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7 EDICAO mente ncorporando-as & propria vida, © individuo est impllellaiieAte construindo uma compreensio de si mesmo, uma consciéncia daquilo que ele ¢ ancia daquilo que ele é ¢ dle onde ele esti situado no tempo e no espag6] Nés estamos constantemente modelando ¢ remode- lando nossas habilidades © nosso cabedal de conhectmento, testando nossus senti- mentos € gostos ¢ expandindo os horizontes de nossa experiéncia. Nos estamos ativamente nos modificando por meio de mensagens € de conteiido significativo ofere- cidos pelos produtos da midia (entre outras coisas) (Este processo de transformacio Pessoal no é um acontecimento sibito e singular. Ele acontece lentamente, imper- ceptivelmente, dia apés dia, ano apés ano um processo no qual algumas mensa- ens sio retidas ¢ outras sio esquecidas, no qual algumas se tornam fundamento de acio € de reflexio, tépico de conversagio entre amigos, enquanto outras deslizam pelo dreno da meméria e se perdem no fluxo ¢ refluxo de imagens e idéias.) [izer que a apropriacio das mensagens da midia se tomou um meto de autofor- smagio no mundo moderno nio é dizer que ele € 0 inico meio: claramente nio &. Hi smultas outras formas de interasio social, como as existenes entre pase filhos, entre professores ¢ alunos, entre pares, que continuario a desempenhar um papel funda- rental na formagio pessoa e social Os primeiros processos de socalzagio na fami_ lia © ma escola sio, de muitas maneites, decisivos para o subseqiiente desenvol. vimento do individuo e de sua autoconsciéncia. Mas nio devemos perder de vista 0 fato de que, num mundo cada vez mais bombardeado por produtos da indstias da ridia, uma nova e maior arena foi criada para 0 processo de autoformagio, E uma arena le das miagéesepio-empor da intro face a fice e, dado o lence la televisio em sua expansio global, se toma cada Ver mais acess i {tlio om a expanao loa soma a 6 208 individuos 46 2 A Midia e 0 Desenvolvimento das Sociedades Modernas Algumas das caracteristicas especificas do mundo moderno sio o resultado de lum conjunto de transformagées institucionais fundamentais que tiveram inicio na uropa durante o tltimo perfodo da Kdade Média e 0s primérdios da era moderna Fstas transformages eram complexas ¢ variadas; afetaram algumas regides da Furopa © conseqitentemente algumas partes do mundo, mais cedo e mais profundamente do que outras. Eram também transformagdes contingentes,|no sentido de que depen liam de condigdes histéricas especificas; tivessem sido diferentes algumas destas con digdes, muito provavelmente teriam produzido resultados diferentes. Mas uma ver ‘que estas transformagdes comegaram a acontecer, logo adguiriram uma energia prd- pia. Novas instituigdes apareceram e expandiram o raio de suas atividades) Priticas iradicionais foram gradualmente eclipsadas por novos tipos de agées, novas conven oes e novas formas de associagio. O impacto destas transformagdes foi paulatina tnente sendo sentido muito além dos centros urbanos em expansio e dos emergentes cesiados da Europa. Através da exploragio, do comércio ¢ da colonizagio, outras par tes do mundo foram cada vez mais envolvidas neste processo de transformagio inst lucional que comesou na Europa, mas que logo se tornou global em alcance. Quais sio as linhas principais da transformagio institucional que constituiram as sociedades que emergiram nos albores da Europa moderna? Gragas ao trabalho de pensadores sociais cléssicos como Marx e Weber, como também aos resultados cle pesquisas mais recentes de historiadores e sociSlogos, algumas das principals linhis dda transformacio institucional se tornaram mais claras, Em primeiro lugar, a eine géncia de -ociedades modernas implica um conjunto especifico de mudangas econd micas através das quais 0 feudalismo europen foi se transformando gradualienle pum novo sistema capitalista de produgio ¢ de intercimbio. Em segundo, 0 devel volvimento das sociedades modemnas se caracterizou por um processo de Milla politicas pelas quais as numerosas unidades politicas da Europa Medieval forain senile nagdes, eduzidas em mimero © reagrupadas num sistema entrelarado de estado ” cada un Feelamando soberania sobre Um terHt6Ho Claramente Welifiltado © possuin do um sistema centralizado de administragio e de tributagio. Em terceiro, parece cla- ro que a guerra e a sua preparacio exerceram um papel fundamental neste processo de alteragbes politicas; com o desenvolvimento das Sociedades modernas, 0 poder militar foi se concentrando cada vez mais nas mios de estados-nages que reivindica- ‘Yam, como observou uma vez Max Weber, o monopélio do uso legitimo da forca dentro de um determinado territério. Estas largas linhas de transformagio institucional parecem relativamente claras € receberam bastante aten¢io na recente literatura especializada. Menos claro, todavia, €se o desenvolvimento das sociedades modemas se caracterizou pelas transformagies sistemiticas daquilo que vagamente pode se chamar de dominio “cultural”. Aqui 0 egado dos pensadores sociais clissicos € menos explicito © menos itil. Marx, até onde ele pode ter considerado este assunto, pareceu presumir que o desenvolvimento do modo capitalista de producio levaria a uma progressiva desmistificagio do mundo social: as crengas ¢ 0s valores tradicionais que ocultaram as relages sociais no passa- do seriam varridos pelas realidades da economia selvagem da producio e da troca ca- pitalista, Weber deu mais atencio aos desenvolvimento no dominio cultural, € os considerou mais auténomos e complexos do que os escritos de Marx quiseram suge- rir. Mas estes temas, que dominaram as descrigBes de Weber ~ a diferenciacio das es- feras de valor, a racionalizagio da agio e 0 desencantamento das concepedes de mundo tadicionais ~ permaneceram controvertidos e, de alguma forma, de dificil demonstragio, Nio parece, portanto, comprovado que o desenvolvimento das socie- dades modemas tenha implicado um processo de transformagio cultural distinto Neste capitulo irei demonstrar que a incerteza com relacio a0 processo de trans- formasio cultural deriva, até certo ponto, do fato de que os teéricos do social e ou- tros tém procurado no lugar errado pelos sinais da sistemstica mudanga cultural. Eles tém tentado detectar largas mudancas nos valores e nas crengas, nas atitudes ¢ nas orientagdes ~ naquilo que alguns recentes historiadores franceses chamariam mentali- (G/Tais mudangas, se realmente ocorreram, sio certamente interessantes importan- tes; mas elas sio também, por sua prépria natureza, inapreensiveis, variadas # ex- temamente complexas, Mudangas ocorridas numa regiio ou classe podem nio ter ocorrido em outra, ou podem ter ocorrido de maneira bem diferente, em outro nivel € com conseqiiéncias bem diversas. Por isso se torna dificil tirar conclusdes sobre ‘mudangas culturais que tém probabilidade de serem demonstradas por provas varia- das e conflitantes. Basta considerar 0 debate ainda nio concluido sobre a seculariza~ Glo — isto €, a tese de que 0 desenvolvimento das modernas sociedades industriais se faz acompanhar pelo declinio do papel e da relevincia da crenga religiosa ~ para se convencer da dificuldade de generalizar sobre mudangas de valores e de crencas. A argumentagio que desenvolverei neste capitulo me leva a crer que, a0 mudar 0 foco de atengio, podemos discernir as grandes transformacées no dominio cultural 48 de uma forma mais sistemitica € mals definitiva, Se nao focalizarmos inicialmente os alores, atitudes e crencas, mas os meios de produgio ¢ circulagio das formas simbélicas hho mundo social, entio veremos que, com 0 advento das sociedades modernas no tiltl= Io periodo da Idade Média e inicio da era modema, uma transformagao cultural siste= Imitica comegou a ganhar um perfil mais preciso. Em virtude de uma série de inovagies \éenieas associadas a invengio da impressio e, conseqiientemente, & codificagio elétrica dla informagio, as formas:simbélicas comegaram a ser produzidas, reproduzidas ¢ dist bbuidas numa escala sem precedentes. Os modelos de comunicagio e interacio se trans: formaram de maneira profinda e irreversivel. Estas mudangas, que incluem 0 que chamariamos de “mediagio da cultura”, tinham uma base cultural muito clara: o dese volvimento das organizages da midia que apareceram primeiramente na segunda metax tle do século XV e foram expandindo suas atividades a partir de entio! Atentando para as atividades e produtos destas organizacées, ¢ examinando como eles foram recebidos © usados pelos individuos, teremos uma visio mais pertinente das transformagies cuilturais associadas ao nascimento das sociedades modernas. Neste capitulo focalizarei alguns dos aspectos-chave da mediagio da cultura des tle 0 final do século XV até os dias atuais. Comesarei examinando em detalhes as li tnhas-mestras das transformages institucionais caracteristicas das sociedades moder nas. Concentrar-me-ei no desenvolvimento da imprensa e das primeiras publicagbes periddicas nos primérdios da Europa moderna, apontando de que.modo estes desen volvimentos alteraram as redes de comunicagio preexistentes € as relagSes de poder cstabelecidas. Neste contexto irei considerar alguns argumentos de cardter tedrico a respeito do impacto da imprensa sobre o inicio do perfodo moderno, Concluirei co: mentando algumas das maiores transformages nas inciistrias da midia a partir do inicio do século XIX, de modo a preparar o terreno para os capitulos seguintes, Algumas dimensbes institucionais das sociedades modernas Como deveriamos caracterizar as principais transformagées institucionais que co mncjatam a aparecer na Europa no final da Idade Média e que definiram os 450s do mundo moderno? No capitulo anterior classifiquei o poder em quatro tipos ~ econ ico, politico, coercitivo e simbélico ~ ¢ os relacionei a fontes ¢ instituigdes as mais diversas. Quero agora usar esta estrutura para analisar as transformagGes institucional associadas com 0 advento das sociedades modemas. Examinarei brevemente as 1 dlangas nas formas institucionais do poder econémico ¢ politico. As formas insti nais do poder coercitivo nao serio discutidas em detalhe, mas as considerarel somen) te em relagio ao desenvolvimento do estado modemo, Focalizarei em seguida a oFji nizagio social do poder simbolico e suas transformagdes ao longo do tempo, Comecemos com a economia’, A mais antiga economia medieval ert pie nantemente agriia, baseada em unidades de pequena produsio tais como 8 alla & ” 6 senhiorio feudal, Fra principalmente uma economia de subsisténe smbora a pro dugao excedente servisse a exte as redes comerciais j4 existentes, Os camponeses es tavam economicamente ligados terra, que lavravam sem possuir, e uma parte de sua produgio era regularmente recolhida pelo senhor feuds. Gradualmente, a partir do século XI, o comércio comesou a se expandir e as cidades cresceram em tamanho € influéncia. Comerciantes urbanos, artesios e outros puderam acumular capital usé- lo pata incrementar 0 comércio ¢ a produgio de bens. Um novo tipo de relages eco- némicas comegou a emergir, primeiramente nas vilas e cidades e posteriormente também no campo, envolvendo o sempre crescente uso da moeda e das redes de tro- ca, Estas novas relacSes coexistiram com as relagdes feudais tradicionais durante mui- tos séculos, enquanto a economia européia do iiltimo periodo da Idade Média foi passando por sucessivas fases de expansio e de contragio. Ao redor de 1450 um novo sistema de produgio e intercimbio de mercadoria surgiu na Europa ¢ rapidamente se expandiu, tanto em produtividade quanto em aleance geogrfico. As principais caracteristicas deste novo sistema capitalsta sio bem conheci- das: mais e mais individuos foram acumulando capital ¢ usando-o no melhoramento dos sneios de producio e no aumento das mercadorias produzidas: mais e mais trabalhadores ‘oram sendo assalariados; os produtos finais foram sendo vendidos a pregos que supera- vam 03 custos da produgio, permitindo aos capitalistas a geracio de Iucro que era apro- griado privadamente ¢, em alguns casos, reinvestido na propria produsio. Ao final do século XV, varias empresas capitalfsas jd se inham estabelecido nos maiores centros co- nnerciais da Europa, e a0 longo dos séculos XVI e XVII elas foram expandindo substan- almente suas atividades. O comércio dentro da Europa aumentou e interc&mbios somerciats foram ligando todas as partes do mundo com os centros europeus, como Wallerstein e outros mostraram. Cidades como Amsterdi, e mais tarde Londres, torna- -am-se os principais centros de acumulagio de capital e de poder econdmico dentro de ama rede de relacdes comerciais de alcance verdadeiramente global ‘A Revolugio Industrial da segunda metade do século XVIII e primeira do século <1X aconteceu dentro do contexto de um sistema econémico capitaista que ja existia, aa Europa € em outros lugares hé muitos séculos. Ao introduzir uma série de novos nétodos de producdo ~ incluindo o uso das méquinas e a ramificada divisio de tra~ salho dentro das fabricas, etc. —a Revolugio Industrial aumenton grandemente a ca- acidade produtiva das empresas, anunciando a era do processo industrial em grande sscali, Mas estas mudangas ocorreram dentro de um sistema de relagdes de praprie- lade € de produgio que permaneceram relativamente estavéis. Soniente a partir do éculo XX € que surgiram tentativas, inicialmente na Unio Soviética ¢ subseqitente- nente na China e em outros lugares, de desenvolver tum processo industrial em gran le escala (e também de producio agréria) dentro de um sistema de relagdes dt >ropriedade e de produgio fundamentalmente diferente, no qual as instituicées eco- xémicas foram sendo subordinadas cada vez mais a0 poder centralizado do estado. © estado moderno como 0 eonhecemos hoje ~ 0 “estado-nagio" ou “estado na clonal” ~ é um conjunto de instituigdes cujas formas foram emergindo gradualmente hum lento processo", A Europa Medieval era caracterizada por um grande mimero de Uunidades politicas que variavam em tamanho e poténcia, desde pequenas cidades-es- lado e federagdes urbanas, até maiores € mais poderosos principados € reinos. Em tormos de organizagio politica, a Europa Medieval era muito fragmentada; pelo ano de 1490 havia mais de 500 unidades politicas. Cinco séculos mais tarde, 0 nimero dle unidades politicas soberanas na Europa tinha sido dramaticamente reduzido para cerca de 25 estados. Os mecanismos de consolidagio e centralizagio deste provesso foram muito bem analisados por Charles Tilly’. Segundo ele, dots fatores concorre- ram, Por um lado, os governantes criaram os meios para exercer o poder coercitivo ~ principalmente fazendo guerra contra rivais externos e se prevenindo contra possiveis auncagas externas, mas também os meios para reprimir revoltas internas € manter a ordem dentro dos territérios sobre os quais reivindicavam jurisdi¢a0. Por outro lado, para criar os meios de exercer o poder coercitivo, os governantes tinham que desen- volver meios de extrair recursos, inclusive homens, equipamento € capital, das popu- lagdes subjugadas. Estes recursos eram raramente concedidos de boa vontade, € por isso Gveram que desenvolver meios efetivos de tributagdo € de administrasio, prote- silos pela capacidade de aplicar forga quando necessiria. A medida que o conflito Inilitar ia ganhando proporgées maiores, os estados com recursos para manter seus cexércitos em condigdes de guerra por maiores periodos de tempo terminavam sem- pre em vantagem material. E finalmente se tornavam a pedra fundamental das peque- has unidades politicas, num interligado sistema de estados nacionais, cada um carac- lerizado e centralizado por um sistema de governo e de administracio, cada um rei- vindicando soberania sobre um territ6rio bem definido, e cada um preparado para \lofender suas reivindicagdes pela forga das armas, se necessério fosse Enquanto os estados europeus foram consolidando seu controle sobre tertitérios Jimitrofes na Europa Continental, algumas poténcias européias foram expandindo seus circulos de influéncia no ultramar. Os territérios estrangeiros forneceram fontes adicionais de renda para os estados europeus e se tornaram importantes parceiros co- ‘merciais para as firmas capitalistas e comerciantes sediados na Europa. Com o cresci- mento da importincia econémica dos territérios ultramarinos, as maiores poténcias ceuropeias dedicaram a maior parte de seus recursos para manter e expandir suas esfe- ras de influéncia e para se prevenirem das ameacas de rivais, Sistemas de administra- io colonial foram instalados em muitos destes territérios, formando a base para 0 subseqiiente desenvolvimento de instituigées politicas modeladas as linhas européias. A transformagio dos territ6rios coloniais em estados nacionais independentes, com suas préprias instituigdes soberanas ¢ seus limites claramente definidos, foi um pro- cesso lento e hesitante, que viria relativamente tarde na histéria (ndo antes de meatlos do século XX em muitos casos), e que seria uma fonte endémica de tensio e de con flito no mundo moderno. cl Jongo do tempo e de uma regiso para outra. No periodo entre 0 séeulo XV € 0 séeulo XVIII, na Franga, Austria, Prssia, Espanha e em outros lugares’, emergiu uma forma de absolutismo ou monarquia absoluta, caracterizada péla crescente concentragao do poder nas mios do monarca, que o exercia de modo relativamente uniforme sobre todo 0 territério do estado. Esta tarefa ficou mais fécil com o desenvolvimento de uma burocracia centralizada e 0 apoio de um exército, desenvolvimentos particular- mente evidentes na Prissia. © monarca absoluto geralmente reivindicava para sia ‘inica fonte humana da lei, que nio se submetia as assembléias representativas, mas apenas A lei de Dens. Em outros Ingares da Europa, porém, especialmente na Inglater- 1a, 0 projeto de edificacio de um estado absolutista nunca vingou realmente. Por vi rias raz6es histéricas, 0 estado inglés se erigiu numa forma de constitucionalismo no qual 0 poder do monarca foi moderado por uma grande énfase no governo da lei, na separacdo dos poderes ¢ no papel da oposicio ~ tanto dentro como fora do Parlamen- to. Esta énfase, junto com as dramiticas convulsées politicas do iiltimo periodo do século XVIII e crescente anseio por uma efetiva participacio politica, ajudaram a nu- trir o desenvolvimento de um tipo de democracia liberal, representativa e multiparti- daria, caracteristica de muitos estados do século XX. A organizagio politica interna dos estados europeus variow consider, A formagio dos estados modernos, tanto na Europa quanto em outras regides do ‘mundo, foi entremeada de muitas ¢ complexas maneiras com a criagio de simbolos e de sentimentos de identidade nacional. © estabelecimento de um estado forte geral- mente precedeu a formagio de um forte sentido de identidade nacional dentro de suas fronteiras ~ algo que permaneceu, de qualquer maneira, uma questio profunda~ ‘mente disputada e inapreensivel da vida politica moderna. Icentidade nacional pode- ria ser definida grasso modo como um sentido de pertenga a uma pitria ou a uma nagéo particular, partihando direitos, deveres e tradicdes comuns'. Como muitos estados modernos nasceram de forsada incorporagio de populagdes diversas em unidades territoriais contestadas, um sentido claro de identidade nacional raramente esteve presente nas primeiras fases da edificacio do estado, Mas a criagio de um sentido de identidade nacional tinba vantagens para ar gavemnantes politicos: favorecia a conso- lidagdo do estado nacional, a oposigao as tendéncias separatistas ¢ a mobilizagdo de apoio para fins militares ¢ outros) Além disso, a emergéncia de um sentido de identi- dade nacional e, na verdade, de nacionalisno, entendido como a canalizagio da idemidade nacional para a conquista explicita de objetivos politicos ~ vinha estreita mente ligada a0 desenvolvimento de novos meios de comunicagio que permitiam is idéias e aos simbolos serem expressos e difusos numa linguagem comum,)Retornare- mos a este raciocinio mais tarde, Antes devemos considerar mais atentamente a natu- reza do poder simbélico e suas transformagées ao longo do tempo. De que maneira a organizacio social do poder simbélico mucdou com 0 advento das sociedades modemnas? Hi duas mudangas muito bem discutidas na literatura so- 32 Uoldgica e histérica, Uma diz. respeito ao papel das instituigdes religiosas. Na Europa al, a Igreja Catdliea Romana era a instituigio central do poder simbélico, com o nonopéilio da produgio e da difusio dos simbolos religiosos e da inculeagio da erenga Feligiosa. Depois da queda do Império Romano, a Igreja continuow a garantir uma estru- {ura normativa no muito rigida por toda a Europa e estabeleceu um sistema de escolas Imondticas que se especializaram no ensino da leitura e da escrita e na transmissio da ‘loutrina sagrada. Nas priméiras fases da formagio do estado europen, forjavam-se alian- gas enire as elites religiosas e politicas{Bispos e abades ajudavam os governantes a con- Uvolar seus dominios, ¢ 0s governantes apelavam & doutrina religiosa para sustentar-Ihes a Auoridade e legitimar-Ihes © governo'|© papado também exercia um certo grau de con- tuole e de arbitrager nas relagdes entre os estados, ajudando a manter 0 equilibrio de poder entre os governantes. Mas com 0 crescimento ¢ 0 fortalecimento os estados eu- opeus de seus proprios sistemas especializados de administragio, a Igreja foi sendo syadualmente alijada do poder politico. Com 0 advento do protestantismo no século XVI, © monopélio virtual da Igreja Cat6lica foi abalado. A autoridade religiosa se fiagmentou numa pluralidade de seitas que reivindicavam estilos de vida distintos amiinhos alternativos de acesso & verdade das Bscrituras. A fragmentagdo da autoridade religiosa € 0 declinio de seu poder politico foram acompanhados por uma segunda mudanca: a gradual expansio de sistemas de conheci- mento € de instrugéo essencialmente secularizados. O século XVI testemunhow um de- cenvolvimento importante das ciéncias, como a astronomia, a botinica e a medicina lsias disciplinas emergentes estimularam a formagio de sociedades literérias por toda a Huropa e chegaram ao curriculo das universidades mais liberais. Da mesma maneira que o conhecimento cientifico se libertou da tutela da tradigZo religiosa, assim também o sis- tema de educagao fot ganhando mais autonomia fora da Igreja. As escolas ¢ universidades ve tornaram cada vez mais aptas para a transmissio de uma série de habilidades formas dle conhecimento, entre as quais 0 conhecimento da escrita era apenas uma parte (e em ‘muitos casos com uma importincia cada vez mais decrescente). F claro, o acesso a0 sis- tema educacional era altamente restrito durante 0 primeiro periodo moderno: os es- ludantes universitérios eram quase que exclusivamente filhos das elites urbanas, ea maioria da populagao rural permanecia analfabeta, Foi somente a partir do século XIX que sistemas de educagio mais abrangentes foram introduzidos nos estados euro- peus, fornecendo uma série de estruturas nacionais de transmissio de nogoes ¢ habi- lidades basicas, como a alfabetizagio na lingua-padrdo da nagio. Houve, entretanto, uma terceira mudanga importante na organizacéo social do poder simbélico, ¢ que geralmente tem recebido menos atengéo do que as duas pri imeiras, apesar de servir-lhes de apoio até certo ponto: foi a mudanea da escrita pain a impressio e o conseqiiente desenvolvimento das indistrias da midial para este de- senvolvimento que voltamos a nossa atengio agora. y Comunicagio, mercantilizagio € 0 advento da imprensa surgimento das indiistrias da midia como novas bases de poder simbélico & lum proceso que remonta a segunda metade do século XV. Foi durante esse tempo ‘que as téenicas de impressio, originalmente desenvolvidas por Gutenberg, se espa- Iharam pelos centros urbanos da Europa. Estas técnicas foram exploradas pelas ofici- nas de impressio montadas, em sua maioria, como empresas comerciais. Seu sucesso ¢ sua sobrevivéncia dependeram da capacidade de mercantilizar formas simbélicas, cefetivamente! O desenvolvimento das primeiras méquinas impressoras foi assim parte € parcela do Grescimento da economia capitalista do fim da Idade Média ¢ inicio da Furopa modemé{Ao mesmo tempo, contudo, estas Impressoras se tornaram novas bases do poder simbélico que permaneceram em relagdes ambivalentes com as insti- tuigdes politicas dos estados emergentes, por um lado, e com aquelas instituigées re- ligiosas que reivindicavam certa autoridade sobre © exercicio do poder simbélico, or outro lado.|© advento da indiistria grifica representou o surgimento de novos centros ¢ redes de poder simbélico que geralmente escapavam ao controle da Igreja € do estado, mas que a Igreja e © estado procuraram usar em beneficio proprio e, de tempos a tempos, suprimir. [As inovagoes téenicas que possibilitaram © desenvolvimento da impressio sio bem conhecidas e é suficiente descrevé-las muito brevemente aqui. As primeiras for- ‘mas de papel e de impressio foram desenvolvidas na China, bem antes de se populariza- rem no Ocidente’. Plantas téxteis eram transformadas em fibras, encharcadas em 4gua, prensadas em forma de papel e postas para secar. Um pincel feito de cabelos e tinta ex- traida do pé de faligem eram usados para escrever um elaborado sistema de ideogramas composto de virios milhares de caracteres. J& no século III dC, © papel era largamente uusado em toda a China para escrever e para outras finalidades. As téenicas de fabricagio do papel foram se espalhando gradualmente na diresio do Ocidente ¢, a partir do século VIII em diante, fabricas de papel se estabeleceram em Bagdé © Damaseo. Mercadores trouxeram o papel para a Buropa, mas s6 a partir do século Xill & que © papel europe. comegou a ser produzido em escala signficativa. No periodo 1268-76 surgiu a primei- ra fabrica italiana de papel em Fabriano. Fabricas de papel logo apareceram em outras Cidades italianas, incluindo Bolonha, Pdua e Génova, ¢ a Itilia se tornou a maior fonte de fornecimento para o resto da Europa. Em meados do século XIV, 0 papel jé era usado em toda Europa, garantindo um leve, macio ¢ facilmente disponivel meio de inscrigio que se revelaria ideal para os objetivos da impressio, ‘Como o papel, as técnicas de impressio também foram originalmente desenvol- vidas na China. Os blocos de impressio emergiram gradualmente de processos de po- limento e estampagem que remiontam provavelmente 20 ano 700 dC. Métodos me- thorados foram introduzidos durante a dinastia Sung (960-1280), incluindo uma pri- meira versio do tipo mével. A invengio do tipo mével & normalmente ateibuida a Pi st Sh feram endurecidos no fogo". Os métodos de impressio por meio do tipo mével foram. 12 que, durante 0 periodo 1041-8, usou argila para fazer caracteres que depois desenvolvidos mais tarde na Coréia, a partir dos inicios do século XIIL. Os coreanos fo~ rami 05 primeiros a usar formas de tipo mével fetas de metal, provavelmente adaptando Inéiodos originalmente usados para a fundigio de moedas. As autoridades politicas co- Feanas se interessaram perspicazmente pela fundicio de tipo, pela tipografia e pela im- jpessio de livros; estabeleceram um Ministério de Publicagio que, a partir do século XV, «ya responsivel por uma substancial produgio de materais impressos. Embora nio se te- nha prova direta da transferéncia de téenicas de impressio da China e da Coréia para a Hiuropa, estes métodos podem ter sido espalhados com a difusio do papel-moeda, das ‘autas de jogo € dos livzos impressos na China e com a gradual expansio dos contatos comerciais e diplomiticos entre o Oriente e o Ocidente’. Blocos de impressio comegaram a aparecer na Europa no tiltimo quartel do sécu- lo XIV, e livros impressos nessas chapas apareceram em 1409. Contudo, os desenvol- vimientos comumente associados a Gutenberg se diferenciam dos métodos originais chineses em dois aspectos: 0 uso de tipos alfabéticos e nao ideogrificos; e a invengio «da miquina impressora Johann Gutenberg. um ourives de Mainz, comegou suas experiéncias com a im- jressio em torno de 1440". As téenicas de fundigio de metal eram bem conhecidas na Europa desde 0 inicio do século XV, mas elas ndo tinham sido adaptadas as finali- tdades da impressio. Gutenberg desenvolveu um método de duplicar a fundigio das, letras de'metal, de modo que grandes quantidades de tipos poderiam ser produzidas para. a composigio de textos extensos. Hle também adaptou a tradicional prensa de parafuso, conhecida na Europa deste o século I dC, as finalidades de impressio de Lextos. Em virtude da combinagio destas téenicas, podia-se compor uma pagina intei- 12 de tipos, fixé-la em chapa e usé-la como um iinico bloco; aplicava-se a tinta sobre 1 bloco e prensava-se o papel contra ele, de tal maneira que o papel recebia 2 impres- sio dos tipos. Embora os detalhes técnicos tenham sido aperfeicoados subseqiiente- mente de muitas maneiras, estes principios basicos da prensa de Gutenberg perma. neceram em uso por mais de trés séculos. Por volta de 1450 Gutenberg tinha desenvolvido suas técnicas o suficiente para as explorar comercialmente, € poucos anos depois muitas oficinas tipogrificas estavam ‘operando em Mainz. As técnicas de impressio se espalharam rapidamente, pots 0s t pografos carregavam seus equipamentos ¢ seus conhecimentos de uma cidade para outra. Em 1480 jé havia tipografias instaladas em mais de cem cidades pela Furopa toda e um florescente comércio de livros tinha surgido. Algumas cidades na Alema. nha e na Itélia se tornaram particularmente importantes como centro de publicagées, mas tipografias foram surgindo também na Franga, Holanda, Inglaterra, Espanha ¢ em outros lugares. A produgio destas primeiras tipografias era formidavel, Febvre ¢ 55 Martin estimam que até o fim do século XV pelo menos 35,000 edigées tinham sido pelo menos 15 a 20 milhdes de cdpias em cixculagio!” produzidas, importando Por esse tempo a populagio das nagdes onde a impressio se desenvolveu nao ultra passava 100 milhées, e somente uma minoria podia ler.” Muitos destes livros — ou “incunabulos”, como sio algumas vezes chamados produzidos por estas primeiras impressoras eram em latim, € uma proporsio signifi cativa (cerca de 45%) era de cardter religioso". Estes incluiam muitas edigées da blia (tanto em latim quanto em linguas vernéculas), como também livros usados nos culos religiosos ¢ nas oragdes particulares, como o Livro das Horas. As primeiras ti- pografias também imprimiam livros de filosofla € teologia clissica e medieval, a0 lado de textos sobre assuntos juridicos ¢ cientificos, que eram destinados principal- ‘mente para a clientela universitéria. Ao produzir estes livros, as primeiras tipografias estayam consolidando e expandindo um comércio que jé existia bem antes da inven- 0 da imprensa. Ao longo de toda a Idade Média livros manuscritos tinham sido produzidos por escribas trabalhando em escritérios monésticos como também por copistas trabalhando em sistemas de produgio para comerciantes leigos, que forne- rovavelmente no 0s argumentos que dizem respeito & emergéncia da esfera publica bvurguesa, mas aqueles apontados para o seu suposto declinio. Habermas sustenta que, se por um lado a esfera publica burguesa floresceu nas condigdes propicias do século XVIIL, por outro lado a evolugio subseqdente gradualmente a levou para uma trans- formagio ¢ posterior extingio. A separacio entre o estado e a sociedade civil ~ que tinha criado um espago para a esfera piiblica burguesa — comegou a sucumbir 4 me~ lida que os estados assumiram um crescente cariter intervencionista ¢ maiores res- ponsabilidades na administragio do bem comum dos cidadios, ¢ os grupos de ‘nteresse organizados se tornaram mais reivindicantes no processo politico. Ao mes- ‘mo tempo, a8 insttuigdes que antes tinham proporcionado wm frum para a esfera pablica burguesa ou desapareceram ou sofreram mudanca radical. Os sales € os ca~ fés perderam importancia e a imprensa periddica se tornou parte de um mundo de instituig6es da midia que se foi organizando cada vez mais com interesses comer- ciais de longo alcance. A comercializagio da midia altera 0 seu carter profunda- mente: 0 que antes era um forum exemplar de debate critico-racional torna-se apenas mais um dominio de consumo cultural, ¢ a esfera piiblica burguesa esvazia- se num mundo ficticio de imagens ¢ opiniGes. A vida publica assume um cariter quase feudal. Novos meios técnicos sofisticados sio empregados para dotar a autori~ dade piblica com aquela aura ¢ prestigio que uma vez eram concedidos is figuras reais pela publicidade encenada das cortes feudais. Esta “refeudalizagio da esfera ji blica” torna a politica um espetéculo que 0s politicos e os partidos procuram admi- nistrar, de tempo em tempo, com o consentimento aclamante da populagio despo- n litizada. A massa da populagio & exclufda da discussio pabliea © da processo de to. mada de decisio, e & tratada como recurso manipulivel que os lideres politicos po dem utilizar para extair, com 0 auxilio das téenicas da midia, aprovagio suficiente para legitimar seus programas politicos. 5 Ha alguma substincia na tese da refeudalizacio da esfera piiblica? Certamente ela tem alguma plausibilidade razoavel. Ao longo do século XX, e especialmente desde 0 advento da televisio, a orientacéo da politica se tornou inseparivel da administragio das relagdes piiblicas (ou daquilo que irei chamar, num préximo capitulo, de “admi- nistragio da visibilidade”). Mas se examinarmos o argumento de Habermas mais cui dadosamente, veremos que hi sérias fragilidades. Em primeiro lugar, a argumentasio de Habermas tende a presumir, de um modo muito questionivel, que os receptores dos produtos da midia sio consumidores relativamente passivos que se deixam en- cantar pelo espeticulo e facilmente manipular pelas técnicas da midia. Nesta presun- so, Habermas afirmou sua divida para com a obra de Horkheimer e Adorno, cuja teoria da cultura de massa forneceu parte da inspiragio para sua prépria explicacio, Hoje esti claro, todavia, que este argumento exagera a passividade dos individuos aceita muito facilmente tal passividade no processo de recepcio. Suposicdes deste tipo devem ser recolocadas dentro de explicagdes mais contextualizadas ¢ hermeneu- ‘Scamente sensiveis & recepcio individualizada dos produtos da midia: como eles as recebem, usam e incorporam em suas vidas. Um segundo problema com a argumentagio de Habermas diz respeito 4 sua afir- mario de que a esfera piblica nas sociedades modernas foi “refeudalizada”. Nao é dificil ver por que Habermas fez esta afirmagio: a ostentacio caracteristica da politica ‘mediada hoje e sua preocupagio em cultivar uma aura pessoal mais do que estimular © debate critico pode parecer, pelo menos & primeira vista, assemelhar-se ao “carter de publicidade representativa” tipico da Idade Média. Mas a semelhanca é mais apa- rente do que real. Como procurarel mostrar nos capitulos seguintes, 0 desenvolvi- ‘mento dos meios de comunicasio criou novas formas de interagio, novos tipos de visibilidade e novas redes de difusio de informacio no mundo moderno. e que alte- raram © cariter simbélico da vida social tio profundamente que qualquer compara Gio entre politica mediada de hoje praticas teatrais das cortes feudais é, no minimo, superficial. Mais do que comparar a arena das mediagées deste século XX com eras passadas, precisamos repensar o significado do “caréter publico” hoje, mum mundo permeado por novas formas de comunicagio e de difusio de informagies, onde os individuos sdo capazes de interagir com outros e observar pessoas ¢ eventos sem se- {quer 0s encontrar no mesmo ambiente espaco-temporal. Embora a argumentagio de Habermas sobre a sorte da esfera piblica seja imper- ‘eita em alguns pontos, ele teve certamente razio em chamar a atengio para 0 fato de que as indiistrias da midia sofreram grandes mudangas a0 longo dos séculos XIX € XX. A explicagio de Habermas destas mudangas ~ a que enfatiza sobretudo o cresci- mento da comercializagio da midia ~ é insuficiente, ¢ as implicagdes que ele deduziu Xo questioniveis, como vimos. Mas se se deseja delinear 0 impacto dos meios de co- nunicagio, faz-se essencial uma andlise institucional das transformagées caracteristi- as das indiistrias da média 0 crescimento das indéstrias da midia Quero condluir este capitulo destacando algumas das tendéncias centrais no de- venvolvimento das indiistrias da midia desde o inicio do século XIX. Destaco tés ten- \léncias: (1) a transformagio das instituigdes da midia em interesses comerciais de sande eseala; (2) a globalizagio da comunicagio; e (3) 0 desenvolvimento das for- nas de comunicagio eletronicamente mediadas. Minha discussio destas tendéncias oi breve, Alguns dos desenvolvimentos jé foram extensivamente documentados em utras obras, € algumas das questées levantadas por eles serio acompanhadas com mais detalhes nos préximos capitulo. 1) A transformacio das instituigdes da midia em interesses comerciais de grande scala é um proceso que comecou no inicio do século XIX. # claro que a comerciali- saci dos produtos da midia ndo era um fendmeno novo; as primeiras impressoras, ‘como ja vimos, eram principalmente organizagdes comerciais orientadas para a mer- catlizagio das formas simbilicas. Mas no curso do século XIX a escala de comercia~ lizagio aumentou significativamente/ Isto se deveu em parte as inovagdes técnicas na inckistria da imprensa, e parte a transformacio gradual da base de financiamento das indistrias da midia e seus métodos de valorizagio econdmica.fAs inovagées técnicas, como o desenvolvimento da prensa a vapor de Koenig ¢, conseqtientemente, a prensa rotativa, aumentaram grandemente a capacidade reprodutiva da indistria gréfica| Elas permitiram a produgio de jomais e outros materiais impressos dentro de um conjun- to de processos modernos que incluiam 0 uso de maquinaria elétrica, a divisio rami- fieada do trabalho dentro do sistema industrial, etc. — que estavam revolucionando counas esferas da producio de mercadorias. Ao mesmo tempo, muitas sociedades Oci- dentais experimentaram um substancial crescimento na populagio urbana e, durante segunda metade do século XIX, um declinio significativo das taxas de analfabetis- mo, de modo a favorecer uma constante expansio do mercado de impressos. A medida que a indiistria grifica foi se tomando mais industrializada e 0 merca- do foi se expandindo, a sua base de financiamento comegou a mudar. Enquanto 0s jomais dos séculos XVII e XVII tinham como alvo principal um setor restrito da po- polagio mais afluente e mais instruida, a indistria de jomals dos séculos XIX ¢ 10¢se dirigiu para um piblico cada vez mais vasto, A evolugio tecnol6gica ¢ a aboligio dos impostos permitiram reduzir 0s pregos, e muitos jornais adotaram um estilo de jor 7

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