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Aula de Filosofia Clínica - 06 de março de l998.

Transcrição da aula ministrada por Lúcio Packter.

Parte I
A gente está fazendo um estudo rápido do Caderno "G"
Introdução à Matemática Simbólica, que serve como base para os
Cadernos "P", "Q" e "R", Matemática Simbólica I, II e III. Este
caderno começa com a Análise da Estrutura, tópico, 27 onde a gente
mergulha realmente na Matemática Simbólica. Na Matemática
Simbólica a gente não considera mais as partes, a gente faz o caminho
contrário: nós vamos do todo da Estrutura para as partes, caminho que
até então a gente não fazia. Bem, mas isso só é possível após a análise
da EP e todas aquelas coisas mais, para podermos chegar a uma
apreensão do todo. Quando vocês estiverem trabalhando com uma
pessoa, já estiverem no 3o., 4o. mês de consulta, vocês já terão esta
visão de estrutura, do todo da pessoa. Então vocês podem dizer que
fulano é assim, fulano é assado, vocês já sabem se referir à pessoa
como um todo. Não tem mais aquela visão fragmentada de partes que a
gente vai estudando.
Bom! Ah, a partir daí é possível fazer afirmações sobre o todo.
Por exemplo: que a EP é forte, é fraca, é instável, é rica, é pobre, é
existencialmente caótica, sofredora etc. Baseado em quê?. Baseado no
entendimento do todo que vocês têm. Se precisarem justificar vocês vão
saber: ela é rica em relação a estas outras estruturas com as quais ela
convive; ela tem emoções que essas aqui não têm; ela tem pré-juízos
muito mais elaborados - que essas aqui não tem; ela consegue dados de
raciocínio e abstração etc. Nesse sentido ela é rica, entende? Já com
relação a essas outras aqui ela é pobre, porque essas aqui têm, por
exemplo: tem dados epistemológicos muito mais desenvolvidos que essa
sequer sonha. Então o critério que a gente usa para delimitar se é
forte, fraca, rica, pobre, caótica, sofredora ou qualquer outra coisa é a
comparação com outras estruturas. Porque não teria sentido, dizer,
essa EP é rica... mas sim rica em relação a quem ou qual? Entendem?
Esse é o critério.
Depois nós vamos ver, a pergunta do Tarcísio Wickert foi muito
feliz, a relação da estrutura com ela mesma, tá. Sim!
Nichele - Pareceu assim de relâmpago que estaremos rotulando
uma EP nesse sentido.
Packter - Sem dúvida, estaremos rotulando uma EP, neste
sentido, e, mais, nós estaremos nos atrevendo a tipologizar a Estrutura.
A Matemática Simbólica, por lidar com conteúdos em conjuntos, ela
permite a tipologia. Só que aqui acontece exatamente o contrário do
que havia antes. Aqui, como a extensão é muito grande, a compreensão
é muito pequena. Entende? É uma lei básica da Lógica. Quanto maior
a extensão, menor a compreensão. Como aqui, se eu dissesse, o
seminário de Viamão, as Eps, as pessoas são assim, são conservadoras,
como a extensão é imensa, pegou todo o grupo, a compreensão cai,
porque pode ter 3 ou 4 que não são assim. A Matemática Simbólica
então a gente usa para trabalhar conjuntos, grupos, sociedades, e
menos as pessoas, está bem? A gente usa muito raramente para
trabalhar com pessoas a Matemática Simbólica, muito raramente.
Respondi a questão?
Eh, depois eu falei para vocês que é fundamental saber
descrever, descrever as estruturas. Por exemplo: se tu fores chamado
num colégio, Nichele, e disserem: o aluninho tal da 4a. série B é muito
fraco, e tu disseres que “realmente ele é muito fraco”, tu estás te
referindo a EP dele como um todo. Mas o que exatamente na EP dele,
como um todo, é fraco e em relação a quem? Olha, ‘então, esse aluno é
fraco para essa aula porque ele não consegue acompanhar as aulas de
matemática, exatamente por não gostar da professora’. Ótimo! Tu
descreveste o processo. Não é fundamental localizá-lo topicamente, mas
descrever topicamente o processo. Tranqüilo até aqui? Alguma dúvida?
Nichele: realmente lidar com grande grupo é... fantástico.
Lúcio: É fantástico: empresas, sociedades, colônias, grupos; é
fantástico trabalhar com isso aqui. Salas de aula, colégios, tudo isso.
Bom, éhh...vamos adiante então?
Na página 7, eu digo assim: “nesse sentido alguns
pareceres logo despontam. Às vezes as partes são mais que o todo
quanto a EP”. Às vezes as partes são mais que o todo: meu Deus do
céu! Como entender uma coisa dessas?. Como a parte poder ser maior
que o todo, Nichele?... por isso que eu pedi para vocês, na Matemática
Simbólica: o logicismo formal fica fora. Ele é subconjunto, subproduto,
ele não é mais determinante aqui. Prestem atenção! Tu podes viver com
uma pessoa, tu não gostas dos dados epistemológicos dele, dos dados
axiológicos dele, não gosta dos pré-juízos dele, no entanto, tu amas essa
pessoa. E isso aí para ti pode ser muito mais importante que o todo da
EP dele, a tal ponto que quando a gente considera aquela pessoa, a
gente considera essa parte como se fosse o todo. Entendem?! Neste
sentido todo o resto é menor que a parte. Isso dentro do ponto de vista
logicista formal é um absurdo conceitual. Aqui na Matemática
Simbólica não é mais. Está bem! Outra coisa, uma só parte pode ser
mais determinante que o todo. Da mesma maneira, da mesma maneira.
Às vezes, várias partes de uma empresa, de um grupo e tudo mais
têm grandes complexidades e complicações. Pode haver uma parte que
atrele e segure tudo. Um tópico, por exemplo: às vezes uma sociedade,
está atravessando uma guerra... Inglaterra e França, a guerra dos cem
anos, brigando impiedosamente. Mas um sentimento nacionalista,
emoção fortíssima, tipo “estamos brigando com os ingleses”, segura
tudo que está sendo desencadeado; a estrutura pode estar entrando em
colapso, no entanto, como há um núcleo agregador muito forte, ele
segura todos os outros aí fortemente. Isso é possível. Por exemplo:
como seria no caso de uma pessoa; uma pessoa pode estar passando
horrores na vida dela, no entanto, a fé que ela tem em Deus, pode
segurar todas as barras que ela está enfrentando na vida; desemprego,
mil coisas horrorosas, doenças orgânicas - ainda assim, a fé que ela
tem, está segurando os elos da EP. A Intencionalidade Dirigida que ela
volta para Deus e tudo mais, essa paixão dominante tem força
suficiente para segurar e não desfragmentar a Estrutura de
Pensamento.
Wickert - No casamento, o que muitas vezes evita a separação é a
presença de um filho.
Packter - É, pode ser, e muitas vezes é exatamente isso que
separa o casal... (continuando a matéria) E aí então vem a afirmação
final que o todo pode ser menor que as partes. Claro, a explicação está
dada. O raciocínio é exatamente o contrário. Quem não entendeu, por
favor? Imagina uma explicação empresarial, Jarbas! A empresa está
arrebentada, mas o que segura é isso aqui, amor à camiseta...
Ana Retamar: Isso aí também se trabalha em grupo.
Packter - Sim, e aí tem um texto muito bonito da sociedade norte
americana, dos estados e tal, vocês vão gostar. Bom, vamos adiante
gente, nós temos pouco tempo para ver tudo. Uma vez que vocês
entenderam o que se passa numa estrutura, vocês podem usar o
esquematismo da Matemática Simbólica para explicar o que está se
passando. Nesse sentido eu coloquei aqui na página 9 uma infinidade
de Eps que vamos encontrando pela existência. Aí eu comecei: 1o. Há
Eps rígidas quanto as divisões tópicas: são Eps em que os dados
axiológicos são exatos, inflexíveis como o imperativo categórico. Dados
epistemológicos, duros como paredes que se erguem contra outros
dados de paixões dominantes e assim por diante. Como se encontra isso
na prática? Exemplo: o pai ama o filho. “Amo meu filho, no entanto, o
que é certo é certo, e o que é errado, é errado; se meu filho fizer
errado, azar; as minhas emoções não têm com isso. Kant era
provavelmente assim. Penso que Kant tinha essa divisão. Entendem?
Então vocês vão encontrar Eps que às vezes tem divisões rígidas e
exatas, e vocês vão perceber que as emoções não se misturam com
dados axiológicos e não tem jeito, entre outras mil coisas. Já em outras
não, em outras há misturas e tudo mais, são flexíveis.
Algumas Eps dessa natureza que estou citando a vocês, cujas
divisões são rígidas, podem ser encontrados em corporações militares
ou religiosas ou dogmáticas, ainda que nem sempre. Nem sempre é
assim. Ah! É facílimo identificar isso aqui. Basta que vocês façam com
cuidado os dados divisórios e isso começa imediatamente a se destacar
na narrativa da pessoa. São pessoas cujas Eps são divididas em
departamentos.
Eu botei um segundo caso aqui: EP rígida quanto a alguns
tópicos e flexível quanto às demarcações restantes. E tem um pequeno
desenho aqui, p. 9, G.1. Tem Eps realmente que são rígidas quanto a
certos tópicos, mas quanto a outros, elas tem assim uma mistura, elas
permitem a passagem de dados. São só certas áreas da EP que elas não
permitem qualquer negociação. Tem áreas e tópicos na vida da pessoa
em que a pessoa é rígida, inflexível, em outras ela permite uma enorme
variação. Está claro? Isso pode acontecer em empresas, por exemplo, e
seminários, em escolas, instituições, sociedades. Se a gente for analisar
a sociedade, a gente vai ver que tem áreas na sociedade que são
intransigentes. E há outras áreas que permitem muitas coisas, há uma
flexibilidade.
O bom da Matemática Simbólica é que ela fecha todos os
ensinamentos que a gente teve e dá finalmente uma visão de conjunto,
de clareza, muito boa, que a gente até então não usava muito ter.
A lição fundamental na Matemática Simbólica é que a precisão
diminui muito. Não temos mais a precisão de dados que a gente teve
até então.

Há EPs em que as interseções tópicas estão confusas, confusas.


Há então combinações que impedem a avaliação autogênica dos
tópicos. Não se assustem com esse palavreado aqui. Olha só, Aninha,
como é tranqüilo: às vezes tu vais pegar o histórico de uma pessoa,
fazes os dados divisórios, e tu ficas profundamente confusa. Dizes:
“meu Deus, não tem como montar esta EP!”. E mais, se vocês forem
estudar a autogenia, divisões tópicas, vocês não conseguem. “Mas eu
não estou entendendo como se passa a EP dessa pessoa.” Porque
muitas vezes as informações estão de tal maneira confusas e mescladas
ali dentro que tudo o que vocês tem é um emaranhado, é um
emaranhado, como se fosse uma imensa bagunça. Como umas
sociedades, como a decadência de Roma quando os Bárbaros
invadiram. Fica tudo misturado, a gente não sabe mais o que é certo,
errado, valor e o que não é, o que é verdade e o que não é, a gente
perde o referencial. Pessoas com fortes perturbações mentais
geralmente apresentam esse quadro caótico. Neste caso, uma das saídas
para o filósofo clínico é forçar os dados divisórios daquela maneira
mais clássica.
Muito bem! Vamos pegar esse período de sua vida e só esse e
forçar informações para botar ordem na casa. Senão vocês mergulham
no caos junto com a pessoa, tá? Dúvida aqui?.
Strassburger - Lúcio, quando tu falas em perturbação, tu falas de
desestruturação da EP, tu não estás falando em questões psiquiátricas.
Packter - Não, não falo em questões psiquiátricas. Aqui a pessoa
está realmente confusa, as informações que ela te passa em clínica são
contraditórias; tu não tens parâmetro seguro e mergulhas na clínica e a
confusão aparece; está bem, gente?
Vamos adiante! Olhem aqui no Caderno: Eps com formatos
pouco encontrados devido a pressões localizados externos e internos.
Isso aqui é ótimo. Às vezes... (folheando o Caderno) Deixa eu ver se
tem mais aqui para a frente; até... Ah, é tanta coisa! Vamos tentar ver o
que der hoje.
Às vezes vocês vão fazer um estudo de uma escola, por exemplo
ou de uma sociedade, de uma época, e aí vocês vão notar que, por
exemplo, em Esparta era muito difícil os pais alimentarem pelos filhos
um amor que a Nichele, a Patrícia, Aninha, Cleuza tem hoje pelos seus
filhos. Era muito difícil devido a educação espartana. Uma criança que
nascesse com um probleminha, não tinham piedade; então se vocês
tirassem um tópico, fossem considerar a Estrutura de uma cidade como
Esparta, um tópico que a gente considera como emoções,
provavelmente estará faltando em grandes partes; estará associado a
outras coisas. São deformações tópicas da EP, deformações tópicas que
podem ocorrer. Era muito difícil esse amor filial, o amor era mais duro,
era um amor organizacional, era outro tipo. Lembram quando a gente
estudou que tem pessoas que em determinado contexto da vida, por
exemplo, não tem valores determinantes? Se forem estudar, por
exemplo, a Estrutura de Pensamento de um Viking durante uma
invasão pelos rios, que eles faziam à europa, por exemplo, vocês vão
notar que naquele momento os valores deles são muito diversos do
habitual. Porque naquele contexto não é importante preservar a
dignidade humana, ou das famílias; a sociedade não está nem aí. Ele
sai com um machado arrebentando tudo.
Então, da mesma maneira, vocês podem encontrar grandes
estruturas onde um tópico simplesmente faltou, não existe mais. Isso
pode acontecer gente, isso não é um absurdo. Isso entrou aqui como
deformações tópicas, deformações tópicas.
Outra coisa... Eps com partes bem definidas: é exatamente este
caso aqui, não preciso repetir(referindo-se à página 9 do caderno de
Introdução à Matemática Simbólica - Eps rígidas em suas divisões
tópicas).
Ah, agora a gente entra nos casos problemáticos, tá gente?
São Eps sob o forte risco de fragmentação(p. 14).
Isso aqui é assim: vocês são chamados para fazer assessoria de
Filosofia Clínica numa aldeia de pescadores; chegando lá vocês notam
que a situação está à beira da explosão; as pessoas não estão se
entendendo, está havendo briga; uns querem sair etc. Há Estruturas de
Pensamento que estão sob forte risco de eclosão. Isso pode acontecer.
Nesses casos gente, nesses casos às vezes já é tarde, o estopim já foi
aceso e vai estourar de qualquer jeito. Pode acontecer. Às vezes a
situação num país, por exemplo, está tão caótica devido ao governo e
tudo o mais que a coisa arrebenta mesmo. E depois se forma uma outra
Estrutura de Pensamento... Para surpresa da gente, nos relatos
históricos que se tem da vivência da humanidade, ironicamente poucas
vezes quando se formou uma segunda vez a Ep ela ficou muito
diferente; na maior parte dos casos ficou quase que a mesma coisa, só
com outros valores. Acontece de tudo nesta vida. Há Eps que estão sob
fortes e terríveis pressões internas. Como no caso da aldeia dos
Pescadores. O problema não é, às vezes, do governo, de não sei quem,
da vida, do mundo... que não tem peixe no mar... não é esse. Não é de
interseção de Eps que estou falando, estou falando da Ep sozinha. Às
vezes, e é isso Tarcísio que havias perguntado antes, às vezes a própria
EP está sob forte pressão interna devido à - agora sim, Hélio -
Autogenia: a forma como os tópicos estão organizados. Em pessoas,
isso é fácil de ver; por exemplo, quando a pessoa se estruturou de um
jeito em que ela sofre, independente do contexto onde ela tá. Então, tu
mudas a pessoa de contexto, a pessoa vai de muda para o Japão, e ela
continua sofrendo, sofrendo, sofrendo etc e tal. Porque muito
provavelmente a pressão é interna e é muito grande. Pela formação
autogênica dos tópicos, entende, como uma formação infeliz. A pessoa
se estrutura de um jeito, que não importa contexto, não importa época,
porque ela passa por uma pressão interna muito grande. Está certo?
Agora, prestem atenção! Às vezes essa Estrutura de Pensamento
estabelece com outras estruturas interseções muito fortes, muito fortes,
que podem ter como conseqüência o alívio disso aqui. Outras vezes a
estrutura está tão fechada que ela não tem grandes interseções com
outras estruturas.
Olhem só, (tens xerox ? - falando com a Cleuza). Eu quero
passar tudo para vocês, entendem. Então, olhem só. Às vezes é o
contrário gente, a pressão não é interna, há estruturas de pensamento
que estão sob fortes pressões externas a elas. Essas pessoas podem
desabar com suas estruturas do mesmo jeito que as pessoas com
aquelas pressões internas poderiam ter desabado. É o caso, por
exemplo, vamos voltar a Aldeia dos Pescadores: eles vivem bem entre
eles, há uma harmonia, está tudo bem, tudo em paz, até que o governo
ameaça construir uma fábrica ao lado do povoado, que vai acabar com
os peixes, que vai trazer poluição etc e tal. Essa pressão externa a uma
estrutura pode demolir com a estrutura também. Se essa estrutura for
muito forte, Nichele, tudo bem, podem pressionar à vontade por fora
que, provavelmente ela se mantém intacta. Há pessoas que passam
verdadeiras terremotos na vida e conseguem manter a EP estável, como
Victor Frankl nos campos nazista, por exemplo. Passou horrores de
pressões, mas houve pessoas que se fragmentaram...
Wickert - ...como Saddam Hussein... tipo Saddam Hussein: sofre
pressões externas fortíssimas; e o cara está aí.
Packter - (rindo) É, que coisa... está bem caracterizado isso para
vocês?
Bett - As pressões externas... Como é que é a representação dessa
pessoa com relação a essa parte do ser, como ela recebe essas
informações?
Packter - ...vem a pessoa ao teu consultório e diz, “olha eu não
agüento minha situação familiar, eu, por mim, sozinho, estou bem;
quando viajo; mas quando estou em família, minha mulher, ela nem me
cumprimenta, passa por mim, eu não existo para ela, parece que eu sou
um fantasma; meus filhos não falam comigo, o irmão só me manda
carta, e ele mora no quarto ao lado, e coisas assim. É muito fácil
detectar na maioria dos casos, Jarbas, na maioria dos casos. Mas há
casos nos quais é muito difícil detectar a que tipo de pressão interna ou
externa a pessoa está submetida. Por exemplo: no trabalho de Kaffka,
O Processo; o cara está sendo processado, está sendo ameaçado e ele
não sabe porque, não sabe porque está acontecendo isso. Que coisa!
Ele não sabe porque está havendo tudo isso. Outras vezes há pressões
mistas, quer dizer, tu podes estar recebendo pressões externas, quanto à
tópicos específicos, e internas quanto a outros tópicos. Pode haver isso
aí. Pode haver de tudo, na verdade, qualquer tipo de combinação; uma
vez que vocês estudaram a EP, fizeram a Autogenia e tudo o mais,
vocês sabem esquematizar o que está se passando.
Olhem, como exemplo (desenha no quadro): nessa aldeia de
pescadores está acontecendo isso, vocês estão sob forte pressão externa,
assim, assim, assim. No entanto, há uma harmonia interna muito boa,
ainda que valores que vocês tenham estejam em choque com algumas
emoções, mas tudo bem, isso não oferece maiores problemas.
Entendem? E esse esquematismo somente tem valor no momento em
que vocês sabem fundamentar, senão perde totalmente o sentido.
Wickert - É como um estudante que opta por fazer uma faculdade
porque os pais querem aquele curso. Lógico, tranqüilo.
Packter - Vamos ver outro tipo agora? Até aqui está bom gente?
Vou pedir um favor para vocês: jamais passem isso para alunos em
formação em Filosofia Clínica, está bem? Porque a tendência é
abandonar os estudos dos tópicos e querer ver tudo por aqui. Só que daí
eles vão fazer sofismas inacreditáveis. Porque, tu vais pedir a eles um
exemplo de pressão externa e eles não vão saber localizar coisa
nenhuma, topicamente. Para poder chegar nesse nível de instrução tem
que ter estudo de submodos, EP, e tudo o mais. Por amor de Deus!
Ana Retamar - Têm que fazer o caminho parecido com o que nós
fizemos.
Packter - Ah sim, sem dúvida. Olhem aqui! Aqui na página 17,
ilustro Estruturas fortemente fechadas. Vocês vão encontrar na vida
estruturas que parecem ilhas; elas estão enclausuradas, elas estão
ilhadas em si mesmas. Então, como isso aparece em clínica para a
gente? São pessoas cujas interseções, assim (começa a desenhar no
quadro), com a mulher, por exemplo, é muito frágil, quase nem
importa... Sabem, parece que é uma pessoa que fechou a EP de um
jeito que ela não estabelece mais vínculo, interseções importantes com
quer que seja. Parece que nada mais abala. Ela fechou, bah!. Está
fechado. Então ela até vive o amor, vive algumas experiências, mas é
tudo assim como se fosse sob anestesia... nada muito intenso, nada,
aquilo que Nietzsche fala, que a gente pode ter isso na vida, só que não
vai sentir nem muitas dores, nem muitos prazeres, nada, fica
anestesiado. É. Apolíneo e Dionísio. Tem pessoas que tem realmente a
EP fechada; elas conseguiram isso, sabe-se lá como. Normalmente é
difícil encontrar isso. É como sociedades fechadas, como culturas
fechadas; a cultura germânica, por exemplo, durante o nazismo fechou
as trincheiras.
Isso pode oferecer riscos imensos de qualquer natureza porque
se aqui (garganta) estiver uma merda, uma coisa insuportável, azar,
eles vão ter que agüentar. Porque as trocas são muito pequenas com o
exterior. Perdão, Jarbas, qual era a questão?
Bett - Como é deixado, quer dizer, as informações externas batem
e voltam.
Packter - Exatamente, ah, não tenha dúvida, se fechou a EP, se
ela está fechada... mas, claro, isso aqui não é aritmética fechada
Bett - Não, sem dúvida, mas há uma rigidez.
Packter - Então, as informações de fora realmente, elas
retrocedem; e as de dentro, dificilmente, as de dentro, se ela está
fechada, ela quase não troca. Um caso psiquiátrico disso é o autista. O
autista tem infelizmente uma clausura provável assim.
Agora, há também, eu ilustro na página 17, Estruturas
extremamente permeáveis. São pessoas em que as influências externas
parecem entrar direto, não têm defesa nenhuma. Então, as decepções
da vida entram com uma intensidade aqui que parecem arrebentar com
a pessoa. As alegrias, as tristezas, as coisas, o que vem do exterior
parece que entra arrebentando com tudo, impressionante. E vice-
versa. ... e ela bota para fora, com a maior naturalidade, os maiores
segredos dela; tudo vai para fora; claro que estou exagerando como
caracterização. É muito difícil encontrar uma estrutura assim, como
também o contrário. Normalmente as Estruturas são assim: elas
apresentam áreas em que elas são extremamente permeáveis e áreas em
que elas são extremamente fechadas, e nada parece entrar de jeito
nenhum.
Então, como seria isso, se eu descesse, saísse agora da
Matemática Simbólica e fosse para a singularidade? Há pessoas que,
por exemplo, tem certos dados emocionais que entram aqui (mostrando
no desenho), batem nesta casca dura e voltam, não tenha dúvida... Da
mesma maneira elas podem até tentar botar as coisas para fora, mas as
coisas batem numa casca grossa e voltam. Já no que se refere a dados
axiológicos, que não têm nada a ver com as emoções (no caso dessa
pessoa, evidente), ela consegue livre trânsito nos dois sentidos. Que
coisa, não é?

Parte II – Interseções de Estruturas de Pensamento.


Agora que vai ficar lindo. Até agora, o que a gente tava fazendo era
Análise da Estrutura, a gente tava considerando somente a própria
Estrutura. Agora aqui é assim óh! Eps. em interseções simples. Olha, só
duas coisas devemos considerar quanto a interseções de Eps.:
Qualidade e
Determinação e mais nada.
Vamos ver com calma isso aqui. Determinação é assim. Aliás, risquem
esse nome, é bobagem. Nomenclatura é... Olha aqui óh! As vezes vocês
vão, vamos supor que isso aqui seja aquela estrutura quase aritmética
fechada e ela está se relacionando com uma estrutura também quase que
aritmética fechada. É uma relação curiosíssima, curiosíssima. Nem isso
aqui significa muito prá ela, nem isso aqui prá ela. E as informações aqui
trocadas não tem grande intensidade, é quase uma coisa assim que é
social, tem que ter, uma coisa. Que coisa. Já, há outros tipos de
associação de Eps. que é assim, elas só funcionam juntas, entende. Essa
EP. aqui morre sozinha, sabia Cleuzinha. Tem Eps. que só conseguem
funcionar quando estão em interseção com outra. E é só assim que elas
têm vida, os dois juntos. Faltou um ou outro, nada. Outras vezes não.
Outras vezes essa aqui é totalmente dependente dessa aqui, a tal ponto
que esta funcione. Isso em clínica é muito latente, é muito visível, pelas
referências que essa EP. fica todo tempo fazendo desta aqui. Essa aqui é
maior, e não sei; agora nem sempre, as vezes a interseção aqui é negativa,
tá gente. Quer dizer essa EP. aqui pode depender dessa aqui prá
sobreviver afetivamente, financeiramente e tudo mais, e no entanto, odeia
a relação que tem com essa EP. .Pode acontecer isso, tá. E depende de
toda maneira. É impressionante. Essas relações de EP. tudo que nós
vimos de EP. isolado, agora vocês transfiram para interseção de Eps..
Pode haver qualquer tipo de coisa. Éh, ah, estou cansado.

Abraços: Tarcísio Alfonso Wickert

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