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Resíduos Sólidos

Gerenciamento de
Resíduos da Construção
Civil
Guia do profissional em treinamento Nível 2
Rede Nacional de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental - ReCESA
Resíduos Sólidos

Gerenciamento de
Resíduos da Construção
Civil
Guia do profissional em treinamento Nível 2
Promoção Rede de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental - ReCESA

Realização Núcleo Sudeste de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental - NUCASE

Instituições integrantes do Nucase Universidade Federal de Minas Gerais (líder) | Universidade Federal do Espírito Santo |
Universidade Federal do Rio de Janeiro | Universidade Estadual de Campinas

Financiamento Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia | Fundação Nacional de Saúde do Ministério
da Saúde | Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades

Apoio organizacional Programa de Modernização do Setor Saneamento-PMSS

Patrocínio FEAM - Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais

Comitê gestor da ReCESA Comitê consultivo da ReCESA


· Ministério das Cidades; · Associação Brasileira de Captação e Manejo de Água de Chuva – ABCMAC
· Ministério da Ciência e Tecnologia; · Associação Brasileira de Engenharia Sanitária E Ambiental – ABES
· Ministério do Meio Ambiente · Associação Brasileira de Recursos Hídricos – ABRH
· Ministério da Educação; · Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública – ABLP
· Ministério da Integração Nacional; · Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais – AESBE
· Ministério da Saúde; · Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – ASSEMAE
· Banco Nacional de Desenvolvimento · Conselho de Dirigentes dos Centros Federais de Educação Tecnológica – Concefet
Econômico Social (BNDES); · Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA
· Caixa Econômica Federal (CAIXA); · Federação de Órgão para a Assistência Social e Educacional – FASE
· Federação Nacional dos Urbanitários – FNU
· Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas – Fncbhs
· Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras
– Forproex
· Fórum Nacional Lixo e Cidadania – L&C
· Frente Nacional Pelo Saneamento Ambiental – FNSA
· Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM
· Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS
· Programa Nacional de Conservação de Energia – Procel
· Rede Brasileira de Capacitação Em Recursos Hídricos – Cap-Net Brasil
Parceiros do Nucase
· Cedae/RJ - Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro
· Cesan/ES - A Companhia Espírito Santense de Saneamento
· Comlurb/RJ - Companhia Municipal de Limpeza Urbana
· Copasa – Companhia de Saneamento de Minas Gerais
· DAEE - Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo
· DLU/Campinas - Departamento de Limpeza Urbana da Prefeitura Municipal de Campinas
· Fundação Rio-Águas
· Incaper/Es - O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural
· IPT/SP - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
· PCJ - Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí
· SAAE/Itabira - Sistema Autônomo de Água e Esgoto de Itabira – MG.
· SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
· SANASA/Campinas - Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A.
· SLU/PBH - Serviço de Limpeza Urbana da prefeitura de Belo Horizonte
· Sudecap/PBH - Superintendência de desenvolvimento da capital da prefeitura de Belo Horizonte
· UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto
· UFSCar - Universidade Federal de São Carlos
· UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce
Resíduos Sólidos

Gerenciamento de
Resíduos da Construção
Civil
Guia do profissional em treinamento Nível 2
R232 Resíduos sólidos : gerenciamento de resíduos da construção
civil : guia do profissional em treinamento : nível 2 / Ministério das
Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (org.). –
Belo Horizonte : ReCESA, 2008.68 p.

Nota: Realização do NUCASE – Núcleo Sudeste de


Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental
(Coordenação de Carlos Augusto de Lemos Chernicharo, Emília
Wanda Rutkowski, Isaac Volschan Junior e Sérgio Túlio Alves Cassini).

1. Resíduos sólidos urbanos - tratamento. 2. Materiais de


construção. 3. Industria da construção civil. 4. Construção civil –
Aspectos ambientais. 5. Sustentabilidade. I. Brasil. Ministério das
Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. II. Núcleo
Sudeste de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento
Ambiental.

CDD – 628.4

Catalogação da Fonte : Ricardo Miranda – CRB/6-1598

Conselho Editorial Temático

Liséte Celina Lange – UFMG

Álvaro Luiz Gonçalves Cantanhade - UFRJ

Eglé Novaes Teixeira - UNICAMP

Profissionais que participaram da elaboração deste guia

Consultores Carmen Lúcia Barbosa Teixeira (Pedagoga da SLU/PBH/conteudista) | Renata


Luiza de Miranda Assunção (Estagiária de Letras da SLU/PBH) | Sandra Machado Fiuza
(Arquiteta da SLU/PBH/conteudista) | Clarice Maia Scotti (colaboradora) | Wesley Schettino
de Lima (colaborador) | Izabel Chiodi Freitas (validadora)

Créditos

Composição Final
Cátedra da Unesco - Juliane Correa | Maria José Batista Pinto
Larissa Pinto | Sara Shirley Belo Lança

Projeto Gráfico e Diagramação


Marco Severo | Rachel Barreto | Romero Ronconi

Impressão
Artes Gráficas Formato Ltda

É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que citada a fonte.
Apresentação da ReCESA

A criação do Ministério das Cidades no de políticas setoriais. O projeto de estrutu-


Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ração da Rede de Capacitação e Extensão
em 2003, permitiu que os imensos desafios Tecnológica em Saneamento Ambiental
urbanos passassem a ser encarados como polí- – ReCESA constitui importante iniciativa
tica de Estado. Nesse contexto, a Secretaria nesta direção.
Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA)
inaugurou um paradigma que inscreve o sane- A ReCESA tem o propósito de reunir um conjunto
amento como política pública, com dimensão de instituições e entidades com o objetivo de
urbana e ambiental, promotora de desenvolvi- coordenar o desenvolvimento de propostas
mento e da redução das desigualdades sociais. pedagógicas e de material didático, bem como
Uma concepção de saneamento em que a técnica promover ações de intercâmbio e de exten-
e a tecnologia são colocadas a favor da prestação são tecnológica que levem em consideração as
de um serviço público e essencial. peculiaridades regionais e as diferentes políticas,
técnicas e tecnologias visando capacitar profis-
A missão da SNSA ganhou maior relevância e sionais para a operação, manutenção e gestão
efetividade com a agenda do saneamento para dos sistemas de saneamento. Para a estruturação
o quadriênio 2007-2010, haja vista a decisão da ReCESA foram formados Núcleos Regionais e
do Governo Federal de destinar, dos recur- um Comitê Gestor, em nível nacional.
sos reservados ao Programa de Aceleração do
Crescimento – PAC, 40 bilhões de reais para Por fim, cabe destacar que este projeto ReCESA
investimentos em saneamento. tem sido bastante desafiador para todos nós.
Um grupo, predominantemente formado por
Nesse novo cenário, a SNSA conduz ações em profissionais da engenharia, mas, que compre-
capacitação como um dos instrumentos estra- endeu a necessidade de agregar outros olhares
tégicos para a modificação de paradigmas, o e saberes, ainda que para isso tenha sido neces-
alcance de melhorias de desempenho e da quali- sário “contornar todos os meandros do rio, antes
dade na prestação dos serviços e a integração de chegar ao seu curso principal”.
∙∙ Comitê gestor da ReCESA
Nucase Os guias

O Núcleo Sudeste de Capacitação e Extensão A coletânea de materiais didáticos produ-


Tecnológica em Saneamento Ambiental – zidos pelo Nucase é composta de 42 guias
NUCASE tem por objetivo o desenvolvimento que serão utilizados em oficinas de capacita-
de atividades de capacitação de profissionais ção para profissionais que atuam na área do
da área de saneamento, nos quatro estados da saneamento. São seis guias que versam sobre
região sudeste do Brasil. o manejo de águas pluviais urbanas, doze
relacionados aos sistemas de abastecimento
O NUCASE é coordenado pela Universidade de água, doze sobre sistemas de esgotamento
Federal de Minas Gerais – UFMG, tendo como sanitário, nove que contemplam os resíduos
instituições co-executoras a Universidade sólidos urbanos e três terão por objeto temas
Federal do Espírito Santo – UFES, a Universidade que perpassam todas as dimensões do sane-
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e a Universidade amento, denominados temas transversais.
Estadual de Campinas – UNICAMP. Atendendo
aos requisitos de abrangência temática e de Dentre as diversas metas estabelecidas pelo
capilaridade regional, as universidades que inte- NUCASE, merece destaque a produção dos
gram o NUCASE têm como parceiros, em seus Guias dos profissionais em treinamento,
estados, prestadores de serviços de saneamento que servirão de apoio às oficinas de capa-
e entidades específicas do setor. citação de operadores em saneamento que
Coordenadores institucionais do Nucase possuem grau de escolaridade variando do
semi-alfabetizado ao terceiro grau. Os guias
têm uma identidade visual e uma abordagem
pedagógica que visa estabelecer um diálogo
e a troca de conhecimentos entre os profis-
sionais em treinamento e os instrutores. Para
isso, foram tomados cuidados especiais com
a forma de abordagem dos conteúdos, tipos
de linguagem e recursos de interatividade.
Equipe da central de produção de material didático - CPMD
Apresentação da
área temática:
Resíduos sólidos urbanos

A série de guias relacionada aos resíduos


sólidos urbanos resultou do trabalho cole-
tivo que envolveu a participação de dezenas
de profissionais. Os temas que compõem esta
série foram definidos por meio de uma consulta
aos serviços de limpeza urbana dos municípios,
prefeituras, instituições de ensino e pesquisa
e profissionais da área, com o objetivo de se
definir os temas que a comunidade técnica
e científica da região Sudeste considera, no
momento, os mais relevantes para o desenvol-
vimento do projeto pelo Nucase.

Os temas abordados nesta série dedicada aos


resíduos sólidos urbanos incluem: Gestão
integrada de resíduos sólidos urbanos;
Processamento de resíduos sólidos orgânicos;
Saúde e segurança do trabalho aplicada ao
gerenciamento de resíduos sólidos urbanos;
Gerenciamento de resíduos da construção
civil; Gerenciamento dos resíduos de serviços
de saúde e perigosos; Projeto, operação e
monitoramento de aterros sanitários.

Certamente há muitos outros temas importantes


a serem abordados, mas considera-se que este
é um primeiro e importante passo para que se
tenha material didático, produzido no Brasil,
destinado a profissionais da área de saneamento
que raramente têm oportunidade de receber
treinamento e atualização profissional.
Coordenadores da área temática de resíduos sólidos urbanos
Há tanto para conhecer,
há tanto para explorar!
Basta os olhos abrir,
e com o ouvido escutar.
Aprende-se o tempo todo,
dentro, fora, pelo avesso,
começando pelo fim,
terminando pelo começo!

(Pedro Bandeira)
Sumário

Introdução................................................................................... 11
Degradação Ambiental Urbana..................................................... 12
Resíduos Sólidos de Construção e Demolição – RCD.....................23
Legislação referente aos RCD..............................................28
Diagnósticos dos RCD.........................................................34
Plano Integrado de Gerenciamento de RCD..................................47
Valoração dos RCD.............................................................. 55
Sustentabilidade na Indústria da Construção Civil........................63
Referências Bibliográficas............................................................67
Introdução

Caro Profissional,

A produção crescente de resíduos provenientes Esta publicação tem como objetivo discutir a
da indústria da construção civil tem se consti- temática relacionada ao “Gerenciamento de
tuído um grave problema para os municípios, Resíduos de Construção Civil” adotando-se
tendo em vista o agravamento dos problemas uma metodologia participativa que resgate a
ambientais urbanos e de saúde pública, decor- experiência profissional dos participantes. Para
rente do manejo inadequado desses resíduos. isso, serão utilizadas técnicas didáticas diver-
sificadas: estudos de textos, simulações, jogos,
Você já deve ter observado em sua cidade dinâmicas de grupo, vídeos, dentre outras.
que existem locais onde são depositados
resíduos de construção civil tais como tijo- A oficina foi estruturada em quatro conceitos
los, concreto, madeiras, restos de tubulação, chaves:
enfim uma diversidade de materiais prove-
nientes de obras e reformas que estão em - Degradação Ambiental Urbana;
execução. É comum essas áreas transfor- - Resíduos Sólidos de Construção e
marem-se em verdadeiros lixões, pois os Demolição RCD;
moradores do entorno acabam por jogar - Plano de Gerenciamento Integrado de
nesses locais lixo doméstico, pneus, podas Resíduos de Construção e Demolição;
de árvores e objetos volumosos, o que leva - Sustentabilidade Ambiental.
a um processo de degradação de toda a área
e seu entorno imediato. O compartilhamento de sua experiência com
o grupo é a condição fundamental para o
O poder público, na maioria das vezes, age sucesso desta oficina. Da mesma forma,
corretivamente, limpando o terreno quando espera-se que os frutos colhidos sirvam para
a situação já está em um nível bem crítico. enriquecê-lo profissionalmente.
Contudo, essa medida tem efeito de pouca
duração, pois basta sair a turma da limpeza
urbana para que os depositores clandestinos
iniciem novamente esse círculo vicioso.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 11


OBJETIVOS: Degradação Ambienta Urbana
- Discutir os
impactos das
atividades da
indústria da
construção civil
sobre o meio
ambiente natural e Você, Profissional e, acima de tudo, cidadão, já deve ter notado em sua cidade a
construído;
ocorrência de locais onde são depositados resíduos de construção civil: restos
de telhas, tijolos e blocos quebrados, pedaços de concretos, de madeira etc.
- Construir um
Onde havia só entulho, são lançados: lixo doméstico, animais mortos, pneus,
conceito de
restos de podas e capinas, transformando esses locais em áreas degradadas que
degradação
geram vários problemas para a cidade e seus moradores. É inegável o impacto
ambiental.
que as atividades da construção civil provocam tanto no meio ambiente natural
quanto no construído.

Atividade

Antes de nos aprofundarmos mais nesse conceito chave, responda,


discuta e guarde para posterior reavaliação as seguintes perguntas:

Quais são os principais impactos gerados pelas atividades da indústria


da construção civil, sobre o meio ambiente natural e construído?

12 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Qual o papel do poder público municipal na preservação da qualidade
do meio ambiente urbano, considerando os impactos relacionados
na questão anterior e sobre a saúde da população?

Para você, o que é degradação ambiental?

Agora nós vamos dar seqüência aos nossos estudos assistindo um vídeo-foto que apresenta
imagens de áreas degradadas para reflexão sobre “Os impactos da indústria da construção
civil no meio ambiente”. Em seguida faremos algumas atividades relacionadas a este tema.

E ai Profissional? Dentre as situações apresentadas no vídeo-foto, várias devem ser familia-


res a vocês, não é mesmo? Quais dessas cenas de degradação ocorrem em sua cidade? Por
que surgem essas áreas no meio urbano? Quem são os responsáveis pelo aparecimento das
disposições clandestinas? Quais as reais conseqüências dessa degradaçãopara a cidade e para
seus cidadãos? Responderemos essas perguntas ao longo do desenvolvimento da oficina.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 13


Disposições Sem mais demora, vamos acompanhar a leitura do texto: “Degradação Ambiental
clandestinas: e os Resíduos de Construção e Demolição”, que contextualiza os problemas
locais onde a terra, decorrentes da exploração dos recursos naturais, bem como a disposição indis-
o entulho e outros criminada de resíduos gerados pelas atividades que compõem a cadeia da
tipos de resíduos construção civil.
(podas e objetos
volumosos) são
lançados sem
cuidados técnicos
ou ambientais e
sem a permissão
dos proprietários
(particulares ou
poder público),
comprometendo
os sistemas de
drenagem pluvial
e de estabilização
dos maciços.Tam-
bém conhecidos
como bota-fora
clandestinos.

Degradação Ambiental e os
Resíduos de Construção e Demolição
A superfície da Terra está em constante pro- anos. Com o surgimento do homem na face
cesso de transformação e, ao longo de seus da Terra e suas intervenções na natureza, o
4,5 bilhões de anos, o planeta registrou drás- ritmo dessas mudanças acelerou-se a ponto
ticas alterações ambientais. As rupturas na de tornar-se, na atualidade, em um dos prin-
crosta terrestre e a deriva dos continentes cipais problemas do planeta, tendo em vista
mudaram a posição destes ao longo de mi- as graves conseqüências decorrentes das
lênios. Em conseqüência, o clima do planeta mudanças climáticas, tais como, tufões, fura-
passou por grandes transformações, como cões, grandes enchentes, ocorrência de tem-
os quatro períodos de glaciações (ato ou peraturas extremas (muito calor ou muito frio)
efeito de congelar). Essas mudanças foram em várias regiões do planeta. Vários fatores
provocadas por fenômenos geológicos e cli- contribuem para o agravamento desse qua-
máticos que duraram centenas de milhões de dro. Analisemos alguns dos fatores:

14 Resíduos Sólidos - Processamento de Resíduos Sólidos Orgânicos - Nível 2


Desenvolvimento tecnológico sem a preo- os recursos naturais em escala concentrada,
cupação ambiental quebrando as cadeias naturais de reprodução
desses recursos e reduzindo a capacidade
A escalada do progresso técnico humano pode da natureza de construir novas situações de
ser medida pelas suas tentativas de controlar e equilíbrio. A construção civil, acompanhando o
transformar a natureza. Quanto mais rápido o de- ritmo de crescimento das cidades, transforma
senvolvimento tecnológico, maior o ritmo de alte- montanhas em crateras visando à exploração
rações provocadas no meio ambiente. Cada nova de pedras, minério de ferro e outros minerais;
fonte de energia dominada pelo homem produz florestas são erradicadas para o fornecimento
determinado tipo de desequilíbrio ecológico e de de madeiras para telhados, móveis, celulose
poluição. A destilação do petróleo para produção etc; rios assoreados em função de extração de
de combustíveis, por exemplo, multiplica a emis- areias e argilas. A abertura de novos parcela-
são de gás carbônico e outros gases lançados mentos, para atender à expansão da deman-
na atmosfera que irão provocar o efeito estufa e o da por moradias, suprime a vegetação, gera
aquecimento climático. Com o desenvolvimento movimentações de terra, enclausura os cursos
da petroquímica, surgiram novas matérias-primas d’água, alterando a paisagem, mudando o sis-
e substâncias não-degradáveis, como alguns ti- tema de drenagem natural das águas pluviais
pos de plásticos, responsáveis pela contamina- e os micro-climas locais. O confronto entre o
ção de lagos, rios e mares. meio urbano e o ambiente natural, em geral,
dá origem a situações de precário equilíbrio
Crescimento populacional ambiental, gerando situações de risco para a
população e o meio ambiente.
O aumento da população mundial exige áre-
as cada vez maiores para a produção de ali- Geração descontrolada de resíduos
mentos e técnicas de cultivo que aumentem
a produtividade da terra. Florestas cedem lu- Paralela à intensificação do processo de urba-
gar a lavouras e criações, espécies animais e nização verificado em todo o planeta, o estilo
vegetais são domesticadas, muitas extintas e de desenvolvimento econômico, baseado no
outras, ao perderem seus predadores naturais,
multiplicam-se aceleradamente. Produtos quí-
micos não-degradáveis, usados para aumentar
a produtividade e evitar predadores nas lavou-
ras, matam microrganismos decompositores,
insetos e aves; reduzem a fertilidade da terra;
poluem os rios e águas subterrâneas; e conta-
minam os alimentos. A urbanização multiplica
esses fatores de desequilíbrio. A metrópole usa

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 15


sistema capitalista, estimula o desperdício. Auto- recursos hídricos e da cobertura vegetal. A
móveis, eletrodomésticos, roupas e, até mesmo produção e manufatura de materiais de cons-
as construções, são planejados para durar pou- trução, seu transporte, aplicação nas obras
co. O apelo ao consumo multiplica a extração e, finalmente, a demolição dessas estruturas
de recursos naturais: embalagens sofisticadas e provocam diversos impactos que resultam
produtos descartáveis, não recicláveis nem bio- em poluição adicional como a atmosférica,
degradáveis, aumentam a quantidade de lixo no visual e sonora, contribuindo para o aumento
meio ambiente. Nos países em desenvolvimento, dos desequilíbrios ambientais e a redução da
o ritmo de crescimento demográfico e de urba- qualidade de vida nas cidades. Muitas etapas
nização não é acompanhado pela expansão da da cadeia da construção civil liberam para
infra-estrutura, principalmente da rede de sane- a atmosfera gases do efeito estufa, em es-
amento básico. Uma boa parcela do lixo urba- pecial, o dióxido de carbono que pode ser
no e dos resíduos da construção civil é lançada proveniente dos processos de fabricação do
sem tratamento nos cursos d’água ou no solo. As aço, de peças cerâmicas e do cimento ou ori-
substâncias não-degradáveis estão presentes ginado pela queima de combustíveis fósseis
em plásticos, produtos de limpeza, tintas e sol- na etapa de transporte das matérias primas e
ventes, pesticidas e componentes de produtos produtos. Assim, também, o corte de árvores
eletro-eletrônicos. Ao longo do tempo, os rios, libera o dióxido de carbono armazenado nas
mares, oceanos e manguezais vêm servindo florestas. Todos esses efeitos reunidos cons-
de depósito para esses resíduos. tituem impactos ambientais da cadeia da in-
dústria da construção civil.

No Brasil, segundo JONH (2001), o “negócio da


construção civil” corresponde à cerca de 14%
de toda a economia e constitui-se em um dos
maiores consumidores de matérias-primas na-
turais. Entre 20 a 50% do total de recursos na-
turais consumidos pela sociedade é destinado
Resíduos da Construção Civil à construção civil e aproximadamente 80% da
energia utilizada na produção de um edifício é
O impacto das atividades da construção civil consumida na produção e transporte dos mate-
no meio ambiente tem início na fase de extra- riais empregados. Um bom exemplo, é o eleva-
ção das matérias-primas como, por exemplo, o do consumo de agregados (areia e britas) que,
corte da madeira, a extração de areia, pedras, devido ao esgotamento das reservas situadas
metais etc. A forma como esses recursos são mais próximas aos grandes centros, demanda,
extraídos e a quantidade retirada pode afetar de cada vez mais, a exploração de jazidas mais dis-
forma irremediável as condições do solo, dos tantes. No caso de São Paulo, as atuais reservas

16 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


de areia natural situam-se a distâncias superio- ocorrência de enchentes e alagamentos; e a
res a 100km, implicando em enorme consumo formação de ambientes propícios à proliferação
de energia e geração de poluição. de animais e insetos vetores de doenças.

A cadeia da indústria da construção civil é con- Em geral, as disposições clandestinas são


siderada, também, a principal geradora de resí- encontradas em lotes vagos, às margens de
duos, sendo responsável por cerca de 40% do cursos d’água e de grandes eixos viários, em
total dos resíduos gerados na economia. Em vilas e favelas e nas periferias das cidades. O
grande parte das cidades brasileiras, os resí- recrudescimento de doenças consideradas
duos da construção e demolição (RCD) corres- erradicadas nos grandes centros como, den-
pondem entre 40 a 70% da massa de resíduos gue, cólera, leptospirose, leshmaniose está
coletada diariamente, sendo que a sua remo- associado ao aumento de habitats favoráveis
ção e destinação incorrem em altos custos para à proliferação de seus vetores. Os montes de
os cofres públicos. Estima-se que “... os valores entulho e lixo constituem locais que oferecem
típicos de geração de RCD encontram-se entre abrigo e alimentação para ratos, escorpiões,
400 e 500 kg/hab. ano, valor igual ou superior moscas, mosquitos etc. Assim, a disposição
à massa de lixo urbano.” (JOHN, 2001). Gran- inadequada dos resíduos de construção e
de parte desses resíduos é disposta de forma demolição contribui para o agravamento dos
inadequada pela malha urbana dando origem processos de degradação ambiental urbana
a vários problemas como a obstrução dos sis- e das precárias condições de saúde da po-
temas de macro e micro drenagens (bocas- pulação, em especial, aquelas de menor po-
de-lobo, galerias e canais de cursos d’água); der aquisitivo.

Adaptado de: CONSTRUCTION and environment: fact and figures. Industry and environment. Paris, v. 29,n. 2, abr/jun. 1996:
JOHN, Vanderley M. Aproveitamento de Resíduos Sólidos como Materiais de Construção. In: Reciclagem de Entulho para produção de materiais de construção. Carneiro, A. P., BRUM, I.
A. S. , CASSA, J. C. S. (organizadores). Salvador: EDUFBA; Caixa Econômica Federal. 2001. pp. 28-44;
www. geocitie. com/rainforest/wetlands

Como síntese de tudo que foi lido por nós, vamos assistir ao filme: Ilha das Flores de Jorge
Furtado, que retrata bem a degradação ambiental ao longo dos anos.

E então? O que você achou do texto e do vídeo? Continuando nossos estudos e atividades,
atualmente os resíduos gerados pelas atividades de exploração dos recursos naturais, fabri-
cação de materiais de construção e demolição de edificações e obras de infra-estrutura são
um grave problema para os administradores municipais, tendo em vista o grande volume
desses materiais e sua disposição final inadequada. Vamos ler o texto “Agentes envolvidos
na cadeia da construção civil” no qual se mostra uma panorâmica do problema causado
pelos resíduos da construção civil.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 17


Agentes envolvidos na cadeia da construção civil
A geração dos resíduos de construção e de- O gráfico apresentado em seguida informa, se-
molição (RCD) nas cidades cresceu significati- gundo essa classificação, a média de resíduos
vamente a partir de meados da década de 90. RCD gerada em alguns municípios brasileiros
São resíduos provenientes da construção da diagnosticados.
infra-estrutura urbana, de responsabilidade do
poder público e, principalmente, da ação da Origem do RCD em algumas cidades brasi-
iniciativa privada na construção de novas edi- leiras (% da massa total)
ficações (residenciais, comerciais, industriais
etc. ), nas ampliações e reformas de edifica- 20%

ções existentes e de sua demolição, de modo


Reformas, ampliações e d
a propiciar novos usos para o local. Edificações novas (acima
Residências novas

Os agentes geradores podem ser mais facil- 21% 59%

mente identificados
20% e caracterizados por meio
de consulta àqueles que transportam seus re-
síduos. Os principais responsáveis pela gera- Reformas, ampliações e domolições
Edificações novas (acima de 300m2)
ção de volumes significativos que devem ser Residências novas

considerados
21% no diagnóstico são: 59%

• Executores de reformas, ampliações e de- Em meados dos anos 90, teve início o cresci-
molições que, no conjunto, consistem na mento das empresas e coletores autônomos
fonte principal desses resíduos; prestando serviços de remoção dos resíduos.
• Construtores de edificações novas, térreas Em muitas cidades, houve forte presença das
ou de múltiplos pavimentos - com áreas de caçambas metálicas estacionárias removidas
construção superiores a 300 m2, cujas ativi- por caminhões equipados com poliguindaste,
dades quase sempre são formalizadas; que, em alguns casos, respondem pela remo-
• Construtores de novas residências, tanto ção de 80% a 90% do total de resíduos gera-
aquelas de maior porte, em geral formali- dos. Em outros municípios, ocorre o predomí-
zadas, quanto as pequenas residências de nio de caminhões com caçambas basculantes
periferia, quase sempre autoconstruídas e ou com carrocerias de madeira e, também, de
informais. carroças de tração animal, às vezes centenas,
constituindo-se, nestes casos, em agentes de
grande importância e que não podem ser des-
prezados na nova política de gestão.

.
Fonte: Texto extraído de: PINTO, Tarcísio e GONZÁLES, Juan Luis (coord. ). Manejo e Gestão de Resíduos da Construção Civil. Brasília: Caixa Econômica Federal, 2005

18 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Você sabia?

Para a produção de uma tonelada de cal virgem são liberadas 785kg de CO2 na atmosfera;
Na cidade de São Paulo, 90% das 17. 200 toneladas de entulho gerados diariamente
podem ser reciclados;
O custo da limpeza das áreas de bota fora clandestinos, onde são depositados os resí-
duos de construção e demolição, é de US$9,5 por m³ (aproximadamente 19 Reais por
m3 atualmente).
Fonte: JOHN, Vanderley M. Aproveitamento de Resíduos Sólidos como Materiais de Construção. In: Reciclagem de Entulho para produção de materiais de construção.

Como você pode observar, Profissional, as disposições clandestinas são um dos principais
fatores que desencadeiam processos de degradação ambiental no meio urbano. Além da
questão ambiental essas disposições propiciam também a proliferação de vetores de doenças
responsáveis por graves problemas de saúde pública. Para esclarecer esse aspecto, vamos
ler o texto “Resíduos de Construção e Demolição (RCD) e a Proliferação de Doenças”.

Resíduos de Construção e Demolição Vetores: são todos

(RCD) e a proliferação de doenças


aqueles seres vivos
capazes de veicular
agentes infecciosos
Há muitas doenças que necessitam de vetores para que o agente
para sua transmissão, pois seu ciclo de vida en- infectante continue
volve mais de um hospedeiro, sendo um deles seu ciclo de
o ser humano. Exemplos de alguns vetores são vida em outro(s)
os mosquitos, roedores, aranhas e escorpiões. hospedeiro.
Culex
Existem várias espécies de mosquitos respon-
sáveis pela transmissão de doenças através de
sua picada como: Culex que transmite a filariose;
Aedes que transmite a dengue e a febre amare-
la; e o flebótomo que transmite a leishmaniose. Aedes

Os roedores estão relacionados à transmissão


de doenças como a leptospirose (transmitida
pela urina dos ratos), salmonelose (transmitida
pelas fezes), tifo, (fezes da pulga dos ratos), pes-
Flebótomo

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 19


te bubônica, (transmitida de um rato ao outro pela Os escorpiões e aranhas têm, como esconde-
pulga). Além dessas doenças, a mordedura de ra- rijos naturais, lugares quentes e úmidos; porém
tos causa lesões ou feridas de difícil cicatrização. se aproximam e entram nos domicílios, quando
as condições de higiene são precárias, como
Esses vetores encontram nas cidades, nos lo- em caso de acúmulo de lixo e entulhos e amon-
cais onde as condições sanitárias são precá- toados de pedras, madeiras, tijolos, telhas, etc.
rias, as condições ideais para seu habitat. Áre-
as de disposições clandestinas de resíduos de A presença de ratos em um ambiente indica a
construção civil, misturado ao lixo doméstico existência de condições sanitárias precárias, cau-
junto com recipientes que possibilitam armaze- sadas na maioria das vezes pelo próprio homem
nagem da água de chuva, criam as condições (terrenos baldios com lixo, entulho de construção,
propícias à proliferação desses vetores e, con- mato, canaletas e reservatórios abertos ).
sequentemente, o recrudescimento dessas
doenças, sendo que muitas já eram considera- O combate a essas doenças deve priorizar as
das erradicadas de grande parte do país. medidas preventivas ou seja, tratar o ambiente
urbano de modo a torná-lo desfavorável à proli-
Embora os escorpiões e aranhas-marrons não feração desses insetos, roedores e aracnídeos.
sejam vetores de doença, são, todavia, abor-
dados pelo saneamento porque o veneno ino- Para isso, os terrenos baldios devem ser man-
culado por ocasião da picada pode ser extre- tidos limpos, sem deposições de restos de
mamente danoso. A aranha marrom Loxoceles construção e demolições ou outros resíduos;
mede entre 4 e 5 cm, a sua picada inicialmente controle da vegetação; eliminar, destes locais,
é pouco percebida pela pessoa atingida por latas, garrafas, pneus ou outros objetos que
ser pouco dolorosa, porém de 12 a 24 horas possam acumular água; e manter as condi-
após o acidente há formação de edema e equi- ções de higiene e limpeza nos domicílios.
mose, levando a uma posterior necrose. Muitas
vezes evolui para anemia hemolítica e insufici- Diversas Prefeituras realizam periodicamente
ência renal aguda. mutirões de limpeza urbana visando à erradi-
cação desses vetores, mas está cada vez mais
Os escorpiões considerados venenosos são
o Tityus serrulatus, ou amarelo, de hábito do-
miciliar, e o Tityus babiensis, que vivem mais
nos campos, cerrados e matas pouco densas.
O veneno dessas duas espécies apresenta
elementos neurotóxicas, e os sintomas são;
aumento da pressão arterial, insuficiência car-
díaca, vaso constrição periférica e edema pul-
monar agudo.

20 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


evidente que o trabalho de conscientização da graves. Recentemente, devido a um grande
população é fundamental para se obter um re- número de escorpião amarelo (Tityus serrula-
sultado positivo e duradouro. Depoimento de tus) foi desencadeado um trabalho no Jardim
representante da Prefeitura de Londrina ilustra Bandeirantes, com a retirada de muito entulho,
essa afirmação: incluindo madeira armazenada nos quintais.
É importante que a população colabore de-
“Muitos moradores guardam objetos nos quin- nunciando quem deposita lixo em terrenos e
tais, que parecem ser úteis num primeiro mo- também não guarde “entulho” na própria casa”.
mento. Estes objetos têm sido foco de mos- (Entrevista no Informativo da Prefeitura Munici-
quitos da dengue, ratos e vetores de doenças pal de Londrina, abr/mai –2002).
Fonte: SLU-BH

A seguir Profissional, são apresentadas as mesmas questões que abrem esse conceito chave
para que novamente sejam respondidas e discutidas coletivamente. Suas conclusões deverão ser
anotadas para que, posteriormente, possam ser apresentadas a todos os demais colegas.

Atividade

Quais são os principais impactos gerados pelas atividades da indústria


da construção civil, sobre o meio ambiente natural e construído e sobre
a saúde da população?

Qual o papel do poder público municipal na preservação da qualidade


do meio ambiente urbano, considerando os impactos relacionados
na questão anterior?

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 21


Para você, o que é degradação ambiental?

Como você pôde observar, Profissional, os efeitos negativos da disposição indiscriminada


dos RCD pela malha urbana são muito abrangentes e complexos. A discussão iniciada, com
certeza não se encerra aqui, mas após essa reflexão sobre a inter-relação entre os proces-
sos de degradação ambiental, as atividades de construção civil e a saúde pública, podemos
compreender porque o gerenciamento dos RCD tornou-se um tema importante para as
administrações municipais, responsáveis por prover as comunidades de boas condições de
saúde e habitabilidade.

Mas quando falamos em resíduos de construção e demolição estamos nos referindo a que
tipo de material? Todos os tipos de materiais de construção civil causam problemas de
degradação ambiental? Quais são os materiais considerados resíduos das atividades da
construção civil? Eles podem ser classificados por tipo? Como classificá-los? A resposta a
essas perguntas é o tema do próximo conceito chave.

22 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Resíduos Sólidos de Construção e OBJETIVOS:

Demolição (RCD) Apresentar os


vários tipos de
resíduos gerados
pela indústria da
construção civil;
Classificar os resí-
No conceito chave anterior, vimos que todo processo construtivo gera resíduos duos de construção
sólidos, principalmente aqueles que envolvem demolições, como no caso das e demolição de
reformas ou substituições de antigas edificações por novas construções. Têm- acordo com suas
se notícias que, já na Antiguidade, havia a prática da reutilização de materiais. características
Por exemplo, após o encerramento das atividades do Coliseu em Roma, várias físicas e químicas;
obras foram construídas reutilizando as pedras que compunham essa edifica- Apresentar,
ção. A dificuldade de transporte era um limitador dos materiais disponíveis para trabalhar e discutir
construção, de forma que cada cultura construiu utilizando os recursos naturais a Resolução CO-
disponíveis nas suas proximidades. O resultado foi o desenvolvimento de diver- NAMA 307;
Identificar os
sas tecnologias construtivas em função do material mais abundante na região:
diversos geradores
pedra, adobe, madeira etc.
de RCD no meio
urbano;
Com o desenvolvimento tecnológico, vários materiais passaram a ser sintetizados,
Apresentar método
permitindo maior flexibilidade nos processos construtivos e, consequentemente,
para estimar a
maior diversidade de resíduos gerados. Foram introduzidos materiais de difícil quantidade de
degradação, como plásticos de alta densidade, amianto, aço, concreto, dentre RCD gerados no
outros. Diante dessa diversidade de materiais, como podemos, então, definir município.
quais são os Resíduos de Construção e Demolição, também conhecidos por RCD?
Para relembramos o conceito de Resíduos da Construção Civil – RCD, comentado
no conceito chave anterior, vamos ler a definição a seguir.

Adobe: tijolo grande de argila, seco ou cozido ao sol, às vezes


acrescido de palha ou capim, para torná-lo mais resistente;

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 23


Resíduos de Construção e Demolição (RCD) são os resíduos provenientes de constru-
ções, reformas, reparos e demolições de obras da construção civil e, também, aqueles
resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: blocos cerâmicos,
concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensa-
dos, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações,
fiação elétrica e outros, conhecidos como entulho de obras.

Entulho Limpo Entulho Misturado


Fonte: SLU-BH

Fonte: SLU-BH

Como podemos perceber existe uma gama enorme de diferentes materiais que constituem os
resíduos da construção civil. E alguns desses materiais são potencialmente recicláveis, outros
são considerados não recicláveis, alguns são perigosos, etc. Mas qual é qual? No caso do tijolo,
por exemplo, ele é reciclável ou não? E o gesso, o papelão etc? Para identificar os resíduos
de acordo com as suas características, vamos realizar uma atividade coletivamente.

Atividade

A atividade tem por objetivo classificar os resíduos da constru-


ção civil. Para isso, utilize o quadro a seguir. Na primeira coluna
da esquerda, estão os diferentes tipos de resíduos e, na primeira
linha, está a possível classificação desses resíduos. Marque com
um “x” a classificação que você considera correta para cada
resíduo. Não se preocupe em acertar a classificação de todos, pois,
com certeza, ao final desse conceito-chave, você, Profissional, saberá
classificar corretamente os resíduos da construção civil.

24 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Reciclável Reciclável para Não reciclável Perigoso
como agregados outras distinções (classe C) (classe D)
(classe A) (classe B)

Fios Elétricos

Tijolos

Brita

Tinta

Gesso

Tubos de PVC

Saco de Cimento

Madeira

Ferragem

Pregos

Solvente

Telhas de Aminato

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 25


Reciclável Reciclável para Não reciclável Perigoso
como agregados outras distinções (classe C) (classe D)
(classe A) (classe B)

Terra

Papel

Concreto

Essa mesma atividade se encontra no software “Bacia Hidrográfica Virtual”.

E aí, Profissional, como você avalia o seu desempenho na atividade de classificação dos resí-
duos? Com o objetivo de esclarecer dúvidas sobre a classificação de resíduos da construção
civil, vamos ler o texto “Resíduos da Construção Civil”.

Resíduos da Construção Civil


A heterogeneidade (muito misturado) da massa Considera-se correta destinação aquela que
de resíduos sólidos gerada numa obra de cons- propicia a reutilização ou reciclagem dos mate-
trução ou reforma é um fator que dificulta o manejo riais descartados. No caso dos resíduos perigo-
desses resíduos, pois a cada grupo corresponde sos eles devem, antes de qualquer coisa, pas-
um modo adequado de separação, acondiciona- sar por um processo de inertização para depois
mento, transporte, tratamento e disposição final. serem destinados para um local adequado ou a
um incinerador.
As municipalidades, em sua maioria, não cole-
tam esse tipo de resíduo quando ele é disposto Os locais ambientalmente e sanitariamente
junto com o resíduo doméstico e também não adequados para receberem os rejeitos dos
disponibilizam alternativas corretas para sua dis- processos de reciclagem ou de inertização
posição final. Não obstante que a responsabilida- são: aterros sanitários ou de inertes dependen-
de pelos RCD é do gerador, o poder público muni- do do rejeito. Em casos especiais, eles podem
cipal tem um papel importante na normalização ser dispostos em aterros industriais (resíduos
dos agentes geradores e transportadores e na perigosos que não foram inertizados).
viabilização de áreas que possam receber esses
materiais, triá-los e encaminhá-los para o benefi- Visando classificar os resíduos gerados pelas
ciamento ou para uma correta destinação. atividades de construção e demolição, segun-

26 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


do suas características físicas e químicas, o - resíduos classe II A – Não inertes
Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONA- - resíduos classe II B – Inertes
MA, estabeleceu através da Resolução nº 307 (ver
a Resolução no subitem a seguir), quatro classes Resíduos Perigosos: são os
para esses resíduos: que apresentam riscos ao
meio ambiente, se maneja-
Classe A: são resíduos reutilizáveis ou recicláveis dos ou dispostos de forma
como agregados, tais como: restos de pavimenta- inadequada, ou que apre-
ção, tijolos, blocos, telhas, argamassas, concretos, sentam riscos à saúde pú-
solos, de terraplanagem, etc. blica, provocando ou contri-
Classe B: são resíduos recicláveis para outras desti- buindo para um aumento no índice de morta-
nações, tais como: plásticos, papel, metais, vidros lidade ou incidência de enfermidade devido a
e outros; sua inflamabilidade, corrosividade, reatividade,
Classe C: são resíduos para os quais não foram de- toxicidade ou patogenicidade.
senvolvidas tecnologias ou aplicações economi-
camente viáveis, que permitam a sua reciclagem, Resíduos não perigosos e não
tais como o gesso; inertes: aqueles que não se
Classe D: são resíduos perigosos, oriundos do pro- enquadram nas classifica-
cesso de construção, tais como: tintas, solventes, ções de resíduos perigosos
óleo, amianto ou aqueles contaminados provenien- (classe I) ou de resíduos não
tes de demolições, reformas e reparos em clínicas perigosos e inertes (classe
radiológicas, instalações industriais e outros. II B). Esses resíduos podem
ter propriedades, tais como: biodegradabilida-
Você, Profissional, deve estar se perguntando de, combustibilidade ou solubilidade em água.
quais são os critérios que foram utilizados para
classificação desses resíduos, não é mesmo? Resíduos não perigosos e
inertes: aqueles que quan-
Bem, a Associação Brasileira de Normas Técni- do amostrados de forma
cas – ABNT é o Fórum Nacional de Normaliza- representativa e subme-
ção que congrega os Comitês Brasileiros dos tidos a um contato dinâ-
Organismos de Normalização Setorial. Essa mico e estático com água
instituição, através da sua Comissão de Estu- destilada ou desionizada, à
do Especial Temporária de Resíduos Sólidos temperatura ambiente, não tenha nenhum de
elaborou a NBR-10004/2004, que classifica os seus constituintes solubilizados a concentra-
resíduos sólidos em: ções superiores aos padrões de potabilidade
• Resíduos classe I – Perigosos da água, excetuando-se aspecto, cor, turbi-
• Resíduos classe II – Não perigosos dez, dureza e sabor.
Fonte: Adaptado da Resolução CONAMA nº 307/2002.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 27


E agora, Profissional? Ficou claro de onde surgiu a classificação dos RCD? Vamos, então,
voltar ao exercício inicial e classificá-los novamente para que não restem dúvidas.

Por que é importante classificar os resíduos? Por que isso é importante? Essa classificação
foi pensada com o objetivo de melhorar o gerenciamento dos resíduos da construção civil,
possibilitando seu manejo adequado de acordo com as classes definidas. Como já dissemos,
essa classificação foi estabelecida pela Resolução do CONAMA 307, de 5 de Julho de 2002, que
definiu, também, as diretrizes e os procedimentos para a gestão dos resíduos de construção
civil em todo o território nacional, deixando à critério dos municípios e do Distrito Federal
a sua regulamentação. Esse é o tema que vamos discutir no próximo assunto: legislação
pertinente aos RCD.

Legislação Referente aos Resíduos de Construção e Demolição

A grande maioria dos municípios brasileiros não possui um sistema de manejo e tratamento
diferenciado dos RCD, que são dispostos de modo aleatório nos lotes vagos, margens de
cursos d´água, encostas, ao longo de eixos viários etc. A análise da composição dos resí-
duos gerados em diversos municípios tem demonstrado que os RCD podem alcançar altos
quantitativos, principalmente nas cidades em processos mais dinâmicos de expansão ou
renovação urbana. A ausência de tratamento adequado para tais resíduos está na origem
de graves problemas ambientais, justificando a necessidade de implantação de políticas
públicas especificamente voltadas para seu gerenciamento.

Nesse contexto é que foi elaborada e aprovada a Resolução CONAMA No 307, de 05/07/2002,
que estabelece diretrizes nacionais para gestão dos resíduos de construção e demolição, define
responsabilidades e deveres e torna obrigatória, para todos os municípios e para o Distrito
Federal, a implantação, pelo poder público local, dos Planos Integrados de Gerenciamento
dos Resíduos de Construção Civil.

Segundo essa política, cabe aos municípios, a solução para os pequenos volumes, geral-
mente, mal dispostos e o ordenamento da ação dos agentes envolvidos com o manejo dos
grandes volumes de resíduos. A determinação é a de que, em nível local, sejam definidas e
licenciadas áreas para o manejo dos resíduos em conformidade com a Resolução, cadastrando
e formalizando a presença dos transportadores de resíduos e cobrando responsabilidades
dos geradores. Para compreender o que essa resolução propõe, façamos sua leitura coletiva,
com muita atenção, pois em seguida, faremos uma atividade sobre o tema.

28 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


RESOLUÇÃO CONAMA Nº 307, DE 5 DE JULHO DE 2002
Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil.

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO reparos e demolições de estruturas telhas, pavimento asfáltico, vidros,
AMBIENTE-CONAMA, no uso das e estradas, bem como por aqueles plásticos, tubulações, fiação elétrica
competências que lhe foram conferidas resultantes da remoção de vegeta- etc. , comumente chamados de en-
pela Lei nº 6. 938, de 31 de agosto de ção e escavação de solos; tulhos de obras, caliça ou metralha;
1981, regulamentada pelo Decreto nº
99. 274, de 6 de julho de 1990, e tendo Considerando a viabilidade técnica II - Geradores: são pessoas, físicas
em vista o disposto em seu Regimento e econômica de produção e uso de ou jurídicas, públicas ou privadas,
Interno, Anexo à Portaria nº 326, de 15 materiais provenientes da reciclagem responsáveis por atividades ou em-
de dezembro de 1994, e de resíduos da construção civil; e preendimentos que gerem os resídu-
os definidos nesta Resolução;
Considerando a política urbana de Considerando que a gestão integra-
pleno desenvolvimento da função da de resíduos da construção civil III - Transportadores: são as pesso-
social da cidade e da propriedade deverá proporcionar benefícios de as, físicas ou jurídicas, encarregadas
urbana, conforme disposto na Lei nº ordem social, econômica e ambien- da coleta e do transporte dos resí-
10. 257, de 10 de julho de 2001; tal, resolve: duos entre as fontes geradoras e as
áreas de destinação;
Considerando a necessidade de im- Art. 1º Estabelecer diretrizes, critérios
plementação de diretrizes para a efe- e procedimentos para a gestão dos IV - Agregado reciclado: é o material
tiva redução dos impactos ambien- resíduos da construção civil, disci- granular proveniente do beneficia-
tais gerados pelos resíduos oriundos plinando as ações necessárias de mento de resíduos de construção
da construção civil; forma a minimizar os impactos am- que apresentem características téc-
bientais. nicas para a aplicação em obras de
Considerando que a disposição de edificação, de infra-estrutura, em
resíduos da construção civil em lo- Art. 2º Para efeito desta Resolução, são aterros sanitários ou outras obras de
cais inadequados contribui para a adotadas as seguintes definições: engenharia;
degradação da qualidade ambiental;
I - Resíduos da construção civil: são V - Gerenciamento de resíduos: é o
Considerando que os resíduos da os provenientes de construções, sistema de gestão que visa reduzir,
construção civil representam um signi- reformas, reparos e demolições de reutilizar ou reciclar resíduos, incluin-
ficativo percentual dos resíduos sólidos obras de construção civil, e os re- do planejamento, responsabilidades,
produzidos nas áreas urbanas; sultantes da preparação e da esca- práticas, procedimentos e recursos
vação de terrenos, tais como: tijolos, para desenvolver e implementar as
Considerando que os geradores de blocos cerâmicos, concreto em ge- ações necessárias ao cumprimento
resíduos da construção civil devem ral, solos, rochas, metais, resinas, das etapas previstas em programas
ser responsáveis pelos resíduos das colas, tintas, madeiras e compen- e planos;
atividades de construção, reforma, sados, forros, argamassa, gesso,

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 29


VI - Reutilização: é o processo de re- reparos de pavimentação e de outras camente viáveis que permitam a sua
aplicação de um resíduo, sem trans- obras de infra-estrutura, inclusive so- reciclagem/recuperação, tais como
formação do mesmo; los provenientes de terraplanagem; os produtos oriundos do gesso;

VII - Reciclagem: é o processo de re- b) de construção, demolição, refor- IV - Classe D - são os resíduos perigo-
aproveitamento de um resíduo, após mas e reparos de edificações: com- sos oriundos do processo de constru-
ter sido submetido à transformação; ponentes cerâmicos (tijolos, blocos, ção, tais como: tintas, solventes, óleos
telhas, placas de revestimento etc. ), e outros, ou aqueles contaminados
VIII - Beneficiamento: é o ato de sub- argamassa e concreto; oriundos de demolições, reformas e
meter um resíduo à operações e/ou reparos de clínicas radiológicas, insta-
processos que tenham por objetivo c) de processo de fabricação e/ou lações industriais e outros.
dotá-los de condições que permitam demolição de peças pré-moldadas
que sejam utilizados como matéria- em concreto (blocos, tubos, meios- Art. 4º Os geradores deverão ter
prima ou produto; fios etc.) produzidas nos canteiros de como objetivo prioritário a não gera-
obras; ção de resíduos e, secundariamen-
IX - Aterro de resíduos da construção te, a redução, a reutilização, a reci-
civil: é a área onde serão empregadas clagem e a destinação final.
técnicas de disposição de resíduos
da construção civil Classe “A” no solo,
visando a reservação de materiais § 1º Os resíduos da construção civil
segregados de forma a possibilitar não poderão ser dispostos em ater-
seu uso futuro e/ou futura utilização ros de resíduos domiciliares, em áre-
da área, utilizando princípios de en- as de “bota fora”, em encostas, cor-
genharia para confiná-los ao menor Fonte: SLU-BH pos d`água, lotes vagos e em áreas
volume possível, sem causar danos à II - Classe B - são os resíduos recicláveis protegidas por Lei, obedecidos os
saúde pública e ao meio ambiente; para outras destinações, tais como: prazos definidos no art. 13 desta Re-
plásticos, papel/papelão, metais, vi- solução.
X - Áreas de destinação de resídu- dros, madeiras e outros;

os: são áreas destinadas ao bene- § 2º Os resíduos deverão ser desti-


ficiamento ou à disposição final de nados de acordo com o disposto no
resíduos. art. 10 desta Resolução.

Art. 3º Os resíduos da construção civil Art. 5º É instrumento para a imple-


deverão ser classificados, para efeito mentação da gestão dos resíduos
desta Resolução, da seguinte forma: da construção civil o Plano Integra-
Fonte: SLU-BH do de Gerenciamento de Resíduos
I - Classe A - são os resíduos reu- III - Classe C - são os resíduos para da Construção Civil, a ser elaborado
tilizáveis ou recicláveis como os de os quais não foram desenvolvidas pelos Municípios e pelo Distrito Fe-
construção, demolição, reformas e tecnologias ou aplicações economi- deral, o qual deverá incorporar:

30 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


I - Programa Municipal de Gerencia- V - o incentivo à reinserção dos re- enquadrados na legislação como
mento de Resíduos da Construção síduos reutilizáveis ou reciclados no objeto de licenciamento ambiental,
Civil; e ciclo produtivo; deverá ser apresentado juntamente
com o projeto do empreendimento
II - Projetos de Gerenciamento de VI - a definição de critérios para o ca- para análise pelo órgão competente
Resíduos da Construção Civil. dastramento de transportadores; do poder público municipal, em con-
formidade com o Programa Munici-
Art 6º Deverão constar do Plano Inte- VII - as ações de orientação, de fis- pal de Gerenciamento de Resíduos
grado de Gerenciamento de Resídu- calização e de controle dos agentes da Construção Civil.
os da Construção Civil: envolvidos;
§ 2º O Projeto de Gerenciamento de
I - as diretrizes técnicas e procedi- VIII - as ações educativas visando Resíduos da Construção Civil de ati-
mentos para o Programa Municipal reduzir a geração de resíduos e pos- vidades e empreendimentos sujeitos
de Gerenciamento de Resíduos da sibilitar a sua segregação. ao licenciamento ambiental, deverá
Construção Civil e para os Projetos ser analisado dentro do processo de
de Gerenciamento de Resíduos da Art 7º O Programa Municipal de Ge- licenciamento, junto ao órgão am-
Construção Civil a serem elaborados renciamento de Resíduos da Cons- biental competente.
pelos grandes geradores, possibili- trução Civil será elaborado, imple-
tando o exercício das responsabili- mentado e coordenado pelos muni- Art. 9º Os Projetos de Gerenciamento
dades de todos os geradores. cípios e pelo Distrito Federal, e de- de Resíduos da Construção Civil deve-
verá estabelecer diretrizes técnicas e rão contemplar as seguintes etapas:
II - o cadastramento de áreas, públi- procedimentos para o exercício das
cas ou privadas, aptas para recebi- responsabilidades dos pequenos I - caracterização: nesta etapa o ge-
mento, triagem e armazenamento geradores, em conformidade com rador deverá identificar e quantificar
temporário de pequenos volumes, os critérios técnicos do sistema de os resíduos;
em conformidade com o porte da limpeza urbana local.
área urbana municipal, possibilitando II - triagem: deverá ser realizada,
a destinação posterior dos resíduos Art. 8º Os Projetos de Gerenciamento preferencialmente, pelo gerador na
oriundos de pequenos geradores às de Resíduos da Construção Civil serão origem, ou ser realizada nas áreas
áreas de beneficiamento; elaborados e implementados pelos de destinação licenciadas para essa
geradores não enquadrados no artigo finalidade, respeitadas as classes
III - o estabelecimento de processos anterior e terão como objetivo estabe- de resíduos estabelecidas no art. 3º
de licenciamento para as áreas de lecer os procedimentos necessários desta Resolução;
beneficiamento e de disposição final para o manejo e destinação ambien-
de resíduos; talmente adequados dos resíduos. III - acondicionamento: o gerador
deve garantir o confinamento dos re-
IV - a proibição da disposição dos re- § 1º O Projeto de Gerenciamento de síduos após a geração até a etapa
síduos de construção em áreas não Resíduos da Construção Civil, de de transporte, assegurando em to-
licenciadas; empreendimentos e atividades não dos os casos em que seja possível,

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 31


as condições de reutilização e de II - Classe B: deverão ser reutilizados, de geradores de pequenos volumes,
reciclagem; reciclados ou encaminhados a áreas e o prazo máximo de dezoito meses
de armazenamento temporário, sen- para sua implementação.
IV - transporte: deverá ser realizado do dispostos de modo a permitir a
em conformidade com as etapas an- sua utilização ou reciclagem futura; Art. 12. Fica estabelecido o prazo
teriores e de acordo com as normas máximo de vinte e quatro meses
técnicas vigentes para o transporte III - Classe C: deverão ser armazena- para que os geradores, não enqua-
de resíduos; dos, transportados e destinados em drados no art. 7º, incluam os Proje-
conformidade com as normas técni- tos de Gerenciamento de Resíduos
V - destinação: deverá ser prevista cas especificas; da Construção Civil nos projetos de
de acordo com o estabelecido nesta obras a serem submetidos à aprova-
Resolução. IV - Classe D: deverão ser armaze- ção ou ao licenciamento dos órgãos
nados, transportados, reutilizados e competentes, conforme §§ 1º e 2º
Art. 10. Os resíduos da construção destinados em conformidade com do art. 8º.
civil deverão ser destinados das se- as normas técnicas especificas.
guintes formas: Art. 13. No prazo máximo de dezoi-
Art. 11. Fica estabelecido o prazo má- to meses os Municípios e o Distrito
I - Classe A: deverão ser reutilizados ximo de doze meses para que os mu- Federal deverão cessar a disposição
ou reciclados na forma de agrega- nicípios e o Distrito Federal elaborem de resíduos de construção civil em
dos, ou encaminhados a áreas de seus Planos Integrados de Gerencia- aterros de resíduos domiciliares e
aterro de resíduos da construção mento de Resíduos de Construção em áreas de “bota fora”.
civil, sendo dispostos de modo a Civil, contemplando os Programas
permitir a sua utilização ou recicla- Municipais de Gerenciamento de Re- Art. 14. Esta Resolução entra em vi-
gem futura; síduos de Construção Civil oriundos gor em 2 de janeiro de 2003.

JOSÉ CARLOS CARVALHO

Presidente do Conselho

Adaptado da Publicação no Diário Oficial da União em 17/07/2002

E agora Profissional, conhecida a Lei Federal, o que você proporia para o seu município? Para refletir
sobre a regulamentação da resolução CONAMA 307 em sua cidade, desenvolva a atividade proposta
a seguir, de preferência junto com um colega que também seja da sua cidade, de forma que possam
discutir sobre a realidade local.

32 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Atividade

Preencha os campos em branco de acordo com o que se pede, levando


em consideração as diretrizes estabelecidas pela Resolução CONAMA
307 e a realidade de seu município.

Plano Integrado de Gerenciamento de


Resíduos da Construção Civil

Composto por:

Responsável pela elaboração Responsável pela elaboração

Etapas constituintes:

Definção do gerador:

pequeno gerador: grande gerador:

Depois de preenchidos os espaços em branco, registre as principais


ações que o poder público municipal deve implementar para viabilizar
o Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil
em seu município.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 33


Surgiram dúvidas durante a realização da atividade? Como se elabora um Plano Municipal
de Gerenciamento Integrado de RCD? E como se implementa esse Plano em municípios que
têm realidades tão diferenciadas? Você deve estar se perguntando por onde começar, não é
mesmo? O primeiro passo para iniciar qualquer tipo de planejamento é fazer um diagnóstico
preciso sobre o problema que se pretende resolver. É isso que estudaremos a seguir: como
elaborar um diagnóstico da geração de resíduos de construção e demolição.

Diagnóstico dos RCD

Uns dos primeiros passos para se elaborar, de forma eficaz, um Plano Integrado de
Gerenciamento dos Resíduos de Construção Civil, nos moldes da Resolução 307 do CONAMA,
é realizar um diagnóstico com o levantamento das características locais, que indique a
quantidade (em massa e volume) de resíduos gerados localmente, identifique os agentes
envolvidos com a geração, coleta e transporte dos resíduos e inventarie as condições de
operação dos diversos agentes públicos e privados que atuam nesse segmento.

A grande quantidade de resíduos da indústria da construção civil é proveniente da perda


de materiais de construção nos canteiros de obras, resultante dos materiais desperdiçados
durante o processo de execução de um serviço, bem como as demolições e as reformas, que
promovem a eliminação de diversos componentes durante a utilização ou após o término do
serviço. Contribuem também para a geração desses resíduos as obras públicas ou privadas
de infra-estrutura.

Na fase de construção, o entulho gerado numa edificação é constituído pelas sobras dos
materiais adquiridos e danificados ao longo do processo produtivo, tais como restos de
concretos e argamassa produzidos e não utilizados, ao final do dia de trabalho, alvenaria
demolida, argamassa que cai durante a aplicação e não é reaproveitada, sobras de tubos,
aço, eletrodutos, entre outros.

Dentre os vários fatores que contribuem para a geração do entulho, vale citar:

∙∙ Definição e detalhamento insuficientes, em projetos de arquitetura, estrutura, formas,


instalações, entre outros;
∙∙ Qualidade inferior dos componentes de construção disponíveis no mercado;
∙∙ Mão-de-obra não qualificada;
∙∙ Ausência de procedimentos operacionais e mecanismos de controle de execução e
inspeção.

34 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


A maior parte desse resíduo é gerada pelo setor informal da construção (pequenas reformas,
autoconstrução, “construtor formiguinha”, ampliações etc. ). Estima-se que apenas 1:3 do
entulho seja gerado pelo setor formal, ou seja, pela indústria da construção civil (Lima &
Tamai, 1998 apud BIDONE, 2001).

O diagnóstico da situação dos resíduos de construção, na escala local, deve conter informações
sobre os quantitativos gerados; a identificação e caracterização dos agentes envolvidos nas
etapas de geração, remoção, recebimento e destinação final; e os diversos impactos que
efetivamente resultam de tais atividades, de modo a subsidiar a definição e priorização das
soluções adequadas para cada caso.

A seguir, transcrevemos o método sugerido por PINTO e GONZÁLES (2005), no Manual de. Manejo
e Gestão de Resíduos da Construção Civil, para estimar a geração de RCD de um município.

Método para estimar a geração de RCD

“Esse método se constitui na somatória de três indicadores:

1. a quantidade de resíduos provenientes de novas edificações construídas na cidade, num


determinado período de tempo (1 ou 2 anos);
2. a quantidade de resíduos gerados pelas reformas, ampliações e demolições regularmente
removidas no mesmo período de tempo;
3. a quantidade de resíduos removidos de deposições irregulares pela municipalidade, no
mesmo período de tempo.

1. Resíduos provenientes de novas edificações

Para a obtenção deste indicador, utilizam-se os registros da prefeitura municipal relacionados à apro-
vação de projetos de edificação (alvarás de construção), com a área construída correspondente.

O levantamento dos dados deve abranger um período de tempo necessário para que as
variações conjunturais da atividade construtiva decorrente de desequilíbrios da economia,
bem como das ocorrências sazonais que influem no ritmo construtivo (período de chuvas
mais intenso, por exemplo), sejam diluídas na amostragem.

Esse levantamento fornece o dado inicial para o cálculo do primeiro indicador. Ele deverá,
porém, ser expurgado dos dados relacionados às reformas, ampliações e demolições, uma
vez que a fonte mais confiável para a quantificação desses dados se concentra nos coletores
(caminhões, caçambas, carroças, etc).

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 35


A grande maioria dos projetos aprovados pelo poder público, em geral, se refere à execução
de novas edificações. Informações coletadas em alguns municípios, como referência, estão
expostas no quadro seguinte.

Participação das edificações novas, reformas e demolições no total de projetos


aprovados em diversos municípios (% dos projetos)

Município / período Edificações Novas Reformas e Demolições


Ampliações

Santo André (93/96) 76,2 19,0 4,8

Jundiaí (95/97) 90,9 2,2 6,9

Vitória da Conquista (95/97) 88,0 7,0 5,0

Uberlândia (96/00) 98,2 1,3 0,5

Fonte: I&T Informações e Técnicas

A estimativa de 150 Conhecida a média de área anual relativa às edificações novas no período anali-
kg/m2 construído sado, a estimativa da quantidade de resíduos gerada pela atividade construtiva
significa que: em é feita com base em indicadores de perdas pesquisados em diversas regiões
uma construção brasileiras. A quantidade de resíduos a ser removida durante as construções
de 100 m2, serão pode ser estimada em 150 kg/m2 construído.
gerados em torno
de 15. 000 kg de As pequenas edificações novas em bairros de baixa renda na periferia da zona
resíduos da cons- urbana (autoconstrução e outros eventos) muito provavelmente não estarão
trução civil. consideradas na área de construção detectada. Os resíduos gerados nessas
atividades acabam descartados em deposições irregulares. Dessa forma estarão
contemplados e analisados no item correspondente.

Indicador 1- Estimativa da quantidade de resíduos gerada em novas edificações

Período Número de anos Área total Média anual Total de Indicador dos
analisado Aprovada (m2) (m2) Resíduos Resíduos em
(anos) (t/ano) Novas Edificações

A B C D= C/B E=D x 0,150 F=E/(12x26)

(1) Para a definição desse indicador, considerar 26 dias ao mês.


Fonte: I&T Informações e Técnicas

36 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


2 - Resíduos gerados pelas reformas, ampliações e demolições

As reformas, ampliações e demolições, nas raras ocasiões em que são levadas à aprovação
dos órgãos municipais, surgem como atividades com pequena área construída, que não
traduzem a elevada geração de resíduos ocorrida.

Informações obtidas dos agentes coletores, principalmente aqueles organizados na forma


de empresas que atuam na cidade, revelarão o percentual do movimento referente às ativi-
dades de reformas, ampliações e demolições. Em várias localidades diagnosticadas, esse
percentual é sempre muito elevado, conforme demonstrado no quadro a seguir:

Participação das reformas, ampliações e demolições no total de


viagens realizadas, em vários municípios (%)

Viagens nos municípios Reformas, Construção de Construção de Limpeza de terre-


ampliações e residências novas prédios e edifi- no e coleta em
demolições cações acima de indústrias
300 m2 e serviços
Santo André 44 26 15 15
(base 97)
Jundiaí 54 22 9 15
(base 97)
Vitória da Conquista 80 10 2 8
(base 97)
Uberlândia 42 20 12 25
(base 2000)
Fonte: I&T Informações e Técnicas

A pesquisa de informações junto aos coletores deve reconhecer, como no quadro ante-
rior, a origem dos resíduos coletados, o tipo de equipamento de transporte utilizado e o
destino dado ao material. Pode ser necessário realizar a pesquisa em apenas alguns cole-
tores, compondo uma amostra segura das condições de operação do total dos coletores
estimado para o município.

Estimado o número total de viagens e a massa de resíduos transportada pelos agentes cole-
tores, o indicador da geração de resíduos na atividade é calculado considerando-se apenas
o percentual coletado das reformas, ampliações e demolições.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 37


Indicador 2 - Estimativa da quantidade de resíduos gerada
em reformas, ampliações e demolições.

Número de Massa total trans- Viagens em reformas, Indicador dos resíduos em


Viagens mensais portada (t/mês) ampliações/demolições (%) reformas, ampliações e demolições
(t/dia) (1)

A B C D=(BxC)/26

(1) Para a defi nição desse indicador considerar 26 dias ao mês.


Fonte: I&T Informações e Técnicas

3 - Resíduos removidos de deposições irregulares

Este indicador deve ser obtido no setor responsável pelos serviços de limpeza urbana. Os
resíduos de disposições irregulares são removidos por caminhões com caçambas basculantes,
para os quais podem ser adotadas capacidades de carga conforme quadro a seguir.

Características gerais dos agentes coletores no município

Equipamentos mais utilizados Capacidade volumétrica Carga típica (t/viagem)


(m3/viagem)

Caminhões com caçambas


4,00 4,80
estacionárias (1)

Caminhões com caçamba basculante


4,00 4,80
ou de madeira (1)

Caminhonetes (2) 2,00 1,00

Carroças de tração animal (2) 0,52 0,25

(1) Os caminhões têm capacidades diversas; os números indicados podem ser tomados como referência para os cálculos.
(2) As caminhonetes e carroças costumam transportar os materiais mais leves; os números indicados referem-se aos limites de capacidade e podem ser tomados como referência.
Fonte: I&T Informações e Técnicas

Por ser comum nesses serviços incluir a remoção de outros resíduos, como os volumosos e
podas, os dados devem contabilizar apenas o percentual referente aos resíduos da construção
e demolição.

38 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Indicador 3 - Estimativa da quantidade de resíduos recolhida
em deposições irregulares

No de veículos No de viagens Viagens exclusivas Massa de resíduos de Indicador dos


envolvidos mensais com resíduos de construção trans-portada resí-duos em
construção (%) (1) (t/mês) disposições
irregulares (t/dia) (2)

A B C D= BxCxcarga típica E=D/26


(1) A massa dos resíduos pode ser obtida dos levantamentos feitos no quadro de Características dos Agentes Coletores
(2) Para a definição desse indicador, considerar 26 dias trabalhados ao mês.
Fonte: I&T Informações e Técnicas

4 - Estimativa do total de RCD gerado no município

Após o levantamento de informações e a definição dos três indicadores necessários, é possível


estimar o quantitativo total de resíduos de construção e demolição (RCD) gerado na cidade.
Um cuidado especial deve ser tomado para que aspectos específicos não sejam duplamente
considerados em sobreposição.

O método desenvolvido expurga os eventos de reformas, ampliações e demolições no cálculo


do primeiro indicador e, na junção final das informações, deve ser decidido se o indicador
referente às disposições irregulares será incluído. As disposições irregulares ao longo dos
cursos d’água e das vias públicas, muitas vezes, são o resultado do descarte inadequado
dos coletores que atuam com pequenos veículos. Para o cômputo final, o indicador refe-
rente à limpeza das deposições irregulares não deve ser considerado, caso o registro do
movimento dos pequenos coletores se mostre consistente e esteja agregado aos dados dos
outros coletores.

Estimativa do total de resíduos gerados no município

Indicador de Indicador dos Indicador de Estimativa População Taxa


resíduos em novas resíduos em resíduos em geração de atual (t/ano x hab. )
edifi-cações (t/dia) reformas/amplia- disposições RCD (t/dia)
ções demolições ir-regulares
(t/dia) (t/d)

A B C D-A+B+C E F=(Dx26x12)/E

Obs.: os indicadores devem estar referenciados no mesmo período de anos e em 26 dias trabalhados ao mês.
Fonte: I&T Informações e Técnicas

Vamos colocar esse método em prática, caro Profissional? A próxima atividade é um Estudo
de Caso que simula a situação de municípios fictícios para o qual você coletivamente deverá
realizar o diagnóstico da geração dos resíduos de construção e demolição.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 39


Atividade

Estudo de Caso

Uma típica região metropolitana brasileira é composta por três


municípios:

Município A – sede da região metropolitana sofreu intenso processo


de urbanização nas décadas de 70 e 80 e, atual-
mente, apresenta baixa taxa de crescimento – 1% a.
a. Contudo encontra-se em processo de renovação
urbana, principalmente em sua área central, com alto
índice de verticalização (prédios) e adensamento.

Município B – atravessa um processo de industrialização com franco


crescimento de sua economia e apresenta altas taxas
de crescimento populacional, com média de 3,5%a. a.
Como conseqüência dessa industrialização a cidade se
expandiu, com surgimento de novos bairros e intensa
atividade da indústria da construção civil.

Município C – é o menos desenvolvido economicamente, embora


apresente taxa de crescimento vegetativo de 3%a. a,
funcionando como cidade dormitório dos outros dois
municípios. Extremamente carente de infra-estrutura
urbana, possui muitos loteamentos irregulares, sendo
a maior parte de sua população considerada de baixa
renda, com rendimento médio familiar até 3 salários
mínimos por mês. A expansão da cidade ocorre basi-
camente através de processos de auto-construção.

Município A:

No Censo 2. 000, a população deste município era de 2. 200. 000


habitantes, sendo que nos últimos dois anos (2005 e 2006), foram
emitidos 5. 200 alvarás de início de obra, com área média das edifi-
cações de 250m2.

40 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Pesquisa realizada junto ao Sindicato de Transportadores de Entulho
apontou que, para esse mesmo período (2005/06), foram realizadas
4. 992 viagens de caminhão (caçamba e basculante) transportando
entulho de construção. Desse total, 70% eram provenientes de obras
de reformas, ampliações e demolições.

Dengue: doença
A Secretaria Municipal de Limpeza Urbana não coleta os resíduos de
infecciosa, de
construção civil, mas possui uma equipe para limpeza de áreas de dispo-
origem viral,
sições clandestinas, tendo em vista a necessidade de controlar o surto
transmitida ao
de dengue que atinge a cidade já há dois anos. Nesse período foram
homem pela picada
identificados 250 pontos de descartes clandestinos, com portes variados. de mosquitos
Segundo infromações foram realizadas, no ano de 2006, 1. 560 viagens da espécie.
de caminhão basculante para retirada do material depositado nessas Aedes aegypti,
áreas clandestinas e estima-se que, desse total, aproximadamente 40% caracterizada
se constituía de poda de áreas verdes e objetos volumosos. por febre alta,
cefaléia, dor no
Município B: corpo, fadiga; febre
dengue.

Em 2000, a cidade contava com 871. 000 habitantes e, no ano de


2006, foram emitidos Alvarás de Início de Obras que correspondem
a 400. 000 m2 construídos, sendo que 45% dessa área correspondem
a novas construções.

Quanto às obras de reformas, ampliações e demolições, tem-se pouco


conhecimento sobre a geração de resíduos, mas a principal empresa
de transporte de caçambas que atua na cidade afirma ter realizado no
último ano 1. 872 viagens de caminhão brook (com caçamba estacio-
nária) carregadas de entulho de construção civil e 50% desse material
foi retirado de obras de reformas, ampliações e demolições.

Esse município terceiriza os serviços de coleta e a empresa contratada


não está autorizada a coletar entulho de construção civil. Regularmente,
2 caminhões da própria Prefeitura realizam a limpeza de córregos e
pontos de disposições clandestinas. Embora esses trabalhos não sejam
criteriosamente acompanhados para a apuração de sua eficiência,
sabe-se que em média, cada caminhão realiza 24 viagens semanais
para dispor adequadamente os resíduos retirados das disposições
clandestinas, sendo que aproximadamente 35% desses resíduos são
provenientes das atividades de construção civil.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 41


Município C

Em contagem populacional realizada em 2005, essa cidade possuía


252. 200 habitantes e a Prefeitura local não possui nenhum controle
sobre as novas edificações construídas no município.

A cidade possui um bota-fora particular que recebe resíduos de


construção civil visando regularizar o terreno para futura utilização.
O proprietário dessa área informou que, nos anos de 2005 e 2006
recebeu 1. 248 viagens de diversos caminhões carregando entulho
de construção civil.

Além dessa informação, foi possível identificar 9 disposições clandes-


tinas que são regularmente limpas pela Prefeitura. A maioria delas é
utilizada por pequenos transportadores (carroceiros, em geral), que
sobrevivem dos serviços de retirada e transporte do entulho gerado
nas obras de reformas. Em média, as 9 áreas, juntas, recebem 2. 340
viagens de carroceiros, por mês, sendo 80% constituído por resíduos
de construção civil.

Considerando as informações apresentadas sobre os 3 municípios


e aplicando o Método de Estimativa de Geração de RCD, estime a
quantidade de RCD gerada por habitante/ano, em cada município.
Utilize as tabelas abaixo.

42 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Município A

Indicador 1- Quantidade de resíduos gerada em novas edificações.

Período Número Área total Média anual (m2) Total de Indicador dos
analisado de anos Aprovada (m2) Resíduos Resíduos em
(anos) (t/ano) Novas Edificações
(t/dia)

A= B= C= D= C/B E=D x 0,150 F=E/(12x26)

Indicador 2 - Quantidade de resíduos gerados em reformas,


ampliações e demolições

Número de Massa total trans-portada Viagens em reformas, Indicador dos resíduos em


Viagens mensais (t/mês) ampliações/demolições (%) reformas, ampliações e
demolições (t/dia) (1)

A= B= C= D=(BxC)/26

Indicador 3 - Estimativa da quantidade de resíduos


recolhida em deposições irregulares

No de veículos No de viagens Viagens exclusivas Massa de resíduos Indicador dos resí-


envolvidos mensais com resíduos de de construção trans- duos em disposições
construção (%) portada (1) (t/mês) irregulares (t/dia) (2)

A= B= C= D= BxCxcarga típica E=D/26

Estimativa do total de resíduos gerados no município

Indicador de Indicador dos Indicador de Estimativa População Taxa


resíduos em novas resíduos em resíduos em geração de atual (t/ano x hab. )
edifi-cações re-formas/ disposições RCD (t/dia)
(t/dia) ampliações ir-regulares
demolições (t/d)
(t/dia)

A= B= C= D=A+B+C E F=(Dx26x12)/E

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 43


Município B

Indicador 1- Quantidade de resíduos gerada em novas edificações.

Período Número Área total Média anual (m2) Total de Indicador dos
analisado de anos Aprovada (m2) Resíduos Resíduos em
(anos) (t/ano) Novas Edificações
(t/dia)

A= B= C= D= C/B E=D x 0,150 F=E/(12x26)

Indicador 2 - Quantidade de resíduos gerados em reformas,


ampliações e demolições

Número de Massa total trans-portada Viagens em reformas, Indicador dos resíduos em


Viagens mensais (t/mês) ampliações/demolições (%) reformas, ampliações e
demolições (t/dia) (1)

A= B= C= D=(BxC)/26

Indicador 3 - Estimativa da quantidade de resíduos


recolhida em deposições irregulares

No de veículos No de viagens Viagens exclusivas Massa de resíduos Indicador dos resí-


envolvidos mensais com resíduos de de construção trans- duos em disposições
construção (%) portada (1) (t/mês) irregulares (t/dia) (2)

A= B= C= D= BxCxcarga típica E=D/26

Estimativa do total de resíduos gerados no município

Indicador de Indicador dos Indicador de Estimativa População Taxa


resíduos em novas resíduos em resíduos em geração de atual (t/ano x hab. )
edifi-cações re-formas/ disposições RCD (t/dia)
(t/dia) ampliações ir-regulares
demolições (t/d)
(t/dia)

A= B= C= D=A+B+C E F=(Dx26x12)/E

44 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Município C

Indicador 1- Quantidade de resíduos gerada em novas edificações.

Período Número Área total Média anual (m2) Total de Indicador dos
analisado de anos Aprovada (m2) Resíduos Resíduos em
(anos) (t/ano) Novas Edificações
(t/dia)

A= B= C= D= C/B E=D x 0,150 F=E/(12x26)

Indicador 2 - Quantidade de resíduos gerados em reformas,


ampliações e demolições

Número de Massa total trans-portada Viagens em reformas, Indicador dos resíduos em


Viagens mensais (t/mês) ampliações/demolições (%) reformas, ampliações e
demolições (t/dia) (1)

A= B= C= D=(BxC)/26

Indicador 3 - Estimativa da quantidade de resíduos


recolhida em deposições irregulares

No de veículos No de viagens Viagens exclusivas Massa de resíduos Indicador dos resí-


envolvidos mensais com resíduos de de construção trans- duos em disposições
construção (%) portada (1) (t/mês) irregulares (t/dia) (2)

A= B= C= D= BxCxcarga típica E=D/26

Estimativa do total de resíduos gerados no município

Indicador de Indicador dos Indicador de Estimativa População Taxa


resíduos em novas resíduos em resíduos em geração de atual (t/ano x hab. )
edifi-cações re-formas/ disposições RCD (t/dia)
(t/dia) ampliações ir-regulares
demolições (t/d)
(t/dia)

A= B= C= D=A+B+C E F=(Dx26x12)/E

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 45


Bom trabalho, Profissional. Esses três municípios ilustram a realidade de algumas cidades
brasileiras. O quadro abaixo apresenta a situação de alguns municípios brasileiros, quanto
à geração de RCD.

Condições de geração de resíduos da construção em alguns municípios

Municípios População Novas Reformas/am Remoção Total RCD Taxa (t/ano


Censo 2000 edificações pliações/ disposições (t/dia) por
(mil) (t/dia) demo-lições (t/dia) hab. )
(t/dia)

Santo André 649 477 536 - 1. 013 0,51


(97)

Jundiaí (97) 323 364 348 - 712 0,76

Vitória. da 262 57 253 - 310 0,40


Conquista (97)

Uberlândia 501 359 359 241 958 0,68


(00)
Fonte: I&T Informações e Técnicas

Agora que você já sabe fazer um diagnóstico para estimar a quantidade de RCD gerada em
sua cidade e conhece as diretrizes da Resolução CONAMA 307, qual será o próximo passo?

Se você pensou em: Elaborar o Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos de Construção


e Demolição conforme as diretrizes contidas na Resolução CONAMA 307. Você está correto.
Esse é o assunto do próximo conceito chave.

Aqui encerramos mais um conceito chave no qual foi apresentando um conceito de resí-
duos da construção civil e demolição. Vimos que há uma classificação para esses resíduos
estabelecida pela Resolução CONAMA 307 e que a mesma estabelece diretrizes para o bom
gerenciamento desse tipo de resíduos E por fim vimos como estimar a quantidade gerada
de resíduos da construção e demolição de um município qualquer.

46 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Plano Integrado de Gerenciamento de OBJETIVOS:

RCD - Apresentar e
discutir o processo
para elaboração
dos Planos
Integrados para
Gerenciamento de
Quando os resíduos sólidos não são bem cuidados, eles causam diversos proble- RCD;
mas. No caso dos resíduos da construção civil, alguns desses problemas são:
entupimento dos dispositivos de micro e macro drenagem urbana (bocas-de- - Discutir os
lobo, sarjetas, galerias etc), assoreamento de corpos d’água, dificuldades para o critérios para
trânsito de pedestres e veículos, deslizamentos de bota-foras mal executados, elaboração e
entre outros. Para que esses problemas sejam minimizados é necessário gerenciar implementação dos
os resíduos corretamente. Mas o que é gerenciamento de resíduos, em especial Programas Munici-
para os resíduos da construção e demolição? pais e Projetos de
gerenciamento de
RCD;
Assoreamento: processo de acumulação de areia e terra nos
fundos de vale, diminuindo a profundidade de lagoas e rios. - Discutir a impor-
tância da valoração
de RCD e os
meios adequados
para atingir essa
finalidade.
Fonte: SLU-BH

Como foi visto no conceito chave anterior, o planejamento das ações se inicia com a reali-
zação de um bom diagnóstico sobre a situação atual dos resíduos de construção civil,
cabendo ao poder público municipal a iniciativa de propor um Plano de Gerenciamento
Integrado de RCD que vise à melhoria da qualidade ambiental e urbana.

De modo geral, o gerenciamento de RCD é uma seqüência de ações ordena-


das por etapas que se iniciam na fase de concepção dos projetos e na escolha
das tecnologias construtivas com o objetivo de reduzir a geração de resíduos,

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 47


evitando os desperdícios de materiais. Esse objetivo deve ser perseguido durante toda a
obra, com a implantação de procedimentos para racionalização da construção. Mas mesmo
com esses cuidados, a geração de RCD é inevitável. Nesse caso, a gestão dos resíduos no
canteiro de obras pressupõe a segregação dos resíduos por classe, de modo a viabilizar sua
reutilização ou reciclagem.

Repare, Profissional, que o que foi dito até agora, refere-se à adoção do princípio dos 3Rs em
uma nova construção ou reforma. No caso de obras, onde não há espaço para a segregação
na origem os resíduos deverão ser transportados até local adequado a essa finalidade: as
áreas de triagem e transbordo – ATT. As etapas que se seguem à segregação são: acondicio-
namento, coleta, transporte, tratamento ou valoração e disposição final. Entretanto, para que
o gerenciamento seja bem sucedido e seus objetivos sejam alcançados, é necessário que as
etapas estejam bem planejadas e integradas, ou seja, se uma ou alguma delas falhar, todo o
gerenciamento fica comprometido e os problemas já discutidos reaparecerão. Para trabalhar
esse conceito de integração de etapas, vamos realizar a atividade proposta a seguir.

Atividade

Em grupos, você e seus colegas montarão um boneco de cartolina.


Cada grupo deve escolher uma parte do corpo para responder as
perguntas correspondentes. Para cada parte do boneco (cabeça,
tronco, braços, mãos, pernas e pés) haverá duas perguntas:

a) cabeça:
Como você vê a realidade do seu município no que diz respeito à gera-
ção e disposição final dos resíduos de construção e demolição?
O que as pessoas falam sobre do desperdício dos materiais da cons-
trução civil?

b) tronco:
O que você sente quando vê uma pilha de material de construção
depositado fora na margem de um córrego?
Como você, profissional da limpeza urbana, percebe o seu papel para
contribuir na melhoria das condições ambientais da sua cidade?

c) braços:
O que pode e deve ser feito para melhorar a situação da degradação
ambiental urbana provocada pelos RCD?

48 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Com quem os administradores municipais podem “dar os braços”
na luta pela melhoria das condições ambientais urbanas? Justifique
sua resposta.

d) mãos:
Dentre as suas atribuições e responsabilidades profissionais, como
o seu município trata a questão dos resíduos da construção e
demolição?
Com qual suporte se pode contar para desenvolver essa ação? (pesso-
as, materiais, ferramentas, finanças). Dê a sua opinião.

e) pernas:

Qual a direção que os administradores municipais devem tomar no


sentido de solucionar os problemas decorrentes das deposições
irregulares de entulho?
Que caminhos precisam ser percorridos para desenvolver ações
adequadas ao correto tratamento dos resíduos de construção civil?

f) pés:
Que caminhos precisam ser percorridos para implantação do Plano
de Gerenciamento Integrado de RCD?
Quais são as bases necessárias para alcançar a sustentabilidade das
ações implementadas pelos Planos de Gerenciamento de RCD? O
município onde você trabalha tem um plano desse tipo?

Cada grupo deverá desenhar na cartolina a sua parte do corpo,


registrando nesse desenho, as respostas às perguntas formuladas.
Ao final da atividade, o boneco será montado e as respostas serão
apresentadas e discutidas por todos os participantes.

E ai Profissional, como foi a atividade de montagem do boneco? Foi possível perceber que
se uma, ou algumas, das partes do boneco não estiver integrada às demais, o boneco não
desempenhará suas funções plenamente? Como essa atividade pode estar associada ao
gerenciamento de resíduos da construção e demolição? Para nos ajudar a responder essa
última pergunta, vamos continuar lendo e desenvolvendo nossas atividades.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 49


O Plano Integrado de Gerenciamento de RCD, conforme estabelecido pela Resolução CONAMA
307, é um importante instrumento de gestão para superação de graves problemas ambientais,
ao definir responsabilidades e deveres do poder público e da sociedade em geral. Cabe aos
municípios assumir a solução para os problemas de destinação dos resíduos dos peque-
nos geradores, bem como o ordenamento da ação dos agentes envolvidos com os grandes
geradores. Conforme visto anteriormente, os Planos Integrados compõem-se de:

1. Programa Municipal e;
2. Projetos de Gerenciamento de RCD.

1 – Programa Municipal
Ao poder público compete prover a cidade de uma rede de locais adequados para recepção
dos resíduos provenientes dos pequenos transportadores e geradores, de modo que esses
possam assumir suas responsabilidades na destinação correta dos resíduos da construção
civil e objetos volumosos decorrentes de sua própria atividade. É de total responsabilidade
do poder público a coleta dos materiais depositados nesses locais e a sua correta destinação
final. Essa rede de pontos de entrega voluntária deverá ser distribuída de forma a atender
toda a área urbanizada, sendo que o critério preferencial para sua distribuição espacial são
as bacias hidrográficas inseridas na cidade.

Você sabia?

Bacia Hidrográfica é uma área natural cujos limites


são definidos pelos pontos mais altos do relevo (divi-
sores de água ou espigões dos montes ou montanhas)
e dentro da qual a água da chuva é drenada superfi-
cialmente por um curso de água principal até sua saída
da bacia, no local mais baixo do relevo, ou seja, na foz
do curso de água.

Para a definição do local de implantação desses equipamentos públicos deve-se considerar


a titularidade do terreno, preferencialmente público (ou em áreas privadas formalmente
cedidas à administração municipal), incorporar fluxos já reconhecidos para os resíduos, sem
alterá-los, fazendo-se com que as novas unidades se instalem próximo às atuais deposi-
ções irregulares, ou em sua vizinhança imediata. Os pontos de entrega voluntária devem

50 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


ser divulgados entre a população da redondeza (geradora potencial de RCD), bem como
aos transportadores desses resíduos. A concentração de pequenos volumes nos pontos
de entrega permite maior eficiência à sua remoção adequada, com o estabelecimento de
circuitos de coleta pela administração pública.

Essas unidades de entrega voluntária, conhecidas como Unidades de Recebimento de Pequenos


Volumes – URPVs - compreendem instalações simplificadas, constituídas por: terreno cercado
(área em torno de 400 m²), dotado de ponto de água e de energia elétrica; instalações de
apoio simplificadas (guarita e banheiro); caçambas estacionárias para a descarga do material
e dois pátios separados por uma contenção com 90 cm de altura.

Elas têm por finalidade receber resíduos de construção, podas e outros objetos volumosos
(móveis, eletrodomésticos, etc. ), que são separados de acordo com sua natureza. Dessa
forma, essas unidades contribuem para racionalizar a remoção e o reaproveitamento dos
resíduos, servindo como postos para a entrega voluntária de materiais de coleta seletiva,
efetuada pela população e do material coletado pelos carroceiros (principalmente o entulho).
Servem também como ponto de referência e contato com os carroceiros da região, onde se
encontram instaladas, que se constituem nos principais usuários dessas unidades
Fonte: SLU-BH

Fonte: SLU-BH
Fonte: SLU-BH

Vamos assistir ao vídeo no qual é apresentado o funcionamento das URPVs e discutir a


possibilidade de implantação dessas unidades nos municípios.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 51


A implantação dos pontos de entrega deve ser acompanhada de ações de recuperação dos
locais de disposições irregulares presentes na bacia hidrográfica, possibilitando o resgate
da qualidade ambiental e urbana. Para sustentabilidade dessas ações elas devem ser acom-
panhadas de programa de comunicação voltado à promoção de informação concentrada,
seguidas de fiscalização constante, com vistas à alteração de cultura e à adesão de todos
ao compromisso com o correto descarte e destinação dos resíduos.

Por fim, com intuito de auxiliar no gerenciamento dos resíduos da construção e demolição
alguns municípios contam com parcerias como a que ocorre entre o poder municipal de
Belo Horizonte e os Carroceiros. Vamos ler o texto “Programas de Correção Ambiental e
Reciclagem com Carroceiros” e ver como essa parceria traz resultados positivos para os
serviços de limpeza urbana.

Programas de Correção Ambiental e Reciclagem


com Carroceiros
O trabalho realizado pelo Programa de Reciclagem com os Carroceiros tem como objetivo a
aproximação do poder público e dos carroceiros, possibilitando um conhecimento mútuo e uma
relação de parceria e cooperação em busca de melhorias para a limpeza urbana de Belo Hori-
zonte. Essa parceria caracteriza-se por uma relação com responsabilidades compartilhadas.

O Programa desenvolve-se em três frentes: social, técnica e veterinária. Os trabalhos desse pro-
jeto são realizados de maneira integrada, dando aos carroceiros, que atuam ativamente na frente
de limpeza urbana, o papel principal.

Nas atividades da frente social, busca-se co-


Fonte: SLU-BH

nhecer melhor os carroceiros em sua maneira


de interação com a comunidade, com o ob-
jetivo de incentivá-los a se organizarem como
categoria profissional.
Fonte: SLU-BH

Na frente técnica, a atuação da Superinten-


dência de Limpeza Urbana (SLU) visa informar,
educar e conscientizar o carroceiro das causas
negativas da deposição indiscriminada do en-
tulho na malha urbana.

52 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Fonte: SLU-BH

Por fim, na frente veterinária, são realizadas, na


Escola de Veterinária da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG), interações de assis-
tência à saúde animal e ao saneamento urba-
no, seguidas de reuniões e palestras sobre os
diversos temas.
Fonte: SLU-BH

O Programa Carroceiro tem um papel relevante


na sociedade, pois a população participa dire-
tamente do processo, de maneira responsável,
uma vez que o entulho é levado aos diversos
locais autorizados através do próprio muní-
cipe, e dos carroceiros, preservando o meio
ambiente, eliminando os pontos de deposição
clandestina e contribuindo para um ambiente
urbano mais saudável.

2 - Projetos de Gerenciamento de RCD

A elaboração dos Projetos de Gerenciamento é obrigatória para os grandes geradores de


resíduos, que devem implantá-los nos canteiros das obras. Para viabilizar esses projetos é
imprescindível que o município disponha de uma rede de serviços abrangendo todos os elos
da cadeia operativa relacionada ao transporte, manejo, transformação e disposição final dos
grandes volumes de resíduos da construção civil. Inclui, além dos serviços, as instalações
físicas para a realização das diversas operações, viabilizando aos agentes de maior porte
o exercício de suas responsabilidades com relação aos seus resíduos. Caracteriza-se como
um conjunto de atividades privadas regulamentado pelo poder público municipal.

O destino a ser dado ao RCD deve priorizar as soluções de reutilização e reciclagem ou, quando
inevitável, adotar a alternativa do Aterro de Resíduos de Construção Civil indicado na Resolução
307 do CONAMA e normatizado pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR-
15113. Esse novo tipo de aterro poderá ser executado em duas hipóteses: ou para a correção
de nível de terrenos, visando a uma ocupação futura dos mesmos (disposição definitiva); ou
para a reservação (disposição temporária) dos resíduos de concretos, alvenarias, argamassas,
asfalto de pavimentação e de solos limpos, visando ao seu aproveitamento futuro.

As áreas para manejo dos grandes volumes, conhecidas como ATT (Áreas de Triagem e
Transbordo), devem ser operadas, preferencialmente, por agentes privados, os responsáveis

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 53


pela geração e coleta da maior parte dos resíduos. É importante o estabelecimento de parce-
rias com entidades de representação de empresas coletoras e construtoras eventualmente
existentes, para a constituição de uma estrutura de gestão compartilhada. Na impossibilidade
de formação de parcerias, é conveniente incentivar a ação direta dos agentes privados, seja
por meio de uma mera regulamentação da atividade ou pela realização de licitação para
operação de áreas públicas para triagem, transbordo, reciclagem e/ou reservação de resíduos
da construção provenientes da coleta pública corretiva, com possibilidade de recepção dos
resíduos de origem privada. Para que sejam criadas condições mais favoráveis à transição
dos agentes privados para o novo sistema, a administração municipal pode introduzir ações
incentivadoras, tais como:

• Facilitar o acesso a alternativas tecnológicas adequadas para a destinação de resíduos


mais problemáticos;
• Criar a obrigatoriedade de consumo de agregados resultantes da adequada reciclagem
de RCD em determinados tipos de obras públicas;
• Fornecer apoio na obtenção de financiamentos para investimentos nas áreas de
operação.

A consolidação das novas áreas pressupõe o exercício de uma fiscalização rigorosa do


sistema — condição importante para a municipalidade atingir progressivamente suas metas:
eliminar os bota-foras; coibir a presença de coletores irregulares e descompromissados com
o sistema; disciplinar a ação dos geradores e garantir o uso adequado dos equipamentos de
coleta e das instalações de apoio.

Agora que conhecemos um pouco mais a respeito de gerenciamento e suas etapas e antes
de nos aprofundarmos nos demais assuntos, vamos realizar uma atividade coletivamente.

Atividade
Com base no Diagnóstico de RCD que seu grupo elaborou no concei-
to chave anterior, faça uma proposta para um Plano Integrado de
Gerenciamento de RCD, definindo suas diretrizes e as redes de áreas
necessárias à sua implantação, de forma a atender os pequenos e
grandes geradores. Registre o Plano proposto para ser apresentado
e discutido com toda a turma.

54 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Profissional, durante a elaboração da atividade, você percebeu que existe uma lacuna nos temas
discutidos até o momento? O que fazer com os resíduos de construção e demolição que têm
potencial para ser reciclado? Separá-los do restante dos materiais para fazer o que? Onde que o
entulho reciclado poderia ser aproveitado? São essas perguntas que vamos discutir em seguida.

Valoração dos Resíduos de Construção e Demolição (RDC)

Sob a ótica econômica, resíduo é definido como uma matéria sem valor. Seus valores de uso
e de troca são nulos ou negativos para seu detentor ou proprietário. Ou seja, uma matéria
constitui um resíduo sempre que seu responsável necessita pagar para se desfazer dela.

A Organização Mundial da Saúde define-o como “qualquer coisa que o proprietário não
quer mais, em um certo local e em um certo momento, e que não apresenta valor comer-
cial, corrente ou percebido”. A Comunidade Européia, por sua vez, estabelece que resíduo é
“toda substância ou todo objeto cujo detentor se desfaz ou tem a obrigação de se desfazer
em virtude de disposições nacionais em vigor”.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 55


Na ausência de valores de uso e de demanda, a ocupação de espaço e outros incômodos
ocasionados conduzem não somente a seu desprezo, mas também à sua eliminação. Em
função das conceituações anteriores, a noção de resíduo deve ser considerada relativa tanto
no tempo quanto no espaço: um valor de uso ou utilidade nulo para um detentor pode
corresponder a um valor de uso positivo para outro.

O status de resíduo é, portanto, provisório, transitório, sendo dependente dos estados da


economia, da tecnologia e da informação. Porém, além das circunstâncias econômicas e
tecnológicas do momento, o futuro do resíduo, seu abandono ou sua conservação pelo
detentor, é fortemente condicionado pelo contexto psicológico e sociológico, fatores que
também evoluem no tempo e no espaço.

Quando afirmamos que um pedaço de madeira, de telha, um bloco de cimento ou um tijo-


lo são resíduos da construção civil, estamos reforçando a idéia de que eles não têm mais
valor e devem ser descartados. No entanto, se esses materiais forem coletados e tratados
de acordo com suas características, eles poderão ser reutilizados ou reciclados ao invés de
descartados. Pode-se dizer que, ao tratar esses materiais de forma diferenciada, estamos
agregando valor a eles e introduzindo-os novamente na cadeia da indústria da construção
civil. Essa é uma das principais metas do Gerenciamento de RCD e que se constitui um grande
desafio para toda a sociedade. E como se agrega valor aos RCD?

Para responder a essas perguntas vamos realizar uma atividade coletiva cujos objetivos são:
apresentar e refletir sobre as formas de valoração dos resíduos da construção e demolição.

Atividade

Coletivamente, você e seus colegas receberão um tabuleiro com uma


trilha desenhada, tampas de garrafas pets coloridas e dados. A trilha é
composta de casas e nelas pode haver perguntas ou estar vazias. Assim
que a ordem dos jogadores for estabelecida, o primeiro participante
iniciará sua jogada e caminhará pela trilha de acordo com o número
representado no dado. Quando cair em uma casa onde houver pergunta,
ele deverá respondê-la e seguir as instruções que constam na trilha, de
acordo com sua resposta. Terminando a sua jogada o participante passará
a vez para o próximo jogador. Quando o jogador cair em uma casa vazia,
sem perguntas, permanecerá nela e passará a jogada para o próximo
participante. Será ganhador o grupo que chegar primeiro à Estação de
Reciclagem, última casa da trilha, e encerrar o jogo.

56 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


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Essa mesma atividade se encontra no software “Bacia Hidrográfica Virtual.

Como foi a atividade, Profissional? Você percebeu quais as formas de valoração podem ser adotadas
para os resíduos da construção e demolição? São muitas as formas de agregar valor aos resíduos
de construção. A leitura do texto “Agregando Valor aos RCD” nos esclarecerá mais a respeito.

Agregando Valor aos RCD


As formas de valoração dos resíduos da cons- elas estão Roma, na Antiguidade, e Londres, Ber-
trução e demolição estão baseadas no princí- lim e Varsóvia, após a Segunda Guerra Mundial.
pio dos 3Rs que significam: Porém, o uso significativo do entulho reciclado foi
na época da Segunda Guerra Mundial, com o de-
Redução que consiste na diminuição da quanti- senvolvimento da tecnologia de reciclagem nos
dade de resíduos sólidos gerados; anos de 1940 a 1950.

Reutilização: que consiste no aproveitamento O uso dos resíduos como material para cons-
de produtos, objetos ou embalagens sem que trução ou para qualquer outra finalidade deve
estes sofram quaisquer tipos de alterações ou passar por uma avaliação que vise conhecer e
processamentos complexos (só passam, por obter o maior número possível de informações
exemplo, por limpeza). sobre o produto, como sua caracterização, ní-
vel de periculosidade, análise de seu compor-
Reciclagem: consiste em transformar os resídu- tamento, entre outros.
os para fabricar novos produtos, idênticos ou
não aos que lhes deram origem. Uma das alternativas para alguns dos resíduos
da construção civil é reciclar as sobras de tijo-
A literatura técnica mostra que o tema da recicla- los e blocos quebrados, restos de argamassa
gem é tão antigo quanto a construção. Há exem- e concretos, através de um processo de moa-
plos de cidades que depois de guerras foram re- gem. Os locais onde se realizam as atividades
construídas com seus próprios escombros. Entre de britagem são conhecidos como estações
de reciclagem de entulho.
Fonte: SLU-BH

Fonte: SLU-BH

Estação de Reciclagem: correias transportadoras Estação de Reciclagem: pilha de reciclados

58 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Fonte: SLU-BH

Fonte: SLU-BH
Estação de Reciclagem: vista aérea Produto da Reciclagem: agregado reciclado

Assim, os RCD, após passarem pelo processo revestimento têm mostrado que as argamassas
de britagem, recebem o nome de “agregado produzidas com o entulho são tecnicamente ade-
reciclado”, pois podem substituir os agregados quadas para revestimentos internos e externos,
naturais (areia e brita) na fabricação de blocos salientando a importância de estudo para avaliar o
de concretos sem função estrutural. comportamento ao longo do tempo e a durabilida-
de desses revestimentos.
O agregado reciclado pode ser utilizado nas:
construção de aterro, construção de base e A mudança de visão do que era considerado
sub-base de vias, substituição parcial ou total resíduo, passando a ser considerado matéria
de matéria-prima (agregado graúdo e miúdo) prima para as construções, gera mudanças
em concretos e blocos não estruturais, arga- comportamentais e, conseqüentemente, be-
massas e outros artefatos de concreto. nefícios para toda a sociedade, tais como:

Essas utilizações estão sendo feitas em diver- • diminuição da quantidade de resíduos a ser
sos países inclusive no Brasil, e têm se mos- aterrada;
trado como uma boa solução para diminuir o • economia da vida útil dos aterros;
problema da destinação final do entulho. Des- • redução da extração de matérias primas e
taca-se a iniciativa de Belo Horizonte, que foi preservação dos recursos naturais;
pioneira ao implantar um Plano de Gerencia- • redução das distâncias de transporte dos
mento de RCD e as respectivas unidades de materiais com menos emissão de CO2 para
reciclagem desses materiais. a atmosfera;
• menor consumo de energia;
Estudos sobre a influência dos vários componen- • melhoria da qualidade ambiental das cidades.
tes do entulho no desempenho de argamassas de

Fonte: SLU-BH

Dando continuidade a valoração dos RCD, estudos realizados por um fabricante de equipa-
mentos indicam que a reciclagem do entulho em usinas com britadores é viável sempre que
for gerado em quantidades regulares, admitindo plantas de 30 t/h a 500 t/h. Já os levanta-

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 59


mentos da I & T, mostram que o importante é adequar o porte do conjunto de equipamentos
à necessidade de cada município ou até mesmo do canteiro de obras, que pode possuir
menor escala de produção e configuração bem menos sofisticada, com uma produção de
20 t/h. Pinto (1995) salienta que não basta transportar os equipamentos de britagem para
o ambiente urbano. Segundo ele,”é necessário que sua instalação seja rodeada de novos
cuidados, que vão permitir ao maquinário uma adequação para essa finalidade”. É preciso
preocupar-se com a geração de ruídos e de material particulado. A seguir, apresentam-se
quatro conjuntos de equipamentos para atender demandas diferenciadas.

Parâmetros de custo e características de equipamentos para reciclagem.

Características do conjunto de reciclagem Produção nominal1 e produtos Preço estimado2

Alimentador vibratório, britador de 90 t/dia de “brita corrida” 80. 000


mandíbulas “tipo 4230”3 e transpor-
tador de correia de ação radial

Alimentador vibratório, britador de 90 t/dia de “brita corrida” ou agrega- 90. 000


mandíbulas “tipo 4230”, transportador dos classificados por granulomertia
de correia de ação radial, moinho de
martelos, peneira vibratória elevada
sobre baias fixas
Alimentador vibratório, britador de 130 t/dia de “brita corrida”4 130. 000
impacto “tipo 20 TPH”5, transportador
de correia de ação radial

Alimentador vibratório, britador de 260 t/dia de “brita corrida” ou agrega- 170. 000
impacto “tipo 40 TPH”, transporta- dos classificados por granulometria
dor de correia de ação radial, peneira
vibratória elevada e transportadores

1 Produção medida na britagem do entulho, em regime de 6,5 horas produtivas diárias.


2 Preços médios orçados em 1998.
3 Designação atual no mercado para equipamentos com boca retangular de alimentação nas medidas de 42 por 30 centímetros.
4 É o produto primário da britagem, sem classificação granulométrica definida.
5 Toneladas por hora - unidade de medida da produção em britagem.

60 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Fonte: SLU-BH

No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, vem trabalhando na norma-


lização dos produtos gerados pela reciclagem de entulho, já tendo sido publicadas as
seguintes normas:

NBR – 15115 - Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil – Execução de


camadas de pavimentação – Procedimentos

NBR – 15116 - Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil – Utilização


em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural – Requisitos.
Fonte: SLU-BH

Fonte: SLU-BH

Fonte: SLU-BH
Fonte: SLU-BH

Fonte: SLU-BH

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 61


Você sabia?

A utilização dos resíduos de construção e demolição data da época dos romanos, pois
algumas cidades executavam obras com agregados de tijolos britados.

Nos canais de concreto de Eiffel, que serviam para suprir a água da cidade de Colônia,
na Alemanha, foi utilizada cal como aglomerante e entulho de alvenaria como agregado,
por volta de 1860.

Para encerrarmos o assunto a respeito da valoração dos resíduos da construção civil, vamos
assistir ao vídeo que apresenta uma estação de reciclagem de RCD em operação para
compreender melhor o funcionamento dessas unidades e avaliar se essa é uma alternativa
adequada para seu município.

Atividade

Agora, Profissional, que já conhecemos algumas alternativas de


gerenciamento para os RCDs, coletivamente, avalie quais são as
alternativas mais adequadas para reciclagem e disposição final dos
resíduos de construção e demolição gerados nos municípios do diag-
nóstico apresentado no conceito chave anterior, para os quais já foi
traçado um Plano de gerenciamento integrado de RCD.

Após o exercício, ficou claro que as alternativas para tratamento dos RCD são diversificadas e
devem ser adequadas à realidade de cada cidade? Nesse caso, qual a alternativa que você julga
que seria a melhor para seu município?

No fundo, todas as medidas apresentadas durante esta oficina têm uma meta maior: garantir a
sustentabilidade da indústria da construção civil e, conseqüentemente, contribuir para a susten-
tabilidade de nosso planeta. Mas o que é sustentabilidade? É isso que nos discutiremos no último
conceito chave.

62 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Sustentabilidade Urbana OBJETIVOS:

- Construir e
discutir um conceito
de sustentabilidade
urbana.

Para iniciarmos esse último conceito chave, vamos realizar a atividade a seguir cujo
objetivo é a construção de um conceito de Sustentabilidade Urbana, reforçando
a importância da participação, individual e coletiva na construção da cidade, na
nossa qualidade de vida e na preservação do meio ambiente.

Atividade
Assim, serão fornecidos a você, e seus colegas, peças que possibi-
litem a construção de algum tipo de edificação (casa, prédio, escola
etc). Em um determinado momento, a construção, iniciada por você
e seus colegas, passará para outro grupo, para que continuem a
construção e assim sucessivamente. Ao final, as construções serão
apresentadas e as seguintes perguntas serão discutidas por todos
os participantes da atividade:

• Qual foi a sua impressão, ao receber as peças para a realização da


montagem?
• Você acredita que houve a participação de todos na construção?
• Qual o seu sentimento quando o instrutor pediu que os grupos
trocassem de montagem uns com os outros?
• Ao receber a montagem iniciada por outros colegas, para que
dessem continuidade à tarefa já iniciada, qual foi à primeira atitude
tomada por você?
• Você e seus colegas tiveram o sentimento de preservar a monta-
gem recebida, e ao mesmo tempo enriquecê-la com outras peças,
tornando-a mais agradável e melhor planejada?

Realizada a atividade e discutidas as perguntas, vamos ler o texto “Sustentabilidade Urbana”


e em seguida finalizar a construção do conceito de sustentabilidade urbana e discutir como
esse conceito auxilia na redução dos impactos negativos da geração de resíduos da cons-
trução e demolição.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 63


Sustentabilidade Urbana
Ao longo da história da humanidade, a visão de ampla dos processos produtivos e de consumo.
progresso vem se confundindo com um crescen- Isso implica uma reformulação radical da visão de
te domínio e transformação da natureza. Nesse impacto ambiental das atividades humanas, que
paradigma, os recursos naturais são vistos como passa também a incorporar todos os impactos das
ilimitados. Resíduos gerados durante a produção e atividades de produção e de consumo, desde a extra-
ao final da vida útil dos produtos são depositados ção da matéria prima, os processos industriais, o
em aterros, caracterizando um modelo linear de transporte e o destino dos resíduos de produção e
produção. A preservação da natureza foi vista de também o do produto após a sua utilização.
forma geral como antagônica ao desenvolvimento.
Neste contexto, a preservação da natureza signi- Nesse sentido, a proteção ambiental deixa de ser
ficou a criação de parques, áreas especiais des- uma preocupação de ambientalistas e funcioná-
tinadas à preservação de amostras da natureza rios de órgãos ambientais, para entrar no mundo
para as gerações futuras, evitando-se a extinção dos negócios. A série de normas ISO 14000 é a
de espécies. parte mais visível de um movimento empresarial
que envolve, pela primeira vez, organizações não-
O primeiro alerta dos limites desse modelo foi a governamentais integradas por empresas.
poluição do ar e da água, que levou à geração do
conceito de controle ambiental da fase de produ- Inserida nesse contexto maior, a indústria da cons-
ção industrial, com o estabelecimento de rígida le- trução civil também passou por todas essas “fa-
gislação limitando a liberação de poluentes e com ses”. Inicialmente a ênfase estava em como lidar
a criação de Agências Ambientais. Em grande com a escassez dos recursos, especialmente da
medida, essa visão ainda está presente no movi- energia, e em como reduzir os impactos sobre o
mento ambiental, algumas vezes denominado de meio ambiente. Há dez anos, a ênfase também
preservacionista. ressaltava os aspectos mais tecnicistas da cons-
trução, tais como materiais, componentes de edi-
A visão de desenvolvimento sustentável surge como fícios, tecnologias para construção, conceitos de
decorrência da percepção sobre a incapacidade projetos relacionados com energia.
desse modelo de desenvolvimento e de preserva-
ção ambiental se perpetuar e até mesmo garantir Hoje, a compreensão do significado dos aspec-
a sobrevivência da espécie humana. O avanço tos sociais para o desenvolvimento sustentável da
do conhecimento sobre os efeitos de poluentes construção está cada vez maior. A sustentabilida-
orgânicos persistentes, as catástrofes planetárias de econômica e social deve receber tratamento
como a destruição da camada de ozônio por ga- específico em qualquer definição.
ses produzidos e liberados pelo homem e o co-
nhecido efeito estufa demonstram que a preserva- Recentemente os aspectos culturais, e as impli-
ção da natureza vai exigir uma reformulação mais cações do patrimônio cultural do ambiente cons-

64 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


truído, passaram a serem considerados como as- Poluentes Equidade:
pectos preeminentes na construção sustentável. orgânicos o mesmo que
persistentes igualdade;
Constata-se que o correto manejo e a disposi- (POP): compostos Inter – geração: o
ção adequada dos RCD são importantes, mas se químicos artificial- mesmo que entre
constituem na última etapa da cadeia da constru- mente produzidos gerações.
ção civil, que requer uma mudança em todo seu e lançados no meio
ciclo, de forma a prevalecer a visão consolidada ambiente resistentes
pela Conferência sobre Desenvolvimento e Meio à degradação por
Ambiente das Nações Unidas (Rio 92): processos bioquími-
cos (biopersistentes)
e que se acumulam
“O desenvolvimento sustentável não apenas de-
nos organismos,
manda a preservação dos recursos naturais, de
não sendo elimina-
modo a garantir para as gerações futuras iguais
dos com o tempo
condições de desenvolvimento – a equidade entre (bioacumulativos).
gerações – mas também uma maior equidade no Exemplo: DDT
acesso aos benefícios dos desenvolvimento – a
igualdade inter-gerações”.

(Texto adaptado de: JOHN, V. Aproveitamento de resíduos sólidos como materiais de


construção. In: Reciclagem de entulho para produção de materiais de construção.
CARNEIRO, A. , BRUM, I. , CASSA,C. (org. ). Salvador: EDUFBA, Caixa Econômica Federal,
2001. )

Atividade
Discuta o conceito de sustentabilidade e registre as suas conclusões
para apresentar ao restante do grupo de modo que a turma construa
coletivamente um conceito de Sustentabilidade Urbana.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 65


Por fim, para encerramos esse último
conceito chave, gostaríamos de deixar a
você, Profissional, a seguinte mensagem
para reflexão.

Os seres humanos fazem parte


da comunidade da vida. Assim:
• Todos os seres humanos
têm os mesmos direitos
fundamentais;
• Todas as sociedades são
responsáveis pelo respeito
e proteção dos direitos dos
outros;
• Todas as formas de
vida merecem respeito,
independentemente do seu
valor para as pessoas;
• Todas as pessoas devem
utilizar os recursos de um
modo equilibrado;
• Os benefícios e custos do
uso dos recursos devem ser
justamente partilhados por
todos;
• A proteção dos direitos
mundiais transcende todas as
barreiras culturais, ideológicas
e geográficas.

(Adaptado de “Caring for the


Earth”, PNUA,1991.)

66 Resíduos Sólidos - Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - Nível 2


Referências Bibliográficas

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2, abr/jun. 1996.

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Guia do profissional em treinamento - ReCESA 67


Sites consultados

www. geocitie. com/rainforest/wetlands – acessado em julho de 2007

Créditos das figuras e fotos utilizadas neste guia

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