Você está na página 1de 12

INNOVARES REDE DE CONHECIMENTO

PROGRAMA (Trans)FORMAÇÃO DOCENTE

Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM)


como base da atuação Docente

Fortaleza/CE, 2016
2
Sumário

SOBRE EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM MEDIADA ................................................... 3

AS QUATRO PEÇAS INICIAIS DO QUEBRA-CABEÇAS DA EAM...................................... 5

1- INTENCIONALIDADE E RECIPROCIDADE................................................................. 5

2- SIGNIFICADO .............................................................................................................7

3- TRANSCENDÊNCIA ................................................................................................... 8

4- COMPETÊNCIA ........................................................................................................ 10

REFERÊNCIA.................................................................................................................... 12

PROGRAMA (TRANS)FORMAÇÃO DOCENTE (INNOVARES Rede de Conhecimento)


Experiência de Aprendizagem Mediada: as 4 peças iniciais do quebra-cabeças
SOBRE EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM MEDIADA

3
Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM) é a Teoria Cognitiva que propõe a
mediação como elemento potenciador do desenvolvimento e da modificabilidade do
educando. É o processo através do qual um indivíduo mais experiente se interpõe entre o
estudante (organismo) e o estímulo (aquilo que deve ser aprendido), modificando o estímulo de
acordo com as necessidades do aprendiz.
Assim sendo, Feuerstein enriquece o conceito de Piaget do S-O-R
(Estímulo/Organismo/Resposta), colocando entre eles o mediador. A imagem que temos, então,
fica assim:

Feuerstein desenvolveu a fórmula S-H-O-H-R a partir do S-O-R de Piaget, incluindo


o fator de mediação humana entre os mundos do estímulo (S), organismo (O) e resposta (R) de
Piaget. Para ele, o mediador se interpõe entre o organismo que aprende e o mundo dos
estímulo, fazendo com que nesse tipo de círculo, a aprendizagem seja intencional.

PROGRAMA (TRANS)FORMAÇÃO DOCENTE (INNOVARES Rede de Conhecimento)


Experiência de Aprendizagem Mediada: as 4 peças iniciais do quebra-cabeças
O papel do mediador é orientar intencionalmente a liberdade da escolha, no

4
processo de aprendizagem.

Sobre intencionalidade da aprendizagem:

Na EAM, a intencionalidade de construção do conhecimento abandona o modelo


centralizado e parte em busca da aprendizagem distribuída, passando ocasionalmente pela
descentralizada.

MEDIADOR = professor, orientador, monitores, preceptores

PROGRAMA (TRANS)FORMAÇÃO DOCENTE (INNOVARES Rede de Conhecimento)


Experiência de Aprendizagem Mediada: as 4 peças iniciais do quebra-cabeças
Para a aplicação da Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM) existem 10

5
critérios ou tipos fundamentais de interação. Os quatro primeiros critérios são necessários e
suficientes para uma interação ser considerada mediação. Os seis critérios restantes podem
funcionar e, diferentes momentos, onde e quando apropriados, servindo para equilibrar e
reforçar uns aos outros.
São eles:
1- Intencionalidade e Reciprocidade 5- Autorregulação e Controle do Comportamento
2- Significado 6- Compartilhamento
3- Transcendência 7- Individuação
4- Competência 8- Planejamento de Objetivos
9- Desafio
10- Automodificação

AS QUATRO PEÇAS INICIAIS DO QUEBRA-CABEÇAS DA EAM

1- INTENCIONALIDADE E RECIPROCIDADE

Intencionalidade ocorre quando o mediador orienta deliberadamente a interação


numa direção escolhida, selecionando, moldando e interpretando o estímulo específico. A
mediação é um ato intencional com propósito específico, no qual o mediador trabalha
ativamente para focar a atenção no estímulo, que pode ser uma competência, uma habilidade
ou uma atitude, ou ainda, elementos componentes desses domínios de aprendizagem.
Reciprocidade ocorre quando existem respostas do mediado e é uma indicação de
que ele está receptivo e envolvido no processo de aprendizagem. O mediado está aberto para
os inputs oferecidos pelo mediador e demonstra cooperação.

ELABORAÇÃO:
É como se o mediador colocasse uma lente de aumento sobre um estímulo em
particular para focá-lo melhor e distingui-lo dos demais. Isso é intencionalidade. A intensificação
do estímulo chama a atenção do mediado, provocando o que Feuerstein chamava de "estado
de vigilância" voltado para esse estímulo. Isso é reciprocidade.

PROGRAMA (TRANS)FORMAÇÃO DOCENTE (INNOVARES Rede de Conhecimento)


Experiência de Aprendizagem Mediada: as 4 peças iniciais do quebra-cabeças
Intencionalidade e Reciprocidade são a primeira peça do quebra cabeça da EAM.

6
Para aprender é preciso ser capaz de cria significado a partir de uma grande quantidade de
estímulos que impactam continuamente sobre os sentidos. É preciso aprender a isolar cada
estímulo em particular e interagir conscientemente com eles. Isso é alcançado pelo
relacionamento entre mediador e mediado. O mediador isola e interpreta os estímulos
(INTENCIONALIDADE) e os apresenta de maneira que resultem numa resposta (RECIPROCIDADE)
esperava do mediado.

IMPORTANTE:
A mera intenção de intervir e de interpretar um estímulo não garantirá que a
atenção ou a vigilância ocorra (escrever um livro não garante que ele será lido).
Para assegurar reciprocidade, o mediador deve buscar ativamente a atenção do
mediado e impor propositalmente a mediação (o leitor deve ser levado a abrir o livro escrito e
se engajar na leitura).

NA SALA DE AULA:
Obstáculos à intencionalidade e reciprocidade podem ser, principalmente: (a)
aguardar que o estudante inicie uma interação na crença de que é importante não impor a
iniciação com um estímulo. Nesse caso não há intencionalidade; (b) professor convida à
interação numa lição relevante é bem preparada, mas na qual os estudantes não são iniciamos
pelo professor por estarem cansados, por falta de interesse ou por falta de motivação, por não
perceberem a importância do tópico, ou outro motivo subjetivo. Nesse caso não há
reciprocidade.

LEMBRE-SE:
Há três elementos que influenciam e que estão envolvidos na intencionalidade e
reciprocidade:
- MEDIADOR, cuja linguagem, ritmo e gestual podem ser variados para realçar a
intencionalidade;
- MEDIADO, cujo foco de atenção, nível de interesse e disponibilidade afetam a reciprocidade;
- ESTÍMULO (apresentação de ideias e de material que estejam vinculamos aos domínios de
aprendizagem ou a elementos de sua construção), que pode ser variado em termos de
amplitude, repetição, modalidade, etc, para ampliar a intencionalidade e reciprocidade.

A INTENCIONALIDADE E A RECIPROCIDADE SÃO AS CONDIÇÕES


PRINCIPAIS DE UMA INTERAÇÃO DE EAM. (Reuven Feuerstein)

PROGRAMA (TRANS)FORMAÇÃO DOCENTE (INNOVARES Rede de Conhecimento)


Experiência de Aprendizagem Mediada: as 4 peças iniciais do quebra-cabeças
7
APLICAÇÃO:
- O professor está bem preparado e a sala está bem organizado, o que demonstra
intencionalidade.
- Despertar o interesse e a motivação dos estudantes para o assunto em questão e
obtém feedback deles.
- Os estudantes ouvem o professor e respondem a ele numa atmosfera que conduz à
aprendizagem.
- Revelar interesse real nos estudantes e em seus trabalhos, mostrando prazer quando eles
obtém sucesso e progridem.
- Estar pronto para reformular algo que não foi bem compreendido, mostrando interesse
especial pelos alunos passivos e mais lentos.

2- SIGNIFICADO

A mediação do significado ocorre quando o mediador traz finalidade e contexto a


uma atividade. O mediador mostra interesse e envolvimento emocional, discute a importância
da atividade com o mediado e explícita o entendimento do motivo para a realização da
atividade.
É como se o mediador desse a chave para a compreensão do significado do estímulo
apresentado na ação de intencionalidade. A chave, ou a mediação do significado, abre e
interpreta o contexto cultural no qual o mediado se encontra.
O significado é a segunda peça do quebra-cabeça da EAM. A primeira peça,
intencionalidade e reciprocidade, está relacionada com a seleção e o enquadramento de uma
competência, habilidade ou atitude. A mediação do significado está relacionada com imprimir
valor e energia a atividade ou objeto, tornando-o relevante para o mediado.
O processo de dar significado ao estímulo envolve, com muita frequência, a
comunicação de valores éticos e sociais. A significação é o "processo pelo qual os
conhecimentos, valores e crenças são transmitidos de uma geração a outra." (Feuerstein)

PROGRAMA (TRANS)FORMAÇÃO DOCENTE (INNOVARES Rede de Conhecimento)


Experiência de Aprendizagem Mediada: as 4 peças iniciais do quebra-cabeças
8
IMPORTANTE:
O significado é mediado tanto no nível cognitivo (intelectual) quanto no nível
afetivo (emocional):
- valores e crenças são comunicados no nível cognitivo;
- energia e entusiasmo são comunicados no nível afetivo.

O SIGNIFICADO É O PRINCÍPIO ENERGÉTICO E EMOCIONAL QUE EXIGE DO MEDIADOR


A GARANTIA DE QUE O ESTÍMULO QUE ESTÁ SENDO APRESENTADO ATINGE O
MEDIADO. É A AGULHA QUE PASSA A LINHA PELO TECIDO.

APLICAÇÃO:
- Ressaltar o valor dos módulos aos estudantes, dando-lhes sentido na formação, e significado
perante as DCN.
- Tornar explícitas as estratégias e habilidades subjacentes envolvidas em cada tarefa.
- Energizar o estímulo, alterando sua frequência ou intensidade.
- Utilizar comportamentos não-verbais (posição, expressão facial, nível e inflexão de voz) para
dar significado.
- Reconhecer o significado expresso pelas respostas dos estudantes.

3- TRANSCENDÊNCIA

A mediação da transcendência ocorre quando uma interação vai além da


necessidade direta e imediata, consequentemente ampliando e diversificando o sistema de
necessidade do mediado. O objetivo da mediação é promover a aquisição de princípios,
conceitos ou estratégias que podem ser generalizados para situações além do problema
presente.
Toda atividade, por mais simples que seja, possui um certo potencial para a
transcendência. Ela representa a ponte que liga atividades e ideias correlacionadas, conectando
necessidades imediatas com outras necessidades, sempre em expansão.

PROGRAMA (TRANS)FORMAÇÃO DOCENTE (INNOVARES Rede de Conhecimento)


Experiência de Aprendizagem Mediada: as 4 peças iniciais do quebra-cabeças
A mediação da transcendência é a terceira peça do quebra-cabeça e o terceiro

9
critério necessário para que uma interação se constitua numa experiência de aprendizagem
mediada. Na sua essência, qualquer ato que seja uma experiência de aprendizagem Mediada
deve incluir intencionalidade e reciprocidade, significado e transcendência.
Ela ocorre quando o mediador liga uma atividade específica com outras. Isso
movimenta o mediado para além da necessidade direta e imediata explicitada pela interação.
Assim, é formada uma ponte entre a atividade imediata e outras atividades relacionadas.
Fazendo isso, o mediador amplia o sistema de necessidades do mediado, incluindo
a necessidade por compreensão, por pensamento reflexivo e pela formação de relações entre
atividades. A transcendência é capaz de desenvolver:
(A) uma profunda compreensão das coisas;
(B) uma curiosidade que leva o mediado a inquirir e descobrir sobre as relações entre as
coisas;
(C) uma percepção de como as coisas estão interligadas;
(D) um desejo de saber mais sobre as coisas e de buscar explicações sobre elas.

NA SALA DE AULA:
O potencial da transcendência fica limitado quando o foco estiver nos fatos e na
mera repetição demorada desses fatos, e quando o conhecimento é fragmentado e
compartimentado.
Esse potencial pode ser materializado quando o foco está no ensino do processo -
ensino do conceito subjacente - e quando o conhecimento está integrado e ligado a um contexto
mais amplo.

LEMBRE-SE:
A mediação da transcendência envolve:
- encontrar uma regra geral que se aplique a situações correlatas;
- ligar eventos do presente com eventos do futuro;
- engajar-se num pensamento reflexivo para alcançar a compreensão do que está subjacente
na situação;
- pensar lateralmente sobre experiências e conclusões.

EDUCAÇÃO É O QUE FICA QUANDO OS FATOS JÁ FORAM ESQUECIDOS.

PROGRAMA (TRANS)FORMAÇÃO DOCENTE (INNOVARES Rede de Conhecimento)


Experiência de Aprendizagem Mediada: as 4 peças iniciais do quebra-cabeças
10
APLICAÇÃO:
Atividades que podem ajudar na mediação da transcendência:
- Relacionar o assunto da lição com assuntos prévios e com assuntos futuros.
- Revelar relações entre o conteúdo específico e os objetivos gerais.
- Dar preferência para perguntas do tipo "porquê?" e "como?", ao invés de "quem?" e "o
quê?"
- Generalizar e pedir que os mediados também generalizem a partir de situações específicas à
regra subjacente.
- Evocar a necessidade do mediado em buscar e encontrar relações complexas, dando
exemplos de conexão.

4- COMPETÊNCIA

A mediação da competência ocorre quando o mediador ajuda o mediado a


desenvolver a autoconfiança necessária para se engajar numa dada atividade com sucesso. O
mais importante não é necessariamente alcançar o sucesso, mas sim, a percepção do mediado
de que está tendo sucesso.
O sentimento de competência não está necessariamente associado a um objetivo
ou a uma definição absoluta de sucesso. Pode estar ligado à concepção que o mediado tem de
si mesmo de que é "uma estrela".
A mediação da competência é a quarta peça do quebra-cabeça da EAM. Ela envolve
o desenvolvimento da autoconfiança do mediado. A autoconfiança fortalece, facilita o
pensamento independente, encoraja a ação motivada e contribui para a realização dos
objetivos. Assim, é um componente valioso de toda a EAM.
Não deve ser vista em termos absolutos nem como uma capacidade ou deficiência
inata, mas como um processo. A competência para uma tarefa melhora com a experiência e a
maturidade.

PROGRAMA (TRANS)FORMAÇÃO DOCENTE (INNOVARES Rede de Conhecimento)


Experiência de Aprendizagem Mediada: as 4 peças iniciais do quebra-cabeças
11
A mediação da competência envolve instigar no mediado:
(A) uma boa postura mental;
(B) a motivação para tentar;
(C) uma crença positiva em sua própria capacidade;
(D) a determinação para perseverar.

Algumas formas de mediação da competência podem ser:


- selecionando o estímulo de acordo com o nível de capacidade do mediado;
- recompensando a resposta do mediado ao estímulo (GAMIFICAÇÃO);
- tornando explícitas as estratégias usadas pelo mediado que resultam numa experiência bem
sucedida;
- focando e tornando explícitas as etapas de uma atividade que foram concluídas com sucesso.

NA SALA DE AULA:
A autoconfiança pode ser facilmente corroída na sala de aula. Os sistemas
educacionais que são competitivos e orientados para produtos frequentemente dão mais
atenção aos erros que aos passos dados em direção aos acertos e ao sucesso da tarefa.
Quando a atenção negativa é direcionada para o erro, os mediados começam a se
definir em termos de suas fraquezas e não dos seus pontos fortes. Essa percepção negativa leva
ao tipo de autoimagem na qual o mediado acredita que nunca será bom o suficiente,
independentemente dos sucessos que consiga alcançar.
Uma autoimagem pobre pode ser responsável por vários problemas
comportamentais na sala de aula, tais como:
- falta de confiança, quando os mediados passam a ficar tão preocupados com a percepção de
capacidade superiores professores e de outros alunos que se tornam relutantes em tentar ou
perseverar nas tarefas propostas;
- falta de motivação, quando os mediados evitam uma atividade ou tarefa, ou deixam de
participar por não entender seu significado ou por acharem-se incapazes;
- ansiedade, resultando em impulsividade e mau desempenho.
A percepção que os mediadores tem dos mediados e passam para eles, tanto a
explícita ("você não é capaz disso!") quanto a implícita ("isso não interessa a vocês, porque vocês
não entenderiam mesmo"), causa um profundo impacto em seu senso de competência. Os
mediados frequentemente buscam satisfazer as expectativas dos outros, sejam elas positivas ou
negativas. O resultado é a realização de uma profecia.

PROGRAMA (TRANS)FORMAÇÃO DOCENTE (INNOVARES Rede de Conhecimento)


Experiência de Aprendizagem Mediada: as 4 peças iniciais do quebra-cabeças
12
LEMBRE-SE:
Os vários componentes da EAM não devem ser vistos isoladamente. As 10 peças do
quebra-cabeça da EAM se complementam e se equilibram umas nas outras. Mas é a partir
dessas 4 primeiras que instituímos os pilares mínimos neçessarios para alavancar as mudanças
necessárias no processo ensino-aprendizagem.

TALVEZ A CAUSA MAIS


IMPORTANTE DO SUCESSO OU
DA FALHA DE UMA PESSOA NO
PROCESSO EDUCATIVO TENHA A
VER COM O QUE ELA ACREDITA
ACERCA DE SI MESMA.

APLICAÇÃO:
- Modificar o estímulo de acordo com o nível de competência do mediado, selecionando
material apropriado, simplificando, reduzindo a velocidade e repetindo.
- Formular perguntas de acordo com o nível de desenvolvimento dos mediados.
- Interpretar as razões para o sucesso dos mediados e certificar-se de que tenha compreendido
os processos que levam a um desempenho bem-sucedido.
- Deixar claro para os mediados o progresso que cada um está atingindo, ao longo do processo.
- Responder aos elementos positivos do trabalho dos mediados, mesmo quando os resultados
finais não são satisfatórios.

REFERÊNCIA
Aprendizagem mediada dentro e fora da sala de aula / Programa de Pesquisa cognitiva. 4ª edição.
Divisão de Educação Especializada da Universidade de Witwatersrand, África do Sul; Mandia
Mentis Coordenação; tradução José Francisco Azevedo. São Paulo, 2011.

PROGRAMA (TRANS)FORMAÇÃO DOCENTE (INNOVARES Rede de Conhecimento)


Experiência de Aprendizagem Mediada: as 4 peças iniciais do quebra-cabeças

Você também pode gostar