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Roteiro de Estudos Sintaxe LGII (2015)
Roteiro de Estudos Sintaxe LGII (2015)
INTRODUÇÃO À SINTAXE
Márcia Cançado
Luana Amaral
UFMG
2015
1
CONTEÚDO
A HISTÓRIA DA LINGUÍSTICA
ATIVIDADE No 1 ................................................................................................................. 4
UM BREVE PERCURSO SOBRE A HISTÓRIA DA LINGUÍSTICA ........................... 5
A Universalidade no Plano da Linguagem ....................................................................... 24
CLASSES DE PALAVRAS................................................................................................. 34
ATIVIDADE No 2 ............................................................................................................... 36
Sintaxe: explorando a estrutura da sentença (2003) ......................................................... 37
EXERCÍCIO 1: Negrão, Scher e Viotti ............................................................................ 45
ESTRUTURAS DE CONSTITUINTES E SINTAGMAS .................................................. 47
ATIVIDADE No 2 ............................................................................................................... 50
Sintaxe: explorando a estrutura da sentença: Parte 2 ....................................................... 51
ATIVIDADE 3: Estrutura de Constituintes ..................................................................... 60
A TEORIA X-BARRA......................................................................................................... 61
SINTAGMAS DE CATEGORIAS LEXICAIS ............................................................... 62
O SINTAGMA NOMINAL ......................................................................................... 62
O SINTAGMA PREPOSICIONADO .......................................................................... 62
ATIVIDADE 4: SNs e SPs ........................................................................................... 63
O SINTAGMA VERBAL ............................................................................................ 64
ATIVIDADE 5: SV ...................................................................................................... 64
SINTAGMAS DE CATEGORIAS FUNCIONAIS ......................................................... 65
OS SINTAGMAS DETERMINANTES E DA FLEXÃO ........................................... 65
ATIVIDADE 6: X Barra .............................................................................................. 66
ESTRUTURA ARGUMENTAL: COMPLEMENTOS E ADJUNTOS .............................. 67
O SINTAGMA ADJETIVAL .......................................................................................... 69
ATIVIDADE 7: SA ...................................................................................................... 69
O SINTAGMA ADVERBIAL ......................................................................................... 70
EXERCÍCIO 8: SAdv ................................................................................................... 70
ADJUNÇÕES ....................................................................................................................... 71
ATIVIDADE 9 : X Barra ................................................................................................. 72
DEFINIÇÕES DAS FUNÇOES SINTÁTICAS .................................................................. 73
ATIVIDADE 10: FUNÇÕES SINTÁTICAS....................................................................... 74
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 75
2
INDICAÇÕES DE CONSULTA ......................................................................................... 75
3
ATIVIDADE No 1
4
UM BREVE PERCURSO SOBRE A HISTÓRIA DA LINGUÍSTICA
A vontade de se estudar a linguagem foi despertada por indagações sobre temas não
propriamente linguísticos. Os gregos, por exemplo, a partir de uma preocupação filosófica,
encontraram, no estudo da língua, um caminho para se estudar o pensamento humano. Assim,
as ideias de Platão e Aristóteles sobre a linguagem estavam vinculadas, inicialmente, a
questões filosóficas. Os hindus, há mais de 2500 anos, desenvolveram uma tradição
gramatical sofisticada (descrita por Panini, cuja obra foi descoberta pelos ocidentais no
século XVIII), que estudava a fundo a fonética e a morfologia do sânscrito. Esse estudo,
porém, assim como o dos gregos, também teve seu início a partir de motivações
extralinguísticas – a conservação e a preservação de textos religiosos antigos.
O estudo linguístico se inicia por motivos adversos à linguística, mas, à medida que esse
estudo se aprofunda, no decorrer do tempo, a linguística vai se desvinculando de fins
filosóficos, religiosos etc. Ela passa a focalizar a língua como um objeto de estudo
independente, que vale a pena ser estudado sem que sirva a outras finalidades. Para o
linguista, a língua se torna um fim, não um meio. A restrição do contorno do objeto de estudo
é um dos motivos pelos quais se cunhou o termo Linguística, em meados do século XIX.
Hoje, a Linguística se considera uma ciência. Isso porque, no desenvolver de seu estudo, ela
procede “cientificamente”: investiga seu objeto de estudo (a língua) observando sua
ocorrência e tecendo hipóteses e generalizações através de um método filiado a uma teoria.
Não entraremos aqui em questões filosóficas a respeito do que seja realmente ciência, qual a
validade do método científico ou da pretensa “objetividade” cientifica. Queremos apenas
ressaltar que, se há algo que chamamos de “ciência” (apesar de não sabermos com muita
exatidão definir o que seja), a Linguística, vendo-se possuidora de características comuns às
demais ciências, reivindica seu status de disciplina científica. Há, porém, algumas
5
peculiaridades que a Linguística apresenta enquanto ciência. Uma dessas peculiaridades é o
grande número de métodos e correntes teóricas diferentes. À primeira vista, poder-se-ia
enxergar essa alta diversidade teórica/metodológica como uma grande confusão. Poder-se-ia
pensar que a Linguística não merece crédito e que não deve proclamar-se “ciência”, visto que
não há “consenso” entre os estudiosos. Ou se poderia pensar que há uma única corrente
teórica “correta”. Ambas as visões são equivocadas. O estudo da língua merece, sim, crédito,
como argumentaremos a seguir. E não é verdade que há apenas uma maneira correta de se
estudar a linguagem. A diversidade teórica/metodológica da Linguística não é uma
“confusão”; é, por outro lado, saudável. As teorias divergem porque recortam seu objeto de
estudo de diferentes maneiras (uma teoria prioriza o estudo dos sons da língua, outra, o
significado da língua, outra, a relação do significado com o contexto de fala, e assim por
diante). Temos, portanto, vários recortes de várias facetas da língua, e todos esses recortes,
juntos, nos ajudam a compreender o fenômeno linguístico como um todo.
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Várias disciplinas se valem da Linguística para seu desenvolvimento. A Psicologia, por
exemplo, tenta explicar nossos processos de pensamento, os quais muitas vezes assumem
formas linguísticas. Assim, a linguagem, enquanto fenômeno psicológico, é objeto de estudo
da Psicologia. Também a Filosofia, a Sociologia e a Antropologia têm como objeto de estudo
alguma faceta da linguagem.
Mas não é apenas por causa de suas aplicações práticas que a Linguística é digna de ser
estudada. Como vários outros tipos de ciência, a Linguística deriva da curiosidade e da
necessidade de conhecer o mundo, características que mais distinguem o homem dos demais
animais. Em outras palavras, saber por saber. Uma grande parte do estudo da física não tem
aplicação imediata, mas descreve e explica algum aspecto do mundo em que vivemos. Assim
é a Linguística não aplicada: descreve e explica uma parte do mundo, a língua, instrumento
imprescindível para o desenvolvimento de nossa cultura, para a transmissão do saber, para a
construção e o registro do conhecimento humano.
2. História da Linguística
A cultura grega apresentava uma grande riqueza intelectual. Foi pioneira nos estudos
europeus não apenas linguísticos, mas também e especialmente filosóficos, políticos e
estéticos. Seus legados são tão importantes que o homem moderno é mais ligado aos gregos
do que a qualquer outra civilização antiga.
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Os estudos gregos no campo linguístico não se davam isoladamente, conforme a ciência
Linguística atual. Faziam parte das indagações filosóficas acerca do mundo. Assim, a
philosophía grega cobria um campo muito mais amplo do que a filosofia atual abrangendo
virtualmente todos os setores do conhecimento humano, inclusive a gramática.
Os primeiros dados da ciência da linguística na Grécia aos quais temos contato datam o
começo do período clássico no século V a.C. Sabe-se que os filósofos dessa época
exploraram vastamente os domínios da astronomia, física, matemática, ética e metafísica;
mesclando estudos da linguagem nesses campos de ação. Nosso conhecimento a respeito dos
estudos desse período, porém, é insuficiente, pois deles não restam senão fragmentos.
Aristóteles (384-322 a.C.) teve conhecimento da obra de Platão, da qual partiu para
desenvolver seu próprio pensamento.Foi notavelmente o maior intelectual da Antiguidade,
tendo percorrido quase todos os domínios do conhecimento até então explorados.
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interpretações controversas. Apesar disso, a investigação linguística aristotélica é
razoavelmente clara e apresenta um avanço em relação aos posicionamentos de Platão.
Das escolas filosóficas que surgiram em Atenas depois de Aristóteles destaca-se a dos
estóicos, fundada por Zenão, em cerca de 300 a.C. Com os estóicos, a linguística conquistou
um lugar específico dentro da philosophia passando a ser tratada como matéria específica.
Dentre as contribuições desses estudos destaca-se a preocupação “científica” com o método
de pesquisa, tratando de modo diferenciado fonética, gramática e etimologia. Desenvolveram
amplamente o estudo da gramática e a eles deve a formalização da oposição entre forma e
sentido, estabelecimento da distinção entre “significante” e “significado”.
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naturalistas, defensores do princípio natural da língua (phýsis), e os convencionalistas,
defensores da convenção (nómos). O segundo debate dá-se entre analogistas e anomalistas:
os analogistas defendiam que a língua era essencialmente regular ou analógica; os
anomalistas defendiam o princípio da irregularidade ou analogia.
Natureza ou convenção?
Analogia ou anomalia?
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2.2 O período romano
Como ocorreu com quase todo aspecto da cultura romana, também o estudo da língua
absorveu praticamente tudo o que os gregos haviam feito. A linguística latina é,
essencialmente, uma tradução para o latim da tradição gramatical grega. Os objetivos da
gramática latina, entretanto, são um pouco diferentes dos da gramática grega. Os gregos
visavam, com o estudo gramatical, compreender o pensamento humano, responder a
indagações filosóficas e, de uma maneira mais geral, fazer ciência, para aumentar o saber. Já
os latinos enxergavam finalidades mais práticas nesse estudo: a educação e a retórica.
Exploremos o porque de tais finalidades.
Durante a enorme expansão do Império Romano, podemos dizer que, juntamente com vários
outros tipos de colonização, houve uma “colonização linguística”. O latim, ao mesmo tempo
em que se espalhou por praticamente toda a Europa, também se misturou com as inúmeras
línguas dos povos de locais colonizados. A essa nova língua, fruto da superposição de
culturas, chamou-se “latim vulgar”. Os “vulgares” eram tão diferentes entre si que
futuramente viriam a se tornar o que hoje chamamos de português, francês, espanhol etc.
Assim, para o Império, era mister haver uma língua única, usada em contextos formais e
ensinada nas escolas: o latim clássico, ou áulico. Daí a finalidade mais didática que filosófica
da gramática latina.
O estudo da retórica já era tão importante na vida grega como o foi posteriormente na latina.
Isso porque as decisões políticas eram feitas em assembleias públicas, nas quais todos tinham
o direito à fala, mas poucos detinham o poder da persuasão.
As gramáticas latinas eram divididas em partes. Havia uma seção dedicada à arte do bem
falar e do bem escrever, uma seção dedicada à descrição das partes do discurso e, em algumas
gramáticas, uma seção que tratava da etimologia. A etimologia, na época, não buscava a
origem da palavra formal (ou seja, sua evolução fonética e/ou morfológica), mas do seu
significado. Uma vez atingido o significado primordial de uma palavra, ficaria compreendida
a verdade contida em tal palavra. Assim, foi postulado, por exemplo, que homo (‘homem’)
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derivaria de humus (‘terra’), revelando a natureza terrena, não divina, do homem. É claro que
essa perspectiva era dividida pelos gramáticos que acreditavam que as palavras são naturais,
não convencionais (Marcos Terrêncio Varrão era um deles). Havia, portanto, mais semântica,
etimologia e taxonomia nas gramáticas do período romano que fonética, sintaxe e morfologia
– aspectos da língua que só seriam aprofundados muitos séculos depois.
Os maiores expoentes da gramática latina são: Varrão (s. II a.C.), Quintiliano (s. I a.C.),
Donato (s. IV d.C.) e Prisciano (s. V d.C.).
A tradição gramatical prescritiva ocidental chegou até nós pela filtragem latina da gramática
grega. Apesar de hoje ser possível o acesso a algumas das obras gregas (como a de Dionísio
Trácio, do século II a.C., descoberta somente no século XVIII), foi a partir dos latinos, ou
melhor, da leitura que estes fizeram dos gregos, que se desenvolveu nossa tradição
gramatical. Se, por um lado, o estudo da linguagem de desenvolveu muito, desde os seus
primórdios na Antiguidade até a Linguística moderna dos dias de hoje, por outro lado, a
gramática prescritiva seguiu seu próprio curso, configurando-se como uma tradição, devido
às poucas mudanças que sofreu nos seus 2000 anos de existência. De fato, uma gramática
moderna do português em muito se assemelha às antigas gramáticas latinas do período
romano.
A Idade Média começa com as invasões bárbaras, a consequente queda do Império Romano
e a clausura das populações em feudos. O isolamento dos feudos acentua o processo de
diferenciação entre os diversos “vulgares” e sentencia a morte do latim como língua falada.
O latim, entretanto, permaneceu como língua de cultura, usada para fins administrativos e
eclesiásticos. As gramáticas de Donato e Prisciano eram tomadas como modelos para o
ensino do latim, mas eram compreensíveis apenas para aqueles que já dominavam a língua.
Assim, no período medieval, foram escritas muitas gramáticas de cunho didático. Em vez de
citar trechos de autores clássicos, como faziam os gramáticos gregos e romanos (que extraíam
excertos da Odisséia ou da Eneida, por exemplo), os gramáticos medievais citavam
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passagens da Bíblia, já que o estudo do latim, em geral, servia aos que visavam uma carreira
eclesiástica.
Para a história da linguística, a Idade Média não se destaca como um período de grande
efervescência intelectual. Nos seus mil anos de duração, a produção linguística praticamente
se resumiu à elaboração de gramáticas didáticas, como mencionamos acima. Na segunda
metade do Medioevo (ou Baixa Idade Média), no entanto, uma descoberta desencadeou uma
série de discussões e estudos importantes para o pensamento linguístico. Tratava-se, na
verdade, de uma redescoberta das obras de Aristóteles pelos filósofos escolásticos. A
releitura das obras aristotélicas suscitou questionamentos em todas as áreas do conhecimento
humano, inclusive nos estudos linguísticos. Houve um retorno ao viés filosófico da
linguística, e vários debates ressurgiram: nominalistas versus realistas, analogistas versus
anomalistas. Aristóteles dizia que se deve separar as atividades práticas das atividades
teóricas, e o filósofo Roger Bacon (s. XIII) transportou essa dicotomia para o estudo da
língua. Para ele, é necessário diferenciar a gramática especulativa, de caráter teórico, da
gramática positiva, de cunho prático ou empírico. A primeira é universalista, ou seja, parte
do pressuposto de que há aspectos que são comuns a todas as línguas do mundo e se propõe
a estudá-los. A segunda é particularista, e estuda as idiossincrasias de uma língua particular.
Ambas as gramáticas, no período medieval, estudavam o latim; uma o fazia acreditando no
latim como sendo uma língua universal e a outra o fazia descrevendo os seus pormenores.
Confinados e isolados, os europeus conheciam pouco sobre as línguas do mundo. Por mais
de mil anos, o latim dominou os estudos linguísticos, servindo até como modelo da
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universalidade de todas as línguas. Estudar gramática significava estudar latim. Com a
constituição dos Estados Nacionais unificados e o início da expansão marítima européia, dá-
se o fim da Idade Média. Ao mesmo tempo em que as línguas vernáculas solidificam sua
literatura e são elevadas ao patamar de línguas nacionais dos Estados unificados, as línguas
nativas dos continentes recém-colonizados são descobertas, aprendidas e estudadas. Os
horizontes da linguística se expandem e um novo ritmo é imposto ao estudo da linguagem
humana.
O homem renascentista é curioso e interessado, e foi com entusiasmo que ele se debruçou
sobre a pesquisa das línguas aborígines descobertas durante as grandes navegações. Foram
escritos, no período compreendido entre o Renascimento e o século XVIII, diversos
dicionários e gramáticas de línguas ameríndias e orientais. Também as línguas vernáculas
européias foram objeto de descrição gramatical, mas não apenas como conseqüência apenas
da curiosidade renascentista. A onda de nacionalismo que envolveu a unificação dos Estados
fez com que o vernáculo ganhasse prestígio e desejou-se que ele fosse visto como um língua
tão “nobre” e tão digna de ser descrita em uma gramática quanto o era o latim. Assim, o
vernáculo descrito era forçado a se encaixar nos moldes da gramática latina. Se, por um lado,
o latim perde força como objeto de estudo linguístico e como língua de cultura, por outro,
sua descrição prevalece como modelo para a elaboração de gramáticas. Até hoje, as
gramáticas do português, por exemplo, forçam a descrição da língua aos antigos padrões de
descrição do latim.
Uma vez que o objeto de descrição linguística passou a ser uma língua viva, o estudo fonético
pôde se desenvolver. De fato, a partir do século XVI, a Fonética evoluiu muito e para isso
corroborou a Biologia – que paralelamente também vinha se desenvolvendo desde o
Renascimento –, na descrição dos órgãos da fala e do processo de produção de sons.
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As abordagens particular e universal coexistiram durante o período renascentista e além,
seguindo cada qual o seu curso. Os particularistas descreviam as línguas vernaculares e
aborígines, suas idiossincrasias e peculiaridades da fala. Assim, concentravam-se mais no
estudo fonético, que agora poderia ser aprofundado com o apoio dos recentes avanços da
biologia. Os universalistas ainda seguiam o viés da filosofia e da lógica, e tiveram, no século
XVII, seus maiores expoentes: os gramáticos de Port-Royal.
A produção linguística no período renascentista até o século XVIII foi, como vimos, bastante
rica, devido a vários fatores: o advento da imprensa, o novo impulso à investigação
linguística fornecido pela descoberta das “novas” línguas, o entusiasmo pela ciência. Havia,
já ao final do século XVII, uma vasta literatura sobre as diferentes línguas do mundo:
gramáticas, dicionários, compêndios. Era comum encontrar coletâneas de línguas, contendo
traduções de um mesmo texto (o “Pai Nosso”, por exemplo) nos mais variados idiomas.
O acesso a tanta informação sobre tantas línguas e o aparente caos linguístico mundial
suscitaram muitas indagações: Como organizar essas inúmeras línguas? Há alguma relação
entre elas? Ressurgiram questões antigas: Qual é a origem das línguas? Há uma língua
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original?1 Iniciou-se, então, um enorme esforço, no sentido de comparar as diferentes línguas
e classificá-las de acordo com suas semelhanças. A tarefa era árdua, e foi quase desacreditada
no fim do século XVIII. Foi quando se descobriu o sânscrito e a tradição gramatical hindu, e
o estudo comparativo deslanchou, dominando praticamente toda a linguística do século
seguinte. Nascia a Filologia.
As obras de Pãnini foram descobertas pelo orientalista inglês Sir William Jones, em viagem
à Índia, no final do século XVIII, época da possessão britânica. Tal descoberta teve uma
importância sem precedentes para a história da Linguística, pois foi a causa direta do rápido
progresso de áreas como a fonética, a morfologia e a filologia, que, naquele século, elevaram
a linguística a um status de disciplina científica. Conceitos fundamentais para o
desenvolvimento da fonética e da morfologia foram introduzidos pela tradição hindu. Dois
desses conceitos fundamentais são o ponto de articulação dos sons da fala e a raiz
morfológica à qual se juntam afixos para a formação de palavras. Para a filologia, as obras
do indiano Pānini foram importantes porque através delas se descobriu o sânscrito e a
espantosa semelhança que essa língua compartilha com outras duas línguas antigas: o latim
e o grego.
1
Na Idade Média, pensava-se ser o hebraico a língua original de toda a humanidade e enxergava-se a
variedade Linguística como um castigo divino, de acordo com o mito bíblico da Torre de Babel.
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William Jones recebe o crédito de ter sido o primeiro a lançar a ideia, em 1786, de que latim,
grego e sânscrito possuiriam um ancestral comum. Em 1822, Jakob Grimm demonstra quais
eram as correspondências fonéticas sistemáticas que havia entre essas três línguas e as línguas
germânicas. Ao p em latim, grego e sânscrito, por exemplo, corresponde o f nas línguas
germânicas: a palavra ‘pai’ é pitar em sânscrito, pater em latim, pater em grego, vater
(pronunciado fater) em alemão e father em inglês. A correspondência entre as consoantes
dessas línguas se mostrou tão regular que Grimm a chamou de “lei”, e desde então essa
correspondência é conhecida como “Lei de Grimm”.
2
Por “empréstimo” entende-se a importação de uma palavra de outra língua. Por “analogia” entende-se o
rearranjo da estrutura de uma palavra para se adequar a algum padrão da língua, quebrando assim a
sistematicidade de uma lei fonética (a palavra‘lagoa’, por exemplo, se seguisse o padrão das leis fonéticas, teria
de ser ‘logoa’, pois deriva do latim locusta; mas supõe-se que, por analogia com a palavra ‘lagosta’, os falantes
trocaram o o pelo a).
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Muitas críticas foram posteriormente feitas à rigidez com que os neogramáticos enxergavam
a mudança. Argumentou-se, por exemplo, que há mais fatores, além da analogia e do
empréstimo, que redirecionam o rumo de uma mudança linguística, não sendo esta
necessariamente governada por leis. Ainda no século XIX, surgiram movimentos que
contradiziam até a noção de evolução linguística. A Teoria da Onda, por exemplo, afirmava
não haver genealogia na mudança linguística (uma língua “mãe” e várias línguas “filhas”
etc), mas apenas um alastramento geográfico das mudanças originadas de um centro. Os
pontos geograficamente mais próximos do centro (onde surge a inovação linguística) são
mais rapidamente atingidos pela “onda” de mudanças que os pontos mais distantes.
Apesar das críticas que receberam, os comparatistas legaram para a Linguística seu método,
que é até hoje utilizado no estudo de famílias e troncos linguísticos. O método comparativo
tem sido aplicado, por exemplo, ao estudo do tronco tupi-guarani, do qual descenderam
diversas línguas indígenas brasileiras.
O que de mais importante aconteceu fora dos domínios da Linguística Histórica, no século
XIX, foi a obra de Wilhem von Humboldt, filósofo alemão do início do século. Precursor do
psicologismo de Chomsky, o filósofo afirmava haver na língua uma realidade externa e outra
interna. A realidade externa é o que há de mais “palpável” na língua: os sons. Na realidade
interna estão presentes as estruturas que subjazem e comandam a língua: a gramática e o
significado. Outra ideia linguística de Humboldt da qual Chomsky também fez uso foi o
conceito de Energeia, que se refere à possibilidade de se criar o infinito com o finito, ou seja,
a partir de um número finito de termos, pode-se criar e compreender enunciados infinitos
numa língua.
A seriedade com que, no século XIX, se encarou a linguagem, abordando-a com objetividade
e método, mudou o perfil e a importância da linguística em relação às demais disciplinas.
Inicialmente um estudo normativo, com fins pedagógicos, literários ou auxiliares a outras
disciplinas, a linguística elevou-se a Linguística, uma ciência autônoma.
18
2.6 O século XX
Dialogando com Humboldt, Saussure também distingue dois níveis na língua: um externo, a
que chama de parole, e um interno, a langue3. Mas o linguista não apenas aponta a existência
desses dois níveis. Ele afirma ser a langue o real objeto de estudo, o nível que deveria ser
enfocado e explicado pela Linguística. A parole seria apenas a manifestação da langue. O
linguista, porém, para descrever a langue, só dispõe da parole.
3
Reiteramos o que dissemos no início deste capítulo: Não é nosso objetivo explicar com muitas minúcias
conceitos como a distinção entre langue e parole. Nós os usamos na tentativa de encadear as principais ideias
Linguísticas de forma a fazerem sentido numa ordenação cronológica.
19
um ponto de vista epistemológico. Saussure reivindica a completa autonomia da Linguística
em relação às demais ciências, sendo a explicação da língua o único objetivo desse estudo.
Com o Curso de Linguística Geral, Saussure inaugura o estruturalismo, estudo cujo enfoque
é a estrutura linguística, que busca descrever não um elemento de uma língua, mas a relação
que esse elemento estabelece com outros elementos da língua. Na primeira metade do século
XX, o estruturalismo se espalha pelas universidades do mundo, mas se pode distinguir duas
escolas que se destacaram no desenvolvimento desse estudo: a europeia e a americana.
Nos EUA, o estruturalismo adquire vida própria e toma um rumo tão particular que a
linguística feita ali na primeira metade do século se configura como uma corrente diferente
da inaugurada por Saussure: o Estruturalismo Americano. Os americanos se preocuparam
inicialmente em descrever estruturalmente as centenas de línguas indígenas que se
encontravam em seu território e que ainda careciam de descrição. Assim, eles eram mais
particularistas que os europeus, pois enfocavam línguas particulares e não a linguagem
humana. Na descrição de línguas exóticas, a Linguística se uniu à Antropologia. O viés
antropológico no estudo linguístico é a principal característica distintiva do Estruturalismo
Americano. Franz Boas, Edward Sapir e Leonard Bloomfield são os expoentes do
Estruturalismo Americano.
20
behavioristas como uma criação social, sem existência no plano biológico, no qual ela
constituiria uma das faculdades do cérebro humano. A aquisição da linguagem pelas crianças,
portanto, se daria através da imitação e da repetição. O behaviorismo linguístico teve em B.
F. Skinner, com seu Verbal Behavior (1957), seu defensor mais radical. Skinner,
ulteriormente, sofreria duras críticas de Chomsky.
Em 1957, é lançado o livro Syntatic Structures, de Noam Chomsky, que se torna, desde então,
um monumento da história da Linguística. Rompendo com o Estruturalismo Americano,
Syntatic Structures lança o programa Gerativista, tão marcante para a Linguística do século
XX que, a partir de Chomsky, toda corrente linguística tem de se posicionar em relação ao
gerativismo, mesmo quando assume uma posição contrária.
4
Colocamos entre aspas os nomes precisos dos conceitos usados pela Gramática Gerativa.
21
Finalmente, Chomsky, com sua distinção entre “competência” e “desempenho”, retoma
Saussure e suas noções de langue e parole.
Outra novidade introduzida por Chomsky foi a elevação da sintaxe ao foco de atenção da
Linguística. Para ele, a sintaxe é o cerne da estrutura das línguas e deve ser ela o verdadeiro
objeto de investigação da pesquisa linguística. Chomsky afirma que a análise sintática
tradicional não dá conta de fenômenos sintáticos muito comuns, cuja complexidade é
subestimada por uma análise superficial. As sentenças É fácil agradar a menina e É
recomendável agradar a menina, por exemplo, seriam analisadas pela tradição gramatical
como tendo mesma estrutura sintática, mas, enquanto a primeira sentença pode ser
reformulada como A menina é fácil de agradar, a segunda não pode ser reformulada como
*A menina é recomendável de agradar, por ser esta uma sentença estranha ao português, ou
22
em, vocabulário gerativo, “agramatical”. Um asterisco à esquerda de uma sentença indica a
sua “agramaticalidade”.
Para a descrição das estruturas sintáticas das línguas naturais, Chomsky criou uma linguagem
específica: as árvores sintáticas. As árvores não servem apenas à visualização da organização
hierárquica de sintagmas e outros componentes sintáticos. Servem, primordialmente, a uma
descrição linguística mais objetiva, que foge de um dos grandes problemas metodológicos da
Linguística: a metalinguagem, ou a utilização da própria língua para falar da língua5. Essa
preocupação com a objetividade na pesquisa linguística é uma característica que qualifica a
Gramática Gerativa como uma corrente de pretensões formalistas.
Muito se tem feito, dentro do programa gerativista, desde os anos 50 até hoje. Centenas de
pesquisadores vêm estudando, utilizando, testando e criticando o modelo de Chomsky.
Várias áreas de pesquisa linguística, não apenas a sintaxe, já se valeram do nome, dos
preceitos e do formalismo gerativistas: a fonologia gerativa, a morfologia gerativa, a
semântica gerativa e até o recente “Léxico Gerativo”, proposto por Pustejovsky. A sintaxe
gerativa foi diversas vezes reformulada, até pelo próprio Chomsky. A última reformulação
feita por Chomsky se deu em 1995, com o “Programa Minimalista”, em que o lingüista tenta
“minimizar” o aparato arbóreo, que vinha se tornando cada vez mais extenso e complexo.
5
Todas as demais ciências possuem um objeto e uma linguagem para tratar desse objeto. A matemática usa os
números e outros sinais para tratar de matemática. A física usa tanto a matemática quanto a língua natural para
falar de física. A biologia usa essencialmente a língua para descrever a biologia. Mas a Linguística usa a própria
língua para tratar da língua, chegando, muitas vezes, a impasses. Reflita, por exemplo, a respeito das seguintes
indagações, para ter apenas uma ideia do que seja esse “impasse”: Que palavra é a palavra ‘palavra’? Qual o
significado de ‘significado’? O que a sentença ‘o que a sentença quer dizer’ quer dizer?
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A Universalidade no Plano da Linguagem
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CLASSES DE PALAVRAS
Todo item lexical tem algumas informações que são aprendidas quando se fala uma
língua, ou seja, são informações que não fazem parte da gramática inata, mas do aprendizado
de uma língua. Essas informações são: fonéticas, fonológicas, morfológicas, sintáticas e
semânticas. Os falantes de uma língua sabem que um certo item lexical pertence a uma
determinada classe. Os vários tipos de itens que fazem parte da oração podem ser
classificados em um número finito de classes. Considera-se que um determinado item
pertence a uma mesma classe quando eles compartilham de mesmas propriedades
gramaticais, isto é, propriedades morfológicas, sintáticas e semânticas.
Antes de se dividirem em classes, podemos dividir os itens lexicais em duas grandes
categorias:
As categorias lexicais são: Nome (N), Adjetivo (A), Verbo (V), Preposição (P) e Adverbio
(ADV).
As categorias funcionais (ou gramaticais) são: Flexão (F), Complementizador (C), Negação
(Neg) e Determinante (D).
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As categorias lexicais exigem um maior esforço para sua classificação. As definições dadas
pela GT, as mais conhecidas, não nos levam a uma análise sem erros. Não podemos listar,
por exemplo, os nomes. À princípio, no PB, todas as palavras são possíveis de serem
nominalizadas. Veja o exemplo:
Como você classificaria a palavra amar? Você percebe a dificuldade de se classificar uma
palavra a priori. O que fazemos para classificar uma palavra é ver quais são as propriedades
morfológicas, sintáticas e semânticas que elas apresentam e a colocamos em determinada
classe que é definida a partir de propriedades específicas. Vamos tentar dar algumas
características de algumas classes:
Verbos: são palavras que flexionam a pessoa, aceitam as marcas de tempo, aspecto, voz e
modo e concordam com o nome que os rege.
Adjetivos: são palavras que concordam com o nome, variam o grau, qualificam o nome e
aceitam intensificação.
Advérbios: são palavras que não sofrem concordância, recebem intensificação e modificam
um verbo.
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ATIVIDADE No 2
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Sintaxe: explorando a estrutura da sentença (2003)
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EXERCÍCIO 1: Negrão, Scher e Viotti
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ESTRUTURAS DE CONSTITUINTES E SINTAGMAS
1. Constituintes:
Essa sentença se divide em estruturas hierarquicamente menores, até chegar ao item lexical;
essas estruturas são chamadas de estruturas de constituintes:
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1.1 Evidências:
a) Topicalização:
b) Clivagem:
(4) a. Foi a menina que vestiu o vestido amarelo com muita alegria.
b. Foi o vestido amarelo que a menina vestiu com muita alegria.
c. Foi com muita alegria que a menina vestiu o vestido amarelo.
c) Passivização:
d) Fragmentos de Sentenças:
e) Pronominalização:
f) Ambiguidades Estruturais:
(9) A menina viu sua irmã saindo do cinema com um vestido amarelo.
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2. Sintagmas
a) O Sintagma Nominal: esse constituinte tem como núcleo um nome e pode ser expandido
por um determinante, por um sintagma preposicionado e por um sintagma adjetival.
Exemplos de SNs: a menina, uma linda boneca, a casa da vizinha.
b) O Sintagma Preposicionado: esse constituinte tem como núcleo a preposição que encabeça
um SN ou SV. Exemplos de SPs: da vizinha, com amor, sem atenção.
c) O Sintagma Adjetival: esse constituinte tem como núcleo um adjetivo que pode ser
expandido por um intensificador e por um SP. Exemplos de SAs: orgulhoso do filho, bastante
satisfeita com as notas, muito feliz.
d) O Sintagma Verbal: esse constituinte tem como núcleo um verbo que pode ou não, ter um
complemento. Exemplos de SVs: chover, comer uma maçã, colocar o livro na mesa.
e) O Sintagma Adverbial: esse constituinte tem como núcleo um advérbio e pode ser
expandido por um intensificador. Exemplos de SAdvs: muito apressadamente, bem
intensamente.
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ATIVIDADE No 2
2. Fazer os exercícios.
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Sintaxe: explorando a estrutura da sentença: Parte 2
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ATIVIDADE 3: Estrutura de Constituintes
B. Faça os testes que mostram que as estruturas separadas acima são realmente constituintes.
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A TEORIA X-BARRA
1o) Os sintagmas, dependendo da função sintática que desempenham, ocupam uma posição
hierárquica precisa. A estrutura arbórea precisa mostrar essas diferenças.
2. O Modelo X-Barra
SX
V
SZ X'
V
X SY
Núcleo = X
Especificador = SZ
Complemento = SY
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SINTAGMAS DE CATEGORIAS LEXICAIS
O SINTAGMA NOMINAL
Estrutura do SN:
SN
ei
Det. N’
(especificador) V
N SP (complemento)
(núcleo)
O SINTAGMA PREPOSICIONADO
Estrutura do SP:
SP
3
P’
3
P SN/SV
(núcleo) (complemento)
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ATIVIDADE 4: SNs e SPs
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O SINTAGMA VERBAL
Estrutura do SV:
SV
3
V’
3
V SN/ SP/SF
(núcleo) (complemento)
ATIVIDADE 5: SV
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SINTAGMAS DE CATEGORIAS FUNCIONAIS
Observe o termo menino. Esse termo isolado não faz referência a nenhum ser
específico no mundo. Só quando acrescentamos um determinante é que menino passa a
designar um ser específico no mundo:
É possível se imaginar a situação acima, mas ela em si não se refere a nenhum evento
específico no mundo e não é uma oração da nossa língua. Somente com o acréscimo dos
determinantes e dos morfemas de tempo passado e concordância é que teremos uma sentença
da língua, representando um evento no mundo:
Portanto, vamos considerar que a categoria Flexão que domina o SV, dando-lhe
referencialidade no mundo; e de modo paralelo é a categoria determinante que domina o
SN, dando-lhe referencialidade. Assim a representação de uma sentença terá a seguinte
estrutura:
(4) SF
3
SD F’
(espec.) 3
F SV
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(5) SD
3
(espec) D’
3
D SN
(núcleo)
ATIVIDADE 6: X Barra
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ESTRUTURA ARGUMENTAL: COMPLEMENTOS E ADJUNTOS
A cada tipo de verbo é associado a diferentes papéis temáticos: matar, por exemplo, é
associado a agente e a paciente, enquanto morrer é associado somente a paciente. Essas
informações a respeito dos papéis temáticos dos verbos fazem parte do conhecimento
semântico da língua que o falante adquire. Portanto, espera-se que essas informações, de
alguma maneira, estejam estocadas no léxico. Devemos ter informações não somente a
respeito do número e do tipo sintático dos complementos que um verbo pede, ou seja, a sua
subcategorização, mas também devemos saber que tipo de conteúdo semântico esse
complemento tem, ou seja, se é um agente, um paciente etc. São essas informações que
orientam a formação das sentenças na sintaxe. Na literatura da gramática gerativa, essa lista
de papéis temáticos é geralmente chamada de estrutura argumental. Vejamos um exemplo
com o verbo colocar:
A estrutura argumental em (1), além de nos dar a informação sintática de que o verbo colocar
tem dois complementos, a sua subcategorização, além de seu sujeito, ainda traz a informação
semântica de que existe um agente, um tema e um locativo, que são as relações semânticas
estabelecidas entre o verbo colocar e seus argumentos. As informações acima predizem que
esse verbo, quando saturado (completado), deve formar uma sentença como (2):
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b. O João leu o livro no escritório.
Como distinguir o escritório como argumento de (3a) e como adjunto de (3b)? Mioto et alli.
(2007) propõe o seguinte teste para fazermos essa distinção:
Os autores mostram que a sentença em (a) não é ambígua, pois o sintagma no escritório só
pode entrar para saturar o sentido do verbo colocar, que no caso, pede o locativo. Entretanto,
em (b), podemos ter duas interpretações para as sentenças: o João estava no escritório quando
leu o livro e uma segunda em que o lugar que o João estava quando ele disse que leu o livro.
Essa leitura ambígua se deve ao fato dos dois verbos de (b), dizer e ler não pedirem nenhum
complemento locativo para saturarem seu sentido, podendo, portanto, o locativo funcionar
como adjunto de ambos os verbos, indicando somente o lugar em que um (dizer) ou outro
evento (ler) ocorre. Faça o mesmo tipo de raciocínio com o exemplo em (5).
Agora estamos prontos para mostrar os sintagmas que funcionam como adjuntos e
como eles serão representados na estrutura arbórea.
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O SINTAGMA ADJETIVAL
Estrutura do SA:
SA
3
Intensificador A’
(espec.) 3
A SP (complemento)
(núcleo)
ATIVIDADE 7: SA
1) orgulhoso do filho
2) bastante satisfeita com as notas
3) constrangida com a indiscrição
4) muito chateado com você
5) apaixonada pelo João Carmelo
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O SINTAGMA ADVERBIAL
Estrutura do SAdv.:
SAdv.
int. Adv’
(espec.) g
Adv.
(núcleo)
EXERCÍCIO 8: SAdv
1. bem intensamente
2. muito calmamente
3. mansamente
4. tão claramente
5. mordazmente
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ADJUNÇÕES
Os adjuntos são constituintes que têm a função de modificar, ou seja, eles não são
subcategorizados por um núcleo. Normalmente, os adjuntos introduzem na oração conteúdos
como tempo, lugar, modo da ação verbal, instrumento utilizado na ação, a perspectiva do
falante, qualidade de um nome, uma oração explicativa, etc. Os adjuntos não podem ocupar
uma posição irmã à categoria que eles modificam, porque essa posição é reservada aos
complementos. Portanto, vamos assumir que os adjuntos ocupam um lugar de adjunção ao
constituinte que ele modifica. Isso significa que os adjuntos não vão definir uma expansão
adicional ao esquema X-barra, mas vão estabelecer um lugar hierárquico próprio, adjunto à
categoria que eles modificam. Na estrutura arbórea, isso vai significar que o constituinte
modificado repetirá o nó mais alto do sintagma que ele modifica e encabeçara o sintagma
responsável pela adjunção. Vejamos as possibilidades:
a) Adjuntos das sentenças: com sintagmas adverbiais modais do tipo: talvez, infelizmente,
indubitavelmente, ou SP com certeza - repetem o nó SF
SF
3
SAdv/SP SF
5
b) Adjuntos dos SVs: geralmente com sintagmas adverbiais de tempo, lugar, modo,
instrumento e outros - repetem o nó SV
SF
3
F’
3
F SV
3
SV SAdv/SP
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c) Adjuntos dos Nomes: com sintagmas adjetivais, sintagmas preposicionados e outros -
repetem o nó SN
SD
3
D’
3
D SN
3
SN SA/SP
ATIVIDADE 9 : X Barra
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DEFINIÇÕES DAS FUNÇOES SINTÁTICAS
4. O adjunto do nome: o adjunto do nome (ou adjunto adnominal) está sempre dependurado
na repetição de SN.
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ATIVIDADE 10: FUNÇÕES SINTÁTICAS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Metódica da Língua Portuguesa. 17. ed. São
Paulo: Saraiva, 1964.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 21. ed. São
Paulo: Nacional, 1980.
NEGRÃO, Esmeralda; SCHER, Ana Paula; VIOTTI, Evani. Sintaxe: explorando a estrutura
da sentença. Em: FIORIN, José Luiz (Org.) Introdução à Linguística. Vol II: Princípios de
análise. São Paulo: Contexto, 2003, p. 81- 110.
ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 8. ed.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1962.
INDICAÇÕES DE CONSULTA
KENEDY, Eduardo. Curso Básico de Linguística Gerativa. São Paulo: Contexto, 2013.
MIOTO, Carlos; SILVA, Maria Cristina Figueiredo; LOPES, Ruth. Novo Manual de Sintaxe.
São Paulo: Contexto, 2013.
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