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A reparação do dano ambiental

Ao se verificar a ocorrência de um dano ao meio ambiente, é necessário que se proceda à sua reparação,
que deve ser integral. 

A primeira pergunta é: quem deve reparar? Por evidente, o causador do dano ambiental. Todavia, essa
resposta precisa ser adequada com a figura do poluidor no sistema jurídico brasileiro. Conforme a Lei nº
6.938/1981, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, o poluidor é a pessoa física ou jurídica,
de direito público ou de direito privado, direta ou indiretamente responsável pela poluição ou degradação
ambiental (BRASIL, 1981). Por esse conceito, tanto pessoas de direito privado – empresas – quanto as
entidades da Administração Pública Direta – União, estados, Distrito Federal e municípios – e indireta –
autarquias, fundações públicas e outras – podem ser consideradas como poluidoras. Mas, há um aspecto
muito importante: o poluidor pode ser direto ou indireto. O poluidor direto é aquele que efetivamente
causou a degradação, ao passo que o poluidor indireto é aquele que, de alguma forma, contribuiu para o
dano ambiental. Como exemplo, instituições financeiras podem ser responsabilizadas por empréstimos a
empresas que causem danos ambientais; a empresa como poluidora direta, a instituição financeira como
poluidora indireta, porque sem o empréstimo não teria ocorrido o dano ambiental. E o último ponto a ser
destacado é que pela jurisprudência firmada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) os poluidores direto e
indireto são solidários, significa dizer que aqueles que participaram do dano ambiental ou que tiraram
proveito da atividade são igualmente responsáveis pela reparação. Assim, uma ação civil pública – a
principal ação de natureza ambiental – pode ser ajuizada em face de ambos, poluidor direto ou indireto,
ou de qualquer um deles. 

A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 1981) e a Lei da Ação Civil Pública (BRASIL,
1985) relacionam, basicamente, duas formas de reparação do dano ambiental: (i) a reparação/restauração
e a (ii) indenização pecuniária. Uma outra modalidade de reparação é destacada pela doutrina: a
compensação ecológica (MELO, 2017). Dessa forma, são três as modalidades de reparação do dano
ambiental: (i) reparação específica (in natura); (ii) compensação ecológica; (iii) indenização pecuniária.
Destaca-se, em um primeiro momento, que a ordem estabelecida deve ser observada, ou seja, deve ser
priorizada a reparação específica sobre as demais modalidades, que são subsidiárias.  

A reparação específica, também chamada de in natura, é aquela no local em que ocorreu o dano ambiental
e, assim, encontra-se na perspectiva de retorno do equilíbrio ecológico, ou pelo menos uma situação mais
próxima (MELO, 2017). Nessa modalidade, é o próprio bem lesado que deve ser reparado. Por exemplo,
se o dano é o desmatamento de dez hectares de vegetação primária, a reparação será no próprio local, com
a obrigação de fazer, consistente na recomposição da área desmatada. 

Agora, se não for possível a reparação específica, adentra-se nas hipóteses de compensação ecológica ou
de indenização pecuniária. A compensação ecológica é a substituição do bem lesado por outro equivalente
(MELO, 2017). Para essa modalidade, além da impossibilidade da reparação específica, é preciso que a
área a ser compensada seja do mesmo tamanho da área do dano e que tenha a mesma importância
ecológica. A indenização pecuniária, por fim, é a forma clássica de reparação no direito civil, mas
subsidiária no direito ambiental (MELO, 2017). Os valores arrecadados a título de indenização são
destinados para o fundo para reconstituição dos bens lesados, criado pela Lei da Ação Civil Pública. 

Uma questão relevante é a cumulação de pedidos em uma ação civil pública ambiental, isto é, tanto a
reparação específica – obrigação de fazer ou de não fazer – quanto a indenização pecuniária. O STJ
entende por essa possibilidade. Segundo a Súmula 629,

“quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer
cumulada com a de indenizar” (BRASIL, 2018b, [s. p.]).

Portanto, aquele que cometer um dano ambiental poderá ser obrigado reciprocamente a reparar onde
ocorreu o dano ambiental e destinar recursos financeiros para o fundo para reconstituição dos bens
lesados. 

Por fim, a pretensão de reparação aos danos causados ao meio ambiente é imprescritível, conforme
decidiu o STF (BRASIL, 2020). Por outras palavras, uma ação civil pública de reparação de danos
causados ao meio ambiente não está sujeita ao instituto da prescrição, podendo ser ajuizada mesmo que
tenha se passado vários anos da ocorrência do dano. Trata-se de demonstração da relevância do bem
ambiental, cuja proteção é imprescindível para todas as atividades humanas.

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