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492 A PROCURA DO CENTRO DIVING de que o decurso do séc. IV aparece envolto nas sombrs profun- damente crigicas de um processo de dissolugia e iluminado 80 mesmo tempo pelo fulgor de uma sabedoria providencil, para a qual até o deseino certeno daquele povo de eles no re- presenta mais do que um dia na grande obra de conjunto da sua ring histérca, Stcrates 6 ave eraatas Blos of Buords dvopany ‘Sécrates & uma dessas figures imortais da Histéria que se ‘onverteram em simbolo, Do homem de carne e asso e do cida- io ateniense nascido em 469 a.C. e condenado 3 morte e exe ccutado no ano 399 a.C. poucos tapos ficaram gravados nx ists ria da humanidade, quando esta © elevou 2 categoria de um dos seus poucos "representantes", Para a formagia desea imagem no podiasacisfizer, pos o Sderates que nos presenta parece ser uma ‘mediocridade sun flosofia dos conceios uma banalidade. En precisamente contra este pedante homem de concetos que inves tam os ataques de Nietzsche. Fi porisso que ese ataques nl xeram mais do que minae a confianga em Avisréeles como teste ‘munho histéic,naqueles uj na grandee de Sécratese nasa fora xveluioniria universal nose deiou abla. Estaria Ast6- teles io desinteressado diance do problema das origens da ora placnica das ideas, que el prépri combate com tio grande vio lencia? Por caso no tina sequivocado também na sua mancia expecificameace crt, porque te converte em prt iceganee dees eligi lea explica pelo aa dea concep eit coinidit Com ‘ican iin da pode Como 0 vedadeeoservgo de Deus edo cud de tims comes verudes rd, No teu modo Se formulae es concep, CCrivantmo encone-seditesment ifuercado pelo peasament tr ‘cota como oapeesenta Pato. (6: PLATAO, Apt 296 {6 "Sel Ann (Ant Lye Gr 4 Dich, eBOWRA, Gra Lyi Pn, p398 SOCRATES 329 0 bem supremo do moral ba side: 0 segunds, formosura do cope; serie, som fortuna adguirida tom mua quarto, desfatar entre amigas oesplender da jcetade, [No pensamento de Sécrates aparece, como algo de novo, 0 mun- do interior. A arte de que ele nos fala & um valor espricual. Mas que €a “alma”, oa a iebe (para exprimi-la com a pala- ra grega usada por Séerates)? Antes de tudo, cologuemos esta ‘questio num sentido meramence filolégico. Procedende assim, cdamo-nos conta de que Sécrates, ranto em Plato como hos oi ‘x05 socriticos, sempre coloca na palavra “alma” ume énfase sur- preendence, uma paixio insinuante e como que um juramenco, ‘Ances dele, nenhum sébio grego pronunciou assim esta palavr, ‘Temos a sensasio de que, pela primeira vez no mundo ocidental, surge aqui algo que ainda hoje designamos com cerealigacio & ‘mestna palavra, ainda que os psicSlogos modernos no Ihe asso- ciem a idéia de uma “substéncia real” A palavra “alma”, pelas suas origens na histéria do espitio, cem sempre para nés uma conotagio de valor ético ou eeligioso. Tem um tom cristo, como as expressGes “servico de Deus e “cuidado da alma”. Ora, & nas prédicas protic de Sécrates que a palavea “alma” adquire pela primeira vez este aleo significado. Por enquanco, deixaremos de lado aqui o problema de saber até que ponto a iia socstica da alma influenciou as diversas fases do Criscianismo, ou dietamen- teou através da flosoia posterior, e em que medida coincide, de fao, com a idéia crise, O que nos interessa aqui antes de mais, nada é capraro que hi de decisivo no conceito socritico da alma, dentroda prépria evolugio geega Se consulearmos a clissica obra-prima de Erwin Rohde, Pst- ‘que, chegaremos 3 conclusio de que Sécrates no tem significado especial dentro deste processo hist6rico. Este autor passa-o por alto™, Para el conteibui o preconceito contra Sécrates, “0 racio~ Ge Ewin ROHDE (gue FC, p 240)epene as sabedie de 6 cae, mace psger da aos em que ite que te no acted Oo ‘retina si 330 A PROCURA Do CENTRO DIVINO nalista”, que Rohde jé parcilhara com Nietasche desde a sua ju vventude; mas o que sobretudo se incerpde diante dele 6a especial posigio do problema no seu préprio livro, uma vez que Rohde, influenciado contra a sua vontade pelo Criscianismo, pée o “cul 10" da alma ea na imortalidade no centro de uma hist6ria da alma que penetra através de todas as profundezas dela. Deve-se econhecer que Sécrares no contribui estencialmente pata ne- ‘thuma das duas coisas, Als € curioso que Rohde nio veja onde, ‘quando e através de que a palavea "alma", pyche, ganha esa fisio ‘nomia que a torna o verdadeiro vetculo concepeual do valor ético spiritual da “personalidade” do homem do Ocidente. Mas € por ‘meio da exortagio educativa de Sécrates, que ninguém poders Fed de Patio (ume spar cium: coma his) fr deriva da i ‘sii x presistni mora de sma la dh ag gi + eta dat idea eo dogma da imoralidace oem edeseparecem connramente ee, 768). Mas ae sccsrmos afrmagio de Ate de qe ea dss Oe ‘Se Scrates mas de Po reremos de dete sot posh no que see trond mole do Fan, sebastian ot ssa, ro problem de sabe se Scrates SOCRATES ws peor do epiio grep «nfo no culo dos dese, que costuma- ros encarat quae empre como oconteddo principal da histia dha eligio helen, F cmt que a lost consi uma fase re lacivamence porterior daconsiénciae ue o mito Ihe €anterioe mas quem ever habicoado capa a cones estatuas do tspirtonio teria menor dvida de que nem sequer no caso de Sécrtes a oso dos Gregos nega a ei hintrico-orginica que preside tau formar. A Tilosfia ni é senda a expres rato nal consciene da extutura interna fundamental do homem gre 80. ta como a podem seguir através dos sul, ns upremos fepesentantes deste género. £ indubitivel que religio dioni- slau fice dos Grego, bem como a dos mists, apresentam ceras "ses preliminares”canalogias mas no = pode explicar «ste fendmeno dizendo que as formas socrétcs do discus c da ‘eptesentagin derivam de ima seta ligiom ue se pode sista seu bel-przee como estan sos Grego, ot citar como orien tal. Tratandose de Serates, mais sdbrio dos homens, sei er dadeiementesbsurdo pressupor a existéncia de uma infuénein eficas deseas sits orgitticas nas caradas iracionais da su tlma. Peo contro, ueasseitas ou agucles cults so nox Gre= 80% as Gnias formas de uma antiga devosio populae que de- fotam certosindicios importantes ¢ wma experiencia interior individual, com aatirede individualist da vidh ea forma de pro- uganda # ela corespondentes®, Nafilosofia, que € 0 campo de gf do esprio pensane, riam-s formas parlls, em prt por prea, como fut de sine ements, «em pte pon o-sesimplesmente, quanto expresso, as formas eligi cr- renee, a quis aprecem ma linguagem filslce plasmas em merforse que por iso mesmo so formas desnatradas” 35 ARISTOTLE ag 15 in erect tp expences carci de rei der mrs coum #009 ( mes Arte, pp. 178s) As cone da veloc ales pesonalidase mana rovoc eerminaa poi (8690049 de rime 71 Aselesde icrdependcia eta inguagem de lofi eda t= lig eo proce da caormasb de conceit egos em anc Hs- rege uns inves semi cana por a em imprtante oe ‘A PROCURA DO CENTRO DIVINO Em Sécrates,aquelas expresses de aparéncia religioesbro- tam freqilentemente da analogia entre a sua aruagio © a do imédico (ver acima p. 520) f isto que dé a seu conceit dealima © cunho especificamente greg. Doisfatores confluem na epre- Sseneagio soeritca do mundo interioe como parte da “natures” do Homem: o hibieo multiseculae do pensamento os dotes mais intimos do espvitabelénico, E € aqui que nos surge 0 que distingue a flosofia socriica da concepyfo crs da alma. A alma de que Sécrates lax pode ser compreendida com aceto se € concebida em conjunto com o corpo, mas ambos como dois 5- pects distncos da mesma natureza humana. No pensamenco de Séerates,opsiquico nose ope ao fic, Em Socrates, 0 conceito de phyur da antiga filosofia da nacureza engloba 0 cspirtual, € com isos transforma essencalmente Séraes no pode cet que 60 Homem tenha epic, que, por asim dizer, ele o aja are batado como monopélio seu, Una naturezaem que oespirtual cupe um lugar proprio tem de ser, por printpi, capaz de de- seavolver uma forga espinal. Mas, assim como pela exsténcia do corpo eda alma como partes disinas de uma x narreza ‘mana s espiitualiza esta nature fica, ao mesmo tempo eft sobre a alma algo da propcia exstncia fica, Por assim dize, a tlma aparece ao olha expritual como algo de plistco no seu pré- pao ser, portantoacesivel forma eordem, Tal como 0 cor fz parte do cosmos; além disso, ¢ por si mesma um cosmos, tembora para a sensiblidade grega no pudesse aver a menor di ida de Que o principio que manifesta neste distntas came ds ordem & sempre, esencialmente, um ¢ 0 mesmo. E por iso ‘que também se tm de tornarextentva ao que ot Gregos desig tim pot aces analogia da alma com o corpo As ata ou “vi- tudes” que a ols grege quate sempre asocia ext palave, a rae ‘ura, a pondergio, «justia, a piedade,sf0 exeeléncia da alma ‘no mesmo sentido em que aside a fora a bleza so virwdes do compo, quer dizer, fo as fora caractristica das espectivas partes ra mais alta forma de cultura de que o Homem & cpaz 8 TE RENOFONTE, Men 1.48 38 indo pla sua natures. A wirede fica ea witde spiritual nio so, pla sua esénciacsmice, mais do que 3 retria das partes cm cujacooperagio corpo alma assentam. Ea arti dagui que o coneitosextico do “bom, oma intadu vel €0 mais exposto a equvoces de todos or seus conctito, diferencia do conceto ange ta ética moverna Ser nis inti vel para ns osu sentido grego seem verde diermes o bom dlssermos "bem", acepo que englobasimultaneamente as tlagio com quem o posse com aguele para quer € bor, Para Séerte,“o bom” é, sem diwda, também aguilo que se faz ou ‘quer face por cu de i prio, mas 0 mesmo tempo crates ‘econhece nel o verdadeiramente i salts, wumbém, por tanto, ose dé pane elicidade, uma ver que € ele ue leva & tturcea do Homem realizado seu ser "Na base desta convioaparece-nos a promessa evidene de aque a ética én expresso da nacurera humana bem enendida Esta dstngue-se radicalmente da exstncia animal pelos doves tuconsis do Homem, que soos que tomam o aes posvel. Ea formagio de alma nest a € precisamenteo caminho natal do Homem, o camino pelo qual ete pode chegar aura ven tora harmonia com &natorera do univers 0, par dizer em Be £0, 8 eadonmnia, No profando senimento que tem da harmonia nee exitencia moral do Homem a ordem natural do univer: $0, Sécraes coincide plenamentee sem qucbra com 8 conscincia stege de todos os rempos anteriores e posterior a ele. A nora nova crzida por Sécrates é de que no € através da expanio € ‘stsago da son natura fica, por mais estta que even por winculoseexigéncas sci, que © Homem pode sang esta harmonia com o ser, mas sim pelo dominio completo sobre si Proprio, de acordo com a lei que ele descobriu no exame da sua ‘Propria alma. O eudemonismo autenticamente grego de Sécrates.

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