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Alterações bilaterais:
reequilíbrio econômico
financeiro do contrato
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Franco, C. da R,;
SST Alterações bilaterais: reequilíbrio econômico financeiro
do contrato / Caroline da Rocha Franco
Ano: 2020
nº de p.: 10 páginas

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Alterações do contrato
administrativo – cláusulas
exorbitantes

Apresentação
Nesta unidade, estudaremos alguns aspectos específicos do contrato administrativo
e perceberemos que essa modalidade possui características que a distinguem dos
negócios privados, pois é regida por normas específicas do direito público. Veremos
que, por força de lei, alguns contratos públicos poderão conter as chamadas
cláusulas de privilégio, que concedem, à Administração Pública, uma posição de
superioridade perante a outra parte. Por fim, estudaremos algumas possibilidades
de alterações do contrato administrativo e verificaremos que o legislador, ainda que
permita a alteração, buscou criar situações que preservem o interesse o público.

Alterações bilaterais: reequilíbrio


econômico-financeiro do contrato
Em geral, os contratos administrativos possuem prazos estipulados em normas
específicas. Todavia, diante de algum fato superveniente, eles podem sofrer
alterações.

Atenção
Os contratos são instrumentos bilaterais, ou seja, vincula as
partes em direitos e obrigações..

Para Justen Filho (2015), a equação econômico-financeira é a relação entre


encargos e vantagens assumidos pelas partes do contrato administrativo,
estabelecida por ocasião da contratação. Assim, essa norma deverá ser observada
ao longo da execução do contrato.

No entanto, o próprio desenvolvimento da atividade comercial exige que o


empresário controle tais riscos, considerando que há certos acontecimentos que
geram excessiva onerosidade, ou seja, causas supervenientes que podem surgir
e demandarem uma modificação contratual. A cláusula de equilíbrio econômico-

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financeiro é uma garantia de o contratado ter assegurado o direito de exigir adoção


de medidas econômicas capazes de fazer frente à situação.

Trata-se de um risco imprevisível e inevitável, que causa uma modificação


insuportável ao contratado e tamanha, que não se pode exigir que ele, já
prejudicado com a situação, arque com as consequências por um período temporal.
Esses fatos são classificados pela doutrina administrativa de fato principe e fato
administrativo.

Fato do príncipe

A todo poder público não relacionado com o contrato, mas que repercute
indiretamente sobre ele. Assim, há a consagração do direito pela indenização a um
terceiro, decorrente da prática de um ato ilícito e regular imputável ao poder estatal.
Essa lesão patrimonial deriva de um ato estatal válido, lícito e perfeito, que será
objeto de indenização.

Fato da administração

Esse tipo de fato, que não se confunde com o fato príncipe, é um ato praticado pelo
poder estatal de forma externa ao estipulado nas normas contratuais. O próprio ato
administrativo inviabiliza ou retarda a execução da obrigação contratual.

Desse modo, com o objetivo de manter as condições de proposta, inclusive


garantindo lucro à atividade do particular, é possível que, ao longo da execução do
objeto, tanto o contratante quanto o contratado, possam valer-se dos três institutos
garantidores do equilíbrio econômico-financeiro do contrato: reajuste, revisão
contratual e repactuação.

Instrumentos de reequilíbrio contratual

Reajuste

INSTRUMENTOS Revisão

Repactuação

Fonte: Elaborada pela autora (2020).

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Dentre as possíveis modificações, destacamos o reajuste, que é a adequação do


contrato à atualização monetária do contrato, quando houver elevação do custo
de seu objeto, diante do marchar normal da economia, sendo fixado, em regra,
com base em índices previamente estabelecidos no edital e no contrato. Esse
instrumento tem precisão no instrumento previsto na Lei nº 8.666, de 21 de junho
de 1993, art. 40, inc. XI. (BRASIL, 1993)

A repactuação, em regra, somente pode ser concedida após o transcurso de um


período do contrato e está vinculada à apresentação comprobatória da alteração
como, por exemplo, um orçamento. O reajuste contratual visa a recomposição
de preços em determinado contrato, cujo desequilíbrio tenha sido gerado por
álea econômica ordinária. Por exemplo: em decorrência de um grande aumento
inflacionário de determinados bens.

Assim, a repactuação objetiva recompor as variantes de custos que foram


efetivamente verificadas no contrato de prestação em serviços contínuos,
substituindo o reajuste geral do contrato, mediante a simples aplicação de um
índice. Geralmente, só pode ser requerido depois de transcorrido o intervalo mínimo
de um ano, a contar da data da apresentação da proposta ou do orçamento a que
ela se referir. Seus requisitos de observância necessária são, basicamente:

• caracterização do objeto do contrato que se pretenda repactuar como


prestação de serviços executados de forma contínua;
• previsão no instrumento convocatório;
• observação do interregno mínimo de um ano, contado da data da apresentação
da proposta ou de seu orçamento;
• demonstração da variação dos componentes dos custos do contrato,
devidamente justificada, com vistas a sua adequação aos novos preços de
mercado.

Saiba mais
O instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) possui
um departamento para compreender os índices da inflação e os
impactos na economia do país. Disponível em: https://www.ibge.
gov.br/indicadores.

Já a figura da revisão, objetiva a recomposição de preços em determinado contrato,


no qual o desequilíbrio tenha sido gerado por álea econômica extraordinária e,

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assim como o reajuste, destina-se à recomposição do equilíbrio contratual.


Diferenciam-se, contudo, quanto ao fato que originou o desequilíbrio.

Tais distinções permitem entender que esse trio de instrumentos se destina a


reequilibrar a equação econômico-financeira dos contratos administrativos, de
modo a harmonizar o acordo inicialmente firmado entre a Administração e os
contratados, no que diz respeito à estabilização econômico-financeira do ajuste.

A repactuação, tal como o reajuste, visa restabelecer a equação econômico-


financeira do contrato em decorrência da variação dos custos contratuais – tanto
de insumos em geral quanto decorrentes da data-base da categoria. Na prática,
esse instrumento é muito utilizado pela União, Estados e Municípios, objetivando a
manutenção do equilíbrio econômico-financeiro de seus contratos.

Pressupostos necessários para a recomposição do equilíbrio do contrato:

• aumento dos encargos contratuais do particular;


• evento posterior e imprevisível, posterior à apresentação da proposta;
• inexistência de culpa do contratado pelo aumento dos encargos contratuais.

Rescisão unilateral do contrato


A modificação unilateral pela Administração deverá, cumulativamente, decorrer da
imprevisibilidade da necessidade que a enseja (se retratar falta de planejamento
administrativo, não encontrará guarida no texto legal) e representar modificação
meramente em dada da especificação da prestação do serviço.

Assim, a Lei nº 8.666/93, em seu art. 58 (BRASIL, 1993), dispõe que o regime jurídico
dos contratos administrativos, instituído por esta lei, confere à Administração, em
relação a eles, modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades
de interesse público, respeitados os direitos do contratado.

A rescisão administrativa unilateral, formalizada pelo respectivo processo


administrativo, está vinculada à comprovação e presença de pressupostos legais e
será essencialmente motivada e precedida da ampla defesa.

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O trabalho mal feito é causa de rescisão contratual

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

A Administração Pública, diante do seu dever de preservar o melhor interesse


público, possui a prerrogativa de modificar os termos originários dos contratos
administrativos celebrados. Assim, poderá até mesmo rescindir o contrato, caso
esse não esteja observando o interesse público.

Essa possibilidade de alteração ou rescisão pode ocorrer de forma unilateral, ou


seja, independe da aceitação da parte contratada ou de uma eventual situação de
inadimplemento provocada por esse. Todavia, o contratado poderá buscar uma
eventual reparação na esfera civil pelos prejuízos que eventualmente venha a
suportar.

Regime diferenciado de contratações


(RDC)
Trata-se de um regime criado pela Lei nº 12.462, de 04 de agosto de 2011
(BRASIL, 2011), criado para simplificar algumas regras de licitações e contratos,
a fim de promover a célere contratação de bens e serviços destinados à Copa
das Confederações, de 2013, à Copa do Mundo, de 2014, aos Jogos Olímpicos
e Paraolímpicos, de 2016, às obras de infraestrutura e aos serviços para
aeroportos das capitais dos Estados distantes até 350 km das cidades sedes dos
mencionados eventos.

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Saiba mais
A ciclovia Tim Maia foi construída da cidade do Rio de Janeiro
e ficou conhecida não só por sua beleza, mas também pelo
desabamento parcial, que ocorreu com apenas quatro meses de
sua inauguração, causando a morte de duas pessoas. Trata-se
de um exemplo de contratação integrada processada pelo RDC.
O consórcio Contemat/Concrejato foi contratado por licitação do
tipo menor preço a partir de anteprojeto fornecido pela prefeitura
do Rio, por meio da fundação Geo-Rio. O projeto completo e a
execução da obra ficaram, portanto, a cargo da empresa.

Os editais que optam pelo RDC são regidos por regras diferenciadas, inclusive com
o afastamento de grande parte da Lei nº 8.666/93 (BRASIL, 1993). É necessário,
portanto, que sua adoção seja feita de forma expressa. Esse modelo é criticado pela
doutrina, visto que abre para o administrador público a utilização de um poder
discricionário.

Alguns exemplos de consequências da aplicação prática dessa modalidade:

• inversão e “desinversão” de fases de habilitação e julgamento de proposta;


• divulgação, ou não, do orçamento estimado;
• ambiente eletrônico ou presencial;
• regimes de execução de obras, inclusive a contratação integrada;
• fase de lances – aberta, fechada ou híbrida;
• contrato de eficiência;
• remuneração variável;
• apropriação dos custos indiretos.

Saiba mais
Ricardo Barreto Andrade e Vitor Lanza Veloso apresentam uma
boa síntese com as diversas inovações trazidas pelo RDC.
Consulte o texto – Uma visão geral sobre o regime diferenciado
de contratações públicas: objeto, objetivos, definições, princípios
e diretrizes, neste link.

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Fechamento
Nesta unidade, vimos que a Administração Pública possui prerrogativas em razão
de sua posição constitucional, estudamos que os contratos administrativos
possuem cláusulas exorbitantes, que são prerrogativas do Estado e, dentre as
diversas peculiaridades do contrato administrativo, estudamos que é possível
alterar suas cláusulas em virtude da salvaguarda dos interesses públicos, bem
como diante de fatos imprevistos. São hipóteses legais restritivas e excepcionais,
porém de importante impacto para a gestão contratual do poder público.

Vimos que o equilíbrio econômico-financeiro busca efetivar o direito do


particular de adotar medidas econômicas compensatórias mediante situações
supervenientes. Compreendemos também que as alterações e rescisões unilaterais
são prerrogativas para modificar os temos originais do contrato, assim como,
de extinguir totalmente tal instrumento jurídico. Por fim, vimos que o RDC foi um
regime criado para atender as necessidades específicas do poder estatal(Copa e
Olimpíadas) e que recebe críticas por parte da doutrina.

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Referências
BRASIL. Senado Federal. Lei nº 8.666, de 21 de Junho de 1993. Regulamenta o art.
37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos
da Administração Pública e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência
da República, [1993]. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/
L8666compilado.htm. Acesso em: 23 set. 2020.

_____. Lei nº 12.462, de 04 de agosto de 2011. Institui o Regime Diferenciado de


Contratações Públicas - RDC; altera a Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003 [...] e
revoga dispositivos da Lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998. Brasília, DF: Presidência
da República, [2011]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2011/Lei/L12462.htm. Acesso em: 23 de set. de 2020.

JUSTEN FILHO, M. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 16.


ed. São Paulo: Dialética, 2015.

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