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SUMÁRIO

1 CERTIFICAÇÃO AGRÍCOLA E IMPLEMENTAÇÃO NA


CAFEICULTURA ................................................................................................ 4

2 A CERTIFICAÇÃO AGRÍCOLA COMO CONSEQUÊNCIA DO


AMBIENTE NAS PROPRIEDADES CAFEEIRAS .............................................. 9

3 CARACTERÍSTICAS DA CERTIFICAÇÃO NA CAFEICULTURA


BRASILEIRA .................................................................................................... 17

4 HISTÓRICO DA CERTIFICAÇÃO NA CAFEICULTURA BRASILEIRA


18

5 OPÇÕES DE CERTIFICAÇÃO DE CAFÉ NO BRASIL.................... 21

5.1 Certificação Orgânica ................................................................ 22

5.2 Certificação Fair Trade .............................................................. 23

5.3 Certificação Utz Certified ........................................................... 24

5.4 Certificação Rain Forest Alliance .............................................. 25

5.5 Mercado .................................................................................... 25

5.6 Perfil dos produtores em relação às certificações ..................... 26

6 BENEFÍCIOS DA CERTIFICAÇÃO INCIDEM NO AUMENTO DA


RENDA DO CAFEICULTOR ............................................................................ 28

7 CERTIFICAÇÃO DE CAFÉ - GARANTIA DE PROCEDÊNCIA


MELHORA A RENTABILIDADE ....................................................................... 32

8 DESAFIOS DA PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL DE CAFÉ NO BRASIL


34

9 BIBLIOGRAFIA ................................................................................ 35

10 LEITURA COMPLEMENTAR ....................................................... 37

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10.1 O MERCADO CAFEEIRO NO BRASIL: um estudo sobre a
influência de políticas governamentais nos produtores e exportadores de café
da região da Alta Mogiana ............................................................................ 37

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1 CERTIFICAÇÃO AGRÍCOLA E IMPLEMENTAÇÃO NA CAFEICULTURA

O mercado de cafés certificados centra-se no seguimento de cafés


diferenciados, cuja adoção direciona as empresas rurais a adotarem as boas
práticas agrícolas para gerar sustentabilidade na produção; seguindo essa
vertente, esta seção abordará os programas de certificações presentes na
cafeicultura assim como as exigências impostas como meio de adoção das BPA.
A certificação pode ser considerada como um instrumento de mercado
utilizada na comercialização de produtos com o intuito de passar aos
compradores informações sobre sua forma de produção, sanidade e tipo de
qualidade de tais produtos.
A transmissão de informações sobre o processamento de alimentos está
se incorporando as práticas de gestão das cadeias agroindustriais de
praticamente todo o mundo. Apesar desceu um mecanismo moderno, utilização
de informações para garantir a sanidade do produto comercializado começou no
setor vinícola, ato que pode ser adotado desde o século XVIII (1756); primeira
Denominação de Origem Controlada (DOC) realizada na região vinícola
portuguesa, o Douro, caracterizando os vinhos do Porto (FREITAS, 2011).
Já no século XIX (1816), os franceses implantaram a certificação vinícola,
todo processo de produção dentro da cadeia era controlado. E posteriormente,
século XIX a França criou a denominação abre "Apelação de Origem" para o
setor vinícola artesanal se contrapor ao avanço das vinícolas industriais, desta
maneira a política volta-se para são de micro setores (FONSECA, 2002).
A certificação está enraizada na Teoria da Qualidade Total, segundo
Schmidt (2000), a sigla T. Q. C. (Total Quality Control) representa o controle da
qualidade total, é um sistema administrativo aperfeiçoado no Japão, o qual se
deu a partir de ideias americanas ali introduzidas logo após a Segunda Guerra
Mundial e obteve expansão muito rápida para outros países. As empresas
procuram seguir uma abordagem holística maslowiana, passando a serem vistas
como organizações que têm como missão satisfazer as necessidades

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(fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e de realização) das pessoas que
delas dependem, motivadas pela força de sobrevivência no mercado.
Para as empresas se cercarem de precauções internas e junto a
fornecedores se defenderem de responsabilidades, e ao mesmo tempo
satisfazerem as necessidades acima citadas, surgiram na Europa as normas
ISSO – International Standard for Quality Management Systems (MACHADO,
2000).

Fonte: portalmacauba.com.br

Ao analisar o selo de qualidade representado pelas Normas Isso 9000,


percebe-se que tal é capaz de garantir sua competitividade no mercado; a
organização padroniza seus produtos e serviços que compreendem uma
invenção da tecnologia do poder. Assim, quando a empresa certifica-se, ela
assegura sua sobrevivência e irriga efeitos positivos por todo o corpo social.
A certificação, assim como as marcas e rotulagens, são ferramentas
capazes de demonstrar sinais da qualidade, volume para atender padrões que
garantam informações da rastreabilidade, garantido alimentos seguros e com
mais eficiência; com isso há várias funções e benefícios para empresa e para o
consumidor.

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A diferença existente entre a marca e a certificação é que a marca é criada
por alguém que pode definir quaisquer características relacionadas a ela, já a
certificação remete a maior credibilidade, afinal é identificada por um selo emitido
por um órgão independente.
De acordo com Carneiro (2008), desde a gênese da certificação, ela foi
pensada com duplo propósito de: por um lado aquilatar e avaliar a intrínseca
qualidade do produto e do serviço e, por outro lado, o efeito reflexo da garantia,
certificação da qualidade, perante os consumidores em geral. Em sua opinião, a
ausência da certificação por entidade credível, funciona como uma falta de
identidade, de forma que, isso possa se tornar para o consumidor como uma
segunda opção na escolha final, para um patamar inferior; o que rotula
inevitavelmente, ainda que por omissão, esse produto ou serviço, como sendo
algo sem qualidade.
A demanda por alimentos certificados é proveniente do mercado
consumidor, segundo Pereira, Bartholo e Guimarães (2004), a globalização e a
velocidade atual da informação têm tornado os clientes ou consumidores muito
mas exige exigente quanto ao serviço, ao produto e ao sistema de produção
daquilo que estão adquirindo. Estes consumidores mais exigentes e conscientes
de seus direitos são os mesmos que se tornam dispostos a pagar mais por um
produto diferenciado.
No caso do sistema agroindustrial do café, o que geralmente se encontra
é a certificação voluntária, com o intuito de transmitir ao comprador ao
consumidor de café uma imagem de confiança, além de diferir o produto de seus
concorrentes, aumentando, portanto, sua competitividade.
Para adquirir um selo de certificação é necessária a contratação de uma
empresa considerada de terceira parte, a qual realizará um procedimento para
emitir garantias por escrito que, um produto, processo ou serviço, atende aos
requisitos específicos, esse é pago pela própria empresa que sustenta e garante
a conformidade e a confiança na imagem do seu produto.
A certificação, tal como uma marca, assegura o nível de qualidade
desejada pelo consumidor e deve ser entendida como um instrumento

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econômico que visa diferenciar produtos e produtores, devendo ser enxergada
como mais uma ferramenta de comercialização.
Mesmo com a baixa quantidade de café certificado no Brasil em relação
a produção total, o país ocupa o lugar de maior fornecedor mundial de cafés
sustentáveis certificados e, para a maioria do café exportado é exigida uma
certificação.
A certificação, apesar dos custos a ela associados, permite que pequenos
agricultores se incorporem com maior facilidade ao mercado de cafés
diferenciados. Isso contribui na organização interna e nas melhorias
socioambientais das propriedades, além de: auxiliar na capacidade e na
qualidade de vida dos funcionários, melhoria do sistema gerencial, na redução
da utilização de agroquímicos, no aumento da biodiversidade e da eficiência do
uso da água, no aumento da qualidade e da produtividade do produto agrícola.
Para evitar algumas ações oportunistas dos cafeicultores e assegurar a
garantia de que as qualidades necessárias a cada categoria estejam
contempladas, torna-se necessário o monitoramento e verificação do produto
com o objetivo de garantir a rastreabilidade dos mesmos. Essa verificação é
realizada através de uma empresa auditora ou associação acreditada, que utiliza
normas nacionais ou internacionais, acompanha o processo produtivo da
unidade auditada por meio de visitas periódicas programadas ou visitas
surpresas, nas quais busca-se monitorar os insumos, técnicas de produção,
produtividade, de vendas, estoques, rastreabilidade, e os aspectos sociais e
ambientais.
Cada tipo de certificação possui um padrão de normas próprias, quais as
propriedades rurais devem seguir. Por meio dessas normas, empresas auditoras
utiliza um check list em que os auditores, verificam in loco se cada item está
sendo cumprido. Alguns exemplos dessa certificação serão apresentados, de
acordo com suas orientações e princípios.
De acordo com o programa Certifica Minas, um dos objetivos da
certificação é: “Incentivar as organizações dos setores participantes e adotarem
sistemas da qualidade na cadeia produtiva de café, que contribuam para a

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segurança e a confiabilidade dos produtos ofertados aos diversos mercados
consumidores”. (GOVERNO DE MINAS, 2009). Para obter essa certificação, o
programa adota um Manual de Normas para a Certificação de Propriedades
Cafeeiras baseado em conceitos e critérios de: Gestão da Qualidade, Segurança
do Alimento, Boas Práticas Agrícolas e de Produção ao Meio Ambiente, Higiene,
Segurança do Trabalho e Responsabilidade Social.
Embutidos nos modelos de certificação existem diversas formas de
padronização, porém todas elas estão baseadas em critérios, ambientais, sociais
e econômicos; que são direcionados para a sustentabilidade como descrito por
Palmieri (2008). E tais padronizações seguem critérios de práticas produtivas,
gerenciais e normativas conforme a legislação do país. Através dessa análise é
possível compreender o quanto é importante à propriedade cafeeira estar
enquadrada dentro dos padrões das Boas Práticas Agrícolas como forma de
estar a caminho da sustentabilidade. Além da valorização pelos cafés
diferenciados, faltam cafés sustentáveis para suprir demanda dos mercados
internacionais (BRANDO, 2012).
Assim certificação pode ser vista como um mecanismo de gestão da
qualidade de seus produtos, na qual, a redução de assimetria informacional e
comprovação da existência de atributos intrínsecos em determinado alimento
permite ao consumidor uma maior segurança em relação ao seu consumo.
Dessa forma, o empreendedorismo se desenvolve, sobretudo na produção
sustentável do café, verificado um crescimento no vínculo das relações entre o
sistema agroindustrial do café e as instituições públicas, criando uma forte
sinergia entre os esforços públicos e privados (AULD, 2010).
Mesmo que existam mercados consolidados para a comercialização de
cafés certificados, há dúvidas sobre o papel desempenhado pelas certificações.
Giovannucci e Ponte (2005), ao analisarem alguns programas de certificação
(orgânico, Fair Trade, Bird-friendly coffee, Rainforest Alliance e Utz), verificaram
que ainda não possuem uma forma consistente e precisa de documentar os
níveis e distribuição de benefícios que se obtêm entre os diversos atores da
cadeia de valor, já que, não fica evidente quem recebe os benefícios mais

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concretos (como a remuneração ou preço prêmio). Esses benefícios podem
estar perdidos ou diluídos ao longo da cadeia de produtiva, ou entre a
administração e os membros de uma cooperativa. Com isso, os benefícios que
são facilmente apresentados pela certificação, como os supracitados, são
subutilizados como uma ferramenta para consolidar as relações com os
compradores existentes e para estimular a conquista de novos compradores.
Dessa forma, faz-se necessário verificar o desempenho dos programas
de certificação nas propriedades, e se, para desenvolver as Boas Práticas
Agrícolas, a adoção da certificação torna-se, de fato, imprescindível para a
cafeicultura.

2 A CERTIFICAÇÃO AGRÍCOLA COMO CONSEQUÊNCIA DO


AMBIENTE NAS PROPRIEDADES CAFEEIRAS

A certificação agrícola pode ser considerada o elo entre a produção e


consumo, logo cada selo de certificação representa uma forma de
processamento de acordo com suas normas; cujas estão alicerçadas na
produção ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável,
de forma que atenda aos interesses do mercado (LOCKIE, 1998; PALMIERI,
2008; PEREIRA, 2013).
A maioria das pesquisas que envolve os programas de certificação e
rastreabilidade estão embasadas a na Teoria dos Custos de Transação (TCT)
de Williamson. Pois, de acordo com Zylbersztajn (1995), Machado (2000), Leme
(2007), Ribeiro (2008) e Freitas (2011), a certificação é capaz de reduzir os
custos de transação e as assimetrias de informação entre os agentes da cadeia.

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Fonte: revistagloborural.globo.com

Para compreender como as propriedades agrícolas são influenciadas


pelos agentes que estão ao seu redor, deve-se considerar que toda atividade
agrícola comercial está inserida em um Sistema Agroindustrial (SAG), que pode
ser considerado o conjunto de atividades que concorrem para a produção de
produtos agroindustriais: desde a produção dos insumos até a chegada do
produto final ao consumidor. Este sistema é composto por seis conjuntos de
atores: agricultura, pecuária e pesca; indústrias agroalimentares; distribuição
agrícola e alimentar; comércio internacional; consumidor; indústrias e serviços
de apoio (BATALHA, 2009).
Na cadeia produtiva do café, objeto deste estudo, esses atores são
representados pelos seguintes agentes presentes nos setores que abrange a
economia cafeeira: ofertantes de insumos para a produção agrícola, como
produtores agrícolas, diferentes atacadistas especializados, traders,
cooperativas, indústrias de torrefação e solúvel e, varejistas (ZYLBERSZTAJN,
1995; MATIELLO et al., 2005).
Como a cafeicultura é uma atividade que faz parte do Sistema
Agroindustrial, de acordo com Azevedo (2000), o SAG está submetido ao
ambiente institucional que possui elementos (como direitos de propriedade da

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terra, políticas de preços mínimos, reforma agrária, políticas de segurança
alimentar - em seu duplo sentido de acesso a alimentos (food security) e garantia
de qualidade mínima (food safety)) que geram efeitos importantes sobre as
ações daqueles que compõem o SAG. Dessa forma, a produção cafeeira (e seus
atores) é pressionada direta ou indiretamente pelas características que
compõem o ambiente institucional.
Williamson (1993, p. 108) define o ambiente institucional como "As regras
do jogo que definem o contexto em que a atividade econômica acontece. As
regras políticas, sociais e legais estabelecem a base para a produção, troca e
distribuição."
Além dos agentes que compõem o SAG do café, o ambiente institucional
da cafeicultura também é influenciado pela volatilidade dos preços do mercado,
pelas intervenções governamentais e pela demanda do mercado; determinando
assim, as regras que disciplinam o comportamento do sistema.
As organizações que nascem dentro do ambiente institucional são
limitadas e condicionadas pelas regras institucionais, refletindo as estratégias
dos atores que criam as estruturas políticas, sociais, econômicas, buscando
otimizar ou maximizar a sua função objetivo (ZYLBERSZTAJN, 1995).
O comportamento dos participantes de um SAG que adotam as regras do
ambiente institucional pode ser, portanto, decisivo para sua eficiência e
competitividade, ao permitir uma coordenação de ações ao invés da
coordenação via sistema de preços (AZEVEDO, 2000).
Ao descrever o setor agrícola, Azevedo (2000) afirma que a
comercialização de produtos, em especial a de alimentos, é caracterizada por
particularidades distintas a outros produtos. Por exemplo, só é possível
comprovar o sabor e o aroma de um alimento após o consumo, além disso, há
outras características que nem durante o consumo podem ser comprovadas, tais
produtos são considerados como “bens de crença” (por exemplo, produtos
ecologicamente corretos) onde a produção só pode ser confirmada durante seu
processo. Então, para que o consumidor tenha a certeza sobre o processo de

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produção que determinado alimento é submetido, tal processo deve ser
fiscalizado e certificado.
Quanto maior for a dificuldade para se comprovar a informação referente
ao produto, maior deve ser o papel reservado ao arranjo institucional. Existem
três alternativas mais usualmente empregadas nos sistemas agroindustriais para
controlar a informação sobre o processo de produção: a) integração vertical; b)
contratos de longo prazo com monitoramento e; c) certificação por auditoria
externa de elevada reputação.
Regras formais e restrições informais são alguns elementos que
estabelecem interações econômicas entre os membros de uma mesma
sociedade que fazem parte do ambiente institucional. As regras formais se
baseiam na a constituição, nas legislações complementares e no conjunto de
políticas públicas; como, por exemplo, a defesa da concorrência, a política
agrícola e a política de reforma agrária. Já as restrições informais consistem em
valores, tabus, costumes, religiões, códigos de ética, laços étnicos e familiares,
que representam o importante papel econômico de restringir o comportamento
dos agentes. Assim, há organizações fundadas em códigos de conduta
(presentes na certificação agrícola), que apresentam alto grau de coesão e
coordenação dos atos de seus membros. A influência exercida por essas regras
e/ou restrições recai sobre a indução das decisões de investimento (AZEVEDO,
2000).
A certificação agrícola pode ser considerada como resultado dos fatores
que compõem o ambiente institucional, haja visto na literatura anterior, ela surgiu
das preocupações pela qualidade dos alimentos e dos impactos ambientais que
a sua produção pode causar ou não ao meio ambiente. Além disso, o Estado
também regulamenta normas e padrões de certificações para que a produção
agrícola atenda as qualidades mínimas de seus dos produtos, leis trabalhistas e
ambientais.
Machado (2000) afirma que a certificação é a institucionalização da
padronização, e onde a rastreabilidade tem curso obrigatório, a relação
custo/benefício não é determinante, porém condição de sobrevivência para

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quem quer participar do mercado. A certificação é um redutor de assimetria
informacional, pois é adotada pelas empresas para padronizarem processos
produtivos específicos ou diferenciados em seus produtos de acordo com a
exigência do mercado; assim, as mesmas serão atestadas por tais processos e
levarão informações consistentes para clientes e consumidores, diminuindo os
custos de transação nas relações comprador x vendedor (MACHADO, 2000).
No âmbito estratégico, para adotar a certificação, as empresas rurais
devem ficar atentas às mudanças do ambiente, a fim de produzir para atender
ao mercado de forma mais rentável. Como a cafeicultura está inserida em um
mercado competitivo, o que vale no momento da negociação é conquistar seu
diferencial aos olhos de seus consumidores (PORTER, 1986; REIS, 2007).
E para acompanhar a evolução do mercado no setor rural, é de
fundamental importância que as chácaras, sítios e fazendas sejam vistos como
empresas, que sejam administradas, adotando técnicas e procedimentos
gerenciais adequados à realidade da agricultura (SANTOS et al., 1998;
LOURENZANI et al., 2008, BATALHA; SOUZA FILHO, 2005).
Machado (2000) considera que, dada à complexidade da rastreabilidade,
trata-se uma ferramenta voluntária (implantada pelo interesse do empresário), a
certificação agrícola deve ser adotada apenas quando for um instrumento eficaz
para adicionar valor ao produto e aumentar as margens dos agentes internos da
cadeia produtiva; afinal a maior parte dos custos da rastreabilidade é de
transação, dado que:
 envolve investimentos em ativos dedicados;
 exige a construção e padronização de uma linguagem comum
entre agentes dos diversos segmentos para que se possa
preservar as características do produto a partir de suas origens;
 envolve coordenação e compromissos entre agentes de vários
segmentos do SAG para troca de informações sobre
especificações de produtos e processos;

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 depende de incentivos compartilhados entre os agentes dos
diversos segmentos para alinhar interesses e viabilizar a
coordenação vertical.

Para adoção de um programa de certificação agrícola, além de o


cafeicultor demonstrar o interesse espontâneo, precisa tanto adaptar sua
estrutura quanto adotar práticas que até o momento não havia no local e/ou não
estava habituado, como: construção de galpão exclusivo para defensivo
agrícola, mapear e identificar os talhões da lavoura, registro de atividades de
campo, anotações de custos de produção, registrar em carteira de trabalho todos
os empregados que trabalham na propriedade, entre outros. Práticas
provenientes das normas das Boas Práticas Agrícolas e, para que isso ocorra,
as características do empresário rural podem ser determinantes para implantar
a certificação em sua propriedade ou não (SILVA, 2012; PEREIRA, 2013).
O resultado dessa adaptação é a conquista do selo de certificação, mas
do ponto de vista do mercado consumidor, Machado (2000) faz uma analogia de
como os consumidores enxergam os sinais de qualidade nos produtos que
adquirem. Se o produto possui os quatro sinais de qualidade como a marca,
rotulagem, certificação por 3ª parte e conformidade padrão; o consumidor é
capaz de enxergar apenas os dois primeiros sinais; os dois últimos, são
considerados como invisíveis, são custos que a empresa e/ou a cadeia de
agentes de um Sistema Agroindustrial (SAG) precisa assumir, nomeados como
“bastidores do processo produtivo”.
Como a certificação faz parte destes “bastidores”, cabe aos empresários
rurais adotarem as técnicas gerenciais e produtivas, caso contrário, o processo
de rastreabilidade alimentícia não terá continuidade. Assim, é de extrema
importância a motivação e a perseverança dos mesmos em adotarem todas as
técnicas adequadas em todos os ciclos de produção. “Implantar rastreabilidade
exige serviço profissional para se conseguir certificação” (MACHADO, 2000, p.
80).

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Para manter a produção dentro dos padrões da certificação, faz-se
necessário que os dirigentes das empresas estejam empenhados ao implantar
algum processo de Boas Práticas, pois envolve essencialmente uma busca de
melhores formas de intensificar o esforço de trabalho, reduzir os custos
trabalhistas e centralizar o controle sobre o processo de trabalho (WRIGHT;
LUND, 1996). Dessa forma, compreender as Boas Práticas e aplicá-las para
aumentar a produtividade de um modelo de negócio é uma capacidade essencial
para todas as organizações (KAPLAN, 2012).
Giovannucci e Ponte (2005) afirmam que o impacto no rendimento geral
sobre os padrões de sustentabilidade para os produtores depende do equilíbrio
entre os custos extras de combinar tais padrões (incluindo os custos de trabalho
e os custos de certificação) com o rendimento obtido pelo prêmio, devido ao
impacto da mudança realizada nas propriedades pela adoção das práticas
agrícolas impostas.
Para buscar o conhecimento sobre as Boas Práticas, Kaplan (2012)
sugere que todos os líderes, ou seja, os empresários rurais deveriam gastar
mais tempo discricionários fora de sua indústria (neste caso, a empresa rural),
para reconheceram valores que possam fornecer uma fonte de vantagem
competitiva.
Entretanto, sair da empresa rural pode ser uma atividade difícil para o
cafeicultor, pois normalmente ele vive isolado e envolvido no setor produtivo da
fazenda, impedido de tomar consciência das grandes mudanças e tendências do
mundo moderno (SANTOS et al., 1998).
Levando o conceito sobre os níveis de decisão (estratégico, gerencial e
operacional) para as propriedades rurais, todos os tipos de decisão podem ser
tomados pelos seus donos (SETTE; ANDRADE; TEIXEIRA, 2010), pois em
muitas empresas rurais, o dono é o mesmo quem decide e atua sobre suas
decisões nos processos operacionais, por isso é de extrema importância que o
proprietário saiba desempenhar o papel de gerente e tomador de decisões em
todos os níveis.

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O processo de tomada de decisão durante o gerenciamento da atividade
cafeeira é extremamente necessário, pois a cafeicultura é caracterizada como
uma cultura perene e sua produção ocorre uma vez ao ano, então, todo valor
recebido pela venda do café será proporcional à produção ocorrida. Ademais, a
cafeicultura do Brasil é caracterizada pela sua produção de ciclo bienal, ou seja,
safras altas, alternadas de safras baixas. Assim a produtividade de uma seleção
de cafeeiros deve ser definida a médio e longo prazo e o nível produtivo deve
ser analisado em pares de anos para considerar os ciclos bienais de produção
(MATIELLO et al., 2005).
Após a produção, no processo de comercialização, Lourenzani et al.
(2008) afirmam que acabou o mito referente ao produtor independente que
produz qualquer mercadoria, sem saber para qual mercado. Para os autores, o
produtor agrícola deve entender que está inserido em uma ou várias cadeias de
abastecimento e de negócios, que envolvem desde os fornecedores até os
consumidores, passando pela produção, compra, gestão de materiais, vendas
etc.
A decisão dos empresários pela administração de seus recursos (físicos,
financeiros, humanos e mercadológicos) é determinante para proporcionar o
desenvolvimento da firma (considerando a propriedade rural como tal), acrescida
de seu conhecimento e experiência, o empresário será capaz de alocar seus
recursos a fim conquistar mais lucros e se expandir, assumindo também os riscos
que podem correr. Caso contrário, a falta de um “espírito empresarial” impedirá
ou retardará totalmente seu crescimento (PENROSE, 2006). Essa atitude
empreendedora deve ser adotada em toda cadeia produtiva do café.
Denota-se então que a certificação é um instrumento originado pelas
exigências provocadas no ambiente institucional e, para as empresas rurais
atendê-las, é de extrema importância que o empresário rural tenha
conhecimentos e habilidades tanto para manejar sua produção, quanto para
administrá-la.

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Através da referencial teórico em torno dos assuntos que envolveram a
cafeicultura, a adoção das BPA e certificação, a seguir, encontra-se a
metodologia executada no presente estudo.

3 CARACTERÍSTICAS DA CERTIFICAÇÃO NA CAFEICULTURA


BRASILEIRA

Fonte: ima.mg.gov.br

O café é a segunda commodity mundial, somente atrás do petróleo,


movimentando aproximadamente US$ 70 bilhões por ano (CUNHA, 2006;
LOUREIRO; LOTADE, 2005). O consumo de cafés especiais, como orgânicos,
mercado justo/Fair trade, Utz Certified e Rain Forest Alliance, está aumentando
intensamente, seguindo tendência de consumo de produtos “responsáveis”, do
ponto de vista socioambiental. De acordo com Illy (2006), o consumo de cafés
do tipo commodity cresce a taxas de 1,5% ao ano enquanto o de especiais a
taxas de 12% ao ano. Os preços desses cafés no mercado nacional e
internacional são mais atraentes para os produtores, como consequência da
qualidade do produto, valorização de processos produtivos menos agressivos e

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menor oferta (CUNHA, 2006; RICCI; NEVES, 2004), gerando oportunidades de
mercado para os cafeicultores dos países em desenvolvimento.
O Brasil é, há muito tempo, o maior produtor e exportador mundial de café
com média de 42,5 milhões de sacas de 60 kg produzidas e 29,7 milhões de
sacas exportadas nos últimos 5 anos (COMPANHIA NACIONAL DE
ABASTECIMENTO - CONAB, 2011; OIC, 2011). O Brasil sempre se posicionou
no mercado de forma competitiva mais por volume e preço do que por qualidade.
Entretanto, nos últimos 10 anos, o setor tem atuado fortemente, divulgando e
comprovando a qualidade do café nacional o que ajudou a elevar o preço do café
brasileiro, além de aumentar as exportações e o consumo interno (AGÊNCIA DE
NOTÍCIAS BRASIL-ÁRABE - ANBA, 2007). A certificação é um instrumento que
contribui nesse sentido.
Objetivou-se, aqui, trabalhar dois aspectos:
Com o primeiro levantaram-se informações sobre as principais
certificações de café existentes no Brasil: Orgânica, Fair Trade (FT), Utz Certified
(UC) e Rain Forest Alliance (RA), fazendo uma descrição de cada uma dessas,
comparando as características de cada e também identificando o perfil dos
cafeicultores que estão adotando tais certificações
Pelo segundo objetivo atingem-se os setores consumidor, científico e
principalmente produtivo, fornecendo características técnicas e mercadológicas
dessas certificações, além de expor as diferenças entre elas e seus benefícios.
No caso do setor produtivo, visa-se também alinhar o perfil do produtor com os
tipos de certificação.

4 HISTÓRICO DA CERTIFICAÇÃO NA CAFEICULTURA BRASILEIRA

Apesar de difícil acesso, pelos números mostra-se o grande crescimento


na comercialização mundial de cafés certificados. O volume importado pela
Europa de café FT, em 2003, foi 310.000 sacas de 60kg, 17% superior a 2002.
Os Estados Unidos importaram 140.000 sacas de 60kg de cafés FT em 2003,
volume 92% superior ao de 2002 (VILLALOBOS, 2004). O crescimento na

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importação de cafés orgânicos pelos Estados Unidos é impressionante, sendo
que, em 2005, a quantidade importada foi 320.000 sacas de 60kg, um
crescimento de 23,5% em relação a 2004 (VILLALOBOS; GIOVANNUCCI,
2006). É importante considerar que aproximadamente 50% dos cafés FT são
também certificados orgânicos. Não há referências ainda quanto aos volumes de
exportação e importação de cafés UC e RA.

Fonte: brasilescola.uol.com.br

Há produtores exportando café orgânico certificado desde 1990. Esta


apresentou-se, durante longo tempo, como uma das únicas opções de
certificação (PEREIRA et al., 2006). Na recente crise do café, de 2000 a 2004,
muitos produtores iniciaram a conversão de suas lavouras para o sistema
orgânico na expectativa de vender seu café a preços até 200% superiores, o que
ocorreu com alguns produtores orgânicos. Entretanto, alguns desses produtores
entraram no sistema somente com objetivos comerciais e não por ideologia
ecológica, desistindo do sistema orgânico com a recuperação dos preços da
commodity (SCARAMUZZO, 2005). Por outro lado, um produtor de Machado, sul
de Minas Gerais, trabalha desde 1990 com produção orgânica de café, sendo
que seu objetivo principal é preservar a natureza e a qualidade de vida dos

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trabalhadores bem como eliminar os agrotóxicos. Atingir o exigente,
remunerador e estável mercado japonês foi uma consequência. O importador
torra o café no Japão e vende o produto com o nome da fazenda e fotos das
pessoas envolvidas na produção, agregando valor à história da propriedade.
Trata-se de uma relação em que os dois lados lucram, havendo uma
dependência bilateral, em que o produtor depende do torrefador para a
colocação de seu produto e o torrefador depende do fornecedor para continuar
seu negócio (SAES, 2004). Essa não é uma relação de mercado spot. Há um
vínculo de longo prazo entre as partes, baseado na confiança.
A segunda certificação a existir no Brasil, entre as quatro abordadas, foi a
Fair Trade (FT), em português “Mercado Justo” ou “Mercado Solidário”. O
conceito de FT existe desde o início dos anos 60, entre importadores da Europa
e pequenos produtores de países em desenvolvimento, que visavam um
comércio direto entre as partes, buscando melhores preços e ausência de
atravessadores. O sistema de certificação FT propriamente dito surgiu em 1989,
na Holanda, sendo o café o primeiro produto certificado. A certificação FT foi lá
chamada “Max Havelaar” (KILIAN et al., 2006). A organização FLO (Fair Trade
Labelling Organizations), fundada em 1997, é uma associação de vinte
entidades que representam a certificação FT nos seus respectivos países (FAIR
TRADE LABELLING ORGANIZATIONS - FLO, 2007). Um dos projetos pioneiros
de café Fair Trade no Brasil situa-se na cidade de Poço Fundo, sul de Minas
Gerais. Em 1997, a associação iniciou suas atividades visando certificação
orgânica e Fair Trade e passou a exportar seu café com essas certificações, em
2003. Em 2004, a associação transformou-se em Coopfam (Cooperativa dos
agricultores familiares de Poço Fundo) para facilitar a comercialização. A
Coopfam possui aproximadamente 200 produtores com áreas entre 0,5ha e
25ha e trabalha tanto com cafés convencionais quanto orgânicos, ambos FT.
Seu principal mercado é o norte americano, seguido de Inglaterra e outros países
europeus (SAES; MIRANDA, 2007).
A certificação UC foi criada em 1997 por produtores de café da Guatemala
junto com uma torrefação holandesa. É uma certificação que visa a produção

20
responsável de café e seus parâmetros incluem manutenção de registros, uso
minimizado e documentado de defensivos agrícolas, proteção de direitos
trabalhistas e acesso à assistência e educação para os empregados e seus
familiares (UTZ CERTIFIED, 2009). Essa certificação busca o grande mercado
consumidor (VILLALOBOS, 2004).
A certificação RA, conhecida no Brasil como certificação socioambiental
teve sua origem em 1998 por meio de uma coalizão de organizações não
governamentais de oito países (Brasil, Honduras, Costa Rica, El Salvador,
Guatemala, Equador, Colômbia e Estados Unidos). Objetiva-se,
fundamentalmente, aliar conservação ambiental à produção de commodities
agrícolas cultivadas nos países tropicais. Produtos como banana, cacau, flores,
folhagens e frutas já se encontram certificados, mas o café é o que possui a
maior área certificada bem como o maior crescimento (GONÇALVES et al.,
2007).

5 OPÇÕES DE CERTIFICAÇÃO DE CAFÉ NO BRASIL

O acompanhamento das certificadoras às unidades de produção é


basicamente realizado da mesma forma para os quatro padrões abordados.
Constitui-se de um processo de auditoria em que uma empresa ou associação
acreditada por normas nacionais e/ou internacionais acompanha o processo
produtivo da unidade por meio de visitas periódicas bem como de visitas
surpresas (no caso de orgânico). Esse processo monitora todos os insumos,
técnicas de produção, produtividade, vendas, estoques e rastreabilidade, além
dos aspectos sociais e ambientais (CONSELHO INTERNACIONAL DO CAFÉ -
CIO, 1997; HARADA, 2001; INSTITUO BIODINÂMICO DE
DESENVOLVIMENTO RURAL - IBD, 2008).

21
5.1 Certificação Orgânica

A certificação orgânica exige que não seja aplicada nenhuma forma de


agrotóxico nem de adubos químicos solúveis. Também é recomendado o
aumento da diversidade vegetal nos plantios e a maior independência de
insumos externos. O preenchimento de tabelas de controle dos insumos
aplicados, colheita, estoque, vendas e apresentação de plano de manejo
constituem documentação necessária ao processo de certificação orgânica
permitindo o monitoramento do sistema bem como o controle e a rastreabilidade
do produto. Para adquirir a certificação internacional de café são necessários
três anos de manejo orgânico da lavoura, período que deve ser acompanhado
pela certificadora orgânica (GROSSMAN, 2003; KILIAN et al., 2006; LOUREIRO;
LOTADE, 2005). As certificadoras atuantes no Brasil trabalham de acordo com
os padrões internacionais de produção orgânica. Hoje existem três padrões de
certificação orgânica internacional: o da União Européia, baseado na lei 2092/91
da Comunidade Européia, o dos Estados Unidos, chamado NOP (National
Organic Program) e controlado pelo USDA (United States Department of
Agriculture) e o do Japão, JAS (Japanese Agricultural Standards), controlado
pelo MAF (Ministério de Agricultura e Florestas do Japão).
O Brasil também conta com uma legislação para produção, certificação,
processamento e transporte de produtos orgânicos. Após longo período, foi
aprovado o Decreto n.º 6.323 de 27 de dezembro de 2007 que regulamenta a
Lei n.º 10.831, publicada em 23 de dezembro de 2003 pelo Ministério de
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2007). Esseconta com 118
artigos, construído com base em uma intensa articulação nacional entre as
instituições governamentais e as organizações não governamentais, com
atuação na produção orgânica (IBD, 2008). De dezembro de 2007 ao final de
2009, diversas instruções normativas vêm sendo publicadas visando
complementar o Decreto n.º 6.323 a fim de se organizar toda a cadeia. A
Instrução Normativa n.º 64 de 18 de dezembro de 2008 é uma das mais
importantes pois apresenta as normas técnicas brasileiras para a produção

22
vegetal e animal de orgânicos. O prazo para que todos os segmentos envolvidos
na rede de produção se adequem à legislação nacional é 31 de Dezembro de
2010, conforme o Decreto n.º 7.048 de 23 de dezembro de 2009 (BRASIL, 2009).
A certificação orgânica cobra aspectos sociais e ambientais de seus
projetos, sendo que o IBD (Instituo Biodinâmico de Desenvolvimento Rural),
única certificadora brasileira com credenciamento internacional, trabalha “da lei
federal para cima”. Essa certificadora exige o registro dos funcionários e verifica
se os vencimentos deles estão pelo menos dentro da lei, bem como exige projeto
de adequação ao código florestal brasileiro, acompanhando a recuperação das
áreas de preservação permanentes e de reserva legal (ASSOCIAÇÃO DE
CAFEICULTURA ORGÂNICA DO BRASIL - ACOB, 2009).

5.2 Certificação Fair Trade

A certificação FT é destinada a pequenos produtores de café organizados


em associações ou cooperativas. O café FT pode ser cultivado de forma
convencional ou orgânica, mas quando convencional há uma lista de
agroquímicos que não podem ser aplicados visando maior segurança
socioambiental. A característica principal da certificação FT é a garantia de um
preço mínimo ao produtor. Um preço que cubra seus custos de produção e
propicie melhorias na sua qualidade de vida, ficando o produtor menos sujeito
às oscilações do mercado. O preço mínimo a ser recebido pelo produtor é
apresentado na Tabela 1 e está no site da FLO (FLO, 2011). Vale dizer que esse
é o preço mínimo e que preços superiores ocorrem de acordo com a qualidade
do produto, cotações da bolsa e leis de mercado.
Além disto, há um “prêmio” fixo que deve ser destinado a um projeto social
escolhido pelo grupo de produtores, bem como de estímulo a contratos de longo
prazo e ajuda na obtenção de crédito (BACON, 2005; FERRAN; GRUNERT,
2007; KILIAN et al., 2006; LOUREIRO; LOTADE, 2005). Esse prêmio é
apresentado na Tabela 1 e o valor é de US$ 10 centavos por libra peso e
independe do café ser orgânico ou convencional.

23
5.3 Certificação Utz Certified

A certificação UC busca principalmente responder a duas perguntas: (a)


de onde veio o café? e (b) como foi produzido esse café? Portanto, enfatiza a
rastreabilidade do produto e o monitoramento dos insumos utilizados, por meio
de registros detalhados de transporte, manuseio e aplicação de defensivos
agrícolas, bem como de rígido controle sobre as condições de colheita, pós-
colheita e documentação desses processos. A questão socioambiental é
considerada, sendo que agroquímicos proibidos pela União Européia, Estados
Unidos e Japão devem ser abolidos na produção de café certificado. A utilização
de equipamentos de proteção individual para aplicação de agroquímicos é uma
exigência. Os agroquímicos utilizados devem ser registrados para o uso na
cafeicultura e serem aplicados de acordo com as instruções do rótulo. Estimula-
se a adoção de manejo integrado de pragas bem como a utilização de defensivos
não químicos alternativos. O produtor deve gerir a água visando mais eficiência
na sua utilização com menor gasto e menores perdas. Na área social é grande
a preocupação com saúde e segurança do trabalhador bem como seus direitos,
educação e assistência médica. Quanto ao meio ambiente e vida selvagem, é
proibido o desmatamento e há um estímulo ao aumento da biodiversidade na
propriedade (UTZ CERTIFIED, 2009).

24
5.4 Certificação Rain Forest Alliance

A certificação RA visa critérios socioambientais bastante rígidos. Embora


permita a aplicação de agroquímicos, exige a redução do volume aplicado bem
como a não utilização de produtos muito tóxicos. Além dessas duas exigências,
consideradas críticas, há outros critérios que devem ser plenamente cumpridos
para se obter a certificação. Alguns desses critérios são rastreabilidade bem
estabelecida, programa de conservação dos ecossistemas, proibição da caça de
animais silvestres, proibição da descarga de águas residuais sem tratamento em
corpos de água, inexistência de discriminação nas políticas trabalhistas
(GONÇALVES, 2007). O nome Rain Forest (“Floresta Tropical”) é dado aos
cafezais e às fazendas que possuem áreas de florestas que são refúgios para a
vida selvagem. Nos locais onde a vegetação natural é floresta deve-se
estabelecer e manter sombra permanente nos cafezais, com pelo menos 70
árvores por hectare e um mínimo de 12 espécies por hectare. No Brasil, o
sombreamento das lavouras não é exigido. Para a conservação dos
ecossistemas exige-se que 30% da área da propriedade seja destinada à
manutenção da vegetação natural (RAIN FOREST ALLIANCE, 2005).

5.5 Mercado

O destino dos cafés certificados é certamente o mercado internacional.


Fontes do setor concordam que, aproximadamente 95% desse café seja
destinado à exportação. Apenas o café orgânico apresenta volume considerável
no mercado interno (PEREIRA et al., 2006). Preços de cafés certificados no
mercado internacional são superiores aos de cafés commodities. Após o período
de grave crise no setor (2000-2004) em que a commodity encontrava-se com
preços muito baixos, a cotação da bolsa de Nova Iorque alcançou melhores
patamares e tem se situado entre US$ 0,95/lb e US$ 1,40/lb, no período de
outubro de 2004 a março de 2008. Os prêmios para cafés orgânicos nacionais
exportados mundialmente têm oscilado entre US$ 0,20/lb a US$ 1,0/lb, para

25
cafés FT convencionais entre US$ 0,30/lb a US$ 0,40/lb, para cafés orgânicos e
FT entre US$ 0,40/lb e US$ 1,0/lb, para cafés RA entre US$ 0,10/lb a US$ 0,40/lb
e para cafés UC entre US$ 0,05/lb e US$ 0,15/lb. Essas variações possuem
influência da qualidade (bebida, defeitos, tamanho de grãos, etc.), país e região
de origem, leis de oferta e procura bem como país de destino (ACOB, 2009;
KILIAN et al., 2006; VILLALOBOS, 2004; VILLALOBOS; GIOVANNUCCI, 2006).
Em períodos de baixas cotações da commodity, o café orgânico chegou a ser
vendido com preços até 250% superiores, podendo-se afirmar que a produção
de café orgânico é vantajosa economicamente, principalmente nos períodos de
crise da commodity (SCARAMUZZO, 2005). No caso do FT, tende a ocorrer o
mesmo que com o orgânico, uma vez que o preço mínimo passa a atuar como
piso chegando-se a ágio de até 200%. Não se sabe ainda como se comportarão
os preços dos cafés RA e UC em períodos de crise, uma vez que essas
certificações são recentes no Brasil. Entretanto, é possível inferir que essas
serão bastante significativas com baixos preços de café, quando mesmo um
pequeno diferencial de preço ao produtor pode ser decisivo entre a permanência
ou não no mercado.

5.6 Perfil dos produtores em relação às certificações

A partir do exposto até aqui, associado aos dados da Tabela 2 a seguir, é


possível dizer que a certificação orgânica atinge principalmente pequenos e
médios produtores preocupados com preservação ambiental e diferenciação de
seu produto. Pode- se também constatar que a certificação FT atinge esse
mesmo perfil, só que de micro e pequenos produtores organizados em
associações e/ou cooperativas. Já a certificação RA, até o momento, aparece
como uma alternativa a grandes produtores com ótima infraestrutura e alta
produtividade. Esses produtores, geralmente, possuem acesso ao mercado
internacional e talvez tenham entrado na certificação por perceberem o ágio e a
pouca oferta do café nacional nesse mercado. Além disso, têm como diferencial
as grandes áreas de preservação de matas em suas propriedades. A certificação

26
UC atinge médios e grandes produtores que possuem boa organização e visão
de mercado, buscando agregar valor sem alterações consideráveis no seu
manejo, promovendo o reconhecimento de sua organização interna e suas boas
práticas de produção.
É possível recomendar a certificação orgânica a pequenas, médias e
grandes propriedades que tenham potencial de qualidade de grãos, estejam
localizadas em regiões de baixa pressão de pragas e doenças e de boa
fertilidade natural do solo. Esses são alguns, fatores técnicos que permitirão o
sucesso do projeto, além da ideologia ecológica do produtor.
Quanto à certificação FT, esta é uma ótima opção para micro, pequenos
e até médios produtores que tenham média (FT convencional) ou grande
preocupação ambiental (FT orgânico) e que estejam organizados em
associações ou cooperativas. Vale dizer que cada vez mais o mercado demanda
o café FT associado à certificação orgânica e que o ágio obtido pela dupla
certificação é superior, enquanto o café FT convencional, em alguns casos, pode
apresentar dificuldades de mercado (COOPERATIVA DE AGRICULTORES
FAMILIARES DE POÇO FUNDO - COOPFAM, 2007).
O grande atrativo para o mercado de café orgânico e de café FT é o alto
ágio recebido principalmente nos períodos de crise da commodity, o que resulta
em preços médios menos voláteis, permitindo maior estabilidade ao produtor.

27
As certificações RA e UC são recomendadas a médios e grandes
produtores que possuam ou que visem ótima organização documental, política
de recursos humanos bem estabelecida, ótimas condições sociais nas
propriedades e boas práticas de produção. A certificação RA deve ser destinada
a produtores que possuam grandes áreas de preservação vegetal e também
condições de reduzir constantemente a quantidade e a periculosidade dos
agroquímicos utilizados. O maior ágio pago a cafés certificados RA frente ao UC
é, provavelmente, consequência dessa maior exigência ambiental bem como da
menor oferta de cafés brasileiros certificados RA. Com o aumento da produção
de cafés RA, espera-se que o ágio diminua.

6 BENEFÍCIOS DA CERTIFICAÇÃO INCIDEM NO AUMENTO DA RENDA


DO CAFEICULTOR

O sucesso na cafeicultura depende de uma série de fatores, sendo que


alguns deles podem ser controlados com boa gestão e a racionalização de
procedimentos, uso de tecnologia, insumos adequados e outras ações que são
os princípios da certificação Rainforest Alliance CertifiedTM. Ter a casa
arrumada pode parece complicado inicialmente e/ou gerar gastos, mas ao longo
do tempo vira rotina e facilita manutenção e a visão equivocada de "gastos"
passa a ser encarada como investimentos em melhorias de processos e
capacitação, gerando resultados positivos para a propriedade.
Muitos produtores brasileiros desconhecem os benefícios da certificação
que já existe há dez anos no país, mas o estudo Certificação Socioambiental é
Vantagem Econômica dentro da Fazenda esclarece de vez esse imbróglio.
Resultado da tese de doutorado de Dienice Bini, da Esalq/USP, o trabalho
comprova que as fazendas de café certificadas tiveram aumento renda bruta de
R$ 2.412 por hectare, após a certificação, em relação às não certificadas. A
diferença vem do aumento na produtividade das fazendas certificadas 9,4
sacas/ha contra 2,5 saca/ha das não certificadas, sendo que não houve
mudança no custo de produção e nem no preço do café certificado.

28
Tharic Galuchi, coordenador de certificação do Imaflora, a primeira
certificadora brasileira do Rainforest Alliance Certified, destaca que a norma
avalia parâmetros de gestão, sociais, ambientais e o uso de práticas agrícolas.
A gestão inclui procedimentos administrativos, registros, plano de atividade,
rastreabilidade, treinamentos, entre outros. "Isso é possível de ser feito por todo
tipo de produtor. No mundo, aproximadamente 80% dos produtores certificados
são pequenos, com mão de obra familiar", diz Galuchi.
A certificação aprimora a gestão focando legislação trabalhista, a
conscientização da equipe sobre higiene, saúde e meio ambiente. Sob a
orientação da norma NR-31 e a observância do uso de EPIs (Equipamentos de
Proteção Individual), administradores e trabalhadores têm condições de trabalho
e infraestrutura adequadas melhorando o rendimento.
"Na área de saúde e segurança são verificados os cuidados com o uso
adequado de agroquímicos e a realização de exames médicos regulares, além
de infraestrutura. Tudo isso ajuda a reduzir riscos e os desperdícios", afirma
Galuchi.
Deixar um legado é um dos ganhos impalpáveis da certificação, que olha
a propriedade como parte de um organismo. O negócio deve participar do
desenvolvimento e da melhoria da vida da comunidade, promover a qualificação
da mão de obra local, utilizar serviços e profissionais da vizinhança e apoiar a
educação.
São vistoriados periodicamente a conservação do ecossistema, sem
desmate; adequação ao Código Florestal, o uso racional e não contaminação da
água, proteção e recuperação solo e o tratamento de resíduos, entre outros itens.
No Sul de Minas existem 41 produtores certificados que somam
(10.765ha), sendo que no país são 179.113 hectares de café certificados RAS/
Rainforest Alliance. O setor tem grande potencial de crescimento e os
diferenciais podem influenciar no aumento das vendas e ajudar a conquistar
nichos do mercado.

29
Fonte: loucodocafe.com.br

A busca por esses diferenciais atraiu os gestores da Fazenda Sete


Cachoeiras Estate Coffee no Cerrado Mineiro, certificada desde 2004, que
produz em 800ha em média 23 mil sacas de café. São 135 funcionários parte
deles reside na fazenda, entre trabalhadores rurais, tratoristas, mecânico,
eletricista, soldador, almoxarife e administrador.
Muitos cafeicultores afirmam que o grande benefício da certificação foi
manter a equipe focada nos vários aspectos da gestão, o que fortaleceu
procedimentos de rotina e controle em geral.
Externamente, a Fazenda Sete Cachoeiras ganhou visibilidade e
confiança do mercado e dos clientes. Brito afirma que a certificação diferencia o
negócio para uma concorrência saudável em seu nicho de mercado, que exige
cada vez mais práticas sustentáveis de produção.
Pelas mãos da diretora administrativa Carmem Lúcia Chaves de Brito as
Fazendas Caxambu e Aracaçu conquistaram a certificação Rainforest Alliance
Certified há um ano. A propriedade tem 42 funcionários e pertence a cinco
irmãos, que são a terceira geração da família.
Para ela, a certificação é um compromisso com seus clientes e uma
postura ética, social e ambientalmente correta diante do mercado. "A gente que

30
nasceu debaixo de pé de café tem muito amor à natureza e à terra, por isso a
certificação demonstra nossa filosofia de negócio: ser responsável pelo que se
produz."
Num cenário em que qualidade, responsabilidade e confiança são
essenciais, a certificação é caminho sem volta em que os vários participantes da
cadeia contribuem com seu quinhão para que a única coisa amarga e sempre da
melhor qualidade seja o café, mas que os resultados da produção,
industrialização, venda e consumo do mesmo sejam sempre doces para todos.
A caminhada para a certificação na Região do Cerrado Mineiro região
representa 12,7% da produção nacional e 25,4% da mineira- conta com
instituições como o Sebrae-MG, que dá apoio financeiro e técnico para grupos
de produtores interessados no selo.
Por meio da metodologia Educampo, modelo de assistência gerencial e
tecnológica intensiva, os produtores trocam experiências, discutem a atividade,
entendem as deficiências e potencialidades da produção de café e acesso a
novas tecnologias.
A analista de negócios do Sebrae-MG, Naiara Rodrigues Marra destaca
que essas ações levaram a primeira certificação agrícola dos grupos de
cafeicultores da região em 2009, em parceria com a Expocaccer (Cooperativa
de Cafeicultores do Cerrado).
"A certificação, apesar dos custos associados, permite que pequenos
produtores participem do mercado de cafés diferenciados. O consumidor está
cada vez mais exigente e quer qualidade, origem e, principalmente, saber se o
cultivo respeitou as boas práticas agrícolas. Contudo, ele não consegue
distinguir, mesmo após saborear a bebida, se ela possui os atributos desejados.
A certificação atesta os atributos contidos no selo impresso na embalagem",
destaca a técnica.

31
7 CERTIFICAÇÃO DE CAFÉ - GARANTIA DE PROCEDÊNCIA MELHORA
A RENTABILIDADE

Em tempos de crise, a aposta na garantia de origem pode ser


determinante para recuperar parte das perdas que as commodities tiveram nos
últimos meses. Produtores e consultorias especializadas no setor estimam que
uma produção controlada pode agregar entre 3% e 10% na receita final dos
produtos agropecuários. Além disso, a certificação da produção favorece o
processo de fidelização do comprador, com a garantia de procedência e respeito
às normas de produção, ambientais e trabalhistas, podendo atrair novos
negócios em um mundo que consome cada vez mais baseado em critérios
rígidos.
Henrique Victorelli, presidente do Instituto Gênesis, que trabalham com
certificação de grãos e animais em geral, garante que a demanda por produtos
diferenciados está aquecida. "Quem produz de maneira diferenciada vai
conseguir acessar mercados mais remuneradores",. diz. O instituto trabalha com
os selos Global Gap e Rain Forest Alliance. "O pecuarista que possui o selo
Global Gap consegue com maior facilidade acessar o mercado da União
Européia, que é criterioso e remunera 10% acima do mercado". Ele explica que
o custo de certificação no setor varia entre R$ 4,00 e R$ 8,00 por cabeça,
dependendo do tamanho do produtor. No caso da soja, o incremento estimado
pelo Instituto Gênesis varia entre 3% e 5%.
"O sistema é tanto para o pequeno como para o grande produtor", garante
Luis Fernando Guedes Pinto, secretário executivo do Imaflora, instituto que
trabalha com o selo Rain Forest Alliance. "A certificação é uma garantia de
acesso a mercados cada vez mais exigentes", explica. Victorelli observa que o
sistema é usado normalmente por produtores profissionais que possuem maior
controle de sua produção. "É necessário controle de entrada e saída de insumos
em geral e aplicação de insumos. São feitas auditorias regularmente para
acompanhar se todas as ertapas de produção".

32
Isabela Becker, diretora da fazenda Daterra, especializada na produção
de café e que pertence ao Grupo Dpaschoal, revela que o custo para certificação
realmente pode ser alto. "Após implantado, o sistema funciona como um tipo de
seguro, garantindo a confiança entre as duas pontas". Entre os clientes da
fazenda estão a torrefadora italiana Illy café e a inglesa Fortnun&mason, que
possui 300 anos de tradição e fornece a bebida para a família real.
Na contramão do mercado, a diretora da fazenda explica que o sistema
da fazenda favoreceu a abertura de mercados do Leste europeu neste ano.
"Fechamos contrato de experiência com a Coréia do Sul e a Grécia para fornecer
mil sacas. É pouco mas pode proporcionar novas compras", diz. No total, a
fazenda produz entre 60 e 75 mil sacas, variando de acordo com a bienalidade
da cultura (ano de alta e outro de baixa produção). Cerca de 93% da produção
são exportados para Japão, Estados Unidos e Inglaterra. "Com isso, o câmbio
acaba compensando parte da queda nos preços", explica Isabela. Em 20 anos,
ela conta que foram investidos R$ 25 milhões na estrutura da fazenda, com os
primeiros 10 anos absorvendo a maior parte desses recursos. No total, a fazenda
cultiva 2,8 mil hectares de café.
Anderson Souza Figueiredo, diretor da consultoria em sustentabilidade
Mundial Food, conta que é necessário abraçar as novas oportunidades que
surgem com a crise. Entre seus clientes estão a fazenda Vanguarda Brasil,
grande produtor de grãos e carnes de Nova Mutum e a Global Gap, que fornece
selos para certificação. Ele explica que para quem investe, a garantia de origem
funciona como uma blindagem contra crises, atraindo novas alianças
estratégicas em negócios. "Até mesmo os bancos que fornecem crédito pedem,
no momento da aprovação, documentos que comprovem o sistema de
produção", analisa. Segundo disse, a demanda por certificação no setor de grãos
em geral tem crescido nitidamente nos últimos anos. "É um nicho que está
virando tendência, avalia Figueiredo.
Eduardo Trvisan Gonçalves, coordenador de projetos do Imaflora, explica
que as certificações crescem entre 30% e 40% ao ano. No instituto, são

33
credenciados 40 empreendimentos com 65 mil hectares certificados. Os
principais produtos são café, laranja, frutas em geral e chás.

8 DESAFIOS DA PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL DE CAFÉ NO BRASIL

Muitos produtores qualificados e tecnificados de médio e grande porte já


possuem certificações. Para outros médios e pequenos produtores, os desafios
vão desde o capital para investir nas mudanças tecnológicas na lavoura às
adequações ambientais da propriedade rural. Ou seja, temos desafios tanto para
os já adotantes, de manterem seus esforços em direção à uma produção
sustentável, como para os ainda não adotantes, que precisam entrar neste
mercado. Por este motivo, inovações tecnológicas em mecanização e insumos
fazem toda a diferença para o país continuar em seu caminho em prol de uma
cafeicultura ambientalmente correta e socialmente mais justa.

34
9 BIBLIOGRAFIA

ASSOCIAÇÃO DE CAFEICULTURA ORGÂNICA DO BRASIL. Comunicação


Pessoal por Cristiano Ottoni, Diretor Superintendente da Associação de
Cafeicultura Orgânica do Brasil.cristiano@bourboncoffees.com, outubro 2009.

BRASIL. Ministério de Agricultura e Pecuária. Decreto n.º 6.323, de 27 de


dezembro de 2007. Regulamenta a Lei n.º 10.831. Brasília, 2007. Disponível em:
Acesso em: 28 dez. 2009.

______. Decreto n.º 7.048, de 23 de dezembro de 2009. Dá nova redação ao art.


115 do Decreto n.º 6.323. Brasília, 2009. Disponível em: Acesso em: 28 dez.
2009.

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cultivado organicamente ou café “orgânico”. London, 1997. 19 p. Apostila.

COOPERATIVA DE AGRICULTORES FAMILIARES DE POÇO FUNDO.


Comunicação Pessoal por Luiz Adauto de Oliveira, Presidente da Cooperativa
de Agricultores Familiares de Poço Fundo.

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FERRAN, F.; GRUNERT, K. G. French fair trade coffee buyers purchasing


motives: an exploratory study using means-end chains analysis. Food
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PEREIRA, S. P. et al. Situação atual da certificação de café no Brasil. Disponível


em: Acesso em: 15 jan. 2007.

RICCI, M. S. F.; NEVES, M. C. P. Cultivo do café orgânico. Seropédica:


Embrapa, 2004. 95 p.

35
SAES, M. S. M. Evitando a queda da rentabilidade na produção agrícola:
basta diferenciar? In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS
GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 2004, Curitiba. Anais...
Curitiba: EnANPAD, 2004. 1 CD-ROM.

SCARAMUZZO, M. Alta do preço do café convencional afeta o avanço do


orgânico. São Paulo: Agronegócios, 2005.

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE CAFÉ. Indicadores da


indústria de café no Brasil – 2012. Rio de Janeiro: ABIC, 2012. Disponível em:
<http://www.abic.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=61#
cons2012.2>. Acesso em: 04/09/2018.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Informe


estatístico do café. Brasília: Ministério da Agricultura, 2014. Disponível em:
< http://www.agricultura.gov.br/vegetal/estatisticas>. Acesso em: 04/09/2018.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Café


sustentável: riqueza do Brasil. Brasília: Mapa, 2009.

36
10 LEITURA COMPLEMENTAR

10.1 O MERCADO CAFEEIRO NO BRASIL: um estudo sobre a influência de


políticas governamentais nos produtores e exportadores de café da
região da Alta Mogiana

Amábile Caroline de Paula Lopes


Orientador: Prof. Dnd. André Luis Centofante Alves

Resumo: O Brasil é considerado um dos maiores produtores e


exportadores de café, chegando ao seu auge no século XIX, porém, sofreu forte
queda em 1929 com a queda na Bolsa de Nova Iorque. Nos últimos anos, o café
voltou a sofrer com as oscilações do mercado. Este artigo tem por objetivo
analisar as políticas governamentais no Brasil frente ao mercado cafeeiro com
relação às oscilações dos preços do grão nos últimos tempos, levantando as
medidas implantadas pelo mesmo e quais os incentivos oferecidos aos
produtores, cooperativas e intermediários mediante pesquisa de campo, bem
como estão enfrentando as oscilações do mercado. A partir de dados
bibliográficos, será levantada a parte histórica do café e as mudanças que
ocorreram na economia do país, além das políticas de produção e
comercialização do grão no mercado. A excessiva oferta da commodity no
mercado fez com que seus preços recuassem, levando a desmotivação dos
produtores e erradicação de lavouras. A venda da produção não cobre os gastos
nas lavouras. Entretanto, a forte estiagem sofrida no último ano reduzirá a
produção e, consequentemente, afetará o mercado por não haver sacas
suficientes para abastecê-lo. A demanda será excessiva e a produção existente
não conseguirá supri-la, o que alavancará seu preço.
Palavras-chave: mercado cafeeiro, produtores, mercado, políticas
governamentais, oscilações.

37
Introdução

O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de café, além de


ser um dos maiores consumidores do produto. Contudo, nos últimos tempos, têm
sofrido com as oscilações do mercado interno e externo de café.
Atualmente, é responsável por um terço da produção mundial de café,
produzindo mais de 50 milhões de sacas, com mais de três milhões de toneladas
em 2012.
Segundo Choucair (2012), ”os principais destinos das exportações
brasileiras de café são os Estados Unidos, Alemanha, Itália e Japão”, sendo o
principal grão exportado o café arábica, representando cerca de 90% das
exportações feitas.
O artigo encontra-se dividido em quatro partes. Na primeira parte será
abordado o conceito histórico do café, desde suas origens até a chegada ao
Brasil, e sua participação no mercado brasileiro, além das políticas implantadas
pelo Governo e como afetam na produção das empresas cafeeiras, com enfoque
na região da Alta Mogiana.
O segundo refere-se à metodologia de pesquisa deste artigo e o terceiro,
destinado ao estudo de caso envolvendo pequenos e médios produtores,
cooperativas e intermediários, onde são levantadas questões sobre os incentivos
por parte do Governo e mercado.
A quarta e última parte está destinada a análise dos dados, assim como
a sua interpretação, e, finalmente, a conclusão.

Mercado cafeeiro no Brasil

O café é uma planta originária da Etiópia que chegou ao Brasil na segunda


década do século XVIII, trazidas pelo Sargento-Mor Francisco de Mello Palheta,
e que logo espalharam-se pelo interior dos estados de São Paulo e Rio de
Janeiro. O clima favorável e a terra fértil tornaram-se propícias para o

38
desenvolvimento e crescimento de lavoras e novas espécies em diversas
regiões.
Apesar de existirem várias espécies de café espalhadas pelo mundo, as
mais apreciadas são o café Arábica e o Robusta, também chamado de Conillon.
A espécie Arábica é considerada como sendo o café de maior qualidade com
aromas e sabores mais intensos, agregando valor ao produto. Por esse motivo,
é o produto de mais fácil aceitação no mercado internacional. Cultivado
principalmente na América do Sul e América Central é originário das regiões
montanhosas da Etiópia. Destacam-se como sendo de qualidade Arábica as
produções de: café nacional (ou café comum), Bourbon vermelho, amarelo de
Botucatu, Caturra, Mundo Novo e Catuaí Vermelho.
Já o café Robusta, ou Conillon como é mais conhecido no Brasil, possui
qualidade inferior ao Arábica, e consequentemente, seu preço acaba tornando-
se menor também. Possui cultura forte na África, Costa do Marfim e Índia, devido
à posição geográfica e por tratar-se de uma espécie se que adapta a diversas
condições climáticas. Vem sendo utilizado nas indústrias de café solúvel e nas
torrefações como “blend”2 ou liga, “a fim de que seu sabor apareça em menor
proporção na bebida final” (ROSA, 2008). No Brasil, é cultivado nos estados de
Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Mato Grosso e Espirito Santo. Destacam-
se nesta espécie o café Conillon, Guarani, Robusta e Uganda.
A região da Alta Mogiana destaca-se por produzir à espécie Arábica em
volume e qualidade na produção. As mudas chegaram a região por volta de
1825, que logo tomaram conta da região pelo grande volume de produção, além
de contar com um clima favorável, redes de escoamento do grão e mão de obra
farta.

Em grande altitude e com clima favorável, a Alta Mogiana tornou-se


tradicional produtora com larga experiência na produção de cafés finos.
A qualidade do café da região proporciona aos produtores maior
rentabilidade, atingindo valores superiores as médias tradicionais
(GOMES, 2011, p. 34).

Por muitos anos, a região constituiu-se de momentos de glória. Porém,


com a queda da Bolsa de Valores em Nova Iorque, várias plantações foram

39
arrancadas, diminuindo a produção. A crise proporcionou o aperfeiçoamento do
cultivo na região, aumentando a qualidade do café, diminuindo custos e a
contenção de despesas, proporcionando assim, um maior investimento por parte
dos produtores em seus cafezais.
Embora tenham sofrido com a crise, os produtores da Alta Mogiana
aperfeiçoaram o grão, agregando qualidade a este, tornando-o mais fino, o que
ocasionou a valorização no mercado e aumento da margem de lucro,
possibilitando assim, além do aumento da produção, investimentos nas lavouras.
“Por quase um século, o café foi a grande riqueza brasileira, e as divisas
geradas pela economia cafeeira aceleraram o nosso desenvolvimento e
inseriram o Brasil nas relações internacionais de comércio” (PASCOAL apud
GOMES, 2011, p. 17). O café representava mais de 50% dos lucros das
exportações no período da república no país, chegando a abastecer dois terços
do mercado mundial de café entre 1889 e 1933.
O “ouro negro”, assim chamado pelos produtores, ganhou destaque no
mercado após a queda das exportações de algodão, açúcar e cacau no século
XIX, trazendo grande lucro para os produtores da região de São Paulo, que logo
enriqueceram.
Além dos “Barões do Café”, o país também se beneficiou com o aumento
das exportações do produto, pois ferrovias e portos foram ampliados e
melhorados, e a procura por emprego aumentou.
Com a queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929, seu preço
caiu bruscamente. As exportações foram cessadas; o país deixou de exportar
milhões de sacas para os Estados Unidos, e como consequência, o preço caiu.
Muitas sacas de café foram queimadas.
Com o passar do tempo e com as alterações do Governo, o Brasil voltou
a exportar. O café produzido no Brasil é o principal e maior produto exportado
sem valor agregado, pois muitas outras variedades de café foram criadas
durante esses anos e com isso, o consumo por um café de alta qualidade deixou
de ser procurado.

40
Os custos para se produzir um café de alta qualidade são altos, o que
acaba por encarecer os produtos. Muitos insumos e fertilizantes são utilizados
para enriquecerem as lavouras com nutrientes e evitar doenças, garantindo uma
lavoura saudável e de alta produção. A mão de obra (direta ou indireta) na
lavoura também tornou-se sinônimo de custos altos, mas devido ao
desenvolvimento de implementos e alta tecnologia, o uso dos “boias-frias” ou
“paus de arara” estão se tornando escassos. Em muitas lavouras o uso de
máquinas é predominante, o que acaba por agilizar o processo e,
consequentemente, reduzir gastos. Todavia, em alguns casos, ainda utiliza-se
do serviço braçal nas lavouras.
Nos últimos meses, os cafeicultores voltaram a sofrer com as oscilações
do grão. Com a queda no mercado de café, as exportações cessaram, o que
acabou por prejudicar, em termos financeiros, muitos cafeicultores.
Segundo o presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Silas
Brasileiro, o ano de 2013 “foi um dos piores para a cafeicultura ao longo da ultima
década no que diz respeito aos preços pagos pelo produto”. As cotações
recuaram absurdamente, o que não ocorria há mais de cinco anos.
O preço do produto baixou gradativamente. Muitos produtores ficaram
endividados, outros chegaram à falência. Como consequência dessas
oscilações, lavouras foram destruídas; produções foram armazenadas
esperando para que haja um aumento no preço do produto, causando assim,
mais custos na produção e estocagem do mesmo.
Com base no cenário que o mercado está vivenciando, o CNC orientou
os produtores a:

[...] como buscar os melhores momentos de mercado para


comercializar parte de suas safras, que foram diversos, e, de forma
alguma, cultivar novas áreas, ponto que defendemos desde 2011, haja
vista que isso levaria a um – ainda que pequeno – excedente de oferta
e mais pressão sobre as cotações [...] (BRASILEIRO, 2013).

41
Políticas governamentais

De 1909 a meados de 1930, o Brasil foi governado por presidentes com


procedência política voltadas para a agricultura. Apesar do apoio destes, a
estrutura dominante do país manteve seus traços gerais. Segundo Cotrim
(2005), a economia continuou sendo voltada para a produção de matérias-
primas e gêneros tropicais para a exportação, sujeitas às oscilações do mercado
internacional.
Entretanto, com a crise de 1929, as exportações reduziram em 50%,
afetando diversos setores da economia do país devido ao fato de a maioria do
capital estar investido neste setor. “O Governo Vargas procurou agir em defesa
da cafeicultura, proibindo o plantio de novas mudas de café durante três anos e
ordenando a queima de milhões de sacas estocadas em depósitos do Governo”
(COTRIM, 2005). Tinham como objetivo evitar a superprodução e com isso,
recuperar o preço do café.
Com as medidas implantadas pelo Governo Vargas, o mercado cafeeiro
no Brasil só voltou a estabilizar-se a partir de 1939. “Até hoje, entre avanços e
retrocessos, ainda persiste um elenco de problemas que afetam a economia
cafeeira e os ganhos mais substantivos com esse grão se fazem depois da
porteira da fazenda” (DUARTE, 2014, p. 20).
“Ganham crescente importância às políticas governamentais para o
aumento da competitividade do agronegócio brasileiro, para agregar valor ou
garantir a qualidade do produto” (CONCEIÇÃO, 2005). Os Governos brasileiros
têm promovido incentivos financeiros e mercadológicos aos agricultores para
aumentarem a produção e melhorarem a qualidade de seus produtos com
financiamentos de créditos para compra de insumos e implementos agrícolas a
baixas taxas e maior tempo de carência.
Contudo, desde o ano de 2011, o mercado cafeeiro voltou a sofrer
oscilações, o que causou um grande prejuízo em termos financeiros, tanto para
os grandes como para os pequenos e médios produtores do grão.

42
Para amenizar a situação, o Governo Federal juntamente com outras
instituições do setor, buscaram alternativas para que o produtor não fosse
completamente afetado pela crise do mercado cafeeiro.
Negociaram:

[...] um alicerce baseado em quatro pilares estruturadores: (i)


prorrogação dos investimentos da linha de estocagem 2012 do
Funcafé3 ; (ii) atualização do preço mínimo do produto, congelado
desde 2009; (iii) implantação de instrumentos de mercado que
devolvessem a competitividade ao setor; e (iv) renegociação do
passivo frente à falta de renda na atividade [...] (BRASILEIRO, 2013).

Outra medida implantada pelo Governo são os leilões realizados pela


Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), seguidos de políticas de preço
implantadas pelo Ministério da Agricultura, onde oferecem uma cotação mínima
para o preço da saca. Em outubro de 2013, ocorreu o último leilão do ano,
conhecido como “Leilão Pepro”, onde foram arrematados 4.058 contratos, o que
correspondem a 405,5 mil sacas, a um preço mínimo de R$347,00 (trezentos e
quarenta e sete reais) a saca de 60 kg.
A prorrogação dos pagamentos de estocagem fez com que os agricultores
não vendessem suas sacas de café a preços baixos, onde nem se quer pagariam
os custos da produção, além de causar uma sobre-oferta do produto em plena a
entrada da nova safra.
As medidas implantadas também provocaram o reajuste nas cotações dos
preços mínimos, que estabilizariam as oscilações no mercado, apesar de serem
fixadas abaixo do custo mínimo de produção.
Apesar dos investimentos feitos pelo Governo juntamente com diversas
instituições do setor com suporte para os produtores, Brasileiro (2013) afirma
que “ainda que com limitações impostas por fatores tributários e econômico-
financeiros, tentam auxiliar a cafeicultura brasileira”. Além disso, concorda que
as ações impostas vieram com um certo atraso para o setor, além de não
sanarem totalmente a situação financeira do mercado.

O Brasil é um país com forte dependência da agricultura, contribuindo


consideravelmente para a formação de seu PIB. E com isso, os
governantes através do cooperativismo, busca em seus líderes, formas

43
de controle e qualidade de produção, tanto no que diz respeito ao setor
produtivo, quanto qualitativo (FERREIRA, 2006, p. 19).

Metodologia

Este artigo tem por objetivo analisar as políticas governamentais no Brasil


frente ao mercado cafeeiro com enfoque na região da Alta Mogiana, com relação
às oscilações e quedas bruscas de preços que o mercado tem enfrentado nos
últimos tempos, levantando as medidas implantadas pelo mesmo e como
oferecem ajuda aos produtores e exportadores do grão. Possui o intuito também
de conhecer como as empresas produtoras de café estão enfrentando as
oscilações, o que acaba por afetar a produção e exportação do café.
A partir de dados bibliográficos feitos por meio de materiais publicados em
revistas, jornais, sites de empresas do ramo cafeeiro, monografias e livros,
levantou-se a parte histórica do agronegócio citando as principais culturas do
país e o seu papel no mercado, com enfoque no café, onde se estudou desde a
sua chegada ao Brasil, como também as mudanças que ocorreram na economia
do país e as políticas de produção e comercialização do grão no mercado.
Levantou-se a partir de pesquisa de campo, mediante entrevista com
representantes de cooperativas, intermediários e pequenos e médios produtores
de café da região da Alta Mogiana, os incentivos para o aumento da produção e
comercialização do grão, assim como o incentivo a exportação e o aumento
desta.
Os investimentos feitos pelos produtores são altos no setor cafeeiro,
contudo, o retorno não está sendo proporcional ao referido investimento. As
várias oscilações sofridas no mercado de café nos últimos tempos aliada à falta
de políticas governamentais, fez com que os produtores ficassem desmotivados
a continuar com a produção.
Este estudo mostra as razões de tal desmotivação, os incentivos
governamentais brasileiros e do próprio mercado cafeeiro para que os
produtores continuem no ramo para que a produção não cesse, fato que se

44
ocorrer, obrigará o país a importar café, e como isso afetará em termos
econômicos e no desenvolvimento do país.

Estudo de caso

O estudo de caso foi feito a partir de pesquisa de campo, mediante


entrevista realizada com representantes de pequenos e médios produtores,
cooperativas e intermediários de café, objeto de estudo deste trabalho.
Levantou-se a questão da queda dos preços do grão e os incentivos oferecidos
pelo Governo, além do uso da tecnologia e custo elevado nas lavouras.
Em entrevista com representante de intermediários, que classificam,
armazenam e realizam a venda para os cafeicultores que não fazem parte de
cooperativas, obteve-se a informação de que foram implantadas medidas de
comercialização, como por exemplo, a fixação do preço mínimo de R$307,00 a
saca, porém, vemos que não estão sendo cumpridas essas tais medidas, pois,
o mercado não está operando ao preço mínimo; há a oferta de R$280,00 a
R$290,00 a saca, ou seja, uma queda de 5,5% a 8,8% que, apesar de parecer
pouca, apresenta um valor significativo no bolso do produtor.
Já a queda nos preços ocorre devido ao fato de se ter muita oferta no
mercado e pouca procura, ou seja, a “Lei da oferta x demanda”. Quando há uma
grande quantidade de um produto ofertado, no caso, o café, os preços tentem a
cair; é o que vemos hoje. Há uma grande quantidade de café circulando no
mercado. Apesar de o Governo brasileiro, juntamente com a Conab, terem
realizado o “Leilão Pepro” no final do ano de 2013, onde mais de 3 milhões de
sacas foram retiradas do mercado, pouco se adiantou; os preços não reagiram
como se era esperado.
A situação deve mudar a partir do ano de 2015 pois, com a queda nos
preços, muitos cafeicultores estão deixando de lado o tratamento às lavouras o
que acarretará na quebra da produção já agora na safra 2014, que ocorre entre
os meses de maio e agosto. Com pouco café circulando no mercado, a tendência
dos preços é reagir.

45
Buscou-se também informações referentes ás cooperativas, aqui,
representadas pela Cooparaiso, filial de Altinópolis/SP. A cooperativa também
serve de intermediária entre o produtor e mercado, porém, com algumas
“vantagens”. A partir das cooperativas, além dos produtores utilizarem o café
como moeda de troca nos produtos que a mesma oferece, realizam vendas a
mercado físico, onde oferecem liquides a estes, ou seja, independentemente do
mercado estar em alta ou em baixa, faz-se um reajuste dos valores baseando-
se nos pontos negativos da commodity e repassam aos produtores a um preço
moderado. No mercado futuro, oferecem a opção do produtor “travar” o preço da
saca que só será entregue a uma data “x”. Isso significa que: se o mercado
estiver em baixa na data estipulada a entrega do contrato, o produtor sairá
ganhando; se estiver acima do valor do contrato, muitos sairão perdendo.
Com relação aos incentivos do Governo, estes oferecem o “Concafé”,
uma espécie de financiamento que é pago em sacas de café a longo prazo, no
caso, entre uma safra e outra, e o “Leilão Pepro” já citado anteriormente.
Já os pequenos e médios produtores, representados neste estudo de
caso por um sitiante da cidade de Batatais/SP, não possuem tantos benefícios
assim. Gasta-se muito para se produzir, e o que se produz retém um lucro
pequeno. O tratamento nas lavouras tem se tornado um investimento
relativamente alto se comparado ao preço que se é vendida a saca de café
atualmente. Além do café, precisam recorrer a outras culturas para que se possa
complementar com a renda que os cafezais oferecem.
Contam com os avanços da tecnologia, que agilizam no manuseio das
lavouras, principalmente na colheita, além de reduzirem os custos.
Pequeno/médios produtores se destacam na agricultura familiar, ou seja, a
família ajuda nos serviços nos cafezais reduzindo assim, custos com mão de
obra de terceiros.
Além do mercado encontrar-se em baixa, o produtor recebe poucos
incentivos vindos do Governo; conta somente com o “Pronaf” em forma de
financiamentos, e do seguro da lavoura caso aconteça estiagens, chuvas de
granizo, queima da lavoura e geadas. Caso não faça parte de alguma

46
cooperativa cafeeira, o produtor realiza suas vendas a partir de intermediários,
na maioria das vezes, com base no mercado físico.
O mercado voltou a sofrer oscilações, mas desta vez para melhor. Com a
queda dos preços desde o final de 2013, finalmente o café voltou a reagir. Devido
a baixa dos preços, os produtores recuaram no mercado fazendo com que a
oferta pela commodity aumenta-se, chegando a R$460,00 a saca de 60 Kg do
café arábica em algumas regiões do Brasil no final de março deste ano. Muitos
preferiram efetuar suas vendas, já que a este preço, os gastos seriam pagos e
se obteria algum lucro. Alguns produtores ainda com a esperança de que o café
chegará a R$500,00 a saca, seguraram sua produção.
Na primeira semana do mês de abril de 2014, o CNC divulgou a estimativa
de safra para o ano, tanto arábica como conillon, prevendo um volume de 43,3
milhões de sacas, sendo considerada está uma das safras mais baixas dos
últimos tempos. Com a quebra na colheita, o Brasil não conseguirá atender a
oferta no mercado interno e externo, enfrentando o mesmo problema em 2015 e
2016, por não possuírem estoques que supram o mercado, chegando a um
déficit entre 10 a 14 milhões de sacas.
Os preços continuam instáveis, sofrendo quedas após chegar a
R$460,00. A segunda semana de abril teve fechamento entre R$410,00 e
R$430,004, com alta também no fechamento de contratos futuros, com entrega
para setembro de 2014. Porém, com a estimativa de queda na produção devido
as estiagens sofridas desde 2013, os preços tentem a aumentar no mercado
interno e externo. Os produtores clamam pelo aumento da saca para que se
possa pelo menos cobrir os gastos da colheita.

Considerações finais

O café já vivenciou tempos de glória, onde houve progresso em diversas


regiões do país, inclusive da Alta Mogiana, com construções e ampliação de
ferrovias, portos e estradas. Os produtores também se beneficiaram com o café:

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as áreas de plantio foram ampliadas, as fazendas se multiplicaram e a oferta por
mão de obra era farta.
Com a queda da Bolsa de Nova Iorque, a situação mudou. A economia do
país desestabilizou-se; as exportações sessaram. Milhões de lavouras foram
arrancas, sacas de café foram queimadas, cafeicultores chegaram à falência. O
tempo dos “Barões do café” havia chegado ao fim.
Anos se passaram e o mercado cafeeiro voltou a atuar. Produtores
voltaram a investir em suas lavouras; os preços das sacas de café fizeram os
olhos dos produtores brilharem. Os tempos de glória haviam voltado, mas isso
perpetuou por pouco tempo.
Atualmente, o mercado cafeeiro tem sofrido oscilações, quedas bruscas
que voltaram a afetar a produção. Muitos cafeicultores estão desmotivados a
continuar no ramo. Os gastos para se produzir estão relativamente altos, porém
o preço de venda no mercado nem se quer paga os custos.
Isso se dá devido ao fato de que, quando o preço do café reagiu a alguns
anos atrás, milhares de produtores investiram novamente do cultivo do grão. As
lavouras produziram, e hoje o que se tem é uma oferta excessiva de café no
mercado.
Medidas governamentais foram implantadas, principalmente leilões para
que retirassem milhões de sacas de café do mercado e este voltasse a reagir.
Muitas sacas de café foram retiradas de circulação, mas o preço não reagiu
como se esperava.
A partir de pesquisa de campo realizada, mediante entrevista, com
representantes de pequenos e médios produtores, cooperativas e
intermediários, levantou-se a questão da queda dos preços, incentivos
oferecidos pelo Governo, avanços na tecnologia e custos elevados de produção
e como isso afeta na produção de café.
Atualmente, para se produzir um café de qualidade, os custos são
relativamente altos se comparados ao preço da saca no ato da venda. Hoje, para
se produzir um café de qualidade, gasta-se em torno de R$300,00 a saca de
60kg mas, na hora da venda, o que se consegue é um preço mínimo que varia

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entre R$290,00 e R$307,00 a saca. Colocados na ponta do lápis, tem-se um
lucro praticamente zero.
A queda dos preços se dá mediante a grande quantidade de oferta do
grão no mercado e pouca procura deste, a então chamada “Lei da oferta x
demanda”. Porém, nem mesmo com os leilões realizados durante o ano os
preços voltaram a reagir.
Em relação aos incentivos oferecidos pelo Governo brasileiro, constatou-
se que estes não beneficiam diretamente o produtor, ou seja, quem mais se
beneficia com as medidas implantadas ao setor cafeeiro são as cooperativas e
seus cooperados, que comercializam em maior volume no mercado.
A tecnologia tem ajudado nas lavouras. Colheitadeiras mecanizadas,
varredoras e secadores agilizam a safra do café em muitas propriedades,
diminuindo o uso de serviços braçais, que na maioria das vezes, são demorados
e rodeados de leis trabalhistas. A mecanização nas lavouras gera investimentos
altos para a compra destes, reduzindo custos com mão-de-obra e tempo.
Devido aos preços baixos, os cafeicultores estão deixando de investir em
tratamentos em suas lavouras. Em 2015, haverá uma redução significativa de
café no mercado como consequência desta falta de investimento nas lavouras.
Os preços voltarão a subir, o que animará muitos produtores. Havendo um
aumento, muitos vão voltar a investir no café.

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O mercado voltou a reagir e, com ele, a esperança de milhares de
produtores que clamam pela valorização do café. Com a queda na produção em
2014 e 2015, chegando até 2016, as cotações das commodities terão uma
alavancada significativa, chegando a valores absurdamente compensatórios.
O produtor que possuir safras estocadas neste período, mesmo que seja
em pequena quantidade, terá um lucro satisfatório, pois o mercado estará com
seus estoques em baixa e os preços estarão em alta.

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Você também pode gostar