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RECONSTRUÇÃO EM EDUCAÇÃO: IMAGENS CULTURAIS E A

FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA CRÍTICA

Elvis Francis Furquim de Melo*


elvisfurquim@gmail.com
Orientador: Amarildo Luiz Trevisan**

1. Adorno e a formação cultural

O pensamento filosófico de Adorno torna possível o


conhecimento mediante a reflexão crítica das imagens estéticas.
Entretanto, a indústria cultural1, como processo formador de opinião,
tentará condicionar a formação de sujeitos autônomos. “Na indústria
cultural o indivíduo é ilusório não só pela estandarlização das técnicas
de produção. Ele só é tolerado na medida em que sua identidade sem
reservas com o universal permanece fora de contestação” (Lima,
1969, p.189). Conseqüentemente, uma análise rigorosa das culturas
das imagens pelo método hermenêutico, poderá despertar no sujeito
a capacidade de julgar e decidir conscientemente. A propósito, o
mundo informatizado por uma tecnologia sofisticada, criado pelo
protótipo capitalista, tornou favorável a manipulação da racionalidade
humana através do controle da razão técnica. A humanidade se vê
envolvida em diversos dilemas e crises existenciais das quais, em
especial a cultura do espetáculo, a partir das imagens midiáticas que
mostram uma tendência globalizante.
Cabe salientar que o silêncio do pensamento filosófico ao longo
da história desafiou a humanidade a pensar novos caminhos e
construir ou reconstruir a civilização todas as vezes em que reinou o
caos, sobretudo na educação. Nessa ótica, o valor humano, em nível

*
Licenciado em Filosofia Plena pela Universidade Federal de Santa Maria. Membro
do Grupo de Pesquisa “Formação Cultural, Hermenêutica e Educação”
(www.ufsm.br/filosofiaform) – Certificado pelo CNPq.
**
Prof. Dr. Pesquisador do CNPq e Coordenador do Grupo de Pesquisa “Formação
Cultural, Hermenêutica e Educação” na Universidade Federal de Santa Maria.

1
de desenvolvimento intelectual, poderá ser substituído pelo interesse
econômico. Segundo Adorno, “A racionalidade técnica hoje é a
racionalidade do próprio domínio, é o caráter repressivo da sociedade
que se auto-aliena” ( Lima, 1969, p.158). A partir dessa constatação,
a ideologia predominante deve alienar a maioria dos sujeitos num
ritmo espetacular mediante uma atuação massificante. Desse modo,
os indivíduos que não conseguem engatilhar no processo dominante,
necessariamente estarão à margem da sociedade, ou seja, não fazem
parte do modelo econômico capitalista. Nesse aspecto, o ter é mais
importante do que o ser, e conseqüentemente, surge o individualismo
imponente que é a prole da indústria cultural.
A indústria cultural é considerada um mundo de negócios, onde
os indivíduos são coisificados2 e mediatizados pela cultura do
espetáculo. Em contraponto, o valor real da arte era o instrumento de
lazer e hoje tornou objeto de manipulação. Nesse sentido, Adorno &
Horkheimer em Dialética do Esclarecimento, comentam que, “o preço
da dominação não é meramente a alienação dos homens com relação
aos objetos dominados; com a coisificação do espírito, as próprias
relações dos homens foram enfeitiçadas, inclusive as relações de
cada indivíduo consigo mesmo” (Adorno, 1997, p.40). Dessa
maneira, a indústria cultural traz elementos inerentes ao mundo
industrial moderno. Com isso, o homem de hoje não passa de mero
instrumento de trabalho e, principalmente, de consumo. O mercado
cultural baseado na racionalidade técnica deve influir na mente do
sujeito. A partir dessa tendência, torna possível a necessidade do
consumidor de não pensar: parece cômodo; restará somente
deliberar sobre tal produto.
A principal tentativa da indústria cultural é obscurecer a
percepção sensitiva dos sujeitos, em especial os formadores de

1
O termo indústria cultural foi empregado pela primeira vez no livro: Dialektik der
Aufkrung que Horkeimer e Adorno publicam em 1947, em Amesterdã.
2
Os sujeitos racionais tornam-se objetos enquanto os objetos tornam-se sujeitos.
Há uma inversão de valores.

2
opinião crítica. Ou seja, a opinião é o julgamento, um juízo
sustentando por um sujeito sobre determinada questão. Nesse
sentido, a forma ideológica da indústria cultural regerá o
comportamento dos sujeitos. Assim sendo, a felicidade, vontade,
desejo são conceitos caracterizados como subjetivos e estão
determinados pela cultura da magia. É importante salientar que a
força motriz da indústria cultural reside em provocar ao homem
necessidades, tais como: alimento, remédio, casa, vestuário,
educação controlada, ect. E, estas prioridades são importantes para o
homem bem viver, mas a forma como é conduzida pelo sistema
vigente contém um consumismo avassalador. Com isso, o consumidor
será escravo de seus objetos de consumo e viverá insatisfeito na
medida que o seu consumo de bens não têm limites. Em se tratando
de sujeito enquanto objeto de consumo, o páthos3 é inovado
constantemente pelo progresso científico e tecnológico em que o
sujeito é o meio a ser usado pela indústria cultural. Nesse sentido, a
constelação social figura num determinado lugar sistematicamente
controlado. Em contrapartida, as tentativas de livrar-se o sujeito das
teias da ignorância são em vão quando não educadas
adequadamente. Mas, na visão Adorniana há uma luz racional calcada
na própria cultura do homem a partir de uma determinação do
sistema e estética. A Aísthesis4, enquanto estudo real de seu objeto
pelo sujeito, tentará buscar a emancipação do homem, pois na
junção da filosofia criteriosa com uma sensibilidade mais estética do
que científica, podem verificar que por princípio e definição situa além
da possibilidade de toda ideologia dominante.
Cabe dizer ainda, na arte o homem é livre na medida que usa
sua racionalidade educada mediante a sua sensibilidade perceptiva na

3
A palavra páthos de origem grega significa: acontecimento, experiência, emoção,
sentimento e outros.
4
O filósofo Baumgarten ressuscitou o termo grego aísthesis a fim de remediar o
problema nas áreas da sensibilidade e da arte. Pode ser: estética, percepção,
sensação e outros.

3
leitura de uma obra de arte. Nesse rumo, a experiência da arte
enquanto tal, de sua verdade ou inverdade, é além de uma vivência
subjetiva.
Portanto, a filosofia adorniana poderá ser edificar ao interpretar
potencialmente o mundo mediante uma patologia estética
fundamentada numa razão filosófica. Assim, a arte pode ser solução,
devido seu caráter subjetivo e não influenciado pela indústria cultural.
Nessa perspectiva, os comportamentos humanos que se encontravam
alienados, frente ao progresso técnico e ideológico, mas com o
estudo minucioso da mesma por Adorno, foi possível descortinar o
véu da ignorância dos sujeitos. E, a filosofia foi imprescindível na
inserção do problema, pois ela contribui decisivamente no progresso
humano-consciente da realidade presente.

2. As propostas da hermenêutica de Gadamer

A oposição à ideologia moderna restringiu a atuação do


cientificismo na tentativa de resgatar as experiências do momento
histórico na poesia e estética. Essa idéia é uma crítica que Gadamer
faz à estética moderna e a teoria da compreensão histórica. Desse
modo, o seu objetivo é reconstruir uma nova hermenêutica filosófica.
Nesse sentido, o método hermenêutico é dotado de quatro níveis: o
primeiro está ligado ao texto em si, o segundo ligado ao universo
social, o terceiro ligado ao mundo histórico e o quarto está no nível
psicológico. A partir de uma hermenêutica filosófica, fundamentada
numa racionalidade crítica, poder-se-á viabilizar o papel de elucidar e
analisar os dados empíricos mediante os sujeitos. Nesse caso, a
interpretação filosófica é uma atividade no sentido de uma arte e
nunca no sentido de um método. Sendo assim, o autor propõe uma
historicidade da compreensão atuante na tradição cultural e na

4
linguagem. Desse modo, o empírico5 de uma obra de arte ultrapassa
o conceito subjetivo-interpretativo referente ao artista e o apreciador
de arte. Além do grande filósofo Gadamer, posso citar ainda, o
relevante Heidegger que juntos são de extrema importância ao
criticar o pensamento mecanicista. Sendo assim, a investigação
gadameriana poderá orientar-se pela natureza de sua proposta
hermenêutica com a finalidade de entender os pressupostos
ideológicos vigentes.
A problemática da questão estética é priorizada nos
aprofundamentos hermenêuticos, na medida em que a compreensão
de uma obra de arte revela a sensibilidade estética. Para tal, é
prioritário abordar o problema do saber: como são possíveis os juízos
de beleza? O problema é que não podemos demonstrar ou reduzir a
qualquer regra. Uma possível solução se baseia na consciência
harmoniosa entre imaginação e entendimento, para qualquer ser
racional. Assim, o juízo de gosto deve ser partilhado por outros,
atingindo a necessária objetividade. Nesse sentido, a transformação
da obra de arte é a sua significação mediatizada por uma imagem e
sua contribuição no campo educacional. Por isso, a arte ocupa espaço
e tempo, e precisa incluir arte com história para uma melhor
compreensão da mesma. Diante disso, Gadamer se baseia na
linguagem do ser no mundo, estar no mundo, fazer parte mo mundo
e refuta a autoconsciência do sujeito. Para tal, a linguagem é
fundamental na compreensão por parte do ser enquanto ser racional.
A hermenêutica é a conexão entre o ser e a lingüística. Com
isso, a própria característica humana viabiliza a linguagem numa
hermenêutica com a função de pesquisar os entraves filosóficos. Cabe
dizer ainda que a consciência histórica é apodícticamente6

5
Segundo a concepção Kantiana: Tudo o que é empírico é provindo da experiência.
A segurança oferecida pela experiência é sempre comparativa por isso pode ser
uma regra, mas nunca uma lei.
6
Segundo a concepção Kantiana, Apodícticamente são juízos e proposições que
estão vinculados á consciência de sua necessidade.

5
importante, na medida que o sujeito instruído transforme a sua
realidade a partir de critérios interpretativos.
A compreensão gadameriana remete a uma linguagem do
nosso modo de vida que é distinto do mundo científico. Nessa
direção, o sujeito poderá fazer a experiência hermenêutica num texto
revelado. No entanto, na perspectiva do autor ocorre uma dialética
textual impregnado de sentido. Seguindo esta linha de raciocínio, a
modernidade se faz obrigatoriamente direcionada ao saber científico,
baseado na experiência-comparativa e interpretativa. A partir disso, o
conhecimento histórico não se faz necessário.
A hermenêutica filosófica busca entender as revelações da vida
dos sujeitos e gerir alternativas contrapondo ao pensamento
mecanicista moderno. Segundo Trevisan, “Gadamer promove aí uma
revitalização da força de efetividade da obra de arte para a vida,
valorizando o aspecto pedagógico da compreensão como uma forma
de diálogo com o passado” (Trevisan, 2002, p.77). Em vista desta
situação, a arte pode ser fonte de libertação do sujeito quando a
mesma é interpretada coerentemente. Para isso, é fundamental a
decodificação da obra de arte contribuindo para uma educação
pedagógica alentadora por parte do sujeito.
Em termos gerais, a linguagem é efetivamente universal na
completude da compreensão. Porém, a linguagem e a compreensão
necessitam de objetos na tentativa de conhecê-los mediante uma
interpretação lingüística. Dessa maneira, o entendimento de Gadamer
busca algo observável para um significado racional mediado pela
lingüística. Nisso, será possível verificar o caráter lingüístico da
realidade humana apoiada na hermenêutica, que pesquisa os
empecilhos filosóficos na inerência do ser e na linguagem.
Segundo Gadamer,
Uma hermenêutica filosófica chegará ao resultado de
que a compreensão somente é possível de forma que o
sujeito coloque em jogo seus próprios pressupostos. O
aporte produtivo do intérprete forma parte

6
inexoravelmente do sentido da compreensão. É a
linguagem que permite ao intérprete (ou ao tradutor)
atualizar o compreendido. A hermenêutica se acerca
assim, em certo sentido, por sua própria base a
filosofia analítica, que parte da crítica neopositivista à
metafísica. (Gadamer, 1994, p.111).

Assim, será possibilitada uma hermenêutica solidária num certo


sentido, na medida em que se coloca a ouvir o outro. Nesse gesto
simples, caracteriza uma abertura no diálogo sob a perspectiva de
uma transformação proposta pelo outro. Em sua compreensão, a
linguagem mostra o nosso mundo da vida, contrastando-o como
mundo científico. É bem provável que a filosofia e a linguagem
existente poderão interrogar de maneira verdadeira, onde as artes
ilustres das palavras buscam formas de compreensão da realidade.
Contudo, a linguagem é o modo como compreendemos ou não aquilo
que nos apresentam como objeto de estudo. Assim sendo, o
entendimento necessariamente passa pela linguagem na medida em
que regula os passos compreensivos a seguir pelos sujeitos enquanto
pesquisadores hermenêuticos.

3. A racionalidade comunicativa e a opinião pública crítica


segundo Habermas

A racionalidade comunicativa habermasiana busca fundamentos


necessários ao enfrentamento da cientificidade moderna. Em meios
possíveis ao confronto com o pensamento moderno, a opinião pública
crítica poderá capacitar os indivíduos mediante uma razão pensante e
atuante. Nesse sentido, a razão pós-metafísica com o caráter de telos
(fim) deverá criar possibilidades na discursividade entre sujeito e
objeto. Desse modo, o agir comunicativo, compreendido num
desenvolvimento circular, possibilita o sujeito a ser um dualista.
Também, começa suas ações imputáveis e paralelamente produto das
tradições em seu meio. Com isso, a finalidade da ação informativa
pelo sujeito é proclamar a veracidade ou legitimar a razão teórica.

7
Assim, a teoria comunicativa buscará instrumentos analíticos que
poderá conduzir ao discurso idealizado pelos sujeitos autônomos. Por
outro lado, os sujeitos informatizados, através de uma moralidade
educada, tentam uma opinião pública diferenciada da trivialidade
mundana. Em outro ponto, entende-se que a opinião pública foi
gerada a partir de uma comunicação pública articulada pela vontade
geral da população. Para isso, Habermas utiliza o uso público da
razão na tentativa de estabilizar a política. Sendo assim, a teoria
discursiva democrática tenta harmonizar as liberdades públicas com
as privadas, priorizando a essência de cada uma. Assim, o agir
comunicativo ressuscita o uso da racionalidade prática visando uma
intersubjetividade compreensiva pelos sujeitos engajados. Segundo
Habermas, “o conceito do agir orientado para o entendimento mútuo
implica os conceitos, que carecem de explicação, de mundo social e
de interação guiada por normas” (Habermas, 1989, p.163).
Atualmente, os processos de comunicação são influenciados
pela cultura de massa de modo direto. Desse modo, os protagonistas
de opinião são sujeitos especializados e capacitados ao medir
racionalmente seu logos (razão, discurso, relato). A partir disso, a
hermenêutica habermasiana, usada na metodologia como parte
integrante de uma práxis (agir) comunicativa deve almejar um
entendimento resultante da opinião pública crítica participativa entre
os sujeitos. Com isso, a hermenêutica deverá desembocar em sentido
teleológico7 pautado numa linguagem estruturada racionalmente,
possibilitando um novo modelo na compreensão social. Assim sendo,
a razão deve ser a busca incessante pelos sujeitos, mediatizada pela
interpretação que auxilie a arte do entendimento socializado.
Produzir idéias, ultrapassando as linhas do obscurantismo onde
o “ser sujeito”, interiorizando a sua capacidade de pensar, liberte-se
da superficialidade de uma estética aparente e ilusória onde poucos
se aproveitam e muitos são os perdedores. Com esse propósito, os

8
novos conceitos se contrapõem às imagens direcionadas e inculcadas,
enquanto “a força” na opinião pública que age mais com o sentimento
consumista do que com a razão e a sobriedade. Habermas diz: “e
como que entrar no mundo da vida, compartilhado
intersubjetivamente por uma comunidade lingüística, a fim de poder
apoiar a descrição de uma ação executada por palavras sobre a
compreensão do auto comentário implícito nessa ação verbal”.
(Habermas, 1990, p.67).
A opinião pública crítica deriva da tipicidade da opinião e possui
a finalidade em libertar o sujeito das trevas racionais. Nessa
dimensão, ao sujeito se faz prioritário analisar sócio-psicologicamente
as relações grupais as quais identificam o sujeito enquanto opinião
pública no processo do entendimento empírico que vise uma
metodologia comunicativa. Para tal, é preciso definir a noção de
grupo devido à necessidade de uma interpretação da realidade
objetiva. Assim, o sujeito enquanto comunicador em seu
desenvolvimento público pode estabelecer normas para uma
razoabilidade crítica e integrada. Nesse processo interativo do sujeito
comunicante, a racionalidade é a maneira de os sujeitos auto-
suficientes, na medida em que o saber enquanto tal, dizem e agem
em função do saber. Ou seja, das ações de fala derivam um saber
proposicional, entretanto, as atividades ditas não lingüísticas possui
uma forma reflexiva em sentido interpretativo.
Portanto, a particularidade do saber exemplifica a sua
universalidade e objetivamente, necessária no objetivo dos graus de
assentimentos da racionalidade, servida através do agir
comunicativo. Em contrapartida, quando se utiliza o uso não-
comunicativo em determinações teleológicas, perceber-se-á a noção
de uma racionalidade instruída para um fim. Nesse sentido, o
entendimento pode ser guiado pela idéia da compreensão e, é
sedimentado pelo uso comunicativo do saber. Na ótica de Habermas,

7
Segundo Kant, teleológico é aquela expressão em termos de fins últimos.

9
“O recurso reflexivo àquilo que Kant havia fixado na imagem das
operações constitutivas do sujeito, ou, como, dizemos hoje, a
reconstrução de pressupostos universais e necessários sob os quais
os sujeitos capazes de falar e agir se entendem mutualmente sobre
algo no mundo...”(Habermas, 1989, p.145). A linguagem da opinião
pública é desempenhada por ações planejadas no intuito de controlar
os sujeitos na sua forma de ação. Entretanto, quando o sujeito
fundamenta seu agir através de uma opinião pública crítica, terá
possibilidade e capacidade racional em seus planos de ação. Sendo
assim, os sujeitos estarão orientados na direção da sua plenitude e
iniciarão seu agir possibilitando o seu progresso intelectual a partir do
conhecimento real do objeto. Nessa perspectiva de seus agentes, o
objeto instruído por um sujeito para a sua realização produzirá algo
no mundo. Com isso, abre caminho ao entendimento do falante que
tenta compreender a segunda pessoa no mundo.
A opinião coletiva é uma comunicação normatizada que
possibilita o consenso, numa esfera racional, impedindo os equívocos
do entendimento racional. É evidente que o entendimento total da
linguagem será penoso, mas o relevante é a compreensão acerca da
essência da realidade por meio da linguagem. Nessa direção, a
aprendizagem de uma língua não é somente uma disciplina rigorosa
visando um consenso em nível racional, mas também um interpretar
e reinterpretar a realidade diminuindo as distâncias que possibilitam
o dialogar-se entre sujeitos racionais. Por assim, o diálogo é a
produção de algo mediado pelo intérprete que viabilize o seu parecer
de significações textuais.
A pseudocomunicação8 distancia as desordens da própria
linguagem devido à falsa compreensão num consenso, mas não

8
A pseudocomunicação origina um sistema de equívocos que não pode ser
reconhecido como tal, sob a orientação de um falso consenso. Numa
pseudocomunicação os participantes não conseguem reconhecer uma quebra na
sua comunicação; apenas um observador exterior percebe que os interlocutores
não estão se compreendendo. (Bleicher, 1992, p.269).

10
interfere na linguagem do conteúdo. Nessa ordem, os equívocos
consumados no consenso baseiam-se no domínio dos manipuladores
de opinião pública. Nessa perspectiva, o movimento da opinião
pública como produto coletivo podem sim, se transformar numa ação
consensual em consciência e peso de opinião na mudança de seu agir
pedagógico. Embora, muitas vezes as decisões não sejam unânimes,
elas sempre partem de uma escolha individual da formação do
sujeito.
O conhecimento de uma linguagem é aquilo que objetiva o
cotidiano com o entendimento subjetivo. Nisso, poderá haver uma
relação necessária entre a subjetividade e a objetividade na obtenção
do conhecimento lingüístico. Em contraponto, a dimensão racional no
mundo é caracterizada por uma larga escala de níveis de
conhecimento do que os níveis de entendimento lingüístico. Visto que
a proposta de Habermas, referente ao agir comunicativo, possui a
sua aplicabilidade segundo uma relação formalizada entre sujeitos
comprometidos com a intersubjetividade partilhada.
Potencialmente, os conteúdos transmitidos pela mídia e,
portanto, formadores de opinião pública, participam diretamente do
potencial crítico do sujeito. Entretanto, é fundamental uma
hermenêutica que busca o logos partilhado entre os sujeitos, para
poder chegar a um nível de consenso razoável, e somente a nível da
razão poderá obter o sucesso de uma opinião fundamentada. Assim,
os processos de agir e falar do sujeito poderão sofrer menos desgaste
cultural e lingüístico.

4. Considerações finais

Acerca da temática, a decodificação de espírito, ou seja, uma


espécie de cultura de informação necessita de uma reissificação que
re-estabeleça o predomínio do sujeito frente ao objeto. Em

11
contrapartida, o educador contemporâneo está preocupado em passar
informações ou ensinar o aluno a pensar pela sua razão e aí torna o
sujeito de seu próprio ato. Nesse sentido, o sujeito preparado para o
pensamento calcado pela hermenêutica gera uma sociedade de
sujeitos responsáveis que, mesmo ainda em conjuntos se alinham
numa reação determinada, e se dirigem para uma decisão cujo
posicionamento não necessariamente seja unânime. Tendo em vista o
mundo cientificista de hoje marcado por grandes descobertas
tecnológicas, estas tornam os sujeitos robotizados e passivos.
Entretanto, é possível alcançar a autonomia do sujeito mediante a
análise do mito da alegoria da caverna de Platão. Para isso acontecer,
é preciso tirar o sujeito do mundo das sombras, das trevas, da
escuridão. É necessário conduzi-lo ao inteligível, à luz, ao sol, mas
isso deve ser gradativamente, para que nessa saída do sensível, das
sombras a caminho do inteligível, o sujeito possa não somente vê-lo
como também dele participar. O ideal é o equilíbrio de luz e sombra
para que o sujeito seja instruído adequadamente, para poder ver o
objeto sensível mediante a razão inteligível. Cabe salientar ainda, a
possibilidade de o sujeito almejar sua auto-suficiência fazendo parte
de um processo de opinião pública crítica a nível coletivo. Para isso, é
importante uma discussão voltada à realidade do mundo que o cerca.
Assim, na passagem para um mundo mais humano, necessariamente
cabe ao sujeito ser o agente ativo de sua própria emancipação. A
educação estética em sentido amplo poderá contribuir para o
crescimento crítico na formação da opinião pública crítica.
Atualmente, opinar sobre “terrorismo” por exemplo, que nos choca
quase que diariamente, torna-se algo mais relevante do que o próprio
posicionamento crítico libertador do sujeito. É preciso que o conceito
filosófico escancare o que de fato é o terrorismo, isto porque a
opinião pública se move pelas imagens impressionistas dos estados
mecanicistas sem considerar os fatos. Nesse sentido, a destruição de
um país e o assassinato de um povo se justifica frente à força militar

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de um estado que usurpa outra nação? A reação dos agredidos em
desigualdade de força é terrorismo? Será que com igualdade de poder
as coisas não seriam diferentes? Isso são pequenos exemplos para
desmistificar a imagem distorcida da ética e da estética, utilizada
pelos “espertalhões” da mídia para mover a opinião pública a seu
favor. Cabe dizer ainda, a proposta de Habermas é construir e
reconstruir as alternativas viáveis na construção de um modelo
estritamente racional que tenha a finalidade emancipatória do sujeito,
enquanto inserido no processo formativo coletivo da opinião pública
crítica. Em meios às possíveis alternativas, a saída do sujeito de sua
menoridade para uma práxis discursiva possibilita o seu desempenho
empreendedor. Sendo assim, a validade objetiva, enquanto agir
comunicativo é determinada necessariamente por vontades
subjetivas enquanto sujeitos críticos conscientes. Com isso, a teoria
de Habermas tentará re-estabelecer o credenciamento do poder
crítico referente à exclusividade racional-humanizada, mediante uma
ação pedagógica transformadora e libertadora.
A necessidade educacional atual deve ser um processo público,
fundamentado numa opinião pública crítica, visando o grupo que
respeita a individualidade de cada membro. Nesse sentido, o caráter
autônomo do sujeito requer uma disciplina intelectual, interessada na
opinião pública crítica coletiva. Desse modo, análise estrutural de
uma mensagem instrumentalizada, a partir de uma leitura
interpretativo-crítico-filosófica, despertará o educador a refletir a
conjuntura de uma educação mecanizada. Sendo assim, o espírito
crítico de um educador, não busca informação, seu objetivo é
dissecar os padrões informativos a partir dos métodos sistemáticos.
Assim, é preciso analisar os conteúdos de uma imagem
qualitativamente e quantitativamente observando o que se esconde
por trás da aparência. Nessa direção, será possível um
descortinamento revelando a essência da cultura de massa.

13
Contudo, sem uma preparação adequada com métodos
eficazes, ficaremos a mercê da cultura midiática. Em contrapartida,
os sujeitos educadores fundamentados num agir comunicativo,
possibilitarão um desenvolvimento no processo intelectual e humano,
na medida do uso reflexivo racional enquanto opinião pública crítica
participativa e coletiva.

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