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MINISTÉRIO DA SAÚDE

CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ACOMPANHANDO OS CICLOS
DE VIDA DAS FAMÍLIAS:
SAÚDE DA MULHER

PROGRAMA SAÚDE COM AGENTE


E-BOOK 23

Brasília – DF
2023 
MINISTÉRIO DA SAÚDE
CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ACOMPANHANDO OS CICLOS
DE VIDA DAS FAMÍLIAS:
SAÚDE DA MULHER

PROGRAMA SAÚDE COM AGENTE


E-BOOK 23

Brasília – DF
2023 
2023 Ministério da Saúde.
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial –
Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra,
desde que citada a fonte.
A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde:
bvsms.saude.gov.br

Tiragem: 1ª edição – 2023 – versão eletrônica

Elaboração, distribuição e informações: Coordenação-geral: Designer educacional:


MINISTÉRIO DA SAÚDE Célia Regina Rodrigues Gil – MS Alexandra Gusmão – Conasems
Secretaria de Gestão do Trabalho e da Cristiane Martins Pantaleão – Conasems Juliana de Almeida Fortunato – Conasems
Educação na Saúde Hisham Mohamad Hamida – Conasems Pollyanna Lucarelli – Conasems
Departamento de Gestão da Educação na Isabela Cardoso de Matos Pinto – MS
Priscila Rondas – Conasems
Saúde Leandro Raizer – UFRGS
Coordenação–Geral de Ações Estratégicas Lívia Milena Barbosa de Deus e Méllo – MS
Colaboração:
de Educação na Saúde Luciana Barcellos Teixeira – UFRGS
Fabiana Schneider Pires - UFRGS
SRTVN 701, Via W5 Norte, lote D,
Josefa Maria de Jesus – SGTES/MS
Edifício PO 700, 4º andar
Katia Wanessa Silva – SGTES/MS
CEP: 70719-040 – Brasília/DF Direção técnica:
Lanusa Terezinha Gomes Ferreira -
Tel.: (61) 3315-3394 Isabela Cardoso de Matos Pinto - SGTES/MS CGAES/MS
E-mail: sgtes@saude.gov.br Célia Regina Rodrigues Gil – DEGES/SGTES/MS Marcela Alvarenga de Moraes – Conasems
Marcia Cristina Marques Pinheiro –
Secretaria de Atenção Primária à Saúde Conasems
Departamento de Saúde da Família Organização: Rejane Teles Bastos – SGTES/MS
Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Núcleo Pedagógico do Conasems Roberta Shirley A. de Oliveira – CGAES/MS
7º andar Rosângela Treichel – Conasems
CEP: 70058-90 – Brasília/DF Supervisão-geral: Suellen da Silva Ferreira– SGTES/MS
Tel.: (61) 3315-9044/9096 Rubensmidt Ramos Riani
E-mail: aps@saude.gov.br Assessoria executiva:
Coordenação técnica e pedagógica: Conexões Consultoria em Saúde LTDA
Secretaria de Vigilância em Saúde e Carmen Lúcia Mottin Duro
Ambiente Cristina Fatima dos Santos Crespo Coordenação de desenvolvimento gráfico:
SRTVN 701, Via W5 Norte, lote D, Diogo Pilger
Cristina Perrone – Conasems
Edifício PO 700, 7º andar Fabiana Schneider Pires
CEP: 70719-040 – Brasília/DF Valdívia França Marçal
Diagramação e projeto gráfico:
Tel.: (61) 3315.3874
Elaboração de texto: Aidan Bruno – Conasems
E-mail: svs@saude.gov.br
Ariane Cristina Ferreira Alexandre Itabayana – Conasems
Bernardes Neves Bárbara Napoleão – Conasems
CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS
MUNICIPAIS DE SAÚDE – Conasems Lucas Mendonça – Conasems
Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Anexo B, Revisão técnica: Ygor Baeta Lourenço – Conasems
Sala 144 Alayne Larissa M. Pereira- SAPS/MS
Zona Cívico-Administrativo, Brasília/DF Andréa Fachel Leal – UFRGS Fotografias e ilustrações:
CEP: 70058-900 Camila Mello dos Santos – UFRGS Biblioteca do Banco de Imagens do
Tel.:(61) 3022-8900 Carmen Lúcia Mottin Duro – UFRGS Conasems
Diogo Pilger – UFRGS
Núcleo Pedagógico do Conasems José Braz Damas Padilha – SVS/MS Imagens:
Lanusa T. Gomes Ferreira – SGTES/MS Freepik, Brasil Escola e Wikipédia
Rua Professor Antônio Aleixo, 756
CEP: 30180-150 Belo Horizonte/MG Michelle Leite da Silva – SAPS/MS
Patrícia da Silva Campos – Conasems Revisão ortográfica:
Tel: (31) 2534-2640
Wendy Payane F. dos Santos – SAPS/MS Gehilde Reis Paula de Moura
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Av. Paulo Gama, 110 - Bairro Farroupilha - Normalização:
Porto Alegre - Rio Grande do Sul Luciana Cerqueira Brito – Editora MS/CGDI
CEP: 90040-060
Tel: (51) 3308-6000

Ficha Catalográfica

Brasil. Ministério da Saúde.


Acompanhando os Ciclos de Vida das Famílias: Saúde da Mulher [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde. Conselho Nacional de
Secretarias Municipais de Saúde. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. – Brasília : Ministério da Saúde, 2023.
xx p. : il. – (Programa Saúde com Agente; E-book 23)

Modo de acesso: World Wide Web:


ISBN xxx-xx-xxx-xxxx-x

1. Agentes Comunitários de Saúde. 2. Acompanhando os Ciclos de Vida das Famílias: Saúde da Mulher 3. Atenção integral à saúde da
mulher. I. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. II. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. III. Título.
CDU 614

Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2023/0xxx


Título para indexação:
Family Lifecycle tracking: Women's Health
OLÁ, AGENTE!
Este é o seu e-book da disciplina Acompanhando os Ciclos de Vida:
Saúde da Mulher.

Neste material, pretendemos promover uma reflexão sobre a atenção à


saúde da mulher na perspectiva da Estratégia Saúde da Família e da
Atenção Primária à Saúde (APS). Isso implica pensar a mulher para
além das suas dimensões biológicas como um ser também social que,
ao percorrer sua trajetória neste mundo, encontra uma série de
dificuldades decorrentes, principalmente, de sua condição de mulher,
mãe, trabalhadora, que sofre discriminações e violências e luta para
ser reconhecida na sociedade.

Analisaremos situações envolvidas no cotidiano do Agente


Comunitário de Saúde, que possibilitem a articulação, a aproximação
entre o mundo do ensino e o mundo do trabalho.

Esperamos que esta disciplina contribua com seu processo de


educação permanente em saúde, fornecendo elementos para a
construção de uma linha de cuidados à saúde da mulher.

Estude este material com atenção e consulte-o sempre que


necessário! Acompanhe também a aula interativa, a teleaula e realize
as atividades propostas para assimilar as informações apresentadas.

Bons estudos
LISTA DE FIGURAS
23 - Figura 1 - Número de óbitos maternos no Brasil de 2010 a
2020.

24 - Figura 2 - Óbito materno obstétrico no Brasil, segundo


idade e raça/cor

29 - Figura 3 - Papel da Atenção Primária à Saúde da Mulher


37 - Figura 4 - Mobilização e seguimento das mulheres no
território

46 - Figura 5 - Métodos anticoncepcionais disponíveis no SUS


LISTA DE SIGLAS E
ABREVIATURAS
ACE - Agente de Combate às Endemias

ACS - Agente Comunitário de Saúde

APS - Atenção Primária à Saúde

CAPS - Centros de Atenção Psicossocial

CRAM - Centro de Referência de Atenção à Saúde da Mulher em


Situação de Violência

CRAS - Centros de Referência de Assistência Social

CREAS - Centros de Referência Especializado em Assistência Social

ISTs - Infecções Sexualmente Transmissíveis

NASF - Núcleos de Apoio à Saúde da Família

ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

PEP - Profilaxia pós-exposição

RMM - Razões de Mortalidade Materna

PNAISM - Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher

PNAR - Pré-Natal de Alto Risco

UBS - Unidades Básicas de Saúde

SUS - Sistema Único de Saúde

VD - Visita Domiciliar
SUMÁRIO

7 EVOLUÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL


DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA
MULHER

15 CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS E
SITUAÇÃO DE SAÚDE DA MULHER NO BRASIL

27 AÇÕES ESPECÍFICAS EM SAÚDE DA MULHER


E O PAPEL DO AGENTE COMUNITÁRIO DE
SAÚDE

65 RETROSPECTIVA

67 REFERÊNCIAS
EVOLUÇÃO DA
POLÍTICA NACIONAL
DE ATENÇÃO
INTEGRAL À SAÚDE
DA MULHER
A saúde da mulher brasileira
se incorpora às políticas
nacionais de saúde nas
primeiras décadas do século
XX, tendo como base atender
às condições relativas à
gravidez e ao parto.
Nas décadas de 1930, 1950 e 1970, os programas materno-infantis
traduziam uma visão restrita sobre a mulher, baseada em seu papel
de mãe, responsável pela criação, pela educação e pelo cuidado com
a saúde dos filhos e demais familiares, além do seu papel de principal
responsável pelos cuidados domésticos.

No ano de 2004, mais


precisamente em 28 de maio, o
Ministério da Saúde propôs
diretrizes para a humanização
e a qualidade do atendimento
na atenção à Saúde da Mulher.

8
O Ministério da Saúde também levou em consideração os dados
epidemiológicos e as reivindicações de diversos segmentos sociais
para apresentar os princípios e as diretrizes da Política Nacional de
Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM). O documento da PNAISM
incorporou, num enfoque de gênero, a integralidade e a promoção da
saúde como princípios norteadores e buscou consolidar os avanços no
aspecto dos direitos sexuais e reprodutivos, com ênfase na melhoria da
atenção à saúde da gestante (que também pode ser chamada de
atenção obstétrica), no planejamento reprodutivo, na atenção ao
abortamento inseguro e aos casos de violência doméstica e sexual.

VOCÊ SABE O QUE É


GÊNERO?

Gênero é um conceito que se refere a um sistema de atributos sociais –


papéis, crenças, atitudes e relações entre mulheres/mulheres;
mulheres/homens; homens/homens – os quais não são determinados
pela biologia, mas pelo contexto social, político e econômico, e que
contribuem para orientar o sentido do que é ser homem ou ser mulher
numa dada sociedade.

A maioria das pessoas nasce biologicamente homem ou mulher. A elas


são ensinados comportamentos apropriados para homens e mulheres
(normas de gênero) - incluindo como eles devem interagir com outros
do mesmo sexo e do sexo oposto dentro de famílias, comunidades e
locais de trabalho (relações de gênero), bem como as funções ou
responsabilidades que devem assumir na sociedade (papéis de
gênero).

9
Portanto, o gênero é uma construção social, cultural e histórica. Na
maioria das sociedades, as relações de gênero são desiguais. A
desigualdade de gênero limita o acesso aos serviços de saúde de
qualidade e contribui para aumentar as doenças e mortes evitáveis
em mulheres e homens ao longo da vida.

As expectativas de gênero variam de uma cultura para outra e podem


mudar ao longo do tempo.

Identidade de gênero é a identidade construída a


partir de como a pessoa se reconhece e/ou se
apresenta, que pode corresponder ou não ao seu
corpo biológico e pode ou não envolver a
modificação de características físicas
(BRASIL, 2018, p. 16).

Saiba mais sobre a equidade de gênero


em saúde. Clique aqui ou escaneie o QR
Code e acesse a página da Organização
Mundial de Saúde (OMS).

10
A Política de Saúde da Mulher destaca um leque de necessidades da
população feminina, além das questões reprodutivas, e contextualiza
as desigualdades sociais como fatores determinantes no processo de
produção de doenças, queixas e mal-estares das mulheres no Brasil.

A PNAISM deve ser utilizada como um instrumento de apoio aos


estados e municípios na implementação de ações de saúde da mulher
que respeitem os seus direitos humanos e sua situação social e
econômica. Dessa forma, os gestores locais devem definir suas metas
e escolher os indicadores que melhor se adaptem à sua situação de
saúde e que respondam às necessidades da população.

PARA REFLETIR:

Quais são as ações que o seu município ou a sua


unidade de saúde estão realizando para o
fortalecimento da Política Nacional de Atenção
Integral à Saúde da Mulher?

Quais ações, você considera como prioritárias para a


integralidade das ações direcionadas à saúde da
mulher?

11
O Pacto pela Saúde lançado em 2006 foi um conjunto de reformas
institucionais do SUS pactuado entre as três esferas de gestão (União,
Estados e Municípios) que redefiniu as responsabilidades de cada
gestor em função das necessidades de saúde da população e na
busca da equidade social, tendo como base os princípios
constitucionais do SUS. O Pacto pela Vida, um dos componentes do
Pacto pela Saúde, é o compromisso entre os gestores do SUS em
torno de prioridades que apresentam impacto sobre a situação de
saúde da população brasileira. A temática Saúde da Mulher se faz
presente no Pacto pela Vida, encontrando-se, claramente, listada no
campo das prioridades: Controle do câncer de colo de útero e de
mama; Redução da mortalidade infantil e materna.

Sete anos após a elaboração da PNAISM, a Portaria nº 1.459/GM/MS


de 24 de junho de 2011 instituiu, no âmbito do SUS, a Rede Cegonha.
Trata-se de uma estratégia do Ministério da Saúde que visa
implementar uma rede de cuidados para assegurar às mulheres o
direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à
gravidez, ao parto e ao puerpério, além de garantir às crianças o
direito ao nascimento seguro, ao crescimento e ao desenvolvimento
saudáveis.

Em 2019, foi instituído pela Portaria nº 2.979, de 12 de novembro de


2019, o Programa Previne Brasil, que também é parte das estratégias
do Ministério da Saúde pelo cuidado e acompanhamento da
qualidade no atendimento à saúde das mulheres e gestantes. Por
isso, quatro entre os sete indicadores de desempenho estabelecidos
para cálculo do financiamento do Programa Previne Brasil são
voltados ao público feminino.

12
Os indicadores do Previne
Brasil já foram estudados
neste Curso. Vamos
relembrar?

Indicadores do Previne Brasil na área de Saúde da Mulher

Indicador Proporção de gestantes com pelo menos 6 (seis)

1 consultas de pré-natal realizadas, sendo a primeira


até a 12ª semana de gestação.

O objetivo desse indicador é mensurar o acesso das gestantes ao


pré-natal na Atenção Primária, com início precoce e atendimentos
conforme o preconizado pelo Ministério da Saúde. Com esta
informação, o intuito é de ampliar o acesso ao acompanhamento
pré-natal e incentivar a captação de gestantes para início do
pré-natal em tempo oportuno, o que é essencial para o
reconhecimento precoce de alterações e a realização de intervenções
adequadas. As gestantes devem ser incentivadas a cumprir ao menos
6 consultas de pré-natal, e cada consulta deve oferecer à mulher
gestante um cuidado de qualidade.

Indicador Proporção de gestantes com realização de exames


2 para sífilis e HIV.

O objetivo desse indicador é mensurar quantas gestantes realizaram


esses exames, no intuito de identificar gestantes com essas infecções
para que seja assegurado o tratamento adequado, com vistas a
minimizar danos à mulher e ao feto.

13
Indicador Proporção de gestantes com atendimento

3 odontológico realizado.

O objetivo desse indicador é mensurar quantas gestantes realizam o


atendimento odontológico, no intuito de incentivar o cuidado
odontológico à gestante por meio da realização de avaliação
diagnóstica e tratamento dentário.

Indicador

4
Cobertura de exame citopatológico.

O objetivo desse indicador é medir a proporção de mulheres com


idade entre 25 e 64 anos atendidas na Atenção Primária que
realizaram ao menos uma coleta de exame citopatológico do colo do
útero no intervalo de 3 anos.

As políticas públicas devem ser construídas a partir da


participação direta ou indireta da sociedade civil, para
assegurar um direito a determinado serviço, ação ou
programa. Dessa maneira, é importante que possamos
acompanhar novas políticas, ações e/ou programas que
são implementados a cada governo instituído.

Para saber quais ações e/ou programas na


área da saúde da mulher estão em vigor,
recomendamos que verifique no site do
Ministério da Saúde, na Secretaria de Atenção
Primária à Saúde. Para isso, clique aqui ou
escaneie o QR Code.

O ideal é que as políticas sejam monitoradas e avaliadas, para ver se


funcionam. E se apresentarem bom desempenho, que continuem e
sejam aprimoradas, independentemente da troca dos governos.

14
CARACTERÍSTICAS
SOCIODEMOGRÁFICAS
E A SITUAÇÃO DE
SAÚDE DA MULHER NO
BRASIL
Segundo a Pesquisa Nacional
de Saúde (PNS 2019), qual o
percentual da população com
acesso à saúde?

60,9%
das pessoas eram

69,9%
pretas ou pardas;

das pessoas com 18 anos


ou mais que utilizaram 65,0%
algum serviço da Atenção tinham cônjuges; e
Primária à Saúde eram
mulheres;
35,8%
tinham 40 a 59 anos
de idade.

Esses dados podem estar relacionados com aspectos culturais e


estruturais de uma sociedade em que as mulheres ainda são as
principais responsáveis pelos cuidados da família e pelos cuidados da
própria saúde, incluindo a saúde reprodutiva, o que pode levar a um
nível maior de cadastramento e utilização por elas dos serviços das
Unidades de Saúde.

Em relação à ocupação e às atividades econômicas, historicamente, o


nível de ocupação das mulheres é substancialmente inferior ao dos
homens. Enquanto o nível de ocupação dos homens foi de 61,4%, o das
mulheres foi de 41,2%, em 2020. É preciso ter atenção, pois muitas
mulheres trabalham em casa, realizando o trabalho doméstico de
forma não remunerada, e essa situação não é considerada como
ocupação.
16
Pense sobre isso:
As mulheres que fazem o
trabalho doméstico não
remunerado, chamadas
donas de casa, inclusive
cuidando das crianças,
pessoas idosas ou
pessoas com
necessidades especiais no
domicílio - como esse
trabalho é percebido na
sociedade? Você acha
que esse tipo de trabalho
é valorizado?

17
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

A violência contra a mulher pode ser definida como


“qualquer ato ou conduta baseada no gênero que cause
morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à
mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada
(BRASIL, 2016)”.

No Brasil e no mundo, a violência que vitima as mulheres se


constitui em sério problema de saúde pública, por ser uma
das principais causas de morbidade e mortalidade
feminina. Todo e qualquer ato de violência contra a mulher
configura-se como violação de seus direitos, sendo
necessário esforço da sociedade para garantir a sua
prevenção e seu efetivo enfrentamento.

Na disciplina “Abordagem familiar no


território da APS” foram conceituados os
tipos de violência, bem como a notificação e
as abordagens do ACS. Estude novamente
sobre essa temática!

18
A violência doméstica e sexual atinge prioritariamente a população
feminina.

A violência sexual é qualquer forma de atividade sexual não


consentida, inclusive sem contato físico, como assédio verbal,
exposição, constrangimento e divulgação de material pornográfico.
Existem vários tipos de violência sexual. Você sabe reconhecer?

O estupro marital acontece quando o agressor é o próprio marido ou


companheiro. Mesmo em uma relação estável, qualquer ato de cunho
sexual não consentido é considerado um estupro.

O estupro de vulnerável acontece quando a vítima tem menos de 14


anos ou quando, mesmo adulta, a vítima tem alguma enfermidade ou
deficiência. O estupro de vulnerável também ocorre quando a vítima,
por estar sob efeito de álcool ou de outra droga, não teve condições de
tomar decisão, de expressar sua vontade ou oferecer resistência física.

19
Lembre-se bem disto: em qualquer situação,
uma pessoa menor de 14 anos que fica grávida,
por se enquadrar na definição de estupro de
vulnerável, sempre tem direito ao aborto legal.

O ACS é o profissional que está mais próximo do cotidiano das pessoas,


portanto tem papel importante na identificação de situações de
violência. É recomendável sempre levar essas situações para discussão
com a equipe de saúde e nunca tentar resolver sozinho. Justamente pelo
fato do ACS ser muito próximo da comunidade, é preciso cuidado para
não se colocar em risco.

Os profissionais da equipe precisam conhecer a rede intersetorial de seu


município para garantir o encaminhamento adequado para outros
serviços e unidades da rede: Núcleos de Apoio à Saúde da Família
(NASF), Ambulatórios Especializados, Policlínicas, Núcleos de Prevenção
das Violências e Promoção da Saúde, Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS), Hospitais, Centros de Referência de Assistência Social (CRAS),
Centros de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS),
Centro de Referência de Atenção à Saúde da Mulher em Situação de
Violência (CRAM), Casa da Mulher Brasileira, entre outros.

Em casos de violência sexual, existem cuidados de saúde que devem ser


tomados em até 72 horas após a exposição, com intuito de prevenir
algumas infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e a gravidez
resultante do estupro. Existe a anticoncepção de emergência, conhecida
como “pílula do dia seguinte”, que pode ser utilizada para evitar a
gravidez, e existem as medicações para prevenção e tratamento das
ISTs, que são as profilaxias pós-exposição (PEP).

20
Esses tratamentos estão disponíveis em Unidades de
Saúde ou nos serviços de atendimento de emergência
à violência sexual.

Oriente que a mulher vítima de violência


sexual procure o atendimento o mais
rápido possível, preferencialmente, nas
primeiras 24 horas.

Para que as medicações tenham efeito adequado, é necessário que o


atendimento seja realizado em até 72 horas (3 dias) da ocorrência. É
muito importante que você saiba e informe a mulher a este respeito:
não é necessário ter um boletim de ocorrência (B.O) para receber esse
atendimento. A denúncia policial pode ser feita se a mulher assim
desejar, mas a mulher não pode ter seu atendimento de saúde negado
se não tiver o B.O, sob hipótese alguma.

Quando acontece a gravidez em decorrência da violência sexual, é


direito da mulher interromper a gravidez, se essa for a sua decisão. A
violência sexual é uma das três situações em que o aborto é permitido
por lei no Brasil. Nesse caso, oriente a mulher a buscar um serviço de
referência para o aborto legal na sua região.

Clique aqui ou escaneie o QR


Code e assista ao vídeo
“Aborto legal e cuidado à
pessoa em situação de
violência sexual”.

21
PRINCIPAIS CAUSAS DE MORTE

As principais causas de morte da população feminina brasileira


são as doenças cardiovasculares, destacando-se o Acidente
Vascular Cerebral (AVC) e o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM); as
neoplasias, principalmente o câncer de pulmão, de mama e de
colo do útero; as doenças do aparelho respiratório, marcadamente
as pneumonias; as doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas,
principalmente o diabetes; e as causas externas. Um dos exemplos
de morte por causa externa é o feminicídio, que pode ser
compreendido como sendo o assassinato de mulheres efetuados
por razões da condição de sexo feminino, ou seja, quando a mulher
é morta por sua condição feminina.

Você sabia?
Durante a pandemia da covid-19, houve um aumento do número de
feminicídios no Brasil. De acordo com os dados do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública - que tem como fonte os boletins de ocorrência das
Polícias Civis das 27 Unidades da Federação - de março de 2020
(quando a OMS declarou pandemia da covid-19) até dezembro 2021,
cerca de 2.451 mulheres foram vítimas de feminicídio no período (FBSP,
2021).

22
Acesse os dados
sobre a Violência
contra Mulheres
em 2021. Clique aqui
ou escaneie o QR
Code.

MORTALIDADE MATERNA

Um dos indicadores para avaliar as condições de saúde de uma


população é a mortalidade materna. Razões de Mortalidade
Materna (RMM) elevadas são indicativas de baixas condições
socioeconômicas, baixo grau de escolaridade, presença de
violência nas dinâmicas familiares e, sobretudo, dificuldades de
acesso a serviços de saúde e a serviço de boa qualidade.

A saúde da mulher é uma prioridade no mundo, e uma das


metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é
reduzir a razão de mortalidade materna global para menos de 70
mortes maternas por 100 mil nascidos vivos até 2030. Os casos
de mortalidade materna no Brasil em 2020 foram de 1.965 óbitos
maternos, conforme Figura 1.

Figura 1 - Número de óbitos maternos no Brasil de 2010 a 2020

Fonte: BRASIL, 2022

23
A média de mortes de gestantes e puérperas pela covid-19
mais que dobrou em 2021 quando comparadas a 2020. Em
todo o ano de 2020, a média semanal de óbitos de gestantes
e puérperas foi de 10,6. Enquanto em 2021, até julho, a média
semanal foi 44,3 óbitos.

Além dos óbitos causados diretamente pela infecção da


covid-19, ainda deve-se considerar os desfechos
desfavoráveis da gestação por consequência indireta do
vírus, que diz respeito a não realização das consultas de
pré-natal e a não realização de exames durante a pandemia,
já que muitas gestantes afirmaram muita preocupação para
sair de casa e monitorar a gestação (MICHELS, ISER, 2022).

A Figura 2 demonstra que a mortalidade materna é mais alta na faixa


etária dos 30 aos 34 anos e entre as mulheres pardas.

Figura 2 - Óbito materno obstétrico no Brasil, segundo idade e raça/cor

Fonte: BRASIL, 2022.


24
As mulheres morrem como resultado de complicações que ocorrem
durante ou depois da gestação e do parto. A maioria dessas
complicações se desenvolve durante a gravidez e pode ser evitada e
tratada. Portanto, a maioria das mortes maternas é evitável, ou seja,
são mortes que poderiam ser prevenidas por cuidados de saúde
adequados ou condições sociais mais favoráveis.

Alguns problemas de saúde podem acontecer antes da gestação,


mas são agravados durante o período gestacional, especialmente,
se não forem tratados como parte do cuidado da mulher.

As principais complicações que representam quase 75% de todas as


mortes maternas, são:
• Hipertensão na gravidez (pré-eclâmpsia e eclâmpsia);
• Hemorragias graves (principalmente após o parto);
• Infecções (normalmente depois do parto);
• Complicações no parto;
• Abortos inseguros.

Entendi! Então a maioria das


mortes maternas podem ser
evitadas se a mulher tiver acesso a
um pré-natal de qualidade, se fizer
todas as consultas e os exames
preconizados.

25
Por isso, é importante a identificação precoce das mulheres grávidas
no território e o acompanhamento delas ao longo do pré-natal!
Também é fundamental que elas tenham condições de vida
minimamente favoráveis, como saneamento básico, acesso a uma
alimentação adequada, um ambiente livre de violência, entre outras
questões. Assim sendo, a equipe de saúde precisa ter um olhar do
todo, e o(a) ACS contribui essencialmente para que isso aconteça.

Nos últimos anos, o Brasil reduziu seus índices de gravidez na


adolescência, mas ainda assim continua acima da média mundial.
Em 2021, foram mais de 19 mil nascimentos de mães com idade
entre 10 e 14 anos de idade. Este é um problema que precisamos
enfrentar como sociedade, garantindo às adolescentes o acesso à
informação e à educação para a sexualidade; o acesso facilitado
aos serviços de saúde e a eliminação da violência sexual. As
consequências da gravidez na adolescência incluem o abandono
escolar, a dificuldade de encontrar trabalho e os problemas
econômicos e sociais. É claro que se uma adolescente deseja
engravidar, esse desejo deve ser respeitado, e ela deve ser apoiada.
Mas é importante que ela tenha toda informação necessária para
fazer sua escolha de forma responsável. Nesse sentido, é muito
importante que os(as) ACS prestem orientações para as
adolescentes sobre formas de evitar uma gestação indesejável, nos
domicílios, por meio da VD e também nas Escolas nos Programas
Saúde na Escola.

Se você tem interesse


neste assunto, leia a
matéria do UNFPA Brasil.
Clique aqui ou escaneie o
QR Code.

26
AÇÕES ESPECÍFICAS
EM SAÚDE DA MULHER
E O PAPEL DO AGENTE
COMUNITÁRIO DE
SAÚDE
As mulheres são a maioria da
população brasileira e as
principais usuárias do Sistema
Único de Saúde.
Os motivos para as mulheres utilizarem os serviços de saúde são vários,
tanto para o seu próprio atendimento, quanto para acompanharem
crianças, familiares, pessoas idosas, com deficiência, vizinhos e amigos.
Outra característica marcante nas mulheres é que elas são também
cuidadoras, e isso se estende não só às crianças ou familiares, mas,
também, às pessoas da vizinhança e da comunidade.

A Atenção Primária à Saúde (APS) é, sem dúvidas, a porta de entrada da


mulher no Sistema Único de Saúde, portanto a equipe de saúde deve
estar preparada para acolher essa mulher com uma proposta
inovadora, multiprofissional e humanizada, com o objetivo de promover
resolutividade às ações e criar vínculos.

12
28
Preste atenção na Figura 3. O esquema nela representado ajuda a
compreender melhor a atuação da APS na Atenção à Saúde da Mulher.

Figura 3 - Papel da Atenção Primária à Saúde da Mulher

Fonte: GUSSO; LOPES, 2012

Diversas estratégias podem ser utilizadas pelos Agentes Comunitários


de Saúde para captar as mulheres do seu território. Primeiramente,
o(a) ACS precisa conhecer as mulheres do seu território e acolher as
necessidades dessa população.

O acolhimento se caracteriza como um modo de agir que dá atenção


a todos que procuram os serviços, não só ouvindo suas necessidades,
mas percebendo aquilo que muitas vezes não é dito. O(A)ACS tem um
papel importante no acolhimento, pois é membro da equipe que faz
parte da comunidade, o que ajuda a criar confiança e vínculo,
facilitando o contato direto com a equipe.

29
Facilitar o acesso à consulta, agendar nos horários preferenciais e
realizar visita domiciliar com a equipe de saúde, nos casos necessários,
são ações que podem ajudar na captação desse público e no
fortalecimento de vínculo com a equipe de saúde. As ações para
captação podem ser realizadas durante as visitas domiciliares, na
formação de grupos específicos (grupo de idosos, grupo de gestantes,
grupo de adolescentes, etc) ou na realização de práticas educativas.

Na assistência à saúde, além do reconhecimento do cuidado de toda a


equipe de saúde, as práticas educativas têm alto valor e são entendidas
como estratégia para aumentar a capacidade crítica e a autonomia das
mulheres.

Nesse sentido, é pertinente para todos os membros da equipe de Saúde


da Família discutirem e trabalharem a temática Saúde da Mulher.

Didaticamente, dividimos o ciclo de vida da mulher em fases ou áreas


temáticas estratégicas que serão abordadas com mais detalhes.

30
CICLO DE VIDA DAS MULHERES

Na infância, nosso corpo ainda não está totalmente formado. Durante


a puberdade, quando a menina está se tornando uma moça, ela está
passando da infância para a fase adulta. Esse período se caracteriza
por:
• diminuição no crescimento dos ossos;
• surgimento dos seios (peitos);
• surgimento de pelos no ventre e nas axilas;
• chegada da menstruação (chamada de menarca) e início da
ovulação;
• aumento do desejo sexual e
• mudanças emocionais.
A menstruação começa na metade da puberdade, geralmente entre
11 e 12 anos, mas a idade em que a menina menstrua pela primeira
vez varia, podendo variar dos 10 até os 18 anos. A menstruação
continua até os 49 ou 50 anos, podendo estender-se até os 55 anos
de idade.

O ciclo menstrual varia de 20 a 36 dias, sendo que a maioria das


mulheres tem um ciclo de mais ou menos 28 dias. O sangramento
menstrual geralmente dura de 4 a 6 dias, podendo variar de 2 a 8
dias.

Você já ouviu falar


em precariedade
menstrual?

É quando a pessoa que menstrua não tem acesso aos produtos


básicos para manter a sua higiene no período menstrual. Isso inclui
os absorventes, mas também outros elementos essenciais, como
saneamento, água e acesso a banheiro adequado, seja em casa, na
escola ou no local de trabalho.

31
O(A) ACS deve orientar as famílias que têm meninas, perto da
puberdade, para a chegada da menstruação. Explicar que é
algo normal na vida das mulheres, que não é doença, nem
algo que traga vergonha. Estimule a conversa sobre esse
assunto. Fale da importância da higiene pessoal nesse
período. A jovem deve ser encorajada a aprender a usar
absorventes durante o período menstrual, realizar sua higiene
e registrar informações sobre seu ciclo. As adolescentes
devem ser estimuladas a se responsabilizar pelo seu
autocuidado.

Mais tarde, na maturidade, a mulher passa pelo período do climatério


quando a menstruação e a ovulação terminam. O climatério é o
período de transição da fase reprodutiva para a não reprodutiva. A
menopausa é um marco dessa fase e não é doença. É uma situação
normal na vida da mulher, que se caracteriza pelo término da
menstruação. A menopausa só é reconhecida depois de passados 12
meses da ocorrência da última menstruação, que acontece,
geralmente, por volta dos 50 anos de idade. Isso porque, quando
chega perto da menopausa, a menstruação costuma ficar irregular,
ora mais espaçada, ora menos, até parar de vez.

IMPORTANTE:
O(A) ACS deve investigar e orientar as mulheres
sobre alguns incômodos passageiros ou mais
fortes que podem aparecer nessa fase da vida,
tais como ondas de calor (calorões), pele seca
e mudanças no estado de humor (ansiedade,
tristeza, irritabilidade). A maior parte das
manifestações pode e deve ser manejada com
hábitos de vida saudáveis, medidas
comportamentais e autocuidado. Encaminhe
para avaliação da equipe de saúde para uma
avaliação mais detalhada.

32
PRÉ-NATAL

A realização do pré-natal é fundamental na prevenção e na detecção


precoce de problemas tanto maternos como fetais, permitindo um
desenvolvimento saudável do bebê e reduzindo os riscos da gestante.
A não-realização do pré-natal pode causar gestações prematuras,
retardo do crescimento intrauterino, baixo peso ao nascer e mortes
maternas e infantis por variados problemas que podem acontecer no
período da gravidez e logo após o parto.

Portanto, o pré-natal é o primeiro passo para cuidar da saúde da


gestante e do bebê. A mulher deve receber o cartão ou a caderneta
da gestante ao iniciar o acompanhamento do pré-natal. Esse cartão é
um documento que acompanha toda essa importante fase na vida da
mulher e da família e serve como apoio e referência aos serviços de
saúde e diferentes profissionais que atenderão a gestante, inclusive na
maternidade.

Quanto mais cedo o pré-natal se iniciar, mais precocemente serão


identificadas as situações de risco materno-infantil, permitindo realizar
intervenções necessárias, assegurando uma gestação saudável.
Recomenda-se que a mulher faça no mínimo 6 consultas durante o
pré-natal, além de 1 consulta odontológica e 1 consulta de puerpério
(após o parto) até 42 dias.

Lembre-se de que um dos indicadores do Previne Brasil é a proporção


de gestantes com pelo menos 6 (seis) consultas pré-natal realizadas,
sendo a primeira até a 12ª semana de gestação.

33
Bia, você acompanha muitas gestantes no seu
território? Eu estou preocupada com o
acompanhamento das consultas de pré-natal das
gestantes do meu território, pois não sei o que fazer
para elas alcançarem o número de consultas de
pré-natal preconizadas.

Gerusa, eu acompanho 5 gestantes, e, hoje, em


reunião com a minha equipe de saúde, a
enfermeira Cristina fez um planejamento de
visitas domiciliares, levando em consideração a
vulnerabilidade clínica e social das minhas
gestantes. A partir de agora irei fazer as visitas
domiciliares da seguinte forma:

• Para mulheres com gestação de risco habitual (também


chamada de baixo risco), irei realizar uma visita mensal até a 36ª
semana de gravidez;
• Para gestantes em situação de vulnerabilidade pessoal e risco
social, irei realizar uma visita quinzenal até a 36ª semana de
gravidez;
• E para gestantes encaminhadas ao Pré-Natal de Alto Risco
(PNAR), irei fazer uma visita quinzenal até a 36ª semana de
gravidez.

Converse com a sua equipe sobre essa estratégia de visitas


domiciliares mais regulares e periódicas. Acreditamos que dessa
forma, iremos conseguir alcançar o número de consultas
preconizadas e atingir as metas dos indicadores do Previne
Brasil.

Quais os principais exames a serem


realizados durante o pré-natal? Quais são
os principais cuidados com a gestante?
Consulte o material complementar.
Clique aqui ou escaneie o QR Code.

34
CÂNCER DE COLO UTERINO

Apesar de ser prevenível, o câncer do colo do útero é um dos tipos


mais frequentes de câncer nas mulheres brasileiras, causando muitas
mortes. É causado por uma infecção persistente por alguns tipos de
Papiloma Vírus Humano, conhecido como HPV. Geralmente, é uma
doença de desenvolvimento lento que, na fase inicial, pode não
apresentar sintomas, mas depois pode evoluir para quadros de
sangramento, secreção vaginal anormal, até dor no baixo ventre
associada com queixas urinárias ou intestinais nos casos mais
avançados. A introdução da vacina contra o HPV no calendário do SUS
foi um passo importante para o controle da doença no país, em
conjunto com a continuidade do rastreamento.

Mas o que significa esse rastreamento?


Rastreamento é a realização de testes ou exames em
populações ou pessoas sem sintomas, com a finalidade de
fazer o diagnóstico precoce. Esse procedimento viabiliza a
identificação de indivíduos que têm a doença, mas que ainda
não apresentam sintomas. Isso faz com que a pessoa possa
receber o tratamento antes da doença se manifestar,
aumentando as chances de cura.

O rastreamento de lesões precursoras é realizado por meio do exame


preventivo do câncer de colo uterino, também conhecido como exame
citopatológico de colo uterino ou Papanicolau. O exame é realizado
nas unidades de saúde e por meio dele pode-se identificar o câncer
de colo do útero antes de seu desenvolvimento, o que chamamos de
lesões precursoras.

35
O acesso ao diagnóstico precoce permite o acompanhamento da
doença e o tratamento efetivo das mulheres, de forma que as lesões
sejam passíveis de serem tratadas antes que evoluam para o câncer.

Lembre-se de que a cobertura de exame


citopatológico em mulheres na faixa etária de 25 a
64 anos é um dos indicadores do Programa Previne
Brasil, como abordado anteriormente.

População-alvo e periodicidade do exame


A mobilização e o seguimento das mulheres no território devem iniciar
pela captação da população-alvo. O alvo principal de campanhas
para o controle do câncer do colo do útero deve ser as mulheres que já
tiveram atividade sexual, principalmente, aquelas entre 25 e 64 anos e,
especialmente, as que nunca tenham feito o exame preventivo. As
mulheres grávidas podem fazer tranquilamente o preventivo sem
prejuízo para si ou para o bebê.

12
36
Inicialmente, o exame deve ser feito uma vez por ano. Se em dois anos
seguidos, o exame apresentar resultado normal, poderá ser repetido a
cada três anos. A eficiência do rastreamento também depende do
seguimento adequado do tratamento das mulheres que apresentam
resultado alterado do exame.

Figura 4 - Mobilização e seguimento das mulheres no território

Fonte: MS; Falando Sobre Câncer do Colo do Útero, 2022.

37
Para realização do exame, são necessários
alguns cuidados:

• Não ter relações sexuais com penetração vaginal, nem mesmo


com camisinha, 48 horas antes do exame;
• Não usar duchas ou medicamentos vaginais e anticoncepcionais
vaginais nas 48 horas antes do exame;
• Não deve ser feito quando estiver menstruada, pois a presença de
sangue pode alterar o resultado do exame.

Espera-se que as equipes se empenhem na busca


ativa às mulheres que se encaixem na faixa etária
preconizada e no acompanhamento dos seus
exames.

O papel do(a) ACS na prevenção do câncer de colo uterino


• Realizar o acompanhamento de cada mulher dentro da faixa
etária, verificando rotineiramente com que frequência é realizado
esse acompanhamento.
• Orientar a mulher na faixa etária específica sobre a importância
da realização da coleta do exame citopatológico na Unidade
Básica de Saúde a cada 3 anos, mesmo que o resultado anterior
do exame tenha sido normal.
• Realizar busca ativa no território para rastreamento de mulheres
na faixa etária dos 25 aos 64 anos de idade, especialmente, as
que nunca fizeram o exame preventivo, para detecção precoce do
câncer do colo do útero.
• Realizar a integração entre a equipe de saúde e a população
adscrita, desenvolvendo ações educativas, principalmente, com
respeito ao controle do câncer do colo do útero.

38
• Conhecer a importância da realização da coleta do exame
preventivo para detecção precoce do câncer do colo uterino.
• Realizar o acompanhamento das mulheres que tenham
resultados do exame preventivo alterado, amostras
insatisfatórias e sem anormalidades para o acompanhamento
periódico.
• Incentivar a vacinação de crianças/adolescentes a partir de 9
anos até 14 anos para realizarem 2 doses da vacina contra o
HPV.

CÂNCER DE MAMA

O câncer de mama é uma doença resultante da multiplicação de


células anormais da mama, que forma um tumor com potencial de
invadir outros órgãos. Há vários tipos de câncer de mama. Alguns
se desenvolvem rapidamente, e outros mais lentamente. A maioria
dos casos tem boa resposta ao tratamento, principalmente,
quando diagnosticados e tratados logo no início (INCA, 2022).

O câncer de mama é o que mais acomete mulheres em todo o


mundo. No Brasil, é o segundo tipo mais frequente na população
feminina.

Fatores de Risco para o Câncer de Mama

São considerados fatores de risco para câncer de mama:

Comportamentais e ambientais:
● Obesidade e sobrepeso após a
menopausa.
● Sedentarismo (não fazer exercícios).
● Consumo de bebida alcoólica.
● Exposição frequente a radiações ionizantes
(raios X, mamografia e tomografia).

39
História reprodutiva/hormonal:

● Primeira menstruação (menarca) antes dos 12


anos.
● Não ter tido filhos.
● Primeira gravidez após os 30 anos.
● Parar de menstruar (menopausa) após os 55
anos.
● Ter feito uso de contraceptivos orais (pílula
anticoncepcional) por tempo prolongado.
● Ter feito reposição hormonal pós-menopausa,
principalmente, se por mais de cinco anos.

Hereditários e genéticos:

● História familiar de:


» Câncer de ovário.
» Câncer de mama em homens.
» Câncer de mama em mãe, irmã ou filha,
principalmente antes dos 50 anos.

A presença de um ou mais desses fatores de risco não


significa que a mulher terá, necessariamente, a doença. Só
indica que existe um risco maior em comparação com
mulheres que não têm esses fatores de risco.

40
Sinais e Sintomas do Câncer de Mama
● Caroço (nódulo) endurecido, fixo e geralmente indolor. É a
principal manifestação da doença, estando presente em mais
de 90% dos casos.
● Alterações no bico do peito (mamilo).
● Pequenos nódulos na região embaixo dos braços (axilas) ou no
pescoço.
● Saída espontânea de líquido de um dos mamilos.
● Pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de
laranja.

ATENÇÃO:
Essas alterações
precisam ser
investigadas o
quanto antes, mas
podem não ser
câncer de mama.

41
Rastreamento do Câncer de Mama
No Brasil, a estratégia preconizada para o
rastreamento de câncer de mama é a
mamografia a cada dois anos para
mulheres entre 50 e 69 anos.

O autoexame das mamas, que foi muito


estimulado no passado, não provou ser
benéfico para a detecção precoce de
tumores e por trazer falsa segurança,
dúvida e excesso de exames invasivos.

O autoexame das mamas não deve ser orientado para o


reconhecimento de lesões, embora possa ser recomendado
para que a mulher tenha conhecimento de seu próprio corpo,
devendo o(a) profissional de saúde valorizar as queixas e
percepções da paciente.

Quais as estratégias que sua


unidade de saúde ou município
promovem para a prevenção do
câncer de mama?
Cabe destacar a necessidade de facilitar
ao máximo o acesso de mulheres dentro
da faixa etária preconizada para as ações
de rastreamento aos serviços de saúde.

42
É importante que as equipes de saúde possam planejar seus
processos de trabalho e adotar estratégias para flexibilizar a agenda
das equipes para as ações de rastreamento, a realização de busca
ativa nos domicílios e espaços comunitários, e a solicitação de
mamografia de rastreamento por parte de médicos(as) e
enfermeiros(as).

Tais ações devem priorizar as mulheres dentro da faixa etária


recomendada que apresentem maiores vulnerabilidades e
singularidades, como mulheres com deficiência, lésbicas, bissexuais,
transexuais, mulheres negras, indígenas, ciganas, mulheres do campo,
floresta e águas, em situação de rua, profissionais do sexo e mulheres
privadas de liberdade.

O papel do ACS na prevenção do câncer de mama


• Realização de busca ativa de mulheres na faixa etária de 50 a 69
anos, nos domicílios e em espaços comunitários do território, para
o rastreamento (usar listas ou planilhas para controle e
acompanhamento).
• Acolhimento com escuta qualificada, dando atenção às queixas
de alterações relatadas pelas mulheres do território, visando a
detecção precoce e encaminhando para avaliação da equipe de
saúde.
• Orientações individuais e coletivas para mulheres sobre detecção
precoce do câncer de mama, possíveis alterações nas mamas,
principais sinais e sintomas do câncer de mama, sobre o objetivo
e a importância do rastreamento para câncer de mama.
• Orientações individuais e coletivas para mulheres sobre fatores de
risco modificáveis para o câncer de mama, ou seja, estimular a
manutenção do peso das pacientes em uma faixa saudável e a
prática de atividades físicas e aconselhar a redução do consumo
de álcool. Além de incentivar a amamentação que também é
considerada um fator protetor para o câncer de mama.

43
• Monitoramento dos casos encaminhados para confirmação
diagnóstica e tratamento.
• Identificação das mulheres com resultados positivos à
investigação para vigilância do caso, acompanhamento segundo
recomendação e convocação quando necessário.

PLANEJAMENTO REPRODUTIVO

O planejamento reprodutivo, antes chamado de planejamento


familiar, no Brasil, é regulamentado pela lei nº 9.263 de 12 de janeiro
de 1996, que aborda sobre o respeito aos direitos sexuais e aos
direitos reprodutivos.

Os direitos sexuais e reprodutivos são reconhecidos em leis


nacionais e documentos internacionais e representam uma
conquista histórica, fruto da luta pela cidadania e pelos Direitos
Humanos.

44
DIREITOS REPRODUTIVOS DIREITOS SEXUAIS

• O direito de viver e expressar livremente


a sexualidade sem violência,
discriminações e imposições e com total
respeito pelo corpo do(a) parceiro(a).
• O direito de escolher o(a) parceiro(a)
sexual.
• O direito de viver plenamente a
sexualidade sem medo, vergonha, culpa e
falsas crenças.
• O direito das pessoas decidirem, de
• O direito de viver a sexualidade,
forma livre e responsável, se querem ou
independentemente de estado civil, idade
não ter filhos; quantos filhos desejam ter e
ou condição física.
em que momento de suas vidas desejam
• O direito de escolher se quer ou não quer
tê-los.
ter relação sexual.
• O direito de acesso a informações, meios,
• O direito de expressar livremente sua
métodos e técnicas para ter ou não ter
orientação sexual: heterossexualidade,
filhos.
homossexualidade, bissexualidade.
• O direito de exercer a sexualidade e a
• O direito de ter relação sexual,
reprodução livre de discriminação,
independentemente da reprodução.
imposição ou violência.
• O direito ao sexo seguro para prevenção
da gravidez e de infecções sexualmente
transmissíveis (ISTs) e Aids.
• O direito a serviços de saúde que
garantam privacidade, sigilo e um
atendimento de qualidade, sem
discriminação.
• O direito à informação e à educação
sexual e reprodutiva.

Portanto, o planejamento reprodutivo consiste em refletir sobre o desejo


de ter ou não ter filhos, decidir e escolher a forma de programar uma
gravidez. Pode ser feito pelo homem, pela mulher, mas
preferencialmente pelo casal, independentemente de terem ou não
uma união estável ou de constituírem uma família convencional.
Famílias que não são constituídas por um casal homem-mulher
também podem ter filhos, usando recursos de fertilização ou adoção.

45
É importante que a mulher possa falar sobre a sua sexualidade.
Junto com outras mulheres, ela pode tirar dúvidas sobre a
forma correta de usar os métodos, falar sobre suas
experiências e incertezas. Isso você, ACS, pode promover,
estimulando na comunidade uma roda de conversa com as
mulheres! Falar sobre a sexualidade ajuda a mulher a se
conhecer e a identificar e prevenir situações de violência
sexual.

Existe uma variedade de métodos anticoncepcionais, como a pílula, a


camisinha, o DIU (dispositivo intrauterino), a tabelinha, entre outros, e vários
tipos são disponibilizados pelo SUS (Figura 5).
Figura 5 - Métodos anticoncepcionais disponíveis no SUS

Métodos de Barreira Dispositivo Intrauterino (DIU) Métodos hormonais Métodos comportamentais Esterilização

Camisinha feminina Tabelinha Vasectomia


Modelos de DIU Anticoncepcional Oral

Camisinha Masculina  DIU inserido no útero Temperatura basal Laqueadura de trompas


Anticoncepcional
Injetável
 
   
 
 
Diafragma  
 

Muco cervical

 
Gel/geléia espermaticidas

Fontes: MS; Saúde Sexual e Reprodutiva, 2010


UFPR – Jandaia do Sul; Métodos Contraceptivos, Disponível em
https://jandaiadosul.ufpr.br/metodos-contraceptivos/. Acesso em 240323.

46
Vamos apresentar os tipos de métodos anticoncepcionais, cada um
com suas vantagens e desvantagens, conforme o Quadro 1 a seguir:

Quadro 1 - Métodos anticoncepcionais: vantagens e desvantagens

MÉTODO COMO FUNCIONA VANTAGENS DESVANTAGENS

São feitos com 1. Se usado corretamente, é


1. Não tem proteção para as
substâncias seguro para evitar a
Infecções Sexualmente
químicas gravidez.
Transmissíveis (IST).
semelhantes aos 2. Regulariza o ciclo
2. Nem todas as mulheres
hormônios do corpo menstrual.
Métodos podem usar.
da mulher. 3. Alivia as cólicas
Hormonais 3. Deve ser indicado por
Exemplo: menstruais.
profissional de saúde
anticoncepcionais 4. Existem várias opções de
habilitado (médico(a) ou
injetáveis, pílulas, injetáveis (mensal
enfermeiro(a)).
anticoncepcionais e trimestral) e adesivos.
 
orais e adesivos.

1. Método prático para


evitar a gravidez, também
na fase da adolescência.
2. O SUS oferece a
1. Nem todas as mulheres
colocação do DIU de
Introduzido, pela podem usar.
cobre na maternidade,
vagina, no útero da 2. Pode provocar aumento do
imediatamente após o
mulher. sangramento menstrual.
parto ou após um
Tem a versão 3. Só pode ser inserido por
Dispositivo abortamento.
medicada, hormonal profissional de saúde
Intrauterino 3. O DIU de cobre é um
e a não-medicada, habilitado (médico(a) ou
(DIU) método seguro e muito
de cobre. enfermeiro(a)).
eficaz. Ele pode ser usado
  4. Não tem proteção para as
por até dez anos,
  Infecções Sexualmente
podendo ser retirado
  Transmissíveis (IST);
quando desejar.
 
4. O DIU de cobre não tem
hormônios e não interfere
na amamentação.
 

47
COMO
MÉTODO VANTAGENS DESVANTAGENS
FUNCIONA
1. Não tem
contraindicação e
não faz mal à
saúde.
Impedem que o
2. Baixo custo.
espermatozoide
3. Quando utilizados
consiga chegar até
corretamente,
o óvulo.
oferecem
Exemplo:
segurança para
preservativo ou 1. Seu uso requer disciplina
evitar gravidez.
camisinha por parte do casal.
4. Tanto a
Métodos de masculina e 2. Muitos casais se
camisinha
barreira feminina, queixam de perda da
masculina quanto
diafragma, géis espontaneidade na
a feminina,
espermaticidas relação sexual.
quando usadas
(produto químico
corretamente,
que destrói os
oferecem
espermatozoides).
proteção contra
 
as Infecções
 
Sexualmente
Transmissíveis
(IST).
 
Para serem
1. Requer
utilizados,
autoconhecimento do
dependem da
corpo e muita atenção e
observação das
disciplina por parte do
mudanças que 1. Não tem
casal.
ocorrem no corpo contraindicação e
2. Baixa proteção para a
da mulher durante não faz mal à
gravidez; altos índices
vários meses (ciclo saúde.
Métodos de falha.
menstrual). 2. Proporciona a
comportamentais 3. Não tem proteção para
Exemplos: participação do
as Infecções
amamentação, homem para
Sexualmente
tabelinha, evitar a gravidez.
Transmissíveis (IST).
temperatura basal, 3. Nenhum custo.
4. Não é recomendado
muco cervical e
para mulheres com ciclo
coito interrompido.
menstrual irregular.
 
 

48
COMO
MÉTODO VANTAGENS DESVANTAGENS
FUNCIONA
1. É um direito garantido pelo SUS.
2. A vasectomia é uma cirurgia
mais simples e com menos
riscos do que a ligadura de
Esterilização é trompas.
um método 3. A nova lei em vigor (nº
cirúrgico e 14.433/2022) determina que
1. Não tem proteção
definitivo de homens e mulheres maiores de
para as Infecções
contracepção. 21 anos, OU que tenham, pelo
Sexualmente
No homem, a menos, dois filhos vivos podem
Transmissíveis (IST).
operação é a realizar a laqueadura ou a
2. A escolha desses
Esterilização vasectomia e, vasectomia, desde que
métodos definitivos
masculina e na mulher, é a observado o prazo mínimo de
deve ser uma
feminina ligadura tubária, 60 (sessenta) dias entre a
decisão
  chamada manifestação da vontade e o
amadurecida, pois é
também de ato cirúrgico.
um procedimento
laqueadura, 4. Pela nova lei em vigor (nº
cirúrgico e na
amarração ou 14.433/2022), a laqueadura
maioria das vezes
ligação de tubária realizada durante o
irreversível.
trompas. parto será garantida se
  observado o prazo mínimo de
  60 (sessenta) dias entre a
manifestação da vontade e o
parto bem como as devidas
condições médicas.
 

Anticoncepção ou contracepção de emergência


A “pílula do dia seguinte” ou “pílula pós-coital” consiste na utilização de
pílulas contendo compostos hormonais concentrados depois de uma
relação sexual desprotegida, para evitar gravidez. Pode ajudar a
prevenir os abortos provocados, na medida em que previne gestações
indesejadas, que decorram de relações sexuais sem proteção
anticoncepcional.

Deve ser usada como método de emergência e não de forma regular


substituindo outro método anticoncepcional. Portanto, não deve ser
usada de forma planejada, previamente programada, em substituição
ao método anticonceptivo de rotina.

49
As indicações da anticoncepção de emergência incluem as seguintes
situações:

• Relação sexual sem uso de anticoncepcional.


• Falha ou esquecimento do uso de algum método: ruptura do
preservativo, esquecimento de pílulas ou injetáveis, deslocamento do
DIU ou do diafragma.
• No caso de violência sexual, se a mulher não estiver usando nenhum
método anticoncepcional.

IMPORTANTE:

• Explique que a anticoncepção de emergência não protege contra


IST/HIV/Aids.
• Oriente a mulher para não usar a anticoncepção de emergência
como método regular de anticoncepção, porque é menos eficaz do
que a maioria dos métodos regulares de anticoncepção e os efeitos
secundários são mais frequentes do que para qualquer outro
método hormonal.
• Informe as mulheres do seu território quais métodos contraceptivos
estão disponíveis em sua UBS.

O papel do(a) ACS no planejamento reprodutivo

Uma das principais atribuições do(a)


ACS é o registro, a atualização e o
acompanhamento das ações
referentes ao planejamento
reprodutivo. O(A) ACS deverá atuar
na promoção do planejamento
reprodutivo, por meio das seguintes
ações:

50
● Promover ações educativas e orientações sobre os métodos de
contracepção disponíveis na unidade de saúde e/ou município.
● Orientar sobre as vantagens e desvantagens dos métodos de
contracepção.
● Durante as visitas domiciliares, perguntar para as mulheres
sobre o fluxo menstrual. Caso o fluxo menstrual esteja regular,
o(a) ACS deverá realizar os seguintes questionamentos:
- Qual o método anticoncepcional utilizado no momento? Caso a
mulher responda que não faz uso, é importante identificar o motivo
pelo qual ela não faz uso de nenhum método e orientá-la sobre as
vulnerabilidades. Investigar se a mulher não usa devido ter feito
laqueadura ou o companheiro ter feito vasectomia. Se a resposta de
não estar fazendo o uso de qualquer método contraceptivo não tiver
relação ao procedimento cirúrgico da laqueadura e/ou vasectomia,
o(a) ACS deverá identificar se a mulher está tendo ou teve algum
problema com o método anticoncepcional utilizado. Caso a
resposta seja positiva, identificar qual problema apresentado. É
importante identificar se não seria uma situação para atendimento
na unidade de saúde para que a mulher venha a receber as devidas
orientações/condutas.
- Caso a mulher use anticoncepcional oral ou injetável, identificar
como é feito o uso e em qual o horário. Saber também se ela
esquece de fazer uso do anticoncepcional nos dias e horários
estabelecidos; qual o dia utilizado no mês ou a cada 3 meses para a
administração do injetável. Caso seja necessário, encaminhar a
mulher para atendimento na unidade de saúde.

Reflita sobre o desenvolvimento do


planejamento reprodutivo em sua Unidade
de Saúde e/ou município. Pensando nisso,
trouxemos algumas reflexões sobre essa
temática:

51
REFLEXÃO:
A comunidade conhece as atividades de planejamento reprodutivo
desenvolvidas pela sua equipe de saúde? Como têm sido desenvolvidas
as atividades educativas relativas ao planejamento reprodutivo? Como
os (as) usuários (as) participam da escolha dos métodos
contraceptivos? Os métodos contraceptivos estão continuamente
disponíveis para os(as) usuários(as) de seu território e/ou município,
pelo SUS?

MULHERES COM DEFICIÊNCIA


E MOBILIDADE REDUZIDA

A atenção integral à saúde da mulher com deficiência e mobilidade


reduzida refere-se ao conjunto de ações de promoção, proteção,
assistência e recuperação da saúde, executadas em toda a Rede de
Atenção à Saúde. Nesta disciplina, daremos o enfoque para o cuidado
na Atenção Primária à Saúde.

Antes de iniciarmos a abordagem das mulheres com deficiência e


mobilidade reduzida, precisamos entender alguns conceitos
importantes.

Você sabe o conceito de deficiência e mobilidade reduzida?

52
Pessoas com deficiência “são aquelas que têm impedimentos de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação
com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva
na sociedade com as demais pessoas (BRASIL, 2009)”.

Pessoa com mobilidade reduzida é “aquela que, por qualquer motivo,


possua dificuldade de movimentação, permanente ou temporária,
gerando redução efetiva da mobilidade, da flexibilidade, da
coordenação motora ou da percepção, incluindo idoso, gestante,
lactante, pessoa com criança de colo e obeso (BRASIL, 2015)”.

No território onde estou atendendo, há duas


mulheres com deficiência e mobilidade reduzida.
Uma senhora de 60 anos que tem deficiência visual e
uma jovem de 35 que tem dificuldade de
movimentação permanente e que faz uso de
muletas. Durante as visitas domiciliares, sempre sinto
insegurança em como abordar e conduzir as
orientações para essas situações. Como eu poderia
ajudar essas mulheres?

As ações de cuidado e de promoção da saúde das


mulheres com deficiência e mobilidade reduzida
devem considerar a singularidade de cada uma e do
território, e ter como estratégia operacional as
práticas de cuidado pautadas na humanização e na
integralidade.

As práticas em saúde norteadas pelo princípio da


humanização reforçam o caráter da atenção à
saúde como direito, melhorando o grau de
informação das mulheres em relação ao seu corpo e
suas condições de saúde, ampliando sua
capacidade de fazer escolhas adequadas ao seu
contexto e momento de vida; promovendo o
acolhimento e a escuta qualificada das demandas
pelas equipes de saúde.

53
As práticas de saúde pautadas na integralidade compreendem o
atendimento à mulher com deficiência e mobilidade reduzida a
partir de uma percepção ampliada de seu contexto de vida, do
momento em que apresenta determinada demanda, assim como de
suas especificidades e de suas condições enquanto sujeito capaz e
responsável por suas escolhas.

As especificidades da mulher com deficiência devem ser


consideradas, pois existem diversos aspectos da vida e da saúde da
mulher que precisam e devem ser cuidados independentemente da
deficiência que ela apresente, como por exemplo a prevenção do
câncer de mama e colo uterino, cuidado no pré-natal, etc. Portanto,
ela deve ser acolhida e receber respostas às suas necessidades em
saúde quando recorre aos serviços de saúde do SUS, desde as
unidades básicas de saúde, até os serviços de reabilitação e os
hospitais.

Ah! Agora entendi que devo pautar minhas


ações considerando as especificidades da
mulher. Ou seja, devo sempre lembrar que
essas mulheres precisam de cuidados
independentemente das deficiências e/ou
da mobilidade reduzida.

Outro ponto importante é a articulação com todos os equipamentos


e serviços para a produção da saúde, assim como dispositivos
intersetoriais para garantia de acesso aos direitos dessa população.

54
REFLEXÃO!

Vamos refletir sobre a abordagem e o cuidado das


mulheres com deficiência e/ou mobilidade reduzida em
sua unidade de saúde e/ou município!
• As mulheres com deficiência e/ou mobilidade reduzida
sentem-se acolhidas quando chegam ao serviço de
saúde?
• O acolhimento é realizado de forma a considerar a
especificidade da deficiência, seja ela a surdez, a
cegueira, a física ou a intelectual?
• As mulheres são devidamente orientadas sobre o
caminho para chegar ao serviço e/ou ao atendimento,
sala de exames, laboratório, sala de vacina, etc? Elas são
acompanhadas por algum membro da equipe?

Papel do(a) ACS no cuidado e na abordagem das mulheres com


deficiência e mobilidade reduzida:

● Identificação e busca ativa de mulheres com deficiências e/ou


mobilidade reduzida no território.
● Organizar atividades, como por exemplo rodas de conversa,
para reconhecimento das necessidades específicas.
● Verificar se essas mulheres com deficiência e/ou mobilidade
reduzida estão realizando acompanhamento e consultas
ginecológicas, exames de rotina para prevenção de câncer de
colo de útero e câncer de mama, dentre outras ações
relacionadas à saúde da mulher.
● Promover discussões sobre acessibilidade nos espaços em que
a mulher com deficiência vive (escola, trabalho, unidade de
saúde), assim como, a interlocução com os demais
profissionais e serviços de modo intersetorial, a fim de garantir
uma melhor qualidade de vida.

55
● Priorizar as visitas domiciliares para mulheres com quadros graves
de imobilidade, agendando consulta no domicílio, seja de pré-natal
ou consulta puerperal precoce (até o 10º dia).
● Acompanhar as mulheres de seu território que estão em idade fértil,
orientando sobre os métodos contraceptivos e encaminhamento
para atendimento da equipe de saúde.
● Realizar orientações de promoção da saúde das mulheres com
deficiência e mobilidade reduzida, tais como:
-as mulheres idosas, as mulheres adultas, meninas e adolescentes com
deficiência devem ser estimuladas a praticar atividades físicas regulares
de acordo com a aptidão de cada uma. Exercícios físicos aeróbicos,
alongamentos, esportes podem promover diversos benefícios à saúde
física, psicológica e social. Convide-as para participar dos grupos
existentes em seu território;
-prevenção e controle do tabagismo. Identificação de ações e estratégias
para prevenir e/ou reduzir tabagismo, diminuindo dessa forma a
vulnerabilidade e acometimentos relacionados;
-promoção da alimentação saudável dentro do contexto, singularidade e
necessidade de cada mulher;
-prevenção e/ou redução do consumo abusivo de álcool e outras drogas.

Você sabia?
Em decorrência da deficiência, algumas mulheres
poderão ter dificuldades em sentir e identificar os
sintomas de algumas Infecções Sexualmente
Transmissíveis (ISTs), relatar dor, ardor, outros
desconfortos, ou de enxergar lesões e corrimentos.

56
Para isso, é importante que o ACS oriente os cuidadores/familiares para
que tenham a sensibilidade de perceber esses sinais e possam
comunicar aos profissionais de saúde, para identificação precoce de
possíveis infecções e indicação do tratamento adequado.

Bom, então tenho que realizar novas buscas


ativas no meu território a fim de identificar
mulheres com deficiência e/ou mobilidade
reduzida para fazer uma abordagem pautada
na humanização e na integralidade,
considerando as especificidades de cada uma.
Mãos à obra!

SAÚDE MENTAL NAS MULHERES

Na disciplina “Abordagem familiar no território da APS”, você já teve


oportunidade de estudar sobre a abordagem da saúde mental da
família. Reforçamos que este é um tema importante e que o(a) ACS tem
um papel fundamental na identificação de sofrimento psíquico dos
sujeitos do seu território, bem como pode ajudar a família que se
encontra em situação de sofrimento mental. Agora abordaremos,
especificamente, a saúde mental das mulheres, com enfoque na
abordagem dessa questão na APS.

O Relatório sobre a Saúde Mental no Mundo, realizado pela Organização


Mundial de Saúde (OMS), em 2001, aborda que as mulheres se
encontram numa condição de maior risco de desenvolver transtornos
mentais. Os múltiplos papéis desempenhados pela mulher na sociedade
contribuem para a elevada incidência de transtornos mentais e
comportamentais. Considerando que elas continuam com o peso da
responsabilidade que vem associado aos papéis de esposas, mães,
educadoras e cuidadoras, tornando-se ao mesmo tempo uma parte
cada vez mais essencial da mão-de-obra e, frequentemente,
constituindo-se na principal fonte de renda da família (WHO-OMS, 2002).

57
Com a pandemia da covid-19, as desigualdades sociais foram
agravadas, e a saúde mental das mulheres foi especialmente afetada.
Estudos encontraram aumento significativo de estresse, ansiedade,
depressão e estresse pós-traumático em mulheres, em relação aos
homens. As mulheres têm uma prevalência maior de fatores de risco
que foram intensificados durante a pandemia, incluindo sobrecarga
crônica, pela multiplicidade de responsabilidades que recai sobre elas, o
agravamento de transtornos depressivos e ansiosos prévios e a
violência doméstica.

Níveis de violência doméstica e taxas de feminicídio cresceram em


diversos países, incluindo o Brasil. Os números são provavelmente
subestimados (abaixo da realidade), pois muitas vítimas estão privadas
do contato com o mundo externo por medo de retaliação. Mulheres
vítimas de violência doméstica estão mais expostas aos agressores em
uma época de enorme estresse psicológico e econômico, tendo menor
acesso a locais seguros (ALMEIDA et al., 2020).

Trazendo essas informações sobre a saúde mental das mulheres,


reafirmamos que a APS tem como um de seus princípios possibilitar o
primeiro acesso das pessoas ao sistema de saúde, inclusive daquelas
que demandam um cuidado em saúde mental.

Neste ponto de atenção, as ações são desenvolvidas em um território


geograficamente conhecido, possibilitando aos ACS uma proximidade
para conhecer a história de vida das pessoas e de seus vínculos com a
comunidade/território onde moram, bem como com outros elementos
dos seus contextos de vida. Por essas características, é comum que os
ACS se encontrem a todo momento com mulheres em situação de
sofrimento psíquico.

58
Apesar de sua importância, a realização de práticas em saúde mental
na Atenção Primária traz muitas dúvidas, curiosidades e receios aos
profissionais de saúde.

No território em que atuo, há vários casos de


mulheres desempregadas devido à pandemia da
covid-19 e apresentando sinais e sintomas de
depressão e ansiedade. Algumas informações,
fico sabendo por vizinhos e fico surpresa e com
receio de abordar a mulher sobre a situação. Me
sinto insegura e não sei como agir.

Os(As) ACS realizam diariamente, por meio de intervenções e ações


próprias do processo de trabalho, atitudes que possibilitam suporte
emocional aos pacientes em situação de sofrimento. Uma dessas
intervenções é o famoso desabafo: o(a) ACS como um(a)
interlocutor(a) para a pessoa em sofrimento.

Não raramente, os(as) ACS oferecem atenção e tempo para a escuta,


o que permite um espaço de desabafo para o(a) paciente. A atitude
de desabafar e de escutar o desabafo é comum no dia a dia da
maioria dos(as) ACS durante o seu processo de trabalho, em especial
durante as visitas domiciliares. Por ser considerada uma prática do
senso comum e não uma técnica específica, a oferta para escutar
atentamente o desabafo pode parecer algo menor se comparado a
outras condutas técnicas. Contudo, a escuta é uma das ferramentas
mais importantes e potentes para o(a) profissional da APS.

Assim, o(a) ACS deve utilizar a escuta para que o(a) paciente possa
contar e ouvir o seu sofrimento de outra perspectiva, por intermédio de
um interlocutor que apresenta sua disponibilidade e atenção para
ouvir o que ele(a) tem a dizer.

59
A partir dessa aposta, entendemos
que o(a) usuário(a) encontrará
no(a) ACS uma pessoa interessada
por sua vida e em lhe ajudar,
tornando-se possível fortalecer
uma relação de vínculo.

Ações terapêuticas que podem ser desenvolvidas


pelo(a) ACS:
• Proporcionar à mulher um momento para pensar/refletir.
• Exercer boa comunicação.
• Exercitar a habilidade da empatia.
• Lembrar-se de escutar o que a mulher precisa dizer.
• Acolher a mulher e suas queixas emocionais como legítimas.
• Oferecer suporte na medida certa; uma medida que não torne a
mulher dependente e nem gere no(a) ACS uma sobrecarga.

É importante lembrar, também, que a atenção psicossocial pressupõe


o cuidado intersetorial e em rede. É importante que o(a) ACS esteja
atento(a) às necessidades da mulher para além do que o serviço de
saúde pode oferecer. O cuidado em rede, com compartilhamento de
casos com responsabilização entre os pontos de atenção, garante o
direito ao acesso às políticas públicas e tem resultados mais positivos
na melhora da qualidade de vida de usuárias atendidas no SUS. Saúde
mental é muito mais do que saúde, é a garantia de direitos, a
participação social, a vida comunitária, o acesso à educação, ao lazer
e à cultura.

60
Eu acompanho a dona Cláudia e acho que ela
pode estar com algum sofrimento psíquico. O
marido saiu de casa recentemente e desde
então ela vem se isolando dos vizinhos. Estou
até com dificuldades em realizar visita
domiciliar para a família dela, pois ela não
abre a porta. A vizinha me contou que a
Cláudia passa o dia em casa bebendo
cachaça e não se alimenta bem. A última vez
que consegui entrar no domicílio ela
realmente estava com sintomas de
embriaguez e com cheiro de cachaça.

O abuso de álcool é uma das situações mais comuns que


encontramos na Atenção Primária. É recomendável que o acolhimento
e a assistência aos usuários de álcool e outras drogas pela equipe da
Estratégia Saúde da Família (ESF) seja pautada em preceitos éticos
baseados na autonomia e no diálogo para facilitar o acesso desses
usuários à Unidade Básica de Saúde (UBS).

A abordagem ao alcoolismo na Atenção Primária tem como objetivo a


detecção precoce de problemas relacionados, além da integração do
tratamento de outras patologias agravadas pelo álcool, como, por
exemplo, a hipertensão.

Assim, durante as visitas domiciliares, é possível reconhecer sinais e


sintomas de abuso de álcool, discutir o risco envolvido, fazer
orientações no sentido de evitar o consumo abusivo nas famílias e
encaminhar os(as) pacientes para avaliação na unidade de saúde ou
em serviços especializados, quando indicado.

Leve a situação para discutir na sua equipe! Também, em muitos


locais, há recursos como os Alcoólicos Anônimos, que podem ajudar
muito nessas situações.

61
Os profissionais de saúde também devem considerar o abuso ou a
dependência de álcool como uma possível causa de sintomas de
ansiedade ou depressão.

E como deve ser


essa abordagem na
APS?
Falamos anteriormente sobre o acolhimento, e para que ele aconteça
de maneira efetiva, é fundamental que o usuário de álcool e outras
drogas se sinta bem acolhido pelo Agente Comunitário de Saúde e
pelos demais profissionais da ESF, pois o primeiro contato com a
pessoa é de extrema importância, e vai repercutir no vínculo e na
adesão ao tratamento desses usuários.

Esse acolhimento precisa envolver alguns aspectos fundamentais,


como tratar os(as) usuários(as) e familiares com respeito, agir sem
julgamento e promover uma relação de proximidade entre equipe e a
mulher atendida, evitando, contudo, um envolvimento íntimo.

É fundamental que toda a equipe de saúde, especialmente os(as) ACS,


por residirem na comunidade e geralmente possuírem um vínculo
maior com a população, saibam lidar com questões cruciais, com
sigilo e confiança, e ao mesmo tempo sem preconceitos, sem fazer
julgamentos e nem advertências morais.

62
Veja a seguir algumas
orientações que podem ser
usadas na abordagem às
mulheres usuárias de álcool e
outras drogas na APS.

● Sigilo: o que for relatado pelos pacientes não deve ser


comentado com pessoas da comunidade, nem com seus
amigos ou familiares. A discussão dos casos deve ser feita em
local apropriado, com as pessoas da equipe.
● Promover um clima acolhedor, tentando ouvir o que a pessoa
está vivenciando e convidando-a a falar. Não esqueça que essa
conversa pode ser a primeira em que o(a) paciente está se
dispondo a compartilhar o assunto. Mas não demonstre
ansiedade em saber sobre o ocorrido. Cada um tem seu tempo
e o respeito aos limites do outro é regra fundamental.
● Fazer todo o esforço possível, verbal e não verbal, para fazer
com que a outra pessoa sinta que você a está entendendo. Ela
deve perceber que você está interessado(a) em ouvi-la.
● Criar uma atmosfera tolerante, evitando julgamentos. O objetivo
não é definir quem está certo ou errado e sim auxiliar o sujeito
neste momento de grande sofrimento.
● Ser empático, ou seja, buscar entender as necessidades e a
situação da outra pessoa, colocando-se no lugar dela.
● Ser flexível, centrando o cuidado na pessoa, o que é diferente de
encaixar a pessoa em determinada doença ou problema.
● Não exigir decisões rápidas. Tenha paciência com a caminhada
da pessoa e respeite o que é saúde para ela: dar tempo para
querer coisas e fazer combinações diferentes consigo mesma.
● Reconhecer seus esforços de enfrentamento e superação,
mesmo quando tudo o que se pretendia não tenha sido
alcançado.

63
Lembre-se de que as mulheres ainda sofrem mais
preconceito quando apresentam problemas com álcool e
drogas, se comparadas aos homens, por isso o
acolhimento empático e sem julgamento adquire uma
importância ainda maior junto às mulheres.

64
RETROSPECTIVA
Nesta disciplina, foram apresentadas importantes ferramentas que irão
auxiliar você no seu trabalho relacionado, de forma direta ou indireta, à
saúde da mulher, tais como:
• o conhecimento dos processos históricos que resultam nas políticas
atuais;
• as características sociodemográficas;
• a situação de saúde da mulher brasileira;
• além das ações específicas em saúde da mulher com foco no papel
do(a) Agente Comunitário(a) de Saúde (ACS).

Essas ferramentas são indispensáveis para que você possa entender


como acompanhar os principais problemas de saúde da mulher,
tornando assim o processo de trabalho mais eficaz.

Agora amplie seu conhecimento! E para te dar uma mãozinha com


essa tarefa, aqui vai uma dica: assista à teleaula. Ela está repleta de
informações adicionais para você recordar e refletir sobre essa
temática.

Em nosso próximo encontro, daremos início aos estudos da temática


Saúde da Criança e do Adolescente.

Até breve!

66
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. et al. The impact of the COVID-19 pandemic on women’s
mental health. Arch Womens Ment Health, v. 23, n. 6, p. 741-748, Dec.
2020. Doi: 10.1007/s00737-020-01092-2 Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7707813/. Acesso em: 24
mar. 2023.

AZEVEDO et al. Importância do pré-natal odontológico na prevenção de


partos prematuros e bebês de baixo peso: uma revisão integrativa.
Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.2, p. 8566-8576
mar./apr. 2021. Disponível em:
https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/2831
8 Acesso em: 24 mar. 2023.

BRASIL. Decreto nº 6.949 de 25 de agosto de 2009. Promulga a


convenção internacional sobre os direitos das pessoas com deficiência
e seu protocolo facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de
2007. 2009.

BRASIL. IBGE. Pesquisa nacional de saúde: 2019 : atenção primária à


saúde e informações antropométricas: Brasil / IBGE, Coordenação de
Trabalho e Rendimento. - Rio de Janeiro: IBGE, 2020. Disponível em:
https://abeso.org.br/wp-content/uploads/2021/07/Pesquisa-Nacional-d
e-Saude-2019.pdf. Acesso em: 24 mar. 2023.

BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de


Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com
Deficiência). 2015.

BRASIL. Lei nº 13.257, DE 8 DE MARÇO DE 2016. Dispõe sobre as políticas


públicas para a primeira infância e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de
1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o Decreto-Lei nº 3.689, de 3
de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), a Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de
1943, a Lei nº 11.770, de 9 de setembro de 2008, e a Lei nº 12.662, de 5 de
junho de 2012. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm

BRASIL. LEI Nº 14.443, DE 2 DE SETEMBRO DE 2022. Altera a Lei nº 9.263, de


12 de janeiro de 1996, para determinar prazo para oferecimento de
métodos e técnicas contraceptivas e disciplinar condições para
esterilização no âmbito do planejamento familiar. Disponível em:
https://legis.senado.leg.br/norma/36328536/publicacao/36329049.
Acesso em: 30 mar.2023.

68
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução
MS/CNS nº 588, de 12 de julho de 2018. Fica instituída a Política Nacional
de Vigilância em Saúde (PNVS), aprovada por meio desta resolução.
Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília (DF), 2018 ago.
13; Seção 1:87.
https://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2018/Reso588_publicada.pdf.
Acesso em: 24 mar. 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Caderneta da gestante. 6. ed. revisada. MS,


2022. Disponível em
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da Criança e da Mulher – PNDS 2006: dimensões do processo
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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Portaria
nº 1.459, DE 24 DE JUNHO DE 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de
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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Portaria


nº 2.979, DE 12 DE NOVEMBRO DE 2019. Institui o Programa Previne Brasil,
que estabelece novo modelo de financiamento de custeio da Atenção
Primária à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde, por meio da
alteração da Portaria de Consolidação nº 6/GM/MS, de 28 de setembro
de 2017. Disponível em
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2019/prt2979_13_11_201
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de Atenção Integral à Saúde da Mulher: Princípios e Diretrizes / Ministério
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Departamento de Atenção Básica. Saúde mental / Ministério da Saúde,
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Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco
[recurso eletrônico] / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
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Departamento de Atenção Básica. Saúde sexual e saúde reprodutiva /
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usuários de álcool e outras drogas. Brasília. (Série B. Textos Básicos de
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WHO-OMS. Relatório mundial da saúde. Saúde mental: nova


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pdf;jsessionid. Acesso em: 23 mar. 2023.

71
MATERIAL COMPLEMENTAR

Indicação de vídeos:

Webpalestra Evolução da Política de Saúde da Mulher. Produzida pelo


Núcleo de Telessaúde do Maranhão. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=9wOcEQjVPiM. Acesso em: 24 mar.
2023.

Webpalestra Saúde Sexual e reprodutiva da mulher. Produzida pelo


Núcleo de Telessaúde de Santa Catarina. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/176836. Acesso em:
24 mar. 2023.

LEITURA OBRIGATÓRIA

Cartilha lançada pelo Ministério da Saúde em 2022. Link de acesso:


https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/ca
rtilhas/2022/cartilha-a-saude-bucal-da-gestante.pdf. Acesso em: 24
mar. 2023.

Repasse de informações aos parceiros.


http://www.partodoprincipio.com.br/lei_beneficio.html. Acesso em: 24
mar. 2023.

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esta publicação. Clique aqui
e responda à pesquisa.

72
Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde
bvsms.saude.gov.br

74

Você também pode gostar