Você está na página 1de 2

Curso: Winnicott -

Teoria e Clínica

Adaptação à realidade - Realização

• No contexto do relacionamento do bebê com o seio materno, o bebê tem


impulsos instintivos e ideias predatórias. A mãe tem o seio e o poder de produzir
leite, e a ideia de que ela gostaria de ser atacada por um bebê faminto. Esses
dois fenômenos não estabelecem uma relação entre si a´te que a mãe e o bebê
vivam junto uma experiência.
• A mãe, sendo madura e fisicamente capaz, deve ser a parte que tolera e
compreende, sendo ela, portanto, quem produz uma situação que, com sorte,
pode resultar no primeiro vinculo estabelecido pelo bebê com um objeto
externo, um objeto que é externo ao eu do ponto de vista do bebê.
• Imagina-se este processo como se duas linhas viessem de direções opostas,
podendo aproximar-se uma da outra. Se elas se superpõem, ocorre um
momento de ilusão - uma partícula de experiência que o bebê pode considerar
ou como uma alucinação sua ou como um objeto pertencente à realidade
externa.
• Este ponto de encontro dará origem ao terceiro lugar da experiência humana,
lugar este dos fenômenos e objetos transicionais. Nem o subjetivamente
concebido nem o objetivamente percebido, mas um lugar de “descanso” em
que o bebê pode “se dar ao direito” em não se decidir por uma coisa ou outra.
Lugar do brincar, lugar da cultura.
• Este encontro é enormemente simplificado se o cuidador permanecer o mesmo.
• O ambiente oferece o mundo em pedacinhos suportáveis em que poderá ser
decidido pelo bebê o destino a ser dado a ele.
• Desta forma a realidade não aparece como um lugar de frustração, pelo
contrário, “o leite real é mais satisfatório que o leite imaginário”, sem a realidade
a fantasia ficaria sem freios e se tornaria uma alucinação.A fantasia sem freios no
amor e no ódio tem consequências desastrosas.
• A realidade externa tem freios (…) e a verdade é que o impacto total da fantasia
pode ser tolerado somente quando a realidade externa é suficientemente levada
em conta.
• O subjetivo é tremendamente valioso, mas é tão alarmante e mágico que não
pode ser usufruído, exceto enquanto um paralelo ao objetivo.
• A fantasia não é algo criado pelo indivíduo a fim de lidar com as frustrações da
realidade externa. Isto só é verdade em relação ao devaneio. A fantasia é mais
sdursoferreira@gmail.com Página 1 de 2
Curso: Winnicott -

Teoria e Clínica

primária que a realidade, e o enriquecimento da fantasia com as riquezas do


mundo depende da experiência de ilusão.
• Após essa jornada, integração, personalização e realização, existe um longo
trajeto antes de passar a relacionar-se como pessoa total com uma mãe total.

A sobrevivência do ambiente
• A criança normal tem prazer na relação impiedosa com a mãe, geralmente em
meio a brincadeiras, e ela precisa da sua mãe porque esta é a única de quem
pode esperar que tolere a sua ausência de compaixão mesmo por brincadeira,
pois isto na verdade a fere e a cansa.
• Sem a possibilidade de brincar sem compaixão, a criança terá que esconder o
seu eu impiedoso e dar-lhe vida apenas em estados dissociados.
• Podemos ver no ato de chupar o dedo, e principalmente no de roer as unhas,
um voltar-se para dentro tanto do amor quanto do ódio, por motivos tais como a
necessidade de preservar o objeto externo. Ai vemos também um voltar-se para
o eu como resultado de uma frustração no amor por um objeto externo." -
Winnicott, Da pediatria á psicanálise, p. 232.
• A inconsistência ambiental terá como consequência o retraimento do potencial
criativo; a formação de um falso self ou do aparecimento da tendência
antissocial.
• A sobrevivência, por outro lado, possibilita uma ação no mundo levando em
conta sua realidade (do mundo) e esta sendo experienciada pelo próprio impulso
criativo, permitido pelo gesto espontâneo*, criando assim a terceira área da
experiência humana, lugar de repouso, da cultura, da capacidade de estar só,
dos objetos e fenômenos transicionais, lugar da não-integração saudável.

A clínica winnicottiana terá por objetivo verificar em que lugar do processo de


amadurecimento o indivíduo ficou, onde a situação foi “congelada” e assim,
oferecer o tipo de cuidado necessário ambiental para que a maturação que
possibilita o descongelamento possa operar e o indivíduo possa realizar seu índice
saúde que é a tendência inata a integração. - Nascemos direcionados para a
saúde.

sdursoferreira@gmail.com Página 2 de 2

Você também pode gostar