Você está na página 1de 4

Trata-se de ação revisional de contrato ajuizada por Altair Dantas

Teixeira contra Banco Pan S/A. Pretende o autor, em síntese, a revisão do contrato de
financiamento bancário para reconhecer a abusividade da capitalização de juros, aplicação
da Tabela Price (anatocismo), além da ilegalidade das tarifas que especificou. Requer a
redução dos juros.

O pedido de tutela antecipada foi indeferido.

Citado, o réu apresentou contestação. Inicialmente suscita


preliminar de inépcia da petição inicial e falta de interesse de agir. No mérito, afirma não
haver abusividade dos juros remuneratórios cobrados. Defende a legalidade da capitalização
de juros em contratos bancários. Aduz não existir abusividade ou ilegalidade nas tarifas na
forma em que foram estipuladas. Pede a improcedência dos pedidos.

Houve réplica.

É o relatório.

Decido.

O caso comporta julgamento no estado em que se encontra, pois a


resolução de mérito independe da produção de outras provas.

Não há qualquer inépcia na inicial. Dos fatos narrados facilmente


se concluem os pedidos. Existe perfeita relação entre as causas de pedir próxima e remota
com o fato constitutivo do direito alegado, para permitir o entendimento da providência
pleiteada em Juízo.

Igualmente, presente o binômio necessidade – adequação, não há


que se falar em falta de interesse de agir.

A impugnação à justiça gratuita também será rejeitada. O autor


trouxe declaração de pobreza e a ré não comprovou que ele possui condição de arcar com as
custas e despesas do processo sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família.

No mérito, entretanto, os pedidos são improcedentes.

Consigno inicialmente que é certa a aplicação do CDC nas


relações bancárias, nos termos da Súmula 297 do STJ: “O Código de Defesa do
Consumidor é aplicável às instituições financeiras”.

As partes celebraram cédula de crédito bancário, tendo como


objeto o veículo descrito na inicial, com taxas de juros pré-fixadas de 2,11% ao mês.

Desde o início, a parte autora sabia o valor e a quantidade das


prestações, bem como o custo efetivo total da operação, indicados de forma clara no
contrato.

Os juros remuneratórios não são abusivos pois não superam,


substancialmente, a taxa média de mercado na época da contratação.

Ademais, é absolutamente pacífico o entendimento de que as


instituições financeiras estão autorizadas a cobrar juros superiores a 12% ao ano.

Sobre o assunto, as súmulas 382 do STJ, 596 do STF e, por fim, a


súmula vinculante nº 7 do STF.

Improcedente, portanto, o pedido de recálculo das parcelas


mensais formulado pela parte autora, uma vez em consonância com o previsto no contrato e
a taxa de juros está dentro da média do mercado.
A Lei nº 10.932/2004 prevê, expressamente, a possibilidade de
capitalização dos juros.

A capitalização de juros é permitida em contratos bancários a


partir da Medida Provisória 1.963-17/2000, de 30/03/2000, reeditada através da Medida
Provisória 2.170-36/2001, e ainda vigente conforme art. 2º da Emenda Constitucional
32/2001.

Assim a jurisprudência do Egr. Superior Tribunal de Justiça:


Processo AgRg no Ag 980610/SC, AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE
INSTRUMENTO, 2007/0253453-5, Relator(a) Ministro CARLOS FERNANDO
MATHIAS (JUIZ FEDERAL CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO) (8135), Órgão
Julgador T4 - QUARTA TURMA, Data do Julgamento 09/09/2008, Data da
Publicação/Fonte DJe 22/09/2008. Ementa. PROCESSUAL CIVIL. Agravo regimental
em agravo de instrumento. Contrato bancário. Cartão de crédito. Capitalização
mensal de juros remuneratórios. Possibilidade a partir da edição da MP n.º 1963-
17/2000, desde que pactuado. Inexistência de elementos nos autos que demonstrem a
prévia pactuação. Comissão de permanência. Cobrança cumulativa com juros
remuneratórios e correção monetária e encargos decorrentes da mora.
Impossibilidade. Agravo regimental desprovido. 1. Consoante entendimento
consolidado da E. Segunda Seção, desde que pactuada, é cabível a capitalização dos
juros remuneratórios, com periodicidade inferior a um ano, nos contratos bancários
celebrados a partir de 31 de março de 2000, data da publicação da primitiva edição da
atual MP n.º 2170-36/2001 (MP n.º 1963-17/2000).Não é inconstitucional a Medida
Provisória nº 2.170-36/2001, conforme decidido pelo Supremo Tribunal Federal no RE
592377/RS em 04/02/2015.

Veja-se que o contrato juntado com a inicial indicam com clareza


as taxas de juros ajustadas, o que já é suficiente para que se considere que a capitalização
está expressamente pactuada, conforme Súmula nº 541 do STJ: "A previsão no contrato
bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para
permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada".

Anoto que a Tabela Price não induz anatocismo, porque, se pagas


todas as prestações de forma adequada, o pagamento de juros é mensal, dentro da parcela,
calculados sobre o saldo devedor que não recebe juros, senão correção monetária e
amortização.

Não ocorre anatocismo.

O pagamento da prestação mensal refere amortização e juros


sobre o saldo devedor, mais outros consectários contratuais.

Não há consolidação de juros no saldo devedor, se cumprido


corretamente o contrato.

Ausente, pois, a capitalização de juros.

A questão já foi decidida pelo Superior Tribunal de Justiça no


recurso repetitivo REsp nº 973.827-RS: “1) É permitida a capitalização de juros com
periodicidade inferior a um ano em contratos celebrados após 31/3/2000, data da
publicação da Medida Provisória nº 1.963-17/2000, em vigor como MP nº 2.170-01,
desde que expressamente pactuada. 2) A capitalização dos juros em periodicidade
inferior à anual deve vir pactuada de forma expressa e clara. A previsão no contrato
bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para
permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada”. Min. LUIS FELIPESALOMÃO,
Rel. Designada Min. MARIA ISABEL GALLOTTI; j. 08/08/2012; DJe
24/09/2012,reafirmada no REsp nº 1.251.331/RS; Rel. Min. MARIA ISABEL GALLOTTI;
j. 28/08/2013; DJe24/10/2013 e sedimentada pela súmula 539 do STJ: "É permitida a
capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com
instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP n.
1.963-17/2000, reeditada como MP n. 2.170-36/2001), desde que expressamente
pactuada.".

Não é inconstitucional a Medida Provisória nº 2.170-36/2001,


conforme decidido pelo Supremo Tribunal Federal no RE 592377/RS em 04/02/2015.

Ademais, não há amparo jurídico a pretendida substituição da


Tabela Price pelo método Gauss, na medida em que o critério da tabela consiste apenas em
cobrar juros mensal sobre o saldo devedor mediante fórmula que obtém parcelas fixas.

Nenhuma abusividade há nesse critério, como é pacífico na


jurisprudência (REsp. nº 1.124.552/RS).

A cobrança de comissão de permanência não é vedada. Ao


contrário, estando ela devidamente convencionada entre as partes e não sendo cumulada
com outro encargo de igual natureza, sua exigência é viável.

A questão já se acha devidamente pacificada por meio da Súmula


472 do STJ, assim redigida, “A cobrança de comissão de permanência, cujo valor não
pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no
contrato, exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa
contratual”.

No caso dos autos a comissão de permanência não foi cobrada


cumulativamente com outros encargos, sendo, portanto, legal.

Passo a analisar a legalidade das taxas e encargos contratuais.

O STJ, sob o rito dos recursos repetitivos instituído pelo art. 543-
C/CPC, decidiu através do REsp. nº 1.251.331/RS, da lavra da relatora Maria Isabel
Gallotti, julgado em 28/08/2013, que para os contratos firmados a partir de 30/04/2008 é
licita a cobrança da denominada 'Tarifa de Cadastro' no início do contrato, com
fundamento na Resolução nº 3.518/2007 do Conselho Monetário Nacional, que iniciou sua
vigência em 30/04/2008.

"2ª Tese: Com a vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em


30.4.2008, a cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas físicas ficou
limitada às hipóteses taxativamente prevista sem norma padronizadora expedida pela
autoridade monetária. Desde então, não mais tem respaldo legal a contratação da Tarifa
de Emissão de Carnê (TEC) e da Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), ou outra
denominação para o mesmo fato gerador. Permanece válida a Tarifa de Cadastro
expressamente tipificada em ato normativo padronizador da autoridade monetária, a qual
somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o consumidor e a instituição
financeira." (grifo nosso).

No caso dos autos o contrato foi assinado posteriormente a


30/04/2008 e a citada tarifa foi cobrada somente no início do relacionamento entre o
consumidor e a instituição financeira, não sendo, portanto, abusiva.

Relativamente às tarifas de avaliação de bem e registro de


contrato, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp nº 1.578.553/SP,
consolidou a seguinte tese:

"3. Validade da tarifa de avaliação do bem dado em garantia,


bem como da cláusula que prevê o ressarcimento de despesa com o registro do contrato,
ressalvadas a: 3.1. abusividade da cobrança por serviço não efetivamente prestado; e a
3.2. possibilidade de controle da onerosidade excessiva, em cada caso concreto.".
Nesses termos, há que se reputar devida a cobrança das tarifas de
registro de contrato e de avaliação do bem, desde que reste comprovado nos autos que o
serviço contratado foi efetivamente prestado, ressalvada a possibilidade de controle de
eventuais onerosidades excessivas.

Sendo assim, nos termos do que restou decidido por aquela Corte,
tem-se que deve ser tida como válida as tarifas acima mencionadas, haja vista que a
respectiva cobrança vem expressamente prevista na avença firmada entre as partes
litigantes, sem comprovação de que o serviço não foi prestado ou que houve onerosidade
excessiva no caso concreto.
Impõe-se anotar, ainda, que a avaliação do veículo interessa à
Financeira, para evitar fraudes, na medida que o veículo é dado como garantia do
pagamento. Se o financiamento foi liberado, presume-se que o automóvel tenha sido
avaliado.

No julgamento do REsp nº 1.639.259/SP e do REsp nº


1.639.320/SP, o Col. Superior Tribunal de Justiça compreendeu que a inclusão da tarifa de
seguro de proteção financeira em contratos bancários não é vedada.

No entanto, é preciso analisar o caso em concreto, se a contratação


de tal serviço ocorreu de maneira livre e espontânea pelo consumidor.

Nesse diapasão, o STJ consolidou a seguinte tese (Tema 972),


também no julgamento do REsp nº 1.639.259/SP:

"2 – Nos contratos bancários em geral, o consumidor não pode


ser compelido a contratar seguro com a instituição financeira ou com seguradora por ela
indicada. 3 - A abusividade de encargos acessórios do contrato não descaracteriza a
mora.".

No caso dos autos, o documento demonstrou a faculdade do


cliente em efetuar a contratação, a qual foi realizada de maneira autônoma.

Não há prova, sequer alegação, de que a contratação do seguro


tenha sido condição para liberação do financiamento, de modo que a cobrança não se
mostra abusiva.

Frise-se, ademais, que o seguro beneficia a própria autora.

Destarte, o Superior Tribunal de Justiça, sob o rito dos recursos


repetitivos instituído pelo art. 543-C/CPC, também decidiu através do REsp. nº
1.251.331/RS, da lavra da relatora Maria Isabel Gallotti, julgado em 28/08/2013, que a
cobrança IOF não é ilegal.

Especificamente sobre o tema, fixou-se a seguinte tese: 3ª Tese:


“Podem as partes convencionar o pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras e
de Crédito (IOF) por meio de financiamento acessório ao mútuo principal, sujeitando-o
aos mesmos encargos contratuais”.

Dessa forma, a luz do decidido pelo E. Superior Tribunal de


Justiça, nenhuma irregularidade há na cláusula que estabelece o pagamento de quantia a
título de IOF.

Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos


formulados pela parte autora em sua petição inicial.

Arcará a vencida com as custas e despesas do processo, além dos


honorários advocatícios que fixo em 10% sobre o valor da causa, observada a concessão da
justiça gratuita.

Você também pode gostar