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2 Panorama Curricular na Abordagem Educacional por Princípios

2.1 Definições de currículo:

Vejamos algumas definições com o cuidado de encontrar através delas o correto entendimento
para direcionar o nosso estudo neste amplo campo de conhecimento em educação – o
currículo.

Currículo: do latim curricùlum,i 'corrida, lugar onde se corre'; ato de correr; corrida, curso;
programação total ou parcial de um curso ou de matéria a ser examinada. (Houaiss,
2009)
A palavra latina curriculum, da qual a palavra inglesa é derivada sem modificações de
grafia, significa corrida; carruagem, pista de corrida, (ou trajeto a ser percorrido). O
cognato currere, significa correr. Um currículo é, portanto, carruagem, trajeto a ser percorrido ou
veículo no qual a cultura expressa sua fé e seus padrões religiosos1. Dessa forma, a raiz da ideia
envolvida no currículo é curso, direção ou plano para uma geração que se torna a
expectativa para a próxima. É como uma geração construindo uma estrada para a
próxima geração, abrindo caminho por meio da floresta, para que a próxima geração
possa correr mais facilmente e mais rapidamente. Na medida em que cada geração faz
isso, torna-se possível ir mais e mais longe, aumentando as expectativas do que alguém
pode fazer por meio do poder de Cristo. (JEHLE, 2016. Pág. 23)

A palavra currículo significa literalmente “pista de corrida”; é o curso de estudo que o


aluno segue e, no tempo certo, o conduz a um objetivo específico. Ele consiste de todas
as atividades, planejadas ou não, formais ou informais, de que o aluno participa, na
escola ou em outro ambiente educacional. (LYONS, 2009. Pág. 21)

É uma tentativa de comunicar os princípios e características essenciais de um propósito


educativo, de tal forma que permaneçam abertos à discussão crítica e possam ser
efetivamente transladados à prática. (STENHOUSE, 1984. p. 29).

Currículo escolar – Disciplinas ou matérias expressas em um plano geral de estudos.


Projeto que preside as atividades educativas escolares, define suas intenções e
proporciona guias de ações adequadas e úteis para os professores, que são diretamente
responsáveis pela sua execução. (COLL, 1997. Pág. 45).

1 Rushdoony, R. J. The Philosophy of the Christian Curriculum, Ross House Books, 1981; page 4.

1
Correr: Mover-se rapidamente por uma carreira, passos ou etapas. Mover-se sobre ou
caminhar rapidamente por etapas. Prosseguir ao longo da superfície; estender. Êx 9:15-
16. “as dez pragas - a ideia que Deus estabelece etapas com um fim de aprendizado” (WEBSTER,
1828)

Currículo Cristão - É um plano geral desenvolvido por uma instituição educativa que
define o conteúdo programático, a sua sequência e ordenação visando alcançar os
objetivos gerais propostos a partir da visão institucional abraçada. Deve apresentar uma
fundamentação bíblica para todas as áreas do conhecimento, priorizar a excelência
acadêmica, a formação de caráter cristão e efetiva aprendizagem. Deve evidenciar que a
origem de todo conhecimento está em Deus, ora expresso na sua Criação, ora na sua
Palavra e que deverá ser útil para o desenvolvimento pessoal e serviço ao próximo, no
eficaz cumprimento da vocação individual. (Definição coletiva a partir das definições
pessoais dos alunos do curso EaD Básico III – Aecep set/2008)

Como podemos observar, currículo pressupõe movimento, trajeto, caminho e processo.


Assim, numa perspectiva cristã deve indicar o ponto de partida e o objetivo de chegada através
das vivências a serem propostas, apontando para Jesus não só a origem, mas o caminho e o
alvo a ser alcançado.

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida.” Jo 14:6

Todo o traçado proposto deve direcionar para Ele, com Ele também deve ser percorrido o
caminho, para que no resultado final venhamos nos parecer ainda mais com Ele.

2.2 Componentes de um currículo

Os componentes básicos de um currículo conforme apresentados no Noah Plan2, são: as


‘disciplinas’, seu ‘escopo e sequência’ e os ‘métodos’. Esta divisão também é recorrente entre
os mais diversos estudos sobre currículo variando apenas em relação à nomenclatura utilizada.
São eles que formam o que chamamos de paradigma curricular.

Componente: 1. o que compõe ou ajuda na composição de algo; 2. que é parte


constituinte de um sistema. (HOUAISS, 2009)

Como atesta a definição acima, os componentes estabelecem o sentido para o ‘todo’, sendo,
portanto, indispensável a presença de cada uma destas partes. Cada um destes três
componentes é orientado para a efetiva promoção do objetivo final proposto. Este objetivo é

2
Noah Plan é um amplo currículo e um programa de auto estudo em Educação por Princípios (The Principle Approach)
desenvolvido pela F.A.C.E (Fundação para Educação Cristã Americana) É considerado um currículo de Educação Americana
Bíblica e Clássica.

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concebido a partir da filosofia educacional adotada, no nosso caso, a filosofia educacional
cristã que fundamenta a AEP.

Figura 1: Visão geral dos componentes de um currículo.

Como podemos observar, o que move um currículo são os objetivos gerais propostos. É aqui
onde a intenção educativa da instituição ganha forma. O currículo é este documento
pedagógico onde a filosofia educacional é expressa e traduzida em ações, escolhas (de métodos
e conteúdos, por exemplo) e vivências.

Objetivos
Os objetivos de um currículo são elaborados de acordo com a filosofia educacional, a missão e
a visão da instituição e deve procurar refletir todos os seus valores no processo. Os objetivos
educacionais num currículo é a sua alma, pois todo currículo de alguma forma já pressupõe
objetivos, pois, como já dizia o ‘gato da duquesa’ em ‘Alice no país das maravilhas’, “se não
sabemos para onde ir, então qualquer caminho poderá ser usado”.

Objetivo: aquilo que se pretende alcançar quando se realiza uma ação;


propósito.

Propósito: 1. intenção (de fazer algo); projeto, desígnio 2. aquilo que se busca
alcançar; objetivo, finalidade, intuito 3. aquilo a que alguém se propôs ou por
que se decidiu; decisão, determinação, resolução. (Houaiss, 2009)

Os objetivos devem oferecer boas respostas para algumas perguntas fundamentais. Por
exemplo:
- Que tipo de pessoas(alunos) queremos formar? Qual a visão de mundo que
servirá de pano de fundo para compreensão da vida?
- Qual o propósito do aprendizado?
- Aonde devemos mirar? O que espero alcançar neste curso?

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Estes objetivos devem partir de uma visão integral da pessoa considerando-se todas as áreas do
seu desenvolvimento, nos aspectos físico, intelectual, moral e espiritual. Deve ainda:

▪ Considerar que o aluno já é pleno e que possui todo o potencial dentro dele para
cumprir o seu propósito (exercício de sua vocação);
▪ Demonstrar, através das ações pedagógicas, que o desenvolvimento deve extrapolar a
mera informação conceitual, oportunizando rotinas que promovam as virtudes, a
aplicação e o significado para o conhecimento;
▪ Explicitar intenções e estratégias claras em relação ao desenvolvimento de cada
dimensão; (corpo, mente, razão, emoções, espírito). (ver ref. Lucas 2:52)
▪ Considerar a diversidade nos estilos de aprendizagem, contextos culturais e a idade dos
alunos;

▪ Ser orientado para a promoção da operosidade e atitude proativa diante dos problemas;
▪ Promover o desenvolvimento de competências.
Vejamos uma descrição mais detalhada de cada um destes componentes.

Disciplinas
É o corpo de conhecimentos com os quais iremos dispor para a consecução dos objetivos de
aprendizagem.

Disciplina: 1. ciência, ramo de conhecimento; matéria escolar; 2. ordem,


regulamento, conduta que assegura o bem-estar dos indivíduos ou o bom
funcionamento de uma organização. 3. conjunto de conhecimentos agrupados
por similaridade. (Houaiss, 2009)

Disciplinas: Toda a gama de conhecimento ensinado. Deve ser inspirado pela


missão de guiar o crescimento interno do intelecto, coração, caráter e espírito
dos alunos;

Aqui é onde selecionamos toda a gama de conhecimentos identificados como essenciais para
uma formação virtuosa. A premissa em foco é a do “mandato cultural”, conforme estabelecido
em Gn. 1:28. Partimos do pressuposto que existe um conhecimento objetivo e inteligível que
partiu da mente do Criador e que Ele também deseja que o compreendamos a fim de
exercermos a mordomia sobre a sua criação. Para uma efetiva resposta a este mandato e
cumprimento do propósito de glorificar a Deus e sujeitar todas as áreas ao Seu domínio, temos
que conhecer, administrar e guardar o mundo criado como bons mordomos de Deus. Isto
sempre deverá ser feito com uma atitude de reverência ao Criador, responsabilidade e respeito

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para com todos os seres criados. O conhecimento, nesta perspectiva deverá ser para honrar a
Deus e servir ao próximo e não para o orgulho pessoal.

As disciplinas serão os meios pelos quais Deus empregará para promover todo o potencial
latente de cada indivíduo para cumprir os Seus propósitos. Enquanto o aluno interage e
apreende este conhecimento sistematizado, historicamente construído e aplicado ao seu
contexto, no exercício de uma reflexão em princípios, ele cresce em discernimento e sabedoria
sendo transformado para ser segundo o modelo do caráter de Cristo.

Ao eleger e distribuir os objetos de conhecimento, nas disciplinas e conteúdo a serem


abordados ao longo do processo de escolarização, necessitamos responder satisfatoriamente as
seguintes questões:
- Quais são as grandes áreas do conhecimento?
- Como podemos classificar e agrupar o conhecimento?
- Existe uma unidade entre as disciplinas? Como podemos manter a sua integração
e interdependência?
- O que é de fato significativo e possui valor para o desenvolvimento humano?
- Quais os fundamentos para o entendimento amplo do mundo criado?
- Quais são os rudimentos ou conceitos básicos que devem ser ensinados? Que
princípios de governo podem ser percebidos e expandidos?
- Como este conteúdo irá despertar as capacidades internas, dons e talentos que
Deus já confiou a cada um para desempenhar a sua vocação?
- Como oportunizar outros ‘aprendizados’ a partir destes conteúdos?

E considerar como premissas:

▪ Que todo o conhecimento vem de Deus e, portanto, revela a Sua glória e vontade;
▪ Que cada disciplina revela o Criador e o Seu caráter, pois todo conhecimento nasce
Nele. A obra revela sempre o caráter do seu autor;
▪ Demonstrar compatibilidade com o modelo criacionista para as origens;
▪ Demonstrar como as disciplinas são unificadas biblicamente, historicamente e
governamentalmente.
▪ O conhecimento como um corpo interligado, que apesar da singularidade de cada
disciplina, sempre que possível, demonstrar a interdependência entre as áreas,
disciplinas e conteúdos;
▪ Que existe uma relação de familiaridade entre algumas delas mais do que outras;
formação dos eixos geradores; áreas afins;

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▪ Apresentar cada disciplina ou matéria a ser estudada a partir dos seus fundamentos ou
princípios fundantes, levando os estudantes à compreensão dos princípios que regem a
criação;
▪ Atribuir a noção de propósito e planejamento para cada uma delas;
▪ Promover um espírito de contemplação e aprendizado a partir da observação detalhada
do mundo natural;
▪ Utilizar os diversos conteúdos como oportunidades para desenvolvimento de
habilidades com o fim de gerar competências;
▪ Produzir conhecimento significativo e relevante para as demandas da vida real;
▪ Demonstrar através das ações pedagógicas que o conhecimento extrapola o aspecto
conceitual, propondo conteúdos procedimentais e atitudinais como parte igualmente
relevante na formação integral da pessoa.

Escopo e Sequência
Neste componente deve-se considerar a profundidade(graduação) que daremos a cada
disciplina e como serão ordenados os assuntos. Abrange também o enfoque principal e/ou
objetivos a serem alcançados.

Escopo: no sentido de alcance, abrangência, amplitude, profundidade. Tem também o


sentido de mira, alvo. (Houaiss, 2009)

Sequência: 1.ato ou efeito de dar continuidade ao que foi iniciado; 2. seguimento, ordem;
3. quantidade de coisas ou eventos consecutivos no espaço ou no tempo; série, sucessão.

Este componente é de vital importância na educação cristã, pois quando partimos de uma
visão bíblica para as origens, consideramos que tudo veio a existir a partir de um propósito e
não por mero acaso. Daí se pressupõe planejamento e inteligência envolvidos no processo. Se
existe planejamento, as partes que compõem o todo não são jogadas a esmo, existe uma
sequência, uma lógica de conectividade e interdependência inteligente entre elas. Um currículo
cristão deverá intencionalmente evidenciar isto em sua organização e sequência. Em outras
palavras, significa que podemos procurar por uma lógica e sequência que ela existe, pois todas
as coisas criadas respondem a um propósito eterno estabelecido pelo Criador.

Os aspectos de planejamento, intencionalidade, organização e sequencia presentes na Criação


devem ser observados na elaboração do escopo curricular.
▪ Planejamento: Os conteúdos das áreas a serem ensinados devem caber no
tempo/número de aulas a eles destinado. Todos os detalhes do calendário escolar e da
comunidade devem ser considerados; O espaço destinado às aulas, assim como os
recursos materiais e humanos devem ser levados em conta;

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▪ Intencionalidade: Os propósitos e objetivos educacionais devem ser explicitados em
pequeno (objetivos para a aula ou para a etapa), médio (habilidades a serem
desenvolvidas na etapa/ano/segmento) e longo prazo (competências e caráter que
queremos formar).
▪ Organização: Ele deverá exprimir a expansão das ideias a partir de princípios fundantes
e conceitos básicos de cada área; sempre tendo em vista os objetivos a serem
alcançados, a qualidade e não a quantidade do que está sendo ensinado. Para isso é
necessário levar em conta a utilização da “recursividade”.
Recursividade: 1. Possibilidade de aplicar uma regra repetidamente na
construção de enunciados; 3. Em educação a recursividade representa o
movimento de voltar a um mesmo conceito ou assunto, retomando-o e
expandindo-o até a sua plena compreensão. (Michaelis On Line –
www.michaelis.uol.com.br, acesso em 07/11/14)

▪ Sequência e ordem: A beleza, a harmonia e a interdependência dos elementos das áreas


do conhecimento e os seus conteúdos devem ser evidenciados, assim como ocorre na
sequência da Criação. Quando observamos os “Dias da Criação” e a ordem em que os
elementos que compõe a vida no nosso planeta são estabelecidos, bem como o
povoamento do céu, da terra e dos mares, percebemos que há uma ordenação
harmônica, de modo que cada obra realizada é complementar a anterior e todos os
seres vivos encontram uma estrutura criteriosamente planejada para sobreviver, crescer
e se multiplicar.
Ordem: sf (lat ordine)1. Boa disposição das coisas, cada uma no lugar que lhe
corresponde; disposição das coisas cujo arranjo se subordina a um princípio
útil, agradável ou harmonioso. 2. Lugar ou categoria que ocupam entre si as
pessoas ou as obras. (Michaelis On Line – www.michaelis.uol.com.br, acesso
em 07/11/14)

Outro fator a ser considerado neste componente são as etapas do desenvolvimento humano e
as suas respectivas necessidades, pois esta compreensão é essencial para se definir a
abrangência e a profundidade com que cada disciplina será abordada em cada segmento e série
escolar.

Embora tenhamos a compreensão de que a individualidade de cada estudante evidenciará


diferenças no interesse, na maturidade e em outros fatores que interferem na aprendizagem,
sabemos que existe uma semelhança entre os pares etários no processo de crescimento físico,
emocional e intelectual. Por exemplo, na aquisição da marcha, percebemos que a maioria dos
bebês vai virar na cama, assentar, engatinhar, ficar de pé com apoio para depois andar. Vai
chorar e balbuciar, antes de falar. É importante ressaltar que não deixamos de conversar com
um bebê, desde que ele nasce, ou até antes. Mas não esperamos que ele nos responda
oralmente, nessa fase. Esta é a lógica ‘criacional’ que deve orientar a elaboração curricular. Isto
evidencia a importância de definirmos uma disposição lógica e crescente para o currículo, que
seja eficiente para fazer com que o aluno se desenvolva, cresça e produza frutos na sua
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aprendizagem. Nosso currículo deverá prever a exposição do conhecimento de maneira ampla,
rica, contextualizada ao mesmo tempo em que apresenta os seus rudimentos e traça objetivos
claros para cada etapa.

Vejamos algumas perguntas pertinentes para situarmos este componente do currículo:


- Como devem ser distribuídas e implementadas as ações educativas?
- Qual a melhor idade ou qual o nível de desenvolvimento adequado para o
aprimoramento de determinadas habilidades?
- Qual a melhor lógica para estabelecer uma sequência?
- Qual a “dosagem” apropriada na apresentação dos conteúdos?
- Qual o nível de aprofundamento para cada fase? Como vamos graduar os
desafios?
- Quanto tempo devo dedicar a isto? Quanto tempo tenho para este assunto?

São perguntas como estas que devemos responder apropriadamente ao elaborar um currículo
através deste componente.

Métodos e Ferramentas
A maneira como realizamos o processo também carrega em si uma filosofia, uma visão de
mundo. A ‘forma’ também transmite uma mensagem.

Método: A disposição adequada e conveniente de coisas, processos ou ideias; arranjo


natural ou regular de coisas ou partes separadas; ordenamento conveniente para a
realização de negócios, ou para compreender qualquer assunto complicado. Caminho ou
maneira de fazer. (WEBSTER, 1828)

A escolha de métodos bíblicos utilizados por Deus na consecução do seu plano de redenção
para a humanidade deve ter prioridade, pois certamente são mais eficientes.

A utilização do Método dos 4 Passos, o Estudo de Palavras, a Linha do Tempo, são exemplos
algumas metodologias e ferramentas que deverão ser contempladas no currículo3.

Questões a serem consideradas neste componente do currículo:

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Nos curso 2 e 3 da formação básica em AEP - “Fundamentos Filosóficos” e “Fundamentos Metodológicos” – estes aspectos
que orientam a metodologia desta abordagem, bem como as ferramentas a serem utilizadas, são melhor detalhados.

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- Como podemos implementar as ações educativas previstas?
- Quais as formas mais eficientes para a promoção do aprendizado,
considerando os diversos tipos de aprendizes?
- Quais métodos mais efetivos para desnudar a natureza caída e promover a
transformação da mente, conforme descrita nas Escrituras?
- Quais ferramentas evocam mais o interno, ou o envolvimento e total do
aprendiz?
- Quais delas serão utilizadas em cada etapa do currículo tendo em vista sua
melhor aplicação?
- Quais métodos promovem a inspiração e encorajamento e não apenas o
estímulo?
- Como posso aferir o aprendizado e o desenvolvimento global do estudante?
- Quais as melhores ferramentas para avaliar a eficácia do processo em cada
etapa e no final de cada curso?
A utilização consistente das ferramentas da AEP promove a aplicação do conhecimento e a
significação como garantia de aprendizado eficiente e gerador de vida; são coerentes com a
filosofia de educação abraçada, conduzem à reflexão e ainda oportunizam a criatividade.

2.3 Sinergia4 dos componentes de um currículo

Depois de observados separadamente, voltamos


novamente às instruções do Noah Plan e percebemos
que estes componentes integram e formam um todo
que virá refletir na prática pedagógica e na identidade
da instituição.

A força do currículo reside tanto nos princípios


internos (sua filosofia educacional) e na interação
(sinergia) dos seus componentes. Cada componente
do paradigma curricular é interdependente do outro.

Para se chegar a um currículo dinâmico e eficaz cada


componente deve ser pensado, ordenado e executado
de forma integrada aos outros componentes, por um
Figura 2: A interdependência e sinergia dos componentes
vigoroso professor.

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Sinergia: sig. ação ou esforço simultâneos; cooperação, coesão; trabalho ou operação associados; ampliação do efeito ou
potencialização da ação de uma ou mais substâncias químicas pela associação de diferentes princípios ativos. HOUAISS, 2009.

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Vigoroso: que tem vigor físico; que é forte, robusto. Ex.: os vigoroso lutadores.
2. que tem saúde ou viço; saudável, viçoso. Ex. Como uma árvore viçosa. 3.
que é realizado ou aplicado com força; que está cheio de força, energia,
vitalidade; forte. 4. que transmite força, criatividade; cujo efeito marca,
impressiona e se expande. (HOUAISS, 2009)

E aqui, chegamos a uma questão fundamental a ser observada. De nada valerá um currículo
bem elaborado e que reflita com muita aproximação as intenções educacionais da instituição se
colocado nas mãos de um professor apático, descompromissado e que não possua um
relacionamento intenso com Deus e com a sua verdade. Será como entregar um mapa bem
elaborado nas mãos de alguém incapaz de orientar-se por desconhecer os pontos cardeais.

O currículo inclui todas as atividades e experiências que são introduzidas pela escola para o
cumprimento do propósito da educação. O fundamento básico pelo qual um currículo
centrado em Cristo é construído, é o mestre (o professor), o discipulador - as pessoas que
participam do processo educativo formal, a saber: o colegiado (ou conselho), a direção, o
professorado e o pessoal de apoio. Todos estes indivíduos, quaisquer que sejam suas funções
na escola, devem se considerar como “currículos vivos” retratando a imagem de Jesus Cristo.
Cada aluno será grandemente influenciado por estes indivíduos mais do que qualquer outra
atividade, ambiente ou material escrito. O caminho percorrido ao lado destas pessoas e o nível
de relacionamento desenvolvido será a maior força de um currículo.

3 Currículo Vivo
Educação, por definição, é uma experiência interna. Ela trata da natureza interna do ser
humano – o espírito, a mente, o temperamento e o caráter tanto do professor quanto do
estudante.

Um currículo cristão precisa ser mais do que um curso de sobrevivência enquanto se espera o
dia de ser chamado à presença de Deus. Precisa ser capaz de equipar e treinar plenamente
nossos jovens a servirem fielmente a Cristo como líderes virtuosos em cada esfera da vida. Isto
exige o hábito consistente de pensar e raciocinar a partir da verdade até que isso se torne uma
prática na forma de interagir com o conhecimento e se desenvolva o discernimento espiritual,
intelectual, social e estético de uma cosmovisão cristã.

Nesse processo, o coração e a mente do professor interagem com o coração e a mente do


estudante, pois ensinar e aprender são processos naturais e relacionais. A educação cristã
requer um currículo vivo que inspire e cultive o homem interior, um currículo cujas raízes sejam a
revelação Divina. (Noah Plan, pág.78)

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3.1 O que é um Currículo Vivo?

Como vimos, currículo é “lugar de corrida” – uma pista de corrida para a próxima geração em
todos os aspectos da vida. Uma pista de corrida cristã ou bíblica é o que foi estabelecido
depois de Cristo.

Vivo: adj., Que tem vida ou as funções vitais em operação; que não está morto.
2) Que flui, como uma fonte viva; que não está estagnado. 3) Que produz ação,
animação e vigor; vivificador; como um princípio vivo; uma fé viva. “Há um
espírito no homem e o sopro do Todo-Poderoso lhe dá entendimento.” – Jó 32:8 “Eu sou o
pão da vida” Jo 6:48 (WEBSTER, 1828)

Neste curso, que é a vida cristã, devemos saber o que deve ser deixado de lado, por ser um
empecilho. Precisamos distinguir o que é reto do que é impuro, considerando a mensagem da
cruz de Jesus Cristo. Esta corrida tem uma história que precisamos conhecer, pois muitos
correram antes de nós e são chamados de “a grande nuvem de testemunhas”, como os santos
mencionados em Hebreus 11. Devemos correr esta corrida com paciência e perseverança. Em
outras palavras, há um custo, um trabalho a ser realizado, porque a vida cristã é possível, mas
não é fácil. Temos, portanto, que assumir os desafios de viver de modo “digno da nossa
vocação”. As dificuldades são oportunidades a serem sobrepujadas. A corrida é para os que
querem vencer, e não para os que desistem.

Deus nos diz que há um alvo final nesta corrida. Como vamos corrê-la?

“Olhando para Jesus, o autor e consumador de nossa fé, que


pela alegria que lhe estava proposta suportou a cruz...” Hb 12:2

Precisamos olhar para Jesus, o começo, o ponto de partida de tudo. Quando recebemos a
Cristo, nos posicionamos na linha de partida. Ele nos encoraja, ele é o autor de nossa fé. Mas
Ele também está na linha de chegada dizendo: olhem para mim, mantenham os olhos para
frente, aqui é que vocês devem chegar, não olhem para os obstáculos, e vocês irão concluir
esta corrida.

“Que eu complete a minha carreira (curso) com alegria”. Atos


20:24

Esta é a vida cristã, o curso que Deus estabelece para nós. Este é o padrão, o modelo que Deus
estabeleceu em Sua Palavra, para qualquer curso ou currículo.

O currículo comum empregado na maioria das escolas e geralmente humanista não segue este
padrão, e por isso no mundo todo gerações estão escravizadas. Não significa que não
consideraremos os parâmetros e orientações oficiais e livros textos. Não devemos esperar o
currículo perfeito para correr. Posso tomar o que tenho em minha mão e transformá-lo. Mas,
sempre com discernimento e partindo da premissa de que somos a pista, o curso, que os

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alunos devem seguir. Podemos marcar as crianças através de nossa vida. Estudando
profundamente um assunto, como aquela disciplina se desenvolveu no seu país, assim como
quem são os escritores, os inventores do Brasil, os educadores, os que trabalharam antes de
você na área acadêmica, podemos aprender e sermos inspirados por eles. O curso que
ensinamos, as coisas que proclamamos precisam ter este tipo de qualificação. Os alunos devem
seguir ao professor, que segue ao Senhor, e não ao livro. Não esperemos que existam materiais
suficientes para ensinar – ensinemos a partir de nós mesmos. Neste sentido cada pai e
professor é um curso, uma pista pessoal e todo líder deveria dizer: “siga-me como eu sigo a
Cristo”. I Co 11:1

Para reflexão:
De que forma os textos bíblicos abaixo se relacionam com o tópico
estudado?
“O que também compreendestes e acertastes, e tendes ouvido e observastes em mim, isso
praticai.” Fl 4:9
“Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida pro todos os
homens.” II Co 3:2

É também importante que ensinemos os estudantes como aprender e a discernir a partir dos
princípios gerais, para que possam correr a carreira da vida cristã. Eles têm que trabalhar duro
e aprender a vencer, a pensar por si mesmos e não apenas buscar respostas com o professor.
Eles precisam escrever o que aprendem e não apenas usar os livros. Tem que haver raciocínio
e trabalho, para que eles possam ser formados. Se o conhecimento for algo dado, onde apenas
lhes emprestaremos informação para que sejam devolvidas nos testes, não há educação real.
Ele deve ser desafiado a busca-lo através da pesquisa, investigação, experimentação e análise. Á
medida em que avançam, vamos colocando obstáculos, graduando os desafios, assim eles
vencerão as dificuldades e o conhecimento se tornará propriedade deles.

3.2 O que torna um currículo genuinamente cristão?

Um currículo é cristão quando ele é centrado na bíblia em teoria e prática. Toda a sua
orientação filosófica deve ser fundamentada em uma cosmovisão cristã.

A bíblia é o divino catalisador que abraça a verdade e lhe dá significado. A verdade deverá ser a
unidade de todo o conhecimento. Todas as matérias são reconhecidas como uma revelação
deste corpo de verdades. Existem duas fontes seguras para encontrarmos a verdade: a primeira
delas é a Criação, como obra das mãos de Deus revelando o seu caráter e vontade em todos os
detalhes, leis ou estruturas. A segunda é a Sua palavra escrita – a bíblia – estas são duas fontes
confiáveis de revelação que se completam e lança luz uma a outra.

A bíblia deve ser central para todos os cursos de estudo. Não se trata da quantidade de bíblia
ensinada, mas antes dos princípios que permeiam o currículo em todos os níveis em cada

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disciplina. É o raciocinar com a revelação da verdade bíblica que ilumina todas as disciplinas e
assuntos. A bíblia promove o critério pelo qual todas as matérias são julgadas.

A título de ilustração, raciocinemos sobre qual seria o produto final de um programa


educacional, mesmo numa escola cristã, em que:
As disciplinas não glorificam a Deus e seus princípios expressos na Palavra e na
Criação;
Os livros-texto são escritos com uma cosmovisão secular;
O professor que desenvolve o currículo não é cristão;
Métodos e ferramentas seculares são largamente empregados;
Seria neste caso, o produto final uma educação cristã?

A Abordagem Educacional por Princípios produz um currículo transformador, pois as


Verdades e a autoridade da Palavra de Deus estão no coração de cada disciplina e método.
Nessa abordagem, as disciplinas são unificadas bíblica, histórica e governamentalmente.

Um programa curricular em AEP, não depende exclusivamente de livros-textos com


fundamentação filosófica muitas vezes anticristã, nem de livros de exercícios, nem muito
menos de manuais do professor com todas as lições “prontinhas”. Cada escola deverá
desenvolver os seus próprios guias curriculares com sequência e escopo (amplitude e
profundidade), diretrizes para as disciplinas, descrições gerais do curso e com sugestões de
métodos cristãos de ensino e aprendizado.

3.3 Aspectos Básicos do Currículo Cristão

Numa análise superficial, todo currículo pode até parecer ser igual ou quase igual. Afinal, todos
listam conteúdos das áreas de conhecimento, preconizam objetivos gerais e específicos e
sugerem alguma metodologia. Para um educador descuidado poderia até pensar que estas
prescrições são neutras e sem nenhuma afetação na vida dos alunos. Seriam as intenções
pedagógicas semelhantes entre um currículo de um sistema de ensino humanista e outro de
uma escola cristã? Na intenção de delinearmos o diferencial de um currículo cristão,
consideremos os aspectos a seguir:

a. Um currículo cristão precisa evidenciar a tríade fundamental (criação, queda e


redenção) em todas as disciplinas para estabelecer posicionamento em uma cosmovisão
cristã;
b. Precisa considerar a realidade como um "mundo de Deus", onde Ele está presente e
age. Evitar todos os malabarismos intelectuais apresentados através de diversas teorias
com a intenção de adaptar-se a um mundo artificial, um recorte da realidade, da qual
Deus não faça parte;

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c. Deve contemplar as quatro dimensões humanas (física, intelectual, moral e espiritual)
nas suas necessidades específicas de desenvolvimento;
d. Cada matéria deve ser definida biblicamente, bem como seu propósito vertical (em
relação a Deus) e horizontal (na relação com o outro no seu contexto);
e. Possuir uma ênfase na formação do caráter, valorizando o aspecto formador ao invés
de apenas transferir informações;
f. Estabelecer um contexto de aprendizagem, integrando as matérias sob a perspectiva da
soberania de Deus na Criação;
g. Usar a linha do tempo com base no avanço do Cristianismo, situando o que está sendo
estudado na perspectiva providencial para a história;
h. Mostrar uma visão do todo, desde as séries iniciais, que vai se expandindo e
aprofundando;
i. Apresentar coerência e conectividade entre todos os assuntos e áreas de conhecimento
(disciplinas), evidenciando o caráter organizado e planejado para o mundo. Isto
pressupõe uma inteligência criadora por traz de todo o mundo natural manifestando
inevitavelmente a glória de Deus;
j. Abranger de maneira equilibrada todas as categorias de conteúdos (conceituais,
procedimentais e atitudinais) através da reflexão de princípios;
k. É uma peça viva e peculiar de cada escola, que é desenvolvido para configurar um
caminho para os objetivos da sua visão;
l. Deve ser preciso em conduzir a um relacionamento pessoal com o Criador, Senhor e
Salvador;

Paul Jehle revela (2016), sobre esta questão do currículo, alguns dos seus questionamentos na
busca de entender a composição de um currículo genuinamente cristão.

- Onde deveríamos buscar os conteúdos que ensinamos?


- Como deveríamos definir seus limites?
- As disciplinas estão relacionadas entre si ou elas são meramente categorias
arbitrárias de conhecimento para áreas da vida?

Estas são perguntas direcionadoras para quem deseja elaborar um currículo.

O gráfico seguinte apresenta as diversas áreas em forma de um panorama das disciplinas tendo
a bíblia como o referencial unificador. Cada disciplina forma uma unidade com as outras

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disciplinas quando ensinadas da perspectiva dos Princípios da Palavra de Deus. Cada disciplina
está em união com todas as outras, compondo uma visão completa de todas as áreas da vida, a
partir de uma perspectiva divina. (JEHLE, 2016. Pág. 72)

Visão Geral da Unidade e Interação entre as Disciplinas

Nota: Recomendamos um melhor aprofundamento com a leitura do Capítulo 2 do Livro Educação por
Princípios: Fundamentos do Currículo Escolar - AECEP.

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3.4 Referências bibliográficas:

COLL, César. Psicologia e Currículo: Uma aproximação psicopedagógica à elaboração do


currículo escolar. São Paulo: Editora Ática, 1997.

FACE. The Noah Plan: An Educational Program in the Principle Approach. San Francisco:
FACE, 1997.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss Eletrônico, versão digital 1.0, 2009.

JEHLE, Paul. Go Ye Therefore and Teach All Nations. Plymouth, MA – EUA: Plymouth
Rock Foundation, 2006.

___________. Educação por Princípios: Fundamentos do Currículo Escolar. São Paulo:


AECEP, 2016.

STENHOUSE, Lawrence. Investigación y Desarrollo del Currículum. Madrid: Morata, 1984.

YOUMANS, Elizabeth. Christian Curriculum Design (Apostila de curso realizado por ocasião
do XV Workshop da Aecep) São Paulo: AECEP, 2005.

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