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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO


PROPPG – PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
NAAP – NÚCLEO DE APOIO A ADMINISTRAÇÃO E PESQUISA

Estrutura produtiva local e desenvolvimento regional: uma análise da cadeia


produtiva de O&G no Estado do Rio de Janeiro entre 2010 e 2020
Matheus Lima da Costa
Daniel Ribeiro de Oliveira

RELATÓRIO FINAL – 2022/ 2023


Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica - PIBIC, PIBITI e
PIBIC-Af

Grande Área: Ciências sociais aplicadas


Nome do Professor: Daniel Ribeiro de Oliveira
CPF: 090.920.617-19
E-mail: daniel.eco@uol.com.br

Título do Projeto:  ESTRUTURA PRODUTIVA LOCAL E DESENVOLVIMENTO


REGIONAL: UMA ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA DE PETRÓLEO E GÁS
ENTRE 2010 E 2020 NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro


Abril / 2023

1
LOCAL PRODUCTIVE STRUCTURE AND REGIONAL DEVELOPMENT: AN
ANALYSIS OF THE OIL AND GAS PRODUCTION CHAIN BETWEEN 2010 AND
2020 IN THE STATE OF RIO DE JANEIRO.

ABSTRACT

The trend toward economic emptying in the State of Rio de Janeiro has been pointed out
for many years in various studies on regional development. The present work aims to
contribute to this discussion by evaluating the transformations of the productive
structure in the State of Rio de Janeiro in light of the recent evolution of total
establishments, employment, and salaries by activity sectors in the period from 2010 to
2020. With this, an analysis was sought about the possible strengthening, diversification
and development of the regional economy, based on the dynamics and degree of
employability in this chain. The State of Rio de Janeiro, for being the main national
producer of oil and natural gas, and at the same time presenting several economic
bottlenecks and regional inequalities, constitutes an interesting case to be analyzed. In
the scope of the activities that are linked to the extraction of crude oil and gas, there is a
wide range of activities that subsidize the production processes. Given this scenario, we
seek to study the extent of the impacts of a crisis in the productive system in the
regulatory sphere that has the potential to improve the business environment and,
consequently, make investment in the country even more attractive. Finally, given the
greater intensity of the events registered, it is even more important to highlight the
systemic evaluation of the oil market, which, together with the chemical industry, is the
largest generator of wealth for a country's economy.

Keywords: production chain; regional development; economy; Rio de Janeiro; oil.

2
RESUMO

A tendência de esvaziamento econômico do Estado do Rio de Janeiro tem sido apontada


há muitos anos em diversos estudos sobre desenvolvimento regional. O presente
trabalho tem por objetivo contribuir para esta discussão avaliando as transformações da
estrutura produtiva no Estado do Rio de Janeiro à luz da evolução recente do total de
estabelecimentos, do emprego e dos salários pelos setores de atividade no período de
2010 a 2020. Com isso, buscou-se uma análise acerca do possível fortalecimento,
diversificação e desenvolvimento da economia regional, a partir da dinâmica e do grau
de empregabilidade nessa cadeia. O Estado do Rio de Janeiro, por ser o principal
produtor nacional de petróleo e gás natural, e ao mesmo tempo apresentar diversos
gargalos econômicos e desigualdades regionais, constitui um interessante caso a ser
analisado. No âmbito das atividades que se encadeiam com a extração de óleo e gás
brutos, existe uma ampla gama de atividades que subsidiam os processos produtivos.
Diante desse cenário, buscamos estudar a extensão dos impactos de uma crise no
sistema produtivo na esfera regulatória que têm o potencial de melhorar o ambiente de
negócios e, por conseguinte, tornar o investimento no país ainda mais atrativo. Por fim,
a partir da maior intensidade de acontecimentos registrados, fica ainda mais importante
evidenciar a avaliação sistêmica sobre o mercado de petróleo, o qual, conjuntamente
com a indústria química, é o maior gerador de riquezas para a economia de um país.

Palavras-chave: cadeia produtiva; desenvolvimento regional; economia; Rio de


Janeiro; petróleo.

3
INTRODUÇÃO

Do ponto de vista econômico, diversos estudos sobre desenvolvimento regional têm


apontado para a tendência de esvaziamento econômico do Estado do Rio de Janeiro
(Carvalho, Feijó e Freire, 2004). Neste artigo, buscou-se contribuir para essa discussão
avaliando as transformações da estrutura produtiva de petróleo e gás no Estado do Rio
de Janeiro durante o período de 2010 a 2020. Para isso, analisamos a evolução do total
de estabelecimentos, do emprego e dos salários nos diferentes setores de atividade.

O Polo produtivo da região da frente marítima é composto por setores ligados aos
arranjos: Upstream, Refino e Fabricação de Derivados, Distribuição e outros segmentos
industriais. De acordo com dados do RAIS/ME, o Rio de Janeiro apresentou um certo
protagonismo ao longo da década no número de estabelecimentos em diversos setores
da cadeia extrativa em relação ao sistema produtivo das regiões competidoras, onde
existem estruturas como: Espírito Santo, Sergipe e Rio Grande do Norte.

No Setor de O&G do Estado do Rio de Janeiro registrou um aumento no número de


vínculos ativos do setor Upstream de apenas 0,14%, ficando acima somente das regiões
de Bahia (com 0%), Rio Grande do Norte (com 0%). No contexto brasileiro, a produção
e exportação de petróleo, em especial da camada pré-sal, têm adquirido uma posição
central e estão em constante crescimento. Segundo dados da ANP (2020, p. 2), a
produção total do ano de 2022 atingiu um valor recorde de 2,94 MMbbl/d, 5,5% maior
que a do ano de 2019. O volume extraído corresponde ao recorde nacional se
comparado com o ano de 2016. Dos 1,073 bilhão de barris de óleo equivalente da
produção brasileira no ano de 2020, 2.566 Mboe/d da produção nacional vieram da
camada pré-sal – 951 Mboe/d da camada pós-sal e 223 Mboe/d da produção onshore
(ANP, 2022, p. 3). No ano de 2022, a produção de gás natural atingiu um patamar

4
recorde, alcançando uma média anual de 127 Mm³/d, representando um aumento de
4,1% em relação ao ano anterior.

No que toca à distribuição geográfica, o Rio de Janeiro, com 38 campos produtores e


com produção de petróleo de 2.178.633 bbl/d e gás natural 77.709 mm³/d (dezembro de
2022), respondeu por 80% da produção nacional de petróleo e 61% da de gás natural. O
segundo estado em importância relativa à produção é São Paulo, com 10% na
participação de petróleo e 13% na produção de gás natural (ANP, 2020, p. 14-15).

No âmbito das atividades que se encadeiam com a extração de óleo e gás brutos, existe
uma ampla gama de atividades que subsidiam os processos de busca e identificação de
jazidas, perfurações exploratórias para a validação da existência de reservas, o
desenvolvimento efetivo dos projetos de extração e todos os serviços necessários para a
continuidade da extração até o esgotamento de uma jazida, quando é feito o
descomissionamento. Essa ampla gama de serviços de apoio à extração constitui a dita
indústria parapetrolífera e somada à extração de fato, compõe o upstream da cadeia
produtiva de petróleo e gás, isto é, a extração e todos os encadeamentos produtivos
‘para trás’.

Em primeiro lugar, a organização de diversas empresas desse sistema produtivo,


que tendem ter porte elevado e a ser altamente verticalizadas, podendo gerar distorções
nos dados que, ao serem agregados são relacionados a classes de atividades econômicas
que não necessariamente representam todas as atividades realizadas pelas empresas,
mas apenas as principais. Além disso, há um problema de especificação. Existem
atividades altamente específicas que não necessariamente são discriminadas pelas
estatísticas secundárias, sendo divulgadas de maneira agregada com outras não
necessariamente relevantes (o que acaba por acontecer com as atividades de transporte).
Ao mesmo tempo, existem atividades muito amplas que são apenas parcialmente
contempladas pela classificação vigente (como é o caso da distribuição, que envolve
desde a venda por atacado até o varejo para o cliente final).

FIGURA 1 – TOTAL DE VÍNCULOS ATIVOS NO SETOR DE O&G NO ESTADO


DO RIO DE JANEIRO ENTRE 2010-2020

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Fonte: RAIS.

Segundo os dados da Figura 1, é perceptível a reversão de maior participação, onde o


setor de distribuição avança como sendo o setor de maior concentração de empregados.
Ainda segundo os Dados do RAIS, através de uma perspectiva específica, é possível
visualizar que o setor de O&G encerrou os dez anos de desempenho com o surgimento
da pandemia do Covid-19, demonstrando um impacto para o cenário internacional.
Dessa forma, é possível mensurar um recuo significativo de 78.331 empregados ativos
no ano de 2020, refletindo um esvaziamento de 2.913 desempregados referente ao ano
anterior.

Apesar da pandemia, as disputas internacionais pelo controle dos preços das


commodities foram evidenciadas. A pandemia afetou a economia global de várias
maneiras, incluindo a queda dos preços das commodities. No entanto, as disputas
internacionais pelo controle dos preços das commodities continuam a ser um tema
importante. A competição entre os países produtores de commodities e os países
consumidores de commodities é uma questão complexa que envolve muitos fatores,
incluindo a oferta e a demanda, as políticas governamentais e as flutuações do mercado.

6
METODOLOGIA

Como forma de contornar os problemas metodológicos provocados pelos


problemas de agregação e pelos problemas de delimitação, optou-se por selecionar um
conjunto de classes CNAE 2.0 que representassem apenas os segmentos nos quais, em
virtude da base técnica, é possível assegurar que estabelecem relação forte com o
sistema produtivo de petróleo e gás. Essas atividades, descritas na tabela 1 a seguir,
distinguem as atividades upstream das atividades downstream entendidas em três
grupos, a produção de derivados incluindo o refino, outros processos industriais e a
distribuição de derivados e outros produtos.

A seguir as distinções dos setores da cadeia produtiva de O&G para a análise do


presente estudo:

- Upstream: Extração de petróleo e gás natural; Atividades de apoio à extração de


petróleo e gás natural.

- Refino e fabricação de derivados: Fabricação de produtos do refino de petróleo;


Fabricação de produtos derivados do petróleo, exceto produtos do refino.

- Outros processos industriais: Fabricação de intermediários para fertilizantes;


Fabricação de adubos e fertilizantes; Fabricação de produtos petroquímicos básicos;
Fabricação de intermediários para plastificantes, resinas e fibras; Produção de gás;
processamento de gás natural; distribuição de combustíveis gasosos por redes urbanas.

- Distribuição: Comércio atacadista de combustíveis sólidos, líquidos e gasosos, exceto


gás natural e GLP; Comércio atacadista de gás liquefeito de petróleo (glp); Comércio
atacadista de produtos químicos e petroquímicos, exceto agroquímicos; Comércio
varejista de combustíveis para veículos automotores; Comércio varejista de
lubrificantes.

Tabela 1 – Classes CNAE 2.0 relacionadas ao Sistema Produtivo de Petróleo e Gás


Natural

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Classe
Tipo Descrição
CNAE 2.0

06.00-0 Extração de petróleo e gás natural


Upstream
09.10-6 Atividades de apoio à extração de petróleo e gás natural
19.21-7 Fabricação de produtos do refino de petróleo
Refino e
Fabricação de Fabricação de produtos derivados do petróleo, exceto produtos do
Derivados 19.22-5 refino

20.12-6 Fabricação de intermediários para fertilizantes


20.13-4 Fabricação de adubos e fertilizantes
20.21-5 Fabricação de produtos petroquímicos básicos
Outros
processos Fabricação de intermediários para plastificantes, resinas e fibras
industriais 20.22-3

Produção de gás; processamento de gás natural; distribuição de


35.20-4 combustíveis gasosos por redes urbanas

Comércio atacadista de combustíveis sólidos, líquidos e gasosos,


46.81-8 exceto gás natural e GLP

46.82-6 Comércio atacadista de gás liquefeito de petróleo (glp)

Distribuição Comércio atacadista de produtos químicos e petroquímicos,


46.84-2 exceto agroquímicos

47.31-8 Comércio varejista de combustíveis para veículos automotores


47.32-6 Comércio varejista de lubrificantes
Fonte: Elaboração Própria.

É importante destacar que o conjunto de classes selecionadas pode apresentar um viés


de subestimação, uma vez que não inclui atividades relacionadas ao transporte de
petróleo e gás, em virtude dos problemas de delimitação e especificidades. De fato,
parte das atividades de transporte é realizada por empresas que se dedicam
predominantemente à produção de derivados ou ao upstream, ou as demais categorias.
Por outro lado, as categorias que abrangem o transporte dos produtos considerados
englobam o transporte rodoviário, aquaviário e dutoviário de outras cargas, aumentando
o risco de inclusão indevida de atividades. Assim, optou-se por evitar a possibilidade de
superestimação, visto que uma aproximação subestimada fornece parâmetros mais
seguros para a identificação e dimensionamento de uma estrutura produtiva, reduzindo
o risco de gerar informações equivocadas que indiquem a existência de estruturas
inexistentes.

Sempre levando em consideração as ressalvas metodológicas, é possível extrair um


indicativo da quantidade de empregos gerados pelo sistema produtivo de óleo e gás no

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Brasil e a posição do Rio de Janeiro em termos de volume de empregos e especialização
relativa. De acordo com dados da RAIS, dispostos na tabela 2 a seguir, o Rio de Janeiro
é o estado com o segundo maior número de empregos no conjunto das classes CNAE
assinaladas, sendo superado apenas por São Paulo. Em grande parte, essa desvantagem
com relação a São Paulo se justifica pelo peso do segmento varejista na distribuição,
que, ao incluir postos de combustíveis, acaba por ser função da população, da frota de
veículos e da extensão da malha rodoviária, nos quais São Paulo supera o Rio de
Janeiro.

Neste sentido, o Quociente Locacional (QL) é uma medida comumente utilizada na


literatura de desenvolvimento regional. Ele busca verificar se um município possui
especialização em determinada atividade produtiva. Sendo assim, o QL busca verificar
se um município, em particular, possui especialização em determinada atividade
produtiva e o índice é formalizado a seguir:

𝐸𝑖𝑗

∑𝐸𝑖𝑗
𝑄𝐿 = 𝑗
(1)
∑𝐸𝑖𝑗
𝑖

∑∑𝐸𝑖𝑗

Onde:
𝐸𝑖𝑗é o emprego do setor i na cidade de Niterói;

∑ 𝐸𝑖𝑗 é o emprego do setor i no Brasil;


𝑗

∑ 𝐸𝑖𝑗 é o total de emprego em Niterói;


𝑖

∑ ∑ 𝐸𝑖𝑗 é o total de emprego no Brasil;

Segundo Hirschman (1958), a implementação de mecanismos de intervenção para


estimular as oportunidades de investimento locais deve começar pelos setores-chave.
Esses setores têm a capacidade de difundir seus ganhos de produtividade para o restante
da economia, resultando na geração de emprego e renda.

9
Para avaliar se a cadeia produtiva de petróleo e gás pode ser considerada uma
aglomeração produtiva e, portanto, incentivada por gestores públicos e privados, foi
realizado o cálculo do Quociente Locacional (QL). Os resultados obtidos para os anos
de 2010 a 2020 estão apresentados na Tabela 3. É importante destacar que o QL foi
estimado com base nos dados de emprego obtidos pela RAIS, os quais fornecem maior
robustez para a análise realizada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após dividir os setores e apurar os dados, é possível visualizar uma crescente


concentração de números de empregos em que o Rio de Janeiro lidera, como sendo o
setor extrativo e setor de refino e fabricação, podendo ser visualizado na tabela 2. Um
adendo é levantado para a forte presença da empresa de capital mista Petrobrás em sua
majoritária instalação no estado do Rio de Janeiro em que lidera sua participação nos
setores citados. O Estado do Rio de Janeiro perde espaço de mercado pelo alto nível de
competitividade do comércio paulista.

Tabela 2 – Número de empregos formais contratados via CLT nos segmentos relacionados
ao sistema produtivo de Petróleo e Gás nos principais estados produtores de petróleo –
2020

Refino e Outros
Unidade da Total
Upstream Fabricação de segmentos Distribuição
Federação O&G
Derivados industriais
2.004 138 122 6.106 8.463
Rio Grande do Norte
Sergipe 1.208 210 465 3.786 5.741
Bahia 3.784 1.038 4.043 22.804 31.669
Espírito Santo 3.207 15 455 7.206 10.883
Rio de Janeiro 29.624 14.778 1.235 32.694 78.331
São Paulo 2.871 6.781 13.152 97.773 120.577
Demais UFs 1.425 5.771 27.475 245.762 280.433
Total do Brasil 44.195 28.824 46.947 416.131 536.097
Fonte: RAIS.

Por outro lado, o Rio de Janeiro detém a liderança nacional nos segmentos do upstream
e de refino e fabricação de derivados. Dos cerca de 78 mil empregos existentes no
sistema produtivo de petróleo e gás fluminense, cerca de 30 mil estão no upstream e
cerca de 15 mil estão no refino e produção de derivados. Em termos comparativos, esses

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segmentos, somados, representam cerca de 56% do total dos empregos nesse sistema
produtivo no Rio de Janeiro, contra uma proporção de cerca de 13% no total do Brasil.

De acordo com a Tabela 1, os resultados destes indicadores evidenciam que o sistema


produtivo de frente marítima de Niterói pode ser considerado, do ponto de vista
empírico, uma aglomeração produtiva uma vez que, quase todos os setores analisados
possuem valores superiores a 1 no ano de 2006. Em outras palavras, o percentual de
empregos do sistema produtivo de frente marítima de Niterói é maior que este mesmo
percentual dos setores que compõem o conjunto desses segmentos no Brasil. Desta
forma, é possível concluir que os setores pertencentes ao sistema produtivo de frente
marítima de Niterói são mais especializados que no resto do Brasil e devem ser
incentivados por agentes públicos e privados. Cabe ressaltar que no ano de 2017 o setor
de Construção de Embarcações (Lazer) deixa de ser especializado, perde importância
relativa, pois apresentou resultado inferior à unidade.

Tabela 3 – Quociente Locacional (QL) para a cadeia produtiva de Petróleo e Gás do


estado do Rio de Janeiro

Quociente Locacional
2010 2015 2020*
Extração de petróleo e gás natural 3,56 3,65 3,83

Atividades de apoio à extração de petróleo e gás natural 4,17 4,56 5,37

Fabricação de produtos do refino de petróleo 2,67 3,43 4,09

Fabricação de produtos derivados do petróleo, exceto produtos do


refino 1,11 1,60 1,48

Fabricação de intermediários para fertilizantes 0,00 0,00 0,00

Fabricação de adubos e fertilizantes 0,01 0,00 0,00

Fabricação de produtos petroquímicos básicos 0,75 0,89 1,11

Fabricação de intermediários para plastificantes, resinas e fibras 0,07 0,04 0,04

Produção de gás; processamento de gás natural; distribuição de


combustíveis gasosos por redes urbanas 1,03 1,02 0,88

Comércio atacadista de combustíveis sólidos, líquidos e gasosos,


exceto gás natural e GLP 1,00 0,74 0,95

Comércio atacadista de gás liquefeito de petróleo (glp) 0,86 0,80 0,56

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Comércio atacadista de produtos químicos e petroquímicos, exceto
agroquímicos 0,78 0,68 0,64

Comércio varejista de combustíveis para veículos automotores 0,45 0,47 0,50

Comércio varejista de lubrificantes 0,47 0,36 0,33


Fonte: Elaborado pelos autores com base na RAIS / ME.

Por meio de uma análise pormenorizada dos resultados, observa-se que ao longo do
tempo houve um aumento do grau de especialização das atividades de extração de
petróleo e gás natural, atividades de apoio à extração de O&G, fabricação de produtos
químicos básicos, comércio varejista de combustíveis para veículos automotores,
evidenciando que estes setores se desconcentram ganhando dinamismo em outros
municípios do país como por exemplo, Macaé, Bacia de São João e a cidade do Rio de
Janeiro. Neste sentido, Natal (2004) aponta em seu estudo uma análise mais detalhada
da constante e positiva mudança econômica que teve início em meados dos anos
noventa e continua até os dias atuais. Pretende-se também destacar o problema presente
nas taxas de crescimento econômico, que reside na sua sustentabilidade ao longo do
tempo, bem como a peculiaridade da sua extrema concentração em pontos específicos
do território fluminense.

Os dados apresentados anteriormente demonstram o crescimento da concentração da


produção de petróleo e gás natural no estado do Rio de Janeiro durante o período
analisado, que, como estamos enfatizando, coincide com a notável melhora econômica.
Especificamente em relação à produção de petróleo, destaca-se a marcante participação
do Estado do Rio de Janeiro, que representa mais de 80% do total nacional (ANP 2020).

Ao analisarmos a trajetória do sistema produtivo de O&G fluminense em uma


perspectiva abrangente, o segundo ponto crucial a ser observado é a profunda crise que
se desencadeou a partir de 2014. Esse cenário pode ser atribuído, em grande medida,
aos impactos econômicos decorrentes da Operação Lava-Jato, que gerou consequências
drásticas para a Petrobrás. Entretanto, outros dois elementos também exerceram papéis
significativos nessa situação. Primeiramente, a crise política nacional, que culminou no
impeachment de Dilma Rousseff, desencadeou instabilidades e incertezas persistentes,
afetando as expectativas das empresas. Em segundo lugar, acentua-se a brusca queda
nos preços internacionais do petróleo, a partir de dezembro de 2014, resultado de um

12
excesso de oferta no mercado global, impulsionado pela decisão da Arábia Saudita de
inundar o mercado como resposta ao aumento da produção dos Estados Unidos e em
retaliação ao desvio de outros membros da OPEP em relação ao cartel. Haja vista, a
ocorrência de crises em que o setor de petróleo e gás tem passado em 2015 com o
controle de preços e choques de oferta, é possível mensurar uma inflexão econômica
derivada de uma mudança significativa é perceptível no comportamento ou desempenho
de uma economia, afetando indicadores como a taxa de emprego, inflação, entre outros.
A análise econômica frente a dinâmica setorial torna a necessidade de formulação de
políticas públicas para nortear o crescimento para a próxima década.

No segmento de upstream, entretanto, foram registradas perdas significativas, com o


emprego em Niterói sendo reduzido quase pela metade entre 2014 e 2018. Essa queda
no emprego em Niterói reflete apenas uma parte dos efeitos gerais sentidos pela cidade,
especialmente em sua zona portuária, onde diversos estaleiros enfrentaram graves
problemas econômicos. Por outro lado, durante todo esse período, Maricá não
apresentou um aumento significativo na densidade de empregos.

Ao analisar os dados que ilustram a estrutura produtiva da região, podemos constatar


que a posição do Rio de Janeiro não se caracteriza exatamente pela ausência de
atividade produtiva, mas sim por um adensamento produtivo ineficiente, com
perspectivas de crescimento sensíveis devido a tensões exteriores e políticas.

Papel do Estado na área de petróleo & gás: políticas de conteúdo local

As políticas de Conteúdo Local constituem-se em instrumentos amplamente


utilizados por países desenvolvidos e em desenvolvimento desde a segunda metade do
século XX com o objetivo de extrair benefícios em termos de desenvolvimento
produtivo e inovativo a partir da exploração e produção do petróleo. A análise das
cadeias produtivas, como já mencionado, possibilita a identificação dos principais
conjuntos de atividades econômicas que oferecem oportunidades para investimentos
produtivos. No entanto, é relevante aprofundar a discussão sobre a interação dessas

13
oportunidades de investimento dentro de uma determinada cadeia e os possíveis
problemas de coordenação que podem surgir.

De acordo com Prochnik e Haguenauer (2000) as oportunidades de investimento em


uma cadeia produtiva são interdependentes. Por exemplo, a implementação de novos
empreendimentos, juntamente com o aumento da eficiência na oferta local, pode
resultar na diminuição de custos, garantir um abastecimento mais seguro e melhorar a
qualidade e a inovação nos setores a montante. Em outras palavras, cada etapa da cadeia
produtiva influencia as demais, e investimentos bem coordenados podem gerar
benefícios mútuos, estimulando o crescimento e o desenvolvimento econômico de
forma agregada. É o caso do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, situado na
cidade de Itaboraí, em 2017 tiveram suas obras paralisadas devido a má gestão e crises
na política interna.

Vale ressaltar o crescimento da participação dos royalties no estado do Rio de Janeiro


ter apresentado um aumento de 225% em 11 anos, o crescimento é datado desde 2017,
foi estimado uma melhora no setor produtivo na segunda metade da década, embora
superada os desafios tendo como consequência uma queda na arrecadação, em 2020, foi
identificada no presente trabalho uma participação dos empregados fluminense de 56%
da cadeia produtiva.

CONCLUSÕES

A partir de 2010, o Brasil enxerga o setor de O&G como nova chave para o crescimento
econômico, constatando um número de 2.167.821 empregos com carteira assinada no
país, no período compreendido de 2010 a 2020. No estado do Rio de Janeiro — ERJ —,
essa perda foi proporcionalmente muito mais grave. O estado perdeu 313.045 empregos
com carteira assinada, em termos percentuais, a perda de emprego no ERJ, neste
período foi de 15,3%, enquanto na economia brasileira foi de 4,9%
(Rais/Caged/Ministério da Economia).

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Embora seja um setor que apresenta constantes turbulências, o crescimento econômico
proveniente da produção de petróleo e gás faz com que o estado do Rio de Janeiro
ganhe um certo protagonismo, afinal, é um setor que vem batendo recordes tanto na
produção quanto nos royalties. O Setor de Petróleo e Gás tem desempenhado um papel
fundamental na economia brasileira, sendo responsável pela maior parte dos
investimentos há vários anos. Ele contribui com mais de 10% do investimento do país.
O Brasil possui uma reserva petrolífera significativa, sendo esse o pré-sal, contendo
petróleo de alta qualidade, campos de altíssima produtividade e um enorme potencial de
reservas. Essa condição coloca o país em posição de destaque global na exploração e
produção de petróleo offshore. (FIRJAN, 2018)

Segundo as estimativas da ANP, até 2027, os investimentos no setor de O&G nacional


serão cerca de R$20,5 bilhões, sendo que deste montante, 94% ou seja, R$19,25 bilhões
serão investidos na exploração e perfuração de petróleo em águas profundas em torno
de R$ 1 trilhão no estado do Rio de Janeiro.

Como evidenciado, o desenvolvimento da cadeia produtiva de O&G do estado do Rio


de Janeiro foi bastante beneficiado pelo “primeiro ciclo de investimentos no pré-sal”
(2007-2014) na geração de emprego e renda. Sabendo que grande parte dos
investimentos no setor de O&G nos próximos anos serão em setores/atividades
existentes no sistema produtivo de extração e atividades de apoio, a equipe envolvida na
construção deste relatório acredita que a cidade pode ser bastante beneficiada com estes
novos investimentos.

O estado do Rio de Janeiro possui vantagem locacional em relação ao pré-sal quando


comparada com os demais competidores pelos investimentos vindouros do setor de
O&G. Sendo São Paulo líder no segmento comercial, com a distribuição varejista e
atacadista do produto final da cadeia produtiva.

Com base no panorama apresentado, foi ressaltada a necessidade de estar atento aos
cenários possíveis. Nesse sentido, é fundamental destacar a importância de considerar o
cenário futuro das próximas décadas, que indica a manutenção da alta volatilidade dos
preços do petróleo, com uma tendência de queda do seu preço médio no longo prazo.

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Essa possibilidade deve ser cuidadosamente incorporada nos planos de ação futuros de
todos os envolvidos na economia do petróleo, incluindo o estado do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro de modo a desenvolver, internalizar a cadeia produtiva, dinamizar e


aprofundar as vantagens competitivas da aglomeração produtiva gerando empregos e
renda para a cidade. Segundo os achados, os setores de extração de petróleo; apoio à
extração de petróleo; fabricação de produtos de refino de petróleo e fabricação de
produtos derivados do petróleo (exceto produtos de refino) devem ser incentivados com
políticas ativas com o objetivo de potencializar os ganhos de produtividade e
competitividade visto que estes setores que impulsionam a economia brasileira devido a
sua alta concentração espacial para tal desenvolvimento, este analisado por Carvalho,
Feijó e Freire. Portanto, é fundamental que o poder público municipal estabeleça uma
articulação com o poder público estadual e federal, juntamente com a iniciativa privada
e as instituições acadêmicas. Essa cooperação visa estimular o desenvolvimento dos
setores de petróleo e gás no estado do Rio de Janeiro, buscando fomentar o
adensamento produtivo dessas cadeias dentro do estado. A internalização da cadeia
produtiva tem o potencial de impulsionar tanto setores interligados quanto setores em
diferentes áreas, resultando no adensamento produtivo das atividades produtivas locais.
Essa integração visa gerar empregos e renda para o estado, tanto nas atividades
diretamente relacionadas quanto em outras áreas que também se beneficiam da
aglomeração produtiva.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, P. G. M.; FEIJO, Carmem Aparecida; FREIRE, Denise Guichard. A


Economia do Estado do Rio de Janeiro na Segunda Metade dos Anos 90.

FIRJAN, Anuário Industrial de Petróleo no Rio de Janeiro 2010-2020.


HAGUENAUER, L. & PROCHNIK, V. (orgs.) (2000) Identificação de Cadeias
Produtivas e Oportunidades de Investimento no Nordeste do Brasil, Banco do Nordeste.

16
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Texto para Discussão, n. 786, IPEA,2001

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