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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE


MATERIAIS

PROJETO DE DISSERTAÇÃO

Revestimento de Hidroxiapatita em Titânio para emprego em Implantes


ortopédicos de coluna – Sistema de Fixação DPZ

Davis Machado Larrubia

Orientador: Prof. Dr. Márcio Raymundo Morelli

Financiadora: OSTEOMED IND. E COM. DE IMPLANTES LTDA.

SÃO CARLOS

2012
Resumo

As pesquisas por novos materiais ou modificações para a indústria de


implantes têm sido alguns dos grandes desafios da engenharia para minimizar
os danos no pós-operatório de pacientes submetidos à intervenção cirúrgica e
diminuir o tempo de recuperação dos mesmos por meio de maior aceitação do
organismo ao corpo estranho implantado. Alternativas para diminuir o tempo
para obtenção da artrodese pode ser obtida segundo a Engenharia de
Superfície. Está vem desempenhando vasta aplicabilidade nos diversos
segmentos de pesquisa como fonte de controle de substrato e adequação das
propriedades necessárias nas zonas de solicitação nestes materiais. Técnicas
de revestimento apresentam uniformidade da camada depositada e
repetitividade de processo, proporcionando aumento do valor agregado ao
produto final. Sua vantagem se faz pela possibilidade de emprego em produtos
já consagrados pela medicina como a Hidroxiapatita, composto cerâmico que
compõem a base mineral do tecido ósseo humano, possibilitando aumento na
biocompatibilidade dos agentes implantáveis. Este estudo busca avaliar a
técnica de revestimento por Aspersão Térmica de Hidroxiapatita em ligas de
Titânio, por meio de análise em espessura específica de deposição, sua
resistência à fadiga e as características superficiais do substrato. Sua busca
visa aumentar a aceitação do organismo ao componente implantado, analisar
as melhorias ocasionadas para o produto em ensaio dinâmico, além de tornar o
projeto de estudo um artigo para comercialização. Os parafusos de fixação do
sistema DPZ serão revestidos com hidroxiapatita, esta desenvolvida e
confeccionada por empresa parceira ao projeto, com controle de tamanho
médio e distribuição do tamanho de partículas para melhor acomodação do
filme sobre o substrato, além de proporcionar melhor adesão e ancoramento do
implante ao tecido ósseo. O estudo comparativo entre as propriedades dos
implantes, in natura e revestidos, será realizado para se observar o de
desempenho do novo produto, a fim de que o mesmo se transforme em item de
comercialização pela OSTEOMED Indústria de Implantes LTDA.

2
Índice

Resumo.............................................................................................................2

Objetivo Geral................................................................................................7

Objetivos específicos.....................................................................................7

Revisão Bibliográfica............................................................................................8

Biomecânica da Coluna Vertebral.....................................................................9

Implantes.........................................................................................................10

O implante ósseo.........................................................................................10

Titânio e suas ligas..........................................................................................13

Materiais biocompatíveis - Titânio e Liga de Titânio F-136 (Ti-6Al-4V)......15

Propriedades Metalúrgicas..............................................................................15

Tratamento Superficial....................................................................................16

Materiais utilizados no Processo de Anodização............................................18

Morfologia Microestrutural pela norma ASTM F67......................................19

Morfologia Microestrutural pela norma ASTM F136....................................21

Sistema de Fixação Pedicular DPZ................................................................21

Descrição do Sistema de Fixação...................................................................22

Parafusos pediculares.....................................................................................22

Dispositivo de Bloqueio...................................................................................24

O sistema de travamento................................................................................24

ANVISA...........................................................................................................26

Biomateriais.....................................................................................................27

Classificação dos Biomateriais.......................................................................29

Hidroxiapatita...................................................................................................32

Métodos de obtenção da Hidroxiapatita......................................................33

3
Processo Aspersão Térmica...........................................................................36

Revestimentos – Engenharia de Superfície....................................................39

Propriedades do Revestimento Bioativo.........................................................40

A energia de superfície nos implantes.........................................................41

A morfologia na superfície dos implantes.......................................................41

Materiais e Métodos........................................................................................44

Referências Bibliográficas...............................................................................48

4
Índice de Figuras

Figura 1: Coluna vertebral e sua divisão entre as regiões de diferenciação. .....8

Figura 2: Sistema de Anodização. .....................................................................17

Figura 3: Formação da Camada Passiva. .........................................................18

Figura 4: Imagem típica para titânio ASTM F-67. .............................................20

Figura 6: Sistema de Fixação Pedicular DPZ....................................................22

Figura 7: Parafuso Pedicular Cabeça Fixa.........................................................23

Figura 8: Parafuso Pedicular Cabeça Móvel......................................................23

Figura 9: Parafuso Pedicular Cabeça Longa.....................................................23

Figura 10: Barra União para fixação do dispositivo DPZ...................................24

Figura 11: Parafuso de Bloqueio........................................................................24

Figura 12: Gancho DTT......................................................................................25

Figura 13: Barra DTT..........................................................................................25

Figura 14: Parafuso DTT....................................................................................25

Figura 15: Montagem do sistema de fixação pedicular DPZ.............................26

Figura 16: Próteses em Aço Inoxidável. ............................................................30

Figura 17: Implantes de titânio. .........................................................................30

Figura 18: Bioativos em implantes. ...................................................................31

Figura 19: Dispositivos médicos processados a partir de materiais


reabsorvíveis. ....................................................................................................32

Figura 20: Estrutura Cristalina da Hidroxiapatita. ..............................................33

Figura 21: Processo de Aspersão Térmica. ......................................................38

Figura 22: Desenho Técnico do Parafuso Pedicular Cabeça Longa.................45

5
Índice de Tabelas

Tabela 1: Dados relacionados à biomateriais e saúde nos Estados Unidos.....11

Tabela 2: Dados relacionados a implantes no Brasil. .......................................11

Tabela 3: Composição química do Titânio Grau 2 (ISO 5832-2). .....................19

Tabela 4: Requisitos Mecânicos para Titânio Grau 2. ......................................19

Tabela 5: Composição química do Titânio liga Ti6Al4V (ISO 5832-3). .............20

Tabela 6: Requisitos mecânicos para o titânio ASTM F-136. ...........................21

Tabela 7: Representação das Normativas seguidas para cada componente.. .46

Tabela 8: CRONOGRAMA (para M = meses)...................................................47

6
Objetivos

Objetivo Geral

A proposta de estudo de Revestimento de Implantes com cerâmicas


bioativas busca promover a obtenção da artrodese no processo de fusão óssea
em tempos menores que os habituais, através da técnica de revestimento por
Aspersão Térmica de Hidroxiapatita em ligas de Titânio comercializadas para
implantes ortopédicos de coluna. O ancoramento do sistema no tecido ósseo é
facilitado por meio das melhores condições de osseointegração do implante,
uma vez que a biocompatibilidade entre os componentes acelera a fixação do
mesmo, diminuindo os períodos de recuperação de pacientes submetidos a
este procedimento cirúrgico.

Objetivos específicos

Os estudos específicos serão realizados sobre a espessura definida de


deposição de 100µm, uma vez que esta intimamente associada à resistência
do substrato a solicitações mecânicas em fadiga, e as características do
substrato entre os materiais, visando aumentar a aceitação do organismo ao
componente implantado, analisar as melhorias ocasionadas para o produto em
ensaio dinâmico, se houver, caracterizar a zona de filme cerâmico depositado
na superfície do metal e sua interação com o mesmo. Comparar seus valores
com o implante in natura e avaliar as características de ganho, além de tornar o
projeto de estudo um artigo de comercialização.

7
Revisão Bibliográfica

Em tempos de constante agitação, estresse e descuido, muitas pessoas


não dão o devido valor a sua coluna por não reconhecerem sua importância. A
coluna vertebral é responsável por manter a postura ereta em relação à força
da gravidade, dar mobilidade ao corpo (cervical e lombar), ocasionar a
distribuição, multiplicação e equilíbrio das forças atuantes sobre ou geradas no
corpo, além de receber e absorver os carregamentos de compressão
existentes ciclicamente [1]. Na Figura 1 pode-se observar que a coluna
vertebral possui 33 vértebras que se alternam com discos vertebrais, dando
mobilidade ao tronco, possibilitando as mais diversas posições. Cada vértebra
se liga a uma costela, formando uma espécie de “grade de proteção” para
órgãos vitais como coração e pulmões, isolando-os de choques mecânicos.
Além disso, a coluna possui a função de proteger a medula e nervos espinhais,
sustentando todo o peso do corpo e possui papel essencial no movimento dos
membros periféricos, braços e pernas. A coluna do ser humano possui
curvaturas de natureza fisiológica. São elas: cervical, torácica, lombar e pélvica
[1, 2]. Quando a pessoa apresenta desvio ou aumento angular deste desvio,
deve-se procurar um médico especializado que, provido de resultados de
vários exames, detectará o tipo de desvio e a melhor forma de tratamento para
tal. Todos os males referentes às dores de coluna apresentam tratamento.

Figura 1: Coluna vertebral e sua divisão entre as regiões de diferenciação.


[3]

8
Precauções devem ser tomadas quando existem sinais de problemas.
Carregamento de peso excessivo, ausência de exercícios físicos, postura
inadequada, saltos muito altos, colchões e travesseiros que não apresentem
condições satisfatórias de conforto são algumas das principais causas de dores
nas costas. Fortalecimento físico é a melhor saída para minimizar este tipo de
problema. Quando este é impossibilitado por lesões crônicas, a intervenção
cirúrgica se faz necessária para solucionar ou minimizar os problemas
causados por danos irreversíveis.

Biomecânica da Coluna Vertebral

A mecânica vertebral é complexa. Todas as vértebras têm dimensões,


formas e localizações diferentes. Para cada espaço articular, cada movimento
é a resultante daqueles que acontecem numa soma de pequenas articulações
interdependentes. A dificuldade de estudo da biomecânica do ser humano se
faz no acervo de ferramentas para pesquisa e quantificação de informações.
Os estudos realizados até hoje utilizam como fonte de estudos colunas de
cadáveres e de animais de estrutura biológica semelhante à humana, como
porcos, cães e coelhos. O problema deste recurso se faz sobre a taxa de
decomposição dos cadáveres para o estudo, ou seja, não é possível mensurar
o desvio dos dados em relação ao sistema vertebral sadio, além do uso de
animais que simulam, mas não representam realmente os esforços solicitantes
de uma coluna para os seres humanos [4].
Os desvios e deformações patológicas vêm complicar estes problemas e
até transformá-los completamente. Os ligamentos e os músculos se encolhem
na cavidade. Não somente este encurtamento se opõe à recolocação da
curvatura, mas provoca a assimetria das pressões sobre as epífises vertebrais,
favorecendo as deformações estruturais. Enquanto que as massas musculares
da concavidade se encurtam e se enfraquecem, as da convexidade se alongam
e se reforçam. Assim, o desequilíbrio das tensões se agrava sem cessar [5].
Considerando a localização do material metálico e da artrodese, convêm
então, sempre, relatar com a maior quantidade de detalhamento possível todos
9
os exercícios que mobilizam a cintura e os membros. Existe assim a criação de
substitutos, aumentando as possibilidades articulares das extremidades
interessadas e adaptando as sinergias nos movimentos globais [5].

Implantes

Os implantes são suportes estruturais projetados e acondicionados para,


cirurgicamente, serem posicionados junto a estruturas deficitárias de
resistência mecânica. A engenharia de materiais possibilita o estudo e
intervenção de uma gama imensa de materiais das diversas classes, que sua
seleção busca atender as principais condições exigidas tanto pelo organismo a
receber o implante como as organizações sanitárias responsáveis pela
varredura e registro destes utensílios [6].

O implante ósseo

Qualquer dispositivo implantável, cujo tecido vivo hospedeiro seja


identificado como tecido duro, ou seja, tecido ósseo é denominado como um
implante ósseo. Com um mercado mundial de crescente demanda para esta
classe de produtos, as exigências em funcionalidade e qualidade vêm
aumentando. As Tabelas 1 e 2 apresentam alguns valores de consumo para o
mercado americano e brasileiro respectivamente.

10
Tabela 1: Dados relacionados à biomateriais e saúde nos Estados Unidos.
[7]

Despesa com saúde no ano 2000 US$1,4 trilhões

P&D em saúde no ano de 2001 US$82 bilhões

Mercado de dispositivos médicos em 2002 US$77 bilhões

Mercado total de biomateriais em 2000 US$9 bilhões

Próteses de quadril implantadas em 2002 250.000

Próteses de joelho implantadas em 2002 250.000

Implantes orais utilizados em 2000 910.000

Implantes de coluna utilizados em 2000 450.000

Tabela 2: Dados relacionados a implantes no Brasil. [7]

Despesas totais do SUS com cirurgias ortopédicas em 2004 R$540 milhões

Despesa do SUS com próteses ortopédicas em 2004 R$37 milhões

Consumo de implantes nacionais ortopédicos SUS em 2005 90%

Comercialização de implantes pelo setor público em 2000 26,1%

Comercialização de implantes para o setor privado em 2000 60,9%

Exportação de implantes em geral em 2000 10,3%

Entre vários, os critérios adotados para a especificação de um material


para ser destinado ao ramo são [8]:

 Paramagnetismo: implantes uma vez fixados não devem sofrer


modificação ou polarização induzida pela ação de campos magnéticos

11
induzidos. O fato pode acarretar na locomoção do produto no interior do
paciente, perda da fixação e com isso da estabilidade do material.

 Radioluminescência: esta característica facilita as ações dos cirurgiões


no ato da intervenção cirúrgica. Está facilita a visualização do implante
pelo médico via aparelhos de raios X.

 Biocompatibilidade: Propriedade de maior importância de seleção dos


materiais para a aplicação médica. Este mostra a inércia química do
material com os fluidos corpóreos e demais tecidos do organismo.

 Hemocompatibilidade: A compatibilidade do produto com o sangue evita


a proliferação de agentes inflamatórios e demais toxinas passíveis de
transporte pelo organismo.

 Módulo de Elasticidade próximo ao do osso: a fixação de produtos de


extrema resistência mecânica pode causar danos de fixação à estrutura
óssea, em solicitação dinâmica, pelo fato de gerar tensões internas que
acarretaram em deformações e desgastes de seções de menor
resistência.

 Alta resistência à corrosão: o produto deve resistir às condições de


ataque químico severo proporcionado pelo contato constante com sais
minerais e demais componentes dos fluidos corpóreos. Caso o produto
apresente degradação, os produtos da oxidação devem ser inertes
quando desprendidos do metal base.

 Custo: A seleção inter-relaciona as variáveis de várias


formas diferentes, buscando atender da melhor maneira possível os
interesses buscados no estudo de desenvolvimento do implante, sem
que comprometa sua real função que é conferir fixação para a fusão
óssea (artrodese).

12
Titânio e suas ligas

O titânio e suas ligas, em particular a liga Ti-6AL- 4V ELI, são materiais


utilizados em cirurgias desde 1940, apresentando excelentes resultados
quando comparado com outros materiais metálicos destinados para as
mesmas aplicações, tais como aço inoxidável e ligas de Co-Cr-Mo [5, 6, 7].
Embora o vanádio seja um elemento tóxico, quando incorporados à rede
cristalina de titânio como elemento substitucional, torna-se estável na estrutura
da liga a temperaturas próximas a corpórea. Portanto, a liga utilizada para a
produção de dispositivos implantáveis segue o padrão "ASTM F136 – Standard
Specification for Wrought Titanium-6Aluminum-4 Vanadium ELI (Extra Low
Interstitial) Alloy for Surgical Implants Applications (UNS R56401) – Norma para
a especificação de Titânio-6Alumínio-4vanádio ELI (Interstício extremamente
pequeno) forjada para aplicação em implantes cirurgicos", que determina as
características necessárias para ser aceita.
O termo "Interstitial Extra Low" envolve a pequena quantidade de
elementos como ferro, carbono e oxigênio, sendo estes últimos em posições
intersticiais na estrutura cristalina do titânio. Quando inseridos nestes locais, os
elementos de liga geram deformação no retículo cristalino, alteram as
condições de equilibrio termodinamico, pois é necessário maior quantidade de
energia para removê-los, induzem deformação na rede cristalina e alteração
dos parâmetros de rede da célula unitária, conferem tensões ao reticulado e
propriedades oriundas de sua presença, podendo até conferir situações de
equilibrio para outros sistemas de fases presentes no material.
Apresentando baixa densidade (60% do peso do aço), propriedades
mecânicas satisfatórias e resistência à corrosão, além de permitir sua
conformação nas formas requeridas, o titânio metálico puro e suas ligas
apresentam vasta aplicação tanto nas indústrias aeroespacial e química, assim
como para a confecção de implantes cirúrgicos [5,6]. O titânio, devido ao seu
elevado potencial de oxidação, quando exposto a atmosferas oxidantes, um
filme contínuo e impermeável de óxido estável termodinamicamente é formado
espontânea e rapidamente sobre sua superfície. A fina camada deste óxido
13
protetor (aproximadamente 5-10 nm de espessura) qualifica o metal pela
excelente resistência a corrosão. Entretanto este filme não impede a sua
interação com o meio fisiológico. Quando a superfície do óxido formado (TiO 2)
é exposta ao fluído biológico e pH fisiológico, são formados grupos hidroxilas
aderidos a essa superfície fazendo com que se carregue negativamente,
permitindo a adesão de íons e biomoléculas.
Quando um corpo estranho não biocompatível entra em contato com
tecidos vivos, a resposta biológica mais comum é o seu isolamento através de
um processo de encapsulamento deste corpo com a formação de uma camada
de tecido fibroso, evitando assim que reações e trocas iônicas ocorram entre o
corpo estranho e o organismo vivo. Esta resposta ocorre com os materiais
considerados inertes quimicamente, mas não biologicamente. O titânio permite
a adesão e o crescimento do tecido adjacente na sua superfície comprovando
que o mesmo é inerte química e biologicamente no organismo vivo, sendo
então considerado biocompatível. Quando o tecido formado adjacente ao
implante é um tecido duro (tecido ósseo), este fenômeno é denominado
“osseointegração”.
O titânio comercialmente puro (Ti cp) e a liga Ti6Al4V são os metais não
ferrosos mais utilizados para a fabricação de implantes. O Ti cp é mais utilizado
nos implantes odontológicos devido ao seu melhor comportamento biológico,
enquanto a liga Ti6Al4V encontra mais utilidade na ortopedia devido às suas
melhores características de resistência mecânica.
Pesquisas mais recente apontam para o grande uso de materiais como
tântalo e o vitálio cirúrgico, dentre outros, devido à possibilidade de
funcionarem como guia dos implantes no ato da intervenção cirúrgica. Este,
quando expostos aos aparelhos de raios X são visualizados no interior do
corpo humano. Com isso, os cirurgiões guiam-se mais facilmente quanto à
posição do dispositivo médico no interior do paciente, servindo como guia para
o posicionamento correto do implante. Devido alto custo para aquisição, estes
materiais são empregados pelos fabricantes em pequena quantidade, apenas
no âmbito de facilitarem o manuseio dos implantes pelos médicos.

14
Materiais biocompatíveis - Titânio e Liga de Titânio F-136 (Ti-6Al-4V)

A biocompatibilidade do titânio e da liga Ti-6AL-4V (ASTM F-136) é


reconhecida por médicos e pesquisadores de materiais para implantes. O
titânio tem toxicidade mínima e passível de utilização em contato direto com o
tecido ósseo [7, 8]. Experimentos em animais demonstraram que este material
pode ser implantado por longo período de tempo sem danos ao organismo. O
processo de encapsulamento fibroso é mínimo e quase inexiste. Ao redor do
titânio ocorre a osseointegração que é caracterizada pela formação de tecido
ósseo, incorporando o implante ao organismo. A integração óssea ocorre pela
incapacidade do organismo em detectar o titânio em região intraossea e
também pela falta de reatividade do material com o sangue ou demais tecidos
corpóreos, não gerando tecido fibroso ao redor do implante, permitindo assim o
crescimento do osso em torno do mesmo.

Um exame cuidadoso do tecido adjacente à liga de titânio realizado por


Branemark [9]  não revelou qualquer perturbação, ou seja, nenhum sinal de
inflamação ou formação de condições tais a considerar o implante como um
corpo estranho. Os implantes se encontravam firmemento integrados ao osso,
iniciando as pesquisas sobre a osseointegração.

Propriedades Metalúrgicas

O titânio puro é constituído por uma estrutura cristalina hexagonal


compacta - HC (fase α), com baixa resistência mecânica relativa. Na liga de
titânio Ti-6Al-4V (F-136), o alumínio e o vanádio atuam como estabilizantes de
fases [6]. Enquanto o Al estabiliza a fase α, o vanádio a fase β(cúbica de corpo
centrado - CCC). Átomos de alumínio e vanádio aparecem entre os átomos de
Ti em uma solução sólida substitucional e, portanto, não livres para migrar do
implante para o tecido nas condições de equilibrio termodinâmico. A liga de
titânio utilizada para implantes cirúrgicos é especificada e conhecida como
extra low interstitial (ELI). O material foi identificado como o mais seguro em
aplicações intravascular devido à sua alta eletronegatividade no sangue e
15
superfície passiva, portanto não considerado um material trombogênico. A
corrosão é incluída na determinação da biocompatibilidade, pois é um fator
importante na liberação de íons de metal para o corpo humano.
Para dispositivos médicos, esta liga deve apresentar microestrutura
predominantemente formada por fase β, com pequena dispersão de fase α,
oriunda do processamento deste material no campo bifásico “α+β”.
Algumas restrições quanto a microestrutura são feitas para medida de
aprovação do material antes da usinagem dos implantes. Para dispositivos
médicos de coluna, não deve conter na matéria prima, representação contínua
de fase α em contornos de grão da fase β. Além disso, materiais que
apresentem grãos da fase α devem ser equiaxiais e de pequenas dimensões,
ou seja, grãos disformes devem ser reprovados. Para aplicações em fadiga
recorre-se ao processo de recozimento, para conceder fina dispersão dos
grãos de α na matriz β. A presença de grãos da fase α em zonas de contorno
de grão da fase β gera o enfraquecimento da liga, devido a diferentes valores
de K1c, funcionando com zonas concentradoras de tensão e convergência de
trincas.

Tratamento Superficial

O tratamento superficial em titânio é realizado através de processo


eletroquímico chamado Anodização, proporcionando um recobrimento da
superfície do material com uma fina camada homogênea de óxido. Este
processo é realizado através da imersão em solução oxidante, com pH
específico e indução de fluxo de corrente elétrica no meio, o sistema pode ser
facilmente visualizado na Figura 2. O material imerso é conectado no polo
positivo de uma fonte de tensão elétrica, tornando-se um ânodo. No lado
negativo, um metal condutor comum é usado, geralmente o cobre, que é
imerso na solução. A diferença de potencial introduz na solução a ocorrência
de muitas reações, entre elas a formação do óxido de titânio na superfície do
ânodo:

16
Figura 2: Sistema de Anodização. [11]

Ti + 2H2O → TiO2 + 4H + + 4e-

Em soluções neutras, este óxido não é solúvel e forma uma barreira


extremamente inerte a maioria das substâncias presentes no organismo vivo,
protegendo o material contra corrosão indesejada. Outros tipos de óxidos
podem ser formados, devido aos vários estados de oxidação do titânio (Ti 2+ e
Ti3+); no entanto, a forma mais estável de ocorrência é o TiO 2.
No caso da liga Ti-6Al-4V, além do óxido de titânio, são formados outro
óxidos, como Al2O3 (alumina) e V2O5 (óxido de vanádio). O alumínio é um
material resistente à oxidação porque sua superfície promove a formação de
uma película de óxido de alumínio (Al 2O3) que isola seu núcleo metálico do
ambiente, impedindo sua oxidação. Este é extremamente estável e inerte a
muitos agentes [6, 8, 10]. O vanádio é resistente à corrosão usando o mesmo
mecanismo do alumínio. A formação de uma película de óxido impede o
contato do material para o meio ambiente, impedindo sua oxidação. Para o
vanádio, o óxido é o V2O5 mais comum, que é predominantemente solúvel em
soluções ácidas e básicas.
O processo de anodização acelera a formação de um filme homogêneno
de óxido na superfície do material que o protege contra a corrosão no ambiente
além de possibilitar uma eficiente interface entre o material e tecido. No

17
entanto, mesmo que o produto perca sua camada passiva, a formação de uma
nova camada não é limitada pelo processo de anodização, como pode ser visto
na Figura 3. Isto é devido à afinidade do titânio puro e seus elementos de liga
com o oxigênio, reproduzindo rapidamente o óxido de barreira perdida.

Figura 3: Formação da Camada Passiva. [11]

O processo químico de anodização também confere as condições de


ancoramento eficientes para a deposição de filmes de produtos como
cerâmicas bioativas, que favorecem ao processo de osteointegração,
agregando ao implante propriedades além das inerentes a sua classe de
materiais. A associação do filme de óxido de titânio com a camada de apatita
depositada na superficie do material, depende da integração

Materiais utilizados no Processo de Anodização

As tabelas 3 a 6 apresentam as características químicas e mecânicas do


Titânio e suas ligas empregados na confecção de implantes ortopédicos e, as
figuras 4 e 5 retratam os aspectos microestruturais normatizados
requerimentos para tal finalidade. As normativas ISO e ASTM são responsáveis
pela especificação dos titânios para a confecção de implantes. A ASTM F 67 e
a ISO 5832-2 gerenciam a especificação do titânio puro, enquanto a ASTM F
136 e a ISO 5832-3 são responsáveis pela especificação da liga de titânio Ti-
Al-4V. As normativas são equivalentes e servem de referência para a aceitação
do produto na confecção de dispositivos médicos.

18
Tabela 3: Composição química do Titânio Grau 2 (ISO
5832-2). [11]
Elementos Limites composicionais máximos pemitidos (%)

Nitrogênio 0,03

Carbono 0,10

Hydrogênio 0,0121)

Ferro 0,30

Oxigênio 0,25

Titânio Base

¹) Exceção feita a composição das barras, que podem conter


percentagem máxima de hidrogênio de 0,010% e para produtos planos,
que podem atingir até 0,015%

Tabela 4: Requisitos Mecânicos para Titânio Grau 2.


[11]
Tensão de
Elongação
TT LRT Min. (MPa) Escoamento
Min. (%)
Min. (MPa)

Recozimento 345 275 20

Morfologia Microestrutural pela norma ASTM F67 [12]

A microestrutura do titânio no estado recozido deve ser uniforme, de


tamanho de grão não superior ao # 5, com ampliação de 100 vezes, além de
não ser possível visualizar inclusões ou fases estranhas.

19
Figura 4: Imagem típica para titânio ASTM F-67. [13]

Tabela 5: Composição química do Titânio liga Ti6Al4V


(ISO 5832-3). [14]
Elementos Percentagem em massa (%)

Alumínio 5,5 a 6,75

Vanádio 3,5 a 4,5

Ferro 0,3 máx.

Oxigênio 0,2 máx.

Carbono 0,08 máx

Nitrogênio 0,05 máx

Hidrogênio 0,015 máx1)

Titânio Base
1)
Exceto para lingotes, onde a composição máxima de hidrogênio
pode ser de 0,010% (m/m)

20
TABELA 6: REQUISITOS MECÂNICOS PARA O TITÂNIO
ASTM F-136. [15]
Tensão de
Perfil da LRT Alongamento
Escoamento
Amostra Rm Min. (MPa) Min (%).
Rp 0,2 Min. (MPa)

Folha ou lâmina 860 780 8

Barra 860 780 10

Morfologia Microestrutural pela norma ASTM F136 [15]

A micrografia realizada no sentido transversal, em aumento de 100x,


deve mostrar uma microestrutura típica para as ligas de titânio, composta por
fase globular α+β finamente dispersa. Ausência de fase α em rede contínua
nos antigos contornos de grão da fase β. Ausência da fase α grosseira em
plaquetas alongadas.

Sistema de Fixação Pedicular DPZ

O dispositivo foi desenvolvido para promover a fixação e estabilização


da coluna vertebral, no entanto, projetado apenas para auxiliar na regeneração
óssea e não substituir as estruturas do esqueleto humano. Para fornecer
estabilidade biomecânica, os implantes oferecem um caminho natural para a
regeneração de tecidos ósseos. O sistema é implantado por via posterior.
A solicitação sobre a coluna vertebral é fisiologicamente compressiva,
com isso o sistema de fixação pedicular DPZ (Diapasão) é um implante
indicado para solicitações de compressão. O melhor lugar para o ancoramento
do dispositivo se faz na região pedicular, como pode ser visualizado na Figura
6.
21
Figura 5: Sistema de Fixação Pedicular DPZ.

O tratamento cirúrgico se faz necessário para lesões traumáticas da


coluna vertebral. Esta abordagem, mais agressiva, garante estabilidade
imediata para a restauração do segmento lesionado, permitindo a ação de
moderados programas de reabilitação, facilitando a enfermagem e minimizando
possíveis complicações decorrentes da imobilização dos pacientes.

Descrição do Sistema de Fixação

O sistema de fixação pedicular DPZ é um dispositivo médico composto


por parafuso pedícular, barra de união, dispositivo de bloqueio e um sistema de
travamento transversal.

Parafusos pediculares

Parafusos pediculares possuem como base a liga de titânio (Ti-6Al-4V -


ISO 5832-3): O sistema de fixação pedicular DPZ tem três modelos diferentes
de parafusos, representados nas figuras 7, 8 e 9:

22
 Monoaxial (parafuso pedicular cabeça fixa) - é um parafuso pedícular de
tecidos osseos esponjosos:

Figura 6: Parafuso Pedicular Cabeça Fixa.

 Poliaxial (parafuso pedicular cabeça móvel) - é um parafuso com cabeça


móvel. Este dispositivo é um sistema dinâmico utilizado para variações
na anatomia da coluna vertebral, reduzindo a necessidade da
retilineidade da montagem e simplificar construção do dispositivo.

Figura 7: Parafuso Pedicular Cabeça Móvel.

 Redução (parafuso pedicular cabeça longa) - é um parafuso pedícular


com extensão extra na cabeça usado na correção da espondilolistese.

Figura 8: Parafuso Pedicular Cabeça Longa.

23
Barra União - Titânio (Ti - ISO 5832-2)

A barra união é uma barra que liga os parafusos pediculares fixados nos
ossos da coluna e estabiliza o sistema, ajudando a suportar parcialmente a
carga na coluna vertebral.

Figura 9: Barra União para fixação do dispositivo DPZ.

Dispositivo de travamento - Com base em liga de titânio (Ti-6Al-4V - ISO


5832-3):

Dispositivo de Bloqueio

O dispositivo de bloqueio (Parafuso de bloqueio) é utilizado para


travamento dabarra união dentro da cabeça dos parafusos pedículares,
impedindo o deslizamento do sistema.

Figura 10: Parafuso de Bloqueio.

O sistema de travamento

O sistema travamento é uma construção usada para estabilizar e


bloquear o sistema DPZ implantado em ambos os lados da coluna, aumento a
rigidez da estrutura. O sistema de fixação possui três componentes:

24
 Gancho DTT - Com base em liga de titânio (Ti-6Al-4V - ISO 5832-3): é o
dispositivo usado para corrigir o sistema de travamento transverso.

Figura 11: Gancho DTT.

 Barra DTT - Baseado em titânio (Ti - ISO 5832-2): é o dispositivo usado


para ligar os dois lados do sistema de fixação pedicular implantado na
coluna vertebral.

Figura 12: Barra DTT.

 Parafuso DTT - Com base em liga de titânio (Ti-6Al-4V - ISO 5832-3): é


o dispositivo usado para fixar a barra DTT e o gancho DTT.

Figura 13: Parafuso DTT.

Depois de reunir todas as partes do sistema de fixação pedicular DPZ, a


construção vai assumir a aparência esquematizada na figura 15:

25
Figura 14: Montagem do sistema de fixação pedicular DPZ.

ANVISA

Todos os dispositivos médicos são comercializados e monitorados


através de severa fiscalização e controle de dados como rastreabilidade e
conformidade normativa a que se encontram referenciados, a fim de que os
produtos apresentem confiabilidade, desempenho e segurança para uso. Este
é o papel da ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – “Proteger a
saúde da população e intervir nos riscos decorrentes da produção e do uso de
produtos e serviços sujeitos à vigilância sanitária, em ação coordenada com os
estados, os municípios e o Distrito Federal, de acordo com os princípios do
Sistema Único de Saúde, para a melhoria da qualidade de vida da população
brasileira”. Está promove auditorias periódicas para certificar o uso e fabricação
de produtos, além de atender a chamados fiscais em caso de adulteração de
documentos e registros. Danos causados na fabricação de produtos destinados
ao segmento de saúde são considerados crimes biológicos, não passíveis de
fiança e cassação do alvará de funcionamento dos fabricantes [16].

26
Biomateriais

A classe dos biomaterial pode ser definida como qualquer substância,


excetuando-se as drogas, passível de utilização por qualquer período de
tempo, substituindo um sistema que trata, aumenta ou substitui quaisquer
tecidos, órgãos ou funções do corpo. Praticamente todos os biomateriais
utilizados clinicamente devem satisfazer requisitos essenciais, como [17]:
 Biocompatibilidade;
 Biofuncionalidade;
 Resistência à corrosão;
 Propriedades mecânicas semelhantes às do osso, tais como:
o Módulo de elasticidade,
o Resistência à tração e à fadiga; e
o Processabilidade.

A biocompatibilidade é conceituada como a capacidade de qualquer


material ser compatível com um tecido vivo, de modo que não ocorra interação
adversa entre ambos. Este conceito sugere que os materiais que não
promovam qualquer interação devam ser mais adequados. Atualmente este
conceito tem sido reformulado levando a biocompatibilidade a um conceito
firmemente atrelado à função de utilização do material, onde materiais
absolutamente inertes e inócuos não são tão competitivos àqueles que
induzem respostas controladas e de interesse ao organismo na sua aplicação.
Linden, Martins, Neto, Roos, Camisa, Trefin, Trefin, e Agostini, em
estudos comparativos entre implantes femorais de titânio em ratos obtiveram
maior osseointegração dos implantes recobertos com hidroxiapatita do que
isento da biocerâmica, além disso, foi encontrado um processo de
osseointegração mais consolidado e em menor intervalo de tempo, quando
comparado com os implantes de estudo sem HA [18].
Nos materiais que são utilizados em implantes intraósseos, a
biocompatibilidade é avaliada principalmente pela reação do osso ao material,
e o ideal é quando se obtêm a osteogênese total, na qual há uma união físico-

27
química do osso ao implante. Esta interação se dá em tipos que se diferenciam
entre si em cada estágio do fenômeno da osseointegração [19, 20]:
Em um primeiro momento, a propriedade física “energia de superfície γ”,
correlacionada ao grau de molhabilidade da superfície do corpo pelo tecido
sanguíneo, é de extrema importância e definirá o tipo e quantidade de contato
que o novo tecido terá com o implante. No estágio seguinte, o potencial
eletroquímico da superfície passa a determinar o grau de capacidade de
adesão do implante ao novo tecido. No próximo estágio o tipo de troca iônica
entre a superfície do implante e o organismo definirá o tipo de tecido (mineral e
orgânico) ao redor do primeiro; e finalmente, a topografia da superfície do
implante definirá a sua capacidade de retenção pelo novo tecido formado, pela
área de superfície específica, e manutenção desta retenção quando aplicada
carga mecânica, pela ausência de cantos vivos concentrando tensões
pontualmente.
Desta forma, biocompatibilidade e biofuncionalidade são propriedades
que juntas conceituam os biomateriais, ou seja, a capacidade de desempenhar
apropriadamente a função desejada com a necessária aceitação pelo
organismo, dada as suas propriedades mecânicas, físicas, e químicas.
O emprego desta classe de materiais se faz devido a evidência de suas
propriedades físicas e biológicas compatíveis com os tecidos vivos
hospedeiros. Quando a resposta do organismo é positiva, tem-se um produto
biocompatível. Um produto biocompatível tem seus resíduos, seja de desgaste
ou oxidação, toleráveis pelo hospedeiro, quando em contato com fluidos
corpóreos, sem causar danos ou inflamações no corpo.
A biocompatibilidade de um material implantado é considerada ótima
quando ocorre a formação de um tecido normal à superfície e estabelece uma
interface contínua com o meio biológico capaz de suportar as solicitações
impostas.
Os metais e ligas mais frequentemente usados como materiais de
implante podem ser discutidos em termos de fatores metalúrgicos para buscar
o entendimento de seus efeitos na resistência à corrosão. Por exemplo,
pequenas adições de certos elementos na liga, podem resultar em significativa

28
mudança nas propriedades mecânicas e no comportamento de corrosão, de
modo que mudanças na microestrutura, no tamanho de grãos, precipitados,
local de precipitação e presença de impurezas podem ser muito importantes
para as propriedades dos materiais [8,10].
Um material implantável deve apresentar características tais, como:
 O material deve ser biocompatível, ou seja, sua presença não deve
causar danos ou efeitos nocivos no local implantado ou no sistema
biológico;

 Os tecidos não devem causar a degradação do material, como por


exemplo, corrosão de metais, ou pelo menos de forma tolerável;

 O material deve ser biofuncional, ou seja, deve possuir as características


mecânicas adequadas para cumprir a função desejada, pelo tempo
desejado.

 O material deve ser esterilizável.

Os implantes devem além de biocompatíveis devem ser biofuncionais, ou


seja, desempenhar de imediato e com êxito sua função especifica de
sustentação da parte do corpo onde atua. Mesmo materiais considerados
inertes podem apresentar corrosão quando submetidos a contato intenso com
fluídos corpóreos extremamente agressivos, e este resíduos não pode causam
danos, inflamações ou quaisquer efeito alérgico ao ser vivo que o utilize.

Classificação dos Biomateriais

O corpo do hospedeiro pode reagir de diferentes formas após a implantação


do dispositivo médico, sendo função da seleção de materiais e dos esforços
solicitantes do produto. Todos os materiais implantáveis causam alguma
interferência no meio no qual foi inserido. Os biomateriais podem ser
classificados em virtude de seu comportamento em meio fisiológico [17]:

 Biotoleráveis: materiais apenas tolerados pelo organismo, sendo


isolado do tecido hospedeiro através da formação de um envoltório

29
de tecido fibroso, fenômeno característico de implantes de aço
inoxidável, como as próteses de quadril (Figura 16).

Figura 15: Próteses em Aço Inoxidável. [18]

 Bioinertes: são biomateriais também toleráveis, mas não ocorre


reação alguma com o organismo, gerando pequena quantidade de
tecido fibroso [11]. O material libera pouco ou nenhum produto sob
ação de fluidos corpóreos, sendo a quantidade de células
fagocitárias na interface mínimas. Como visto na figura 17, os
implantes de face, feitos em titânio, não apresentam reações
danosas com o organismo do hospedeiro.

Figura 16: Implantes de titânio. [18]

30
 Bioativos: esta classe de biomateriais é conhecida por ter a
capacidade de realizar ligações químicas com o tecido ósseo, em
fenômeno conhecido por osteointegração. Em função da similaridade
química entre estes materiais e a parte mineral óssea, os tecidos se
ligam entre eles, permitindo a osteocondução por meio do
recobrimento das células ósseas [18]. Os principais materiais desta
classe são os vidros e vitrocerâmicas a base de fosfato de cálcio, a
hidroxiapatita e demais produtos a base de fosfato de cálcio. (Figura
18).

Figura 17: Bioativos em implantes. [18]

 Reabsorvível: materiais que após certo período de tempo em contato


com os tecidos acabem sofrendo degradação, solubilizados ou
fagocitados pelo organismo. Lentamente estes materiais são
substituídos pelo tecido hospedeiro. Tais materiais são
extremamente interessantes em aplicações clínicas em função de
não ser necessária reoperação para a remoção do dispositivo. Os
principais exemplos desta classe são: o fosfato tricálcico (TCP) e o
ácido poliláctico. Na Figura 19 mostra exemplos de dispositivos
intersomáticos, parafusos e placas confeccionados a partir de
reabsorvíveis.

31
Figura 18: Dispositivos médicos processados a partir de materiais
reabsorvíveis. [18]

Hidroxiapatita

A hidroxiapatita (HA) é um tipo de enxerto do grupo das biocerâmicas. É


biocompatível, osteocondutor e bioativo. A bioatividade ocorre devido às
similaridades químicas da HA em relação à parte mineral óssea, permitindo
ligações químicas. A osteocondutividade representa a capacidade do enxerto
de direcionar a neoformação óssea, por ser um leito favorável para esse
processo [19]. De complexa estrutura cristalina, Figura 20, a hidroxiapatita é
um fosfato de cálcio hidratado (Ca 10(PO4)6(OH)2) componente majoritário da
fase mineral dos ossos e dentes humanos, atuando com reserva de cálcio e
fósforo. Pode apresentar diferentes formas, porosidades, cristalinidades,
defeitos, entre outros, o que interfere diretamente na solubilidade do composto
e na absorvidade do mesmo.
Para Fujibayashi et. al. [20] materiais bioativos, incluindo hidroxiapatita,
bioglass e vidro cerâmico AW, possuem propriedades osteocondutivas,
podendo aderir diretamente ao osso vivo, via camada de apatita. É reconhecido
que biomateriais não têm caráter osteoindutivo na ausência de agentes
osteoindutivos adicionais, tal como as proteínas morfogenéticas ósseas (BMP).
Porém, certos biomateriais com fosfato de cálcio foram reconhecidos por serem
osteocondutores por possuírem uma estrutura específica porosa. Eles induzem
a formação óssea em sítios extraesqueléticos sem a necessidade de células
osteogênicas adicionais ou BMP. A implantação em tecido mole não fornece
prova conclusiva de indução óssea pelo biomaterial. Ainda em seus estudos
32
relata que o mecanismo de osteoindução pela cerâmica de fosfato de cálcio
(HA) não é claro. Como os biomateriais osteocondutores contêm o íon cálcio e
o radical fosfato, são considerados os seguintes fatores importantes: a)
composição química do biomaterial, b) propriedades de dissolução específica
do material e c) a morfologia de sua superfície. Clinicamente, o desempenho
ideal do biomaterial consiste em possuir capacidades de bioatividade e
osteocondução, relacionadas com suas propriedades mecânicas e químicas.

Figura 19: Estrutura Cristalina da Hidroxiapatita. [17]

Telleman et. al. e Abrahamsson, Albouy e Berglundh, em seus


respectivos estudos, demonstraram resultados satisfatórios no emprego de HA
juntamente com implantes a base de titânio [21]. A deposição de
nanopartículas associada ao aumento da área superficial potencializou a
osseointegração em suas pesquisas. Abrahamsson percebeu que a
osseointegração é favorecida pela adição de elementos metálicos, como Na e
Ca, em estudo realizado sob a aplicação da biocerâmica em trabalho com
cães. Além disso, a rugosidade conferida à superfície do implante também
confere caráter integrador não somente ao implante, mas também ao filme
depositado [22].

Métodos de obtenção da Hidroxiapatita

Um grande número de técnicas está em desenvolvimento para a síntese


do pó de hidroxiapatita devido as crescentes aplicações deste produto. Um dos
métodos mais utilizado é a técnica de precipitação, que envolve reações via
33
úmida entre precursores de cálcio e fósforo com controle de temperatura e pH
da solução. O pó precipitado é calcinado em 400 - 600°C ou até mesmo a
temperaturas mais elevadas, a fim de obter uma estrutura de apatita
estequiométrica. A precipitação rápida durante a titulação da solução de fosfato
em solução de cálcio pode levar a falta de homogeneidade química no produto
final. A titulação lenta e as soluções diluídas devem ser utilizadas para
melhorar a homogeneidade química e a estequiométrica da HA resultante. O
cuidadoso controle das condições da solução é crítico na precipitação via
úmida. Caso contrário, uma diminuição do pH da solução abaixo de 9 pode
conduzir à formação da estrutura da HA deficiente em íons de Ca [23, 24].
Recentemente, a utilização do processo sol-gel para a síntese de HA
tornou-se objeto importante de pesquisa. Este processo é um método químico
via úmida, o qual dispensa a utilização de alto vácuo e temperaturas elevadas,
sendo considerada uma das técnicas mais flexível e promissora. É um método
eletivo para a preparação de um pó altamente puro devido à possibilidade de
um controle cuidadoso dos parâmetros do processo, favorecido por uma
mistura em nível molecular dos íons cálcio e fósforo que é capaz de melhorar a
homogeneidade química e física, resultando geralmente em uma
microestrutura de granulação fina que contem uma mistura de cristais de
tamanho submícron a nano sendo muito importante para melhorar a reação de
contato e a estabilidade da interface osso artificial/natural.
Braga, em estudo de superfície de implantes dentários a base de titânio,
recobertos com HA pela técnica de deposição a laser, após ataque químico de
Na(OH) para promover a atividade iônica, viabilizou o recobrimento pela
técnica biomimétrica, porém sem homogeneidade do filme depositado. Testes
mecânicos como flexão apresentaram resultados otimistas para o emprego
industrial das apatitas [25].

O método de síntese adotado para a obtenção de hidroxiapatita ou o seu


tratamento posterior pode levar ao aparecimento ou não de outras fases de
compostos de fosfato de cálcio. Estando presente, podem ser detectadas
através de difratometria de raios X. Normalmente estas fases apresentam-se
em quantidades pequenas (ao redor de 5%) em compostos comerciais [26].
34
Entretanto cuidados devem ser tomados para controlar a quantidade destes
compostos, uma vez que estes possuem propriedades extremamente
diferentes da hidroxiapatita, podendo comprometer a osteocondução, como no
caso do surgimento de pirofosfato de cálcio ou metafosfato de cálcio, ou ainda
comprometer a integridade e eficiência mecânica do material em função de sua
solubilização. Hidroxiapatita na forma de grânulos podem ser obtidas a partir de
diversos métodos, o que permite prever comportamentos biológicos
diferenciados. A Hidroxiapatita na forma de pó pode ser obtida por diferentes
reações químicas:

Método Via Úmida

Reação ácido-base

10Ca(OH )2+ 6H3PO4 → Ca10(PO4)6(OH )2+18H2O

Reação entre sais de fosfato

10CaCl2 + Na2PO4 + H2O → Ca10(PO4)6(OH )2 + 12NaCl + 8HCl

10Ca(NO3)2 + 6(NH4)2HPO4 + 2H2O → Ca10(PO4)6(OH)2 + 12NH4NO3 + 8HNO3

O produto é um pó de partículas pequenas (< 10 µm) e cristalinidade similar


aos tecidos naturais, porém, apresenta baixa cristalinidade.

Método Via Seca

6CaHPO4 + 2H2O+ 4CaCO3 → Ca10(PO4)6(OH)2 + 4CO2 + 14H2O

O produto é um pó de alta cristalinidade, obtido por volta de 900ºC.

Método Hidrotermal

Método idêntico à via úmida, mas com ação de pressão e temperatura.


O produto é um pó nanométrico ou milimétrico, sendo possível a obtenção de
materiais com porosidade similar à hidroxiapatita obtida de corais. A partir dos
diferentes pós é possível a obtenção de diversas morfologias e formatos de

35
materiais, de denso até materiais extremamente porosos, os quais incluem
técnicas de processamentos cerâmicos tradicionais e avançadas como:
prensagem, colagem de barbotina, gelcasting, injeção, tape-casting, sol-gel,
etc.
O desenvolvimento de hidroxiapatita granulada é de grande interesse
devido à sua ampla utilização na área ortopédica e traumatológica (medicina e
odontologia). No entanto, não existem materiais disponíveis no mercado
nacional com qualidade e custo vantajoso. A obtenção de hidroxiapatita
granulada requer tecnologias de processamento de pós e de caracterização de
biomateriais que estão disponíveis, em especial junto aos grupos associados
ao projeto, o que pode permitir a obtenção de materiais produzidos
nacionalmente com custos relativamente baixos e de elevada qualidade.

Processo Aspersão Térmica

A aspersão térmica consiste de um grupo de processos nos quais


partículas finamente divididas de materiais para revestimentos, metálicos ou
não metálicos, são depositadas sobre um substrato devidamente preparado, na
condição fundida ou semi fundida, para formar uma camada superficial [27]. O
calor necessário para a operação na tocha de aspersão pode vir da queima de
um gás combustível ou da ação de um arco elétrico. As partículas aquecidas
são aceleradas por um gás comprimido, confinadas num feixe e dirigidas ao
substrato (Figura 21). Ao se chocarem, as partículas se achatam e formam
finas lentes, que se conformam e aderem às irregularidades superficiais e entre
si. Com a continuidade do processo, as partículas se resfriam, formando um
revestimento com estrutura lamelar.
Tsui et. al. sugere que pulverização por aspersão proporciona favoráveis
controles de químicos, resistência a biocorrosão, eficiência de processo,
embora decresça o grau de resistência à fadiga do substrato [28].
A natureza do processo de aspersão é sinergística, ou seja, o número de
componentes e variáveis envolvidas é grande e, quando devidamente
escolhidos em conjunto e devidamente aplicados, produzem um efeito muito

36
maior do que quando considerados individualmente. Ainda, cada componente
ou variável deve ser bem entendido, para permitir sua escolha e operação
adequada, em cada processo particular. As variações básicas nos processos
de aspersão térmica se referem ao material a ser aplicado, ao método de
aquecimento e ao método de aceleração das partículas em direção ao
substrato. [29]
Os materiais podem ser fornecidos na forma de varetas, arame, cordão
(tubo de plástico contínuo) e pó. Metais, óxidos, compostos intermetálicos,
cermets, plásticos orgânicos e alguns vidros podem ser depositados por uma
ou mais variações de processo.
O sucesso no uso de revestimentos aspergidos, termicamente depende
basicamente de sua aplicação cuidadosa, segundo procedimentos bem
estabelecidos. Qualquer desvio destes leva, em geral, a resultados não
confiáveis. Os revestimentos apresentam três aspectos básicos: o substrato, a
adesão do revestimento e sua estrutura.
Para a perfeita adesão do substrato ao metal base, faz-se necessário a
preparação da superfície sob a qual o filme será depositado. Esta é
essencialmente a mesma para todos os processos de aspersão e consiste em
duas etapas básicas: limpeza da superfície para a total remoção de impurezas
e a obtenção da rugosidade necessária para aumentar a área superficial efetiva
e melhorar a adesão do substrato [17].
Segundo Tsui, Doyle e Clyne, o grau de cristalinidade da HA depositada
na superfície de ligas de Ti-6Al-4V está intimamente associada aos parâmetros
de aspersão. Aumentando a potência do plasma, ele obteve decréscimo da
cristalinidade e da concentração de íons (OH) - enquanto os elementos Ca e P
eram encontrados dispersos. Em contrapartida, Tsui, com o aumento da
energia de deposição obteve menor porosidade de camada e diminuição da
concentração de fissuras do filme [28].
A ligação ou adesão entre o revestimento e o substrato pode ser
mecânica, química e/ou metalúrgica e é influenciada por vários fatores: material
do revestimento, condição do substrato, rugosidade, limpeza e temperatura da
superfície a ser revestida, antes e depois do processo, além da velocidade de

37
impacto das partículas. A estrutura de revestimento é similar quanto à natureza
lamelar, mas pode exibir diferentes características em função do processo, dos
parâmetros, da técnica e do material utilizado. A densidade do depósito varia
com a temperatura da fonte de calor utilizada e com a velocidade das
partículas no impacto [30].

Figura 20: Processo de Aspersão Térmica. [30]

Em uma pistola plasma a temperatura pode atingir 15.000 °C. A


temperatura do plasma diminui rapidamente em função da distância, por
exemplo, dentro do arco são encontrados valores de 15.000 °C, enquanto que
60 mm fora do mesmo a temperaturas estão na faixa de 1.093 a 1.649 °C. A
tecnologia do plasma geralmente usa os gases como Ar, N 2, H2 ou mistura
deles os quais serão levados ao estado plasma através de um arco elétrico.
Este estado manifesta-se como um gás incandescente e frequentemente é
chamado de chama de plasma, tocha de plasma ou jato de plasma. O estado
de plasma está sempre associado a altas temperaturas, dependendo do gás
usado como plasma pode-se chegar à temperatura de até 22.000 °C [30].
Silva avaliou os principais parâmetros de controle de processo no
recobrimento de amostras ASTM F136 (Ti-6Al-4V). Controlando corrente de
ionização, distância da tocha até o substrato, obteve resultados de

38
cristalinidade de recobrimento variando de 20 a 68%, conseguindo valores
ainda mais elevados pós-tratamento térmico. [31]
A maioria dos materiais metálicos, cerâmicos, poliméricos e compósitos
pode ser depositada por vários processos de aspersão térmica. E existem
vários processos de aspersão térmica, entre os quais se destacam oxi-
acetileno (flame-spray), arco elétrico, detonação, plasma-spray e hipersônico
(HVOF - High Velocity Oxy Fuel). A principal característica dos processos de
aspersão térmica é a origem da sua fonte de calor.

Revestimentos – Engenharia de Superfície

A engenharia de superfície é uma área vital para as novas exigências


dos materiais. A possibilidade de aprimorarmos as propriedades dos elementos
somente nas zonas de maior solicitação se mostra um recurso extremamente
vantajoso no dia-a-dia de muitas atividades. Dessa forma, possibilitamos aos
materiais melhorias superficiais apenas nas zonas de solicitação, mantendo
todo o restante do material isento de revestimento. Assim, obtêm-se as
propriedades necessárias no local de exigência, mantendo todo o restante do
material dúctil e tenaz para suporte das cargas de trabalho.
O emprego da hidroxiapatita como revestimento em ligas metálicas
beneficia o produto final devido à combinação das propriedades intrínsecas das
duas classes de materiais: a Biocompatibilidade das biocerâmicas e a alta
resistência à fadiga das ligas de titânio.
Linden, Martins, Neto, Roos, Camisa, Trefin, Trefin, e Agostini, em
estudos comparativos entre implantes femorais de titânio em ratos obtiveram
maior osseointegração dos implantes recobertos com hidroxiapatita do que
isento da biocerâmica, além disso, foi encontrado um processo de
osseointegração mais consolidado e em menor intervalo de tempo, quando
comparado com os implantes de estudo sem HA [18].

O processo de aspersão térmica, Figura 19, consiste no aquecimento de


um material metálico ou não metálico que sob a forma atomizada de pequenas

39
gotas é depositado sobre uma superfície previamente preparada (substrato)
[30].

Propriedades do Revestimento Bioativo

Com o objetivo do aumento da área de superfície e da qualidade de


adesão da interface osso-implante, processos de modificação de superfície têm
sido propostos, sendo muitos baseados no princípio de que uma melhor e mais
rápida osseointegração pode ser alcançada por meio da alteração topográfica
do implante. Um dos principais objetivos da atual pesquisa em implantes é o
desenvolvimento de propriedades que induzam a uma reparação óssea rápida,
guiada e controlada. Mais especificamente, além de acelerar o fenômeno de
reparação, os implantes deveriam influenciar na formação de uma matriz óssea
interfacial, denominada de neo-óssea, com composição, estrutura e
propriedades biomecânicas adequadas e semelhantes àquelas da matriz óssea
original. Estas adequações permitiriam não somente a recuperação mais rápida
do paciente, mas também a fixação estável entre o osso e o implante, a qual
forneceria a possibilidade da aplicação, mesmo que moderada, de carga
mecânica sobre o implante. Isto induz a um grande diferencial na diminuição do
tempo de tratamento, melhor efeito psicológico no paciente além da diminuição
dos custos clínicos [13].
Segundo Zaat, a adesão é determinada pela preparação da superfície
do substrato, pela distância da tocha à peça (fluidez e momento), a composição
da partícula e tipo do processo de aspersão térmica utilizada. O tempo de
resfriamento das partículas é de aproximadamente 10 -7 a 10-6 s e o tempo da
formação de uma lamela a outra é de aproximadamente 0,1 s. Quanto maior a
irregularidade da superfície mais difícil fica para que as partículas liquefeitas e
dúcteis destas lamelas se acomodem, originando vazios entre uma lamela e
outra, retendo ar ou gás causando porosidade e falhas de aderência. Ainda
segundo Zaat, como resultado do efeito térmico, tensões residuais são
geradas, originando a formação de trincas e/ou falhas de aderência [32].

40
Para ocorrer à formação de tecido ósseo é necessário que haja a
captação e a reprodução de células precursoras de osteoblastos, que as
mesmas se diferenciem em osteoblastos e produzam matriz extracelular não
mineralizada, que será posteriormente calcificada. Estes eventos são bastante
influenciados por algumas propriedades dos implantes, tais como, as
características físico-químicas, a energia de superfície e a topografia da
superfície.

A energia de superfície nos implantes

Qualquer tratamento de superfície cujo processo envolva transferência


de energia pode alterar a energia livre de superfície (γ) do material,
modificando assim as características de molhabilidade desta superfície e
consequentemente sua funcionalidade biológica. Estudos têm sido realizados
com o intuito de explicar a influência da energia de superfície de um material de
implante sobre o comportamento celular. A teoria mais plausível é a de que a
energia de superfície tem um efeito seletivo sobre a configuração e
conformação das proteínas que são adsorvidas sobre uma superfície e
importantes durante o processo de adesão celular [33].

A morfologia na superfície dos implantes

O objetivo principal de se promover uma textura superficial em um


implante é aumentar a área de contato com o tecido ósseo a ser formado e
proporcionar melhor ancoramento do mesmo ao tecido ósseo, promovendo
assim um aumento na capacidade e estabilidade da retenção do implante em
esforço mecânico. Os processos de modificação de superfície mais
convencionais em implantes comercializáveis atualmente são jateamento com
granulados abrasivos e ataque químico, onde estudos clínicos comparativos
com superfícies usinadas apesar de não mostrarem diferenças significativas de
perda óssea quando em solicitação mecânica, corroborando assim com a
importância do aumento de área superficial na capacidade de retenção do
dispositivo [33].
41
Para Fernandes, em estudos para melhoria da fixação de implantes
cranianos em próteses de articulação temporomandibular através da aspersão
térmica hipersônica, obteve as condições de biocompatibilidade do PEUAPM,
embora não buscasse homogeneidade morfológica de recobrimento, conseguiu
êxito na incrustação das partículas firmemente aderidas ao substrato [34].
A adesão é uma propriedade macroscópica e microscópica que depende
das interações ao longo da interface (ligações mecânicas, químicas) e tensões
locais. O modo de fratura depende do tipo de tensão a que a região interfacial é
submetida. Tensões típicas encontradas em amostras em serviço podem ser
resultantes de carregamento mecânico (tensão, cisalhamento e fadiga),
variação térmica (ciclos de temperatura) e meio química (corrosão). Logo, o
modo de fratura pode ser determinado pelo meio, propriedades químicas,
eletroquímicas, defeitos morfológicos da região interfacial e a forma como as
tensões externas são aplicadas. O tipo de região interfacial formada durante a
deposição depende da morfologia da superfície do substrato, contaminação,
interações químicas, energia necessária durante a formação da interface e o
comportamento de nucleação dos grãos depositados [35, 36].
A interface mecânica é caracterizada pelo entrelaçamento do filme
cerâmico com a rugosidade de superfície do substrato metálico. A resistência
desta superfície dependerá das propriedades mecânicas dos materiais. Pode-
se provocar rugosidade ou porosidade sobre a superfície metálica para
aumentar o entrelaçamento interfacial. Deve-se levar em conta que a
deposição de um filme sobre uma superfície rugosa, leva ao crescimento de
um filme poroso, devido ao efeito de "sombra". Os fatores que mais fortemente
influenciam o comportamento mecânico do revestimento são: microestrutura,
impurezas incorporadas e tensões internas [21].
Almeida Filho, Assis, Vernic e Gaustaldi, ao estudarem as condições de
preparo da superfície do implante, encontraram resultados satisfatórios para a
adesão da HA em superfícies tratadas por aspersão térmica para promover a
formação de vários estados de oxidação para o titânio, conferindo condições de
aderência da biocerâmica ao substrato. Após a aspersão, a superfície foi limpa
com Na(OH), promovendo nucleações satisfatórias de apatitas com relações

42
Ca/P específicas [37]. Já Valereto, obteve alta porosidade de recobrimento de
HA, em ligas de Ti-6Al-7Nb, devido as condições de rápida passagem das
partículas pela chama, com distribuição heterogênea das partículas na chama
e temperaturas muito elevadas, em tempo muito curtos, o que desfavoreceu a
densificação [38].

Neste contexto, por existir um grande número de variáveis envolvidas,


quer dos substratos a serem revestidos do processo de recobrimento, estudos
ainda são necessários e estão sendo intensificados, devido a importância
desses materiais para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que
necessitam dos implantes de coluna.

43
Materiais e Métodos

Os elementos passíveis para o estudo do revestimento são as zonas


roscadas dos parafusos pediculares, figura 22, uma vez que são as regiões em
contato com a estrutura óssea. O foco do estudo é buscar maior eficiência do
processo de fusão (artrodese) no local da intervenção cirúrgica, diminuindo o
tempo de recuperação do pós-operatório e garantindo menores possibilidades
de pseudartrose. Através do revestimento por Hidroxiapatita, a fusividade
óssea será acelerada, auxiliando no processo de regeneração. Os corpos de
prova revestidos serão analisados e submetidos aos ensaios determinados
para o sistema DPZ sem revestimento, além de serem caracterizados quando
atingidos os parâmetros esperados para os ensaios; e colocados em
comparação de resultados para ser verificada a eficiência da incorporação de
revestimentos biocerâmicos em ligas metálicas para o ramo de implantes
ortopédicos de coluna.

44
Figura 21: Desenho Técnico do Parafuso Pedicular Cabeça Longa.

45
Os parafusos, foco do tratamento superficial, serão obtidos através das
rotas produtivas definidas em PFAs (Processos de Fabricação). A matéria-
prima é analisada no ato do recebimento, a fim de garantir todas as
conformidades já citadas ao longo deste estudo. Em analisador por
fluorescência de raios X, tem-se a verificação da percentagem química dos
elementos com as normativas exigidas para o ramo de atividade, além de
iniciar as demais leituras de propriedades mecânicas. Na tabela 7, abaixo, são
apresentadas as especificações de cada componente do sistema segue a
especificação de cada componente do sistema:

Tabela 7: Representação das Normativas seguidas para cada componente.

Dispositivos Matéria-Prima

Parafuso Pedicular DPZ Cabeça Fixa

Parafuso Pedicular DPZ Cabeça Móvel

Parafuso Pedicular DPZ Cabeça Longa Titânio Liga Ti-6Al-4V (ASTM


Dispositivo de Bloqueio DTT F136) ISO 5832-3 [10, 11]

Gancho DTT

Parafuso DTT

Barra União Titânio Grau 2 – ASTM F67-06

Barra DTT – ISO 5832-2 [13, 14]

A hidroxiapatita adquirida via úmida apresenta faixa de distribuição


granulométrica abaixo dos 40µm, pós-classificação e relação Ca/P de 1,67.
Está será depositada por aspersão térmica, formando uma camada de 100 µm
de espessura. Os ensaios de caracterização irão evidenciar as condições de
adesão, formação das fases, através de MEV, XPS e DRX, além da
representação das condições de integração do filme ao substrato, por meio dos
ensaios de molhabilidade e rugosimetria.

46
O complemento das atividades para o projeto será realizado segundo
cronograma abaixo, de modo a finalizar o projeto no período delimitado.

Tabela 8: CRONOGRAMA (para M = meses)

1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º


Atividades
M M M M M M M M M M M M

Revisão
X X X X X X X X X X X X
Bibliográfica

Preparação
X X X X X
das Amostras

Ensaios
Estáticos e X X X
Dinâmicos

Caracterização
X X X
dos Produtos

Análise dos
X X X X X
Resultados

Elaboração da
X X X X X
Tese

A Revisão Bibliográfica é realizada ao longo de todo o projeto, buscando


as justificativas necessárias para as incógnitas geradas no transcorrer do
estudo. As amostras preparadas foram enviadas a CERAMED, empresa
parceira da OSTEOMED no desenvolvimento deste projeto, onde será
realizado o revestimento dos implantes. Os ensaios estáticos e dinâmicos
serão efetuados nas dependências da OSTEOMED, em Rio Claro, buscando a
adequação as normativas necessárias para justificativa técnica de aplicação do
produto. Para a caracterização dos implantes revestidos, teremos as análises
em paralelo aos demais ensaios para favorecer a análise dos resultados,
gerando argumentação necessária para o término da elaboração da Tese no
prazo delimitado para a Defesa.

47
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