eles apresentam dois úteros, duas vaginas laterais membranas fetais (córion, âmnio, saco vitelino e
e uma mediana. Embora o pênis seja único, alantoide) e endométrio contribuem para a
apresenta sua extremidade distal bifurcada para formação da placenta.
ajustar-se às vaginas laterais. A vagina mediana
normalmente funciona como canal de parto. Os Após o embrião de mamíferos (Metatheria
embriões em desenvolvimento são nutridos por e Eutheria) ter atingido a cavidade uterina, o
uma placenta vitelocoriônica rudimentar. O próximo passo no seu desenvolvimento consiste
embrião normalmente não se implanta no útero até em prender-se na sua parede.
os últimos dias de gestação, sendo que a maior
parte do desenvolvimento pré-natal depende do
consumo de vitelo (lecitotrofia). Não há contato
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Células do trofoblasto encarregam-se de parte do córion limitada internamente com o saco


realizar esse processo conhecido como nidação ou vitelino, que desenvolveu ampla vascularização. É
implantação. o caso da placenta vitelocoriônica encontrada em
alguns marsupiais (Didelphys, Macropus). No
Nos mamíferos, distinguem-se dois tipos
segundo tipo, a conexão é estabelecida pela parede
fundamentais de implantação. Na maioria dos
uterina, e a parte do córion limitada internamente
mamíferos, o blastocisto adere-se à superfície
pelo alantoide, cuja parte mesodérmica
endometrial de maneira a permanecer livre na
desenvolveu ampla rede vascular. É o caso da
cavidade uterina. Em um grupo bem mais
placenta alantocoriônica encontrada nos
reduzido de mamíferos, entre os quais se inclui o
Eutheria (portadores de verdadeiras placentas),
homem, o blastocisto penetra dentro do
bem como em alguns marsupiais (Parameles,
endométrio, de maneira que o desenvolvimento se
Dasyurus).
processa dentro da parede uterina. Nesse caso, o
trofoblasto destrói o epitélio e parte do conectivo
uterino, para permitir a penetração do blastocisto.
Após a implantação, o epitélio uterino lesado é
refeito. Estabelece-se uma conexão entre o
embrião e a parede uterina. O estabelecimento
dessa conexão é conhecido como placentação.
A placenta é uma das grandes aquisições
dos mamíferos, mas não restrita a eles. Aparece
em outros grupos animais, como Peripatus
(Protochaeta), Salpa (Tunicata), Mustelus laevis
(Elasmobranchia) e certos lagartos.
Os répteis são os descendentes dos antigos Em alguns mamíferos superiores, podem-
anfíbios que solucionaram o problema da se encontrar remanescentes da placenta
reprodução e se transformaram nos primeiros vitelocoriônica durante uma fase do
vertebrados completamente terrestres. A solução desenvolvimento ou por todo o curso. Nesses
para o problema veio com a aquisição do ovo casos esse tipo de placenta desempenharia um
amniótico. Dos anexos embrionários papel subsidiário na placentação. A placenta
desenvolvidos nesse tipo de ovo, o alantoide tem vitelina tem vilos trofoblásticos que invadem a
função de pulmão, e o âmnio, que dá o nome ao mucosa uterina erodida. Embora originalmente
tipo de ovo, envolve um espaço cheio de líquido extensa, tende a desaparecer. O endoderma do
onde se encontra o embrião (uma réplica em saco vitelino é um constituinte importante desse
miniatura do pequeno lago ancestral). O tipo de placenta e fica livremente exposto ou adere
desenvolvimento desse novo tipo de ovo foi um ao epitélio superficial do endométrio. Nos casos
passo tão importante na evolução dos vertebrados mais desenvolvidos desse tipo de placenta, curtas
terrestres que os répteis, junto com as aves e os vilosidades da parede vitelina se entrelaçam em
mamíferos que deles descendem, são prolongamentos correspondentes das células
frequentemente denominados amniotas. epiteliais uterinas. A placenta alatoica é zonaria,
decídua e endoteliocorial. O córion frondoso e os
A placenta é formada a partir de capilares uterinos formam lamelas localizadas em
contribuições de tecidos fetais e maternos, porém uma cinta ao redor do equador do saco coriônico.
a natureza dos tecidos que entram na formação
desse órgão não é a mesma em todos os casos. As viteloplacentas são mais raras e
primitivas, e as alantoplacentas são mais
Nos mamíferos, existem dois tipos difundidas. Mesmo nos primatas, embora o
fundamentais de placenta. No primeiro tipo, a alantoide tenha um desenvolvimento mínimo, ela
conexão é estabelecida entre a parede uterina e a é classificada como alantoplacenta, pois, nesse
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caso, o mesoderma, que reveste o endoderma do


alantoide, desempenha um importante papel como
orientador dos vasos sanguíneos em direção ao
pedúnculo do embrião para atingirem a placenta
em formação.
O córion com suas vilosidades e a parede
uterina representam em conjunto a placenta. Na
hora do parto, as vilosidades coriônicas
desprendem-se das pregas da mucosa uterina,
desfazendo o imbricamento sem danificar a parede
uterina. Ocorre um parto sem hemorragia. Essas Mesocorial (tipo cotiledonária): a
placentas são consideradas indecíduas. placenta é um pouco mais desenvolvida e já se
Quando a implantação é mais íntima, visto constata a destruição de zonas do epitélio uterino.
que o trofoblasto destrói o endométrio penetrando- Aparece na vaca, na ovelha e na corça
o, e todo o blastocisto desenvolve-se dentro da (ruminantes).
parede uterina, hormônios ovarianos induzem as
células do conectivo da mucosa uterina a se
transformarem em células deciduais, isto é,
destinadas a abrigar e alimentar o embrião. No
parto, quando o feto e suas membranas, incluindo
o córion, são removidos, uma hemorragia mais ou
menos intensa se estabelece na parede uterina.
Placentas desse tipo são conhecidas como
placentas decíduas.
PLACENTAS INDECÍDUAS Existe um tipo intermediário entre a
placenta epiteliocorial e a mesocorial que ocorre
Animais com esse tipo de placentação na girafa. Nesse caso, além dos cotilédones,
não apresentam hemorragia durante o parto. existem vilosidades esparsas entre eles.
São conhecidos dois tipos de placentas PLACENTAS DECÍDUAS
com características indecíduas: a epiteliocorial e a
mesocorial. Animais com placentas decíduas
apresentam hemorragia durante o parto.
Epiteliocorial: as vilosidades estão
distribuídas por toda a superfície do córion. O Nas placentas decíduas, também se
epitélio do útero não é danificado. O contato entre encontram duas variedades: os tipos endocorial e
vilosidades coriônicas e pregas endometriais é hemocorial.
superficial. Nesse caso, a alimentação do embrião
Tipo endocorial (tipo zonaria): o
é feita pelo “leite uterino”, isto é, pelas secreções
trofoblasto destrói o epitélio e o conectivo uterino.
das glândulas endometriais. Esse tipo de placenta
Os capilares maternos conservam a sua
é constituída pelo córion, com vilosidades
integridade endotelial, mas ficam imersos no
rudimentares, bem como pelo alantoide bastante
sincício corial que se desenvolveu muito. As
vascularizado.
vilosidades coriônicas se dispõem, em geral, em
duas fileiras ou zonas transversais em cada um dos
terços laterais do blastocisto. A mucosa uterina,
que fica erodida, é a que contata com essas zonas.
Nesses locais, os vasos maternos permanecem em
contato com as vilosidades coriônicas, que se
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apresentam muito ramificadas. O alantoide mesoderma que estaria entre o saco vitelino e o
insinua-se no interior de cada vilosidade, córion não se desenvolve. O saco vitelino
carregando seus vasos sanguíneos. Esse tipo de endodérmico e o trofoblasto justaposto
placenta é conhecido como zonaria ou anular e é desaparecem, e o que sobra do saco vitelino
característica dos carnívoros (gata, cadela). inverte-se. A face interna coloca-se contra o
epitélio uterino, constituindo o saco vitelino
invertido placentário.

Tipo hemocorial (tipo discoide): na


mulher, cuja implantação é intersticial (todo o
blastocisto ficou incluído dentro do endométrio), o
córion é inicialmente recoberto por vilosidades,
mas essas continuam se desenvolvendo apenas do
lado oposto do lúmen uterino, constituindo o
córion viloso, relacionado com a decídua basal.
No outro lado, as vilosidades vão involuindo,
formando no final o córion liso, relacionado com a
decídua capsular. A parte funcional dessa placenta
apresenta, portanto, a forma de um disco, sendo,
por isso, conhecida como placenta discoidal. O
sincício destrói o epitélio, o conectivo e o próprio
endotélio dos vasos endometriais nessa
placentação. As microvilosidades coriônicas ficam
banhadas pelo sangue materno. Na mulher e nas
macacas antropoides, o blastocisto adere à parede
uterina pelo seu futuro lado dorsal. Em humanos,
pela ação destruidora do trofoblasto, o blastocisto
penetra completamente no endométrio e,
finalmente, a abertura pela qual penetrou é
fechada, inicialmente por um coágulo e depois
pela própria regeneração do epitélio uterino. Na
macaca, cuja placentação também é hemocorial, o
blastocisto não penetra no epitélio uterino pelo seu
lado dorsal, mas adere pelo seu lado ventral à
parede uterina oposta. Nos primatas, a placentação
também é alantocoriônica, mas, nesse caso, a
vesícula alantoica é extremamente reduzida,
porém seu tecido mesodérmico encaminha os
vasos sanguíneos fetais em direção ao mesoderma
do córion. Nos roedores, encontra-se uma
característica especial sobre a placentação. O
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PROFESSOR HUGO – AULA 06

Da Terceira à Oitava Semana – Período


Embrionário
INTRODUÇÃO
O período embrionário ou de
organogênese estende-se da terceira à oitava
semana do desenvolvimento e é quando cada um
dos três folhetos embrionários, o ectoderma, o
mesoderma e o endoderma, dá origem a vários
tecidos e órgãos específicos. Ao fim do período
embrionário, por volta do final do segundo mês, a
maioria dos sistemas orgânicos se estabeleceu,
tornando reconhecíveis as principais
características externas do corpo.
DERIVADOS DO FOLHETO
EMBRIONÁRIO ECTODÉRMICO Regulação molecular da indução neural.
No início da terceira semana do A regulação positiva da sinalização do fator de
desenvolvimento, o folheto embrionário crescimento do fibroblasto (FGF, do inglês
ectodérmico assume a forma de disco, mais largo fibroblast growth factor) associada à inibição da
na região cefálica que na região caudal. O atividade da proteína morfogenética óssea 4
aparecimento da notocorda e do mesoderma (BMP4, do inglês boné morphogenetic protein 4),
precordal induz o espessamento do ectoderma um membro da família do fator de
sobrejacente e a formação da placa neural. As transformação do crescimento β (TGF- β)
células da placa formam o neuroectoderma, e sua responsável pela ventralização do ectoderma e do
indução representa o evento inicial do processo de mesoderma, promovem a indução da placa neural.
neurulação. A sinalização de FGF parece levar à ativação de
genes que promovem o desenvolvimento neural
por mecanismos ainda não completamente
elucidados, enquanto reprime a transcrição de
BMP e aumenta a expressão de CHORDIN e
NOGGIN, inibidores da atividade de BMP. Na
presença de BMP4, que permeia o mesoderma e o
ectoderma do embrião na fase da gastrulação, o
Giovanna Andrade Fernandes
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ectoderma é induzido a formar a epiderme


enquanto o mesoderma forma os mesodermas
intermediário e lateral. Se o ectoderma for
protegido da exposição à BMP, irá diferenciar-se
em tecido neural. A secreção das moléculas
noggin, chordin e follistatin inativa a BMP.
Essas proteínas estão presentes no organizador (nó
primitivo), na notocorda e no mesoderma
precordal. Elas induzem a diferenciação do
ectoderma neural por intermédio da inibição de
BMP e fazem com que o mesoderma se
transforme em notocorda e mesoderma paraxial
(dorsalização do mesoderma), entretanto, esses
indutores neurais induzem apenas os tecidos
neurais do prosencéfalo e do mesencéfalo. A
indução das estruturas caudais da placa neural
(rombencéfalo e medula espinal) depende de duas
proteínas solúveis, WNT3a e FGF.
Neurulação. A neurulação é o processo
pelo qual a placa neural forma o tubo neural. Um
dos eventos principais desse processo é o
alongamento da placa neural e do eixo do corpo
pelo fenômeno da extensão convergente, por meio
do qual há um movimento lateral a medial das
células no plano do ectoderma e do mesoderma.
Conforme a placa neural é alongada, suas
extremidades laterais elevam-se para formar as
pregas neurais, enquanto a região média
Células da crista neural. Conforme as
deprimida forma o sulco neural. Gradualmente,
pregas neurais se elevam e se fundem, as células
as pregas neurais se aproximam uma da outra na
na borda lateral da crista do neuroectoderma
linha média, onde se fundem. A fusão começa na
começam a se dissociar de suas vizinhas. Essa
região cervical (quinto somito) e continua cranial
população celular, a crista neural, sofrerá uma
e caudalmente. Como resultado, forma-se o tubo
transição epiteliomesenquimal à medida que
neural. Até que a fusão esteja completa, as
deixar o neuroectoderma por meio da migração e
extremidades cefálica e caudal do tubo neural se
deslocamento ativo e penetrar o mesoderma
comunicam com a cavidade amniótica pelos
subjacente. (Mesoderma se refere às células
neuróporos anterior (cranial) e posterior
derivadas do epiblasto e dos tecidos
(caudal), respectivamente. O fechamento do
extraembrionários. Mesênquima se refere ao
neuróporo cranial ocorre aproximadamente no
tecido conjuntivo organizado frouxamente
vigésimo quinto dia (estágio de 18 a 20 somitos),
independentemente de sua origem.) As células da
enquanto o neuróporo posterior se fecha no
crista neural da região do tronco deixam o
vigésimo oitavo dia (estágio de 25 somitos).
neurectoderma após o fechamento do tubo neural
e migram ao longo de duas vias: (1) uma via
dorsal através da derme, de onde adentram o
ectoderma para dar origem aos melanócitos da
pele e dos folículos pilosos; e (2) uma via ventral
através da metade anterior de cada somito para se
tornarem gânglios sensoriais, neurônios
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simpáticos e entéricos, células de Schwann e juncional. Concentrações intermediárias de BMP


células da medula suprarrenal. Na região são encontradas nessa região limítrofe em
cranial, as células da crista neural também se comparação com a região da placa neural, cujas
formam e migram das pregas da crista neural, células estão expostas a níveis muito baixos de
deixando o tubo neural antes de seu fechamento. BMP, e com as células do ectoderma superficial,
Essas células contribuem para a formação do expostas a níveis muito mais altos. As proteínas
esqueleto craniofacial, dos neurônios dos noggin e chordin regulam essas concentrações
gânglios craniais, das células gliais, de agindo como inibidores de BMP. As
melanócitos e de outros tipos celulares. As células concentrações intermediárias de BMP, junto com
da crista neural também são fundamentais, as proteínas FGF e WNT, induzem PAX3 e outros
contribuem para a formação de muitos órgãos e fatores de transcrição que “especificam” a borda
tecidos, e são, muitas vezes, também chamadas de da placa neural. Por sua vez, esses fatores de
quarto folheto embrionário. Evolutivamente, transcrição induzem uma segunda onda de fatores
essas células apareceram no início do de transcrição, incluindo SNAIL e FOXD3, que
desenvolvimento dos vertebrados e se expandiram especificam células como sendo da crista neural, e
extensivamente nesse grupo pelo aperfeiçoamento SLUG, que promove a migração da crista neural a
do estilo de vida predatório. partir do neuroectoderma. Assim, o destino de
todo o folheto ectodérmico depende das
concentrações de BMP: altos níveis induzem a
formação da epiderme; níveis intermediários no
limite da placa neural e no ectoderma superficial
induzem a crista neural; e concentrações muito
baixas promovem a formação do ectoderma
neural. BMP, outros membros da família TGF-β e
FGF regulam a migração celular da crista neural,
sua proliferação e diferenciação.
Em termos gerais, o folheto embrionário
dá origem a órgãos e estruturas que mantêm
contato com o mundo externo:
 Sistema nervoso central.
 Sistema nervoso periférico.
 Epitélio sensorial do ouvido, do nariz e do
olho.
 Epiderme, incluindo o cabelo e as unhas.
Além disso, ele dá origem:
 Às glândulas subcutâneas.
 Às glândulas mamárias.
 À glândula hipófise.
 Ao esmalte dos dentes.
DERIVADOS DO FOLHETO
EMBRIONÁRIO MESODÉRMICO
Regulação molecular da indução da Inicialmente, as células do folheto
crista neural. A indução das células da crista mesodérmico formam uma lâmina fina de tecido
neural requer interação da placa neural e do ligado frouxamente de cada lado da linha média.
ectoderma superficial (epiderme) na borda Entretanto, por volta do décimo sétimo dia, as
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células próximas da linha média formam uma somitômeros, que aparecem primeiramente na
placa espessa de tecido, conhecida como região cefálica do embrião. Sua formação ocorre
mesoderma paraxial. Mais lateralmente, a na direção cefalocaudal. Cada somitômero
camada mesodérmica permanece fina e é consiste em células mesodérmicas organizadas em
conhecida como placa lateral. Com o espirais concêntricas ao redor do centro da
aparecimento e a coalescência das cavidades unidade. A partir da região occipital, os
intercelulares na placa lateral, esse tecido se somitômeros se organizam em somitos,
divide em duas camadas: caudalmente. O primeiro par de somitos surge na
região occipital do embrião aproximadamente no
 Uma camada contínua com o mesoderma
vigésimo dia do desenvolvimento. Daí em diante,
cobrindo o âmnio, conhecida como aparecem novos somitos na sequência
camada mesodérmica somática ou craniocaudal a uma taxa de aproximadamente três
parietal. pares por dia, até que, no final da quinta semana,
 Uma camada contínua com o mesoderma existam 42 a 44 pares. Há quatro pares occipitais,
cobrindo a vesícula vitelínica, conhecida oito cervicais, doze torácicos, cinco lombares,
como camada mesodérmica visceral ou cinco sacrais e oito a dez coccígeos. Como os
esplâncnica. somitos são especificados com periodicidade, a
Juntas, essas cavidades revestem uma idade do embrião pode ser determinada com
cavidade recentemente formada, a cavidade precisão durante esse período embrionário pela
intraembrionária, que é contínua com a cavidade contagem deles.
extraembrionária em cada lado do embrião. O
mesoderma intermediário conecta o mesoderma
paraxial ao da placa lateral.

Regulação molecular da formação dos


somitos. A formação dos somitos segmentados a
partir do mesoderma pré-somítico (paraxial)
depende do relógio de segmentação estabelecido
pela expressão cíclica de genes específicos. Os
genes cíclicos incluem membros das vias de
sinalização NOTCH e WNT que são expressos em
um padrão oscilatório no mesoderma pré-
Mesoderma paraxial. No início da somático. Nesse mecanismo, a proteína Notch se
terceira semana, o mesoderma paraxial começa a acumula no mesoderma pré-somítico destinado a
se organizar em segmentos conhecidos como formar o próximo somito e, então, diminui
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conforme o somito se define. O aumento da fazendo com que ele inicie a expressão do gene
proteína Notch ativa outros genes de padronização específico dos músculos MYF5 e forme os
da segmentação que criam o somito. precursores musculares primaxiais. A interação
entre a proteína inibitória BMP4 (e provavelmente
Diferenciação somítica. Quando os
FGF) do mesoderma lateral e os produtos de
somitos se formam primeiramente a partir do
WNT ativadores da epiderme direciona a porção
mesoderma pré-somítico, eles existem como uma
dorsolateral do somito a expressar outro gene
esfera de células mesodérmicas (semelhantes a
muscular específico, MYOD, e a formar os
fibroblastos). Essas células sofrem um processo de
precursores musculares primaxiais e abaxiais. A
epitelização e se dispõem em um formato de
porção média do epitélio dorsal do somito é
rosca ao redor de um pequeno lúmen. Por volta do
direcionada pela neurotrofina 3 (NT-3),
início da quarta semana, as células nas paredes
secretada pela região dorsal do tubo neural, para
ventral e medial do somito perdem suas
formar a derme.
características epiteliais, tornam-se mesenquimais
novamente (com formato de fibroblasto) e mudam
de posição, cercando o tubo neural e a notocorda.
As células nas bordas dorsomedial e ventrolateral
da região do somito formam os precursores das
células musculares, enquanto as células entre
esses dois grupos formam o dermátomo. As
células de ambos os grupos musculares
precursores tornam-se mesenquimais novamente e
migram abaixo do dermátomo para criar o Mesoderma intermediário. O mesoderma
dermomiótomo. intermediário, que conecta temporariamente o
mesoderma paraxial à placa lateral, diferencia-se
em estruturas urogenitais. Nas região cervical e
torácica superior, ele dá origem a grupos celulares
fragmentares (futuros nefrótomos), enquanto,
mais caudalmente, forma massa tecidual não
segmentada, o cordão nefrogênico.
Mesoderma lateral. O mesoderma
lateral divide-se nas camadas parietal (somática)
e visceral (esplâncnica), que revestem a cavidade
intraembrionária e recobrem os órgãos,
Cada miótomo e cada dermátomo retém respectivamente. O mesoderma da camada
sua inervação a partir de seu segmento original, parietal, junto com o ectoderma sobrejacente,
não importando para onde as células migrem. forma as pregas da parede corporal lateral, que,
Cada miótomo e cada dermátomo também tem seu junto com as dobraduras da cabeça (cefálica) e da
próprio componente nervoso segmentar. cauda (caudal), fecham a parede corporal ventral.
A camada parietal do mesoderma lateral dá
Regulação molecular da diferenciação origem, então, à derme da pele na parede corporal
dos somitos. Os sinais para a diferenciação do e nos membros, aos ossos e ao tecido conjuntivo
somito surgem das estruturas circunjacentes, dos membros e ao esterno. A camada visceral do
incluindo a notocorda, o tubo neural, a epiderme e mesoderma lateral, junto com o endoderma
o mesoderma lateral. A expressão de PAX3, embrionário, forma a parede do tubo intestinal. As
regulada pelas proteínas WNT do tubo neural células mesodérmicas da camada parietal que
dorsal, marca a região do dermomiótomo do circundam a cavidade intraembrionária formam as
somito. As proteínas WNT do tubo neural dorsal membranas mesoteliais ou membranas serosas,
têm como alvo a porção dorsomedial do somito,
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que revestem as cavidades peritoneal, pleural e periféricos se diferenciam em angioblastos, os


pericárdica e secretam fluidos serosos. precursores dos vasos sanguíneos.
Uma vez estabelecido um leito capilar
primário pelo processo de vaculogênese, que
inclui a formação da aorta dorsal e das veias
Sangue e vasos sanguíneos. As células cardinais, a angiogênese adiciona vasculatura a
sanguíneas e os vasos sanguíneos também surgem esses vasos e ramifica os novos. A especificação
do mesoderma. Os vasos sanguíneos se formam de das artérias, das veias e dos vasos do sistema
duas maneiras: por vasculogênese, por meio da linfático ocorre logo após a indução dos
qual os vasos surgem de ilhotas sanguíneas, e por angioblastos. Além de especificar as artérias, a
angiogênese, que envolve a ramificação a partir expressão de EPHRINB2 suprime o destino
de vasos já existentes. As primeiras ilhotas celular venoso. A sinalização NOTCH também
sanguíneas aparecem no mesoderma que cerca a aumenta a expressão de EPHB4, um gene
parede da vesícula vitelínica na terceira semana do específico de veias, embora não esteja claro como
desenvolvimento e, um pouco depois, no esse e outros genes especificam o
mesoderma lateral e em outras regiões. Essas desenvolvimento venoso. Por outro lado, PROXI,
ilhotas surgem das células mesodérmicas que são um fator de transcrição contendo homeodomínio,
induzidas a originar hemangioblastos, um parece ser o gene mestre para a diferenciação de
precursor comum para a formação dos vasos e das vasos linfáticos. O crescimento de vasos é
células sanguíneas. padronizado, não aleatório e parece envolver a
orientação de fatores semelhantes aos empregados
pelo sistema nervoso.
DERIVADOS DO FOLHETO
EMBRIONÁRIO ENDODÉRMICO
O sistema digestório é o principal sistema
orgânico derivado do folheto embrionário
endodérmico, o qual recobre a superfície ventral
Embora as primeiras células sanguíneas do embrião e forma o teto da vesícula vitelínica.
surjam nas ilhotas sanguíneas, na parede da Entretanto, com o desenvolvimento e o
vesícula vitelínica, essa população é transitória. crescimento das vesículas cefálicas, o disco
As células-tronco hematopoéticas definitivas são embrionário começa a ficar saliente na cavidade
derivadas do mesoderma que circunda a aorta em amniótica. O alongamento do tubo neural faz com
um local próximo ao rim metanéfrico em que o embrião se curve na posição fetal à medida
desenvolvimento, chamado de região AGM que as regiões apical e caudal (dobraduras) se
(aorta-gônada-mesonefros). Essas células movimentam ventralmente. Ao mesmo tempo,
colonizam o fígado, que se torna o principal órgão formam-se duas dobraduras na parede corporal
hematopoético do embrião e do feto entre o lateral, que também se movem ventralmente para
segundo e o sétimo mês de desenvolvimento. As fechar a parede corporal ventral. Conforme a
células-tronco do fígado colonizam a medula cabeça, a cauda e as duas dobraduras laterais se
óssea, o tecido definitivo de formação de sangue, movem ventralmente, elas puxam o âmnio para
no sétimo mês da gestação, dali em diante, o baixo com elas, de modo que o embrião fique
fígado perde sua função formadora de sangue. dentro da cavidade amniótica. A parede corporal
Regulação molecular da formação de ventral se fecha completamente, exceto pela
vasos sanguíneos. Os hemangioblastos no centro região umbilical, em que a conexão do bulbo com
das ilhotas sanguíneas formam as células-tronco a vesícula vitelínica se mantém.
hematopoéticas, as precursoras de todas as
células sanguíneas, enquanto os hemangioblastos
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aberta entre a cavidade oral e o intestino


primitivo. O intestino posterior também termina
temporariamente em uma membrana
ectoendodérmica, a membrana cloacal, que
separa a porção superior do canal anal (derivada
do endoderma) da porção inferior, chamada de
proctodeu, formada por uma depressão
invaginada alinhada com o ectoderma. A
membrana se rompe na sétima semana para criar
uma abertura para o ânus.
Outro resultado importante do crescimento
cefalocaudal e do dobramento lateral é a
incorporação parcial do alantoide dentro do corpo
do embrião, onde ele forma a cloaca. A porção
distal do alantoide permanece no pedúnculo
embrionário. Por volta da quinta semana, o ducto
da vesícula vitelínica, o alantoide e os vasos
umbilicais estão restritos à região umbilical.
O papel da vesícula vitelínica não está
claro. Ela pode funcionar como um órgão nutritivo
durante os estágios iniciais do desenvolvimento
antes do estabelecimento dos vasos sanguíneos e
contribui para algumas das primeiras células
sanguíneas, embora esse papel seja muito
transitório.
Assim, o folheto embrionário endodérmico
Como resultado do crescimento forma inicialmente o revestimento epitelial do
cefalocaudal e do fechamento das dobraduras da intestino primitivo e as porções intraembrionárias
parede corporal lateral, uma porção maior do do alantoide e do ducto vitelino. Com a
folheto embrionário endodérmico é incorporada continuação do desenvolvimento, o endoderma dá
continuamente no corpo do embrião para formar o origem:
tubo intestinal. O tubo é dividido em três regiões:
 Ao revestimento epitelial do sistema
intestino anterior, intestino médio e intestino
respiratório.
posterior. O intestino médio se comunica com a
 Ao parênquima da tireoide, das
vesícula vitelínica por intermédio de um
paratireoides, do fígado e do pâncreas.
pedúnculo largo, o ducto vitelino (vesícula
 Ao estroma reticular das tonsilas e ao timo.
vitelínica). Esse ducto é largo inicialmente,
porém, com o crescimento adicional do embrião,  Ao revestimento epitelial da bexiga
torna-se estreito e muito mais longo. urinária e da uretra.
 Ao revestimento epitelial da cavidade do
Em sua porção cefálica, o intestino anterior tímpano e à tuba auditiva.
é ligado temporariamente por uma membrana
ectoendodérmica chamada de membrana
orofaríngea, que separa o estomodeu (cavidade
oral primitiva derivada do ectoderma) da faringe
(parte do intestino anterior derivada do
endoderma). Na quarta semana, a membrana
orofaríngea se rompe, estabelecendo uma conexão
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PADRONIZAÇÃO DO EIXO
ANTEROPOSTERIOR – REGULAÇÃO
POR GENES HOMEOBOX
Os genes homeobox são conhecidos por
seu homeodomínio, um segmento característico
de ligação ao DNA, o homeobox. Eles codificam
fatores de transcrição que ativam cascatas de
genes capazes de regular fenômenos como a
segmentação e a formação do eixo. Muitos genes
homeobox são agrupados em clusters
homeóticos, embora outros genes também tenham
o homeodomínio. Um cluster de genes
importantes para a especificação do eixo
craniocaudal é o complexo gênico homeótico
Hom-C na Drosophila. Esses genes, que
englobam as classes de genes homeóticos APARÊNCIA EXTERNA DURANTE O
Antennapedia e Bithorax, estão organizados em SEGUNDO MÊS
um único cromossomo como uma unidade
funcional. Assim, os genes que especificam as No final da quarta semana, quando o
estruturas mais craniais ficam na extremidade 3’ embrião tem aproximadamente 28 somitos, as
do DNA e são expressos primeiros, os genes que principais características externas são os somitos e
controlam o desenvolvimento posterior são os arcos faríngeos. A idade do embrião, portanto,
expressos sequencialmente e são encontrados de em geral é expressa em somitos. Como a
modo crescente na extremidade 5’. Esses genes contagem dos somitos fica difícil durante o
são conservados em seres humanos, e há quatro segundo mês do desenvolvimento, a idade do
cópias: HOXA, HOXB, HOXC e HOXD, que são embrião é indicada pelo comprimento
dispostos e expressos como na Drosophila. Dessa craniocaudal (CCC), expresso em milímetros. O
maneira, cada cluster fica em um cromossomo CCC é medido do vértice do crânio até o ponto
distinto, e os genes em cada grupo são numerados médio entre os ápices das nádegas.
de um a treze. Os genes com o mesmo número,
mas pertencentes a clusters diferentes, formam um
grupo parálogo, como HOXA4, HOXB4, HOXC4
e HOXD4. O padrão de expressão desses genes e a
evidência em experimentos de nocaute, nos quais
são gerados camundongos sem um ou mais desses
genes, sustentam a hipótese de que desempenham
um papel na padronização craniocaudal dos Durante o segundo mês, a aparência
derivados dos três folhetos embrionários. externa do embrião se altera por aumento do
tamanho da cabeça e pela formação dos membros,
face, orelhas, nariz e olhos. No início da quinta
semana, os membros anteriores e posteriores
aparecem como brotos em formato de remo. Os
primeiros estão localizados dorsalmente à
tumefação pericárdica no nível do quarto somito
cervical até o primeiro torácico, o que explica sua
inervação pelo plexo braquial. Pouco depois, os
brotos dos membros inferiores aparecem
caudalmente à ligação do pedúnculo umbilical no
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nível dos somitos lombar e sacral superior. Com a


continuação do crescimento, as porções terminais
dos botões se achatam, e uma constrição as separa
do segmento proximal, mais cilíndrico. Logo
aparecem quatro sulcos radiais que separam cinco
áreas levemente mais espessas na porção distal
dos brotos, prenunciando a formação dos dedos.

RESUMO
Durante o período embrionário, que se
estende da terceira à oitava semana do
desenvolvimento, cada um dos três folhetos
embrionários (ectoderma, mesoderma e
Esses sulcos, conhecidos como raios, endoderma) dá origem a seus próprios tecidos e
aparecem primeiramente na região da mão e um sistemas orgânicos. Como resultado da formação
pouco depois no pé, já que os membros superiores orgânica, estabelecem-se as principais
têm o desenvolvimento um pouco mais adiantado características do formato corporal.
do que o dos membros inferiores. Enquanto os
dedos das mãos e dos pés estão se formando, uma O folheto embrionário ectodérmico dá
segunda constrição divide a porção proximal dos origem aos órgãos e às estruturas que mantêm
brotos em dois segmentos e podem ser contato com o mundo externo:
reconhecidas as três partes características das
 Sistema nervoso central.
extremidades adultas.
 Sistema nervoso periférico.
 Epitélio sensorial da orelha, do nariz e dos
olhos.
 Pele, incluindo pelos, cabelos, unhas.
 Glândulas hipófise, mamárias e
sudoríparas, bem como o esmalte dos
dentes.
A indução da placa neural é regulada pela
inativação do fator de crescimento BMP4. Na
região cranial, a inativação é causada por noggin,
chordin e follistatin secretados pelo nó, pela
notocorda e pelo mesoderma precordal. Na
ausência de inativação, BMP4 faz com que o
ectoderma se transforme em epiderme e que o
mesoderma ventralize para formar o mesoderma
intermediário e da placa lateral.
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Os componentes importantes do folheto também forma duas dobraduras nas paredes


embrionário mesodérmico são os mesodermas corporais laterais que crescem ventralmente e
paraxial, intermediário e da placa lateral. O fecham a parede corporal ventral. Como resultado
mesoderma paraxial forma os somitômeros, que do crescimento e da dobradura, o âmnio é
dão origem ao mesênquima da cabeça e se tracionado ventralmente, e o embrião se localiza
organizam em somitos nos segmentos occipital e na cavidade amniótica. A conexão com a vesícula
caudal. Os somitos originam o miótomo (tecido vitelínica e a placenta é mantida por intermédio do
muscular), o esclerótomo (cartilagem e osso) e o ducto vitelino e do cordão umbilical,
dermátomo (derme da pele), e todos eles são respectivamente.
tecidos de sustentação do corpo. Os sinais para a
diferenciação dos somitos são derivados das
estruturas circunjacentes, que incluem a
notocorda, o tubo neural e a epiderme.
Duas regiões formadoras de músculo se
diferenciam. Uma é induzida na região
dorsomedial do somito pelas proteínas WNT
secretadas pela porção dorsal do tubo neural.
Outra é induzida na região ventrolateral do somito
por uma combinação de BMP4 e FGF, secretados
pelo mesoderma lateral, e pelas proteínas WNT,
secretadas pelo mesoderma sobrejacente.
O folheto embrionário endodérmico
forma o revestimento epitelial do sistema
digestório, do sistema respiratório e da bexiga
urinária. Também forma o parênquima da
tireoide, as paratireoides, o fígado e o pâncreas.
Finalmente, o revestimento epitelial da cavidade
do tímpano e da tuba auditiva se origina da
camada endodérmica.
A padronizaão craniocaudal do eixo
embrionário é controlada por genes homeobox.
Esses genes, que são conservados desde a
Drosophila, estão dispostos em quatro clusters,
HOXA, HOXB, HOXC e HOXD, em quatro
cromossomos diferentes. Os genes na extremidade
3’ do cromossomo controlam o desenvolvimento
de estruturas mais craniais, aqueles na
extremidade 5’ regulam a diferenciação de
estruturas mais posteriores. Juntos, eles regulam a
padronização do rombencéfalo e do eixo do
embrião.
Como resultado da formação dos sistemas
orgânicos e do crescimento rápido do sistema
nervoso central, o disco embrionário inicialmente
plano começa a se alongar e a formar regiões
caudal e cranial (dobraduras) que fazem com que
o embrião se curve na posição fetal. O embrião
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PROFESSOR HUGO – AULA 07

Aparelho Branquial: A Formação da Face e do


Pescoço
APARELHO BRANQUIAL
No início da quarta semana, a porção
cranial do intestino cefálico (região
correspondente à futura faringe) apresenta-se
comprimida dorsoventralmente. Nessa época,
surge o desenvolvimento dos arcos branquiais à
medida que células da crista neural migram para
a região da cabeça e do pescoço. As células da Os arcos branquiais são, portanto,
crista neural, portanto de origem ectodérmica, condensações que formam barras e crescem nas
envolvem a parte central do mesênquima dos paredes laterais e no piso da faringe para
arcos branquiais. Essa migração e o posterior estabelecer a futura região do pescoço do embrião.
intumescimento demarcam os arcos branquiais. O As condensações mesodérmicas dos arcos
mesênquima presente inicialmente nos arcos é de branquiais são separadas entre si externamente por
origem mesodérmica, e o derivado das células da sulcos branquiais e internamente por bolsas
crista neural, devido à sua origem, é chamado de branquiais que aparecem no decorrer da quarta e
ectomesênquima ou mesoectoderma. As células da quinta semana.
originadas da crista neural criarão estruturas
específicas, como a cartilagem de Meckel do O conjunto de arcos, sulcos, bolsas e
primeiro arco. membranas (região compreendida entre uma bolsa
e um sulco) branquiais constitui o aparelho
branquial.
Os sulcos são de localização externa e são
revestidos pelo ectoderma, e as bolsas, de
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localização interna, são revestidas do mesmo Os arcos branquiais se desenvolverão,


endoderma da faringe. O primeiro sulco e a contribuindo para a formação da face, do pescoço,
primeira bolsa seguem-se ao primeiro arco e assim da boca, das cavidades nasais, da faringe e da
sucessivamente, em direção craniocaudal. Cada laringe.
arco branquial desenvolve um eixo cartilaginoso,
um músculo e ainda um nervo e um vaso. O
mesênquima dos arcos branquiais também forma DESENVOLVIMENTO DA FACE
mioblastos, que originarão fibras musculares
esqueléticas. A formação da face deve-se
fundamentalmente ao desenvolvimento harmônico
Os mioblastos dos arcos branquiais do primeiro arco branquial e do processo
migram para diversas regiões da cabeça e do frontonasal.
pescoço, formando vários músculos, como os da
mastigação e da expressão facial. O primeiro arco subdivide-se em dois
processos: os processos maxilares (pares) e os
Os nervos que estão presentes nos arcos mandibulares (pares). A partir desses cinco
branquiais provêm diretamente do cérebro. Assim, processos (dois maxilares, dois mandibulares e o
o quinto nervo cranial (trigêmeo) supre a pele da frontonasal) inicia-se a formação da face no
face, derivada do primeiro arco branquial (nas decorrer da quarta semana de desenvolvimento.
suas subdivisões). O sétimo nervo cranial (nervo
facial) supre os músculos derivados do segundo
arco. O nono nervo cranial (nervo glossofaríngeo)
supre o terceiro arco que estará relacionado com a
faringe. O décimo nervo cranial (nervo vago)
supre os arcos branquiais restantes.
No homem, apenas quatro arcos branquiais
são bem visíveis ao exame morfológico externo. O
quinto é rudimentar e geralmente desaparece. O
sexto arco também é mal definido. Os arcos não
aparecem simultaneamente. Primeiro, aparecem os
mais craniais, e, à medida que estes se
desenvolvem, irão aparecendo os demais. No O processo frontonasal é oriundo da
homem, também não ocorrem o quinto e sexto proliferação do mesênquima ventral do
pares de sulcos e bolsas branquiais. Nota-se um prosencéfalo e da consequente flexão dessa parte
vestígio da quinta bolsa, mas ela é considerada mais cranial do tubo nervoso.
como um divertículo da quarta bolsa, e não Esses cinco primórdios delimitam o
propriamente uma bolsa independente. estomódio (boca primitiva) que está localizado
A região craniana do embrião humano de logo acima do saco vitelino e da eminência
quatro semanas assemelha-se um pouco a um cardáica. O processo frontonasal constitui o limite
estágio comparável ao embrião de peixe, devido à craniano, os processos maxilares, os limites
presença do aparelho branquial. Como nos peixes laterais, e os processos mandibulares, o limite
e nas larvas de anfíbios, esse aparelho dará origem caudal. Os processos mandibulares, muito
a um sistema de guelras para trocas de oxigênio e precocemente, fundem-se medialmente ainda na
gás carbônico, essa mesma denominação (sistema quarta semana. O desenvolvimento completo da
branquial) foi usada também. face ocorre entre a quinta e a oitava semana.
A formação do estomódio decorre de uma
depressão do ectoderma em forma de fenda larga.
O ectoblasto dessa região está fundido com o
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endoblasto do intestino anterior que termina em por uma fenda: o sulco nasolacrimal. Nessa
fundo cego. Essa membrana didérmica é época, como os processos maxilares estão
conhecida como membrana bucofaríngea. Sua crescendo em direção à linha média, os olhos
precoce regressão deve-se à falta de mesoderma (inicialmente laterais) começam a ser puxados
entre o ecto e o endoderma, faltando, para frente, indo mais tarde ocupar sua posição
consequentemente, a presença de vasos definitiva. Também se observa o início da
sanguíneos, acarretando sua degeneração. As formação da orelha externa, cujo meato auditivo
cavidades oral e nasal têm origem ectodérmica ou externo tem origem no primeiro sulco branquial.
endodérmica, conforme estejam situadas na frente Os processos maxilares fundem-se aos processos
ou atrás dessa membrana. nasais laterais na região da fenda nasolacrimal,
proporcionando uma continuidade entre a parede
A primeira parte da face a formar-se é a
lateral do nariz e a região superior da bochecha.
mandíbula, resultante da fusão na linha média dos
dois processos mandibulares. Como essa fusão é Os processos nasais medianos aproximam-
muito precoce, ainda na quarta semana, são raras se entre si e fundem-se na linha média, fusão que
as malformações observadas por fusão imperfeita resulta na formação do segmento intermaxilar. A
dos processos mandibulares. intermaxila é constituída por três componentes: (a)
componente labial, que formará o filtro do lábio
A região inferior do processo frontonasal,
superior; (b) componente maxilar, região do
no final da quarta semana, apresenta de cada lado
maxilar superior que conterá os quatro incisivos
espessamentos ectodérmicos ovalados, os
superiores; e (c) componente palatino, que
placódios nasais, que posteriormente vão
corresponderá ao palato primário.
diferenciar-se em derivados epiteliais sensitivos
(mucosa olfatória). Espessamentos similares Os processos maxilares continuam
formam-se acima dos processos maxilares, avançando para a linha média, porém são
originando os placódios do cristalino. O interceptados pelos processos nasais medianos.
mesoderma ao lado dos placódios olfatórios cresce Essas fusões ocorrem no período da sexta e sétima
e se eleva, sobrepondo-se a eles e assumindo uma semana.
forma de ferradura. Os bordos dessas elevações
As fossetas nasais estão agora muito mais
são chamados de processos nasais medianos e
aprofundadas e passam a formar as fossas nasais,
laterais. Os placódios olfatórios, então, passam a
que estão separadas entre si devido à persistência
situar-se em depressões nas fossetas nasais.
da parte profunda do processo frontonasal, o qual
Como o mesênquima dos processos medianos e
forma o septo nasal cartilaginoso. Os processos
laterais continua crescendo, as fossetas nasais
nasais laterais contribuem para a formação das
tornam-se aprofundadas e formam os sacos nasais
narinas. Os processos maxilares fundem-se pela
primitivos. Cada saco nasal fica em posição
sua outra extremidade com os processos
ventral ao encéfalo e estão separados inicialmente
mandibulares.
da cavidade oral pela membrana oronasal, cujo
rompimento ocorre muito cedo, deixando as Os lábios superiores apresentam dupla
cavidades oral e nasal em ampla comunicação. A origem. Lateralmente são formados pelos
separação das cavidades oral e nasal só ocorrerá processos maxilares, mas a parte central, a região
definitivamente com a formação do palato, correspondente ao filtro, origina-se da intermaxila,
quando o processo palatino primário e os isto é, a região da fusão dos processos nasais
processos palatinos laterais unir-se-ão entre si e medianos.
com o septo nasal. Os processos maxilares
crescem muito e aproximam-se na linha média Até o final da sexta semana, não existe
com os processos nasais medianos. uma separação entre lábios e gengiva. A separação
entre essas duas estruturas tem início quando um
Os processos maxilares, na quinta semana, espessamento ectodérmico começa a interpor-se
ainda estão separados dos processos nasais laterais entre elas, crescendo para dentro do mesênquima.
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Tal espessamento constitui a lâmina A fenda labial é a anormalidade congênita


labiogengival. A lâmina degenera-se em sua mais comum na face. As fendas labiais e palatinas
maior parte, originando o sulco labiogengival, que podem estar associadas, porém, são
acarretará a separação entre lábios e gengivas, etiologicamente diferentes. As fendas labiais
com exceção da região do freio. provêm da falta de fusão de massas mesenquimais
dos processos maxilares e dos processos nasais
O processo frontonasal dá origem à testa,
medianos. As fendas palatinas provêm da falta de
ao dorso e à ponta do nariz. As asas do nariz
fusão de massas mesenquimais dos processos
provêm dos processos nasais laterais.
palatinos.
DESENVOLVIMENTO DO PALATO DERIVADOS DOS ARCOS, DOS
A formação do palato deve-se aos SULCOS E DAS BOLSAS
primórdios palatinos primário (mediano) e BRANQUIAIS – DERIVADOS DOS
secundários (laterais). O processo palatino ARCOS BRANQUIAIS
primário ou mediano tem origem na intermaxila
que, por sua vez, se formou da fusão dos No mesênquima dos arcos branquiais,
processos nasais medianos. Esse processo, que formam-se uma cartilagem, um vaso e um
tem forma triangular, está entre as superfícies nervo. A partir desses elementos, será formada
internas dos processos maxilares em grande parte da face e estruturas do pescoço.
desenvolvimento. Ele será responsável pela região
DERIVADOS DOS ARCOS, DOS
do maxilar que conterá os quatro incisivos
superiores. O início do desenvolvimento do SULCOS E DAS BOLSAS
processo ocorre no final da quinta semana e BRANQUIAIS – DERIVADOS DO
corresponde à região anterior ao forame incisivo. PRIMEIRO ARCO BRANQUIAL
Os processos palatinos secundários (ou O primeiro arco precocemente se
laterais) têm origem nas faces internas dos subdivide nos processos maxilares e
processos maxilares. Inicialmente, crescem para mandibulares, processos esses relacionados com
baixo, estão pendurados ao lado da língua (até o a formação da face. O componente cartilaginoso
final da sétima semana). Depois, tornam-se do processo mandibular (conhecido como
horizontais, como duas prateleiras, e crescem na cartilagem de Meckel) deve-se à migração de
direção um do outro, para se fundirem no final da células da crista neural. Com o desenvolvimento,
décima semana, na linha média, atrás do forame a cartilagem de Meckel regride quase totalmente.
incisivo, formando o palato secundário. Ela dará origem, pela ossificação de suas
extremidades dorsais, apenas aos ossículos da
Os processos palatinos secundários
orelha média, o martelo e a bigorna. Sua porção
anteriormente se fundem com o palato primário
intermediária regredirá, e seu pericôndrio formará
(intermaxila) e ainda com o septo nasal, que
os ligamentos anterior do martelo e o
cresce inferiormente.
esfenomandibular. A porção ventral da cartilagem
A fusão dos processos que formarão o de Meckel vai regredindo, mas antes vai
palato ocorre em torno da 12ª semana. induzindo o mesênquima ao seu redor a
desenvolver uma ossificação intramembranosa,
A rafe palatina corresponde à linha de
formando, assim, secundariamente a mandíbula.
fusão dos processos palatinos secundários.
Como consequência da fusão final dos
processos palatinos, ficam delimitadas pelo palato
as cavidades nasais e a oral.
FENDAS LABIAIS E PALATINAS
Giovanna Andrade Fernandes
Biomedicina | 2022.2

BRANQUIAIS – DERIVADOS DO
TERCEIRO ARCO BRANQUIAL
A cartilagem do terceiro arco dá origem ao
corno maior e à parte inferior do corpo do osso
hióideo.
A musculatura desse arco origina o
músculo estilofaríngeo. A inervação provém do
nervo glossofaríngeo (IX). A parte da língua que
é derivada desse arco também é suprida por essa
inervação.

O mesênquima do côndilo mandibular DERIVADOS DOS ARCOS, DOS


transforma-se em cartilagem e, a partir do quinto SULCOS E DAS BOLSAS
mês fetal, já se nota um centro condilar de BRANQUIAIS – DERIVADOS DO
crescimento, o qual ocorre de maneira usual da QUARTO E DO SEXTO ARCOS
ossificação endocondral. O centro condilar é BRANQUIAIS
responsável pelo alongamento da mandíbula
durante os primeiros 10 anos. Essas cartilagens fundem-se para formar as
cartilagens da laringe: tireoide, cricoide,
A musculatura do primeiro arco, inervada aritenoide, corniculada e cuneiforme. A
pelo ramo mandibular e maxilar do nervo epiglote tem origem distinta: deriva-se da
trigêmeo (V), origina os músculos da mastigação, eminência hipobranquial, (que também contribui
o ventro anterior do digástrico e o tensor do para a formação da língua).
tímpano. Os ramos inervam também as mucosas
que recobrem as cavidades nasais do palato, da A musculatura do quarto arco origina o
boca e dois terços anteriores da língua. músculo cricotiteóideo e o constritor da faringe.

DERIVADOS DOS ARCOS, DOS O décimo nervo craniano (o vago) supre o


SULCOS E DAS BOLSAS quarto e o sexto arcos. Os músculos derivados do
quarto arco são inervados pelo ramo laríngeo
BRANQUIAIS – DERIVADOS DO
superior do vago. Os músculos intrínsecos da
SEGUNDO ARCO BRANQUIAL laringe são derivados do sexto arco e são
A cartilagem do segundo arco, ou arco inervados pelo ramo laríngeo recorrente do vago.
hióideo, é a cartilagem de Reichert. Sua
extremidade dorsal forma o estribo da orelha
média e a apófise estiloide do osso temporal. A
porção cartilaginosa entre a apófise estiloide e o
osso hióideo também regride, mas seu pericôndrio
forma o ligamento estiloide. A extremidade DERIVADOS DOS ARCOS, DOS
ventral da cartilagem de Reichert forma o corno
SULCOS E DAS BOLSAS
menor e a parte cranial do osso hióideo.
BRANQUIAIS – DERIVADOS DOS
Os músculos do arco hióideo são inervados SULCOS BRANQUIAIS
pelo nervo facial (VII) originando os músculos
estapédio, estilo-hióideo, ventre posterior do Dos sulcos branquiais somente o
digástrico e os da expressão facial. primeiro é persistente, originando o meato
acústico externo.
DERIVADOS DOS ARCOS, DOS
SULCOS E DAS BOLSAS
Giovanna Andrade Fernandes
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Dos sulcos branquiais visíveis o recesso tubotimpânico, que envolve os


externamente em um embrião de quatro a cinco ossículos da orelha média. A porção distal do
semanas, somente o primeiro é persistente, recesso, mais dilatada, entra em contato com o
formando o meato acústico externo. Os demais primeiro sulco e contribuirá para a formação da
serão obliterados pelo crescimento caudal membrana timpânica.
progressivo do segundo arco sobre eles. Enquanto
O alongamento da porção proximal estreita
esse crescimento ocorre, o terceiro e o quarto arco
formará o conduto faringotimpânico, que
encontram-se parcialmente encobertos pela
mantém o recesso tubotimpânico conectado à
expansão do segundo arco. O espaço existente,
faringe.
enquanto esse crescimento não se completa, é
chamado de seio cervical. Esse espaço será DERIVADOS DOS ARCOS, DOS
completamente obliterado posteriormente, ficando SULCOS E DAS BOLSAS
a região do pescoço com um aspecto liso, BRANQUIAIS – SEGUNDA BOLSA
revestido por epiderme originada apenas do
segundo arco. O endoderma dessa bolsa cresce para o
interior do mesênquima e fragmenta-se,
originando o revestimento epitelial e as criptas
tonsilares palatinas. Em torno da segunda
semana, o mesênquima, nessa região, diferencia-
se em tecido linfoide.
DERIVADOS DOS ARCOS, DOS
SULCOS E DAS BOLSAS
BRANQUIAIS – TERCEIRA BOLSA
Apresenta uma porção bulbar dorsal e uma
porção alongada e oca ventral. A porção bulbar
prolifera e dá origem às paratireoides III
Enquanto o segundo arco está se (paratireoides inferiores), sendo a porção alongada
estendendo, forma também a bainha do músculo preenchida por epitélio que prolifera e origina o
platisma. No final de seu crescimento, o segundo timo. Tanto a parte bulbar quanto a alongada
arco funde-se com uma crista mesodérmica da perdem a conexão com a faringe e migram
eminência cardíaca. caudalmente. As paratireoides separam-se do timo
DERIVADOS DOS ARCOS, DOS e vão se situar dorsalmente na tiroide, que também
SULCOS E DAS BOLSAS está se formando nessa época. Os dois primórdios
do timo irão fundir-se na linha média, continuarão
BRANQUIAIS – DERIVADOS DAS
migrando caudalmente e logo ocuparão sua
BOLSAS FARINGEAIS posição definitiva no tórax, acima do coração. As
Várias estruturas do pescoço são derivadas células endodérmicas originais formam as células
das bolsas faringeais. reticulares e os corpúsculos de Hassall. O tecido
linfoide deriva do mesoderma.

DERIVADOS DOS ARCOS, DOS


SULCOS E DAS BOLSAS
BRANQUIAIS – PRIMEIRA BOLSA DERIVADOS DOS ARCOS, DOS
SULCOS E DAS BOLSAS
A porção da bolsa é gradualmente
obliterada pelo desenvolvimento da língua. Sua
BRANQUIAIS – QUARTA BOLSA
porção lateral desenvolve uma evaginação lateral,
Giovanna Andrade Fernandes
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Como no caso da terceira bolsa, forma Normalmente, quando o segundo arco


uma porção bulbar dorsal e outra ventral alongada, branquial está se expandindo sobre os demais
perdendo também suas conexões com a faringe. A caudais, o pescoço vai adquirindo uma aparência
parte dorsal originará as paratireoides IV lisa, e o segundo, o terceiro e o quarto sulcos
(paratireoides superiores), que se localizarão na perdem sua conexão com o exterior.
parte dorsal da tireoide, superiormente às
Caso essa obliteração não se efetue por
paratireoides III. Isso acontece porque a migração
completo, persiste a abertura do seio cervical
das paratireoides III é maior que a das
externamente no terço inferior do pescoço. Com
paratireoides da quarta bolsa. A porção alongada
frequência, há saída de muco pelo orifício.
ventral originará o corpo último branquial (pois
deriva da última bolsa), que se funde com a Quando ocorre a persistência da segunda
glândula tireoide e, posteriormente, originará as bolsa faríngea, seios branquiais internos podem
células parafoliculares ou células C da glândula abrir-se nas criptas das tonsilas palatinas.
tireoide (células que produzem o hormônio
calcitonina). Em casos mais abrangentes, há
persistência de um canal que comunica a parede
DERIVADOS DOS ARCOS, DOS do pescoço com a faringe. Tal anormalidade é
SULCOS E DAS BOLSAS chamada de fístula branquial e decorre de
BRANQUIAIS – QUINTA BOLSA persistência do segundo sulco e da segunda bolsa
branquial.
Quando se forma, é rudimentar e fará parte
da quarta bolsa. É possível ocorrer, ainda, a persistência de
partes do seio cervical ou do segundo sulco
MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS branquial, formando cistos. Podem estar
RELACIONADAS AO associados aos seios cervicais ou bolsas
DESENVOLVIMENTO DO APARELHO branquiais, drenando através deles, mas
BRANQUIAL – SÍNDROME DO frequentemente se encontram livres no pescoço.
PRIMEIRO ARCO MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS
RELACIONADAS AO
Essa síndrome está relacionada a uma
falha na migração de células da crista neural. DESENVOLVIMENTO DO APARELHO
BRANQUIAL – VESTÍGIOS
Uma migração deficiente de células da
BRANQUIAIS
crista neural para o primeiro arco pode resultar
em comprometimento de estruturas, cujo Vestígios branquiais são remanescentes
desenvolvimento está relacionado ao primeiro cartilaginosos e ósseos que podem aparecer sob a
arco. Essa síndrome manifesta-se em pele, nas porções laterais do pescoço.
malformações associadas aos olhos, às orelhas, às
mandíbulas e ao palato. MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS
RELACIONADAS AO
MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS DESENVOLVIMENTO DO APARELHO
RELACIONADAS AO BRANQUIAL – MALFORMAÇÕES
DESENVOLVIMENTO DO APARELHO RELACIONADAS AO
BRANQUIAL – MALFORMAÇÕES DESENVOLVIMENTO DAS BOLSAS
RELACIONADAS AOS SULCOS FARINGEAIS
BRANQUIAIS
Deficiências relacionadas ao
Essas malformações estão relacionadas desenvolvimento das bolsas faringeais podem
à deficiência no crescimento do segundo arco. comprometer a formação do timo e das
paratireoides.
Giovanna Andrade Fernandes
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Enquanto o timo está migrando para a sua O divertículo tireóideo, originalmente


posição final, no tórax, sua porção caudal torna-se único, logo se divide em dois lobos unidos entre si
delgada e alongada, podendo, por isso, por um istmo.
ocasionalmente fragmentar-se. Tais fragmentos,
Com a regressão do ducto tireoglosso, a
geralmente, degeneram, mas podem persistir
tireoide perde sua conexão com a língua. Se a
incluídos na tireoide ou isolados em qualquer
regressão não for total, poderão se formar cistos
ponto da trajetória do timo.
do ducto tireoglosso no decorrer do seu trajeto.
Casos mais complexos, resultantes de
Como a tireoide tem de percorrer um
grandes deficiências no desenvolvimento da
trajeto relativamente longo até a sua posição
terceira e da quarta bolsa faringeais, podem
definitiva, pode resultar na formação de um tecido
resultar na ausência de timo e de paratireoides.
tireóideo acessório, proveniente de partes
Outras malformações da face estão separadas da glândula principal, em qualquer
relacionadas a essa deficiência. Malformações ponto do trajeto. A não migração da glândula
relacionadas às glândulas paratireoides dizem tireoide, resultando em uma tireoide lingual, é
respeito às suas possíveis localizações ectópicas muito rara. Uma descida incompleta, resultando
derivadas de qualquer desvio de suas migrações. em uma tireoide acima ou logo abaixo do osso
A presença de glândulas paratireoides hióideo, também é rara.
supranumerárias ou ausência de uma delas é
resultado de divisões dos primórdios originais ou
ASSOALHO DA FARINGE –
atrofia de um deles no início do desenvolvimento. DESENVOLVIMENTO DA LÍNGUA
ASSOALHO DA FARINGE – A parte anterior da língua é formada a
TIREOIDE partir de duas saliências laterais e uma
mediana (o tubérculo ímpar) provenientes do
A tireoide tem sua origem no assoalho primeiro arco branquial. A porção posterior da
da faringe. Nesse local, está ocorrendo também língua forma-se a partir de condensações
a formação da língua. A tireoide começa a mesodérmicas do segundo, terceiro e quarto
migrar para o pescoço a partir do vértice do V arcos branquiais.
lingual.
A língua começa a formar-se no final da
No assoalho da faringe primitiva, em torno quarta semana, na porção ventral dos arcos
do 24º dia de desenvolvimento, o endoderma branquiais. Os primeiros indícios são três
começa a se proliferar, formando o divertículo saliências resultantes da proliferação do
tireóideo, que começa a insinuar-se em direção mesoderma da porção ventral do primeiro arco
inferior. Seu local de origem fica entre o mandibular, a saber: duas saliências linguais
tubérculo ímpar e a cópula (estruturas laterais (distais) e uma lingual mediana, o
relacionadas ao desenvolvimento da língua). Seu tubérculo ímpar de forma triangular posicionado
local de origem corresponde a uma minúscula cranialmente em relação ao forame cego.
abertura na língua, o forame cego, exatamente no
vértice do V lingual. O divertículo tireóideo
cresce em direção ao pescoço, deslocando-se em
frente ao osso hióideo e a cartilagem da faringe,
não tardando em encontrar seu local definitivo, em
frente à traqueia, na sétima semana. Durante a sua
migração, a tireoide permanece ligada à língua
pelo ducto tireoglosso, que depois se torna sólido
e desaparece.
Giovanna Andrade Fernandes
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A porção posterior da língua deve-se a


elevações mesodérmicas das porções ventrais do
segundo, do terceiro e do quarto arcos branquiais.
Caudalmente ao forame cego aparece a cópula
resultante da fusão ventromediana do segundo
arco branquial. As porções ventromediais do
terceiro e do quarto arcos branquiais originam a
grande eminência hipobranquial, portanto em
posição caudal à cópula. O crescimento da grande
eminência hipobranquial é maior que o da cópula,
ficando esta porção gradativamente encoberta por
aquela.
A linha de separação entre os dois terços
anteriores e o terço posterior é demarcada por um
sulco (o V lingual) chamada de sulco terminal.
DESENVOLVIMENTO DA HIPÓFISE
A origem da hipófise é dupla. Forma-se (1)
de uma invaginação do palato primitivo,
denominada bolsa de Rathke e (2) uma
evaginação do assoalho do diencéfalo (o
infundíbulo).

Os brotamentos laterais logo se fundem e


projetam-se para frente, junto com o tubérculo
ímpar (embora pouco vá contribuir para a
formação da língua). Os segmentos laterais
fundidos formam os dois terços anteriores da
língua (parte móvel que se projeta). A linha da
união corresponde ao septo (internamente) e ao
sulco lingual (externamente). A mucosa que
reveste o corpo da língua se origina, portanto, do
primeiro arco e, como tal, é inervada pelo ramo
mandibular do nervo trigêmeo.

Essa dupla origem explica a razão de a


hipófise apresentar tipos de tecidos
completamente diferentes.
A bolsa de Rathke cresce cranialmente em
direção ao infundíbulo e, no fim do segundo mês
de desenvolvimento, não tem mais conexão com
seu local de origem (palato), adquirindo íntimo
contato com o infundíbulo.
Giovanna Andrade Fernandes
Biomedicina | 2022.2

Adeno-hipófise: a pars anterior, a pars


tuberalis e a pars intermedia, referidas como
adeno-hipófise, originam-se da bolsa de Rathke: a
pars anterior e a pars tuberalis, da região ventral
dessa bolsa, e a pars intermedia, de sua porção
dorsal. A pars tuberalis estende-se em torno da
haste indundibular, envolvendo-a.
Neuro-hipófise: a eminência média, a
haste infundibular e a pars nervosa são
originadas do infundíbulo. Inicialmente, as
paredes do infundíbulo são finas, mas sua
extremidade distal logo se torna sólida pela
proliferação de células neuroepiteliais. Essas
células, primeiro, assemelham-se a células da
neuroglia, mas logo depois se diferenciam nos
chamados pituícitos. Também ocorre aí a presença
de fibras nervosas, que comunicam a área
hipotalâmica do diencéfalo com a glândula
hipofisária.

PROFESSOR HUGO – AULA 08

Sistema Respiratório
INTRODUÇÃO
Na face ventral do intestino cefálico, na
parte correspondente à região caudal da futura
faringe, começa a esboçar-se um sulco
longitudinal, o sulco laringotraqueal, quando o
embrião tem cerca de 26 a 27 dias. Esse sulco
aprofunda-se, e a saliência ventral, em relação à
faringe primitiva, forma o divertículo
laringotraqueal. A porção cranial desse
divertículo originará a laringe, e a porção média
formará a traqueia. O divertículo laringotraqueal cresce
ventrocaudalmente (a partir do assoalho da
faringe) e vai sendo envolvido pelo mesoderma
esplâncnico. O revestimento endodérmico do
divertículo laringotraqueal origina o epitélio e as
glândulas da laringe, a traqueia, os brônquios, os
bronquíolos e o epitélio de revestimento
pulmonar. O tecido conectivo, as cartilagens e os
músculos desenvolvem-se do mesoderma
esplâncnico.
Giovanna Andrade Fernandes
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O aprofundamento do sulco Esses brotamentos pulmonares primários


laringotraqueal forma duas pregas longitudinais crescem lateralmente durante a quinta semana nas
(as pregas traqueoesofágicas). Elas caminham paredes medianas dos canais
uma em direção a outra e se fundem, formando o pericardioperitoneais ou cavidades pleurais
septo traqueoesofágico. Isso determina que o que primitivas. Logo, os brônquios primários
está dorsal a esse septo corresponde ao tubo subdividem-se em brônquios secundários. O
digestório, e o que está ventral corresponde ao broto direito subdivide-se em três ramos que
tubo laringotraqueal, originando a laringe, a originarão os três principais do lado direito, e o
traqueia e os pulmões. broto esquerdo se subdividirá em apenas dois
ramos. Cada um desses ramos é envolto por
O septo traqueoesofágico separa
mesênquima circundante, esboçando três lobos
completamente a parte respiratória da digestória,
pulmonares direitos e dois esquerdos. Tais
com exceção do orifício de entrada da laringe.
ramificações dicotômicas seguem rapidamente e,
Acima desse nível, a parte respiratória mantém
assim, já na décima quarta semana, desenvolvem-
comunicação com o intestino anterior por meio do
se 17 gerações de ramos, sendo que as últimas já
orifício laríngeo.
são os bronquíolos respiratórios. Contudo, na vida
LARINGE pós-natal, ocorrem ainda sete divisões adicionais.

Esse segmento origina-se da porção cranial Do mesênquima originam-se os músculos


do divertículo laringotraqueal. O revestimento lisos, a cartilagem, os vasos e o tecido conectivo
interno é endodérmico, como o do tubo digestório dos pulmões. O folheto visceral da pleura
que lhe deu origem. O mesênquima que o pulmonar é oriundo do mesoderma esplâncnico
circunda deriva do quarto e do sexto pares de que recobre o pulmão em formação. Os pulmões
arcos branquiais e originará os músculos e as crescem e se expandem com as cavidades pleurais
cartilagens da laringe. A epliglote desenvolve-se em sentido caudal. O mesênquima somático, que
da parte caudal da eminência hipobranquial, que reveste a parede torácica do corpo, forma a pleura
se deriva do terceiro e do quarto arcos branquiais parietal.
e terá papel também na formação da língua. As ALVÉOLOS
cordas vocais e vestibulares desenvolvem-se de
pregas da mucosa. O epitélio (de origem Para a sobrevivência de uma criança
endodérmica) se prolifera muito, sendo que o prematura, é fundamental que as células
lúmen da laringe é obstruído temporariamente. epiteliais alveolares do tipo II estejam prontas
Por volta da décima semana, ocorre uma para produzir surfactante.
recanalização, restabelecendo o lúmen.
Por volta da 24ª semana, os bronquíolos
TRAQUEIA respiratórios já estão estabelecidos e, nas suas
extremidades, desenvolveram-se alguns sacos
A traqueia desenvolve-se pelo terminais (os alvéolos primitivos, que apresentam
alongamento da parede distal do tubo parede epitelial já bastante delgada e com
laringotraqueal. Como na laringe, o revestimento vascularização cada vez mais desenvolvida no
endodérmico forma o epitélio e as glândulas da tecido conectivo).
traqueia. O tecido conectivo, os músculos e as
cartilagens derivam do mesoderma esplâncnico. No período que segue da 24ª semana até o
nascimento, há um crescente aumento no número
BRÔNQUIOS E PULMÕES de alvéolos, o epitélio torna-se cada vez mais
Em uma primeira fase de delgado e a vascularização também aumenta e se
desenvolvimento, o divertículo laringotraqueal torna cada vez mais eficiente. O revestimento
cresce rapidamente e sua extremidade caudal se epitelial dos alvéolos é simples e constituído por
divide em dois brotamentos brônquicos. células contínuas e achatadas, conhecidas como
células epiteliais alveolares do tipo I. Nessa
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época, é nítido também o aumento dos capilares A fístula é a comunicação da traqueia


linfáticos. com o esôfago.
Entre a 25ª e a 28ª semanas, os pulmões já Corresponde a uma comunicação (fístula)
podem permitir a sobrevivência de uma criança que liga a traqueia ao esôfago. Na forma mais
prematura. Para que uma criança prematura comum, a porção proximal do esôfago termina em
sobreviva, são necessárias paredes alveolares fundo-de-saco, e a sua porção distal liga-se à
bastante delgadas, mas também uma traqueia. Geralmente, essa malformação está
vascularização adequadamente desenvolvida. associada a uma atresia esofágica. A fístula
Quanto mais se aproxima o final do período fetal, traqueoesofágica resulta de uma separação
mais delgadas tornam-se as paredes alveolares, e incompleta do intestino anterior em partes
os capilares sanguíneos fazem protrusões para o respiratória e digestória em consequência da fusão
espaço de cada saco alveolar, permitindo incompleta das pregas traqueoesofágicas.
facilmente a viabilidade das trocas gasosas.
No nascimento, os alvéolos primitivos
alargam-se com a expansão dos pulmões. Após o
nascimento até o oitavo ano ou mais, o número de
alvéolos imaturos ainda aumenta. Os alvéolos
imaturos conservam o potencial para formar
alvéolos primitivos adicionais, o que não é mais
possível quando o alvéolo amadurece.
Movimentos respiratórios já ocorrem
durante a vida fetal, sendo que o líquido amniótico
é absorvido pelos pulmões. Durante o nascimento,
haverá uma substituição de líquido intra-alveolar
por ar. O líquido intra-alveolar será eliminado
durante o parto pela boca e pelo nariz pela pressão
exercida sobre o tórax. A contribuição dos
capilares pulmonares e linfáticos para a
eliminação do líquido intra-alveolar também é
grande. Outras variedades dessa malformação
seriam as seguintes: (a) o canal fistuloso entre a
Para a sobrevivência de uma criança traqueia e a porção distal do esôfago é substituído
prematura, é fundamental também que as células por um cordão fibroso; (b) com mais raridade,
epiteliais alveolares do tipo II (células septais, tanto as porções proximal quanto distal do esôfago
produtoras de surfactante) já estejam em pleno abrem-se na traqueia; (c) pode acontecer ainda
funcionamento. A surfactante é uma substância que a parte proximal do esôfago se ligue à
(hemimembrana) capaz de baixar a tensão traqueia, e que a parte distal, porém, não
superficial na interface do ar, impedindo o colapso estabeleça comunicação.
dos alvéolos pulmonares. A surfactante começa a
ser secretada pelas células septais em torno da 23ª MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS –
a da 24ª semanas de desenvolvimento, mas sua ESTENOSE E ATRESIA DA
produção aumenta no final da gestação, TRAQUEIA
principalmente nas últimas semanas.
Estenose, ou estreitamento, e atresia, ou
MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS – fechamento, são malformações raras que ocorrem
FÍSTULA ESOFAGOTRAQUEAL na traqueia e que geralmente estão associadas às
fístulas traqueoesofágicas.
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Elas resultam de uma divisão desigual


durante a formação do esôfago e da traqueia.
MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS –
LOBOS PULMONARES
SUPRANUMERÁRIOS
Lobos pulmonares supranumerários são
decorrentes de divisões anômalas da árvore
brônquica.
MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS –
LOBOS PULMONARES ECTÓPICOS
São brotos respiratórios adicionais que se
desenvolvem independentemente do sistema
respiratório principal.
MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS –
CISTOS CONGÊNITOS DO PULMÃO
Cistos congênitos do pulmão são formados
a partir de dilatações brônquicas terminais.
Quando vários desses cistos estão presentes, os
pulmões mostram, em radiografias, um aspecto de
favo de mel. Tais estruturas drenam mal e, por
isso, podem causar infecções crônicas.
MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS –
AGENESIA PULMONAR
A agenesia pulmonar é a falta de um ou
dos dois pulmões como resultado da ausência de
desenvolvimento de brotamentos pulmonares.
Essa é uma malformação bastante rara. Quando a
agenesia é unilateral, é compatível com a vida.

PROFESSOR HUGO – AULA 08

Sistema Digestório
PORÇÃO CAUDAL DO INTESTINO As membranas bucofaríngea e cloacal são
ANTERIOR: DESENVOLVIMENTO formadas pelo ectoderma e pelo endoderma e
NORMAL correspondem àquelas regiões em que o
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mesoderma não pode se interpor durante a região compreendia entre o limite caudal do saco
formação do terceiro folheto germinativo. A vitelino até a membrana cloacal, e dele se
porção compreendida entre as duas membranas originará o restante do cólon transverso, o cólon
(bucofaríngea e cloacal) é totalmente originária da descendente, o sigmoide e o reto.
parte dorsal do saco vitelino. O endoderma origina
a maior parte do epitélio do tubo digestório e o
DESENVOLVIMENTO DO ESÔFAGO
parênquima de suas glândulas associadas (fígado A porção do intestino anterior situada
e pâncreas). A musculatura e os tecidos entre o divertículo respiratório e o futuro
conectivos do tubo digestório e do peritônio estômago, isto é, o esôfago, tem forma tubular e
visceral são originários do mesênquima não sofre variações morfológicas significativas
esplâncnico circunjacente ao revestimento durante a organogênese.
endodérmico do tubo digestório primitivo.
O esôfago não sofre grandes modificações
Esse mesoderma prende o tubo digestório morfológicas durante sua organogênese,
à parede dorsal do embrião pelo mesodorsal. Na conservando sua forma tubular inicial. Logo no
região ventral, também ocorre o mesmo começo, ele é bastante curto, mas, por volta de
fenômeno, mas o mesoventral não persiste por sete semanas, já atinge sus proporções finais
toda a extensão do tubo digestório. O mesoventral graças ao alongamento do corpo, resultando em
é mantido na maior parte do intestino médio e uma ascensão da faringe e do esôfago.
posterior.
O endoderma que reveste esse tubo se
As membranas bucofaríngea e cloacal desenvolve bastante e oblitera seu lúmen. Porém,
degeneram após as quatro primeiras semanas normalmente, ainda no final da vida embrionária,
iniciais, estabelecendo-se a comunicação do tubo uma recanalização é obtida. As glândulas mucosas
digestório com o exterior do embrião. desse órgão são originárias do endoderma. A
Por motivos didáticos, costuma-se dividir musculatura lisa do esôfago é derivada do
o tubo digestório primitivo em três regiões: mesênquima esplâncnico que circunda o
intestino anterior ou cefálico, intestino médio e endoderma, o qual delimita o tubo internamente, e
intestino posterior ou caudal. a musculatura estriada deriva do mesênquima dos
últimos arcos viscerais e, por isso mesmo, é
inervada por ramos do nervo vago que suprem o
quarto e o sexto arcos.
DESENVOLVIMENTO DO ESTÔMAGO
Duas rotações do esboço do estômago,
uma no seu eixo craniocaudal e outra no eixo
anteroposterior, definem a morfologia e o
posicionamento do estômago.
O estômago deriva da porção caudal do
intestino anterior. De início desenvolve-se
uniformemente, tomando um aspecto fusiforme na
quinta semana de desenvolvimento. Depois, esse
fuso desenvolve-se mais rapidamente na sua
parede dorsal do que na ventral. Ele está preso às
O intestino médio corresponde à região paredes dorsal e ventral do corpo pelos
que se comunica com o saco vitelino, e dessa parte mesogástrios dorsal e ventral, respectivamente. O
derivarão o restante do duodeno, o jejuno, o íleo, o próximo passo, no seu desenvolvimento, consiste
ceco, o cólon ascendente e parte do cólon em uma rotação de 90º no sentido dos ponteiros
transverso. O intestino posterior corresponde à do relógio, em torno de seu eixo longitudinal ou
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craniocaudal. Consequentemente, a parte dorsal pequeno saco original comunica-se com a


do estômago, mais dilatada, passa a posicionar-se cavidade peritoneal pela sua borda superior
do lado esquerdo do corpo, determinando a através do forame epiploico.
grande curvatura, ao passo que a parte ventral,
O mesogástrio ventral persiste apenas na
menos crescida, posiciona-se do lado direito,
extremidade inferior do esôfago, no estômago e na
determinando a pequena curvatura do órgão.
parte superior do duodeno. Ele liga o estômago e o
Também como consequência dessa rotação, o lado
duodeno ao fígado em desenvolvimento e à parte
original esquerdo será a face ventral definitiva do
ventral do corpo. Como o fígado é um órgão que
órgão, e o seu lado direito original será sua face
cresce no mesogástrio ventral, a rotação do
dorsal definitiva. Como resultado isso, o nervo
estômago, no plano craniocaudal, determina sua
vago esquerdo inervará a parede anterior (ventral)
localização definitiva no lado direito da cavidade
do estômago, e o nervo vago direito inervará sua
abdominal. O baço, que se forma no mesogástrio
parede posterior (dorsal).
dorsal, passa a situar-se no lado esquerdo.
A rotação no eixo craniocaudal não é a
única rotação que o estômago sofre. Verifica-se
também uma rotação no seu eixo anteroposterior
e, como consequência, o estômago, que
inicialmente estava localizado na linha média, tem
sua porção caudal ou pilórica deslocada para a
direita e para cima, e sua porção cefálica ou
cárdica voltada para a esquerda e ligeiramente
para baixo. Como resultado dessa segunda
rotação, o eixo longitudinal do estômago fica
quase transversal ao eixo longitudinal do corpo.
DESENVOLVIMENTO DO DUODENO
O duodeno forma-se da parte caudal do
intestino anterior e da parte cranial do
O mesentério, ou mesogástrio dorsal, que é intestino médio. Quase no limite dos dois
relativamente espesso nessa época, começa a segmentos se originam os brotos hepático e
apresentar uma série de fendas que coalescem e pancreático.
formam uma cavidade única, o primórdio do
pequeno saco do peritônio. A rotação do Esse segmento do tubo digestório tem
estômago puxa o mesogástrio dorsal para a origem na parte terminal do intestino cefálico e na
esquerda, estabelecendo o grande compartimento parte cranial do intestino médio. O limite entre
ou recesso da cavidade peritoneal, que cresce esses dois segmentos está logo abaixo do local de
transversal e cranialmente. Sua posição definitiva origem dos brotos pancreáticos e hepático. Essas
forma uma bolsa (bolsa omental) entre o duas regiões, que originam o duodeno, crescem
estômago e a parede dorsal, facilitando o rapidamente e dão ao tubo uma configuração em
movimento do estômago. C projetado ventralmente. O ápice do C coincide
com a junção do intestino anterior e médio. Com a
À medida que o desenvolvimento progride, rotação do estômago em seu eixo craniocaudal no
o pequeno saco cresce e adquire um recesso sentido dos ponteiros do relógio, o duodeno é
inferior entre as dobras do mesentério dorsal, deslocado para a direita e, por fim, coloca-se
culminando na formação do grande omento, que retroperitonealmente. No segundo mês, o lúmen
se projeta sobre o intestino em desenvolvimento. do duodeno pode estar obliterado em decorrência
O recesso inferior desaparece quase totalmente, da proliferação das células endodérmicas. Porém,
pois as dobras do mesogástrio dorsal se fundem. O
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normalmente, há uma recanalização logo em As duas partes do primórdio hepático, a


seguida. futura vesícula e o futuro fígado desenvolvem-se
entre as camadas do mesentério ventral. As células
endodérmicas do primórdio, que originará o
fígado, formam cordões que se entrelaçam,
formando os cordões de hepatócitos e o
DESENVOLVIMENTO DO FÍGADO E revestimento epitelial da porção intra-hepática das
DAS VIAS BILIARES vias biliares. O tecido conectivo, o tecido
hemocitopoético e as células de Kupffer são
O esboço hepático é um espessamento derivados do mesênquima esplâncnico do septo
ventral do endoderma que se bifurca em duas transverso.
porções: a futura vesícula biliar e o futuro
fígado. O fígado cresce de modo muito rápido e
apresenta dois lobos, inicialmente de tamanhos
O esboço hepático, na metade da terceira semelhantes, mas o direito cresce muito mais,
semana de desenvolvimento, origina-se a partir de originando, um pouco mais tarde, os lobos
um espessamento ventral do endoderma, na caudado e quadrado.
porção distal do intestino anterior (levemente
acima do limite entre os intestinos anterior e O mesogástrio ventral formará importantes
médio). Esse esboço hepático direciona-se para o ligamentos do fígado: (1) o pequeno omento, que
septo transverso (a placa mesodérmica situada liga o fígado à face ventral do estômago
entre a cavidade pericárdica e o pedúnculo do saco (ligamento hepatogástrico) e o fígado ao
vitelino). Bem no início do seu desenvolvimento, duodeno (ligamento hepatoduodenal); (2) o
o esboço hepático bifurca-se em duas porções: a ligamento falciforme, que une o fígado à parede
futura vesícula biliar e o futuro fígado. A porção ventral do corpo e (3) o peritônio visceral do
que resultará na vesícula biliar é menor e caudal fígado. O fígado desenvolve-se dentro do
em relação à outra. A porção da vesícula biliar, mesogástrio ventral. O crescimento é tão grande
cujo crescimento é mais moderado, termina em que chega a separar os dois folhetos que
fundo cego e origina um órgão oco. O ducto constituem o mesogástrio ventral, e o órgão se
inicial da vesícula biliar originará o ducto cístico. fixa ao diafragma. Essa região constitui a área nua
do fígado, onde o revestimento peritoneal do
fígado segue com o diafragma, formando os
ligamentos coronários e triangulares.
Por volta dos dois meses e meio de
desenvolvimento até o sétimo mês, quando, então,
começa a diminuir, o fígado apresenta
importantíssima atividade hemocitopoética.
Devido a essa atividade, o fígado é um órgão
bastante proeminente.
Os ductos hepático e cístico reúnem-se no
colédoco, que se abre inicialmente na face ventral
do duodeno. À medida que a alça duodenal sofre
rotação, a abertura é deslocada para a sua face
dorsal.
A porção que originará o fígado (o
primórdio cranial) sofre intensa proliferação DESENVOLVIMENTO DO PÂNCREAS
celular (células endodérmicas), expandindo
rapidamente o órgão. O pâncreas origina-se a partir de dois
brotamentos endodérmicos na porção caudal
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do intestino anterior. Um brotamento é dorsal Em uma percentagem de +- 10%, pode


e maior, o outro, menor, origina-se do próprio ocorrer que os dois ductos originais não se
divertículo hepático. fundam, persistindo como estruturas
individualizadas.
O pâncreas origina-se a partir de dois
brotamentos endodérmicos na porção caudal do A formação das ilhotas ocorre no decorrer
intestino anterior, que corresponde à porção do terceiro mês de vida fetal, mas só começam a
proximal do duodeno. Um brotamento dorsal e produzir insulina por volta do quinto mês.
maior (pâncreas dorsal) aparece primeiro
diretamente do endoderma duodenal e cresce para
MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS DOS
dentro do mesentério dorsal. O outro brotamento DERIVADOS DO INTESTINO
menor origina-se de um espessamento ANTERIOR
endodérmico do divertículo hepático (que, por sua
A formação do aparelho respiratório
vez, se originou de um brotamento do duodeno),
está relacionada ao intestino cefálico.
portanto, ventral. Consequentemente, o ducto do
Consequentemente, malformações no esôfago
pâncreas ventral terá a sua desembocadura
podem estar vinculadas ao trato respiratório.
diretamente próxima à entrada do colédoco no
duodeno.  Malformações do esôfago
O rápido crescimento duodenal, que lhe Atresia esofágica: malformação que
confere uma forma de C, bem como sua rotação geralmente está associada a uma fístula
para a direita (em consequência da rotação do traqueoesofágica. Nesse caso, a porção proximal
estômago, em torno de seu eixo longitudinal, no do esôfago termina em fundo cego, ligando-se sua
sentido dos ponteiros do relógio) deslocam o porção distal à traqueia (um pouco antes de sua
colédoco e, com ele, o pâncreas ventral, de início bifurcação) por meio de um fino canal (fístula), o
para a face posterior (dorsalmente), situando-se no qual pode ser preenchido por um cordão fibroso.
mesoduodeno e depois para a esquerda.
Paradoxalmente, o pâncreas ventral se localiza A atresia esofágica é, geralmente, resultante de
inferior e dorsalmente ao brotamento pancreático um desvio em direção posterior ao septo
dorsal, com o qual se funde. traqueoesofágico, mas também pode resultar de
uma falta de recanalização esofágica durante a
A maior parte do pâncreas é formada pelo vida embrionária.
brotamento maior, ao passo que o menor formará
a porção inferior da cabeça do pâncreas, inclusive O feto com essa malformação não pode
o processo uncinado. deglutir o líquido amniótico e, consequentemente,
o útero apresentará um volume muito aumentado.
Com a fusão dos dois processos
pancreáticos, estabelece-se também uma união Quando a criança nasce, já nas suas
entre seus ductos, então, desenvolve-se mais o primeiras mamadas rapidamente preencherá a
ducto do brotamento menor. O ducto principal do porção proximal do esôfago, e o líquido poderá
pâncreas passa a ser constituído pelo ducto do ser desviado para dentro da traqueia e dos
brotamento ventral (menor) e da parte distal do pulmões, ocasionando distúrbios respiratórios.
brotamento dorsal (maior). O ducto principal abre- Estenose esofágica: é um estreitamento
se no duodeno junto com o colédoco (ducto biliar resultante de uma recanalização incompleta.
comum). Geralmente, quando ocorre, surge no terço distal
Um ducto pancreático acessório do esôfago.
geralmente persiste como um derivado da porção  Malformações do estômago
proximal do ducto pancreático do brotamento
maior. A abertura deste no duodeno é um pouco Estenose pilórica hipertrófica congênita: é
mais cranial do que a desembocadura do principal. um estreitamento do esfíncter distal do estômago.
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 Malformações do duodeno INTESTINO MÉDIO:


Atresia duodenal: obstrução completa do
DESENVOLVIMENTO NORMAL
lúmen duodenal. Não é uma malformação comum. O intestino médio inicialmente se
Ocorre em maior incidência em prematuros e comunica de forma ampla com o saco vitelino,
crianças com síndrome de Down. Como a sendo os seus limites o orifício intestinal anterior e
obstrução, em geral, localiza-se distalmente à posterior. Esse segmento do tubo digestório
abertura do ducto biliar comum, os vômitos da originará as partes compreendidas entre a entrada
criança que sofre dessa malformação costumam do colédoco no duodeno até a junção entre os dois
ser acompanhados de bile. terços proximais do cólon transverso com o seu
 Malformações do fígado, das vias biliares terço distal. Originará, portanto, os seguintes
e do pâncreas segmentos: parte distal do duodeno (posterior à
abertura do ducto biliar comum), jejuno, íleo,
Fígado e vias biliares: malformações do ceco, apêndice, cólon ascendente e metade a dois
fígado são bastante raras. No entanto, a variação terços do cólon transverso. Com o crescimento das
dos ductos hepáticos e do ducto biliar (cístico) são paredes do intestino médio e a simultânea redução
mais comuns. do saco vitelino, esse segmento do tubo digestório
adquire uma forma de alça. O ápice dessa alça
A vesícula biliar, quando se forma, é oca,
comunica-se com o saco vitelino por meio do
mas posteriormente, por proliferação epitelial,
pedúnculo vitelino ou onfalomesentérico. Esse
torna-se sólida. Normalmente, por vacuolização
pedúnculo limita uma porção cefálica e outra
epitelial readquire lúmen. Quando isso não ocorre,
caudal da alça do intestino médio. A artéria
a vesícula biliar apresenta atresia. Da mesma
mesentérica superior ocorre pelo mesentério
maneira, os ductos intra e extra-hepáticos devem
dorsal, como se fosse um eixo entre as alças do
normalmente apresentar recanalização, se isso não
intestino médio. O limite entre as duas alças só
ocorrer, apresentarão atresia.
será reconhecido no adulto se persistir uma porção
Pâncreas anular: no desenvolvimento do canal vitelino conhecido como divertículo de
normal, o pâncreas ventral é deslocado de maneira Meckel.
a fundir-se com o pâncreas dorsal no
mesoduodeno dorsal. A origem do pâncreas anular
provavelmente é resultado de um brotamento
pancreático ventral bífido. Quando uma parte do
esboço pancreático ventral não se desloca de
acordo com seu caminho normal, ele envolve uma
parte do duodeno, isto é, as duas porções do
brotamento ventral se unem com o brotamento
dorsal, formando um anel pancreático em torno do
duodeno. Dependendo do grau de envolvimento
pancreático em torno do duodeno, essa
malformação pode nem causar sintomas, ou pode
causar constrição ou obstruir completamente o
duodeno.
Tecido pancreático heterotópico: pode ser As porções cranial e caudal da alça do
encontrado desde a parte distal do esôfago até o intestino médio estão presas à parede dorsal do
divertículo de Meckel (resto do ducto vitelino), corpo. No entanto, o restante da alça expande-se
sendo mais comum na mucosa do estômago e no consideravelmente, chegando a tanto que, na sexta
divertículo de Meckel. semana de desenvolvimento, a alça do intestino
médio fará pressão e projetar-se-á para dentro do
cordão umbilical, formando uma hérnia
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umbilical fisiológica. A herniação ocorre porque, normalmente, mas, no terceiro mês, sua
com o rápido crescimento da alça do intestino extremidade distal cresce mais lentamente, de
médio, a cavidade abdominal torna-se pequena modo a formar uma continuação distal de
para contê-la. Deve-se levar em conta também diâmetro bastante menor, o apêndice vermiforme.
que, nessa época, o fígado e os mesonefros e os Essa é uma estrutura filogeneticamente decadente
metanefros estão bastante desenvolvidos, e, como tal, pode ser muito variável quanto à
tornando, consequentemente, menor o espaço da forma.
cavidade abdominal.
Apesar da ampla movimentação durante a
A porção cranial da alça intestinal morfogênese do intestino médio, não ocorre
desenvolve-se rapidamente, originando a deslocamento dos intestinos cefálico e caudal,
formação das futuras alças intestinais. Na porção pois, já no início da morfogênese, formam-se dois
caudal, as modificações são bem menores. Ainda ligamentos, o de Treitz (cranial) e o frenocólico,
no interior do cordão umbilical, a alça do intestino que liga a flexura cólica esquerda ao diafragma.
médio sofre uma rotação de 90º no sentido
contrário ao dos ponteiros do relógio (olhando-se
MALFORAMÇÕES DO INTESTINO
o embrião pela face ventral). A rotação tem como MÉDIO
eixo a artéria mesentérica superior. Em
 Onfalocele
consequência da rotação, a parte cranial da alça do
intestino médio (a que desenvolve as alças A onfalocele é uma malformação decorrente
intestinais) é voltada para a direita, e o segmento da falta de retorno das alças intestinais à cavidade
caudal se estabelece na esquerda. umbilical. A herniação normal, durante o
desenvolvimento do intestino médio, torna-se
Na décima semana de desenvolvimento,
persistente. A hérnia pode consistir em apenas
devido à atrofia dos mesonefros, à diminuição do
uma alça intestinal, como a persistência da maior
crescimento do fígado e ao aumento real da
parte do intestino. Nesse caso, o saco herniado
cavidade abdominal, o intestino médio herniado
está revestido pelo epitélio amniótico do cordão
volta gradativamente ao abdome para ocupar seu
umbilical. É um saco transparente.
lugar definitivo. À medida que o intestino volta,
ele sofre mais uma rotação de 180º ainda no Existe um tipo de extrusão da maior parte das
sentido inverso ao dos ponteiros do relógio, vísceras abdominais quando não há um
concluindo uma rotação final de 270º. fechamento perfeito das pregas laterais do corpo
durante o modelamento do corpo do embrião.
Em consequência dessa rotação final, o
ceco e o apêndice (derivados do segmento caudal A onfalocele diferencia-se da hérnia umbilical
do intestino médio) posicionam-se à direita em porque, nesse caso, a alça intestinal herniada é
posição sub-hepática. O intestino delgado revestida por tecido subcutâneo e pele.
derivado do segmento cranial fica colocado para a
 Divertículo de Meckel
esquerda. No decorrer do desenvolvimento, o ceco
cresce para baixo e para o interior da fossa ilíaca O divertículo de Meckel é uma malformação
direita, ao passo que o alongamento da parte ocasionada pela persistência ou pela
proximal do cólon dá origem ao cólon ascendente. remanescência da porção proximal do ducto
vitelino. Ele tem cerca de 03 a 06 cm e,
A dilatação cecal inicialmente é invisível.
normalmente, passa despercebido, apresentando as
Até dois meses de desenvolvimento, tantas são as
mesmas camadas do íleo.
modificações que ocorrem no trato digestório que
o intestino delgado, que antes era uma linha Algumas vezes, pode se inflamar e ocasionar
contínua com o intestino grosso, agora desemboca sintomas como na apendicite. Pode acontecer
nesse quase em ângulo reto. Como consequência também que contenha tecido pancreático ou
dessa união angular, o cólon desenvolve um mucosa gástrica ectópicos. Nesses casos, podem
divertículo, o ceco. O ceco continua crescendo acontecer ulcerações ou mesmo perfurações.
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Quando a anomalia é mais extensa, todo o divertículo até um segmento bastante


ducto vitelino poderá estar aberto em toda a sua considerável. As duplicações geralmente mantêm
extensão, comunicando o íleo ao meio externo por comunicação com o ponto do tubo digestório
intermédio do umbigo. Essa anomalia é conhecida principal a partir do qual parecem ter se originado.
como fístula vitelina ou umbilical. Em outras Quando a comunicação não é mantida, as
condições, pode-se formar um cordão fibroso, duplicações formam cistos fechados.
unindo o íleo ao umbigo, ou então ambas as
extremidades do ducto vitelino podem estar
transformadas em cordões fibrosos, porém o
centro apresenta um cisto.
INTESTINO POSTERIOR:
 Não rotação da alça intestinal
DESENVOLVIMENTO NORMAL
A alça do intestino médio não sofre rotação
quando volta à cavidade abdominal. O intestino posterior ou caudal estende-se
Consequentemente, o intestino delgado ficará do orifício intestinal posterior (limite caudal do
posicionado no lado direito, e o intestino grosso intestino médio) à membrana cloacal, originando a
ficará do lado esquerdo do abdome. metade ou o terço distal do cólon transverso, o
cólon descendente, o sigmoide, o reto e a porção
 Apêndice e ceco sub-hepático superior do canal anal. Ele está relacionado
também ao aparelho urogenital na formação do
Nessa malformação, o ceco e o apêndice
seio urogenital (epitélio da bexiga urinária e maior
estarão alinhados com a superfície inferior do
parte da uretra).
fígado em consequência do não alongamento da
parte proximal do cólon. Durante a infância, o Os derivados do intestino posterior estão
cólon pode ainda apresentar um certo supridos pela artéria mesentérica inferior.
alongamento.
A porção terminal do intestino posterior
 Atresia e estenose intestinal corresponde à cloaca, cavidade comum aos tubos
digestório e urinário. Da porção cefálica da cloaca
Todo estreitamento anormal da uma estrutura desemboca o intestino caudal provisório. O limite
tubular recebe o nome de estenose. Quando tal entre a cloaca e o meio externo é feito pela
estreitamento chega a formar uma completa membrana cloacal, formada interiormente por
obliteração do lúmen, fala-se em atresia. Até o endoderma do intestino primitivo e,
final do segundo mês, o epitélio de revestimento exteriormente, por ectoderma do proctódio ou
do tubo digestório, principalmente do esôfago e da fosseta anal.
parte superior do intestino delgado, além do reto,
tende a crescer de forma exuberante, mas as Quando o embrião atinge sete semanas, o
dimensões do tubo digestório ainda não septo urorretal alcança a membrana cloacal,
aumentaram suficientemente para contê-lo. Disso dividindo-a em duas zonas: uma dorsal (a
resulta uma obstrução do lúmen do tubo por membrana anal) e uma central, maior (a
massas de células epiteliais. No curso normal do membrana urogenital). Constitui-se tendão do
desenvolvimento, formam-se vacúolos que períneo ou corpo perineal a área de fusão do
garantirão a recanalização do tubo. Quando essa septo urorretal com a membrana cloacal. Células
recanalização não for completa, ela pode resultar mesenquimais proliferam ao redor da membrana
em estenose ou, ainda, atresia. anal de maneira a elevar o ectoderma de
revestimento do corpo e, finalmente, a membrana
 Duplicações cloacal fica situada no fundo de uma depressão
É uma malformação rara em que ocorre uma ectodérmica (o proctódio). A membrana anal
duplicação de alguma região do tubo digestório. A rompe-se em torno do final da oitava semana,
extensão da duplicação varia desde um pequeno
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possibilitando a comunicação da parte caudal do Na estenose anal, o ânus está em posição


tubo digestório com a cavidade amniótica. correta, mas apresenta um estreitamento do canal
anal.
A não perfuração da membrana anal, na
oitava semana, resulta na atresia membranosa ou
no ânus coberto. Uma delgada membrana separa o
canal anal do exterior.
Em casos mais complicados, uma camada
espessa de tecido conectivo encontra-se entre a
porção final do reto e a superfície externa. Assim,
o reto termina bem acima do canal anal. O reto
pode terminar em fundo cego ou apresentar uma
fístula que se abre na uretra, em indivíduos do
sexo masculino, ou na vagina, nos do sexo
feminino.

O terço inferior do canal anal tem origem


ectodérmica e é suprido pelas artérias retais,
ramos da artéria ilíaca interna. Os dois terços
superiores do canal anal (anteriores à membrana
cloacal) têm origem endodérmica e são
vascularizados pela artéria retal superior, pelo
ramo da artéria mesentérica inferior e pela artéria
do intestino posterior.
MALFORMAÇÕES DO INTESTINO
POSTERIOR
O ânus imperfurado é a malformação
mais comum do intestino posterior. Geralmente,
tais malformações decorrem do desenvolvimento
anormal do septo urorretal, ocasionando
separações imperfeitas da cloaca em suas regiões
urogenital e anorretal.
PROFESSOR HUGO – AULA 09

Cavidades do Corpo e Mesentérios


INTRODUÇÃO
As cavidades do corpo de um mamífero
adulto são as seguintes: (1) cavidade pericárdica,
que contém o coração; (2) cavidades pleurais,
que alojam os pulmões; e (3) cavidade
peritoneal, que aloja as vísceras situadas abaixo
do diafragma.
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As cavidades celomáticas
intraembrionárias direita e esquerda inicialmente
apresentam ampla comunicação entre si. Após o
estabelecimento da forma do embrião, as
membranas mesodérmicas esplâncnicas fundem-
se na linha média e estabelecem uma separação
entre as cavidades celomáticas intraembrionárias.
Esse septo permanece indefinidamente em
algumas regiões do corpo, como na região
abdominal superior, mas, em outros locais,
desaparece parcialmente, colocando em contato a
cavidade celomática direita e esquerda, como no
tórax. Na quinta semana de desenvolvimento,
estão bem estabelecidas uma cavidade torácica e
uma abdominal, que se comunicam entre si por
Essas cavidades formam-se a partir da
canais situados ao lado do intestino anterior (os
cavidade celomática intraembrionária primitiva.
canais pericardioperitoneais). Esses canais, que
No decorrer da terceira semana e
correm paralelamente ao esôfago, são separados
desenvolvimento, o mesoderma intraembrionário
entre si por esse órgão e seus mesos dorsal e
define teres regiões: o mesoderma para-axial
ventral. É a partir desses canais que se formarão as
(somitos), o mesoderma intermediário
cavidades pleurais. As cavidades torácicas e
(relacionado ao futuro desenvolvimento
abdominal são separadas por um septo (o septo
urogenital) e o mesoderma lateral. Este último,
transverso), e as cavidades pericárdica e pleurais
depois da coalescência de várias fendas, delamina-
são separadas pelas membranas
se.
pleuropericárdicas.

A lâmina junto ao ectoderma forma a


somatopleura, e aquela junto ao endoderma
forma a esplancnopleura. A cavidade entre essas SEPARAÇÃO DA CAVIDADE
duas lâminas constitui a cavidade celomática
PERICÁRDICA: MEMBRANAS
intraembrionária primitiva. A somatopleura é
contínua com a parede amniótica, ao passo que a PLEUROPERICÁRDICAS E
esplacnopleura é contínua com a parede do saco PLEUROPERITONEAIS
vitelino. A cavidade celomática intraembrionária
Quando a traqueia se bifurca e forma os
primitiva é contínua com a cavidade celomática
esboços brônquicos e pulmonares, esses se
extraembrionária.
dirigem lateralmente para dentro dos canais
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pleurais. Mais tarde, os canais alargam-se muito mesoventral do esôfago, separando a cavidade
para conter os pulmões em crescimento. pericárdica das cavidades pleurais.
Cristas similares às pleuropericárdicas
formam-se mais caudalmente a essas: são as
cristas pleuroperitoneais, definidas como
projeções dorsolaterais da parede do corpo. Suas
bordas livres crescem e projetam-se para as
extremidades caudais dos canais
pleuroperitoneais. Na sexta semana, o crescimento
de suas bordas livres, em direção mediana e
ventral, faz com que elas se fundam com o
mesentério dorsal do esôfago e com o septo
transverso, estabelecendo definitivamente a
separação das cavidades pleurais da cavidade
abdominal. As membranas, após o crescimento de
mioblastos para o seu interior, formam as porções
posterolaterais do diafragma.
O crescimento acentuado dos pulmões faz
proeminência nos canais pleurais, abrindo espaços
cada vez maiores nas paredes laterais do corpo.
Assim, os pulmões e as membranas
pleuropericárdicas ficarão situadas de cada lado
do coração, com as relações características futuras
do adulto.
Em decorrência desse crescimento lateral
FORMAÇÃO DO DIAFRAGMA
dos esboços pulmonares para dentro dos canais
pleurais, forma-se um par de cristas na parede A estrutura que se manifesta na separação
lateral de cada canal. São as membranas entre a região pericárdica e o celoma abdominal é
pleuropericárdicas. o septo transverso. Ela começa a surgir no final
da terceira semana de desenvolvimento e formará
As membranas pleuropericárdicas formam-
o tendão central do diafragma. Essa estrutura é
se na face interna, na região cranial da cavidade
formada por uma camada de mesotélio celômico
torácica, à altura do coração. Essas cristas são
apoiado por uma massa de mesoderma. No
protuberâncias de mesênquima que contêm as
encurvamento cefálico do embrião, na quarta
veias cardinais comuns que se dirigem ao coração.
semana, o septo torna-se uma divisão incompleta
As veias cardinais comuns (ductos de entre as cavidades pericárdica e abdominal. Ele
Cuvier) drenam o sistema venoso embrionário cresce em direção dorsal, desde a parede ventral
para o seio venoso do coração em do corpo, e se funde com o mesênquima
desenvolvimento. De início, as membranas (mesentério) ventral do esôfago (mediastino
pleuropericárdicas projetam-se para as primitivo) e com as membranas pleuroperitoneais.
extremidades cranianas dos canais Durante o processo, cordões endodérmicos do
pleuropericárdicos. Subsequentemente, com o fígado em formação crescem e submergem em seu
crescimento das veias cardinais comuns, a descida mesênquima inferior. Essa área do fígado é
do coração e a manifestação da posição do seio conhecida como área nua, em contraste com o
venoso, essas veias cardinais deslocam-se em resto da superfície do fígado, recoberta pelas
direção à linha média, carregando as dobras camadas mesodérmicas esplâcnicas do mesentério
pleuropericárdicas, como se fossem mesentérios. ventral.
Na sétima semana, elas se fundem com o
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O crescimento rápido e intenso do fígado


faz com que ele não caiba mais no septo
transverso e comece a fazer saliência entre dois
A formação completa do diafragma deve- folhetos do mesentério ventral.
se, então, às seguintes estruturas: (a) septo PEQUENO SACO PERITONEAL OU
transverso; (b) membranas pleuroperitoneais,
que se fundem com o mesentério dorsal do
BOLSA OMENTAL
esôfago e com a porção dorsal do septo A formação do pequeno saco omental é
transverso, ficando obliterados os orifícios resultado da rotação do estômago para a
inferiores das cavidades pleurais; (c) mesentério direita.
dorsal do esôfago (ao mesoesôfago dorsal,
fundem-se as membranas pleuroperitoneais e o O mesentério dorsal, após a rotação do
septo transverso, essa área constitui a parte estômago para o lado direito, continua a expandir-
mediana do diafragma, músculos lisos que aí se se em direção caudal, como uma bolsa achatada
formam criam os pilares do diafragma); (d) porção dorsoventralmente e que recobre o cólon
muscular periférica (expansões de miótomos transverso e as alças do jejuno-íleo. A expansão
cervicais e torácicos contribuem para a formação acentuada desse recesso resulta na formação da
do diafragma, formando a faixa periférica que o bolsa omental, que se estende como um avental
circunda). em frente ao cólon transverso e as alças do
intestino delgado. Os dois folhetos que formam a
bolsa omental inicial se fundem e formam uma
membrana única, que se encontra suspensa da
grande curvatura do estômago (portanto, do lado
direito).
MESODUODENO DORSAL
O mesoduodeno dorsal e o peritônio
adjacente se fundem e regridem. Em
consequência, o duodeno e a cabeça do
pâncreas fixam-se retroperitonealmente.
Inicialmente, o duodeno e a cabeça do
pâncreas localizam-se no plano mediano, mas, em
MESENTÉRIOS seguida, com a rotação sofrida pelo estômago, o
duodeno e a cabeça do pâncreas (que cresce
O mesentério dorsal estende-se desde a
rapidamente) são levados para a direita da
porção caudal do esôfago até o reto. Ele recebe
cavidade peritoneal e são “apertados” contra a
diferentes denominações conforme a área em que
parede dorsal do corpo. Subsequentemente, esse
se encontra: mesogástrio dorsal ou grande
mesoduodeno dorsal e o peritônio adjacente
omento, na região do estômago; mesoduodeno
fundem-se e regridem. O duodeno e a cabeça do
dorsal na região do duodeno, mesocolo dorsal na
pâncreas fixam-se retroperitonealmente.
região do cólon e mesentério, propriamente dito,
correspondendo ao mesentério dorsal das alças do MESENTÉRIO DORSAL DOS
jejuno-íleo. INTESTINOS MÉDIO E CAUDAL
O mesoventral persiste apenas na porção
O mesentério dorsal do jejuno-íleo
cranial do tubo digestório, estendendo-se até a
acompanha as rotações das alças intestinais e
extremidade caudal do futuro duodeno. Daí em
sofre modificações.
diante, o mesoventral deixa de existir.
Giovanna Andrade Fernandes
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Esse mesentério corresponde ao ventrais do corpo, o coração fica por fora do lugar
mesentério dorsal das alças do jejuno-íleo. de convergência, em vez de ser incorporado.
Quando os cólons chegam à sua porção MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS –
definitiva, os mesentérios dos cólons ascendente, COMUNICAÇÃO ENTRE AS
descendente e da parede do sigmoide são CAVIDADES PERICÁRDICAS E
apertados contra o peritônio da parede dorsal
PLEURAIS
abdominal. Ocorre a fusão dessas camadas, e os
cólons ascendente e descendente ficam ancorados Um defeito pericárdico, que causa
em posição retroperitoneal definitiva. Somente o distúrbios relativos pequenos, é uma formação ou
apêndice e a porção inferior do ceco permanecem fusão defeituosa das membranas
com o seu mesentério livre. pleuropericárdicas que separam as cavidades
pericárdica e pleurais. Permanece uma
O mesocolo transverso evolui
comunicação entre a cavidade pericárdica e uma
diferentemente, apresentando uma linha de
das cavidades pleurais.
inserção, que se estende da flexura hepática do
cólon ascendente à flexura esplêcnica do cólon MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS –
descendente. EVENTRAÇÃO DO DIAFRAGMA
MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS – A eventração do diafragma é um defeito
HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA raro, no qual parte do diafragma apresenta
CONGÊNITA musculatura defeituosa e expandida para a
cavidade torácica. Como resultado, um pequeno
Hérnia diafragmática congênita é um
saco peritoneal contendo alças intestinais pode
defeito posterolateral do diafragma e ocorre com
entrar no tórax. Esse defeito ocorre de uma falha
mais frequência no lado esquerdo. Não se conhece
na formação do tecido muscular que se
bem a razão desse fato, mas provavelmente está
desenvolve dentro da membrana pleuroperitoneal.
relacionado ao fechamento mais precoce da
abertura pleuroperitoneal direita. Em geral, essa MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS –
malformação deve-se à falta de desenvolvimento HÉRNIAS UMBILICAIS E
da prega pleuroperitoneal. INGUINAIS
No final da sexta semana, as membranas
As hérnias umbilicais resultam de um
pleuroperitoneais devem estar fundidas com
fechamento imperfeito do cordão umbilical, e as
outros componentes diafragmáticos, se isso não
alças intestinais podem sair por essa abertura. O
ocorre, as alças intestinais, que retornam do
mesmo pode ocorrer na região inguinal.
cordão umbilical para a cavidade abdominal,
podem passar para dentro do tórax. Em casos mais MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS –
raros, o fígado e os rins também podem atingir a HÉRNIA EPIGÁSTRICA CONGÊNITA
cavidade torácica, deslocando o coração e os
pulmões e comprometendo a respiração quando a Hérnia epigástrica congênita é um defeito
criança nasce. raro, ocorrendo na linha média, entre o processo
xifoide e o umbigo. É decorrente da falta de fusão
MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS – completa das pregas laterais do corpo durante o
Ectopia cordis processo de fechamento transversal na quarta
semana.
Esse defeito se estabelece possivelmente
em torno da terceira semana de desenvolvimento, MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS –
quando ocorre a demarcação dos celomas intra e CECO E CÓLON MÓVEIS
extraembrionários pela abertura do corpo. Nesse
momento, quando estão formando-se as paredes O cólon ascendente, em condições
normais, funde-se com a parede dorsal do abdome
Giovanna Andrade Fernandes
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(com exceção de uma pequena parte inferior). Se


o mesocolo persistir, poderá originar um ceco
móvel. Em um caso extremo, pode ocorrer falta de
fusão do mesentério dorsal de todo cólon
ascendente com a parede dorsal do corpo. Se isso
ocorre, a raiz do mesentério comum fica limitada
a uma pequena área, acima da origem da artéria
mesentérica superior, permitindo amplos
movimentos do tubo digestório e resultando em
valvas cecais e do cólon.

PROFESSOR HUGO – AULA 10

Sistema Nervoso
NEURULAÇÃO embrião, acima da notocorda e de parte do
mesoderma para-axial. Essa placa consiste em um
No homem, o esboço primitivo que dará espessamento ectodérmico (a placa neural).
origem ao sistema nervoso surge em torno de 18
dias de desenvolvimento, antes mesmo do
aparecimento do primeiro somito. Ele desenvolve-
se a partir do ectoderma situado na região
mediodorsal do embrião, à frente do nó e acima do
cordomesoderma. O cordomesoderma, que atingiu
sua posição pelo processo de gastrulação, será o
responsável pela indução do ectoderma supra
adjacente a tornar-se tecido neuroblástico.

A neurulação primária parece ser similar


em todos os vertebrados. Uma vez que se forma a
placa neural, suas bordas espessam-se e movem-se
para cima para formar as dobras neurais,
formando um sulco neural em forma de U, bem
no centro da placa. As dobras migram para a linha
média do embrião, fundindo-se para formar um
tubo neural debaixo do ectoderma. As células da
porção mais dorsal do tubo neural tornam-se as
Simultaneamente, com a regressão da linha
células das cristas neurais.
primitiva, a notocorda dirige-se caudalmente, e o
ectoderma situado acima dela também será
induzido a formar tecido neuroblástico.
Tem-se agora uma placa alongada em
forma de “chinelo”, com a porção mais larga na
extremidade cefálica, na região mediodorsal do
Giovanna Andrade Fernandes
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adjacentes que se alonguem em células colunares.


Sua forma alongada diferencia as células da
prospectiva placa neural das células achatadas da
presuntiva epiderme que as rodeia. A modelagem
da placa neural se faz mediante o movimento das
regiões epidérmica e da placa neural e do
alongamento do eixo anteroposterior. Mediante
uma extensão convergente, intercalando várias
camadas de células em poucas camadas, a placa
neural alonga-se e estreita-se. Mutações que
alteram esse movimento de extensão e
convergência bloqueiam o fechamento do tubo.
Isolando-se a placa neural, suas células estendem-
se e convergem, fazendo uma placa mais fina, mas
não são capazes de formar um tubo. Mas, se a
essas células são agregadas células das bordas
contendo células de epiderme presuntiva e da
placa, então se formam, em cultura, dobras
neurais.
DOBRAMENTO DA PLACA NEURAL
PARA A FORMAÇÃO DO SULCO
NEURAL
O dobramento da placa neural para a
formação do sulco é dependente de forças
intrínsecas e extrínsecas.
O dobramento da placa neural envolve a
formação de regiões de dobradiças, onde a placa
neural entra em contato com tecidos circundantes.
Nos mamíferos, as células da linha média da placa
neural são denominadas MHP (células do ponto
médio da dobradiça, isto é, as células da placa
A neurulação primária é dividida em neural supra-adjacente à notocorda). Sua origem é
quatro etapas distintas que se sobrepõem no tempo a porção média da placa neural, imediatamente
e no espaço. Essas etapas são: formação e anterior ao nó. As células MHP ancoram-se na
modelamento da placa neural, dobramento da notocorda subjacente e formam uma dobra nessa
placa para a formação do sulco neural, fechamento região, a qual forma um sulco na linha média
do sulco para a formação do tubo neural. dorsal. Influenciadas pela notocorda, essas células
diminuem sua altura e tomam a forma de cunha,
FORMAÇÃO E MODELAMENTO DA ao passo que as células laterais às MHP não
PLACA NEURAL sofrem essa alteração na forma. Pouco tempo mais
tarde, vão formar-se outras dobras laterais perto da
A placa neural é induzida pela conexão da placa neural com o que restou do
notocorda subjacente. ectoderma. Essas duas dobras são denominadas
A neurulação tem início quando o DLHPs (pontos de dobras dorsolaterais), onde as
mesoderma dorsal subjacente, assim como o células também aumentam sua altura e adquirem a
endoderma faringeal na região da cabeça forma de cunha, forma essa relacionada à presença
sinalizam às células ectodérmicas supra- de microtúbulos e microfilamentos.
Giovanna Andrade Fernandes
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Ao mesmo tempo, existem forças Essa separação é mediada pela expressão


extrínsecas atuando no dobramento da placa de moléculas diferentes de adesão celular. Embora
neural. O ectoderma superficial empurra para a as células que se tornarão tubo neural expressem
região média, fornecendo outra força de inicialmente E-caderina, elas param de produzir
dobramento. Essa força extrínseca, junto com o essa proteína quando o tubo neural se forma. Em
ancoramento na notocorda, faz com que o tubo vez de E-caderina, expressam N-caderina e N-
invagine. Assim, o puxar da epiderme presuntiva Cam. Como resultado, os tecidos da superfície
para o centro e o sulcamento do tubo neural criam ectodérmica e do tubo neural não aderem mais
as dobras neurais. entre si.
FECHAMENTO DO SULCO PARA A A região inicial do fechamento está na
FORMAÇÃO DO TUBO NEURAL altura do quarto somito, correspondendo à futura
região cervical do embrião.
Moléculas diferentes de adesão celular
estão presentes no ectoderma de revestimento e À medida que o processo de fechamento
no tubo neural e são as responsáveis pela sua do tubo neural evolui, persistem temporariamente
separação. dois orifícios: o neuróporo anterior e o
neuróporo posterior. O neuróporo anterior irá
O fechamento do tubo neural não ocorre fechar-se definitivamente em torno de 25 ou 26
simultaneamente ao longo do ectoderma. Nas aves dias, o posterior, em torno dos 28 dias.
e nos mamíferos, a neurulação na região cefálica
está bem avançada, quando na região caudal ainda O tubo neural, agora fechado, apresenta
está ocorrendo a gastrulação. O fechamento do uma porção cefálica dilatada, que originará o
tubo neural no mamífero é iniciado em vários encéfalo, e uma porção caudal cilíndrica, a futura
lugares ao longo do eixo anteroposterior. medula espinal.

O tubo neural forma um cilindro fechado O fechamento do tubo neural nos humanos
que se separa do ectoderma superficial. Com a exige uma interação complexa entre fatores
formação do tubo neural, ficam separados o genéticos e ambientais. Genes como Pax3, sonic
ectoderma que originará o sistema nervoso e o hedgehog e openbrain são necessários para a
ectoderma de revestimento. Durante esse formação do tubo neural, assim como os fatores
desprendimento, o tubo neural ficará localizado nutricionais, como colesterol e vitamina B12 (ácido
abaixo do ectoderma de revestimento, que se refaz fólico). Foi estimado que 50% dos defeitos do
de maneira contínua sobre aquele. Entre os dois tubo neural poderiam ser evitados se tivessem
irão infiltrar-se, pouco a pouco, elementos administrado às gestantes vitamina B12.
mesenquimatosos. CRISTAS NEURAIS
Durante o fechamento do tubo neural,
algumas células que se acham próximas de sua
borda permanecem independentes, não ficarão
incluídas no tubo neural e nem no ectoderma de
revestimento que se refaz por cima do tubo neural.
Essas células constituem duas bandas situadas de
cada lado dos ângulos delimitados pelo tubo
neural e pelo ectoderma de revestimento. Elas
formam as cristas neurais.
Inicialmente, as cristas neurais formam
duas faixas contínuas e paralelas à placa neural
entre ela e o ectoderma supra-adjacente. No
fechamento do tubo neural, as cristas, ao se
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destacarem dele, permanecem unidas e formam


uma lâmina dorsal contínua por cima dele.
Depois, essa lâmina se divide em duas estruturas
longitudinais, que sofrerão um processo de
segmentação. As duas colunas longitudinais
expandem-se da extremidade caudal à zona do
mesencéfalo do tubo neural. Os blocos
segmentados situam-se ao mesmo nível dos
somitos. Aí as células da crista neural originarão
os gânglios espinais e os sensitivos craniais (V,
VII, X e XI gânglios cranianos).
GÂNGLIO ESPINAL
Os neurônios pseudounipolares
inicialmente eram bipolares. Ambos os Os prolongamentos centrípetos formam,
prolongamentos têm características estruturais coletivamente, as raízes posteriores. Tais
de axônios, porém, o prolongamento periférico prolongamentos centrípetos atravessam a porção
funcionalmente é um dendrito. dorsal do tubo neural e terminam na placa alar
Os neurônios que povoam os gânglios (corno dorsal sensitivo da medula), ou
espinais são do tipo pseudounipolares. De início, ascendem a porções mais altas do neuroeixo pelas
os neuroblastos ganglionares eram bipolares, mas colunas brancas dorsais da medula (funículos
depois seus dois prolongamentos uniram-se e posteriores).
formaram um prolongamento único, do qual parte Os prolongamentos centrífugos dirigem-se
um ramo para a periferia do corpo (ramo perifericamente e inervam órgãos receptores
centrífugo), ao passo que o outro se dirige sensitivos. Os prolongamentos periféricos juntam-
centralmente (ramo centrípeto). Ambos os se com aqueles provenientes do corno anterior da
prolongamentos têm características estruturais de medula espinal com os quais formam os nervos
axônio, mas o prolongamento periférico é um espinais.
dendrito, pois ele traz o estímulo captado na
periferia em direção ao corpo celular. Esses OUTRAS ESTRUTURAS DERIVADAS
prolongamentos periféricos dirigem-se pelos DAS CRISTAS NEURAIS
nervos para terminações nervosas sensoriais em
estruturas somáticas ou viscerais. O outro ramo é Gânglios do sistema nervoso autônomo,
um axônio também no sentido de conduzir o células de Schwann, células satélites dos
impulso do corpo do neurônio para o centro. gânglios, células cromafins da medula das
suprarrenais e cartilagem dos arcos branquiais
são também derivados das cristas neurais.
Gânglios do sistema nervoso autônomo:
nas regiões torácica e lombar superior ocorrem
migraçaões de neuroblastos das cristas neurais
para o lado e para a frente da coluna vertebral,
para formarem os neurônios da cadeia simpática
e dos gânglios abdominais intermediários
(celíacos, mesentéricos e renais). Os axônios que
se originam desses neurônios permanecem
amielinizados e, em conjunto, vão constituir as
fibras pós-ganglionares do simpático.
Giovanna Andrade Fernandes
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As fibras pré-ganglionares mielinizadas tubo, onde a divisão ocorre. Os núcleos das


do simpático provêm de neurônios existentes na células-filhas retornam outra vez até a zona
medula da coluna visceral eferente e fazem periférica externa do tubo. O processo ocorre da
conexão com os gânglios da cadeia simpática. seguinte maneira: durante a interfase, quando está
Quanto aos neurônios dos gânglios ocorrendo a síntese de DNA, a célula
parassimpáticos, não está bem esclarecido se eles neuroepitelial tem um aspecto de cunha, com a
provêm da crista neural ou se são originados sua parte mais alargada, contendo o núcleo na
exclusivamente pela migração de células da zona periférica externa do tubo e a parte
coluna visceral eferente. citoplasmática mais afilada estendendo-se para o
lúmen. Depois da interfase, o núcleo migra em
Células de Schwann: compõem a bainha
direção ao lúmen e, consequentemente, a parte
de mielina dos nervos periféricos.
mais alargada da célula acompanha o
É possível que a pia-máter e a aracnoide deslocamento do núcleo. Na fase de metáfase,
se originem da crista neural. Esse ponto, no notam-se as partes das células alargadas com
entanto, não está bem esclarecido. O mesênquima núcleos em contato com o lúmen. As mitoses
ao redor do tubo neural condensa-se para formar a estão controladas e ocorrem em “ondas”, tanto no
dura-máter. Há quem sustente que a pia- sentido cefalocaudal quanto dorsoventral. É
aracnoide se origine também dessa meninge importante compreender que existem picos de
primitiva. crescimento para diferentes zonas do tubo neural.
Antes do seu fechamento, a região cefálica
apresenta maior grau de crescimento caudal.
MEDULA ESPINAL –
NEUROEPITÉLIO
O neuroepitélio do tubo neural da
futura medula espinal é pseudoestratificado.
A medula espinal desenvolve-se do tubo
neural caudalmente em relação ao quarto
ventrículo.
Em uma primeira etapa de divisões, o fuso
O ectoderma da placa neural aberta
mitótico é paralelo ao lúmen do tubo neural.
inicialmente tem, na espessura, apenas uma
Consequentemente, as duas células-filhas
camada de células colunares. Essas células
resultantes permanecem unidas às células vizinhas
primitivas proliferam-se rapidamente, e, quando o
por especializações de membrana. Em uma etapa
sulco neural se fecha, em torno da nona à décima
seguinte, quando deverá iniciar a diferenciação
semana, o canal central é pequeno.
dos neuroblastos, algumas células continuam
A parede do tubo neural recém-fechado apresentando o fuso mitótico, como no caso
apresenta um único tipo de células, as células anterior. Porém, em outros casos, o fuso mitótico
neuroepiteliais, que se estendem por toda a se estabelece perpendicularmente ao lúmen do
espessura da parede, formando um grosso epitélio tubo neural, assim, somente uma das células-filhas
pseudoestratificado. As células neuroepiteliais fica em contato com o lúmen do tubo, ao passo
constituem a zona ventricular (camada que a outra fica livre e desloca-se em direção à
ependimária) e originarão os neurônios e as superfície externa. Essa célula perde a capacidade
células da macróglia. As células, que se de sintetizar DNA, não se divide mais e inicia sua
estendem desde a superfície interna do tubo diferenciação para neuroblasto.
neural, têm como propriedade característica a
Nos seres humanos, a produção de
divisão. Para realizarem a mitose, os núcleos
neuroblastos começa na oitava semana de
deslocam-se para as extremidades do lúmen do
desenvolvimento e termina na 22ª. Os
Giovanna Andrade Fernandes
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neuroblastos caracterizam-se por apresentar estão na camada do manto. A camada formará a


núcleo arredondado, nucléolo evidente e substância branca da medula, porque para ela
citoplasma claro. Inicialmente, são apolares, mas crescerão os axônios dos neurônios situados nos
logo desenvolvem dois processos opostos, gânglios espinais e do próprio encéfalo.
tornando-se bipolares. Mais adiante, um desses
O epêndima, que circunda o lúmen do tubo
processos é substituído por vários dendritos, e o
neural, forma-se também nas células
outro se alonga para formar o axônio. Nota-se
neuroepiteliais, quando essas cessam de produzir
também a formação e o desenvolvimento de certas
neuroblastos e glioblastos.
organelas: o retículo endoplasmático granular, os
ribossomos, o aparelho de Golgi e os A micróglia origina-se das células
neurotúbulos. Essas células passam a formar uma mesenquimais que, no período fetal, alcançam o
camada que é conhecida como zona do mato ou sistema nervoso central trazias com vasos
intermediária, que formará a zona cinzenta da sanguíneos.
medula.
MEDULA ESPINAL - LÂMINAS
DO TETO, DO ASSOALHO, BASAL E
ALAR
Em decorrência de um crescimento
diferenciado da zona do manto da medula
espinal em formação, as paredes laterais do
tubo neual espessam-se, ao passo que as
paredes do teto e do assoalho continuam
delgadas.
No decorrer do desenvolvimento, a zona
do manto apresenta um crescimento diferenciado
e, em consequência, as paredes laterais do tubo
neural espessam-se, ao passo que as paredes do
teto e do assoalho continuam delgadas. As placas
do teto e do assoalho não contêm neuroblastos e
futuramente servirão como caminho para fibras
nervosas que cruzam a medula de um lado a outro.
Outras células, também originadas do
neuroepitélio, originarão as células da macróglia
(astrócitos e oligodendrócitos). São células
menores do que os neuroblastos, que originarão os
neurônios. As primitivas células da macroglia são
chamadas de espongioblastos ou glioblastos. Os
oligodendroblastos darão origem aos As paredes neurais logo originarão
oligodendrócitos, e os astroblastos originarão os espessamentos ventrais e dorsais. Os
astrócitos. Os espongioblastos diferenciam-se espessamentos ventrais originarão as placas
principalmente após haver cessado a formação de basais, formadoras das futuras áreas motoras do
neuroblastos. Essas células migram da zona neuroeixo. Os espessamentos dorsais originarão as
ventricular (junto do lúmen do tubo) para a zona placas alares, formadoras das futuras áreas
intermediária (do manto) e para a zona marginal. sensoriais da medula. O crescimento diferenciado
das placas motoras e alares determina a formação
A zona marginal corresponderá à camada
de um sulco longitudinal, o sulco limitante,
mais externa da medula e conterá as fibras
nervosas, que emergem dos neuroblastos que
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posicionando entre essas duas áreas, na face A formação da bainha de mielina em torno
voltada para o lúmen do tubo. dos axônios tem início ao redor do quarto mês de
vida fetal e esse processo continua durante todo o
As placas basais (cornos ventrais)
primeiro ano de vida pós-natal. A mielinização,
expandem-se, direcionando-se ventralmente.
em geral, completa-se na época em que as fibras
Decorre desse crescimento o aparecimento de um
se tornam plenamente funcionais.
sulco longitudinal mediano e ventral (a fissura
mediana ventral). Futuramente, anterior a essa As células de Schwann, derivadas das
fissura, ocorrerá a artéria espinal anterior. As cristas neurais, promovem a mielinização dos
placas alares (cornos dorsais) crescem e axônios dos neurônios motores somáticos e dos
aproximam-se uma da outra na linha média, neurônios motores autônomos pré-ganglionares,
obliterando a porção dorsal do tubo neural e tanto do simpático quanto do parassimpático,
formando, dessa forma, o septo mediano dorsal. quando esses saem do sistema nervoso central.
A medula apresenta agora sua forma definitiva, Essas células mielinizam também os
com seus cornos sensitivos dorsais, cornos prolongamentos central e periférico dos neurônios
motores ventrais e um pequeno canal medular pseudounipolares sensitivos viscerais e somáticos.
central. A mielinização dos axônios, ainda no interior do
sistema nervoso central, é promovida pelos
A medula espinal, na região torácica e
prolongamentos dos oligodendrócitos.
lombar superior, desenvolve mais um corno (o
corno lateral). A sua porção ventral situa-se na MEDULA ESPINAL – MODIFICAÇÕES
placa basal, e os axônios dos seus neurônios são NA POSIÇÃO DA MEDULA
aferentes e emergem pela raiz nervosa ventral,
indo para os gânglios simpáticos. A porção dorsal Em decorrência de um crescimento mais
do corno lateral situa-se na placa alar e, portanto, acentuado da coluna vertebral, a medula
é eferente. espinal, ao nascimento, está no nível da 2ª ou 3ª
vértebra lombar e, no adulto, geralmente, na
Os axônios dos neurônios do corno basal borda inferior da 1ª vértebra lombar.
(motor) são predominantemente eferentes
(motores) e atravessam a zona marginal Até o terceiro mês de desenvolvimento, a
(substância branca), e a sua reunião no lado medula ocupa toda a extensão do canal vertebral e
ventral da medula constitui a raiz motora dos os nervos espinais atravessam os forames
nervos espinais anteriores. Os nervos são vertebrais no seu nível de origem. Eles formam
responsáveis pela transmissão de impulsos praticamente um ângulo reto com a medula. Com
motores da medula para a periferia do corpo. o decorrer do desenvolvimento, no entanto, a
coluna vertebral e a dura-máter crescem mais
Os axônios dos neurônios do corpo dorsal rapidamente do que a medula. Os nervos espinais
(sensitivos) são predominantemente aferentes persistem com as suas saídas pelos forames
(sensitivos), penetram na zona marginal da iniciais e, por isso, principalmente os das regiões
medula (substância branca), de onde descem para lombar e sacra ocorrem obliquamente em relação
um nível mais baixo (ramo descendente) e sobem à medula. O posicionamento da medula dentro do
para um nível mais alto (ramo ascendente). canal vertebral obedece ao seguinte padrão: aos
MEDULA ESPINAL – MIELINIZAÇÃO seis meses de vida fetal, a medula situa-se ao nível
da primeira vértebra sacra, na criança recém-
As células de Schwann mielinizam os nascida, está no nível da segunda ou terceira
axônios de neurônios do sistema nervoso vértebra lombar, no adulto, geralmente termina na
periférico, ao passo que os olingodendrócitos borda inferior da primeira vértebra lombar,
mielinizam os axônios de neurônios do sistema próximo ao início da segunda.
nervoso central.
Giovanna Andrade Fernandes
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Quando vértebras são envolvidas no defeito,


as meninges da medula podem protrair pelo
orifício que permaneceu aberto, originando um
saco cístico. Esse saco poderá conter líquido
cerebrospinal. O defeito, então, é conhecido como
espinha bífida com meningocele. Apesar de a
medula e de suas raízes permanecerem em posição
normal, poderão apresentar comprometimento
clínico. Um caso bem mais grave dessa
Abaixo dessa vértebra, as raízes nervosas malformação é quando a medula e/ou suas raízes
dorsal e ventral formam um conjunto de raízes protraem para dentro do saco cístico. Esse defeito
conhecido como cauda equina. A porção terminal é conhecido como espinha bífida com
da medula é chamada de cone medular. A única meningomielocele (originada da palavra melos,
meninge que se estende por toda a coluna que, no grego, significa medula, indicando sua
vertebral, no adulto, é a dura-máter. A pia-máter inclusão no defeito).
forma um filete fibroso, o filamento terminal, o
qual marca a zona de regressão da medula espinal.
O filamento terminal alonga-se do cone medular,  Espinha bífida com mielosquise
fixando-se no periósteo da primeira vértebra
coccígea do adulto. Nesse defeito, não ocorre fechamento do tubo
neural. As pregas não se aproximam, para se
MEDULA ESPINAL – MALFORMAÇÕES fundirem, ficando, assim, o tecido nervoso
CONGÊNITAS DA MEDULA largamente exposto à superfície do corpo. A área
afetada apresenta-se como uma área de massa
No final da quarta semana de achatada. Pode estar associada, a esse caso, uma
desenvolvimento, quando o tubo neural dilatação cística do espaço subcutâneo, para
termina de fechar-se (primeiramente, o dentro do qual, eventualmente, projetam-se raízes
neuróporo anterior e depois o posterior), ele se dos nervos espinais.
separa do ectoderma que o recobre. Quando
esse fechamento não é completo ao longo de
todo o tubo neural, ou restrito a pequenas
áreas, ocorrem defeitos de maior ou menor
significado.
 Espinha bífida oculta
Caracteriza-se por uma falha de soldadura das
metades normais das vértebras. Quando essa
malformação ocorre, é mais comum que seja nas
regiões sacra, lombar e cervical. O defeito não é
visível na superfície, a não ser, às vezes, por
pequenos tufos de cabelos na região afetada.
Nesse caso, a medula geralmente se desenvolve
bem e não há nenhum comprometimento clínico.
Se, nesse mesmo caso, uma fina abertura permite ENCÉFALO
que as meninges atinjam o ectoderma e se abram
Após seu fechamento, o aspecto externo do
no exterior, têm-se constituído um seio dérmico.
tubo neural, cranial ao quarto somito, começa a
 Espinha bífida cística alterar-se rapidamente, e o aparecimento de três
vesículas cerebrais torna-se evidente na quarta
semana: o prosencéfalo, o mesencéfalo e o
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rombencéfalo, isto é, cérebro anterior, médio e As vesículas cerebrais apresentam um


posterior, respectivamente. O prosencéfalo lúmen interno contínuo com o lúmen da medula
originará duas vesículas: o telencéfalo e o espinal. A cavidade do rombencéfalo corresponde
diencéfalo. O mesencéfalo não se subdividirá. O ao quarto ventrículo, a do diencéfalo, ao terceiro
rombencéfalo formará também duas vesículas: o ventrículo, e a das vesículas telencefálicas, aos
metencéfalo e o mielencéfalo. ventrículos laterais.
TRONCO ENCEFÁLICO
O mesencéfalo e o rombencéfalo
constituem o tronco encefálico.
No final do primeiro mês, o tronco
encefálico está representado pelo mesencéfalo e
pelo rombencéfalo, que, pela flexura cefálica,
formam um ângulo com o prosencéfalo.
O rombencéfalo tem uma forma romboide,
e o mesencéfalo é praticamente cilíndrico, com a
face dorsal mais espessa que a ventral, decorrendo
daí sua curvatura. O eixo transversal do
mesencéfalo é um pouco maior que seu eixo
longitudinal, além de apresentar um diâmetro
FLEXURAS CEREBRAIS menor nas suas extremidades do que na sua região
Flexuras do tubo neural são média, definindo-se, por essa razão, os sulcos que
determinadas pelo seu acentuado crescimento. o separam do prosencéfalo e do rombencéfalo.
Tais flexuras modificam a sua forma tubular,
proporcionando-lhe um padrão mais
aproximado à morfologia encefálica. DESENVOLVIMENTO DO
ROMBENCÉFALO
O crescimento acentuado do encéfalo
durante a quarta semana faz com que ele se O rombencéfalo subdivide-se em duas
flexione ventralmente na junção do rombencéfalo vesículas: o mielencéfalo e o metencéfalo.
com a medula, originando a flexura cervical.
Uma segunda flexão ventral, em relação à prega  Mielencéfalo
cefálica, origina a flexura cefálica na região do
O mielencéfalo é a porção mais caudal da
mesencéfalo, colocando-o proeminentemente na
terceira vesícula encefálica, compreendida entre a
extremidade cefálica do embrião, posição que
região em que surgirão as raízes do primeiro nervo
manterá até ser envolvido pelos hemisférios
cervical (aproximadamente no nível do forame
cerebrais (originados do telencéfalo). Mais tarde,
magno e da flexura pontina). O mielencéfalo
surge a flexura pontina, decorrente do
originará o bulbo ou medula oblonga, cujos
crescimento desigual do rombencéfalo e em
neurônios originam os centros nervosos, os
direção oposta às duas primeiras. A flexura
“núcleos”, implicados na transmissão da dor para
pontinha ocasiona o adelgaçamento do teto do
a cabeça, pelas conexões auditivas, assim como
rombencéfalo. O segmento do rombencéfalo,
pelos movimentos gastrintestinais,
rostral à flexura pontina, corresponde ao
cardiovasculares e respiratórios. O mielencéfalo
metencéfalo e originará a ponte e o cerebelo, ao
apresenta inicialmente o mesmo plano básico da
passo que a região caudal a esta flexura
medula: as paredes laterais engrossadas (placas
corresponde ao mielencéfalo, que originará o
alares e basais), as paredes dorsal e ventral
bulbo ou medula oblonga.
adelgaçadas (placas do teto e do piso). Nas faces
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precoces do desenvolvimento, as placas basais do tinha forma de fenda, agora está alargado e
mielencéfalo mostram espessamento originado por formará a porção caudal do quarto ventrículo. A
proliferação de neuroblastos motores que se parte mais caudal do mielencéfalo corresponde à
dispõem segmentalmente. São conhecidos como porção fechada do bulbo, e essa região muito se
neurômeros ou rombômeros e representam assemelha à medula espinal. O lúmen permanece
territórios separados nos quais as células dentro de um canal estreito. Neuroblastos das placas alares
cada um se misturam, mas não o fazem com as (sensitivas) migram para a zona marginal, onde
células de rombômeros adjacentes e cada um tem formam os núcleos gráceis (medianos) e os
destino característico. Eles fazem saliências em núcleos cuneiformes (laterais). Tais núcleos
cada lado da linha média na face ventral vista por associam-se com tratos do mesmo nome
fora e no piso do quarto ventrículo. provenientes da medula. Na área ventral do bulbo
Posteriormente, fundem-se, para formar as (porção fechada), surge um par de feixes de fibras
colunas ventrais de substância cinzenta, que corticoespinais descendentes, as pirâmides,
continuam com as da medula. A continuidade provenientes, em parte, do córtex cerebral. Na
dessas colunas é interrompida em certos pontos parte mais rostral do mielencéfalo, em decorrência
por especializações locais. Quando uma porção da do movimento de abertura, as placas alares
substância cinzenta fica mais ou menos situam-se lateralmente e mais dorsais do que as
delimitada, recebe o nome de núcleo. Os placas basais, resultando, posteriormente, em uma
neurômeros que, no homem, aparecem entre a porção mediana dos núcleos motores em relação
terceira e a quarta semana, têm uma existência aos núcleos sensitivos. Os neuroblastos das placas
transitória. São em número de seis e são basais do mielencéfalo (bulbo), assim como os da
classificados pelas letras a, b, c, d, e, f. O mais medula desenvolvem os núcleos motores. No
anterior está na altura da flexura pontina. Os mielencéfalo, esses núcleos originam três colunas
rombômeros relacionam-se com a origem dos em cada lado. Do centro para os lados, são as
pares craniais que inervam os arcos branquiais e seguintes: (a) eferente somático geral (neurônios
que são o trigêmeo (V), que inerva o primeiro arco do nervo hipoglosso); (b) eferente visceral
branquial, e sua raiz motora, que se origina na especial (neurônios que inervam os músculos dos
zona correspondente aos rombômeros a e b; o arcos branquiais); (c) eferente visceral geral lateral
facial (VII), que inerva o segundo arco branquial e (alguns neurônios do vago e do glossofaríngeo).
sua raiz motora, que se origina na zona As placas alares contêm os núcleos sensitivos que
correspondente ao rombômero c; o glossofaríngeo formam quatro colunas de cada lado. Essas são do
(IX), o vago (X) e o espinal (XI), que inervam os centro para os lados: (a) aferente visceral geral
terceiro e o quarto arcos e que têm origem dos (recebe impulsos das vísceras); (b) aferente
rombômeros e e f (seus neuroblastos constituirão visceral especial (recebe impulsos dos botões
o núcleo ambíguo). Estranhamente foge dessa gustatórios da língua); (c) aferente somático geral
relação entre rombômeros e arcos branquiais o (recebe impulsos das fibras provenientes da
rombômero d, que origina o motor ocular externo superfície da cabeça); (d) aferente somático
(VI). A modificação mais pronunciada, já no especial (recebe impulsos provenientes da orelha).
início do desenvolvimento da parte rostral do Além da formação das colunas, outros
mielencéfalo (região aberta do bulbo), é a neuroblastos da placa alar migram para baixo, isto
divergência dorsal das placas laterais, isto é, as é, posicionam-se ventrolateralmente à placa basal,
placas rotam em torno de um eixo longitudinal originando o complexo nuclear olivar. A placa do
imaginário, comparando-se ao movimento que se teto do mielecéfalo, extremamente fina, é
faz quando se abre um livro. Como consequência, constituída por uma única camada de células
a parede do teto fica muito adelgaçada e formará a ependimárias, recobertas externamente pela pia-
tela coroide do quarto ventrículo, porém, a máter (mesênquima vascular). Essas duas
estrutura geral das paredes laterais continua estruturas constituem a tela coroide. Uma
similar à da medula, com o sulco limitante proliferação ativa do mesênquima vascular
separando as placas alares e basais. O lúmen, que determina uma série de invaginações dessa tela,
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que se projetam para dentro do lúmen do quarto pedúnculos cerebelares médios. Como ocorreu
ventrículo, na região correspondente à flexura na medula e no bulbo, o sulco limitante, no
pontina, originando o plexo coroide, produtor de metencéfalo, separa as placas alares e basais, e os
líquido cerebrospinal. Posteriormente, em torno núcleos aferentes encontram-se em posição dorsal
do quarto mês de desenvolvimento, surgem em relação ao sulco, ao passo que os núcleos
orifícios na placa do teto do romboencéfalo, em eferentes estão em posição ventral. Cada placa
regiões em que ele se torna muito adelgaçado, basal contém dois grupos de núcleos motores: (a)
originando os forames de Luschka (dois laterais) em posição medial, o eferente somático, que
e o de Magendie (mediano), através dos quais o origina o nervo abducente (VI); (b) em posição
líquido cerebrospinal tem acesso livre ao espaço lateral, o grupo visceral: eferente visceral especial,
subaracnoide. Após circular pelo espaço que origina os componentes branquiomotores do
subaracnoide, o líquido cerebrospinal será nervo trigêmeo (V), que inerva a musculatura de
absorvido para dentro do sistema venoso através origem do primeiro arco branquial e do nervo
das vilosidades aracnoides que são protrusões da facial (VII), que inerva a musculatura originada do
aracnoide que se interiorizam para os seios segundo arco branquial; eferente visceral geral,
venosos durais. Plexos coroides semelhantes que contém fibras salivares do nervo facial. O
formam-se no teto do terceiro ventrículo e nas desenvolvimento das placas alares do metencéfalo
paredes medianas dos ventrículos laterais. apresenta um desenvolvimento diferente de
acordo com suas porções ventromediais ou
dorsolaterais. Suas porções ventromediais contêm
três grupos de núcleos sensitivos: (a) coluna
aferente visceral geral, correspondente à porção
cranial do núcleo sensitivo dorsal do nervo vago;
(b) coluna aferente visceral especial,
correspondendo à porção cranial do núcleo do
trato solitário, que recebe fibras gustatórias da
língua e do palato através do nervo intermediário,
do nervo glossofaríngeo (IX) e do nervo vago (X);
(c) coluna aferente somática lateral, que recebe
 Metencéfalo fibras sensitivas da porção pontina do nervo
trigêmeo; e uma pequena porção do complexo
O metencéfalo é derivado da região mais vestíbulo-coclear, que recebe fibras aferentes
cefálica do rombencéfalo e está compreendido sensitivas especiais da orelha interna.
desde a flexura pontina até o istmo
rombencefálico. Suas paredes originam a ponte e
o cerebelo, ao passo que o seu lúmen contribui
para a formação da parte cranial do quarto
ventrículo. A camada marginal das placas basais
originam a ponte, local por onde passam muitas
fibras nervosas que ligam a medula espinal com os
córtices cerebral e cerebelar. Devido à grande
quantidade de fibras que passa pelo plano
mediano da ponte, forma-se uma saliência
volumosa no seu lado anterior e lateral. Além da
grande quantidade de fibras nervosas, na ponte DESENVOLVIMENTO DO
desenvolvem-se os núcleos pontinos, derivados de
MESENCÉFALO
neuroblastos que migraram das placas alares do
metencéfalo e do mielencéfalo. Os axônios desses A parede dorsal do mesencéfalo, ao
neurônios dirigem-se ao cerebelo, formando os contrário das vesículas rombencefálicas, não se
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adelgaça. Suas placas alares e basais, separadas Essa região desenvolve-se a partir das placas
pelo sulco limitante, são facilmente basais do mesencéfalo e contém os núcleos de
reconhecidas. origem do terceiro par craniano (oculomotores) no
nível dos colículos superiores, os núcleos do
Anatomicamente, o mesencéfalo é quarto par (tocleares) no nível dos colículos
formado por três regiões principais: o teto, o inferiores. No tegumento do mesencéfalo, situam-
tegumento (porção média) e a porção se os núcleos rubros, que estão em cada lado,
peduncular (pé do pedúnculo). perto da linha média. A substância nigra (núcleo
negro) também teria origem na placa basal, que
está situada em ambos os lados, adjacente ao
pedúnculo ceberal.

 Região peduncular (pé do pedúnculo)

A camada marginal de cada placa basal


aumenta consideravelmente e forma os
pedúnculos bsais ou crus cerebri. A região é
formada principalmente por feixes de fibras
longitudinais. O pigmento aparece tardiamente e,
no recém-nascido, sua quantidade ainda é
pequena. Os feixes de fibras dos pedúnculos
cerebrais, crus cerebri, são formações tardias,
tanto ontogenética quanto filogeneticamente. Elas
são, na maior parte, via descendente, isto é,
descem do córtex cerebral para os núcleos da
ponte e da medula. Essas fibras são conhecidas
como tratos cortispinal, corticobulbar e
corticopontino.

DESENVOLVIMENTO DO
PROSENCÉFALO

O prosencéfalo se subdividirá,
originando duas vesículas: o diencéfalo e o
 Teto do mesencéfalo telencéfalo.
Os neuroblastos das placas migram para o teto
 Diencéfalo
ou tectum e formam dois pares de eminências
conhecidas como colículo superior (anterior) e O diencéfalo é uma vesícula ímpar, derivada
colículo inferior (posterior). Essas quatro do prosencéfalo, limitada, posteriormente, por um
elevações recebem o nome de tubercúlos plano que passa atrás da pineal e dos corpos
quadrigêmeos. Os colículos superiores são mamilares e, anteriormente, por um plano que
centros reflexos e de correlação visual, e os passa na frente do quiasma óptico e do forame de
inferiores estão relacionados aos reflexos Monro. Em corte transversal, o diencéfalo
auditivos. Os colículos formam-se por intensa apresenta uma forma hexagonal. Para alguns
proliferação de células do manto que migram para autores, essas seis faces têm correspondência com
a zona marginal. as descritas para a medula, o bulbo etc., ou seja,
placas alares, basais do teto, e do assoalho. Outros
 Porção média do mesencéfalo – o autores não encontram essa correspondência e
tegumento consideram que o diencéfalo não apresenta placas
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basais e nem assoalho, sendo que as alares se telencefálicas entram em continuidade ao longo do
fundiram na linha média ventral. O diencéfalo teto do diencéfalo constituem as lâminas coroides
origina importantes estruturas e, apesar disso, seu dos ventrículos laterais. Nessa região,
crescimento é pouco acentuado. O grande inicialmente, o delgado epêndima do teto dos
espessamento de suas paredes laterais comprime o hemisférios é contínuo com o teto ependimário do
lúmen, resultando daí o terceiro ventrículo como terceiro ventrículo. É nesse local que se formam
uma estreita fenda vertical. Antes que o os plexos coroides dos ventrículos laterais. Os
prosencéfalo se divida e mesmo antes do hemisférios cerebrais expandem-se muito.
fechamento do neuróporo anterior, surgem duas Porlongam-se em direção rostral e ocultam a
projeções laterais, as vesículas ópticas. Mais porção média do telencéfalo (lâmina terminal).
tarde, com a divisão do prosencéfalo, elas ficarão Expandem-se ainda mais em direção dorsal e
em conexão com o diencéfalo. Essas vesículas caudal, cobrindo todo o diencéfalo e o telencéfalo.
formarão a retina e as vias ópticas primárias, além Os hemisférios se encontram na linha média.
de induzir a formação de diversos constituintes do Nessa região, suas faces achatam-se (superfície
globo ocular. mediana) e aprisionam o mesênquima na fissura
longitudinal entre elas, originando a foice do
 Telencéfalo cérebro (lâmina de dura-máter). Inicialmente as
paredes das vesículas telencefálicas estão
No início, é formado por uma vesícula única, constituídas, como em outros segmentos do tubo
mas é a que apresenta o maior e mais complexo neural, por uma camada epedimária, uma camada
desenvolvimento nos mamíferos. Essa vesícula, a do manto e uma marginal. Os neuroblastos da
mais anterior do tubo neural, logo apresenta duas camada do manto migram para a camada marginal
evaginações dorsolaterais, as vesículas de maneira que o córtex cerebral será marginal
telencefálicas, que darão origem aos hemisférios (substância cinzenta). A substância branca,
cerebrais. A parte cranial média do telencéfalo é constituída pelos prolongamentos dos neurônios
chamada lâmina terminal e não participa na corticais, será de localização interna nos
formação dos hemisférios cerebrais. As cavidades hemisférios cerebrais. Na substância branca, são
das vesículas telencefálicas (ventrículos laterais) encontradas fibras de associação que põem em
no início se comunica amplamente com o lúmen mútua relação os córtices cerebrais de ambos os
do terceiro ventrículo (diencéfalo) por meio do lados, assim como feixes de fibras de proteção que
orifício interventricular de Monro. Mais tarde, estabelecem relações do córtex cerebral com
essas comunicações tornam-se muito menores. A outras partes do sistema nervoso. Situados na
separação das paredes laterais do tubo neural em substância branca, ladeando os ventrículos,
placas basais e alares não está definida. Há autores encontram-se massas nucleares (substância
que consideram, no telencéfalo, somente a cinzenta), que constituem os núcleos da base. O
existência da lâmina do teto e as placas alares. De conjunto dos principais núcleos da base forma o
qualquer maneira, as vesículas telencefálicas, corpo estriado.
devido às suas relações gerais, são consideradas
provenientes das placas alares. As vesículas  Corpo estriado
telencefálicas laterais apresentam expansão rostral
muito grande, muito maior que a parede rostral do No decorrer da sexta semana de
segmento médio do telencéfalo (a lâmina desenvolvimento, começa a se formar uma
terminal). É por meio da porção dorsal da delgada saliência proeminente na camada do manto das
lâmina terminal que, durante o desenvolvimento, paredes ventrolaterais dos hemisférios cerebrais.
se tornam visíveis feixes de fibras que cruzam de Essa região corresponde à região basal interna dos
um lado a outro o cérebro, relacionando entre si os hemisférios, portanto justaventricular, onde há
centros olfatórios. Essa é a primeira conexão inter- comunicação direta com a área talâmica do
hemisférica que surge e que se chama comissura diencéfalo. Essa formação, de aspecto estriado, é
anterior. As zonas onde as vesículas raiada por feixes fibrosos brancos na sua
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substância cinzenta, daí seu nome. São conexões consideravelmente a área do córtex cerebral sem
muito complexas, algumas das quais ainda não aumento de volume de massa encefálica.
compreendidas, mas sabe-se que intervêm na
coordenação de atividades musculares muito
complexas. A configuração é visível no terceiro
mês. O crescimento dos hemisférios também afeta
ventrículos situados dentro deles, formando seus
prolongamentos, ou cornos anterior e inferior.
Durante o crescimento, o corpo estriado está
dividido em duas partes: uma parte dorsomedial,
que forma o núcleo caudado, uma porção
ventrolateral, que forma o núcleo lenticular. A
divisão do corpo estriado em núcleo caudado e
lenticular deve-se ao desenvolvimento de feixes
de fibras aferentes e eferentes, que conectam
mutuamente o córtex cerebral e os centros  Córtex cerebral
inferiores e atravessam a massa nuclear do corpo
estriado. Esse feixe de fibras constitui a cápsula O córtex cerebral pode ser dividido em uma
interna. O núcleo caudado recebe esse nome área filogeneticamente mais antiga, a porção
porque, no seu crescimento, com exceção da parte cortical do rinencéfalo (paleopálio), e em uma
rostral, ele se adelgaça. A porção rostral mais mais recente (neopálio). O riencéfalo começa a se
volumosa, piriforme (cabeça), e o corpo situam-se formar em torno da sexta semana como uma
no assoalho do prolongamento ou corno anterior evaginação da parte ventral do telencéfalo.
do ventrículo lateral, e a porção afilada e alongada Compreende duas partes: uma basal e outra
(cauda) faz uma volta em U e situa-se no teto no cortical. A porção basal, que se exterioriza como
prolongamento inferior. O núcleo lentiforme, evaginação do telencéfalo, é constituída pelo
mais tarde, é subdividido em uma porção lateral bulbo olfatório e pelo pedúnculo olfatório. A
externa, o putame, e em uma porção medial, o porção cortical do rinencéfalo localiza-se na parte
globo pálido. Putame, que significa casca, do telencéfalo e é composta pelo hipocampo e
corresponde à parte externa do núcleo lenticular, e pela substância cinzenta, imediatamente contígua.
a parte interna, que, no adulto, apresenta muitas As células dessa área migram da camada do manto
fibras mielinizadas, que lhe dão aspecto para a zona marginal, onde formam uma delgada
esbranquiçado, recebe o nome de globo pálido. camada superficial e servirão do ponto de
Como consequência da expansão dos hemisférios retransmissão dos impulsos olfatórios. O número
cerebrais, suas superfícies mediais aproximam-se de camadas dessa região cortical é menor do que
das superfícies laterais do diencéfalo, ocorrendo, as seis características do neocórtex. O hipocampo
posteriormente, fusão dessas paredes, permitindo apresenta configuração arqueada, acompanhando
que o núcleo caudado e o tálamo entrem em a extensão dos hemisférios cerebrais e formando a
íntimo contato. O crescimento dos hemisférios porção ventromedial do córtex cerebral,
cerebrais origina a formação dos lobos frontal, caudalmente, segue a curva do núcleo caudado. O
temporal, parietal e occipital. Contudo, a região neocórtex deriva do neopálio. Nos primatas, o
lateral do corpo estriado cresce mais devagar, neocórtex oculta por completo o rinencéfalo, tão
ficando em uma depressão conhecida como lobo desenvolvido nos mamíferos inferiores e ainda
da ínsula. Essa região é recoberta pelo mais em outras classes. O neocórtex está
crescimento dos lobos adjacentes. Os hemisférios especialmente desenvolvido no homem. É no
cerebrais, inicialmente, apresentam superfície lisa, neocórtex que se desenvolvem os centros
mas, à medida que crescem, surgem muitos sulcos relacionados com a memória, a atividade
e giros (atingindo o máximo de desenvolvimento voluntária e o controle inibitório, o que se deve ao
no homem). Esse mecanismo permite aumentar grande número de zonas associativas, sendo
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pequeno o número de zonas exclusivamente comissura posterior, a habenular e o quiasma


sensitivas ou motoras. O neocórtex diferencia-se óptico. A comissura posterior e a habenular
entre o 3º e o 7º mês de desenvolvimento a partir encontram-se abaixo e acima do pedúnculo da
das migrações das células do manto para a zona glândula pineal. O quiasma óptico desenvolve-se
marginal, ficando, dessa forma, a zona cortical na parte ventral da lâmina terminal, isto é, na
superficial. Daí se estabelecem as seis camadas parede rostral do diencéfalo, e contém fibras das
que o caracterizam. Os axônios, provenientes dos metades mediais das retinas que cruzam na linha
neuroblastos da zona cortical primitiva, invadem a média para juntar-se ao trato óptico do lado
camada intermediária e, ao adquirirem a bainha de oposto.
mielina, constituem a substância branca
hemisférica. MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS DO
ENCÉFALO
 Comissura branca anterior
As malformações do sistema nervoso
É a primeira a surgir, em torno do terceiro mês podem se derivar precocemente, desde o
de desenvolvimento. Suas fibras passam na porção momento da indução, durante o fechamento do
inferior da lâmina terminal e estabelecem conexão tubo neural, na organogênese ou, ainda, bem
entre o bulbo olfatório e as áreas cerebrais tardiamente, durante a diferenciação
relacionadas de um hemisfério com áreas histológica ou funcional.
correspondentes do hemisfério oposto.
O bom desenvolvimento de qualquer órgão
 Comissura do hipocampo ou do fórnice é determinado por uma interação de fatores
intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (ambientais).
Também começa a surgir por volta do terceiro Os fatores genéticos ficam estabelecidos no
mês de desenvolvimento e está relacionada com o momento da fecundação pela união dos dois
sentido do olfato. As fibras da comissura do gametas. O novo indivíduo terá o
hipocampo, como o nome diz, inter-relacionam desenvolvimento normal, quando o zigoto,
estruturas hipocampais de cada lado. Aparecem na geneticamente normal, desenvolve-se em um
posição dorsal em relação à comissura branca ambiente normal. Ocorrendo a alteração em
anterior. Em consequência do desenvolvimento do alguns desses fatores, principalmente no período
corpo caloso, será deslocada para trás e para da organogênese, podem surgir malformações.
baixo, até o polo temporal do hemisfério cerebral,
sofrendo uma grande regressão, situando-se, A placenta tem papel fundamental, pois é
finalmente, debaixo da extremidade caudal do através dela que se estabelecem as conexões entre
corpo caloso. o feto e a mãe, garantindo a passagem, para o feto,
de nutrientes, de oxigênio e de hormônios. A
 Comissura do corpo caloso saúde da mãe também é fundamental para garantir
uma composição sanguínea normal. A
Aparece na décima semana de
insuficiência cardíaca, as intoxicações maternas,
desenvolvimento. É a maior comissura e conecta
bem como as infecções e a ingestão de drogas
áreas neocorticais. De início, está situada dentro
podem atuar desfavoravelmente sobre o
da lâmina terminal, mas, à medida que o córtex
desenvolvimento fetal.
aumenta, mais fibras são a ela adicionadas e, no
final, estende-se além da lâmina terminal, anterior
e depois posteriormente, formando um arco sobre
o teto do diencéfalo. A lâmina terminal,
compreendida entre o corpo caloso e o fórnice,
torna-se muito delgada e recebe o nome de septo
pelúcido. Além dessas comissuras desenvolvidas
na lâmina terminal, formam-se ainda outras três: a

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