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DIREITO

PROCESSUAL PENAL MILITAR

AÇÃO PENAL MILITAR E SEU EXERCÍCIO

Visão detalhada sobre ação penal militar e seu exercício

1. Promoção da ação penal

De acordo com o professor Guilherme de Souza Nucci (2013, p. 67), a ação penal pode
ser conceituada como:

o direito do Estado-acusação ou da vítima de ingressar em juízo,


solicitando a prestação jurisdicional, representada pela aplicação das
normas de direito penal ao caso concreto. Através da ação, tendo em
vista a existência de uma infração penal precedente, o Estado consegue
realizar a sua pretensão de punir o infrator.

Note, caro(a) leitor(a), que o conceito doutrinário trazido pelo professor Guilherme de
Souza Nucci menciona duas possibilidades de ação penal, englobando o direito do
Estado-Acusação (Ministério Público) de ingressar em juízo e o direito da vítima
(querelante) de ingressar em juízo, sempre em busca da satisfação de uma pretensão.
Dessa forma, podemos perceber que o referido conceito demonstrou a existência de
duas modalidades de ação penal, sendo uma de titularidade do Ministério público (ação
penal pública) e outra de titularidade do querelante (ação penal privada).

A partir de agora, vamos aprofundar ambas as modalidades de ação penal, com base na
obra do professor Renato Brasileiro de Lima e através do quadro-resumo abaixo (LIMA,
2017, p. 246-261):

AÇÃO PENAL

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Pública

O titular da ação penal é o Ministério Público.


A petição inicial é a denúncia.

Privada

O titular da ação penal é o querelante (vítima do crime).


A petição inicial é a queixa-crime.

– Ação penal pública

AÇÃO PENAL PÚBLICA (REGRA)

Incondicionada

O Ministério Público atua de ofício (por conta própria) e não depende de


nenhuma condição para oferecer a denúncia.

Condicionada à representação

O Ministério Público só poderá oferecer a denúncia depois de receber a


representação do ofendido ou de seu representante legal.

Condicionada à requisição

O Ministério Público só poderá oferecer a denúncia depois de receber a


requisição do ministro da Justiça.

– Ação penal privada

AÇÃO PENAL PRIVADA (EXCEÇÃO)

Exclusiva ou propriamente dita

Subdivide-se em Personalíssima e Exclusiva Comum:


Personalíssima: não pode ser ofertada pelo representante legal; não admite
sucessão (cônjuge, ascendente, descendente e irmão).
Só há um caso de ação penal privada personalíssima no processo penal, que é o crime
do art. 236 do Código Penal (CP).
Exclusivamente privada: pode ser ofertada pelo representante legal; admite
sucessão (cônjuge, ascendente, descendente e irmão).
Todos os demais crimes de ação penal privada serão na modalidade exclusiva comum.

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Subsidiária da pública

Se o membro do Ministério Público perder o prazo previsto no art. 46 do Código de


Processo Penal – CPP (via de regra) e não adotar nenhum dos procedimentos
alternativos que a lei estabelece, a sabermos, oferecer a denúncia (1ª opção), baixar
para diligências (2ª opção) ou requerer o arquivamento (3ª opção), teremos a sua
inércia.
Nesses casos, será facultada à vítima a possibilidade (faculdade) de ingressar com a
ação penal no lugar do Ministério Público.
Teremos, portanto, uma ação penal privada (ofertada pela vítima) em um caso que
deveria ser processado e julgado através de uma ação penal pública (ofertada pelo
Ministério Público).
Trata-se, por sua vez, da ação penal privada subsidiária da pública.

Após estudarmos o referido quadro-resumo, surge um questionamento importante, no


sentido de verificarmos se as modalidades de ação penal oriundas do processo penal
militar são semelhantes às modalidades de ação penal estudadas no processo penal
comum.

Note, caro(a) leitor(a), que a resposta negativa se impõe! Afinal, a seara militar traz
inúmeras particularidades e divergências em relação às modalidades de ação penal.

2. Ação penal pública

Vejamos o disposto nos arts. 29 e 31 do Código de Processo Penal Militar (CPPM):

Promoção da ação penal

Art. 29. A ação penal é pública e somente pode ser promovida por denúncia do
Ministério Público Militar.

2.1. Ação penal condicionada à requisição

Dependência de requisição do Governo

Art. 31. Nos crimes previstos nos arts. 136 a 141 do Código Penal Militar, a ação penal;
quando o agente for militar ou assemelhado, depende de requisição, que será feita ao
procurador-geral da Justiça Militar, pelo Ministério a que o agente estiver subordinado;

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no caso do art. 141 do mesmo Código, quando o agente for civil e não houver co-autor
militar, a requisição será do Ministério da Justiça.

Vejamos, ainda, o disposto nos arts. 121 e 122 do Código Penal Militar (COM):

Propositura da ação penal

Art. 121. A ação penal somente pode ser promovida por denúncia do Ministério Público
da Justiça Militar.

Dependência de requisição

Art. 122. Nos crimes previstos nos arts. 136 a 141, a ação penal, quando o agente for
militar ou assemelhado, depende da requisição do Ministério Militar a que aquele
estiver subordinado; no caso do art. 141, quando o agente for civil e não houver co-
autor militar, a requisição será do Ministério da Justiça.

Por todo o exposto, podemos concluir que a ação penal na seara militar será sempre
pública. Aliás, a regra é que seja pública incondicionada. Contudo, teremos exceções
em que a ação penal pública no campo militar vai depender de requisição.

Cabe ressaltar, contudo, que o texto do art. 31 do CPPM fala sobre o “assemelhado” e
ainda exige a requisição do “Ministério Militar a que o autor do fato estiver
subordinado” o que pode causar ampla confusão no(a) caro(a) leitor(a), tendo em vista
que tais informações estão desatualizadas.

Portanto, para facilitar a compreensão, vamos aprofundar tais regras através dos
quadros de fixação abaixo, que apontam as três situações em que a ação penal será
pública condicionada à requisição:

Ação penal pública condicionada à requisição

Do Ministério Militar a que aquele estiver subordinado.

Só vale para os crimes previstos nos arts. 136 ao 141 do CPM.

O autor tem que ser militar (não há mais a figura do assemelhado).

A requisição é do ministro da Defesa (não há mais ministro de cada força).

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Ação penal pública condicionada à requisição

Do Ministério da Justiça.

Só vale para o crime previsto no art. 141 do CPM.

O autor tem que ser civil e não pode ter coautoria com militar.

A requisição é do Ministério da Justiça (na pessoa do ministro da Justiça).

Vejamos os comentários do professor e doutrinador Renato Brasileiro de Lima:

No âmbito processual penal militar, a despeito de a regra ser a ação


penal pública incondicionada promovida pelo Ministério Público Militar
perante a Justiça Militar da União (ou pelo Ministério Público dos
Estados perante a Justiça Militar dos Estados), diz o art. 122 do Código
Penal Militar que, no caso do crime do art. 141 do CPM (entendimento
para gerar conflito ou divergência com o Brasil), quando o agente for
civil e não houver coautor militar, a ação penal dependerá de requisição
do Ministro da Justiça; nos crimes dos arts. 136 (hostilidade contra país
estrangeiro), 137 (provocação a país estrangeiro), 138 (ato de jurisdição
indevida), 139 (violação de território estrangeiro) 140 (entendimento
para empenhar o Brasil à neutralidade ou à guerra) e 141 (entendimento
para gerar conflito ou divergência com o Brasil), todos do CPM, quando o
agente for militar, a ação penal dependerá de requisição do Comandante
da Arma a que aquele estiver subordinado (LIMA, 2017, p. 259).

Ação penal pública condicionada à requisição

Do presidente da República.

Note, caro(a) leitor(a), que existe uma terceira hipótese de requisição prevista no art.
95, parágrafo único, da Lei nº 8.457/1992, a qual não pode ficar esquecida.

Trata-se da requisição do presidente da República, a qual será necessária para a


instauração da ação penal contra o comandante do teatro de operações, que deverá
responder a processo perante o Superior Tribunal Militar (STM).

Vejamos o texto legal abaixo:

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Art. 95, parágrafo único, da Lei nº 8.457/1992 – O comandante do teatro de operações
responderá a processo perante o Superior Tribunal Militar, condicionada a instauração
da ação penal à requisição do Presidente da República.

3. Ação penal privada subsidiária da pública

Ora, caro(a) leitor(a), mas e quanto à ação penal privada? Será que ela jamais será
admitida no processo penal militar brasileiro?

Vale ressaltar que o CPM e o CPPM silenciaram em relação a esta possibilidade, dando
a impressão de que a mesma de fato não é cabível. Contudo, devemos refletir um pouco
mais acerca da ação penal privada subsidiária da pública, tendo em vista que esta é
simplesmente uma ação pública que não foi intentada no prazo legal.

Além disso, a carta magna faz previsão de tal possibilidade sem qualquer restrição
acerca da justiça ter que ser comum ou castrense (militar). Por esse motivo, não há
nenhum problema em sua admissibilidade em tais hipóteses. Vejamos, abaixo, posição
importante do professor e doutrinador Renato Brasileiro de Lima acerca da
possibilidade de ação penal privada subsidiária da pública dentro do direito processual
penal militar:

O Código Penal Militar e o Código de Processo Penal Militar silenciam


acerca do cabimento da ação penal de iniciativa privada. Na verdade, ao
se referir à ação penal, só o fazem quanto àquela promovida pelo
Ministério Público. O art. 121 do CPM dispõe que “a ação penal somente
pode ser promovida por denúncia do Ministério Público da Justiça
Militar”. De modo semelhante, o art. 29 do CPPM assevera que "a ação
penal é pública e somente pode ser promovida por denúncia do
Ministério Público Militar". Em que pese o silêncio da legislação
castrense quanto ao cabimento da ação penal de iniciativa privada, não
se pode perder de vista que, por força da Constituição Federal, será
admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for
intentada no prazo legal (CF, art. 5º, LIX). Como a Constituição Federal
não restringiu o cabimento da ação penal privada subsidiária da pública
ao processo penal comum, entende-se que, verificada a inércia do órgão
do Ministério Público com atribuição para atuar perante a Justiça Militar
em relação à infração penal que tenha um ofendido, poderá a vítima, seu
representante legal, seu curador especial, ou seus sucessores

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processuais, oferecer a queixa subsidiária, aplicando-se,
subsidiariamente, os dispositivos do Código de Processo Penal comum ao
processo penal militar, nos termos do art. 3º, alínea “a”, do CPPM (LIMA,
2017, p. 272-273).

Portanto, podemos perceber que a ação penal privada subsidiária da pública do


processo penal comum será perfeitamente cabível no processo penal militar, apesar de
o CPPM não tratar do tema. Outrossim, o fundamento legal será o art. 5º, LIX, da
Constituição Federal de 1988 (CF/1988).

De toda sorte, as regras serão as mesmas previstas para o processo penal comum, de
modo que o prazo da referida queixa subsidiária será de seis meses, a contar da data
em que tiver expirado o prazo para o Ministério Público Militar (MPM) promover a
competente ação penal.

4. Prazo para oferecimento da denúncia

E qual é o prazo para que o MPM ofereça a denúncia?

ART. 79 DO CPPM

– OFERECIMENTO DA RECEBIMENTO OU
DENÚNCIA REJEIÇÃO DA DENÚNCIA

PRESO 5 dias 15 dias

SOLTO 15 dias 15 dias

5. Princípios da ação penal militar

Relevante estudarmos os princípios reitores da ação penal castrense, notadamente


atinentes à ação penal pública.

5.1. Obrigatoriedade

A ação penal pública é regida pelo princípio da obrigatoriedade ou legalidade, devendo


o Ministério Público oferecer a denúncia, sempre que houver prova da existência do

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crime (materialidade) e indícios suficientes de quem o tenha praticado (autoria).

Ademais, conforme ressalta Renato Brasileiro (LIMA, 2017, p. 214): “cabe ressaltar que
o somatório dos elementos ‘materialidade’ e ‘autoria’ traz aquilo que a doutrina
convencionou chamar de ‘justa causa’, que consiste em um lastro probatório mínimo
(mínimo de provas) necessário ao oferecimento da denúncia”.

Dessa forma, não há por parte do Ministério Público qualquer discricionariedade, tendo
em vista que todas as vezes em que estivermos diante de uma prova de ocorrência da
infração penal (materialidade) e de indícios suficientes de quem a tenha praticado
(autoria), não haverá outra opção viável ao parquet, senão o oferecimento da denúncia.

Aliás, assim dispõe o art. 30 do CPPM:

Art. 30. A denúncia deve ser apresentada sempre que houver:

a) prova de fato que, em tese, constitua crime;

b) indícios de autoria.

Atenção!

Parte da doutrina afirma que em sede de juizados especiais criminais


(rito sumaríssimo), o princípio da obrigatoriedade sofreria uma
relativização ou mitigação, passando a ser chamado de obrigatoriedade
mitigada ou discricionariedade regrada, tendo em vista a possibilidade
de oferecimento da transação penal, prevista no art. 76 da Lei nº
9.099/1995. Em outras palavras, quando estivermos diante de uma
infração penal de menor potencial ofensivo, o Ministério Público poderá
abrir mão da obrigação de oferecer a denúncia para ofertar a proposta de
transação penal (mesmo que possua a justa causa), mitigando, por sua
vez, o aludido princípio. Ademais, ressalte-se que a transação penal
consiste em um acordo efetuado entre o membro do Ministério Público e
o autor do fato, através do qual o parquet deixa de oferecer a denúncia
(de um lado) e o autor do fato aceita se submeter desde logo a uma pena
restritiva de direitos ou multa (de outro lado).

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Por todos os doutrinadores que entendem tal particularidade como uma mitigação do
aludido princípio, podemos citar Renato Brasileiro de Lima (LIMA, 2017, p. 236).

Atenção!

O conceito de infração penal de menor potencial ofensivo está previsto


no art. 61 da Lei nº 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais) e engloba duas modalidades de infração penal, a sabermos,
todas as contravenções penais (primeira espécie) e os crimes a que a lei
comine pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com
multa (segunda espécie).

De toda sorte, a mitigação do princípio da obrigatoriedade ou legalidade em sede de


infrações penais de menor potencial ofensivo não produz efeitos práticos junto ao
processo penal militar, tendo em vista que a transação penal não atinge os crimes de
competência da justiça militar, na forma do art. 90-A da Lei nº 9.099/1995:

Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar

5.2. Indisponibilidade

O art. 32 do CPPM dispõe:

Art. 32. Apresentada a denúncia, o Ministério Público não poderá desistir da ação
penal. Estudamos sobre indisponibilidade no contexto do inquérito policial militar
(IPM). A autoridade que instaura o IPM não pode arquivá-lo.

Do mesmo modo, o Ministério Público quando oferecer a ação penal não poderá
desistir, pois o interesse em jogo não é o interesse pessoal, e sim o interesse coletivo.
Os interesses coletivos são indisponíveis.

5.3. Oficiosidade

É outra característica da ação penal militar.

Os encarregados da persecução penal devem agir de ofício, ou seja,

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independentemente de provocação, ao tomar ciência do cometimento de crime militar;
salvo no caso dos crimes de hostilidade contra país estrangeiro e de entendimento para
gerar conflito ou divergência com o Brasil (arts. 136 e 141 do CPM).

Quando se fala em oficiosidade, se trata a atuação ex officio (de ofício) de uma


determinada autoridade pública. A atuação de ofício é aquela que independe de
provocação. A regra é que a ação penal, no processo penal militar, seja pública
incondicionada, não se submetendo a qualquer condição de procedibilidade para o seu
ajuizamento.

No entanto, existem duas possibilidades excepcionais em que o Ministério Público não


poderá oferecer a ação penal de ofício, ainda que tenha em mãos todos os elementos
indiciários. São as hipóteses elencadas nos arts. 136 e 141 do CPM (crime de
hostilidade contra país estrangeiro e o crime de entendimento para gerar conflito ou
divergência com o Brasil).

Hostilidade contra país estrangeiro

Art. 136. Praticar o militar ato de hostilidade contra país estrangeiro, expondo o Brasil
a perigo de guerra:

Pena – reclusão, de oito a quinze anos.

Resultado mais grave

§ 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas, represália ou retorsão:

Pena – reclusão, de dez a vinte e quatro anos.

§ 2º Se resulta guerra:

Pena – reclusão, de doze a trinta anos.

Entendimento para gerar conflito ou divergência com o Brasil

Art. 141. Entrar em entendimento com país estrangeiro, ou organização nêle existente,
para gerar conflito ou divergência de caráter internacional entre o Brasil e qualquer
outro país, ou para lhes perturbar as relações diplomáticas:

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Pena – reclusão, de quatro a oito anos. Resultado mais grave

§ 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas:

Pena – reclusão, de seis a dezoito anos.

§ 2º Se resulta guerra:

Pena – reclusão, de dez a vinte e quatro anos.

Esses dois crimes são de ação penal pública condicionada.

São duas situações que representam exceções ao princípio da oficiosidade, que exigem
uma condição de procedibilidade, qual seja, uma requisição da autoridade legitimada.
Ressalta-se, mais uma vez, que a regra é que o Ministério Público, ao receber o IPM e
verificar que todos os requisitos necessários para o oferecimento estejam presentes, via
de regra poderá propor a denúncia independente de provocação (este é o princípio da
oficiosidade).

6. Condições da ação penal militar

Iniciando o nosso estudo pelo conceito das condições da ação, de acordo com, podemos
compreendê-las como os requisitos indispensáveis ao exercício do direito de ação, seja
no processo civil, seja no processo penal (comum ou militar) (SANTOS, 1990, p. 163).

Nesse diapasão e independentemente de qualquer valoração mais profunda relativa ao


mérito da causa, devemos atentar para o preenchimento de tais condições processuais
desde o início, sob pena de inviabilidade do próprio processo.

Ressalte-se, que para fins didáticos, vamos dar início ao estudo das referidas condições
da ação através do direito processual penal comum, sendo certo que os requisitos
relativos ao direito processual penal militar vão ser avaliados em um segundo
momento, sobretudo para viabilizar uma comparação entre ambas as situações.

De acordo com o professor Renato Brasileiro de Lima (LIMA, 2017, p. 203), as


condições ou requisitos para o exercício do direito de ação no processo penal comum
devem ser avaliados sob dois prismas:

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6.1. Condições genéricas da ação penal comum (rol taxativo)

São aquelas que devem estar presentes em todas e quaisquer ações penais.

CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL COMUM

Legitimidade para agir.


Interesse de agir.

6.2. Condições específicas da ação penal comum (rol


exemplificativo)

São aquelas que só devem estar presentes em algumas ações penais específicas.

CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DA AÇÃO PENAL COMUM

Representação do ofendido ou de seu representante legal.

Requisição do ministro da Justiça.

A partir de agora, vamos dar início ao estudo isolado de cada uma das condições
genéricas da ação penal no direito processual penal comum.

6.3. Legitimidade

A legitimidade para agir é a coincidência entre os personagens da estória narrada na


petição inicial (denúncia ou queixa) e os personagens do processo.

Com base na teoria da afirmação ou asserção, aquele que se afirma titular do direito de
punir possui legitimidade ativa e deve figurar como autor, ao passo que aquele que é
afirmado como obrigado ou responsável por este direito possui legitimidade passiva e
deve figurar como réu.

A legitimidade ordinária (regra) é do Ministério Público (que oferece a denúncia). A


legitimidade extraordinária (exceção) é do querelante (que oferece a queixa).

Há, ainda, a legitimidade concorrente, que se dá nas hipóteses em que tanto o


Ministério Público quanto o querelante podem oferecer a petição inicial, ingressando
com a ação penal:

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1º caso: ação penal privada subsidiária da pública

Art. 29 do CPP. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for
intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e
oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer
elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do
querelante, retomar a ação como parte principal.

Note, caro(a) leitor(a), que o art. 46 do CPP traz o prazo (via de regra) para que o
Ministério Público ofereça a denúncia: cinco dias (réu preso) e 15 dias (réu solto).

Ao afirmarmos que tal prazo é uma regra, estamos apenas demonstrando que há outros
prazos distintos, espalhados pela legislação brasileira, como por exemplo o prazo para
oferecimento da denúncia previsto na Lei de Abuso de Autoridade, que será de 48
horas, na forma do art. 13 da Lei nº 4.898/1965.

De toda sorte, caso o membro do Ministério Público perca o prazo para agir e não adote
nenhum dos três procedimentos alternativos que possui, a sabermos, oferecer a
denúncia, baixar para diligências ou requerer o arquivamento, teremos configurada a
sua inércia. Em tais casos, o ofendido (vítima do crime) terá a faculdade (não é
obrigação) de ingressar com a ação penal no lugar do Ministério Público. Teremos,
então, uma ação penal privada (pois foi ofertada pelo ofendido) em um caso que deveria
ser de ação penal pública (pois foi ofertada pelo Ministério Público). Trata-se, portanto,
da ação penal privada subsidiária da pública, que poderá ser intentada pelo ofendido no
prazo máximo (decadencial) de até seis meses, a contar da inércia do Ministério
Público.

Note, apenas, que o Ministério Público não perde seu direito de oferecer a denúncia
durante o referido prazo, fazendo com que a legitimidade seja concorrente.

2º caso: Súmula nº 714 do Supremo Tribunal Federal (STF):

É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público,


condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra
do servidor público em razão do exercício de suas funções.

Note, caro(a) leitor(a), que, se o servidor público sofrer um crime contra a honra, em
razão do exercício de suas funções, teremos duas possibilidades alternativas: caso o
servidor público escolha oferecer queixa-crime, a ação penal será privada (legitimidade

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extraordinária); caso o servidor público escolha oferecer a representação, a ação penal
será pública condicionada à representação (legitimidade ordinária).

Vamos, agora, estudar a segunda condição genérica da ação penal comum:

– Interesse de agir

O interesse de agir deve ser avaliado sob três vertentes distintas:

– Interesse-necessidade

A satisfação do direito só pode ocorrer com a intervenção do Estado. Outrossim,


podemos perceber que a referida vertente do interesse jamais precisará ser auferida
nas ações penais condenatórias, tendo em vista que sempre precisaremos da
interferência do Estado para solucionar litígios no campo criminal – tendo em vista que
não podemos resolver por conta própria.

– Interesse-utilidade

A máquina judiciária não deve ser movida apenas por uma motivação ideal, sendo certo
que precisa produzir alguma modificação efetiva no mundo. Portanto, precisamos ter
algum resultado prático e com o processo, sob pena de restar descaracterizado o
interesse de agir, sob a vertente da utilidade.

Podemos citar o exemplo de um crime prescrito, em que não teremos qualquer


vantagem prática na manutenção do processo, tendo em vista que ao final, caso
condenado, o agente não deverá sofrer nenhuma sanção, em virtude da extinção da
punibilidade. Ora, por que manter um processo em tais situações? Não há qualquer
utilidade no mesmo, motivo pelo qual o membro do parquet deve requerer desde logo o
seu arquivamento.

– Interesse-adequação

O provimento jurisdicional pretendido deve ser apto a corrigir o mal causado pela
prática da infração penal ora combatida.

Atenção!

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Grande parte da doutrina entende que, no processo penal, as condições
genéricas da ação penal não apresentam conceituações distintas
daquelas pensadas para o processo civil, em face de uma teoria geral do
processo (TGP). Logo, sob a ótica do novo [Código de Processo Civil]
CPC, que afastou a possibilidade jurídica como condição da ação, o
exercício regular do direito de ação penal pressupõe a legitimidade e o
interesse de agir. Sem o preenchimento dessas condições genéricas,
teremos o abuso do direito de ação, autorizando, pois, a rejeição da peça
acusatória (LIMA, 2017, p. 204).

– Justa causa

Há intensa polêmica doutrinária acerca da inserção da justa causa como uma terceira
condição genérica da ação penal, merecendo destaque três correntes principais de
pensamento (LIMA, 2017, p. 215):

Elemento integrante do interesse de agir

A justa causa se confunde com o legítimo interesse no oferecimento da denúncia.

Condição da ação penal autônoma

A justa causa surge como uma terceira condição genérica da ação penal, ao lado da
legitimidade para agir e do interesse de agir.

Fenômeno distinto das condições da ação penal

A justa causa está separada das condições genéricas da ação penal, sendo considerada
um fenômeno distinto e separado das mesmas.

Cabe ressaltar que esta corrente doutrinária se tornou mais forte a partir da
microrreforma processual de 2008 (Lei nº 11.719/2008), que trouxe a possibilidade de
rejeição da petição inicial em virtude da ausência de justa causa (art. 395, III, do CPP).

Vamos, agora, avaliar o primeiro exemplo conhecido e cobrado em provas de concurso


público, relativo às condições específicas da ação penal:

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Representação do ofendido ou de seu representante legal

Trata-se de condição específica de procedibilidade das ações penais públicas


condicionadas, sem a qual o Ministério Público sequer poderá oferecer a denúncia.

Será necessária apenas nos crimes de ação penal pública condicionada à


representação, como no delito de ameaça (art. 147 do CP) e injúria qualificada pelo
preconceito (art. 140, § 2º, do CP).

Por fim, vamos avaliar o segundo exemplo conhecido e cobrado em provas de concurso
público, relativo às condições específicas da ação penal. Repise-se, apenas, que tais
condições específicas fazem parte de um rol exemplificativo, o que significa que
podemos destacar inúmeras outras.

Requisição do ministro da Justiça

Trata-se de condição específica de procedibilidade das ações


penais públicas condicionadas, sem a qual o Ministério Público
sequer poderá oferecer a denúncia.

Será necessária apenas nos crimes de ação penal pública condicionada à requisição,
que são justamente os delitos contra a honra (arts. 138 ao 140 do CP), se praticados
contra presidente da República ou chefe de governo estrangeiro.

Ora, e como seria no processo penal militar? Há uma convergência ou divergência dos
posicionamentos doutrinários?

Inicialmente, cabe ressaltar que as ações penais do processo penal militar também
exigem o preenchimento de condições da ação genéricas e específicas, sendo certo que
as genéricas são aquelas consideradas essenciais em todas e quaisquer situações e as
específicas são aquelas consideradas essenciais apenas em alguns casos particulares.

Pois vamos a elas!

– Condições genéricas da ação penal militar (rol taxativo)

São aquelas que devem estar presentes em todas e quaisquer ações penais.

CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL MILITAR

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Legitimidade para agir.
Interesse de agir.

– Condições específicas da ação penal militar (rol exemplificativo)

São aquelas que só devem estar presentes em algumas ações penais específicas.

CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DA AÇÃO PENAL MILITAR

Comprovação do status de militar do acusado de deserção.


Comprovação do status de militar do acusado de insubmissão.

A partir de agora, vamos dar início ao estudo isolado de cada uma das condições
genéricas da ação penal no direito processual penal militar:

6.4. Legitimidade para agir

A legitimidade para agir é a coincidência entre os personagens da estória narrada na


petição inicial (denúncia ou queixa) e os personagens do processo.

Com base na teoria da afirmação ou asserção, aquele que se afirma titular do direito de
punir possui legitimidade ativa e deve figurar como autor, ao passo que aquele que é
afirmado como obrigado ou responsável por este direito possui legitimidade passiva e
deve figurar como réu.

Porém, há aqui uma diferença importante em relação à legitimidade para agir do


processo penal comum, a sabermos, a inexistência da legitimidade extraordinária do
querelante em crimes de ação penal privada, tendo em vista que os bens jurídicos
militares são indisponíveis e não há ação penal privada exclusiva ou propriamente dita
(exclusivamente privada e personalíssima) no direito castrense.

Vamos, agora, estudar a segunda condição genérica da ação penal militar:

6.5. Interesse de agir

O interesse de agir no direito processual penal castrense também deve ser avaliado sob
os três prismas de necessidade, utilidade e adequação do direito processual penal
comum.

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Vejamos, a partir de agora e a título de exemplo, a primeira condição específica da ação
penal militar usualmente cobrada em provas de concurso público:

a) Comprovação do status de militar do acusado de deserção

As ações penais militares também dependem do preenchimento de certas condições


específicas em algumas ocasiões como, por exemplo, no crime de deserção, na forma do
art. 187 do CPM.

Vejamos, por sua vez, as considerações do professor Renato Brasileiro de Lima:

Quando a praça sem estabilidade (v.g., soldado no período do serviço


militar obrigatório) pratica o crime militar de deserção, ela é excluída
das Forças Armadas; quando é capturada ou se apresenta
voluntariamente, é submetida à inspeção de saúde. Sendo considerada
apta, será reincluída ao serviço ativo das Forças Armadas, reinclusão
esta que funciona como condição de procedibilidade em relação ao crime
de deserção, tal qual preceitua o art. 457, §§ 1º, 2º e 3º, do CPPM. Nessa
linha, aliás, segundo a Súmula nº 12 do STM (LIMA, 2017, p. 220).

Súmula nº 12 do STM: A praça sem estabilidade não pode ser denunciada por deserção
sem ter readquirido o status de militar, condição de procedibilidade para a persecutio
criminis, através da reinclusão. Para a praça estável, a condição de procedibilidade é a
reversão ao serviço ativo.

Por fim, há uma segunda condição específica da ação penal militar usualmente cobrada
em provas de concurso público, a qual merece ser lembrada:

b) Comprovação do status de militar do acusado de insubmissão

Outro delito do processo penal castrense, que também exige a comprovação do status
de militar do acusado – como condição específica de procedibilidade da ação penal – é o
crime de insubmissão, previsto no art. 183 do CPM.

c) Dependência de requisição do governo e comunicação ao procurador-geral


da República

Art. 31, CPPM. Nos crimes previstos nos arts. 136 a 141 do Código Penal Militar, a ação
penal; quando o agente for militar ou assemelhado, depende de requisição, que será

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feita ao procurador-geral da Justiça Militar, pelo Ministério a que o agente estiver
subordinado; no caso do art. 141 do mesmo Código, quando o agente for civil e não
houver coautor militar, a requisição será do Ministério da Justiça.

Comunicação ao procurador-geral da República

Parágrafo único. Sem prejuízo dessa disposição, o procurador-geral da Justiça Militar


dará conhecimento ao procurador-geral da República de fato apurado em inquérito que
tenha relação com qualquer dos crimes referidos neste artigo.

De acordo com o professor Cícero Robson Coimbra Neves (2017, p. 437):

A ação penal pública condicionada também possui como titular o


Ministério Público, porém, para que esse órgão possa iniciar a ação
penal, necessita da satisfação de uma condição de procedibilidade, no
caso do Direito Penal Castrense, a requisição do Ministro da Justiça ou do
Ministro da Defesa.

Trata-se de situação excepcional, em que o processo penal castrense deixará de lado a


regra da ação penal pública incondicionada, para exigir condição de procedibilidade
para o exercício do direito de ação.

7. Proibição de desistência da denúncia

Art. 32, CPPM. Apresentada a denúncia, o Ministério Público não poderá desistir da
ação penal.

Conforme estudamos no início desta unidade, a ação penal pública é regida pelo
princípio da obrigatoriedade ou legalidade, que dispõe que o membro do parquet
deverá oferecer a denúncia, sempre que tiver prova da existência do crime
(materialidade) e indícios suficientes de quem o tenha praticado (autoria).

Por uma decorrência lógica, o parquet também não poderá desistir da ação penal
anteriormente intentada. Afinal, estamos diante de dois lados da mesma moeda:

PRINCÍPIO CONSEQUÊNCIA

O Ministério Público está obrigado a

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Obrigatoriedade oferecer a denúncia.

O Ministério Público não pode desistir da


Indisponibilidade
ação penal.

8. Exercício de direito de representação e requisição de


diligências

Art. 33, CPPM. Qualquer pessoa, no exercício do direito de representação, poderá


provocar a iniciativa do Ministério Público, dando-lhe informações sobre fato que
constitua crime militar e sua autoria, e indicando-lhe os elementos de convicção.

Informações

§ 1º As informações, se escritas, deverão estar devidamente autenticadas; se verbais,


serão tomadas por termo perante o juiz, a pedido do órgão do Ministério Público, e na
presença deste.

Requisição de diligências

§ 2º Se o Ministério Público as considerar procedentes, dirigir-se-á à autoridade policial


militar para que esta proceda às diligências necessárias ao esclarecimento do fato,
instaurando inquérito, se houver motivo para esse fim.

Da leitura do caput do art. 33 do CPPM, compreende-se que cabe a qualquer pessoa


exercer o direito de representação, ou seja, vir a provocar a iniciativa do Ministério
Público ao informar sobre algum crime militar (autoria e materialidade).

Cabe ressaltar, por sua vez, que a palavra “representação” não guarda nenhuma
semelhança com a condição específica de procedibilidade da ação penal pública, que
leva o mesmo nome. Afinal, sabemos que os crimes militares são (via de regra) de ação
penal pública incondicionada e (por exceção) de ação penal pública condicionada à
requisição, seja do presidente da República, do ministro da Defesa ou do ministro da
Justiça.

Logo, não há em todo o direito processual penal militar qualquer ação penal que se
sujeite à representação do ofendido ou de seu representante legal.

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Por todo o exposto, podemos perceber que a palavra “representação” trazida pelo art.
33 do CPPM deve ser lida como “notícia-crime”, ou seja, “comunicação de um crime”.

No entanto, cabe ressaltar que a CF/1988 atribui ao MPM poderes investigativos


próprios, podendo investigar o fato e apresentar a denúncia, sem necessitar da
instauração do inquérito policial – que é dispensável ou prescindível.

A requisição de diligências à autoridade policial, portanto, não é obrigatória. Se o


procedimento investigativo for conduzido pelo próprio MPM, as diligências podem ser
realizadas pelo próprio promotor militar.

9. Denúncia

O art. 77 do CPPM apresenta estrutura e requisitos formais para o oferecimento da


denúncia, vejamos:

Requisitos da denúncia

Art. 77. A denúncia conterá:

a) a designação do juiz a que se dirigir;

b) o nome, idade, profissão e residência do acusado, ou esclarecimentos pelos quais


possa ser qualificado;

c) o tempo e o lugar do crime;

d) a qualificação do ofendido e a designação da pessoa jurídica ou instituição


prejudicada ou atingida, sempre que possível;

e) a exposição do fato criminoso, com tôdas as suas circunstâncias;

f) as razões de convicção ou presunção da delinqüência;

g) a classificação do crime;

h) o rol das testemunhas, em número não superior a seis, com a indicação da sua

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profissão e residência; e o das informantes com a mesma indicação.

Dispensa de testemunhas

Parágrafo único. O rol de testemunhas poderá ser dispensado, se o Ministério Público


dispuser de prova documental suficiente para oferecer a denúncia.

Este dispositivo assemelha-se ao art. 41 do CPP comum, porém, este legislador


castrense interessa-se por maiores detalhes. À vista disso, a denúncia conterá a
designação do juiz, nome, idade, profissão e qualificação do denunciado, tempo e lugar
do crime e a exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias.

Ademais, apresentará descrição dos fatos com todas as circunstâncias. Vale lembrar
que na fase inicial (no momento do oferecimento da denúncia), nem sempre o
Ministério Público obterá detalhes quanto aos fatos, pois estes serão aprofundados
durante a instrução criminal, logo, demonstra-se necessária a apresentação de
elementos mínimos quanto à narrativa, sob pena de inépcia da inicial. Deve indicar,
também, razões de convicção inseridas na narrativa, apontando os argumentos que o
levaram a essa conclusão, bem como a classificação do crime e o rol de testemunhas
(se houver), não superior a seis por fato.

Apesar da letra da lei mencionar o número de testemunhas de defesa, por questão de


respeito ao contraditório e a paridade de armas, a defesa também poderá arrolar até
seis testemunhas por fato.

O rol de testemunhas poderá ser dispensado se o Ministério Público dispuser de prova


documental suficiente para oferecer a denúncia. Desta forma, esse rol de testemunhas
é facultativo tanto na esfera militar, quanto na área comum, estruturado e de suporte
probatório amealhado pelo Ministério Público.

Quanto à rejeição da denúncia, tem-se um paralelo com o art. 395 do CPP comum, no
qual há a hipótese de inépcia da inicial, quando os elementos formais mínimos não
estão presentes. A denúncia também não será recebida se o fato narrado não constituir
crime de competência da justiça militar, pois se for caso de atipicidade, essa rejeição
fará coisa julgada material. Se o fato narrado não é crime militar, mas sim comum,
nesse caso, o juiz o rejeitará, determinando o encaminhamento das peças à esfera
comum e ressuscitando o conflito negativo de jurisdição.

Quando extinta a punibilidade, há uma hipótese que caracterizaria a coisa julgada, ou

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seja, uma rejeição que faz coisa julgada, assim como manifesta incompetência do juízo
ou ilegitimidade do acusador. A ilegitimidade, em comparação ao art. 395 do CPP
comum, tem-se pressuposta a condição da ação, as mesmas situações em que se
conhece do CPP comum (inépcia, falta de pressuposto, condição e falta de justa causa
do suporte probatório mínimo para deflagração da ação penal).

Na alínea “a” do § 1º do art. 78 do CPPM, apresenta-se a falta de elementos formais


mínimos. Logo, o juiz, antes de rejeitar a denúncia, mandará, em despacho
fundamentado, remeter o processo do Ministério Público para o aditamento no prazo de
correção de até três dias.

Na legislação militar, ao invés de rejeitar diretamente a inicial acusatória, o juiz auditor


devolverá os autos ao Ministério Público para que possa corrigir os requisitos formais.
Se não os corrigir, irá rejeitá-los, caso contrário, a inicial será recebida.

Uma vez que o juiz rejeita diretamente a inicial acusatória, devolvem-se os autos. Desta
forma, o Ministério Público se manifestará ao corrigir as imperfeições formais que
serão sanadas. Considera-se essa questão interessante pois quando o juiz a rejeita na
esfera comum, por inépcia, nada a impede de ser reformulada e reapresentada. Por
conseguinte, isso funcionará da mesma maneira, podendo-se rejeitar diretamente, e os
vícios sanados permitirão o oferecimento de uma nova denúncia. No caso de
ilegitimidade do acusador, a rejeição da denúncia não obstará o exercício da ação
penal, desde que promovida por acusador legítimo.

Exemplo: imagina-se que foi promovida ação privada subsidiária da pública. Após isso,
expirou-se o prazo ministerial, confirmando a ilegitimidade do acusador e do
querelante, uma vez que não foi cumprido o requisito da ação subsidiária da pública
(inércia ministerial).

No caso de incompetência, os autos serão encaminhados ao juízo competente, como já


explicado anteriormente.

Em relação ao prazo para oferecimento da denúncia, não há nada inovador, previsto no


art. 46 do CPP comum. Esta acusação deverá ser oferecida em até cinco dias se houver
réu preso; 15 dias se o acusado estiver solto; e, consequentemente, o juiz auditor
poderá se manifestar dentro do prazo de cinco dias. Não respeitados esses prazos,
abre-se possibilidade de apresentação da ação penal privada subsidiária da pública.

Rejeição de denúncia

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Art. 78. A denúncia não será recebida pelo juiz:

a) se não contiver os requisitos expressos no artigo anterior;

b) se o fato narrado não constituir evidentemente crime da competência da Justiça


Militar;

c) se já estiver extinta a punibilidade;

d) se fôr manifesta a incompetência do juiz ou a ilegitimidade do acusador.


Preenchimento de requisitos

§ 1º No caso da alínea a, o juiz antes de rejeitar a denúncia, mandará, em despacho


fundamentado, remeter o processo ao órgão do Ministério Público para que, dentro do
prazo de três dias, contados da data do recebimento dos autos, sejam preenchidos os
requisitos que não o tenham sido.

Ilegitimidade do acusador

§ 2º No caso de ilegitimidade do acusador, a rejeição da denúncia não obstará o


exercício da ação penal, desde que promovida depois por acusador legítimo, a quem o
juiz determinará a apresentação dos autos.

Incompetência do juiz. Declaração.

§ 3º No caso de incompetência do juiz, êste a declarará em despacho fundamentado,


determinando a remessa do processo ao juiz competente.

Prazo para oferecimento da denúncia

Art. 79. A denúncia deverá ser oferecida, se o acusado estiver prêso, dentro do prazo de
cinco dias, contados da data do recebimento dos autos para aquêle fim; e, dentro do
prazo de quinze dias, se o acusado estiver sôlto. O auditor deverá manifestar-se sôbre a
denúncia, dentro do prazo de quinze dias.

Prorrogação de prazo

§ 1º O prazo para o oferecimento da denúncia poderá, por despacho do juiz, ser


prorrogado ao dôbro; ou ao triplo, em caso excepcional e se o acusado não estiver

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prêso.

§ 2º Se o Ministério Público não oferecer a denúncia dentro dêste último prazo, ficará
sujeito à pena disciplinar que no caso couber, sem prejuízo da responsabilidade penal
em que incorrer, competindo ao juiz providenciar no sentido de ser a denúncia
oferecida pelo substituto legal, dirigindo-se, para êste fim, ao procurador-geral, que, na
falta ou impedimento do substituto, designará outro procurador.

Obra coletiva do Curso Ênfase produzida a partir da análise estatística de incidência


dos temas em provas de concursos públicos.
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