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AUDITORIA NO

SETOR PÚBLICO

Ana Clara Medina Menezes de Souza


Fase da execução da
auditoria pública
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar a fase da execução da auditoria pública.


 Definir os objetivos da execução da auditoria pública.
 Descrever as etapas do programa de auditoria pública.

Introdução
Neste capítulo, você vai compreender como ocorre a execução da audi-
toria pública, qual é a sua finalidade e quais são as etapas definidas pelas
entidades de fiscalização e pelas normas nacionais e internacionais de
auditoria pública. A utilização de padrões de auditoria reconhecidos nos
âmbitos nacional e internacional pelos órgãos de controle fortalece e
dá suporte às opiniões emitidas, tornando-as, inclusive, um importante
instrumento de melhoria da gestão pública.
É na fase de execução que a equipe de auditoria tem maior contato
com os gestores e servidores do órgão auditado, quando poderá visualizar
situações e obter impressões conclusivas para a emissão de opiniões. É
também o momento de verificar as informações levantadas na fase do
planejamento, quando serão identificados os achados de auditoria e as
evidências que os comprovem. Além disso, é a fase ideal para mapear a
cadeia de responsabilidades dos achados.

1 A execução da auditoria pública


A auditoria pública pode ser dividida em três fases: planejamento, execução
e relatório (comunicação dos resultados da auditoria). Todas as fases são
igualmente importantes e essenciais para que o trabalho entregue seja de
qualidade. Uma vez concluído o plano (ou programa) de auditoria na fase do
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planejamento, inicia-se a fase de execução, que consiste em colocar esse plano


em prática. É o momento em que o auditor examina minuciosamente o objeto
da auditoria, utilizando técnicas para verificar a sua conformidade ou não,
de acordo com os critérios previamente definidos na fase do planejamento.
A transição entre a fase de planejamento e a de execução ocorre de maneira
discreta, pois ambas envolvem análise e avaliação de dados e informações. A
avaliação do objeto de auditoria se inicia na fase de planejamento e se estende
até a conclusão da fase de execução, de acordo com a Controladoria-Geral
da União (BRASIL, 2017). Araújo (2006, p. 77) afirma que: “A execução é a
fase de aplicação dos procedimentos de auditoria, objetivando a obtenção de
provas ou evidências que deverão constar no relatório de auditoria. É nesse
estágio que o auditor realiza fundamentalmente seus exames”.
As Normas de Auditoria Governamental (NAGs) apontam que a execução
é a etapa em que se coletam e examinam as evidências que vão fundamentar
os comentários e as opiniões da equipe de auditoria, conforme informado pelo
Instituto Rui Barbosa (IRB, 2011). Deve ser um processo contínuo de obten-
ção, análise, avaliação e registro de informações, determinando as causas e
identificando os efeitos das deficiências, falhas e irregularidades detectadas. O
objetivo é fundamentar os resultados da auditoria governamental para emissão
de opinião, desenvolvendo recomendações, quando cabíveis.
Essa fase envolve o exame de registros e documentos, assim como a ava-
liação de processos e sistemas orçamentários, financeiros, patrimoniais e
operacionais, com vistas a informar sobre a confiabilidade do sistema de
controles internos, a legalidade, a legitimidade, a impessoalidade, a moralidade
e a publicidade dos atos, a regularidade das contas, o desempenho da gestão e
os resultados das políticas, dos programas e dos projetos públicos (IRB, 2017).
As Normas Brasileiras de Auditoria do Setor Público (NBASPs) preconizam
que a execução da auditoria deve fornecer evidências suficientes e apropriadas
para respaldar o relatório de auditoria (IRB, 2017). As decisões do auditor sobre
a natureza, a época e a extensão dos procedimentos influenciam diretamente
a evidência de auditoria a ser obtida. A escolha dos procedimentos dependerá
da avaliação de risco ou da análise de problema.
O Boletim do Tribunal de Contas da União (BRASIL, 2011), em suas
Normas de Auditoria (NATs), estabelece que, nessa fase, a equipe de auditoria
deva aplicar os procedimentos previstos na matriz de planejamento (elaborada
na fase anterior) em busca de achados. Os achados de auditoria são qualquer
fato significativo, digno de relato pelo auditor, constituído de quatro atributos
essenciais: situação encontrada (ou condição), critério, causa e efeito. Decorrem
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do confronto da realidade auditada com o critério previamente estabelecido


e devem ser devidamente comprovados por evidências.
O achado pode ser positivo, quando aponta boas práticas de gestão, ou
negativo, quando revela impropriedade ou irregularidade, conforme apontam
as NATs (BRASIL, 2011) e é descrito a seguir.

 Impropriedades: falhas de natureza formal que não resultem em pre-


juízo ao erário — ou seja, dano aos recursos públicos — e outras que
têm o potencial para infringir os princípios de administração pública
ou as normas legais e regulamentares — como deficiências no controle
interno, violações de cláusulas, abuso, imprudência ou imperícia.
 Irregularidades: prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo, antieco-
nômico; infração à norma legal ou regulamentar de natureza contábil,
financeira, orçamentária, operacional ou patrimonial; dano ao erário
decorrente de ato de gestão ilegítimo ou antieconômico; desfalque
ou desvio de dinheiro, bens ou valores públicos, como fraudes; atos
ilegais; omissão no dever de prestar contas; violações aos princípios
de administração pública.

O desenvolvimento dos achados é o processo mais importante de uma


auditoria, pois fundamenta as conclusões e as propostas de encaminhamento
feitas pelos auditores. Por isso, um achado deve fornecer uma base sólida a
essas conclusões, atendendo, necessariamente, aos seguintes requisitos básicos
(BRASIL, 2011):

1. ter relevância para os objetivos da auditoria;


2. ser apresentado de forma objetiva e estar devidamente fundamentado
em evidências;
3. apresentar consistência, de modo a se mostrar convincente a quem não
participou do trabalho.

O Quadro 1 apresenta um esquema com os elementos para o desenvolvi-


mento de achados.
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Quadro 1. Principais elementos do desenvolvimento de achados

Situação A ocorrência na qual foi identificado o achado deve


encontrada ser documentada e ter o registro do período.

Referencial que indica o estado requerido ou a expectativa


Critério de
em relação a uma situação objeto de auditoria, que
auditoria
o auditor compara com a situação encontrada.

Explicação para a situação encontrada, fatores responsáveis


pela diferença entre esta e o critério da auditoria. É
Causa
importante, pois representa a origem da divergência que
se observa entre a situação encontrada e o critério.

Identifica os resultados ou as consequências para a


Efeitos reais entidade, o erário ou a sociedade da discrepância entre a
e potenciais situação encontrada e o critério, indicando a gravidade ou
os eventuais benefícios, no caso de achados positivos.

Elementos essenciais e comprobatórios do achado;


Evidências devem ser suficientes e completos, para que a equipe
de auditoria possa opinar quanto aos achados.

Fonte: Adaptado de Brasil (2011).

É na fase de execução que é possível verificar a cadeia de responsabilidades


do achado de auditoria, identificando quem praticou determinado ato, em que
circunstâncias e se houve a participação de mais alguém. Para isso, é necessário
analisar diversos documentos, sistemas e declarações, que permitirão iden-
tificar os responsáveis pelos atos considerados irregulares (CRUZ, 2011).
A fase de execução é o momento do processo de fiscalização, em que serão
realizados testes, por meio da ampla utilização de técnicas de coleta e de análise
de dados, para fins de elaboração dos achados de auditoria. Os achados deverão
estar devidamente fundamentados nas evidências e possibilitarão a emissão
de opinião por parte da equipe de auditoria sobre o objeto auditado, atendendo
aos objetivos estabelecidos inicialmente no planejamento (BRASIL, 2017).
Essa fase é o momento em que a equipe de auditoria terá contato direto
com os gestores e servidores do ente fiscalizado, em que os procedimentos de
auditoria serão aplicados, e na qual devem ser coletadas todas as evidências
dos achados de auditoria. Por isso, é também conhecida como a etapa dos
“trabalhos de campo”, ou também a “fase de condução da auditoria”, a qual
necessita de comunicação de qualidade entre auditores e auditados.
Fase da execução da auditoria pública 5

Segundo a NAG 3212 (IRB, 2017), o profissional de auditoria governamental pode ser
responsabilizado administrativa, penal e civilmente pela não descoberta de fraude
em consequência de negligência, imperícia e imprudência na execução dos trabalhos
de auditoria governamental.

Dessa forma, a postura de profissionalismo do auditor é muito importante,


pois ele representa a auditoria pública como um todo perante a entidade au-
ditada. Alguns elementos são essenciais ao comportamento do profissional
de auditoria, como:

 independência, objetividade e imparcialidade;


 comportamento ético;
 competência;
 confidencialidade;
 cautela e zelo profissional; e
 capacidade de interlocução oral.

É um profissional que precisa lidar com todas as partes envolvidas no pro-


cesso de auditoria e, ainda, ter sensatez para avaliar as situações de forma não
tendenciosa, para emitir opiniões adequadas em relação às entidades avaliadas.

2 Objetivos
As NAGs estabelecem que o principal objetivo da fase de execução da audi-
toria é fundamentar os resultados da auditoria governamental, respaldando os
auditores para a emissão de opinião e recomendações, quando cabíveis (IRB,
2011). As informações utilizadas para fundamentar os resultados da auditoria
governamental devem ser suficientes, fidedignas, relevantes, materiais e úteis,
para garantir segurança na emissão de conclusões e recomendações.
Dada a importância dessas informações, vale aqui especificar seus critérios.
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 Informação suficiente: dados completos para que qualquer indiví-


duo possa chegar às mesmas conclusões do profissional de auditoria
governamental.
 Informação fidedigna: confiabilidade, integridade e procedência de
fonte de informação.
 Informação relevante: relacionada diretamente ao objeto da auditoria,
destacando-se as informações essenciais, sem as quais a decisão pode
se dar de forma equivocada.
 Informação material: elementos quantitativos, valor ou volume de
recursos envolvidos em determinado contexto, pertinentes ao objeto
da auditoria.
 Informação útil: é aquela obtida para auxiliar o profissional de auditoria
governamental no alcance de suas conclusões e que colabora com os
gestores, administradores e responsáveis públicos no atingimento de
suas metas e seus objetivos (IRB, 2011).

A obtenção de informações leva às constatações da equipe de auditoria,


que são conhecidas por achados de auditoria, conforme visto anteriormente.
Conforme a CGU (BRASIL, 2017, p. 98):

Achado é o resultado da comparação entre um critério preestabelecido pela


equipe de auditoria durante a fase de planejamento e a condição real encontrada
durante a realização dos exames, comprovada por evidências. Tem como ob-
jetivo responder às questões de auditoria levantadas na fase de planejamento.
Também pode ser chamado de constatação ou de observação.

Segundo Peter e Machado (2003), os requisitos básicos do achado de au-


ditoria são:

 mostrar a relevância do fato;


 ser respaldado em papéis de trabalho;
 ser objetivo;
 dar suporte às conclusões e recomendações; e
 ser convincente a uma pessoa estranha ao processo.

O TCU orienta seus auditores a elaborarem uma matriz de achados, consi-


derada o principal instrumento de trabalho da fase de execução, na qual será
lançada a essência dos resultados da fiscalização. Ela apresenta, de forma
gráfica, todas as informações da etapa de execução, permitindo que qualquer
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pessoa que revise o trabalho tenha a exata noção do que foi constatado e das
recomendações para regularizar as situações verificadas e, quando for o caso,
possa responsabilizar quem lhes deu causa (CRUZ, 2011).
Como a matriz evidencia todos os achados e os encaminhamentos pro-
postos pela equipe, evita imprevistos na elaboração do relatório de auditoria
(fase seguinte à execução). Por consequência, diminui o risco de falhas na
composição correta de processo de auditoria. Dessa forma, a matriz se torna
uma importante ferramenta ao auditor governamental, que não é onerosa e é
extremamente benéfica para o sucesso do seu trabalho (CRUZ, 2011).
Enquanto os achados se referem às constatações encontradas, as evidências
são o suporte fático dos achados, ou seja, são a prova das situações encontradas.
Segundo a NAG 1113 (IRB, 2011, p. 13), “[…] evidências de auditoria: são
elementos de convicção dos trabalhos efetuados pelo profissional de auditoria
governamental, devidamente documentados, e que devem ser adequados,
relevantes e razoáveis para fundamentar a opinião e as conclusões”.
Conforme as Normas Internacionais das Entidades Fiscalizadoras Supe-
riores (ISSAIs), a evidência é toda informação utilizada pelo auditor para
comprovar que o objeto está ou não em conformidade com os critérios aplicáveis
(IRB, 2017). Pode ser apresentada em diversos formatos; como exemplos,
podem-se citar: registros de transações em papel ou meio eletrônico, comuni-
cações externas escritas ou em meio eletrônico, observações feitas pelo auditor
e testemunho oral ou escrito de agentes da entidade auditada.
Os métodos de obtenção de evidência de auditoria podem incluir inspeção,
observação, indagação, confirmação, recálculo, reexecução, procedimentos
analíticos e/ou outras técnicas de pesquisa. O Quadro 2 mostra um exemplo
de matriz de achados com evidências.
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Fase da execução da auditoria pública

Quadro 2. Modelo de matriz de achados

Descrição Situação
do achado encontrada Objetos Critério Evidência Causa Efeito Encaminhamento

A1

A2

A3
Fonte: Adaptado de Cruz (2011).
Fase da execução da auditoria pública 9

Segundo Peter e Machado (2003), as evidências devem atender aos critérios


descritos a seguir.

 Relevância: determina se os dados coletados se referem às atividades


incluídas no escopo da auditoria, aos objetivos de conformidade ou
materialidade e a uma matéria importante.
 Validade: determina a solidez, a integridade ou a garantia da evidência
coletada, avaliando a confiabilidade da fonte de obtenção, da natureza
intrínseca da evidência (se física, documental, testemunhal ou analítica)
e o método ou a técnica da auditoria utilizada para coleta.
 Suficiência: determina se a evidência é convincente o bastante para
justificar as conclusões de auditoria relacionadas às matérias sujeitas
ao exame.

A NAG 4409 (IRB, 2011) definiu que a evidência é relevante quando


pertence ao objetivo dos trabalhos realizados e está em consonância com as
constatações e conclusões do profissional de auditoria governamental. É confi-
ável se for válida, objetiva, imparcial, isenta e suficientemente comprobatória
do fato. Conforme preconizam as ISSAIs, a avaliação de evidência deve ser
objetiva, justa e equilibrada (IRB, 2017). Os achados preliminares devem
ser comunicados e discutidos com a entidade auditada, para confirmar sua
validade, antes de serem divulgados, mantendo a confidencialidade. Por fim,
considerando os achados e evidências obtidos, a equipe de auditoria poderá
exercer seu julgamento profissional para chegar a uma conclusão do objeto
de auditoria ou da informação do objeto.

As NBASPs são traduções das ISSAIs e foram emitidas pelo IRB, do qual são membros
o TCU e os demais Tribunais de Contas (TCs) brasileiros. Elas têm como objetivo pro-
mover uma auditoria independente e eficaz e apoiar os TCs no desempenho de suas
atribuições constitucionais e legais, em benefício da sociedade. Para saber mais sobre
essas normas, acesse o link a seguir.

https://qrgo.page.link/MgHSo
10 Fase da execução da auditoria pública

Com o objetivo de garantir a credibilidade e a qualidade das auditorias


públicas, o TCU emitiu portaria (BRASIL, 2011) com definições sobre os
procedimentos de suas auditorias. Essas normas foram desenvolvidas tendo por
base o arcabouço normativo da instituição, a experiência acumulada, as normas
de auditoria de fontes internacionais, especialmente as ISSAIs, entre outros. As
normas do TCU estabelecem critérios claros para todas as fases da auditoria,
especialmente a execução, explicando como aplicar o planejamento feito.

3 Metodologia de execução de auditoria


A execução é a fase do processo de auditoria em que são identificados achados
e coletadas evidências comprobatórias. Com base nisso, a equipe deve elaborar
recomendações para o órgão auditado. Embora haja um plano de auditoria a ser
executado nessa fase, desenvolvido na fase do planejamento, é necessário cumprir
algumas etapas para a consecução dos trabalhos da auditoria. Cruz (2011) elenca
algumas etapas a serem realizadas antes de iniciar a execução da auditoria.

1. Elaborar a matriz de planejamento (realizada na fase anterior à de


execução).
2. Encaminhar um ofício de comunicação de fiscalização ao dirigente da
unidade que será auditada, para: informar o início dos trabalhos e o período
em que serão realizados; solicitar documentos e informação a serem
disponibilizados; e solicitar a estrutura física que deve estar à disposição
exclusivamente dos auditores (espaço, equipamentos, entre outros).
3. Agendar entrevistas com os servidores ou gestores da entidade auditada,
bem como de outras instituições, como parlamentares, especialistas, etc.

O autor sugere ainda que a equipe solicite que o órgão auditado destaque
um servidor para atuar como contato da equipe com todas as áreas e os respon-
sáveis abrangidos pela auditoria. Isso deve agilizar procedimentos, poupando
esforços e tempo ao longo da execução (CRUZ, 2011).
No início da execução dos trabalhos, a equipe realizará uma reunião de
apresentação com os dirigentes e responsáveis da entidade auditada, quando
se identificará formalmente, entregará o ofício de apresentação e esclarecerá
os objetivos, o escopo e os critérios da auditoria. É indicado que a equipe de
auditoria se apresente aos responsáveis pelas áreas do órgão que serão fiscali-
zadas, também esclarecendo o objetivo, os critérios e o escopo da fiscalização,
de acordo com o TC do Estado do Espírito Santo (ESPÍRITO SANTO, 2015).
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As NAGs (IRB, 2011) definem que a execução dos trabalhos de auditoria


governamental deve incluir os procedimentos descritos a seguir.

1. A avaliação de controles, eventos, operações e transações, o exame de


registro e documentos, a realização de provas e a documentação das
informações em meio eletrônico ou físico.
2. O desenvolvimento das constatações ou achados de auditoria encontra-
dos durante os exames, mediante análise de critérios, causas e efeitos.
3. A obtenção da opinião do ente auditado.
4. O desenvolvimento de conclusões e recomendações.

Para a coleta de informações, documentos e provas, podem ser utilizadas


diversas técnicas. Peter e Machado (2003) classificam as técnicas de acordo
com o tipo de evidência obtida com sua aplicação: evidência física, documental,
testemunhal e analítica.

 Evidência física: obtida por inspeção física ou observação direta de


pessoas, bens ou transações. Normalmente é apresentada como foto-
grafias, gráficos, memorandos descritivos, mapas, amostras físicas, etc.
 Evidência documental: é aquela obtida dos exames de ofícios, contratos,
documentos comprobatórios (notas fiscais, recibos, etc.) e informações
prestadas por pessoas de dentro e de fora da entidade auditada.
 Evidência testemunhal: obtida por aplicação de entrevistas e
questionários.
 Evidência analítica: decorre da conferência de cálculos, comparações,
correlações e análises feitas pelo auditor.

Os achados são as constatações feitas pelos auditores que caracterizam


normalmente impropriedades e irregularidades praticadas. É a partir da carac-
terização dos achados de auditoria que se inicia uma investigação de respon-
sabilização dos agentes públicos ou privados que deram causa à discrepância
observada (ESPÍRITO SANTO, 2015).
Durante o processo de execução da auditoria, a equipe deve obter por escrito
os esclarecimentos do gestor da entidade auditada em relação aos achados.
Trata-se da oportunidade de a entidade fazer comentários ou dar explicações
sobre os achados, para esclarecer circunstâncias e fatores que contribuíram
para sua ocorrência (ESPÍRITO SANTO, 2015). Deve-se solicitar ao gestor
que manifeste sua concordância ou não com os achados e com as proposições
oferecidas pela equipe de auditoria. “Somente deverão ser apresentadas para
12 Fase da execução da auditoria pública

discussão as proposições que versem sobre medidas corretivas ou propostas de


melhoria, não devendo constar proposições relacionadas à responsabilização”
(ESPÍRITO SANTO, 2015, p. 95). Nesses casos, deverá o jurisdicionado
informar a concordância ou não em adotá-las.
As equipes de auditoria podem efetuar diversos tipos de proposições, sendo
que, para cada achado de auditoria, podem ser formuladas recomendações,
determinações, medidas saneadoras, medidas cautelares, dentre outras previstas
legal ou regimentalmente (BRASIL, 2011). Conforme as NAGs, “Recomen-
dação: sugestão proposta pelo profissional de auditoria governamental para a
regularização da situação encontrada, se aplicável” (IRB, 2017, p. 51).
O TCU, nas suas orientações aos auditores públicos, explica como devem
ser elaboradas as proposições da auditoria (BRASIL, 2011, documento on-line).

As propostas de determinação e de recomendação devem ser formuladas


focando “o quê” deve ser aperfeiçoado ou corrigido e não “o como”, dado à
discricionariedade que cabe ao gestor e ao fato de que a equipe de auditoria
não detém a única ou a melhor solução para o problema identificado. As
recomendações geralmente sugerem o aperfeiçoamento necessário, mas não
a forma de alcançá-lo, embora em determinadas circunstâncias, às vezes,
se justifique uma recomendação específica como, por exemplo, alterar a
legislação com o intuito de melhorar a administração.

Vale destacar que, durante a execução, podem ser identificados fatos que
estão fora do escopo ou do objetivo estabelecido para o trabalho, ou que
sejam incompatíveis com a natureza da ação de controle, mas que mereçam a
atenção da equipe. Nesses casos, devem ser consideradas as opções descritas
a seguir (BRASIL, 2011):

a) O planejamento poderá ser alterado durante a realização dos trabalhos


pela própria equipe de auditoria, nos casos em que os fatos se relacio-
nem de forma clara e lógica com o objetivo e as questões de auditoria.
As alterações deverão ser submetidas ao supervisor para aprovação.
b) Nos casos em que os fatos estão relacionados ao objetivo da auditoria,
porém fora do escopo planejado, mas a consistência das evidências
encontradas recomende sua abordagem, a equipe, em conjunto com o
supervisor e o titular da unidade técnica coordenadora, deve avaliar
a oportunidade e a conveniência de realizar exames para desenvolver
achados no trabalho em curso, desde que não impeçam o andamento
da auditoria inicial. O titular da unidade técnica poderá propor nova
ação de controle.
Fase da execução da auditoria pública 13

c) Nos casos em que os fatos sejam incompatíveis com o objetivo ou com


a natureza da ação de controle, é necessário que o titular da unidade
técnica decida se a auditoria deve investigar mais profundamente os
fatos, para fundamentar as descobertas, ou propor a realização de outra
ação de controle, com vistas a concluir os exames dos fatos identificados.

Ao final da fase de execução, deve ser realizada uma reunião de encerra-


mento, quando a equipe apresentará os achados ao gestor do órgão auditado.
Nessa reunião, os achados de auditoria devem ser apresentados, indicando-se a
situação encontrada, o critério de auditoria e, por decisão da equipe, as causas
e os efeitos. É importante informar ao gestor que os achados são preliminares,
podendo ser corroborados ou excluídos, ou podendo ainda haver inclusão
de novos achados. A apresentação dos achados na reunião de encerramento
somente pode ser dispensada nos casos em que represente risco à equipe ou
à consecução do objetivo da fiscalização (ESPÍRITO SANTO, 2015).
Na realização de auditorias, é possível que a equipe utilize trabalhos de outros
auditores, tipicamente, os da auditoria interna de entidades governamentais ou
de outras entidades de fiscalização e controle. Isso porque esses trabalhos podem
conter informações úteis para o planejamento e a execução de auditorias. A
responsabilidade dos auditores não é reduzida pela utilização desses trabalhos,
uma vez que a equipe deve garantir a veracidade dos fatos (BRASIL, 2011).
As informações contidas obtidas de especialistas, que não façam parte da
equipe de auditoria, integrarão o relatório como evidências para os achados
levantados pelos auditores. Os especialistas devem comprometer-se em manter
a confidencialidade, bem como atuar em consonância com as normas vigentes
às quais a auditoria governamental está submetida (BRASIL, 2011).
Com relação à atuação da equipe de auditoria, as NAGs (IRB, 2011, p.
39) estabelecem que:

Na execução dos trabalhos, o profissional de auditoria governamental deve


atuar com honradez, urbanidade, imparcialidade, objetividade, competência
e zelo, não permitindo que preconceitos ou prevenções influenciam a sua
independência profissional. Deve manter e demonstrar sua imparcialidade
em relação a qualquer interesse que possa ser interpretado ou considerado
incompatível com a honestidade e a independência que se exige de sua função.

As NATs estabelecem que os auditores públicos devem agir com integridade,


para lidar com as pressões decorrentes de possíveis interesses. “Auditores
devem resguardar, em sua conduta pessoal, a integridade, a honra e a dignidade
de sua função pública, agindo em harmonia com princípios éticos e valores
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públicos” (BRASIL, 2011, documento on-line). O auditor governamental deve


sempre atuar focado no atendimento do interesse público e dos princípios e
normas vigentes, de maneira a entregar os melhores resultados à sociedade.
Nesse sentido, a auditoria governamental, ou auditoria pública, é constituída
e organizada com base em normas, preceitos, procedimentos e metodologias
que garantem o cumprimento da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência do serviço público.

ARAÚJO, I. P. S. Introdução à auditoria operacional. 3. ed. Rio de Janeiro. Editora FGV, 2006.
BRASIL. Controladoria Geral da União. Manual de orientações técnicas da atividade de
auditoria interna governamental do poder executivo federal. Brasília, CGU, 2017.
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Normas de Auditoria do Tribunal de Contas da
União. Brasília Boletim do Tribunal de Contas da União, v. 44, n. 12, 2011. Disponível em
https://www.oas.org/juridico/PDFs/mesicic4_bra_TCU_portaria.pdf. Acesso em: 21
fev. 2020.
CRUZ, I. B. Auditoria governamental: execução da auditoria. Brasília: Instituto Serzedello
Corrêa, 2011.
ESPÍRITO SANTO. Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo. Manual de auditoria
de conformidade. Vitória: TCE/ES, 2015.
IRB. Normas brasileiras de auditoria do setor público (NBASP). Belo Horizonte: IRB, 2017.
IRB. Normas de auditoria governamental (NAGs). Belo Horizonte: IRB, 2011.
PETER, M. G. A.; MACHADO, M. V. V. Manual de auditoria governamental. São Paulo:
Editora Atlas, 2003.

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