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TRADUTORAS: Margarida Gonçalves

Poliana Bianqui
Aline Oliveira
REVISÃO FINAL: Thamirys Simone e Aline
Leitura Final: Thay
Beauty and the Mustache
(Winston Brothers #0.5)

by Penny Reid
Há três coisas que você precisa saber sobre Ashley Winston: 1) Ela tem seis
irmãos e todos têm barbas, 2) Ela é uma leitora e 3) Ela sabe tricotar.

Para a ex-rainha da beleza, a estratégia preferida de


enfrentamento de Ashley Winston é fugir.

Ela escapou de sua cidade pequena do Tennessee, pai


repugnante, e seis irmãos há oito anos. Agora, ela escapa à
vida diariamente através de seu Kindle, com vício de um
clique. No entanto, quando uma tragédia familiar a obriga a
voltar para casa, Ashley não pode escapar da notificação de
Drew Runous – Guarda Florestal local, homem das
montanhas recluso, lutador de urso, filósofo e o cara favorito
de todos.

A filosofia enfadonha de Drew, em particular, faz Ashley


querer correr para os arranha-céus, especialmente porque ele
não consegue manter suas opiniões exasperantes - ou sua
poesia com alma, apoio firme e mãos deliciosas – para si
mesmo.
Em breve, a garota que queria nada além da fuga da
grande cidade descobre que ela perdeu seu coração na
pequena cidade de Tennessee.
Para Carl e Winnie

Amarei você na morte, como te amei na vida; para as estrelas e

mais além, exatamente como sempre.


CAPÍTULO 1

“Não há nenhum conforto em qualquer lugar para qualquer um que tem medo

de ir para casa”.

― Laura Ingalls Wilder, Little Town on the Prairie

~Ashley~

Eram 06:14 am e eu estava acordada.

O motor de carro acelerando pela terceira vez, mais alto, mais longo,

mais irritado.

Sei que um motor de carro não pode ficar com raiva, mas este motor

parecia zangado. Especificamente, parecia com raiva de mim.

O motor deve apenas estar furioso comigo, por que outra razão estaria

me acordando depois de menos de três horas de sono?

Mas o que o motor não sabia era que eu não tinha medo de sua raiva. Eu

não aceitava porcaria, de nenhum motor, não mais e especialmente quando o

motor estava sob o controle de um dos meus seis irmãos. Porque agora, eu era

fodona.

A única maneira que um deles me acordar às 06:14 da manhã era se não

tivessem dormido na noite anterior.


Provavelmente, estavam bêbados, drogados ou ambos.

Adorável. Só... Adorável.

Bons e velhos garotos, acelerando os carros de manhã era a razão

número trinta e três do porquê eu nunca vinha para casa. Comecei a fazer a lista,

há dois dias, quando decidi que não tinha nenhuma escolha a não ser voar para o

Tennessee.

Embora não estivesse em casa fazia oito anos, minha mãe me visitou na

faculdade muitas vezes. Todos os anos desde que me formei há quatro na minha

BSN, Bacharelato em enfermagem, eu tinha ido de férias com ela, só nós duas.

Mas há três dias, ela não retornou minha ligação, nem atendeu ao

telefone quando liguei no dia seguinte. Isto era fora do normal porque ela e eu

falamos ao telefone à mesma hora, todos os dias durante os últimos oito anos,

exceto quando estávamos juntas, claro. Normalmente, nossas conversas não

duravam muito tempo, só um rápido check-up para ver se ela precisava de

alguma coisa, ver como a vida a tratava. Às vezes ela iria partilhar boatos sobre

pessoas com quem cresci, e às vezes eu falava sobre o novo livro que estava

lendo.

Acima de tudo, acho que encontrávamos conforto nas vozes uma da

outra.

Então, depois de dois dias sem contato, eu estava preocupada.

Finalmente, telefonei para Jethro, meu irmão mais velho.

Ele disse que minha mãe estava no hospital, e se recusava a ver ou falar

com alguém.
Portanto, pulei num avião, com a intenção de descobrir a verdade por

detrás da sua misteriosa hospitalização. Estava determinada a tomar conta da

mulher que nunca conseguiu tomar conta de mim.

O motor do carro acelerou novamente. Eu rosnei, joguei as cobertas e

marchei para fora do meu quarto. Na minha pressa de trazer um mundo de dor

ao responsável pelo meu despertar madrugador, escorreguei nos últimos três

degraus que levavam ao primeiro andar da casa da minha mãe e amaldiçoado

quase caí de bunda. O aumento resultante na adrenalina foi combustível de

foguete para minha irritação.

Foi-se a garota da cidade pequena, polida, sensível, jovem e ignorante

que meus irmãos uma vez conheceram. Antes de ir embora só tinha começado a

lutar contra suas palhaçadas. Agora era um ninja da mente sobre a matéria.

Qualquer um dos meus irmãos que fosse responsável por me acordar acelerando

o carro, depois que passei por um vôo atrasado, com três conexões de Chicago

para Tennessee iria sofrer.

Retribuição. Vingança. Talvez a morte. Pelo menos, alguém ia ser o

destinatário de um épico puxão de mamilo.

Voei pela porta da frente e deixei-a bater atrás de mim. Não me

preocupava com acordar alguém.

Se os habitantes da casa conseguem dormir com o barulho vindo da

garagem então poderiam dormir com o barulho de uma porta batendo. Além

disso, os galos já estavam fazendo um concurso cacarejante.

Outra coisa que não me preocupava era meu estado de nudez. A

propriedade da minha família situava-se em quinze hectares no meio de Green

Valley, também conhecido como nada em lugar nenhum, fazia fronteira com o
Parque Nacional Smoky Mountains, do lado do Tennessee. Se não contasse todos

os carros em blocos, reboques, mortos, pneus velhos, peças de máquinas

enferrujadas e aparência geral desprezível da grande casa antiga e quintal, era de

verdade um local encantador.

Normalmente, meus irmãos idiotas andavam meio nus, então não liguei

para o fato de que estava de pijama que era uma regata rosa com shorts

correspondentes. Provavelmente estava muito vestida, em relação a eles.

Evitei uma pilha de garrafas de cerveja quebradas sobre o caminho que

conduzia à garagem separada, realmente, era mais um hangar gigante. Minha

mente me disse que a estrutura era chamada uma cabana quonset e a mandei a

ficar quieta.

Não me importava como chamava. Só me preocupava que todos os

habitantes iam ser assassinados pelas minhas mãos. Então ia voltar a dormir.

O sol já estava de pé, o que fez o interior da estrutura metálica parecer

escura em contraste. Independentemente disso, podia ver a máquina da minha

angústia, à medida que me aproximava, teria sido impossível perder.

Dois corpos masculinos inclinando-se para dentro da capota aberta de

um Charger laranja e branco. Um terceiro imbecil, atualmente escondido, estava

no banco do motorista acelerando o motor.

Como era meu costume, estava gritando antes de chegar à garagem.

— Não me importa qual de vocês caipiras, infestados de doenças,

pulguentos, cabeças de tortas estão aqui fazendo essa confusão, é melhor pararem

neste minuto!

Jethro se virou quando me aproximei e puxou as calças para cima. Como

suspeitava, eu estava muito elegante. Ele não usava nada, apenas sua barba e um
par de jeans manchados. O cabelo castanho e comprido de Jethro estava torto e

despenteado, como se acabasse de sair da cama, e a barba precisava de uma

aparada. Mas os olhos castanhos eram quentes e perspicazes me analisando.

Billy, o segundo irmão em nossa família, continuou de costas para mim.

Sabia que era Billy, porque ele tinha uma tatuagem no ombro esquerdo de uma

cabra com a palavra Billy debaixo. Ele estava vestido da mesma forma, o que

significava que sua bunda estava em plena exibição para o sol e os pequenos

animais da floresta.

Dos meus irmãos, Billy e eu éramos os mais parecidos. Nós éramos

quase réplicas do meu pai. Nós dois temos cabelo castanho escuro quase preto,

olhos azuis, e a mesma boca larga com lábios gordos, como dizia meu irmão

Duane.

Mas onde era pele pálida e cheia de curvas, ele era bronzeado,

musculoso, presumivelmente de trabalho manual e tatuado.

— Olá linda. Quando chegou? Deve ter sido tarde. — Jethro acenou com

as mãos manchadas de graxa, os dentes brancos, um contraste gritante com a

barba marrom escura.

— Porque está acordada? — Billy perguntou por cima do ombro. Ele

parecia irritado.

— Porque os gênios estão aqui fora, testando os limites de decibéis. Não

consigo dormir com todo o...

Nesse momento o motor acelerou novamente. O som cravado absorveu

minhas palavras o que me causou uma nova onda de irritação.


— Argh! Qual de vocês idiotas feios fica fazendo isso? — Adivinhei que

era Cletus, o terceiro mais velho, atrás do volante. Ele era um doce, mas também

o menos indicado para compreender o óbvio.

Entrei na garagem, quase chutando mais de um quarto de óleo na minha

pressa. Não me importava. Eu precisava dormir. Não precisava de uma

madrugada de seus brinquedos.

Comecei berrando assim que atravessei o limiar.

— Juro ao Deus da lua, vou beliscar seus mamilos diretamente para fora

do peito!

Sem pensar duas vezes, passei a mão na porta do motorista aberta do

Charger e torci o mamilo ao meu alcance. Fiz isso com satisfação, o tipo

alegremente vingativa. Coloquei minha outra mão no teto do carro para

alavancagem no caso Cletus tentar me afastar.

— Ow! O que o...?

Uma sequência de palavrões impressionantes surgiu do carro. Uma

grande e poderosa mão agarrou a minha e arrancou-a do peito masculino.

Fiquei boquiaberta. Isto foi por vários motivos, e um deles foi que Cletus

não sabia a palavra equivalente para foder em latim, e nem meus irmãos.

Portanto, essa pessoa cujo mamilo eu agredi, definitivamente não era

meu irmão Cletus. Uma injeção de adrenalina percorreu minha espinha, os olhos

alargaram de choque, e tentei sem sucesso livrar-me de seu aperto. Os dedos que

me seguravam estavam me punindo, com um movimento fluido o ocupante saiu

do assento do motorista, torceu meu braço atrás das costas e empurrou meu

corpo contra o dele.

Ele estava ofegante.


Eu estava ofegando ainda mais.

Olhei para ele.

O ocupante olhou de volta.

Olhos cinza-azulados, quase prateados, escararam os meus num aperto

de raiva e surpresa. Senti um choque elétrico, como se fosse atingida no

estômago. Apenas vislumbrei uma pequena sombra de surpresa, ele usou uma

máscara que teria feito orgulho a uma tempestade.

Também ele era tão asperamente sexy, que tenho certeza de que minha

boca caiu aberta para protestar contra a injustiça da sua existência. Felizmente,

nenhum som saiu. Estava muito ocupada, oscilando entre atordoada, mortificada

e excitada.

Este homem definitivamente não era um dos meus irmãos.

Primeiro de tudo, o cara tinha uma barba loira e pelo loiro no peito.

Todos os meninos de Winston tinham barba marrom escura exceto Duane e

Beauford, que eram gêmeos. Eles eram os números cinco e seis da família e

tinham barbas gengibre.

Além disso, esse cara era bronzeado. Bronzeado por toda parte, como

um surfista manchado de cera ou um saqueador viking que passou seu tempo no

mar sem camisa.

E... Em que número eu estava?

Oh sim. Em terceiro, ele era o tipo habilmente despenteado, bonitão que

me fez esquecer o número em que eu estava.

Ele era enorme. Tipo, dois metros de altura. Seu peito, braços, barriga e

ombros eram esculpidos em pedra. Ele parecia uma rocha.


O olhar continuou. Assisti confusão guerrear com fúria enquanto o olhar

devorou meu rosto, demorou-se nos lábios e voltou para os meus olhos.

Incapaz de lidar com a intensidade do seu olhar por mais um instante,

disse:

— Sinto muito!

Ele piscou para mim e balançou a cabeça uma vez, rapidamente, como

se eu só tivesse aparecido. Ele largou minha mão e recuou como se me tocar

pudesse queimá-lo.

— O que diabos foi isso?

Desviei o olhar para seu peito. Era um belo peito, um peito muito, muito

bonito, mas o mamilo esquerdo estava vermelho e irritado. Meu aperto do

mamilo estragava a perfeição física do seu torso esculpido. Um pequeno som de

desânimo caiu dos meus lábios.

— Oh meu Deus, me desculpe. — Gaguejei e cheguei para frente,

acariciando a pele irritada. — Nunca teria puxado seu mamilo, se soubesse que

não era um dos meus irmãos. É só que estava tentando dormir. Realmente,

deveria saber que não era Cletus. Ele teria adivinhado minhas intenções a uma

milha de distância e feito manobras evasivas.

— Manobras evasivas?

Olhei para cima de onde meus dedos continuaram a acariciar o mamilo

ferido para os olhos de prata, agora um pouco menos tempestuosos, mas

cautelosos.

Pisquei para ele, minha respiração aprisionada no peito, e perdi

completamente o fio da meada.

— O quê?
Os olhos do Viking olharam diretamente nos meus. Após uma breve

pausa, ele olhou para seu peito. Segui o olhar para onde os meus dedos estavam

acariciando o mamilo masculino. Vacilei, afastei minhas mãos e as fechei,

colocando-as entre nós.

— Desculpa. — Disse novamente. —Desculpe, ter torcido seu mamilo.

Também peço desculpo por tê-lo acariciado depois. Além disso, sinto que não

consigo parar de falar...

Seus olhos percorreram-me até os pés então varreram meu corpo numa

avaliação sem remorso, demorando nas minhas panturrilhas e coxas, por um

minuto, então, fixou-se no meu peito.

— Quem é você? — Ele perguntou encarando meu peito, soando

irritado.

— Quem sou eu? — Perguntei, porque honestamente, eu poderia perder

meu cartão fodona por isso, uma parte minha esqueceu meu nome. Porque ele era

o tipo asperamente sexy que me fez esquecer que número eu estava e qual era

meu nome.

— Sim, quem é você? — Os olhos dele finalmente encontraram os meus

e parecia ainda mais irritado. Eu poderia dizer pelo sotaque que ele não era do

Tennessee, embora tivesse um sotaque sulista distinto. Meu cérebro me disse que

era de Oklahoma ou Texas.

— Eu... Sou Ashley Winston.

Ele inspirou forte, obviamente surpreso com minha resposta. Sua

expressão se mostrava dura, confusa e irritada por detrás da barba loira pesada

enquanto me avaliava.

Então se virou para Jethro.


— Você tem uma irmã?

O fato que o Viking dourado tinha se endereçado a meu irmão, ao invés

de mim, foi um tapa de sobriedade e respondi com desagrado levemente

ofendida.

— Sim, eles têm uma irmã.

Jethro tinha me seguido quando entrei no hangar e acenou na minha

direção.

— Sim. Esta é Ash.

— Pensei que Ash era um menino. — O saqueador bonito disse isto

como se estivesse chocado e triste, como se tivesse sido enganado, atraído para

nossa garagem desordenada com truques.

— Não. Ela é uma garota. — Billy rugiu debaixo do capô do carro.

Os olhos do homem varreram meu corpo novamente, um escrutínio

flagrante. Ele não parecia satisfeito.

— Obviamente. — Disse o loiro estranho, como se tivesse provado algo

azedo.

Naquele momento, finalmente descobri que tipo de bonito ele era. Ele

era bonito-ficção. Bonito como num romance. Mas não o macho alfa perfeito

(bilionário) ou mesmo o arquétipo de mau humorado tatuado (bilionário).

Ele era o escocês highlander, conquistador viking, o bonito, do romance

histórico, estripador de corpos, barba por fazer, um leão lutador, eremita, atire-a

por cima do ombro e saqueie seus bens. Ele era assustador e de desfalecer. Eu

queria trançar sua barba. Eu também queria fugir.

Mas sua menos lisonjeira expressão foi só o tapa de realidade que eu

precisava para impulsionar-me do estupor. Finalmente vi além da minha reação


inicial atordoada por sua beleza áspera, e minha raiva ferveu novamente.

Lembrei-me que era seis e qualquer coisa da manhã e este espécime masculino

era à razão pela qual estava acordada.

Bonito ou não, isso não importava. Eu decidi que era um idiota.

Dei-lhe meu melhor olhar de não vale meu tempo, mesmo que lutasse

contra um atrasado corar de vergonha. Não tinha certeza se estava com vergonha

porque apertei seu mamilo, porque tentei acariciá-lo, ou estava constrangida

porque ele obviamente me achou repugnante.

Realmente, eu o tinha cobiçado. Então, no meio de meu olhar, ele me

olhou feio.

Suprimindo as meditações desconexas e perturbadoras, virei-me para

Jethro.

— Desculpe-me por ter mutilado seu amigo, mas, por favor, diga. —

Indiquei o estranho barbudo com um polegar por cima do ombro. — Para parar

de acelerar o motor às 06:14 da manhã, senão vou remover os fios de ignição

deste carro e trancá-los fora de casa.

Jethro suspirou, mas ainda estava sorrindo. Agora que pensava sobre

isso, ele estava sorrindo muito, o que não era típico.

— Vamos lá, Ash. Temos que estar no trabalho daqui a duas horas. Nos

de uma folga.

Pisquei e brevemente considerei que poderia estar sonhando.

— Você tem um emprego?

O sorriso do Jethro desapareceu, ficando irritado.

— Sim. Tenho um emprego, irmã mais nova.


Senti a linha da minha boca suavizar e a parte de trás do pescoço

aqueceu com renovado embaraço. Tinha saído há muito tempo, e não tinha desejo

de insultar ou machucar ninguém, muito menos meu irmão. Ele nunca mostrou

qualquer preocupação enquanto eu crescia, mas ainda era meu irmão.

Billy mostrou sua cabeça em torno do capô e olhou para mim. Apesar de

que eu ser mais jovem que os dois, fui sempre a criança responsável da ninhada

de sete Winston, quando estávamos crescendo, e a única garota. Meus irmãos

sempre me viram paradoxalmente como uma figura de autoridade e capacho.

Imaginei que era similar ao que viam na minha mãe.

Lutei com a inquietude que ainda me assombrava da tempestade

mamilo puxado e adotei uma abordagem mais calma.

— Olha, meu vôo só chegou as duas da manhã e tive menos de três

horas de sono. Devo estar no hospital em Knoxville às 11 horas para descobrir o

que está acontecendo com minha mãe. — Suspirei e pus as mãos na cintura. — Só

preciso dormir um pouco.

— Bethany está no hospital? — Esta pergunta veio do estranho. Minhas

costas enrijeceram com o uso do primeiro nome da minha mãe.

Billy andou para o lado do carro e inclinou-se contra ele.

— Quando vim para casa dois dias atrás, ela tinha deixado um bilhete.

— Que tipo de bilhete? — O viking perguntou. Não queria notar... Mas

tinha uma deliciosa voz gutural e autoritária.

Estúpida voz de comando texana, viking, gutural.

— Ela disse que estava doente e teve que ir para o hospital. — Explicou

Billy.
Minha garganta apertou, os olhos fixaram o chão de cimento da

garagem. Eu suprimi a onda de pânico. Lembrei-me que não estive em casa há

um tempo, e talvez ela estivesse doente com gripe ou só precisava de férias da

loucura que era viver com meus irmãos. Talvez ela estivesse completamente bem.

— Não sabia que ela estava doente. — O homem loiro disse, ficando ao

meu lado, meu ombro em seus bíceps.

Na visão periférica, notei que ele tinha cruzado os braços no peito

esculpido, a mão direita cobrindo o mamilo esquerdo.

— Ninguém sabia. — Billy disse, olhando direto para mim. —Nem

mesmo Ash. — Acrescentou, um pouco sarcástico.

— Por que não me disse? O que exatamente aconteceu? — Um ar

inconfundível de privilégio e autoridade emanava pesadamente do estranho. —

Comece do início. — Ele exigiu.

Uma crescente dor de frustração começou na base do meu pescoço. Este

homem, este desconhecido, parecia que tinha o direito, como se devesse ser

mantido informado sobre o que acontecia com minha mãe.

Talvez fosse minha falta de sono. Talvez tenha sido o stress de não saber

o que estava acontecendo. Talvez fosse porque o sentido de direito deste homem

lembrou-me de cada médico ignorante da Ivy-league, que tinha que suportar em

meu trabalho em Chicago, mas não tinha paciência para este gigante, apesar de

sua beleza colossal e o fato de que o tinha agredido e abusado de seu mamilo.

Olhei para a barba desleixada e cabelo loiro comprido, ambos os quais

agora me incomodavam, então desloquei meu olhar para os olhos de prata.

— Por que isso é da sua conta? E quem diabos é você?


Sr. Barba Loira considerou-me com impaciência, como se eu fosse um

chiclete no sapato dele. Devolvi o olhar malicioso, como se ele fosse o chiclete no

meu cabelo.

Ouvi Jethro limpar a garganta e vi pelo canto do olho que ele fez um

gesto para o estranho com um pano gorduroso.

— Ash, este é Drew Runous. Meu chefe.

— Prazer em conhecê-la, Srta. Winston. — Ele falou lentamente,

estendendo a mão como um irônico espetáculo de educação do Sul, como

senhoras idosas da igreja dizem, abençoe seu coração, e o que realmente querem

dizer é, não encontraria uma maneira de sair de uma pequena cabana, nem com

um mapa, sinais iluminados e uma escolta.

Mas seu rosto não continha nenhuma satisfação. Na verdade, ele parecia

positivamente ofendido pela audácia da minha existência.

— Da mesma forma, tenho certeza. — Ignorei sua mão estendida,

retornei a polidez irônica do Sul com meu próprio cinismo.

Quando deixei o Tennessee há oito anos, o “trabalho” de Jethro era

vender maconha para adolescentes de férias, e em seguida, roubar seus carros.

Adivinhei que esta caixa de ferramentas loira arrogante estava provavelmente

num negócio semelhante.

Eu continuei.

— Não obstante, seu relacionamento profissional com meu irmão, estou

certa que mesmo alguém como você pode reconhecer que este é um assunto

pessoal e não é, francamente, parte dos seus negócios.

Não esperando a reação dele, me virei para Jethro.


— Acelere tudo o que quiser. Vou me vestir e ir ao hospital para ver o

que posso descobrir.

Saí da garagem com a cabeça erguida e fiz meu melhor para ignorar o

fato de que senti os olhos de Drew, certo e quente como uma marca, nas minhas

costas. Isto foi acompanhado pelo inevitável e crescente calor no meu peito

associado com a consciência de que uma montanha super quente de homem me

observava sair.

Decidi ignorar o conhecimento que minha despedida apressada e

arrogante era provavelmente pelo fato de que estava saindo irritada, enquanto

vestia nada mais que meu pijama e shorts. Também minando minha

superioridade estava o fato de que só tinha atacado o peito dele e depois o

acariciado. Tinha mesmo o cobiçado, e ele respondeu com repulsa.

Então... Sim, não tinha muito vento na minha triste pipa.

Assim que voltei para casa me inclinei contra a porta atrás de mim e

soltei uma lenta respiração. Minhas mãos fechadas ao lado, então as sacudi,

flexionando os dedos e enviando uma oração silenciosa para que tudo o que

estivesse acontecendo com minha mãe fosse resolvido antes de ser tarde demais.

Subi os degraus, dois de cada vez, segurando o corrimão para equilíbrio

e fui ao banheiro de cima.

Não tinha nenhum desejo para quaisquer interações com carrascos

vikings, especialmente quando o saqueador era tão bonito que quase eclipsou sua

arrogância.

Esses eram os pensamentos na minha cabeça quando abri a porta do

banheiro e, para meu horror perpétuo, vi Beauford Winston, pelo menos acho que

era Beauford, embora possa ter sido Duane, o outro gêmeo, em pé na borda da
banheira. Ele estava nu, exceto pela barba gengibre, uma revista pornográfica,

apoiada no balcão e a mão dele enrolada no Beau Jr.

Eu gritei.

Ele gritou.

Minhas mãos voaram para o rosto.

Ele amaldiçoou.

Ouvi um baque e virei as costas para ele. Eu agora estava totalmente e

completamente acordada.

— Merda, Ash. Que merda veio fazer aqui?

— Desculpe, desculpe, desculpe, eu devia ter batido.

— Não... — Ele bufou. — Eu deveria ter trancado a porta. É que todo

mundo sabe que as manhãs de terça-feira são minha abertura de tempo.

— Sua abertura? O quê é sua abertura de tempo?

— Meu tempo na banheira, você sabe, para continuar minha massagem.

— Gah! — Balancei a cabeça e apertei as mãos nos olhos.

— Te dou uma cópia do horário.

Ouvi a porta da frente abrir e passos trovejarem através da casa, em

seguida, subindo as escadas.

— Não! Não me dê um horário. Não quero saber. Só, não é possível

colocar uma meia na porta ou algo assim?

— Isso é o que costumávamos fazer, mas depois continuávamos perder

as meias. É bom revê-la, Ash.

— Uh, você também...? — Tirei as mãos do rosto e fui para a porta. —

Vou apenas te dar privacidade.


Minha fuga foi bloqueada pelas feições preocupadas de três homens

suados e sem camisa, Jethro, Billy e Drew Runous.

Fechei meus olhos e cobri o rosto novamente. Considerei seriamente

rastejar para o armário debaixo da pia do banheiro, um dos meus lugares

preferidos para me esconder da tortura dos meus irmãos, quando era criança.

Perguntava-me se ainda caberia.

— Mas que diabos? — A exclamação expirada de Jethro chegou aos

meus ouvidos, e sufoquei um gemido.

— Você está bem? — Billy perguntou. Senti um pequeno e hesitante

toque no meu ombro. — Nós ouvimos gritos.

Balancei a cabeça.

— Sim. Tudo bem. Só preciso aprender a bater.

— Quem gritou? — Drew exigiu.

— Eu. — Disse, interiormente fazendo careta.

— Ouvimos dois gritos. — Jethro contrariou. — Gritou duas vezes?

— Eu não gritei. Eu... Berrei. — Beauford disse.

— Não foi um berro. Agora foi um berro. Você gritou como uma

menina. — Billy disse como se falasse para um júri.

— Que seja, gritou, berrou, quem se importa. Eu deveria ter trancado a

porta. — O tom descontraído de Beauford fez-me sentir um pouco melhor. Não

lembro dele ser tão simpático. Então ele disse. — Oh, Olá, Drew. Não te vi aí.

— Ei, Beau.

— O que aconteceu com seu peito? — Perguntou Beau.

Desejei ter a capacidade de desaparecer, especialmente quando Drew

respondeu.
— Uma mulher não podia tirar as mãos de mim. O que está acontecendo

aqui?

Beau não respondeu. O quarto foi coberto por um breve silêncio

enquanto tinha certeza que entendimento começou a despontar. Jethro foi o único

a quebrar a compreensão silenciosa sem parecer estranho.

— Uh. — Ele limpou a garganta.

— As manhãs de terça-feira são a abertura de tempo de Beau.

— Sei disso agora. — Mas dei uma olhada neles por entre meus dedos.

— Só vou bater de agora em diante.

— Quer o cronograma? Temos uma agenda. — A oferta de Billy foi

acompanhada com o polegar jogado por cima do ombro, presumivelmente

apontando na direção de onde a programação estava.

— Não, estou bem. Só vou bater.

O som do riso mal reprimido puxou meus olhos para onde Drew estava

no corredor.

Seus lábios estavam comprimidos, enrolados entre os dentes, os grandes

ombros tremiam e ele olhou para o chão como se sua vida estivesse em risco.

Minha mortificação virou abruptamente irritação e, em seguida, fúria.

Drew Runous e meus irmãos provavelmente me olharam e viram a irmãzinha

crédula, que eu costumava ser, para não mencionar a rainha da beleza sonhadora

que era no colegial. Mas agora era mais que o acidente da minha genética, mais

que o rosto e corpo que tinha herdado de meus pais, mais que meu sotaque

caipira do Tennessee.

Eu não era mais aquela pessoa. Trabalhei oito anos para mudar e

melhorar. Tornei-me alguém nova, alguém mais forte, armada com o feroz
conhecimento. Eu era alguém que podia enfrentar qualquer situação, seja uma

discussão sobre arte pós-modernismo ou japonesa como uma influência de Van

Gogh, debatendo com um graduado de Harvard MD quando discordei de um

rumo de tratamento para um dos meus pacientes, ou em pé frente a quatro

masturbadores barbudos (obcecados com horários, não menos) no banheiro da

casa da minha mãe.

Na verdade, eu era completamente diferente. Eu era uma nova pessoa

totalmente.

— Espere. — Disse, com minhas mãos caindo do meu rosto, minha

espinha endireitando. — Pegarei o horário.

Billy olhou por cima do ombro para Beau então atirou um olhar para

Jethro.

— Oh, ok. Eu vou buscar.

— De fato. — Cruzei meus braços e fiz cara feia para o persistente

sorriso divertido do Viking Drew. — Que dias estão livres?

Outro silêncio desceu, e notei com satisfação que o sorriso maroto caiu e

seus olhos fixaram nos meus. Eles me examinavam e queimavam. Eu sabia, sem

sombra de dúvida, que ele estava imaginando-me no banheiro nua, sozinha, me

massageando, como Beau disse. Estava escrito na cara bonita.

Curiosamente, dado nosso encontro anterior, ele não parecia repelido

pelo pensamento. Talvez fosse só um pervertido em igualdades de oportunidade.

Recusei-me a corar. Recusei-me que aparecesse um pingo de vergonha.

Porque ele estava me encarando, olhando para meu peito, em seguida quadris,

então coxas, como se compelido a tomar notas mentais. Os olhos eram quentes e

um pouco fora de foco e, irritantemente foi o suficiente, me fazendo sentir quente


e fora de foco. Não conseguia parar o trovão do meu coração, a torção repentina

no abdômen ou o formigamento na parte de trás do meu pescoço. Era tudo o que

poderia fazer para esconder todos os efeitos exteriores que suscitaram o olhar

penetrante.

Em vez disso, assim que Drew olhou diretamente para mim, deslizei os

olhos sobre Billy, que estava me olhando como se eu fosse um gambá de três

cabeças.

— Uh, o quê? — Billy perguntou.

— Que dias estão livres na agenda?

Billy piscou para mim e a voz rachou um pouco quando respondeu.

— Acho que aos domingos e quartas-feiras, desde que Roscoe se mudou.

Mas provavelmente não quer às quartas.

— Por que não?

— Porque é geralmente quando as novas revistas aparecem no correio.

Lutei contra o desejo de fazer uma careta. Em vez disso, assenti e dei-lhe

um sorriso calado.

— Bom. Coloque-me aos domingos. Não há nenhum serviço postal

neles.

Beau gemeu, e transformou o gemido num som dramático de engasgos.

— Coisas que nunca precisava saber sobre minha irmã.

Com isso, fui pelo corredor para meu quarto, incisivamente não olhando

para a manifestação física de todos os heróis sarados que já tinha lido. Como

antes, senti o peso e o calor do seu olhar no meu traseiro.

Uma vez dentro, porta fechada e trancada, me atirei na cama. Desejei o

formigamento de calor e torção, parasse.


Fiz três notas mentais:

Um: Sempre bater em cada porta, de cada quarto, a cada vez. Arrastar os

pés e bater panelas pelos corredores. Esta não é uma casa para que ser ninja.

Dois: Nunca ficar a sós com Drew Runous.

Três: Fazer tudo ao meu alcance para partir antes de domingo.


CAPÍTULO 2

“A única verdadeira sabedoria está em saber que não sabe nada”.

― Sócrates

~Ashley~

A viagem de carro da casa da minha mãe para Knoxville levou menos

de uma hora. A lucidez só foi possível pelo grande triplo americano que comprei

no Starbucks a caminho da cidade.

É realmente verdade o que dizem sobre Starbucks. Minha cidade natal

ainda não tinha um cinema com cadeiras, um restaurante italiano, um OBGYN ou

uma Target, mas tinham Starbucks. Achei que era porque Green Valley estava

bem ao lado do Parque Nacional Great Smoky Mountains. Nossas duas principais

atividades eram madeireiras e turismo, e os turistas da cidade grande precisavam

de café.

Quando cheguei a Knoxville, parei num supermercado e peguei flores e

dois balões de melhoras com gatinhos. Sabia com base em vários anos de

experiência como enfermeira de UTI pediátrica em Chicago que a menos que

minha mãe quisesse falar comigo, ficar perto dela ou dos médicos ia ser difícil. As
flores e balões me dariam credibilidade, mas os gatinhos iriam me fazer entrar.

Todo mundo adorava gatinhos.

Estacionei o carro alugado no lugar do visitante e fui para a entrada

principal, flores e balões na mão. Uma vez dentro, fui ao balcão de informações,

eu esperava que fosse dirigido por voluntários, que tendem a ser facilmente

confundidos por coisas irritantes como HIPAA (leis da privacidade).

— Olá, Joan. — Disse com um sorriso quente para a mulher idosa atrás

da mesa, o crachá estava colocado proeminentemente, graças a Deus. — Estou

aqui para ver minha mãe. Voei ontem à noite, e não sei onde vou.

Ela retornou meu sorriso.

— Qual é seu nome, querida?

— Bethany Winston. Data de admissão foi há dois dias, se ajuda. —

Minha garganta pareceu apertada com antecipação.

Jethro, Billy e os gêmeos (Beauford e Duane) tinham tentado vê-la e

falharam, ao longo dos últimos dias. Eles disseram, que ela não queria ver

qualquer família e tinha restringido o acesso aos registros. Isso me pareceu um

tanto estranho, mas não fora das possibilidades.

Apesar de cansada, comecei a formar um plano B, caso me fosse negada

a informação sobre a localização da minha mãe.

Plano C envolvia ir de quarto em quarto. Plano D envolvia me vestir e

registar no registro médico eletrônico do hospital. Plano E envolvia o alarme de

incêndio.

Joan olhou para cima da tela, o sorriso ainda amigável, embora não tão

amplo.

— Você é filha dela?


— Sim. — Consegui dizer, acenar enfaticamente e segurei minha

respiração, esperava que o plano A fosse suficiente.

— Tem identificação?

Assenti com a cabeça novamente, pousei as flores em cima do balcão

junto com os balões e cavei ao redor da bolsa pela identidade. Entreguei a ela e

esperei, procurando no seu rosto pistas sobre como bem sucedida seria.

Olhou minha identificação, então a tela, então meu rosto, então a tela,

então minha identificação, então meu rosto.

Ela devolveu a identificação.

— O registro da sua mãe foi sinalizado. Há uma nota que ela não deve

receber visitas além de você. Vou informar o médico, mas pode demorar um

pouco.

Soltei a respiração que tinha prendido.

— Ok, obrigado. Fantástico. Posso subir?

— Sim. Ela está no quarto andar. Precisará pegar aqueles elevadores. —

Ela apontou ao virar da esquina. — Check-in no posto. Eles vão querer ver sua

identificação também.

Agradeci-lhe e coloquei minha carteira de motorista no bolso, as minhas

mãos tremendo um pouco.

No caminho até o elevador, não pude deixar de sentir que estava tudo

muito, muito errado. Sabia que era uma prática comum sinalizar os registros dos

pacientes, especialmente para afastar indesejados membros da família ou a mídia.

Mas a decisão da minha mãe em restringir o acesso a seus registros fez tocar uma

campainha.
Meus irmãos moravam com minha mãe. Ela cuidava deles. Até Jethro, o

mais velho, agora com trinta e dois, ainda vivia em casa.

Brevemente considerei que ela poderia estar envergonhada. Talvez

quisesse manter em segredo o diagnóstico porque não queria admitir fraqueza na

frente dos meninos Winston. Eu não a culpava. Os homens Winston eram

famosos por explorar a fraqueza.

Eu sabia que ela os adorava, mas eles a levavam à loucura. Quando

morava em casa, eles, como um grupo, tinham uma tendência a entrar em pânico

quando confrontados com fatos ou a realidade, eram felizes com suas cabeças

enterradas na areia. Até que os fatos lhes fossem apresentados, eram como porcos

desavisados antes do jantar de Páscoa, sujos e bem alimentados.

Verifiquei a estação das enfermeiras no quarto andar e recebi uma

inspeção semelhante. Desta vez, no entanto, quando a enfermeira ouviu meu

sobrenome, o sorriso caiu e vi pena na expressão.

— Ela está no 404, querida. — Ela disse, entregando minha identificação

e olhando os balões de gatinho. A voz era hesitante quando acrescentou. — Já

conversou com o médico?

Eu balancei a cabeça, minhas mãos tremendo.

— Não. Ainda não.

A enfermeira deu-me um sorriso.

— Sua mãe está dormindo agora. Se quiser ir ficar com ela até o Dr.

Gonzalez chegar, você pode. — O tom estava cheio de compaixão.

— Pode me dizer alguma coisa? — Sem esperar por uma resposta,

adicionei. — Porque foi ela hospitalizada?

A enfermeira me estudou por um minuto, mas não disse nada.


— Sou enfermeira pediátrica em Chicago. — Disse. — Pode falar direto

comigo.

O sorriso dela voltou.

— Eu sei, querida. Sua mãe me contou tudo sobre você. Mas o doutor

quer falar primeiro.

Olhei para ela por um momento, a compaixão, a simpatia, o segredo, e

eu soube.

Este era o clássico modus operandi para doentes terminais. Enfermeiras

nunca informavam as famílias. Sempre era o médico, e sempre feito em pessoa.

Meus olhos arderam e senti meu queixo tremer mesmo enquanto

bravamente assenti.

— Ok. — Consegui resmungar, e olhei para o teto, piscando. Minha

cabeça ficou sobrecarregada e o coração partido, e eu ainda segurava dois balões

com gatinhos e Melhoras rápidas.

— Ah, querida... — A enfermeira se levantou, caminhou ao redor do

balcão e envolveu os braços ao meu redor. — Querida, querida, querida... — Seu

corpo mole foi uma grande almofada de calor enquanto ela esfregava minhas

costas. Eu funguei, lutei contra as lágrimas. Ainda não, pensei, não até que esteja

sozinha e possa quebrar algo que faça um som estrondoso muito gratificante, como pratos.

— Venha comigo, luz do sol. — Ela se moveu para que o braço estivesse

enrolado em volta dos meus ombros. — Vou te levar para sua mãe. Fique com ela

até o médico chegar, ok?

Concordei apaticamente, permitindo que a enfermeira mais velha me

dirigisse para o quarto da minha mãe. Ela abriu a porta e me levou para um lugar
ao lado da cama. A luz solar entrava através das cortinas abertas, mas ainda era

um quarto de hospital. Não havia nada de notável além da ocupante.

Olhei minha mãe. Seus olhos estavam fechados. A cor de pele estava ok,

não é muito, mas não era cinza, ela parecia muito magra, quase frágil. Minha mãe

nunca foi magra na vida. Ela tinha sido abençoada com mais seios e quadris do

que inteligência, e tinha um monte de inteligência.

Com 1,80m, eu me elevava sobre sua figura de 1,52m. Embora tivesse

herdado seus seios e quadris, minhas pernas e tronco maiores considerando que

ela sempre pareceu uma ampulheta curvilínea e compacta.

O cabelo dela estava acinzentado. A última vez que a vi ainda tinha o

cabelo marrom. Meu cérebro informou-me que foi há dois anos. Minha mãe

sempre parecia jovem para mim. Ela teve Jethro aos dezesseis anos, Billy aos

dezessete, Cletus aos dezoito e eu aos vinte anos. Os gêmeos vieram dois anos

depois e Roscoe, o mais novo, chegou aproximadamente dois anos depois disso.

Sete filhos antes dos vinte e cinco e seis deles, rapazes.

Agora, magra e grisalha, ela parecia mais velha que os quarenta e sete

anos. Ela parecia idosa, como se todo o stress, preocupação e dificuldade que teve

que lidar para criar uma família de sete e suportar meu pai caloteiro finalmente

tivessem a atingido.

Conforme a instrução sentei-me na cadeira ao lado da cama. A

enfermeira me tranquilizou mais uma vez que chamaria o médico, e então me

deixou sozinha.

Não conseguia me concentrar em nada. Não sei quanto tempo fiquei

olhando ao redor da sala, a olhar para o nada, incapaz de formar um pensamento

completo. Talvez uma hora, talvez mais.


Imagens e sons da minha infância, de seu cuidado e amor, dos nossos

telefonemas diários, algo chamou minha atenção, e minha mente se sentiu

confusa e traiçoeira.

Minha mãe se mexeu, e meu olhar foi atraído para ela assim que abriu os

olhos. Ela olhou para mim imediatamente.

— Ash... — Ela sussurrou e deu um sorriso fraco. — Seja uma querida e

me arranje algo gelado. Eu daria meus dentes por um sorvete.

A olhei por um minuto.

Sorvete, eu podia arranjar sorvete. Isso era algo que podia fazer. Porque

em nenhuma circunstância estava pronta para falar sobre a morte dela. Em vez

disso, iria buscar o sorvete.

— Rocky Road? — Perguntei calmamente.

— Se puder encontrá-lo, embora eu não seja exigente.

Acenei com a cabeça e fiquei de pé, me movi para a porta.

— Querida. — Ela chamou. Virei-me e encontrei seus olhos cheios de

diversão. — Pode deixar as flores e balões aqui. Não há necessidade de levá-los.

Olhei de relance para os balões e flores que ainda segurava nas mãos.

— Oh. — Os coloquei na cadeira onde estivera sentada.

Tinha quase chegado à porta quando ela me chamou de volta.

— Ashley, mais uma coisa. Isto é muito importante. — A urgência que

ouvi na voz dela fez minha frequência cardíaca aumentar e os olhos arderem.

Dirigi-me a ela imediatamente e cobri sua mão com a minha.

— Qualquer coisa... Pode me dizer qualquer coisa.

Ela deu um sorriso fraco, apertou minha mão e disse:


— Isto não é uma coisa com que precisa se preocupar ainda. Mas

quando chegar a hora deve usar o creme para hemorroidas e remover as bolsas

sob os olhos.

***

Encontrei o Dr. Gonzalez quando voltava do refeitório, com o sorvete,

Rocky Road, da minha mãe contra o peito. Ele me levou para uma sala de

consulta e deu a notícia que já tinha adivinhado.

Minha mãe estava morrendo. Ela tinha câncer cervical. Estava na fase

quatro. Tinha se espalhado por todo lado. Ele deu a ela seis semanas.

Os cuidados paliativos tinham sido chamados, e estavam a caminho.

Ela tinha ignorado ou confundindo os sintomas com menopausa. Ele

disse que ela provavelmente tinha sintomas há mais de um ano. Não fiquei

surpresa que tenha desconsiderado a própria dor. Sua generosidade era a maior

força e o mais irritante pecado.

Quando tinha 16 anos, andou com um pé quebrado por duas semanas.

Ela finalmente foi ao médico quando a algemei ao caminhão de Billy e levei-a

para a sala de emergência.

Após o bate-papo com Dr. Gonzalez, entreguei o sorvete para minha

mãe. Não muito tempo depois, a assistente social dos cuidados paliativos chegou

e falou com nós duas. Toda a experiência foi surreal.

Minha mãe comeu e acenou de vez em quando.

— Agora, não quero que ninguém se preocupe comigo.


Eu poderia apenas olhar para ela. Faltaram-me palavras. Pensamentos e

habilidades motoras também estavam falhando.

Foi decidido que ela teria alta amanhã e iria para casa. Iria nos ser

atribuída uma enfermeira de dia e outra de noite que iriam ajudar nos cuidados

que necessitaria, durante as próximas seis semanas ou algo assim.

Seis semanas.

Fiquei o resto do dia. Conversamos sobre meu trabalho, seus amigos e

colegas de trabalho na biblioteca. Ela me pediu para dar primeiro a notícia a chefe

dela, Sra. Macintyre. Minha mãe estava confiante que a Sra. Macintyre saberia o

que fazer com o resto do pessoal.

Sai do hospital por volta das 21:30 pm me sentindo exausta e vazia. Meu

cérebro sussurrou para mim enquanto caminhava até o carro que a única coisa

que tinha consumido naquele dia foi um triplo-grande Americano às 07:00 am.

Eu não estava com fome, no entanto. Pelo contrário, não estava completa

nem saciada.

Escorreguei no banco do motorista e olhei para fora do para-brisa sem

ver nada e fui retirada do meu transe pelo som do celular tocando. Dei uma

olhadela na identificação na tela. Era minha amiga Sandra, minha melhor amiga,

Sandra.

Alívio e uma sensação palpável que não poderia nomear tomaram meu

corpo, uma dor tão afiada que fiquei boquiaberta. Parecia que as paredes de vidro

que tinham me cercado o dia todo finalmente quebraram. De repente eu estava

respirando, e o ar que encheu meus pulmões machucou. A foto de rosto

sorridente de Sandra no meu telefone ficou embaçada, ou melhor, minha visão


embaçou porque eu estava chorando. Passei o polegar através da tela e trouxe o

telefone ao ouvido.

— Alô?

— Ashley! Graças a Deus, você respondeu. Marie e eu precisamos de

você para resolver uma discussão. O que é pior: não ter fio suficiente para

terminar uma camisa ou descobrir que o fio que usou para a camisola era

etiquetado como Caxemira, mas é realmente 100% acrílico?

Meu cérebro me disse que era terça-feira, o que significava que em

Chicago, onde vivia e trabalhava e tinha uma vida boa, lendo livros e curtindo

meus amigos, era noite do grupo de tricô. Sandra, uma psiquiatra pediátrica com

coração de ouro pervertido, estava no meu grupo de tricô, assim como Marie.

— Sandra... — Minha voz quebrou, e descansei a cabeça contra o

volante, lágrimas caindo confusas e quentes no meu pescoço, nariz e bochechas.

— Oh! Oh, minha querida... — A voz de Sandra surgiu do outro lado,

séria e alarmada. — O que está acontecendo? Você está bem? O que aconteceu?

Quem te fez chorar? Preciso matar alguém? Diga-me o que fazer.

Eu funguei e fechei os olhos contra a nova onda de lágrimas.

— É minha mãe. — Pressionei meus lábios juntos num esforço para

controlar a voz, então respirei instável e disse. — Ela está morrendo.

— Sua mãe está morrendo?

— Eles chamaram os cuidados paliativos. Ela tem estágio 4 de câncer

cervical. Espalhou-se por tudo. Ela tem seis semanas... — Eu soluçava, quase

largando o telefone e balançando a cabeça contra a nova investida de lágrimas.

A outra extremidade ficou tranquila por uma batida.

— Ok... Onde está? Posso estar aí amanhã.


Eu balancei a cabeça.

— Não. — Funguei e limpei o nariz com a mão, em seguida, respirei

fundo. — Não, não. Não faça isso. Eu só... Precisava contar para alguém. Estou

saindo do hospital agora.

— Está em Knoxville?

— Sandra... — Cobri os olhos com a mão e suspirei. — Você não está

voando para cá.

— Sim. Estou voando para aí.

— E eu também! — Ouvi a voz de Elizabeth, do outro lado. Elizabeth

estava também no meu grupo de tricô e era médica do departamento de

emergência. Ela trabalhava com Sandra e eu no hospital em Chicago.

Sua ameaça de voar até o Tennessee me acalmou, e respirei fundo várias

vezes para me acalmar antes de responder.

— Ela está no hospital em Knoxville. Estão a liberando para os cuidados

paliativos em casa amanhã. — As inteirei com o resto dos fatos envolvendo a

internação repentina de minha mãe, como não contou a ninguém que estava

doente, como tinha ignorado os sinais e sintomas até que fosse tarde demais.

Recitar os detalhes me acalmou. Quando terminei, as lágrimas tinham diminuído.

— Querida. — A voz incrivelmente gentil e simpática de Sandra me

acalmou do outro lado da linha.

— Diga que comprei os bilhetes. — Elizabeth disse ao fundo. —Partimos

amanhã de manhã.

Uma risada descrente caiu dos meus lábios.

— Vocês não pode largar tudo e correr para cá.


— Sim, podemos. Vamos vê-la amanhã. — Ouvi Sandra dizer. — Quero

o assento do corredor. — O som abafado, como se tivesse coberto o telefone com a

mão.

Ouvi um barulho e então a voz de Elizabeth no meu ouvido. Ela

obviamente tinha tomado posse do telefone de Sandra.

— Querida, ouça. Sandra e eu estaremos aí amanhã. Apenas envie uma

mensagem para Sandra com seu endereço. Não se preocupe com nada. Vamos

ficar num hotel e a ajudar a acomodar sua mãe. Pra aonde vai agora? Tem alguém

aí com você? Um dos seus irmãos?

— Não. Estou no caminho de volta para casa para contar as novidades.

Elizabeth desaprovou suavemente.

— Oh, minha querida amiga, quem me dera que já estivéssemos aí. Nós

nos aconchegaríamos num abraço e ficaríamos bêbadas.

— Eu queria que estivessem aqui. — Admiti grata que havia pessoas no

mundo que me amavam. Não tive forças para argumentar contra a generosa

oferta, então simplesmente disse. — Obrigada.

— Não há necessidade para agradecimentos. Vamos vê-la em breve.

Concordei e meus olhos começaram a chorar novamente assim que

desliguei a chamada, mas afastei a umidade. Eu precisava me recompor.

Precisava contar a seis rapazes que sua mãe estava morrendo, e não tinha ideia de

como iam aceitar a notícia.

Depois de oito anos de pouco contato, meus irmãos eram basicamente

estranhos.
CAPÍTULO 3

“A morte é um assunto muito chato, triste, e o meu conselho pra você é não ter

nada haver com ela”.

― W. Somerset Maugham

~Ashley~

Imagino que isso foi o que Branca de Neve deve ter sentido quando

acordou na presença dos sete anões.

Sete barbas pairando.

Sete pares de olhos desnorteados.

Sete expressões inquisidoras, meio desconfiadas, meio satisfeitas.

O desmaio foi culpa minha.

Dirigi para casa num torpor. Fui até a varanda da frente.

Jethro saiu de casa, seguido por vários outros. Olhei por cima de seu

ombro.

O mundo ficou preto.

Eu devia saber. Eu era enfermeira pelo amor de Deus! Duas horas de

sono, sem comida, níveis intensos de estresse. Não é de se admirar que

desmaiasse.
Tive sorte de ter chegado em casa sem bater o carro. Nunca antes estive

numa posição de me esquecer de comer.

Agora estava deitada no sofá na casa da minha mãe, rodeada por um

mar de barbas. Os ouvia falar em confusão.

As expressões dos meus irmãos eram de diferentes graus de ansiedade e

curiosidade. Finalmente, meus olhos se fixaram sobre o olhar azul prateado de

um estranho. Meu cérebro me disse que o nome do estranho era Drew Runous,

que era um lord highlander, viking ladrão, e que no início do dia tinha

mentalmente me imaginado me masturbando.

Drew estava sentado ao lado de onde eu estava deitada no sofá,

inclinando-se sobre mim, um braço apoiado ao lado e a mão na minha testa.

Foi quando a confusão na minha cabeça começou a recuar.

— O que faz aqui? — Perguntei meio grogue, colocando minha mão na

testa enquanto sentava direito.

— Não faça isso. — Ele empurrou meus ombros de volta para o sofá. A

mão na minha testa foi para meu pulso, o dedo indicador e médio pressionando

contra a pulsação. — Você desmaiou. Precisa ir devagar.

— Escute, Ash. Ele é um doutor. — Reconheci a voz do meu terceiro

irmão. Me virei para ver Cletus doce e diferente, ele retirou um fio de cabelo do

meu rosto e me olhou bondosamente.

— É bom ver você, querida irmã.

Dei-lhe um pequeno sorriso. Não o via há oito anos. Uma inesperada

onda de nostalgia me inundou. Ignorei as lágrimas ardendo nos meus olhos e

respondi.

— Você também, irmão mais velho.


— Não sou esse tipo de doutor. — Drew disse em voz baixa, e minha

atenção se voltou para ele.

— O quê?

O rosto severo e o olhar cinza-azulado focou em mim.

— Não sou médico.

Eu pisquei para ele e seus olhos sedutores.

— Ok...

— Mas disse que era um doutor. — Cletus olhou entre ele e Jethro.

— Ele é um doutor, só não esse tipo. — Jethro, enfiou a mão no ombro

do Cletus e falou baixinho.

— O quê? — Cletus pediu.

— Ele é doutor em filosofia. É como ser um especialista em alguma

coisa. Ele não faz às coisas médicas.

— Sei o que é um doutor de filosofia. — Cletus murmurou.

— Bem, você sabe o que é um doutor em filosofia. — Billy disse a Cletus,

mas o olhar estava fixo em mim. — O que se passa com você, Ash? Está doente?

Você viu minha mãe?

Olhei de Billy para Cletus,Jethro, e repassei os eventos do dia, os balões

de melhoras rápidas, a compassiva enfermeira do hospital, o sorvete Rocky Road, a

conversa com a assistente social, tudo caiu sobre mim. Senti que estava sendo

sugada por um aspirador. O mundo estava me comendo e gritando, ao mesmo

tempo. Ofeguei, fechei os olhos contra o ataque e apertei a mão contra minha

testa.

— Porcaria...
— O que é? — A voz de Jethro estava mais perto. — O que aconteceu no

hospital?

Respirei profundamente, segurando o ar nos pulmões. Quando tinha

certeza de que não choraria, soltei o ar e abri os olhos. Eles encontraram primeiro

Drew. Inexplicavelmente, talvez porque ele não era da família e minha antipatia

por ele ainda continuava, descobri que as palavras não me estrangularam

enquanto falava.

— Vi mamãe. — Eu disse. — E falei com o médico dela. Ela tem câncer.

É muito ruim.

Um silêncio atordoado caiu sobre o quarto como flutuantes flocos de

neve cobrindo o campo. Era um silêncio suave, reverente e o ar parecia frio e

vazio. Não vi as reações dos meus irmãos porque minha atenção estava sobre o

estranho ainda pairando sobre mim.

A mão de Drew agarrou meu pulso mais forte, e os olhos se inflamaram

com uma emoção que não tinha energia suficiente para decifrar. Eu ignorei tudo

isso... E continuei a tratá-lo como se fosse a única pessoa na sala.

— O médico vai mandá-la para casa amanhã com cuidados paliativos.

Ele diz que ela tem mais ou menos seis semanas...

— Seis semanas...? — A voz de Jethro rompeu meu transe auto imposto,

e minha atenção voltou para ele. Ele virou-se e caminhou até a poltrona. Ele

sentou-se pesadamente, os cotovelos sobre os joelhos, a cabeça nas mãos. — Seis

semanas.

Dei uma olhadela nos outros meninos Winston. Eles pareciam

igualmente chocados e consternados, e meu olhar ficou preso no meu irmão


caçula, Roscoe. A última vez que o tinha visto em pessoa ele tinha doze anos.

Agora tinha vinte anos.

— Isso não faz sentido. — Disse ele, olhando ao redor da sala como se

procurasse respostas.

— Como ela pode ter câncer? Ela nem estava doente.

Eu não tinha nada a acrescentar, então olhei para o teto, fazendo uma

lista mental de todas as coisas que precisava fazer antes que chegasse o dia

seguinte.

— O que posso fazer para ajudar? — A voz de Drew, agora gentil e

solícita, me tirou dos pensamentos e me trouxe de volta à cena do caos calmo na

sala de estar.

Dei de ombros e minha visão embaçou novamente com lágrimas. Elas

vazaram dos cantos dos meus olhos.

— Rezar. — Disse, porque era a única coisa que qualquer um poderia

fazer.

Reconheci a frustração gravada no seu semblante, traindo o desamparo

que obviamente sentia.

No entanto, a última coisa que esperava que fizesse era que se inclinasse

para frente, segurasse meu rosto nas mãos e colocasse um macio e prolongado

beijo na minha testa, enquanto a barba pesada fazia cócegas no meu nariz.

Portanto, quando Drew o fez, estava tão surpresa que parei de chorar.

Ele recuou, as mãos ainda no meu rosto e os polegares enxugando minhas

lágrimas. Drew enfiou os dedos no meu cabelo e os afastou dos meus ombros. Em

seguida, colocou a palma da mão na minha bochecha, e disse baixinho.

— Vejo você pela manhã.


Olhei para ele confusa e não muito distante da insanidade de tristeza e

hipoglicemia, pois reconheci que Drew era um cara estranho.

— Uh, ok.

Drew me estudou, o olhar tão sério e intenso como nuvens de

tempestade. O observei e imaginei que minha expressão espelhava a de um veado

congelado olhando os faróis de um carro. Um sorriso pequeno apareceu, embora

seus olhos permanecessem solenes.

— Ash é abreviação de Ashley... — Imaginei que ele estava falando para

si mesmo, porque parecia que estava contando um segredo ou uma piada

privada.

Então... Continuava estranho.

Movi minhas mãos para onde ele continuava a segurar meu rosto, e

coloquei meus dedos em torno dos dele, muito maiores.

— É verdade. — Concordei enquanto o segurava. — Ash é a abreviação

de Ashley. É Drew a abreviação de Andrew?

Ele piscou e pareceu assustado. As mãos endureceram, e tirou-as do

meu aperto, se sentando reto por um breve momento antes de ficar em pé. Ele foi

embora rapidamente, alto como uma torre, uma grande árvore ou uma

montanha.

Drew já não olhava para mim. Na verdade, olhava para todo lado, menos

para mim. Através do meu olhar perplexo, crivado de miséria, pensei que ele

poderia ter ficado um pouco frustrado por seu comportamento anterior. Apesar

disso, dado os acontecimentos do dia, seu desconforto e estranheza tiveram

pouco impacto sobre meu estado mental.


Assisti apaticamente ele pegar um caderno de capa de couro da mesa de

café e se virar para Beauford. Ele sussurrou algo no ouvido do gémeo. Os olhos

do Beau, abriram-se em choque e emoção, olharam para mim, e ele assentiu. O

olhar de Beau deixou Drew e se moveu para Duane e depois para mim.

— Ok, irmã mais velha, vamos lá. — Beau se inclinou e me deu um

sorriso vacilante. Antes de poder compreender ele me levantou nos braços como

se eu fosse uma pluma. — Você precisa de comida e sono. Drew está cozinhando

algo bom, e estou carregando você para seu quarto.

Abri a boca para protestar, pois podia andar, mas Duane me silenciou

enquanto me levava para o quarto.

— Não se preocupe com nada. Todos estaremos aqui quando acordar.

Pode ser mandona como gosta de manhã.

Duane acendeu a luz no meu quarto e começou a alisar a cama, afofando

o travesseiro e afastando o cobertor. Beau me colocou no chão ao lado da cama e

me envolveu em seus braços grandes.

— Sentimos sua falta, Ash. — Sua voz era aguada, embora duvidasse

seriamente que ele fosse chorar.

Duane se juntou a nós e me abraçou por trás.

— Desculpe por que colocar vermes em seu macarrão com queijo. Quis

dizer isso há um longo tempo.

Então Beau disse.

— E sinto muito que costumávamos segurar você e cuspir em sua boca.

— Ugh! Que nojo, Beau. — Engasguei um pouco. — Eu tinha esquecido.

— As memórias mexeram comigo. A gravidade dos atos de tormento dos gêmeos

não era nada em comparação com a frequência. Eles tinham lançado setas para
mim diariamente, de hora em hora, sempre que eu estava em casa. Eu nunca os

tinha imaginado como particularmente adoráveis porque minhas primeiras

memórias envolveram as constantes agressões.

Tentei falar com meus irmãos enquanto estava na faculdade para formar

um vínculo fraternal num nível mais adulto. Em troca, eles apareceram no meu

dormitório chapados, se comportando como criminosos e esconderam baldes de

pés de porcos recém-abatidos nos quartos dos meus amigos. Demorou semanas

para encontrarmos todos.

Não sabia o que pensar sobre isso agora. Fiz um som de desaprovação e

ri do absurdo do momento, o pedido de desculpas por coisas que aconteceram há

anos, ainda que não fosse tão absurdo. Seu comportamento selvagem me

manteve no limbo por oito anos.

Cansada demais para falar, levantei meus braços para abraçar meus

irmãos. Ficamos juntos por vários momentos, em seguida, Beau e Duane se

afastaram. Beau segurou meu olhar, seus olhos ainda vidrados, em seguida, ele

deu um passo para trás.

— Se precisar de algo, estamos na porta ao lado.

— Isso mesmo, qualquer coisa em tudo. — Duane pôs a mão no ombro

do Beau.

— Mas pode querer bater primeiro.

Ele não quis dizer como uma piada. Foi um sóbrio aviso destinado a me

salvar da vergonha. Tarde demais.

Beau fechou os olhos, deu um sutil aceno com a cabeça e empurrou

Duane em direção à porta.

— Você é um idiota.
— O quê? O que disse? — Duane perguntou, olhando para mim e seu

irmão gêmeo.

— Continue andando, palhaço. — Os olhos de Beau se fixaram nos

meus, apologéticos e irritados, então conseguiu guiar seu irmão gêmeo o resto do

caminho, fechando a porta atrás deles.

Coloquei meu pijama e escovei o cabelo, sem pensar muita coisa, mas o

que pensava era sobre o ciclo de centrifugação em que me encontrava, e estava

me deixando tonta. Então me sentei na cama e olhei o espelho.

Tinha bolsas sob os olhos. De manhã, teria que ir à caça de creme para

hemorroidas. Ou poderia não me importar. Decidi não me importar.

Ouvi uma batida seguida por minha porta rangendo.

— Você está decente? — A voz de Jethro veio corredor.

— Sim. Entre.

Ele forçou a entrada no meu quarto, usando os cotovelos, porque suas

mãos estavam cheias. Ele segurou um prato na mão com um sanduíche de queijo

e tomate grelhado e uma xícara de chá na outra que tinha cheiro de limão,

hortelã-pimenta e bourbon.

— Comida. — Ele disse, colocando tudo na mesinha de cabeceira.

Olhei de relance para o sanduíche e o chá, mas não respondi.

— Vamos lá, agora você precisa comer. — Jethro pegou o prato e se

sentou ao meu lado. — Ordens do médico.

Meus olhos piscaram para meu irmão então para o sanduíche de queijo.

Eu peguei. Dei uma mordida. Mastiguei. Engoli.

Ele me passou o chá.

— Agora beba.
Eu pisquei para ele.

— Isto tem uísque.

— Sim, tem. Bom, uísque do Tennessee, garantido para fazer a dor ir

embora. Beba.

Fazer a dor ir embora parecia bom, então tomei um gole. Estava morno,

não quente e tinha gosto de bourbon e mel. Tomei um gole maior, em seguida, o

segui com outro pedaço do sanduíche.

— Obrigada. — Disse, o calor do álcool se espalhando da minha

garganta para o peito.

— Não me agradeça. Agradeça a Drew. Ele fez tudo.

Eu estudei Jethro por um momento, mordi mais um pedaço do

sanduíche. Pensei se queria ter essa conversa, pelo menos agora. No final, cedi à

curiosidade e à evasão em matéria de assuntos mais dolorosos.

— Então... Drew. Quem é esse cara?

— Meu chefe.

— O que ele faz?

— Ele é o diretor federal de caça neste trecho do parque.

Franzi a testa, não tinha certeza do que era um diretor de caça, então

perguntei:

— O que é isso? Como um guarda-florestal? — Segui esta questão com

outro grande gole do meu chá batizado com bourbon.

— Ah, não. Ele não é um guarda florestal. Guardas de caça são agentes

da lei. A maioria é empregada pelo Estado em que trabalham. Drew é a aplicação

da lei federal. Foi nomeado para o Great Smokies pelo grande peruca em

Washington.
Observei Jethro. Mordi, mastiguei, engoli, repeti. Pensei sobre esta

informação. Pelo menos tentei pensar. O bourbon, a falta do sono e a falta de

comida, mais a notícia do diagnóstico terminal da minha mãe combatiam pelo

domínio, estilo Mad Max, em minha caixa craniana.

— Aplicação da lei Federal. — Balancei a cabeça esperando esclarecer a

informação. — O que isso significa em termos de parque nacional? E por que foi

nomeado? E como está aqui? E como sabe da mamãe?

Jethro acenou com a cabeça na direção do meu chá e esperou até que eu

bebesse antes de responder.

— Bem, ele é um guarda de caça e agente federal... O que significa que

ele é algum figurão, doutorado e enviado de Washington para manter o parque

seguro. E acho que foi nomeado porque é um especialista em animais selvagens

ameaçados de extinção. Ele está aqui esta noite porque pedi para ficar no caso de

você ter notícias quando chegasse em casa do hospital. E ele conheceu mamãe na

biblioteca quando foi nomeado para a posição no parque. Eles são amigos.

Eu tinha dificuldade em acreditar em algumas das afirmações. Primeiro,

Drew, Montanha-de-um-homem, Runous não me parece ser um Dr. Runous a

menos que seu doutorado fosse de madeireiro, pilhagem, barba grande ou a

atração principal em devaneios sensuais e fantasias sujas. Em segundo lugar, a

postura do Dr. Runous esta manhã e o comportamento estranho esta noite fez-me

questionar que tipo de amigo ele e mamãe eram.

Meus olhos não estavam cooperando. Não podia manter ambos abertos,

então olhei para Jethro através do olho esquerdo.

— Que tipo de amigos?

Mesmo só com um olho, vi Jethro zangado.


— Nada disso, Ash. Tire sua mente da sujeira. Ele é um de nós. Ele é

como um filho para ela e um irmão para nós. Pelo amor de Deus, ele é um ano

mais novo que eu. Além disso, ele não é assim.

— Não é o quê?

— Ele é tímido, acho. Quieto. Ele não fala muito, nem mesmo comigo.

— Ele não parece tranquilo para mim, parece um playboy,

engravidando todas as garotas locais com bebês vikings.

— Você tem uma imaginação fértil, mana. Acho que ele é exatamente o

oposto. Na verdade, não estou aqui para contar histórias, mas acho que ele pode

ser celibatário.

Isso fez com que abrisse ambos os olhos.

— Tentamos levá-lo, mas ele não vai sequer ao bar com a gente.

— Talvez ele não beba.

— Não, ele bebe. Bebe cerveja e uísque de vez em quando. Ele só não

socializa muito. E definitivamente não está interessado na minha mãe, então tire

isso da cabeça.

Dei de ombros.

— Bem, como vou saber? Ele a chamou de Bethany. Deve andar por

aqui, ele cozinha, e beijou minha testa e me fez cócegas com a barba, e... E ele

parece um viking.

Jethro franziu a testa para mim.

— Você está bêbada. Precisa comer que um sanduíche.

Em vez disso, sorvi o bourbon e forcei meus olhos a focarem Jethro, que

parecia mais borrado a cada minuto.

— O que poderiam Drew e mamãe possivelmente ter em comum?


— Falam sobre poesia, livros, o significado da vida. Ele sempre está

trazendo livros. Acho que gostam do mesmo tipo de coisas. Ele tem aquele

doutorado, sabe que ela sempre quis ir para a faculdade.

Concordei porque eu sabia. Sabia que ela sempre quis ir para a

faculdade.

Mas estava tentada a balançar a cabeça, porque não conseguia conciliar a

imagem de Drew e mamãe lendo poesia juntos. Isso era em parte porque eu

costumava ler poesia com ela. Era, também, em parte porque a minha primeira

impressão de Drew me disse que ele só lia revistas relacionadas com armas,

carros, mulheres nuas e pêlos faciais.

Terminei a metade do sanduíche e empurrei com o resto do chá.

— Preciso dormir. — Disse, balançando um pouco.

— Que tal escovar os dentes? — Isso foi uma pergunta inesperada,

vinda de Jethro, não porque ele carecia de atendimento odontológico. Na

verdade, ele tinha dentes adoráveis. Foi inesperado, porque se assemelhava a

carinho.

Meus olhos estavam fechados, e desta vez nenhum deles iria abrir por

horas.

— Não... Consigo... Tenho... Sono.

Caí para trás contra o travesseiro, já meio desmaiada. Não estava

totalmente consciente quando Jethro levantou minhas pernas sobre a cama, me

cobrindo e aconchegando. Mas ainda tive tempo suficiente para sentir seu beijo

na minha bochecha, a mão apertando meu ombro e o ouvir sussurrar algo sobre

sonhos, antes que apagasse a luz e fechasse a porta.


CAPÍTULO 4

“Amor de mulher envolve injustiça e cegueira contra tudo o que ela não ama...

Mulher é ainda incapaz de amizade: mulheres são como gatos e pássaros ou na melhor das

hipóteses, vacas”.

― Friedrich Nietzsche

~ Ashley ~

Duane não trancou a porta do banheiro do segundo piso.

Portanto, após acordar, tropeçando para fora da cama, colocando a

nécessaire debaixo do braço e me arrastar até o banheiro, tive outra lição para

aprender a importância de bater. A interação também me retirou qualquer

necessidade que poderia ter de cafeína, porque fiquei totalmente acordada.

Ele gritou.

Eu engasguei, depois rosnei e resmunguei enquanto marchei para fora

do banheiro.

— É tudo que fazem? Se esconder no banheiro lá em cima? Arranjem um

hobby, pelo amor de Deus!

Não me preocupei em fechar a porta atrás de mim. Em vez disso, corri

escadas abaixo, para o primeiro andar e usei o banheiro debaixo da escada.


Quando acabei com minha rotina matinal, escondi os produtos da minha

higiene pessoal atrás da pia e olhei meu reflexo no espelho.

Realmente, estava lutando contra o desejo de correr lá em cima e ir ler.

Fiz isso, dando-me um mau olhar. Leitura, para mim, era como respirar. Era

provavelmente semelhante à masturbação para meu cérebro. Entreter-me com a

fantasia dentro das páginas de um bom romance parecia essencial para minha

sobrevivência. Se não estivesse dormindo, fazendo tricô ou trabalhando, eu

estava lendo. Isto por vários motivos, todos focados em torno da vida

infinitamente superior e invejável de heroínas fictícias em comparação com

pessoas da vida real.

Tomemos por exemplo o romance. Mulheres fictícias em romances

nunca têm seu período. Nunca têm mau hálito matinal. Elas têm orgasmos

dezessete vezes por dia. E nunca parecem ter trabalhos com patrões.

Estas mulheres perfeitas, bem satisfeitas, com hálito permanente de

menta, têm carreiras como floristas, donas de padaria, cabeleireiras ou outro tipo

de negócio pequeno adorável onde alegram todo o dia. Se tem um chefe, ele é um

cara legal (ou moça) que é envolvido na vida amorosa da mulher. Ou, é um

bilionário superquente tentando transar com ela.

Meu chefe quer saber sobre duas coisas: Eu sou pontual? Os meus

pacientes estão todos vivos e bem no final do turno?

E os homens em romances são demasiado bons para ser verdade. Mas

adoro isso, e os amo. Entra à direita do palco, o capitalista de risco independente

financeiramente, sofrendo o tédio da perfeição até que uma decoradora de

interiores corajosa entra à esquerda do palco e sacode sua vida e coração com

frases alegres e um nariz bonito que enruga quando ela espirra.


Sou péssima decoradora. As paredes do meu apartamento estão vazias.

Sou alérgica a quase todas as flores compradas. Se possuísse uma padaria, estaria

falida e a pesar mais de trinta quilos, porque adoro bolo.

Pensei ansiosamente no meu e-Reader lá em cima no quarto. Não tinha

lido desde antes de ontem, e foi no avião.

O que precisava fazer era enfrentar minha ninhada de irmãos e

descobrir os próximos passos a tomar. O que queria fazer era me esconder no

quarto com meu último romance e escapar para um mundo sem barbas, caipiras

masturbadores e um mundo onde minha amada mãe não estava morrendo.

No final, me rendi à realidade e fiz o caminho até a cozinha em busca de

café. Esperava que pelo menos um ou dois dos meus irmãos estivessem lá.

Esperava que talvez pudesse persuadir os outros a ter uma reunião de família em

algum momento da tarde.

No entanto, a cena que me cumprimentou na cozinha foi surpreendente.

Caramba, completamente desconcertante.

Roscoe, meu irmão mais novo, estava no nosso velho fogão a gás

fazendo omeletes. Ele tinha tomado banho e vestido calça jeans, uma camiseta e

tênis, tudo aparentava estar em boa ordem. Eu realmente não tinha notado muito

dele na noite passada após meu desmaio, mas agora vi que Roscoe usava barba

marrom curta, o cabelo também curto e elegante. Na verdade, parecia que o

cabelo tinha produtos.

Bizarro.

Eu esfregava a testa, meio que me perguntando se ainda estava

dormindo. Toda a cena na cozinha era completamente bizarra. Meus irmãos

estavam de pé às 07:30 e pareciam vestidos para o trabalho, trabalho!, e


interagindo como membros educados, calmos, bem ajustados e produtivos da

sociedade. Eu estava tão confusa.

Tangencialmente, notei que os galos estavam no quintal, vários

cantando como diabos. Estava começando a me acostumar com o som. Ele estava

se tornando a música de fundo para a trilha sonora do Tennessee.

Roscoe olhou por cima do ombro e me deu um sorriso triste. Parecia

triste.

— Ei, Ash. Como está se sentindo? Quer um omelete?

Concordei, olhando para ele congelada por uns dez segundos.

— Sim. Sim, por favor. Seria ótimo.

— Quer uma torrada também? — Cletus perguntou. — Posso te fazer

torradas. — Ele estava vestido com um macacão azul, que estava desgastado, mas

limpo, e tinha um pedaço de tecido com seu nome costurado no bolso esquerdo.

— Seria ótimo. Obrigado, Cletus.

— Ela gosta de manteiga e geléia de morango, certo Ash? — Billy, estava

ao lado de Cletus, vestindo terno preto, camisa branca e gravata, apontando para

mim com sua xícara de café, a expressão neutra.

Minhas sobrancelhas se levantaram por Billy se lembrar de minhas

preferências de torradas, bem como o fato de que usava um terno.

— É verdade.

Billy murmurou algo sob sua respiração, baixo o suficiente para eu não

ouvir.

— O que foi isso? — Perguntei.

Seus olhos azuis, com a mesma forma e cor que os meus, me encararam

e ele me deu um olhar frio.


— Disse que você se foi há oito anos. É uma maravilha sabermos alguma

coisa sobre você.

Franzi a testa e estava prestes a continuar a discussão quando Jethro

cortou a conversa.

— Ouvi um grito. — Ele fez esta declaração na mesa da cozinha. Estava

vestido com o que parecia ser algum tipo de uniforme de guarda florestal. Um

jornal aberto — um jornal?! — estava sobre a mesa, na frente dele, junto com um

omelete meio comido. — Esse grito veio de você ou Duane?

Eu suspirei.

— Duane. — Então um pensamento me ocorreu. — Hoje é quarta.

Pensei que ninguém estava designado para as quartas.

— Os dias não atribuídos são dias imprevisíveis, o primeiro a chegar, é o

primeiro a se servir. Ele está lá em cima desde o nascer do sol. — Roscoe abanou a

cabeça. Revirei meus olhos, desejando que não tivesse feito à pergunta.

— De qualquer forma, esqueci de bater de novo. Foi minha culpa.

— Devíamos comprar um sino para seu pescoço. — Os olhos azuis de

Billy me olharam cuidadosamente sob as sobrancelhas marrons. Ele fez esta

sugestão com naturalidade, como se fosse uma ideia muito razoável e boa. Para

ele, provavelmente era.

Dos meus irmãos, Billy era o mais sério e severo. Podia contar com uma

mão, todas as vezes que o ouvi rir enquanto crescíamos. Sua atitude legal esta

manhã, não obstante, também me fez suspeitar que fosse o mais inteligente no

sentido tradicional. Fatos e números eram fáceis para ele, especialmente qualquer

coisa a ver com máquinas.


— Pode muito bem mudar meu nome para Bessie enquanto está nisso.

— Resmunguei.

— ... As mulheres são ainda gatos e pássaros ou na melhor das

hipóteses, vacas.

Esta pequena joia veio do canto da cozinha atrás de mim e foi recebida

pelo resto da sala, com um extenso e tangível silêncio. Eu franzi a testa com as

palavras, seu significado implícito e a voz que falou-as.

Como suspeitava, quando virei encontrei Drew encostado no balcão,

bebendo café e me encarando por cima da borda da xícara, com os olhos azuis-

prateados.

Ele estava vestido de uniforme, um do tipo muito oficial,

superimportante que um guarda florestal pode vestir. Ao contrário de Jethro, o

dele tinha muito mais bolsos, um distintivo e arma. Um chapéu de cowboy estava

no canto do balcão. Ele também usava botas de cowboy. Notei com

desprendimento que a barba e cabelo sofreram uma transformação.

Seu pelo facial tinha sido aparado, embora a barba loira ainda fosse

impressionante. Os cachos despenteados na cabeça tinham sido escovados,

puxados para trás e presos atrás do pescoço.

Notei essas coisas com um pequeno grau de interesse feminino. Foi

instintivo, incidental, como uma pessoa notaria um Maserati na rua e pensasse é

um bom carro de corrida.

Sua aparência arrumada, aparência oficial, ou melhor, sua aparência

imponente, não fez nada para melhorar para mim, especialmente não depois de

me chamar de vaca.

Portanto, falei meus pensamentos antes que pudesse parar.


— É mesmo? Você realmente vai citar Nietzsche para mim? Para mim?

Nietzsche? A única mulher aqui? — Acenei para a cozinha com um aceno de

mão, frustrado. — Quando eu acabei de acordar? Antes de tomar café? Depois de

encontrar um dos meus irmãos acasalando com a mão lá em cima, pela segunda

vez em poucos dias e eu sou a vaca?

— Não pode acasalar com cascos. — Disse Drew, sua cara inexpressiva.

— E ainda, muitos homens preferem a companhia de ovelhas a suas

mãos, ou mesmo mulheres. — Disse docemente antes de dar as costas e olhar

Jethro. — Preciso falar com você.

Inclinei a cabeça em direção à sala de família e saí da cozinha, esperando

que Jethro me seguisse. Não tive que esperar muito tempo, nas para minha

infinita irritação, Dr. Drew Runous, doutorado, seguiu logo atrás de meu irmão

retirando o caderno de couro dos bolsos laterais da calça.

Fiz uma carranca para ele antes de olhar meu irmão mais velho. Tive

cuidado para manter minha voz equilibrada, sincera e livre de sarcasmo quando

disse incisivamente para Jethro.

— É possível termos uma conversa sem seu chefe estar presente?

Jethro esfregou a parte de trás do pescoço dele e suspirou.

— A coisa é, Ash, todos conversamos hoje de manhã, e... Mamãe

nomeou Drew seu procurador legal.

— O quê? — Meus olhos saltaram entre eles.

Não tinha certeza de que ouvi incorretamente. Talvez Jethro tivesse dito

que a minha mãe pintou o cabelo de orvalho como sua flor de anatomia. Honestamente,

isso teria feito mais sentido do que a possibilidade de que Drew possuía uma

procuração da minha mãe.


— Ash, deixe-me explicar.

— O que disse?

Jetro engoliu em seco, encontrou meu olhar e repetiu a afirmação num

tom nivelado.

— Mamãe nomeou Drew seu procurador.

Drew acenou uma vez. Teve a decência de ficar em silêncio e manter o

rosto desprovido de expressão.

Balbuciei por um minuto. Então, olhei o teto. Ele ficou em silêncio sobre

o assunto e, estranhamente, não parecia compartilhar minha indignação.

Finalmente consegui falar.

— Médico ou financeiro?

— Ambos. — A boca de Jethro torceu num meio sorriso, tímido e

estimulante. — Ele mantém sua procuração médica, o poder de decisão

financeira, e é o executor de sua vontade.

Minha boca abriu, mas nada surgiu por sete segundos.

Então ri.

Eu ria e ria.

Eu ri porque estava frustrada, irritada, triste e oprimida. Segurei meu

estômago e sequei meus olhos entre lágrimas de alegria, miséria e sofrimento.

Jethro me guiou para o sofá e sentou ao meu lado, sua mão nas minhas

costas.

Em algum lugar lá fora, o galo cantou. Eu odiava aqueles malditos galos

cantando, sempre fazendo um alarde sem motivo.

Drew optou por permanecer em pé, a expressão paciente e sóbria.

— Ashley. — A voz de Jethro era tensa e preocupada.


— Só um minuto. — Consegui dizer enquanto recuperava o fôlego.

Limpei meus olhos e acrescentei. — Preciso de um minuto.

Demorou vários minutos. Talvez dez, durante os quais passei entre o

desejo de entrar numa erupção de riso absurdo e desencadear uma onda de raiva

alucinante.

Depois da neblina vermelha inicial de fúria comecei a recuar, tentando

ver através da frustração e chegar à verdadeira questão. Minha mãe estava

doente. Ela estava morrendo e provavelmente terá ido dentro de seis semanas...

Coisas tinham de acontecer. Os arranjos necessários tinham de ser feitos, e

precisávamos nos preparar.

Isso, isso, não era sobre mim. Era sobre ela, proporcionando cuidados e

conforto para minha mãe em seus últimos dias com tanta generosidade como

tinha me dado toda a vida. Rejeitei meu instinto para mudar sua decisão de

confiar em Dr. Ninguém com o bem-estar médico e financeiro como uma

indicação de que não tinha fé em mim, sua filha.

Recusei-me a ser mesquinha. Não iria perder tempo com raiva, e pelo

menos, faria meu melhor para não levar isso pessoalmente. Ela me educou

melhor que isso. Quando estava acabada e completamente perdida quanto ao que

dizer ou como proceder, respirei fundo e expirei dando um grande suspiro.

— Quando aconteceu? — Perguntei não me importando com quem

respondesse.

— Há três meses. — Respondeu Drew, e limpou a garganta, olhando

para Jethro, em seguida, para mim.

Olhei de relance entre eles.

— Sabia que ela estava doente?


— Não. — Drew abanou a cabeça, os ombros caindo. Ele parecia

frustrado, e acreditei nele. — Ela não me disse que estava doente. Só disse que

não queria nenhum de vocês sobrecarregados com a tomada de decisões nas suas

vidas.

— Bem... — Eu disse, me encontrando perigosamente perto de lágrimas

reais. Puxei outra respiração calmante e me esforcei para manter meu tom mente

aberta e livre de escárnio, embora quisesse arrancar a barba na cara dele. — Ao

que parece. — Comecei, e depois parei. Pressionando os lábios juntos, limpei a

garganta e engoli, tendo um momento para firmar a voz. — Parece que você é

quem decide. Então, Dr. Decididor, por favor, me diga o que eu posso fazer para

ajudar.

Os olhos dele estreitaram e procuraram os meus. Ele parecia confuso

pela minha resposta. Obviamente, não sei se isso era o que esperava que eu

dissesse. Provavelmente, adivinhei, ele pensou que eu ia lançar um ataque em

grande escala como uma mulher histérica, com acusações e manobras

manipulativas. Mas não foi como reagi. Irracionalidade prolongada não era a

minha praia. Recriminação não era minha amiga.

Então, olhamos um para o outro.

Deixei meu rosto em branco e esperei por direções. Este era um traço de

ninja que tinha aperfeiçoado ao interagir com médicos ego maníacos. Cerrei os

dentes para me impedir de dizer o que pensava que ele poderia fazer com sua

procuração, onde ele a poderia enfiar, e se o sol brilhava ou não nessa localização

específica. Finalmente ele disse:

— Sua mãe me nomeou para este papel porque não queria que você

tivesse que pensar sobre as decisões de fim-de-vida. Ela fez isso para poupa-la,
não para machucá-la. — Era óbvio que estava escolhendo as palavras com

cuidado. O tom era razoável, suplicante, mesmo suave.

Balancei a cabeça. Ele fazia sentido, mas não me fazia sentir melhor.

Olhei ao redor da sala.

— Ela está vindo para casa hoje. O que decidiu sobre os cuidados?

Ele fez uma careta, franzindo a testa, e suspirou.

— Não estou tentando usurpar seu papel, Ashley. — Ele parecia

frustrado.

Olhei para ele novamente, a mandíbula cerrada.

Falei lentamente, então não estaria tentada a gritar.

— E não estou discutindo com você. Você tem todo o poder nesta

situação. Só quero saber o que posso fazer para ajudar.

Jethro finalmente falou, colocando uma mão no meu joelho.

— Só descobri agora, Ashley. Também não sabia. Mas confio em Drew.

E mamãe, obviamente, confiava nele. Você sabe como ela é não querendo

incomodar ninguém. Deixa-me louco.

Dei a meu irmão um pequeno sorriso conspiratório. A confissão do

Jethro me suavizou. Eu cobri sua mão com a minha e apertei.

— Não adianta ficarmos envolvidos em coisas que não importam. O que

importa é que a mamãe está vindo pra casa hoje. — Voltei o olhar para Drew. —

Se está esperando me assustar, é aí que o meu pequeno ataque de riso se encaixa.

Eu já superei. Isso esta feito. Nada posso fazer nada sobre essa situação a não ser

viver com ela. Então, novamente, o que decidiram e como posso ajudar?

Drew, cruzou os braços sobre o peito e olhou para mim com ceticismo.
— Conversamos um pouco esta manhã sobre como lidar com as

próximas semanas, mas... — Ele pausou quando viu meus olhos alargarem.

Minha pressão arterial subiu, minha visão ficou vermelha, mas ignorei meus

impulsos assassinos. Eu respirava dentro e fora, ouvindo com toda a aparência de

calma. — Mas seus irmãos disseram que você era provavelmente a única que

tinha alguma ideia do que esperar e como melhor planejar e proceder. Isso

assumindo que vai ficar no Tennessee.

Concordei, minha hipertensão aguda gradualmente declinando para

níveis normais. Drew estava pedindo minha opinião. Não sabia se era um ramo

de oliveira ou se só tinha me entregado um terreno de oliveiras. De qualquer

maneira, um passo na direção certa.

— Ok, bem, acho que deveríamos coloca-la na sala. Não há escadas, tem

uma porta e é no lado tranquilo da casa. Garantiram que os cuidados paliativos

estarão fornecendo duas enfermeiras, uma para ficar durante o dia e outra à noite,

para monitorar sua condição. De qualquer maneira, vou colocar uma cama

estreita na sala e dormir lá com ela.

Drew franziu a testa.

— Você vai precisar ter uma boa noite de sono. Se ficar com sua mãe,

seu sono é susceptível de ser interrompido. Como pode cuidar dela se está

exausta durante o dia?

Engoli minha resposta afiada de que onde dormia não era da conta dele.

Alguém da família deve ficar com ela o tempo todo. Não quero que seja deixada

sozinha.

— A enfermeira irá verifica-la.

— Mas a enfermeira não é da família.


Ele estreitou os olhos para mim e então olhou meu irmão.

— Existem sete de vocês. Vão fazer turnos, um por cada noite da

semana.

Antes que pudesse me opor, Jethro assentiu e disse.

— Vamos fazer uma programação.

Fechei meus olhos brevemente e lutei contra a vontade de dizer, vocês

tem um dom para fazer agendamentos.

— Então, você vai ficar? — Drew pressionou. — E como isso vai afetar

seu emprego em Chicago?

Sua pergunta me surpreendeu ao ponto que fiquei desprovida de

palavras. Ele parecia como um pai perguntando a sua filha para justificar a

solidez das suas decisões. Parecia quase como se ele se importasse. Era irritante,

especialmente desde que meu pai era o homem menos responsável e carinhoso

que já tinha conhecido e nunca tinha feito uma boa decisão na vida.

Uma resposta honesta, sincera, provavelmente porque estava tão

surpresa pela pergunta, caiu dos meus lábios.

— Sou parte de uma Associação. Temos um seguro que cobre se

necessitarmos de tempo para cuidar de familiares doentes. Eles têm que manter

meu emprego por três meses.

Ele considerou isso e assentiu.

— Claro que existem outras questões, como a manutenção da casa,

contas a pagar, compras, incidentes e afins. — Drew me encarou por um

momento, na verdade, ele olhou através de mim, e poderia dizer que ele foi

registrando e considerando tudo o que teria que ser feito. —Você deve devolver

seu carro de aluguel e usar o carro da sua mãe enquanto está aqui. E vou dar a
você acesso a sua conta corrente para as despesas da casa, mas vou cuidar das

contas mensais. — O pragmatismo de Drew me surpreendeu. Não tinha pensado

que estaria pagando as contas. Eu acenei e gaguejei.

— É, isso faz sentido. — Porque fez sentido. Na verdade, fiquei grata.

Particularmente não queria ser eu a ter que pensar em pagar as contas e a

logística relacionada. Eu queria focar em mamãe, a cuidar dela e passar tempo

com ela.

— Sugiro também contratarmos alguém para limpar a casa. Seus irmãos

não estão à altura da tarefa, e você não deveria ser incomodada com isso.

Concordei novamente.

— O-ok. — Gaguejei, me surpreendendo novamente.

Um longo momento passou. Em primeiro lugar, a atmosfera na sala

ficou mais leve conforme Drew e eu olhávamos um para o outro. Mas então seu

olhar tornou-se cada vez mais intenso, afiado, aquecido. Meu pescoço começou a

coçar. Não o conhecia bem o suficiente para adivinhar o que pensava, então me

sentei muito direita e esperei, tentando não corar sob seu escrutínio óbvio.

— Certo. — Jethro disse, quebrando o momento.

Drew piscou como se estivesse saindo de um transe e voltou o foco para

meu irmão.

— Este plano parece sólido. — Jethro disse e pôs o braço em volta dos

meus ombros e os apertou, então se levantou e acenou como se estivesse

decidido. — Vou dizer aos outros como vai funcionar. Posso começar a montar o

cronograma. — Ele olhou para mim e acrescentou. — Roscoe estará com você

todo o dia, ele pode te ajudar a levar o carro de aluguel, e estará aqui quando

mamãe chegar.
— Ok soa bem. — Acenei igualmente, cruzando os braços sobre o peito.

Tudo estava acontecendo tão rápido.

— Vou colocar meu café numa caneca de viagem, então poderemos ir. —

Jetro deu a Drew um aceno e caminhou para a cozinha.

Olhei para o tapete e pensei sobre a ordem das coisas para realizar.

Vestir, comer, ir para a cidade, deixar o carro alugado. Eu também precisava

descobrir a hora de chegada de Elizabeth e Sandra. Talvez as pudesse pegar no

aeroporto.

Senti o calor da mão sólida de Drew nas minhas costas... Pouco antes

dele falar.

— Não pensei que era o tipo de se render tão facilmente.

Olhei para cima para encontrá-lo de pé a poucos centímetros. Seus olhos

cinza-azulado seduziam os meus, me perfurando como se estivesse duplamente

tentando me descobrir e me levar à submissão. Ele disse as palavras com uma

baixa intimidade que senti em meus joelhos e quadril. A palavra rendição parecia

ecoar na sala e através do meu corpo.

A mudança na atmosfera era palpável, no entanto, me encontrei

perguntando se era a única que notou. Era um subproduto da minha

vulnerabilidade vacilante induzida pela dor? Minhas emoções estavam

suscetíveis à ilusão? Estava imaginando a tensão entre nós?

Dei um sorriso minúsculo, esperando transmitir minha irritação,

enquanto tentava recuperar a perda abrupta da capacidade do meu corpo para

regular a temperatura. Eu estava quente, afobada, mal preparada e mal equipada

emocionalmente para interagir com homens bonitos como na ficção, falando em

tons íntimos e olhando para mim como se eu fosse um bolo.


E o que estava errado comigo que estava notando até o tom de voz de

Drew? E sua beleza fictícia. Tinha apenas dado a minha mãe um diagnóstico

terminal, pelo amor de Deus. Eu estava mal da cabeça.

Eu engoli, encontrando resistência em minha auto recriminação.

Cheguei perto e sussurrei.

— Entenda isso, vaqueiro: não me rendo em nada.

Inexplicavelmente, ele sorriu. Um sorriso pequeno e presunçosamente

sexy, e achei intensamente irritante.

Ele citou Nietzsche novamente.

— Talvez a verdade seja uma mulher que tem motivos para não mostrar

os motivos.

Afastei-me, encontrando alívio imediato para meus hormônios confusos

por colocar distância entre nós. Segurei seu olhar por um momento e depois

caminhei para trás até as escadas, ao mesmo tempo em que o informava com

desdém de uma verdade real.

— Pode beijar meu juízo de caráter e motivos, Nietzsche. E já que está

nisso, vai saltar num lago.

— Qual lago?

Virei-me e subi os degraus dois de cada vez, não gostando que minhas

palmas tivessem aquecido.

— Não importa. — Declamei. —De preferência, um sem água.


CAPÍTULO 5

“Não há nada que eu não faria por aqueles que são realmente meus amigos. Eu

não tenho nenhuma noção de como amar pessoas pela metade, não é da minha natureza”.

― Jane Austen , Abadia de Northanger

~Ashley~

Roscoe e eu dirigimos para Knoxville para deixar o carro alugado. Ele

levou o carro da mamãe e levei o de aluguel. Na volta, paramos no hospital para

ver como mamãe estava. Ela dormia, então nos encontramos com a assistente

social dos cuidados paliativos para organizar seu transporte para casa.

Roscoe conseguiu manter-se focado, que era o oposto de como os

homens Winston geralmente lidavam com situações estressantes. Claro, isso foi

baseado minha experiência anterior, que agora estava oito anos atrasada.

Também consegui segurar apesar do pingue pongue das minhas

emoções, com Drew esta manhã e o momento bizarro e íntimo que se seguiu. Mas

então, geralmente consigo me fazer funcionar. Meu lema era salve seu drama para

sua lhama.

Chequei meu celular a caminho da cidade, uma vez que não tinha

qualquer recepção em casa e vi uma mensagem de texto de Elizabeth. Seu avião


iria pousar às 16:15 pm, mas eu não precisava ir pega-las porque iriam pegar um

carro alugado. Ela terminou o texto com amamos você, garota, o que me fez sorrir.

A mensagem ajudou, e saber que Elizabeth e Sandra estavam vindo, me

deu uma sensação de calma e tranquilidade, nem que fosse temporária. Senti

como se estivesse cercada por estranhos. Esses meus irmãos que pensei que sabia

quem eram se tornaram um mistério envolto num enigma, salpicados em enigma

com sabor de queijo.

Desde que Roscoe e eu só tínhamos um ao outro como companhia para a

viagem de uma hora para casa, incentivei meu irmão caçula, que agora tinha

1,90m, a lavar a roupa suja dos mais velhos.

Exceto, que não havia nenhuma sujeira para lavar.

— Então, Jethro é um guarda florestal? Como aconteceu? — Eu

brevemente me perguntei, porque minha mãe não me disse nada sobre isso.

Apesar de que ela raramente falava sobre meus irmãos durante nossos

telefonemas diários. Jethro, se endireitando e tornando um guarda florestal

pareciam boas notícias.

— É incrível, certo? — O sorriso do Roscoe foi imediato e orgulhoso. —

É uma história muito engraçada. Jethro era... Bem, você sabe. Ele estava roubando

carros e festejando, mas era esperto. O rapaz foi preso várias vezes, mas nunca foi

acusado. Foi muita sorte.

— Eu me lembro. O dia em que parti para a faculdade, ele vinha para

casa da cadeia. — Ainda lembro de me perguntar se deveria esperar ele chegar

em casa ou apenas sair sem dizer adeus. Esperei até o jantar, quando Billy chegou

e me disse que Jethro estava no Dragon — um dos três bares de motoqueiros


perto desta parte do parque — bebendo com os amigos e comemorando seu

sucesso criminal.

Revoltada, saí naquele momento.

— Bem, Drew bateu a merda fora de Jethro quando ele o pegou

tentando roubar sua Aermacchi Harley-Davidson Turism Veloce de 1971.

Minha boca caiu aberta, em parte porque uma imagem de Drew

montado numa Harley clássica passou pela minha mente e em parte porque a

história era absolutamente chocante.

Olhei para Roscoe.

— Drew deu queixa?

— Não. Ele disse a Jethro que iria mexer uns pauzinhos e ia arranjar um

emprego como um guarda florestal para ele, se prometesse parar com as tretas

ilegais.

— E ele fez?

— Sim. Bem, na maior parte. Jethro nunca esteve muito profundamente

envolvido com a Ordem do Ferro, então foi capaz de sair rapidamente.

A Ordem do Ferro era o clube de motoqueiros que controlava Green

Valley e os condados circundantes. O Bar The Dragon era seu ponto de encontro.

Num ponto, lembrei-me de mamãe ter medo que Jethro se tornasse um deles, mas

ele nunca foi um verdadeiro integrante.

Roscoe fez uma pausa por um minuto enquanto conduziu numa série de

impressionantes ziguezagues na estrada de montanha. Para chegar a Knoxville,

precisamos subir pela montanha, em seguida, descer pelo outro lado.

Quando as curvas ficaram atrás de nós, ele continuou a história.


— Jethro teve que começar na parte inferior da escada e subindo para o

trabalho que tem agora. Ele conseguiu se formar no colegial e depois tirou o grau,

e finalmente, no ano passado conseguiu o emprego como um ranger. Agora ele e

Drew trabalham juntos o tempo todo.

Ele então passou os próximos minutos fazendo uma explanação poética

sobre Drew e Jethro. Da forma como Roscoe o descreveu, eram da prevenção de

incêndios florestais, protegiam os animais em extinção, trabalhando em direção a

qualquer outro tipo de esforço altruísta.

Detectei uma pitada de inveja na voz do Roscoe. Parecia que Drew tinha

um fã número um, e o fã era Roscoe Winston.

— Isso é ótimo. — Disse com toda a sinceridade. — Isso é ótimo. — Era

muito bom. Era super bom. E provavelmente significava o mundo para minha

mãe. Não podia acreditar que ela nunca disse nada.

— Drew é... Ele é o cara. Ele é muito sossegado. Acho que é porque não

quer se destacar das outras pessoas, ou as fazer sentir menos que ele. Sabia que

seu pai é um senador no Texas? Ele não fala sobre isso, mas tem muito dinheiro.

Pensei sobre esta informação por um tempo, cheio da grana. Drew não

parecia tranquilo para mim. Na verdade, parecia francamente tagarela. Preferi

não contradizer a afirmação de Roscoe em relação à propensão de Drew para a

discrição, decidindo guardar minhas observações.

— Roscoe, nossos avós tinham dinheiro também, mas isso não faz uma

pessoa melhor que outra. — Nosso avô pelo lado da mãe foi um político e um

homem muito rico.


— Eu sei, mas Drew fez toda a diferença. Ele ajudou Duane, Beauford e

Cletus com a papelada para a oficina, e até a comprar o lugar. Ele é dono de parte,

mas não o vimos interferindo.

— Você disse sua oficina? São donos da loja?

Roscoe assentiu e me deu um grande sorriso, os olhos azuis piscando

para os meus, e em seguida, voltando para a estrada.

— Diabos, sim, é deles: Winston Brothers Auto Shop. Nossa mãe os

ajuda com os livros. A loja está indo muito bem. Eles têm um trabalho com carros

clássicos velhos, quebrados. Eles os consertam e depois os vendem em Nashville

para as pessoas do ramo da música, fazendo um bom lucro.

Esta revelação era surpreendente, mas também super fantástica. Senti

uma onda de orgulho pelos gêmeos e meu querido irmão Cletus. Bom para eles.

Irritantemente, também senti gratidão para com Drew. Decidi afastar os

sentimentos. Se a loja estava bem, então, Drew era recompensado por seu

investimento.

— E Billy? Era ele de fato esta manhã. Que é isso?

— Oh, Billy está fazendo sua coisa na fábrica. Ele está indo muito bem

também, agora que já não tem que limpar a bagunça.

— Limpar a bagunça?

— Bem, ele estava sempre a afiançar Jethro fora da prisão e tentar

manter o resto de nós fora de problemas, não que precisasse se preocupar comigo.

Lembrei de minhas lembranças da infância de Billy. Dos meus irmãos,

ele era o mais ausente e afastado. A maioria dos homens começou a trabalhar na

fábrica assim que chegavam aos dezessete. Billy começou aos dezesseis.
Surpreendeu-me que estava em casa, já que parecia desejar escapar até mesmo

mais do que eu.

Também pensei sobre sua recepção fria no início do dia e o comentário

da minha ausência de oito anos. Eu não esperava que todos meus irmãos me

recebessem de braços abertos. Só fiquei um pouco surpresa que Billy, que nunca

parecia muito interessado em mim quando éramos crianças, parecia ser o único

vexado pela minha longa ausência.

— O que Billy faz aí e por que tem que usar um terno?

— Ele tem algum título chique, diretor regional de operações da fábrica

ou algo assim. Ele está sempre lá, e sabe como ele é esperto. Poderia ter feito

alguma coisa. Talvez tornar-se um bom engenheiro se quisesse.

Diretor regional de operações da fábrica parecia importante. Não sei o

que abrangia, mas aparentemente, significava que ele precisava usar um terno

para trabalhar todos os dias. Que, do lado da família do meu pai, era como se

tornar o Presidente dos Estados Unidos.

Consegui que Roscoe me falasse sobre si com algum estímulo. Ele tentou

se livrar de suas conquistas como se fossem nada. Elas eram um grande negócio.

Roscoe estava terminando seu último ano na Universidade do

Tennessee, graduando em Biologia. Sabia que ele estava frequentando a

faculdade da comunidade há dois anos, era um dos poucos pedaços de

informação que minha mãe tinha compartilhado sobre meus irmãos. No entanto,

não sabia que tinha se transferido para a Universidade do estado em algum

momento durante os últimos dezoito meses.

— Isso é ótimo, Roscoe. Eu estou… — Engoli porque ia dizer estou muito

orgulhosa de você, mas parei. Não senti como se tivesse o direito de dizer, desde
que tinha deixado ele e o resto da minha família há quase uma década. Em vez

disso, terminei o pensamento com: - Estou realmente feliz por você. Estou feliz

por todos. Vocês estão indo tão bem.

— Sim... — Roscoe assentiu com a cabeça, olhou para mim pelo canto do

olho, zombando. — Agora que vê que não somos um bando de gambás, talvez vá

visitar mais vezes.

Fiquei vermelha, embaraçada e envergonhada dos anos que estive

ausente. Mesmo que ele estivesse zombando, as palavras atingiram um nervo.

Eu suspirei, olhei pela janela.

— Com certeza. Se vocês me quiserem.

— Claro que queremos você. Não seja estúpida.

— Você pode vir me visitar em Chicago. É uma cidade muito grande.

— Lá não é frio o tempo todo? Granizo, neve, quarenta abaixo de zero,

vento frio e toda aquela confusão?

— Não, não o tempo todo. — Olhei para ele e apertei meus lábios para

me impedir de rir. — Apenas nove meses por ano.

Roscoe riu e balançou a cabeça.

— Como aguenta? Não sente falta das quatro estações bem marcadas? E

as montanhas, mal posso esperar para terminar a faculdade e voltar. Não acho

que há lugar mais bonito na terra.

Na sua deixa, passamos por um desvio com um mirante com uma vista

particularmente deslumbrante das montanhas Smoky. Elas estavam com a típica

neblina azul e desciam para um vale verde arborizado. Tive que admitir, era um

belo lugar.

Em vez de vocalizar isto, disse:


— Bem, há muitos lugares na terra. Pode mudar de ideia depois que for

lá e conferir o que tem para oferecer.

— Não. — Ele balançou a cabeça e me chocou, dizendo. —Passei um

verão de carona em toda a Europa. Edifícios antigos não fazem muito para mim,

mas posso ver por que as outras pessoas pensam que são bonitos. Tirei um

semestre da escola e fiz uma viagem de carro de Nova York para Los Angeles.

Fomos pelo caminho mais longo e vi a floresta de sequóia canadense, que é

provavelmente o segundo lugar mais bonito da terra. Então voei para a Nova

Zelândia. É onde o terceiro lugar mais bonito da terra com Doubtful Sound.

Ele fez uma pausa por um minuto porque chegámos em uma bifurcação

na estrada e um sinal de pare.

Não pude deixar de pergunta.

— Como pagou tudo isso?

Ele olhou para mim, sua boca arqueando de um lado.

— Não foi tão caro, porque fui com o Drew, e ele teve que ir trabalhar.

Ele tinha a opção de ir de carro ou voando para cada local, então escolheu a

viagem de carro e me levou junto. Ele pensou que seria bom para mim, ver o país,

ver o que está lá fora. Ele disse que eu poderia ir a qualquer lugar e ser qualquer

coisa. Não acho que acreditei nele, até que fomos naquela viagem.

Roscoe e eu olhamos um para o outro por um longo instante, até que

deixei escapar outra pergunta.

— Por que ele faria isso? Por que ele faria isso, ajudar Jethro, os gêmeos,

Duane, você… O que ele recebeu de volta?

Meu irmão estreitou os olhos, mas puxou um sorriso em seus lábios.


— Família, eu acho. — Então seus olhos perderam o foco e ele franziu a

testa. — Não cabe a mim dizer.

— O que isso significa?

Ele deu de ombros, olhou para a esquerda e direita para ver se

aproximavam carros e tomou a estrada para Green Valley.

— Significa exatamente isso. Drew tem suas razões, e não conto histórias

de outras pessoas.

***

Conseguimos estar de volta em casa às 14h00min e imediatamente

começamos a trabalhar na mobília na sala. Mudamos uma grande mesa de

madeira que pertenceu ao meu avô materno, bem como várias outras mesas, um

sofá e poltrona correspondente, um antigo globo autônomo e outras peças

antigas. A maioria dos itens foi herdada pela minha mãe de seus pais, e tinha os

mantido em perfeito estado.

Minha mãe veio de dinheiro. Era filha única. A casa em que crescemos e

toda a terra ao seu redor pertenceram aos pais dela. Meu avô morreu antes de eu

nascer, mas minha avó morreu quando eu tinha dez anos, de repente, de um

AVC, e deixou a casa e toda sua riqueza para minha mãe.

Isso tudo aconteceu dois anos depois que meus pais se separaram.

Minha avó também deixou fundos fiduciários para cada um de nós, que foram

controlados pela mamãe, e que não podemos acessar até nosso trigésimo

aniversário. Não sabia quanto dinheiro tínhamos no fundo, nunca pensei muito
nisso, mas sabia que era pelo dinheiro que meu pai estava sempre tentando se

introduzir novamente em nossas vidas.

Deixámos duas poltronas na sala, todas as estantes e uma mesa lateral.

Estava determinada a que um de nós estivesse sempre com ela em todos os

momentos, e as poltronas de couro eram grandes e confortáveis.

Uma vez que estávamos certos de que a sala poderia acomodar a cama

de hospital, o equipamento e a cama pequena fizemos uma pequena pausa para

beber uma limonada e comer um sanduíche. Bem, eu tive uma limonada e Roscoe

uma cerveja.

Nosso timing foi quase perfeito, o transporte chegou após as 16h30min.

Minha mãe dormiu durante toda a viagem. Sabia que ela estava provavelmente

num regime impressionante de analgésicos e soníferos. Geralmente eram

chamados de medicamentos de qualidade de vida, que realmente significava o

fim da vida de remédios.

Minha mãe acordou apenas brevemente quando foi levada para a sala.

Seus olhos estavam sem foco e nebulosos quando olhou ao redor da sala.

Ela perguntou.

— Onde estão as coisas da mamãe? A mesa do papai?

Inclinei a cama dela e segurei sua mão.

— Os mudamos assim poderia permanecer no primeiro andar, mas

também um pouco de privacidade.

Ela assentiu com a cabeça, em seguida, olhou para mim.

— Ashley, tenho que te dizer uma coisa, e é muito importante.

Apertei a mão dela e me preparei.

— Estou ouvindo, mamãe.


— A única coisa que ajuda um bebê através da dor de dentes que estão

nascendo é bourbon nas gengivas. — Ela então fechou os olhos e dormiu

novamente dentro de segundos.

A olhei por um longo instante, repetindo as palavras de sabedoria na

minha cabeça e cheguei à conclusão que ela devia estar sonhando.

— Oi, sou Marissa.

Ainda um pouco confusa, me virei e pisquei para uma mulher muito

bonita de vinte e poucos anos que estendia a mão para mim. Ela estava de

uniforme e sapatos confortáveis e obviamente era enfermeira. Ela usava o cabelo

castanho escuro em tranças longas, pequenas penduradas nas costas, e os olhos

castanhos escuros eram carinhosos e compassivos.

Eu peguei a mão dela.

— Oi. Sou Ashley, a filha.

— Prazer em conhece-la, Ashley. Vou ser a enfermeira de sua mãe de

dia, de segunda a quinta-feira. Depois eu folgo. George vem às sextas-feiras,

sábados e domingos. Tina e Joe irão dividir o turno da noite.

Assenti com a cabeça.

— Ok. Só pra você saber, sou uma enfermeira em Chicago, UTI

pediátrica.

Suas sobrancelhas se levantaram em deleite, surpreendida.

— Sou de Chicago! Eu cresci no lado sul. Acabei de me mudar para

Knoxville há dois meses.

Roscoe limpou a garganta ao meu lado, onde de repente apareceu, nossa

atenção se voltou para ele.

— Oi. Sou Roscoe Winston. Prazer em conhecê-la, Marissa.


Levantei uma sobrancelha com a maneira como ele disse seu nome,

amaneira como manteve os olhos nos dela e a forma como ele se inclinou para

frente com apenas um pouco de arrogância e charme do Sul.

Ela sorriu, como se ele fosse um filhote de cachorro bonito e aceitou sua

mão para um aperto.

— Prazer em conhecê-lo, Roscoe. — Ela voltou a atenção para mim. —

Vou estabelecer sua mãe e verificar os sinais vitais.

— Com certeza. Eles devem tê-la levado para a sala. É no final do

corredor.

Marissa me deu um sorriso quente, em seguida, foi para a sala onde

minha mãe iria ficar.

Roscoe virou a cabeça a observando ir. Mais precisamente, assistiu a

bunda, em calças largas, enquanto ela ia embora.

— Ela é nova na cidade. Gostaria de saber se poderia mostrar a

vizinhança.

Dei uma cotovelada na sua lateral e minha melhor carranca de

desaprovação.

— Ow! O que fiz?

Minha voz era um sussurro áspero.

— Você está paquerando? Com a enfermeira da mamãe?

Ele não parecia nada arrependido.

— Sim, com certeza. Por que não?

— Por que não? — Eu não podia acreditar nele. — Por que não?! Você

não está transtornado pela situação de mamãe?


Roscoe vacilou e parecia um pouco magoado por minhas palavras, mas

se segurou.

— Claro que estou chateado. Não seja estúpida. Mas aquela ali é uma

mulher de aparência excepcionalmente boa, e minha mãe estar doente não

significa que sou cego.

— Ugh! Homens! — Balancei a cabeça e me virei para sair.

Roscoe me pegou pelo braço e me puxou para a cozinha.

— Agora, calma. Ouça-me um segundo.

Puxei meu cotovelo do aperto e cruzei os braços sobre meu peito, o

olhando.

Ele não parecia estar afetado pela minha desaprovação.

— Quem vai se machucar por eu flertar com uma garota bonita? Mamãe

vai morrer mais rápido? — Vacilei, mas ele pressionou. — Vai aumentar a dor

dela? Não me dê esse olhar, Ashley Austen Winston. Você teria todos nós

vestidos de preto e com um alarme a cada quinze minutos. Não vou me sentir

mal por achar alguém bonito. Você sempre foi muito séria para seu próprio bem.

O que ele realmente quis dizer foi que sempre fui muito sensível para

meu próprio bem, e estava certo. Mas tinha endurecido nos últimos oito anos.

Apaixonei-me duas vezes, bati nisso com todo o mau senso de uma menina com

um pai usuário e saí do outro lado, determinada a aprender com meus erros.

Não conseguia flertar e não significar nada, não como Roscoe fazia. Era

um defeito em minha personalidade.

Meu pescoço se tornou quente e coçou, e senti lágrimas se reunirem por

trás de meus olhos.


Ele pareceu ver ou sentir que eu estava perto de chorar porque me

puxou para frente e me envolveu num abraço.

— Não chore. Sempre odiei quando chorava.

Eu funguei e fechei os olhos.

— Você fez?

— Sim. Quem acha que deixava para você ramos de flores silvestres fora

da sua porta quando Jethro ou os gêmeos te irritavam?

Meus braços foram em torno de seu tronco e descansei minha cabeça

contra seu ombro.

— Foi você? Sempre achei que era mamãe.

— Não estúpida, era eu.

Eu respirei num fôlego instável e o abracei apertado.

— Obrigada.

— Não tem de quê. — Ele beijou meu cabelo, em seguida, me empurrou

um pouquinho para trás para que pudesse olhar meus olhos. — Se quiser ficar

miserável, não há nada que possa fazer para impedi-la. Sinto-me miserável por

perdê-la também, mas não vou passar as próximas semanas torcendo as mãos.

Vou aproveitar o tempo que ela tem e viver a vida como ela sempre quis fazer, e

isso inclui meu flerte com a colher de sorvete de chocolate que acabou de sair pela

porta.

Eu sufoquei uma risada e bati no seu ombro.

— Cuidado, ou eu vou dizer a Marissa que a chamou de uma colher de

sorvete de chocolate.

Ele deu de ombros.


— Tudo bem comigo. Enquanto está nisso, descubra o que ela pensa de

baunilha.

***

Sabia que Sandra e Elizabeth tinham chegado porque acordei com um

barulho da minha soneca, e não era um dos malditos galos pela primeira vez. Era

um tipo muito específico de som. Era o som de um homem chorando. E o som me

acordou.

Tinha cochilado, encolhida na cadeira na sala ao lado da cama do

hospital da minha mãe. A julgar pela luz do lado de fora, parecia estar perto do

pôr do sol. Os eventos do dia me tinham deixado todo tipo de cansaça:

fisicamente, mentalmente, emocionalmente e mesmo cansada de tricotar.

É um lugar deprimente e desesperado para estar, se fica cansada para

tricotar.

Espreguicei, pisquei o nevoeiro cansado dos meus olhos e olhei ao redor

da sala. Um enfermeiro, que adivinhei ser Joe, estava sentado na outra cadeira.

Tinha rechaçado a cama. Ele parecia estar lendo um jornal na luz que diminuía na

janela. Ele era mais velho, talvez nos cinquenta anos e parecia mais um auxiliar

que enfermeiro. Sua cabeça era careca, tinha o pescoço grosso, os ombros eram

largos e uma tatuagem de um dragão no antebraço.

Então, para meu espanto, quando virei minha cabeça na outra direção,

encontrei Drew sentado numa cadeira de madeira ao meu lado.

Franzi a testa para ele.


Ele não estava olhando para mim. Ele estava olhando para o livro nas

mãos, que ele estava lendo em voz alta. Perguntei-me por uma fração de segundo

se não seria sua voz que me tinha acordado, mas então eu percebi por que. Por

mais que quisesse que tudo sobre ele fosse repugnante, sua voz. especialmente

quando lia, era simpática. Era reconfortante, mas enquanto escutei, descobri que

era também bem flexionada. Ele enriqueceu o texto que lia.

Isto era terrivelmente inconveniente, porque tinha prometido que

deixaria o Tennessee sem nenhuma admiração por Drew Runous.

— 'Só isso.' disse a raposa. 'Para mim, você continua a ser nada mais que um

menino que é igual a cem mil outros meninos. E não preciso de você. E você, de sua parte,

não precisa de mim. Para você eu não sou nada mais do que uma raposa como cem mil

outras raposas.' — Drew olhou para cima, seus olhos imediatamente encontraram

os meus. Eles piscaram sobre meu rosto, absorvendo minha aparência sonolenta.

Então, sem alteração visível na sua expressão, ele voltou a atenção para o livro. —

' Mas se você me domar, precisaremos um do outro. Para mim, você será único em todo o

mundo. Para você, eu serei única em todo o mundo.'

Ele parou de ler, seus olhos persistiram na página antes dele fechar o

livro, e marcar o lugar com o dedo. O estudei sem pudor, provavelmente porque

estava ainda a dormir, e não me ocorreu que olhar para ele era estranho.

O olhar de Drew foi para onde minha mãe na cama. Sua expressão era

calorosa e afetuosa, e sua voz suave, quando disse.

— Bethany, Ashley está acordada.

Comecei a piscar para ele, então olhei minha mãe, a tempo de vê-la abrir

os olhos. Ela levantou a mão e me deu um aceno.

— Oi, querida. — Ela disse com um sorriso. — Nós acordamos você?


— Não. Outra coisa... Eu acho. — Minha voz estava rouca de sono. Só

então, o som de um soluço saltou para o quarto, e lembrei que homens estavam

chorando em algum lugar na casa. Isto, claro, me lembrei de que Sandra havia

chegado.

Minha mãe riu levemente, seu sorriso crescendo quando ela olhou para

mim.

— Eu gosto de suas amigas. Sandra é o máximo.

Sorri de volta para ela e peguei sua mão.

— Há quanto tempo acordou?

— Oh... Algumas horas, acho. Estamos bem aqui se quer ir

cumprimentar suas amigas. Sua amiga médica, Elizabeth, fez ravióli para todos.

Foi muito bom. Ela disse que o marido dela é dono de um restaurante italiano.

— A sogra é dona do restaurante. — Franzi a testa porque minha mãe

sabia tudo sobre Elizabeth. Eu tinha lhe dito tudo sobre como Elizabeth tinha

crescido com Nico Moretti, agora um famoso comediante, e como casaram no ano

passado em Las Vegas.

— Não importa quem é o dono, ela sabe realmente fazer boa comida

italiana.

— Foi muito bom. — Isto veio do enfermeiro no canto.

Minha atenção se mudou para ele e dei um aceno para ele.

— Oi, você deve ser Joe. Sou Ashley.

Ele assentiu com a cabeça e sorriu.

— Ei, Ashley. Você é enfermeira, certo?

— Sim. Sou.
— Deixe-me saber se tem qualquer dúvida. Acabei de ver sua mãe. Ela

está indo muito bem. — Os olhos castanhos de Joe foram de mim para onde

minha mãe estava sentada. Deu um sorriso quente para ela.

— Obrigado, eu vou. — Disse, considerando que esse Joe, era um

enfermeiro com uma tatuagem de dragão.

— Você deve agradecer a ela por fazer o jantar para sua família. —

Mamãe disse. — Sei que ela quer ver você.

Assenti com a cabeça, distraída por Drew e a suspeita de que minha mãe

estava perdendo a memória. Ou melhor, suspeitava que a medicação para a dor

estava fazendo suas lembranças difusas. Ao me levantar notei que foi colocada

uma manta por cima de mim.

Franzi a testa para o cobertor e depois para Drew.

Parecia que tudo estava ganhando minha carranca de confusão.

— Vá. — Minha mãe incitou, apertando minha mão, em seguida,

largando-a.

Drew não se moveu quando tentei passar, então fui forçada a passar por

ele no espaço apertado feito por nossas cadeiras, minha bunda escovou em seu

ombro. Ele nem me olhou. Em vez disso, abriu o livro, que reconheci como o

Pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry e começou novamente a ler de

onde tinha parado com a conversa de domar e necessidade.

Sacudi minha constante inquietação no que se refere a Drew, e meu

estômago fez barulho enquanto caminhava. Foi um lembrete de que a comida era

necessária para poder funcionar e, felizmente, o cheiro da boa comida, alho e

cebolas fritas, estava flutuando em minha direção. Segui o cheiro da comida

italiana e o som de choro pela cozinha e sala de jantar.


A cena que me cumprimentou não era tão diferente de um episódio do

Dr. Phil. Sandra tinha Cletus e os gêmeos organizados na sala da família, que era

separada da sala de jantar, e estava dirigindo algum tipo de aconselhamento. O

rosto dela era inexpressivo, nem frio nem quente, mas bastante acolhedor aberto e

interessado.

Os soluços altos percebi quase imediatamente, vinham de Cletus. Ele

estava sentado na cadeira mais próxima a Sandra, e o rosto estava enterrado nas

mãos. Ela estava esfregando suas costas, mas a atenção estava em Beau, também

parecia que ele esteve chorando em um ponto, mas agora parecia ter as

expressões de tristeza sob controle.

Não queria interromper. Sandra era uma excelente psiquiatra, embora

geralmente tratasse somente pacientes pediátricos. Era óbvio que meus irmãos

estavam recebendo algo dela que precisavam. Este era o seu modus operandi.

Uma garganta limpou atrás de mim e me levou a saltar. Virei-me e encontrei

Elizabeth parada no meu ombro, um sorriso carinhoso e simpático no rosto.

— Ei, garota. — Ela disse.

— Ei. — Eu disse.

Então ela me puxou para um abraço enorme.

Elizabeth era menor que eu, cerca de 10 cm, mas também era cheia de

curvas e macia, e com seu abraço me senti como sendo cercada por uma nuvem

quente e linda. Adicione a este efeito a palidez da pele, o loiro dourado do cabelo

dela e o azul etéreo das íris. Demos e recebemos conforto por um breve momento

antes que fossemos interrompidas pela voz de Sandra, que estava mais perto do

que eu esperava.

— Ashley Winston.
Sandra estava de pé ao nosso lado, olhando para mim. Ela estava

sorrindo, os grandes olhos verdes com cabelo vermelho flamejante e dentes

brancos, mas não era de compaixão. Era só um grande sorriso feliz.

Ela se lançou em nós, os braços envolvendo a Elizabeth e a mim e me

beijou na bochecha e, em seguida, no queixo.

— É tão bom cheirar seu cabelo agora. — Disse Sandra. Claro que isto

nos fez rir, porque quem diz isso?

Ela nos apertou, fazendo Elizabeth guinchar.

— Sandra... Eu... Não posso... Respirar...

— Não importa. — Sandra nos libertou do seu abraço e agarrou minha

mão. — Onde é seu quarto? Temos uma conversa para ter.

Olhei por cima do ombro para meus irmãos. Duane me deu um sorriso

tenso. Bizarro.

— Sandra, não quero chorar. Por favor, não me faça chorar.

Ela balançou a cabeça, franzindo o nariz como se meu pedido fosse

bobo. Não era bobo. Ela tinha este superpoder onde as pessoas eram

absolutamente compelidas a derramar suas tripas, eu incluída. Ela faz o fardo mais

leve, mas faz isso, forçando as pessoas a enfrentarem as verdades, acabando

geralmente em choro.

Não queria enfrentar as verdades. Queria roubar alguns momentos com

minhas amigas, me encher na promessa de vida confortável, satisfeita em Chicago

e enrolar meu cérebro e coração na felicidade da distração.

A verdade era superestimada e cheirava a cebola.

Felicidade era subestimada e cheirava clorofórmio.


— Não temos de falar sobre qualquer coisa que não queira. — Ela

resmungou e puxou minha mão. — Vamos, onde é seu quarto? Trouxemos

presentes.

Eu hesitei, mas por pouco tempo.

— É lá em cima.

Sandra e Elizabeth me seguiram após um desvio para a porta da frente.

Vi Elizabeth pegar uma mochila e Sandra um saco de presente, com papel de

tecido roxo. Uma vez dentro do meu quarto, sentei-me na minha cama e me virei

para enfrentá-las.

Elizabeth teve um assento na cama, colocando a mochila entre nós e a

abrindo.

— Trouxemos algumas coisas, apenas o básico, e outras coisas.

Sandra pairou pela porta. Ela estava examinando o quarto, eu poderia

dizer. Talvez estivesse fazendo um registro mental das minhas disfunções

baseada no número de estatuetas de cerâmica de unicórnio na minha estante.

Havia quatro.

— Você não precisava me trazer nada. — Dei um sorriso tranquilizador

a Elizabeth. — Estou realmente bem.

— Não, não está. Você está em choque, e ainda não processou o fato de

que sua mãe está morrendo.

Sandra me nivelou com um olhar sensível, prosaico. Preparava-me para

as verdades. Em vez disso, ela surpreendeu-me por me poupar.

— Mas isso é ok. Você vai se ajustar. Vai descobrir. Ou não. Se não

puder fazê-lo por sua conta, ajudaremos você. Temos você coberta.

Meus olhos foram para o teto, em seguida, para ela. Eu estava confusa.
— Então por que instigou uma sessão de terapia com meus irmãos?

Ela deu de ombros.

— Porque não sei se eles têm um sistema adequado de suporte no local

para ajudá-los passar pelo sofrimento, especialmente desde que seu pai... —

Sandra pousou quando viu meus ombros endurecerem com a menção do meu

pai. Quando tem uma pessoa desprezível como pai, realmente acredito que não

pode escapar a odiar qualquer parte de si mesmo que se assemelha a ele ou ela. Se

se trata de uma grande semelhança física, um talento, propensão ou inclinação

que compartilha, todos os pontos comuns são abomináveis para você.

Eu pareço meu pai. Tenho seu grosso cabelo escuro e olhos azuis

brilhantes. Tenho o nariz da minha mãe, mas tenho todo o resto de meu pai, os

lábios cheios e a altura. Sou a filha dele, e odeio o homem. Odeio que me pareço

com ele. Meu pai é um músico talentoso. Apesar do meu amor por cantar e tocar

piano quando criança e adolescente, como jovem adulta rejeitei essas saídas

criativas.

Meu pai é um grande dançarino. Eu me orgulho de meus passos de

dança brega. Meu pai é um homem talentoso e encantador. Sou honesta em

abraçar a discórdia causada por minhas opiniões sem rodeios. É difícil encontrar

alegria em dons, ou potenciais dons, quando estão manchados pela associação.

Isto é algo que as pessoas com pais bem intencionados têm dificuldade

em compreender. Não se trata de pena de si mesmo e não é auto aversão. É um

desejo desesperado de se dissociar do mal.

— Desculpe. — Sandra disse. — Sei que não gosta de falar sobre ele. —

O tom dela era arrependido, mas parecia um pouco frustrada, quando fez um
gesto para o saco de tecido. — Já chega de falar de sentimentos, olhe seus

presentes.

— Depois vamos. — A boca de Elizabeth arqueou. — Comer.

Abri o saco maior e comecei a retirar itens.

Achei meu travesseiro, velas, chocolate, chá, vinho, mais vinho, meus

dois romances favoritos, um novo fio de lã e um vibrador.

— O quê...? — Olhei para o vibrador, pisquei, e levantei meus olhos para

a Sandra. — O que é isto?

— É um vibrador. Nunca viu um antes?

— Sim, Sandra, vi um vibrador antes. Por que diabos me trouxe um

vibrador?

— Bem, não é óbvio?

— Não.

— Ele vai ajudar. — Ela disse simplesmente. Olhei por um longo

instante, em seguida, revirei os olhos.

— Parece que me trouxe um vibrador. Está completamente louca.

— Espere um minuto, se quer saber, foi ideia da Janie. — Ela levantou as

mãos em sinal de rendição como se quisesse me impedir de começar um discurso

inflamado. Sandra estava referindo-se à nossa amiga mútua e compatriota de

grupo de tricô Janie Sullivan. Jane era uma princesa Amazona, falando na versão

da Wikipédia. Ela também era completamente alheia ao óbvio. Esta combinação

fazia dela irritantemente cativante.

— Ela leu um estudo, que compartilhou comigo, sobre como passar a

morte de... De um pai é menos estressante para as pessoas que estão casadas ou

num relacionamento sério, presumivelmente por causa do conforto que recebem


do parceiro. Parte disso, Janie fundamentou, e concordei, são definitivamente

orgasmos. Além disso, preparei preservativos, muitos deles, todos os diferentes

tamanhos. Acredite em mim quando digo que ter os diferentes tamanhos é

realmente útil. Sem trocadilhos.

Balbuciei por alguns segundos, em seguida, conseguiu finalmente dizer.

— Você está louca, e Janie é louca. Vocês duas estão completamente

malucas.

— Eu teria trazido uma foto recortada em tamanho real de Charlie

Hunnam, mas aquela idiota. — Sandra apontou para Elizabeth com a cabeça. —

Pensou que seria constrangedor.

Eu interrompi.

— Completamente maluca!

Só então, um galo cantou no pátio, como para ecoar meu insulto. Nós

ignoramos. Elizabeth cruzou os braços em postura defensiva.

— Seria estranho. E, tecnicamente, era maior que o tamanho permitido

para sacos de bagagem e bagagem de mão.

— Acho que eles devem fazer acomodações especiais para recortes em

tamanho real. Quer dizer, de que outra forma seria capaz de arrastá-los em todo o

país? Como acha que Darth Vader faz para ir as festas de aniversário de todas

aquelas crianças?

— Eles são enviados através dos correios... — O tom de Elizabeth foi

engraçado e a expressão plana. Era óbvio que tinham discutido este ponto antes

de sair de Chicago.

— Não tivemos tempo para ir à estação de correios antes de sair.


— Por favor, não diga que tem um recorte em tamanho real de Charlie

Hunnam feito. — Eu já sabia a resposta.

— Ok. Não direi que tínhamos um recorte em tamanho real de Charlie

Hunnam. Também não vou dizer que ele está sem camisa e atualmente esperando

por você em seu apartamento. Obrigado por me dar as chaves sobressalentes, e

não precisa agradecer.

Antes que pudesse responder, fomos interrompidas por uma batida na

porta. Sandra prontamente se virou e abriu-a, então recuou alguns passos. Drew

pairou na soleira da porta, enchendo cada polegada de espaço com sua estrutura

gigante. Os olhos examinaram meu quarto, em seguida, terminaram de vagar

quando pousaram em mim. Ele parecia tenso.

— Está tudo ok? — Perguntei, em seguida, levantei da cama, pronta

para correr pela escada.

— Sim. Ela está descansando. Duane e Beau estão com ela.

— Oh. — Relaxei um pouco, soltando um suspiro. — Ok. Bom.

Ele me observou por um pouco, os olhos nunca desviando dos meus,

então disse:

— Estou saindo.

— Ok. — Assenti com a cabeça e olhei brevemente Sandra. Ela estava

olhando para nós com os olhos apertados.

O quarto caiu quieto. O silêncio tornou-se uma coisa estranha, rígida.

Após um longo momento onde Drew caminhou na linha tênue entre olhar e

encarar, ele mudou sua atenção para Elizabeth.

— Obrigado pelo jantar. Estava tudo delicioso.


— Sem problemas. — Ela acenou então foi até ele e estendeu a mão. Ele

aceitou e se apertaram. — Vou ver você amanhã. Foi bom te conhecer.

— Amanhã? — Perguntei os dois. — O que há amanhã?

Elizabeth me respondeu.

— Drew e eu vamos para o hospital. Eu gostaria de enviar os registros

de sua mãe para Dr. Peterson.

— O oncologista?

— Sim, falei com ele sobre isso antes de sair de Chicago. Peterson está

esperando.

— Por que Drew está indo?

— Ele tem a procuração... Certo? Para a liberação de registos médicos?

— Oh, sim. Certo. — Meu pescoço coçava, e dei uma olhada em Drew.

Novamente, ele estava olhando para mim, mas desta vez foi um olhar flagrante.

A intensidade e veemência em sua expressão me pegaram desprevenida.

— O quê? — Deixei escapar, porque não aguentei. Meus olhos piscaram

entre Sandra e Elizabeth por ajuda. As duas olhavam Drew com expressões

pensativas. — O que há de errado?

— Nada. — Ele disse a palavra como se estivesse lutando, como

estivesse atirando para mim.

Franzi a testa em sua estranheza e estava prestes a interrogá-lo mais,

quando Sandra pisou na minha frente.

— Nós estaremos vendo mais de você? — Ela perguntou a Drew. Ela

cruzou os braços sobre o peito e fez uma pausa. Reconheci o tom dela como se

estivesse a conduzir um interrogatório, mas pergunta foi bastante benigna. A

atenção de Drew estabeleceu-se em Sandra, e imitou sua postura defensiva.


— Sim.

— Então, Charlie...

— Meu nome é Drew.

Sandra ignorou a correção.

— Quantas vezes estaremos... Vendo você?

Os olhos dele estreitaram um pouco.

— Diariamente.

— É meeeeesmo. — Sandra levantou o queixo. Eu poderia dizer que ela

o estava avaliando. Até Drew poderia ver que ela estava o avaliando.

Ninguém falou por um minuto. Elizabeth e eu olhámos de relance uma

para a outra, e dei de ombros.

Estava prestes a quebrar o impasse do jogo de encarar esquisito com a

sugestão de acompanhar Drew até à porta, mesmo que o pensamento me fizesse

estranhamente nervosa, quando Sandra disse suavemente.

— Nem todas as mulheres são ruins, sabe. Não somos todas

sanguessugas viperinas. Existem algumas boas... Como Ashley. Ela é boa. Você

deve ter notado: o exterior coincide com o interior.

Minha boca caiu ligeiramente aberta, e dei um passo atrás quando os

olhos de Drew cintilaram nos meus. Era um olhar frio de aço azul que quase me

matou. O olhar era fechado e duro, e a boca foi definida numa linha firme e

infeliz.

— Boa noite. — Disse ele, e então se afastou, os passos audíveis

enquanto descia as escadas.


CAPÍTULO 6

“Se nos não pudéssemos rir, nós todos teríamos ficado insanos”.

― Robert Frost

~Ashley~

Nós três ficamos no lugar por vários segundo, e sabíamos sem dúvida

que meu rosto mostrava uma expressão de perplexidade atordoada. Estava

cansada ainda, e este dia começou com uma nota bizarra e ainda beirava o

estranho. Talvez fosse apenas tudo o que estava acontecendo de uma vez, mas

não conseguia processar na minha mente o que tinha ocorrido.

Portanto, disse:

— Estou tão confusa.

— Ele também. — Sandra disse pensativamente, ainda olhando para o

lugar onde Drew tinha estado parado. — Mas não tão confuso como você é,

porque não está cego pela dor.

— Sandra. — Elizabeth abanou a cabeça. — Não se meta. Ashley tem

muita coisa acontecendo.


Estava consciente o suficiente para detectar uma borda de aviso, no tom

de Elizabeth. Olhei de relance entre elas quando a implicação da não-conversa me

atingiu como um rio lento de melaço.

— Você não pode... Você não pode estar falando...? — Não terminei o

pensamento porque era totalmente ridículo, como recusar torta frita na feira

estadual.

— Uh... Sim. — Sandra fechou a porta e me enfrentou. — Quer dizer que

o bom Dr. Runous é um gatinho apaixonado. Ou, talvez, a melhor maneira de

colocá-lo é um peão excitado. — Ela franziu a testa e os olhos foram para uma

posição sobre meu ombro. — Também não é uma analogia muito boa. Vou ter

que pensar sobre isso.

— Não, não, não. Você está errada. Está tão, tão errada. Ele não gosta de

mim em tudo.

Estive em torno de muitos rapazes bonitos na vida. Namorei alguns

narcisistas ‘sou demasiado sexy para esta pizzaria’. Sabia melhor do que me sentir

atraída pelo um por cento superior de homens solteiros bonitos. O um por cento

superior não acredita em monogamia, decência, boas maneiras, ou honestamente

bom sexo. Sexo era um palco e, após a cortina cair, o show acabava.

Drew estava definitivamente no um por cento superior. Portanto, devia

ter adivinhado. Além disso, estava intensamente irritada comigo mesma por

notar que Drew estava no um por cento. Além disso, por que diabos estava

pensando sobre sexo?

— Ele pode não gostar do fato de que gosta de você, mas ele gosta. —

Isto veio de Elizabeth, as palavras relutantes e com um pedido de desculpas que

verbalizou e continuou. — Sinto muito, Ashley. Mas o cara está afim de você.
— A propósito, o que há naquele pequeno caderno que ele carrega? O de

couro com os símbolos vikings? — Sandra perguntou, como se qualquer uma de

nós fosse confessar que tínhamos alguma ideia do que Drew fazia sobre isso.

— Eu não sei. Conheci-o ontem. Não nos conhecemos. Todas nossas

interações foram desagradáveis.

— Mas ele te olha como se fosse apetitosa. — Disse Elizabeth. — Como

se te conhecesse, como se realmente te conhecesse. — Após uma breve pausa, ela

acrescentou em voz baixa. — Como se estivesse empossado em você.

— Você está interpretando mal as coisas.

— Nós duas estamos interpretando mal as coisas? — Sandra, bufou. —

Isso é improvável.

— Não. Você está errada. Ele parece verdadeiramente dedicado a minha

mãe e irmãos. Se estiver vendo algo parecido com cordialidade ou afeto é por

causa deles.

Nenhuma delas pareceu convencida. Ocorreu-me que provavelmente

não estavam convencidas porque eu não estava convencida.

Sandra se aproximou. Ela se agarrou, e em seguida, apertou meus

ombros.

— Olha, tudo o que sei é que ele veio aqui e olhou para você como se te

conhecesse. Então olhou para você, como se quisesse a conhecê-la melhor. Então

te olhou, como te estivesse te despindo com os olhos. Então, o olhar mais

incriminatório de todos, olhou para você como se te odiasse.

— Sim. Notei isso também. — Elizabeth concordou. — Ele estava

basicamente te encarando o tempo todo. Não havia nada sutil nisso. — Ela

acenou com a cabeça para dar ênfase, embora a expressão fosse de compaixão.
Balbuciei, gaguejando e decidi dizer.

— Acertou na última parte. Ele me odeia.

— Sim, ele provavelmente odeia. — Sandra estreitou os olhos e deu um

passo atrás me observado da cabeça aos pés. — Acho que ele te odeia... De outra

forma.

Olhei para elas, porque não poderia fazer mais. Meu cérebro estava

ainda escorregadio, oprimido. Esta não era uma conversa que precisava ou queria

ter, especialmente não agora.

Minha história com os homens era terrível. Toda a minha vida, todos os

vinte e seis anos, poderia ser medida pelo número de vezes que tinha permitido

ser enganada pelos homens, meu pai, sendo o primeiro. Depois vieram meus

irmãos (embora a normalidade e a bondade que agora tinham me confundiram).

Depois veio meu melhor amigo no colégio, Jackson James. Depois veio todo o

cara que namorei na faculdade e pós-graduação. Eles me viam como um belo

pedaço de bunda e um rosto bonito, ouviam um sotaque do Sul e assumiam que

significava que eu era de classe baixa e sem instrução.

Eu tinha um dom para atrair idiotas, provavelmente porque cada

menino que conheci crescendo, e todos os homens, eventualmente me tratarão

como lixo. Agora, trabalhar com médicos de grande ego, chauvinistas da Ivy-

league era pior. Eles serviam como um lembrete diário de como eram homens de

verdade e porque meu coração estava mais seguro com a variedade fictícia.

Além disso, queria acreditar que Sandra e Elizabeth estavam erradas

sobre Drew. Precisava acreditar que estavam erradas. Mas era difícil, quando me

lembrei do olhar de completa irritação que ele me deu na garagem no dia


anterior, as citações de Nietzsche que usou e insinuou que era uma vaca e o fato

de que ele era bonito ficcionalmente.

Todo mundo sabe que na vida real, homens bonitos ficcionalmente são

vasos de Satanás cheios de nada. Adicione a tudo isto o fato de que não

importava. O que Drew sentia por mim era completamente irrelevante. Meus

sentimentos quentes e frios sobre ele eram irrelevantes.

Minha vida estava em Chicago, não no Tennessee. Eu precisava manter

minha cabeça focada, sobreviver as próximas quatro a seis semanas (ou menos),

passar o maior tempo possível com minha mãe, depois voltar para a minha

existência normal e pacífica, lendo e fazendo tricô. Acima de tudo, vou evitar

vasos de Satanás cheios de nada.

— Não posso lidar com isso agora. — Disse. — Não consigo lidar nem

com o pensamento. Meu cérebro parece que está coberto de gordura. O tempo

está passando muito rápido e muito lento. Não tenho vontade para ser amada ou

odiada por Drew ou qualquer outra pessoa.

— Não deseja?— Sandra incitou. — Nenhuma?

— Como pode perguntar isso?

— Bem, as peças se encaixam com as suas peças. E ele está aqui. E

interessado. E é extremamente fácil de olhar, apesar do fato de que nunca fala. E

você estão ambos vivos, então necrofilia não é problema.

— Realmente acha que estou aqui numa caça a homem?

— Não, claro que não, e isso não foi o que disse. Mas pode notar um

cara quente.

— Claro que notei! Como não poderia? Ele é como um cowboy viking.
— Ele entusiasma você nas suas coisas? — Sandra pergunta usando sua

melhor cara séria.

Eu gemi.

— Sim, se isso significa o que acho que significa, o que significa que é

má notícia. Tenho a incrível capacidade de atrair idiotas. É como se tivesse um

sinal em algum lugar que diz que homens gentis devem ficar longe. Se o que está

dizendo sobre Drew está correto e ele está atraído por mim, então garanto que ele

é um idiota.

Sandra me estudou com interesse curioso, e sabia antes dela abrir a boca

que ela não era mais minha amiga Sandra. Agora era Sandra a psiquiatra.

— Por que acha que você atrai idiotas?

— Porque sim.

— Nunca namorou um homem bom?

— Uma vez, no ensino médio. Namorei um garoto muito legal chamado

Jackson James, ou pelo menos ele foi bom para mim até que admiti que não

estava atraída por ele. Então ele fez uma grande confusão pública, disse a todos

que tínhamos dormido juntos e se recusou a falar comigo.

— E...?

— Depois disso, prometi a mim mesma que apenas sairia com homens

que me atraíam, porque nunca quis magoar alguém assim. E desde então, tive

meu coração quebrado duas vezes. A primeira vez você sabe com Grant, na

faculdade, o filho do magnata de Wall Street.

— Desculpe. — Disse Sandra, sua expressão sombria pela lembrança. —

Esqueci Grant.

— O que aconteceu com Grant? — Elizabeth olhou entre nós.


Sandra me olhou e dei de ombros, indicando que não me importava se

compartilhasse.

— Ele era um babaca. Estava saindo com outras duas garotas. Mas. —

Sandra acrescentou, voltando-se para mim. — Ele era um babaca tranquilo, não

era? Não havia como saber o que estava tramando. E quando descobriu, você

terminou com ele.

Isto era tudo verdade. Ele era um mentiroso muito bom. O que não

contei a Sandra foi que quando terminei com ele, ele me disse que eu era lixo, era

um rosto bonito e um belo pedaço de bunda, mas tudo o que seria era uma

caipira ignorante. Ele disse que teria vergonha de apresentar-me à sua família, e

que nenhum homem iria querer-me uma vez que minha aparência desaparecesse.

Meu coração doía de pensar nisso agora, principalmente porque fui

estúpida o suficiente para me apaixonar por ele.

— E Sam também não foi culpa sua. — Sandra disse isso como amiga

Sandra. — Ele era só um excêntrico.

Sam era meu namorado há três meses na faculdade, e me apaixonei. Ele

era um músico que decidiu que não estava pronto para uma namorada séria. Isso

foi depois que tivemos sexo, claro, e que ele disse que me amava. Seis meses

depois que terminamos, ele casou com a filha de um executivo.

— Quero saber sobre Sam? — Elizabeth perguntou.

— Não. — Sandra disse e fez uma careta, como se estivesse se lembrado

do gosto de leite azedo. Então virou para mim. — Qual é Ashley, dois caras. Isso

é suficiente para te fazer desistir dos homens.


— Há três caras se contar meu amigo de infância, Jackson. Se contar meu

pai, são quatro caras que partiram meu coração. Se você contar meus irmãos,

então estamos em dez.

Sandra pressionou seus lábios juntos e me encarou.

— Drew é muito gostoso, tem uma boa cabeça, não incomoda com bate-

papo e virá diariamente.

— Mas ele também é intrometido, tem a tutela, e se ele me levar a tomar

o caminho errado?

Elizabeth murmurou sob sua respiração.

— Se você o deixar, acho que ele vai com prazer leva-la pelo caminho

certo.

Olhei para ela, meus olhos esbugalhados. Então me deixei cair na cama,

cobri p rosto com as mãos e gemi.

— Estamos realmente falando isso? Com a minha mãe lá em baixo,

doente e... Ela não vai ficar melhor.

Sandra suspirou.

— Sim, e pedimos desculpas. — Senti a cama mover-se ao meu lado.

Sandra se deitou ao meu lado e jogou o braço e a perna sobre meu corpo, me

abraçando. — Você esta muito vulnerável neste momento. É natural querer e

realmente desejar conforto físico. Drew amaria lhe proporcionar conforto físico. A

coisa é, há uma intensidade sobre esse cara que me deixa preocupada. Eu só

queria ver se você retribuía o interesse.

— Bem não. Não estou interessada em Drew.

Elizabeth entrou na conversa.

— Você tem muita coisa acontecendo.


— Exatamente. — Senti o aceno de Sandra, ao lado do meu ombro me

abraçando. — Você é uma alma sensível. Você lê poesia por diversão! Você é

romântica. Não quero que deixe o Tennessee com dois corações partidos.

Sacudi a cabeça, abri meus olhos e olhei Sandra. Ela parecia preocupada.

— Aprendi a lição, Sandra. Sei melhor do que confiar em homens.

Simplesmente vou ignorá-lo.

Ela me deu um pequeno sorriso.

— Duvido que ele vá ser fácil ignorar. Ele me parece o tipo teimoso.

— Ele é teimoso, mas não fará nada. Mesmo se o que está dizendo é

verdade, o que não é, ele não forçará. Meus irmãos confiam nele. E, mais

importante, minha mãe confia nele.

— Querida, espero que tenha razão. — Ela pôs as mãos em concha no

meu rosto, dando um sorriso pequeno e desconfiado. — Mas deve saber, minha

querida, que não precisa ser empurrada para cair.

***

— Conte-nos mais sobre Ashley quando garotinha.

Elizabeth disse ansiosamente, os olhos correndo para os meus e de volta

para a mamãe.

— Ela era do tipo de garota desordeira, ou era de se cobrir em chiffon

rosa?

Era o último dia de Sandra e Elizabeth, e estávamos sentados na sala. A

enfermeira da mamãe da semana, Marissa, também estava para treinar a

enfermeira de fim de semana, Tina. No entanto, Marissa ficou depois que Tina
saiu e Joe chegou para seu turno, explicando que era seu dia de folga e ela não

estava com pressa para ir embora.

Então, sentamos ao redor da cama da mamãe conversando e tomando

chá de hortelã gelado. Foi um prazer compartilhar minhas amigas com mamãe e

vice-versa, como duas partes do meu coração se juntando. Além disso, sua

presença era reconfortante em geral, era especialmente verdadeira após Elizabeth

ter tido notícias do nosso amigo oncologista em Chicago. Na sua opinião

especialista, nada poderia ser feito para minha mãe que não fosse fazer suas

últimas semanas confortáveis.

Minha mãe suspirou sobre a questão de Elizabeth, um sorriso feliz no

rosto, e os olhos perderam um pouco de foco, ela lembrou como eu era em meus

anos de amadurecimento.

— Ela era um pouco dos dois, realmente. Adorava correr solta com seus

irmãos, quando eles não estavam sendo maldosos com ela. — Ela fez uma pausa e

piscou para mim e, em seguida, continuou. — Mas ela também gostava de se

vestir em minhas roupas e sapatos. Uma vez encontrei-a com batom no rosto

dela. — Ela riu brevemente, o sorriso persistente nos olhos.

Eu balancei a cabeça e sorri para a memória.

— Eu tinha cinco anos e pensava que maquiagem consistia apenas em

batom, ou seja, a fim de colocar maquiagem em eu só precisava colocar batom por

toda parte e magicamente faria o que era preciso.

Sandra inclinou-se perto de minha mãe e disse.

— Que é como ela põe maquiagem agora, também. — O tom dela era

conspiratório e sua expressão séria. — Somos todas muito educadas para corrigi-

la. É muito estranho, quando vamos ao circo, todos pensam que ela trabalha lá.
Marissa e Elizabeth riam.

— Sandra, te conheço há três dias, e não consigo imaginar a polidez te

impedir de dizer qualquer coisa. — Minha mãe sorriu e piscou para minha amiga.

Sandra suspirou.

— É verdade. O que é essa delicadeza de que fala?

Mamãe riu, mas então respirou com dificuldade, estremecendo e fechou

os olhos. O humor na sala mudou instantaneamente. Minhas mãos se enrolaram

em punhos. Marissa e eu levantamos e fomos até à cama e Joe entregou a mamãe

o controle remoto que controlava a bomba de morfina.

— Bethany, não deveria ter medo de usar o medicamento. — Ele disse

para ela, seu tom morno e amável. — Ele serve para ajudar.

Minha mãe assentiu e apertou o botão uma vez.

— Eu sei. — Sua voz era rouca, instável. — Acho que talvez eu só esteja

cansada.

Elizabeth e Sandra trocaram olhares então se levantaram e começaram a

limpar os pratos.

— Ah, meninas, não vão ainda. — Mamãe protestou.

— Não acho que pode se livrar de nós. — Disse Sandra por cima do

ombro, parando junto da porta para a sala. — Estaremos de volta. Vamos roubar

sua filha um pouco enquanto fazemos o jantar, mas depois disso, vamos entrar

para aqueles shots de tequila.

— É melhor descansar, Bethany. — Marissa disse, dando a minha mãe

um olhar de provocação, se dirigindo a Sandra, quando acrescentou. — Negócios

das garotas do Texas.


O remédio da minha mãe já agia quando saímos. Marissa se ofereceu

para ficar para trás, no caso dela acordar, para eu poder ajudar a Sandra e

Elizabeth com o jantar.

Tínhamos dado apenas três passos no corredor quando fomos parados

por Roscoe. Ele deu um sorriso sincero. Notei que tinha um vaso de flores

silvestres nas mãos. Muitas vezes, nos últimos dias, tinha pensado que Roscoe me

lembrava um filhote de cachorro, ansioso por agradar e com fome de afeto.

— Ei! Mamãe ainda está acordada? — Ele perguntou.

— Ah, tipo. — Disse. — Ela está apenas descansando.

Seu rosto caiu um pouco e ele suspirou.

— Ah, bem. Vou só espreitar e deixar isso ao lado da cama, talvez me

sentar com ela por um tempo.

— O que está acontecendo? — Billy apareceu no final do corredor e

caminhou em direção a nós.

Parecia que tinha chegado neste momento em casa do trabalho.

Aparentemente, trabalhava o tempo todo, porque hoje era sábado, e ele já

trabalhava longas horas durante a semana de trabalho, voltando para casa após

as 19h00min todos os dias.

Sandra se adiantou e levantou o polegar.

— Entre, Roscoe. Marissa já está lá, podia fazer-lhe companhia. — A

mudança sutil no tom de Sandra me fez olhar para ela com desconfiança.

Os olhos de Roscoe se iluminaram.

— Sério?

Billy franziu as sobrancelhas.

— O que faz ela aqui? Pensei que só trabalhava durante a semana.


— Ela estava treinando a enfermeira de fim de semana. — Disse

Elizabeth, passando com um bamboleio por meus irmãos a caminho da cozinha.

— Convidamos ela para jantar.

Billy resmungou algo então se virou e caminhou pelo corredor em

direção à sala de estar, mas Roscoe ficou um pouco mais reto, os olhos movendo-

se para a sala.

— Entre, bonito. — Disse Sandra, dando um pequeno sorriso.

Ele assentiu com a cabeça uma vez, depois nos deixou indo em direção à

porta, batendo levemente antes de entrar. Assisti Billy de pé, sentindo um

melancólico sentimento de pesar. Ele me fez sentir um pouco como uma

usurpadora, quando estava aqui, desempenhando um papel. Ou talvez sua

atitude gelada ampliasse meus sentimentos sobre o assunto.

Peguei Sandra me olhando de cima e para baixo, então devolvi o olhar

de avaliação.

— O quê? — Eu disse.

— O quê? — Ela respondeu.

Estreitei os olhos ainda mais enquanto caminhávamos para a cozinha.

— Quer me dizer o que está acontecendo?

Elizabeth já estava numa urgência na cozinha, agarrando tachos e

panelas e legumes.

— Oh, nada. — Sandra disse despreocupadamente, e notei que estava

lavando os copos com mais vigor que o necessário. — A propósito, viu que você

tem um jardim de verão no quintal? — Ela continuou. — Perguntei a sua mãe

sobre isso esta manhã durante nosso Sandra-e-Bethany tempo de café. Ela
plantou as sementes algumas semanas atrás, mas esqueceu. Você tem tomates,

alfaces, abóboras e feijão verde chegando.

— Ok...

— Onde está o bom Dr. Runous? Ele tem sido raro de ver nesses dias.

A mudança de tópico de Sandra me deu uma chicotada, e pisquei em

confusão, tentando me manter.

— Eu... Não sei.

— Você provavelmente o afugentou. — Os olhos de Elizabeth piscaram

para Sandra e a voz dela era baixa. Soou como um aviso.

Eu definitivamente tinha notado a ausência de Drew. Vi-o duas vezes

nos últimos três dias e só de passagem, quando ele, Jethro, Billy e Roscoe

retornaram de algum exercício. Todos entraram na casa, quentes e suados, ambas

às vezes. Drew tinha parado para conversar com mamãe um pouco, mas depois

desapareceu, e fiquei com a imagem de um quente e suado Drew impressa no

meu cérebro.

Não gostava que tinha notado como Drew parecia muito, muito bom

após um período de exercício pesado.

Portanto, redobrei meus esforços para tira-lo da minha mente. Não

estava no Tennessee para comer com os olhos Drew. Estava aqui para cuidar de

minha mãe. Além disso, cada vez mais, como ele parecia ficar longe para me

evitar, tinha a impressão de que tinha também sentimentos contraditórios em

relação a mim.

Sandra assentiu com a cabeça para confirmar a advertência de Elizabeth.

— Você também tem oito galos. — Ela disse, voltando sobre o tema das

observações aleatórias da fazenda.


Eu pisquei, assustada com o número, e novamente o novo tema.

— Oito? Precisamos de oito galos para quê?

— Não sei. Bethany disse que estava planejando matar todos, mas nunca

teve tempo. Você realmente só precisa de um galo para manter as galinhas na

linha, e as galinhas são estritamente para pôr ovos. Pode imaginar como deve ser

frustrante para todos os galos, rondando, cantado uma tempestade, brigando uns

com os outros? Estou surpresa que um deles ainda não voou da gaiola. É por isso

que há esse constante tumulto lá fora. Você precisa comer alguns desses galos

antes de acabar com uma situação de galo.

Pisquei para ela inexpressiva, me recusando a morder a isca. Com a

velocidade da luz, Sandra mais uma vez mudou de assunto.

— Oh, e gosto de sua enfermeira, Marissa. Ela é totalmente atrevida.

Seus irmãos já estão lutando por seu afeto. Eu desejo poder ficar por aqui e ver

quem acaba por cima... — Sandra fez uma pausa e levantou a sobrancelha para

dar ênfase. —... De Marissa.

— Poderia ser mais sem tato? — Elizabeth abanou a cabeça.

Sandra bufou e limpou as mãos e se dirigindo a Elizabeth.

— Não finja que está chocada. Você também é uma tarada pervertida. E

está perguntando a mesma coisa. Meu dinheiro está em Billy.

— Billy? Ele quase não a nota. — Sandra fez uma pausa. —Não, estou

pensando em Roscoe. Ele é muito charmoso, e parece que sabe como manusear o

machado.

— Oh, meu Deus, eles são meus irmãos! Ugh. — Uma bolha de riso

escapou-me e balancei a cabeça, tentando manter a expressão severa. Reconheci o


que estavam fazendo. Estavam tentando me distrair do sofrimento e me

preocupar por ser boba e bruta. Estava dando resultando.

— Todo mundo nessa casa precisa de algum tipo de cura sexual. Marissa

disse que ela tinha irmãs. Gostaria de saber quantas. Se ainda não estiver

interessada Drew, talvez ela tenha um irmão, com quem possa sair. — Sandra

piscou para mim.

— Só, por favor, pare. Já flagrei os gêmeos usando as mãos curadoras.

Não importa quanta água sanitária beba, nunca vou ser capaz de completamente

limpar minha mente ou esquecer o horror do que vi.

— Espere, disse gêmeos? — Sandra fez uma pausa, olhando por cima do

ombro como se sua mente estivesse trabalhando. Ela mudou o foco do olhar para

mim. — Eles usam as mãos curadoras um no outro? Juntos?

— Sandra! Isso é nojento! — Elizabeth lhe uma palmada no ombro.

— O quê? Homens fantasiam sobre ménage à trois com irmãs gêmeas,

mas sou uma tarada porque meu caderninho de palmada inclui duendes gêmeos?

Me engasguei instintivamente, cobrindo a boca com a mão, mas também

ri. Por entre meus dedos murmurei.

— É como se uma festa estivesse acontecendo em minha boca, e todo

mundo está vomitando.

— É isso mesmo, Ashley. Minha mente só foi para lá. — Sandra disse

isso em voz alta, a cabeça fazendo um estranho pequeno pivô jazzístico. — Minha

mente foi o dobro do gengibre, o dobro da diversão.

— Inapropriado, psiquiatra Sandra, inapropriado! — Elizabeth sacudiu

o dedo para Sandra, mas estava rindo.


— Sério, pare. — Balancei a cabeça, segurando meu estômago, rindo e

perto de lágrimas de alegria. —Por favor!

Sandra caminhou para ficar atrás de Elizabeth e a fez dançar uma

pequena dança de quadril, arqueando as sobrancelhas para mim.

— Sabe que gosto do meu sushi como gosto de meus homens... — Ela

fez uma pausa para efeito dramático, em seguida, adicionou. —... Com duas

fatias de gengibre.

— Você é uma aberração. — Me perdi num ataque de risos. Elizabeth

estava rindo tanto que teve que segurar o balcão da cozinha para equilíbrio. Entre

os estrondos altos de risos, ela conseguiu dizer. —Eu gosto... De meus homens...

Como eu gosto... Da minha carne... — Ela lutou para respirar, quando limpou

lágrimas dos cantos dos olhos.

Sandra, estava agora rindo tão alto ficou completamente silenciosa, e

engasgou.

— Porquê?

— Quente com um vermelho... Com um vermelho... com um...

— Não diga isso! — Sandra acenou com as mãos no ar e riu ainda mais.

Elizabeth não podia terminar por alguns segundos, porque literalmente não

podia falar, os olhos fechados enquanto ria com abandono. Então ela deixou

escapar.

— Quente com um suculento centro vermelho!

— AGH! — Eu balancei minha cabeça e cobri os ouvidos.

Com a sorte que tinha, Duane e Beau escolheram aquele momento para

entrar na cozinha.
— AGH! — Gritei novamente, horrorizado porem incapaz de controlar o

riso que convulsionou meu corpo.

Meus irmãos gêmeos olharam para cada uma como se fôssemos

alienígenas. Não acho que poderia ter parado de rir se minha vida dependesse

disso, especialmente quando Duane perguntou com as feições completamente

confusas.

— Então,... O que é o jantar?

Então, porque a Sandra era Sandra, gritaram.

— Bife e sushi!

Sandra soltou uma gargalhada alta e bateu na coxa.

Elizabeth agarrou seu estômago e abanou a cabeça, ofegando por ar.

Meu maxilar doía, meus lados doíam e tive que enterrar minha cabeça

nos braços, porque toda vez que olhava para um dos dois acabava rindo tudo de

novo. Apesar do ridículo do momento, perguntava-me em algum lugar escuro no

fundo da minha mente como iria sobreviver quando minhas amigas saíssem

amanhã. Em quem me apoiaria? Como ia lidar ao ver a vida escapar de minha

mãe diariamente até que nada fosse deixado?

Não havia nada engraçado sobre o que estava por vir, mas sem o riso,

estava com medo de que enlouqueceria.


CAPÍTULO 7

“Que você possa viver todos os dias da sua vida”.

― Jonathan Swift

~Ashley~

Mamãe foi a paciente dos cuidados paliativos que gritava sabedoria de

lobo.

— Ashley, onde está, querida? Tenho algo importante para te dizer.

Estava sentada na cadeira ao lado da cama, profundamente envolvida

em minha terceira leitura de Catch 22. Tinha-lhe dado um banho meia hora atrás e

a ajudei a se vestir. Ela estava fraca e sonolenta devido ao esforço. A tensão no

tom me surpreendeu porque pensei que estava dormindo. Imediatamente deixei

o livro e dei a mão para ela.

— Estou bem aqui. O que é mamãe?

— Chegue mais perto. — Ela apertou meus dedos, Então levantei da

cadeira e me inclinai sobre a cama para que ela pudesse me ver melhor.

— Ashley, você precisa saber, de todas as coisas que usa, sua expressão é

a mais importante. — Mamãe disse com seriedade febril. Dei-lhe um sorriso


gentil e ela continuou os olhos dela perdendo o foco. — E o desodorante...

Sempre use desodorante... E roupa interior limpa.

Isto se tornou uma ocorrência habitual. Ao longo da última semana e

meia desde que veio para casa, minha mãe me olhava com urgência nos olhos e

me pedia para vir mais perto, insistindo que tinha algo sério e importante para

passar. E quando me inclinava para perto, sempre dizia algo peculiar, aleatório

ou mundano.

Não importava quem mais estivesse na sala. Seus amigos e colegas de

trabalho da biblioteca vieram para uma visita, durante o qual minha mãe

urgentemente me disse.

— As minhocas não estão ansiosas para o peixe morder.

Seu pastor passou para ver como a família estava e minha mãe não

deixou minha mão até que disse.

— Você vai perder força no seu aperto se colocar muita saliva nas mãos.

Uma vez disse:

— Quando seus filhos te disserem que têm dores de barriga, pergunte-

lhes se já fizeram coco. É geralmente apenas constipação.

Outra vez foi:

— Felicidade e reumatismo vão ficando maiores se falar sobre isso para

as pessoas.

E outra:

— O medo não conta se você realmente quer alguma coisa.

Eu não conseguia descobrir se ela estava brincando comigo, ou se falava

sério, então decidi contar piadas brega para ela.

Coisas como:
— Como é que o oceano diz Olá para a costa... Dá-lhe uma pequena

onda.

— Como sabe que o sol não se sente bem... Não dá ele já é tão quente.

Eu precisava ouvi-la rir. Quando ria, parecia que tudo estava bem para

mim e eu precisava rir.

Desta vez, no entanto, não contei uma piada, porque seus olhos estavam

sem foco e nebulosos.

Assenti com a cabeça, levei minha mão até seu rosto e escovei alguns

cabelos da têmpora.

— Eu me lembrarei de usar uma expressão agradável, bem como

desodorante e roupas intimas limpas em todos os momentos. Eu prometo.

— Além disso, querida, precisa deixar de pairar sobre mim. Quando foi

a última vez que deixou este quarto?

Eu a mandei calar.

— Estou aqui para cuidar e passar tempo com você. Aqui é onde quero

estar.

Ela fez uma careta e apertou os olhos, a respiração curta e agitada. Num

piscar de olhos afastei a umidade pungente de meus olhos enquanto observava

sua luta através da dor. Os dedos dela agarraram os meus como uma tábua de

salvação.

Estudei a morfina e achei igual. Era angustiante, Marissa tinha

substituído o saco há várias horas.

— Mamãe, se está sofrendo, você precisa usar o botão. —Mantive minha

voz baixa e comedida.

Ela balançou a cabeça.


— Me faz sentir grogue. Não quero dormir... Ainda não.

Inalei uma respiração instável e cerrei os dentes. Ela gemeu. Foi um

barulho horrível e fez-me sentir completamente impotente. Um movimento na

porta me chamou a atenção. Olhei para cima para encontrar Duane e Beau

pairando na porta.

Os olhos arregalaram conforme os olhares foram da mamãe para mim e

depois de volta a ela.

— O que há de errado? O que podemos fazer? — Beau adiantou-se e

enfiou a mão na testa da minha mãe.

— Ela está com muita dor. — Eu expliquei, e então olhei Duane. —

Traga alguns cubos de gelo?

Duane hesitou por um momento e então desapareceu. Decidi que

colocaria uma geladeira na sala, no caso dela precisar de gelo e eu estar sozinha.

— E seu remédio? — Beau era pura energia contida, espelhando o

desamparo que eu sentia.

—Ela... — Eu ia explicar que ela não estava pressionando o botão para a

morfina, mas em vez disso engoli. Senti-me mal falando dela como se não

estivesse no quarto. Apertei a mão dela.

— Mamãe, por favor, aceite o remédio? Pressione o botão.

Ela acenou com a cabeça, o rosto pálido, a boca numa linha apertada.

Momentos como esse me faziam desejar desesperadamente o conselho e

o conforto das minhas amigas. Dizer adeus à Sandra e Elizabeth foi realmente

difícil.

Elas ficaram três dias. Enquanto Sandra e Elizabeth estiveram aqui,

tinha permitido com gratidão a Sandra se tornar o centro emocional da família


enquanto recuava para a segurança e o conforto do meu e-reader e romances.

Ficava acordada até tarde, conversando com um ou mais dos rapazes, ou, melhor,

homens, ajudando-os a resolver e chegar a termos com a dolorosa realidade de

perder sua mãe.

Ela também me ajudou, assim como Elizabeth, incentivando-me para ir

em passeios, ajudar com o jantar, tomar um banho... Escovar os dentes.

Passava agora uma semana de sua partida, e não me lembrava da última

vez que tomei banho. Definitivamente era um dia que começou mal. Não tive

coragem de deixar a sala. Não suportava a ideia da minha mãe precisando de

mim e eu não estar lá.

Os olhos do Beau eram um pouco selvagens enquanto olhavam seu

rosto, em seguida, o comprimento da cama. Sua atenção voltada para o fio branco

com o botão remoto vermelho no final, minha mãe recusou-se a pressionar o

botão.

Beau pegou e apertou o botão várias vezes. Então olhou para mim, a

expressão uma estranha mistura de rebeldia e desculpa.

Suspirei e fechei meus olhos, grata que ele tinha feito, porque não estava

pronta para tirar a escolha dela.

— Está tudo bem?

Abri os olhos para encontrar Jethro e Cletus entrando na sala. Duane

estava atrás segurando uma taça cheia de cubos de gelo.

Jethro, ficou ao lado de Beau e franziu a testa para o controle remoto na

mão então olhou para mim.

— O que aconteceu?
Dei de ombros. Quando finalmente falei, minha voz estava trêmula e o

queixo estava cambaleando, mas não chorei.

— Mamãe não pressiona o botão.

A expressão apertada da minha mãe foi suavizada, descerrando o

maxilar, e o aperto na minha mão foi ficando frouxo.

Jethro assentiu com a cabeça, olhando sério.

— Ash, por que não faz uma pausa?

Eu balancei minha cabeça, meus olhos em mamãe.

— Estou bem. Eu estava lendo um livro.

— Ash... — Algo no tom do Jethro, o jeito que disse meu nome, me fez

olhar para cima. Seus olhos furaram os meus, mas eram compassivos. — Vá

tomar banho.

Engoli a recusa automática e assenti suavemente, deitando a mão mole

da minha mãe na cama. A expressão séria de Jethro, o conjunto de sua

mandíbula, a dureza nos olhos castanhos me disseram que eu não podia recusar

sua “sugestão”.

Descuidadamente, fui lá em cima e rapidamente fiz como instruído. Mas

estava simplesmente fazendo movimentos. Não senti nada sobre limpeza ou que

era necessário. Meu coração estava ainda lá em baixo, torcido e machucado e se

recusando a tomar analgésicos.

Após me secar e vestir calças de ioga limpa e uma camiseta preta que

não cheirava mal, desci as escadas, com a intenção de voltar para a sala e o meu

lugar agora permanente na cadeira junto à cama da mamãe. Estava passando por

minha lista mental. Quanto ela tinha comido hoje? Quanto tinha dormido?
Virei à esquina para a sala e peguei o final de uma conversa silenciosa. O

corredor estava obstruído com seis meninos Winston e um Drew Runous.

— …Como disse, não se preocupe, Billy. Todos já têm o suficiente na sua

cabeça sem ter que pensar sobre as contas. — A voz de Drew era infinitamente

calma, contudo também parecia desconfortável.

— Você está as pagando. — A voz de Billy era um pouco frustrada. —

Isso não está certo, Drew.

— Vou me reembolsar mais tarde.

— Não, não. Você só pagará por tudo. — Espiei em torno do batente e vi

que Billy não parecia chateado, na verdade, parecia grato e com uma irritação

amigável. — Liguei para o banco e verifiquei a agenda. Sei que já cobriu o

pagamento do carro e a conta de energia elétrica para este mês e o próximo.

Drew suspirou.

— Não quero discutir sobre isso, Billy.

Billy riu levemente.

— Estamos discutindo?

— Ei, Ash. — Jethro disse.

Meus olhos piscaram para meu irmão mais velho, que estava franzindo

a testa enquanto me olhava. Na verdade, muitos deles estavam franzindo a testa e

em pé um pouco mais reta e mais aguerrida. Drew, no entanto, não estava

olhando para mim, sua atenção estava na parede atrás da cabeça de Billy.

As preocupações que Sandra e Elizabeth tinham sobre Drew eram

completamente infundadas. Ele não tinha feito qualquer avanço, nem tinha me

submetido a mais citações de Nietzsche. Não estivemos em quaisquer impasses

de maus olhares.
Embora, para ser justa, é difícil olhar para alguém que não está lá ou que

não faça contato visual. Drew visitou mamãe, mas parecia que tinha um talento

para só vir quando eu estava em outro lugar ou dormindo. Pela minha parte,

observava-o cada vez menos, mesmo quando aparecia quente e suado depois de

um treino.

— Oi. — Dei-lhes um sorriso de boca fechado e um pequeno aceno. — O

que está acontecendo?

— Está com fome? — A pergunta veio de Cletus. — Porque Drew trouxe

comida.

Dei um sorriso doce a Cletus e balancei minha cabeça.

— Obrigado, mas não estou com fome.

— Você comeu pouco no almoço. — Billy disse e fez uma carranca para

mim.

Pensei sobre isso, e percebi que ele estava certo. Não tomar o café da

manhã era um comportamento atípico para mim. Nunca, nunca, nunca, nunca fui

à menina que pulou refeições. Na verdade, gostava de planejar meus dias de

trabalho e férias perto da comida. Era uma adoradora de comida. Não me

importava um traseiro grande (ou uma frente) se isso significasse biscoitos todos

os dias. Mas na última semana, não havia provado nada bom.

— Ok... — Hesitei, olhando para a porta da sala.

Surpreendeu-me, que Drew veio até onde eu estava de pé na porta e

colocou as mãos na minha cintura, como se não fosse me deixar passar. Ele

capturou meu olhar com o dele. Então a atenção foi dos meus olhos para a minha

boca enquanto disse em voz baixa.


— Ela está dormindo, querida. Você precisa de uma pausa. Vamos

comer alguma coisa.

Sua proximidade, as mãos quentes no meu corpo, a forma como olhava

para mim com os olhos de aço, a suavidade do tom de voz quando me chamou de

querida, tudo me levou para uma parte de mim que estava adormecida há dias.

Dei umas cotoveladas para colocar o despertar destas sensações à parte, querendo

focar em minha mãe.

— E se ela acordar? — Eu desafiei. — Não quero que fique sozinha.

— Vou sentar com mamãe. — Beau disse timidamente. A expressão dele

me disse que sentia culpa por forçar analgésicos nela. Eu queria dizer que estava

feliz que ele tenha feito. Tão logo o pensamento me passou pela cabeça, senti-me

culpada.

— Vou sentar com ela também. — Roscoe ofereceu.

Jethro, adiantou-se e puxou meu cotovelo, me tirando do aperto de

Drew, que apertou mais antes de me deixar ir.

— Vamos lá, Ash. — Meu irmão pediu. — É frango frito e purê de

batatas. Você pode talvez telefonar para sua amiga Sandra e bater um papo.

Deixei-me levar por Jethro para a cozinha e a ninhada inteira de

Winstons, além de Drew, menos Beau e Roscoe, seguindo.

— Não posso, na verdade. Meu celular não pega aqui, não há nenhum

telefone em casa e não há Internet, então não posso usar o Skype. — Disse

categoricamente, sem recriminação.

— Porque não usa o celular da mamãe?

— Não consigo encontrá-lo. Não estava com as coisas dela quando

voltou do hospital. — A situação não era facilmente corrigível, então decidi não
fazer nada sobre isso. Nenhuma das casas em Green Valley tinha Internet, a

menos que tivessem uma antena parabólica. Não havia razão para pedir uma

conexão por satélite desde que não ia ficar muito tempo.

— Pode usar meu telefone. — Jethro ofereceu. — Ou de Billy, ou

qualquer um.

Dei de ombros.

— Não. Não faz mal. — Não tinha energia para pensar sobre isso.

— Não falou com suas amigas durante toda a semana? — Duane foi até

ao armário e pegou uma pilha de pratos. — Isso não parece certo. Não se viam

todas as semanas?

Balancei a cabeça.

— Às vezes encontro-as para o almoço no hospital durante a semana.

Mas, sim, terça-feira é o dia, que ficamos todas juntas. Nós nos encontramos e

fazemos tricô e crochê, e claro conversamos.

— Amanhã é terça-feira. — Cletus colocou uma pilha de garfos e facas

no balcão. — Você vai faltar ao encontro, se não conseguirmos Internet.

— Não se preocupe. — Olhei em torno da cozinha, não me sentindo

particularmente interessada na conversa. Meus olhos foram para Drew e o

encontrei em pé, longe de todos os outros, olhando para o celular dele como se

estivesse lendo um texto. Por algum motivo aleatório, me perguntava quem era

sua companhia no celular.

— Ei, Ash, mamãe está falando sobre alguém chamado Jackson. —

Roscoe disse isto na entrada. — Você sabe o que ela quer dizer? Ela fica

perguntando se você está fora com Jackson.


— Ela está acordada? — Fui em direção à porta, mas Roscoe bloqueou

meu caminho.

— Não, Ash. Você precisa comer. Ela não está realmente acordada, está

falando durante o sono, acho.

— Ela não está falando sobre Jackson James, está? Aquele verme que

seguia você para todo o lado? — Billy perguntou enquanto punha os

guardanapos sob as definições de lugar na mesa.

— Ele não era um verme. Era meu melhor amigo. — Cruzei os braços

sobre o peito, mas senti pouca convicção nesta defesa.

Jackson e eu fomos melhores amigos por toda a escola, em parte porque

eu nunca tinha sido muito boa em fazer amizades com outras garotas. Eu e ele só

nos dávamos tão bem porque éramos ambos párias sociais, aves raras. Em minha

experiência de crescimento em Hicksville no meio do nada Tennessee, as meninas

eram más, meninas na puberdade eram cruéis e adolescentes eram impiedosas,

mas isso era provavelmente verdade em todos os lugares.

Além disso, Jackson James era o garoto mais doce, mais gentil, mais

incrível do mundo inteiro... Até o final do nosso último ano, quando ele me

largou.

Fiquei chocada quando aconteceu. Eu não estava apaixonada por

Jackson, não da forma romântica ou apaixonada como livros e filmes te dizem

que é real, mas tinha vindo a depender dele. Ele foi meu primeiro de tudo: meu

primeiro beijo, meu primeiro namorado, meu primeiro na primeira vez. E quando

me deixou antes da faculdade, ele cortou toda a comunicação. Estava tão triste

com a perda de meu melhor amigo que parecia que tinha perdido uma parte de

mim.
Ao longo dos anos, o sentimento de perda tinha diminuído para uma

ligeira dor, principalmente relacionado à nostalgia. Tomei a situação como outro

exemplo, numa longa linha de exemplos, de por que os homens eram tão

confiáveis como tampões feitos de areia.

— Oh, por favor. — Duane revirou os olhos. — Jackson James é um

idiota. Ainda não sei por que deu a ele uma hora do seu dia. Você poderia ter tido

qualquer tipo em um raio de 100 milhas, e não deu a alguém uma segunda

olhada exceto o idiota, e ele era um maldito magricelo. Não tocava algo estúpido

como clarinete, ou algo assim?

Eu cerrei os dentes.

— Era oboé, e ele era muito bom. — Por alguma razão bizarra, meu

olhar procurou o de Drew e encontrou-o a me observar. Quando nossos olhos se

encontraram, ele não desviou o olhar. Portanto, eu fiz.

Jethro resmungou enquanto colocou os utensílios em volta da mesa.

— Homens de verdade tocam instrumentos com cordas, como uma

guitarra ou um baixo.

— Ou bateria. Essas não tem cordas. — Acrescentou Cletus.

— Ele só queria transar. — Duane disse e balançou a cabeça, obviamente

tendo o mesmo sentimento de nojo pelo meu melhor amigo de infância.

— Duane Faulkner Winston. — A voz do Jethro tinha uma pitada de

aviso. — Isso foi muito feio. Foi falta de respeito. Peça desculpas a Ash.

Minha mãe tinha dado a cada um de nós nomes dos seus autores

favoritos como nomes do meio. O meu foi bem, Ashley Austen Winston para Jane

Austen. Mas senti pena de Billy, porque seu nome completo era William

Shakespeare Winston.
Duane enfiou a mão no meu ombro.

— Me desculpe, Ash. Não falei por maldade. É que toda a gente queria

entrar em suas calças, e o cara era o pior. É difícil ter uma rainha de beleza como

irmã.

— Muitos caras para espancar. — Billy murmurou sob a respiração

quando terminou de colocar os guardanapos.

Franzi a testa para Billy e podia sentir o calor do pescoço com vergonha,

mas enderecei o pedido de desculpas do Duane.

— Está tudo bem. Sei que não estava tentando ser mau. Mas Jackson

realmente era meu amigo. Eu o conhecia quando éramos crianças.

— Quer dizer que sentiu pena dele. — Duane insistiu. — Ele era um

rejeitado. Foi à única boa para ele.

Fechei os olhos e esfreguei a testa, com uma sensação de cansaço

abrupta.

— Acho que vou deitar.

— Mas você não comeu. — Cletus argumentou atrás de mim.

— Me desculpe... Só não estou com muita fome. — Eu já estava

caminhando em direção do corredor que levava de volta para a sala.

Quando se seguiu um silêncio, pensei que estava liberada. Mas então

senti uma mão pegar meu pulso e me puxar pelo corredor na direção oposta da

sala.

— Eu disse...

— Eu ouvi. — A voz de Drew era aço temperado, os olhos prata e

lampejando, e tinha me tornado momentaneamente muda. Sua presença era

esmagadora. Apesar dos vários estados de exaustão, não pude resistir a verificar
seu traseiro bem formado enquanto ele me conduzia através da sala de família,

pela porta da frente e alpendre.

Uma vez lá, ele me deixou ir, mas ficou entre a porta e eu, os braços

cruzados sobre o peito, o rosto sombrio. Em seguida, me olhou.

Eu pisquei para ele, na porta o brilho da luz solar no início da noite. Meu

cérebro disse que tinha passado mais de uma semana desde que tinha estado lá

fora. Quando meu cérebro também me disse que precisava me recompor para

voluntariamente, tomar banho, comer três refeições por dia e encontrar uma

maneira de manter contato regular com os minhas amigas em Chicago,

basicamente, para voltar para a terra dos vivos, disse para meu cérebro ficar

quieto.

Drew estava me olhando, cada um dos seus passos, trazendo-nos mais

perto, e a mandíbula estava cerrada. Eu imitava sua postura, embora recuasse

enquanto ele avançava. Tenho certeza que o efeito foi patético. Eu estava cansada.

Faltava-me energia física e mental para discutir com alguém.

No entanto, parecia que a meu corpo não faltava à energia necessária

para tornar-se quente e vermelho ao encontrar-me de repente sozinha com Drew.

— Você vai dormir no sofá na sala todas as noites, não é? — Suas

palavras soavam acusatórias, e a mandíbula marcada.

Eu franzi o nariz para ele, e dei mais um passo atrás.

— Sim. Eu vou.

— Eu te disse que você e seus irmãos se revezassem. Não quero você

dormindo lá todas as noites. Você precisa se cuidar melhor. — O tom dele estava

numa linha entre o irritado e o agitado. Ele se aproximou mais.


Dei de ombros, minhas costas batendo no poste do alpendre. Eu não

podia recuar mais.

— Tudo bem. — Disse. Eu tinha aprendido, crescendo, que se dissesse

tudo bem, as pessoas geralmente me deixavam sozinha, porque pensavam que

tinham ganho. Então, ignorava seus desejos... E fazia tudo o que queria fazer. Esta

abordagem também resultou bem com os médicos quando tinham uma abelha na

cueca.

Eu poderia ficar quieta, dizer tudo bem, esperar os narcisistas se

cansarem, então voltava para meu trabalho ou poderia tentar revidar. A luta

nunca funcionou. Era como tentar remendar uma calça arrebentada com fita

adesiva e atitude corajosa. Melhor deixar a maré passar e sair da tempestade de

egos.

Drew estava agora a meio metro de distância.

— Você diz tudo bem, mas sei que vai voltar lá e dormir naquele sofá

novamente hoje.

Dei-lhe meu rosto de pedra. Isto não era da sua conta. Eu não era dá sua

conta. O que fazia ou não fazia não era dá sua conta. Mas por alguma razão, meus

irmãos e minha mãe tinham convidado o Dr. Runous em suas vidas e deram-lhe

as rédeas.

Não poderia fazer nada sobre isso, mas não tinha que gostar.

Com a sobrancelha arqueada, boca severa e olhos ferozes Drew chegou

mais perto. Fui forçada a inclinar a cabeça para manter o contato com os olhos, e o

tolo do meu coração começou a bater num ritmo rápido.

Se gostei ou não, se era conveniente ou não, a proximidade de Drew me

afetou. Estava acordada para ele agora, plenamente consciente. Talvez tenha feito
mal em apenas fazer os movimentos, negligenciando minha higiene pessoal no

entanto, ele era um lembrete irritante que eu era uma mulher, e meu corpo

respondeu ao prateado de seus olhos, de homem ficcionalmente bonito,

especialmente quando este homem parecia ter como missão cuidar de minha mãe

e irmãos.

— Ash, querida, precisa se cuidar melhor. — Sua voz se tornou mais

rouca, profunda, macia e com adulação. Ele levantou a mão e puxou o cabelo

para trás do meu pescoço, a mão dele ficou um pouco demais. Ao tirar os dedos

ele os roçou desde meu ombro até o cotovelo, fazendo-me lutar contra um

arrepio.

Então, abruptamente, ele tirou a mão como ele não se tivesse percebido

o que estava fazendo.

— Não me chame de querida, não sou sua querida. — Disse isso,

estupidamente e sem energia, meu pescoço quente e coçando.

Tinha o desejo mais estranho e louco de me pressionar ou esfregar

contra ele. Ele era tão ridiculamente viril e lindo que me fazia derreter.

— Você não pode esconder a doçura, Ashley. Não é algo para se

envergonhar.

— Eu não sou doce. — Isto surgiu um pouco ofegante.

— Sim. Sim, você é. Você está trabalhando através das imperfeições,

cuidando de sua mãe. Você é tão doce que está me dando uma dor de estômago e

cáries. — Ele disse as palavras como se estivesse impressionado e desgastado, e

falou de repente, como se ele não tivesse planejado dizê-las em voz alta.

Ele me olhava com a mesma intensidade que usou naquela noite no meu

quarto quando Sandra o estava avaliando. Ele olhava para mim como se eu fosse o
doce, como se fosse bolo coberto de glacé, e ele não conseguia decidir se queria

me morder ou lamber primeiro.

Segurei a respiração enquanto o observava, querendo saber o que ele ia

fazer, me perguntando se iria detê-lo.

Os olhos dele desfocaram quando olhou meus lábios, nossas cabeças

movendo-se mais perto.

O som das vozes de dentro da casa quebrou o feitiço, e Drew endureceu.

O olhar passou sobre meu rosto como se estivesse surpreso em me ver lá. Drew

não deve ter gostado do que viu porque sua carranca intensificou-se e os olhos

estreitaram em fendas. Então, abruptamente, se virou.

O tom dele era recortado e baixo enquanto dizia.

— Mulher irritante.

Com isso, ele desapareceu dentro de casa sua saída, pontuada por uma

batida da porta de tela. Soltei a respiração que estava segurando e teria

cambaleado se não estivesse encostada contra o poste da varanda. Decidi esperar

um minuto para dar ao meu corpo tempo para se acalmar antes de voltar para

casa.

Eu definitivamente precisava me acalmar. Drew fazia meu coração bater

a um milhão de quilômetros por hora. Ele fazia o meu peito quente e minha

barriga, ainda que deliciosamente, doloridos.

Depois de várias respirações profundas, dei alguns passos em direção a

casa só para ser cumprimentado por Cletus cutucando a cabeça em torno da porta

de tela, seguido de dois pratos de frango frito, purê de batatas e feijão verde.

— Ei, querida irmã, tenho comida para você. — Cletus com seus olhos

castanhos quentes e palavras afetuosas amoleceram meu coração mais do que um


pouco. Ele me deu um sorriso suplicante, e sua voz implorou. — Venha comer no

balanço. Vou te contar sobre minha oficina.

E assim, confrontada com o doce Cletus, me rendi.

Inalando e em seguida libertando uma respiração firme, minhas mãos

caíram para os lados.

— Claro, Cletus... Soa bem. — Peguei meu prato e me sentei numa

extremidade do balanço.
CAPÍTULO 8

“Algo terá desaparecido de nós como um povo se alguma vez deixarmos que só

os lugares selvagens remanescentes sejam destruídos... Simplesmente precisamos desse

país selvagem disponível para nós, que nunca façamos mais do que conduzir até seus

limites e olhar para eles daí”.

― Wallace Stegner, The Sound of Mountain Water

~Ashley~

— Quando foi a última vez que esteve aqui fora?

— O quê? — Disse, apertando os olhos enquanto olhei de relance do

meu e-reader retroiluminado para meu irmão Billy. Eu tinha uma mancha cinza

na visão de olhar para uma tela brilhante num quarto escuro por muito tempo.

Ele olhou para Marissa. Mesmo com o retângulo cinzento persistente

nublando minha visão, os vi trocar um olhar. Os lábios dela apertados,

sobrancelhas levantadas significativamente, os olhos ligeiramente estreitados.

Marissa, a traidora.

Os olhos de Billy alargaram, em seguida, olhou para mim e rosnou.

— É isso. Se Levante.
Ele não esperou eu me mexer. Andou ao redor da cama de hospital da

minha mãe, onde ela dormia, e me puxou pelo cotovelo da cadeira e me guiou

para fora da sala.

Billy não parou até que estávamos na parte inferior da escada, e só

parou porque puxei o braço de seu controle.

— Espere um minuto! — Eu balbuciei. — Poderia se acalmar?

Sua expressão era impaciente e irritada.

— O quê?

Franzi a testa. Ele parecia cansado. Seu paletó estava enrugado, e a

gravata estava torta.

— Você está bem? Aconteceu alguma coisa?

— Estou bem, Ash. Exceto pelo fato de que minha mãe está no fim do

corredor morrendo e minha irmã, após desaparecer por 8 anos, regressou a casa

só para se tornar um fantasma. Além disso, está tudo bem.

Vacilei, em parte porque a sala da família era mais brilhante que a outra.

Mas principalmente porque suas palavras queimaram a parede de marshmallow

que tinha tentado construir em torno de mim.

Deixei cair todas as bolas de meu malabarismo, especificamente, o

cuidado e alimentação de mim e minha família, em favor de passar cada minuto

sobrando com minha mãe. Ela tinha mesmo comentado sobre isso, brincou

dizendo que eu estava rondando, comentou que me tornei tão pálida que estava

translúcida. Ela me chamou de anjo branco brilhante enviado para levá-la ao céu.

Uma semana se passou desde minha estranha interação com Drew na

varanda. Desde então tinha incisivamente evitado ele e todos os outros. Quando

ele entrou na sala para visitar mamãe, o ar parecia mudar. Sempre ignorei isso e
ele, enterrando o rosto num livro. O ver e estar perto dele me fez sentir

desequilibrada.

Algo na minha expressão deve ter feito Billy se arrepender da última

declaração, porque os olhos amoleceram uma fração e ele bufou. Mas então

rosnou com exasperação e disse.

— Você precisa reagir, sair disso. Não pode se sentar lá dentro o dia

todo. Além disso, não está comendo, não fala conosco e nem reconhece nossa

presença quando estamos na mesma sala com você.

— Não?

— Não, não. Desde que suas amigas partiram, acho que ouvi você dizer

três palavras que não foram para mamãe ou um dos enfermeiros sobre mamãe.

Ele estava certo. Quando minha mãe estava acordada, conversamos, a

alimentei, lhe dava banho e a vestia ou lia para ela. Todos os dias, no entanto, ela

continuou a dispensar pedaços aleatórios de sabedoria desconcertante.

Quando minha mãe estava dormindo, Marissa tentou começar uma

conversa. Mas principalmente eu dormia, fazia listas mentais em relação aos

hábitos de mamãe comer e dormir, ou lia. Se me lembrasse, eu comia.

Até este momento, meus irmãos me deixaram fazer isso.

Mas senti que eles estavam esperando por mim para mudar e

demonstrar força de caráter e liderança. Eu não queria, e sinceramente senti que

não podia. Eu não era uma líder, mas também não era seguidora.

Eu tinha revertido para o padrão de minha infância no Tennessee, era

uma solitária excessivamente sensível. Agora, enquanto a verdade das palavras

de Billy me atingiu, meu olhar caiu no chão e mudei meu peso. Vi que meus pés
estavam descalços e um pouco sujos. Então notei que estava em calças de ioga.

Perguntei-me quando tinha mudado minha roupa íntima pela última vez.

Nojento.

— É isso. — Disse Billy. — Este é o meu momento cristão, cuidar de seu

irmão mais velho. Você vai lá em cima. — Ele apontou no andar de cima. — Vai

tomar um banho, porque você fede. E depois vai vestir roupas limpas e voltar

aqui. Tenho uma tarefa para você executar, e não pode voltar para casa até o

jantar.

Olhei para ele, abri a boca para objetar, mas percebi que não sabia que

horas eram.

— Espera, que horas são?

— É quase meio-dia.

— Por que está em casa? Não deveria estar no trabalho?

— Eu vim para casa durante o almoço, porque estava preocupado com

você.

Vacilei assustada. Billy estava preocupado comigo. Um lado da minha

parede de marshmallow derreteu.

— Vá para cima ou vou deixa-la nua e forçá-la sob o chuveiro. Não há

necessidade de bater, ninguém está no cronograma hoje.

Concordei, meu queixo cambaleando, meus olhos se enchendo de

lágrimas.

— E pare de ser tão lamentável. — Ele disse severamente, antes de me

puxar num abraço apertado.

***
Fui empurrada para fora de casa, mas só depois de Billy me

supervisionar a fazer meu cabelo e colocar maquiagem. Ele também escolheu

minha roupa.

Ele justificou seu comportamento autoritário, dizendo.

— Estamos todos preocupados com você.

Por alguma razão, isso funcionou. Estava descobrindo que a

preocupação dos meus irmãos por mim era minha criptônita.

Talvez tenha estado longe deles e do Tennessee por oito anos por uma

necessidade instintiva de autopreservação e um desejo de me tornar outra pessoa.

Eles, como grupo ou individualmente, sem esforço poderiam me envolver em

torno de seu dedo mindinho, anelar ou indicador.

Ou talvez estivesse me sentindo marcadamente sobrecarregada, cansada

e com fome e atualmente num estado de alta sugestionabilidade. Vestindo-me,

colocando maquiagem e fazendo meu cabelo me senti passando os movimentos.

Faltava energia para me cuidar.

Seja qual for o caso, vestida de jeans que agora eram um pouco folgados,

uma camisa da banda Mumford and Sons e tênis Converse, me colocaram a

caminho. Logo estava na estrada para a estação de guarda-florestal, minha missão

era dar a Jethro sua mochila de provisões.

Eu sabia mais ou menos onde estava indo. As voltas e reviravoltas da

estrada na montanha, juntamente com a energia e o foco necessários para

conduzir nelas, provou ser uma grande distração. Estava quase decepcionada

quando parei no estacionamento improvisado para a cabine do pequeno posto

avançado.
Billy tinha explicado que esta estação florestal era uma cabana de um

quarto situada numa colina. Disse-me para estacionar na base da colina, em

seguida, caminhar uns cento e cinquenta metros (subindo o morro) para a cabana.

Era um belo dia, e me perguntei brevemente em que mês estávamos...

Conclui, contando duas semanas atrás, que devia ser meados de setembro. O ar

estava ainda quente como se fosse agosto, e o chão estava escorregadio de uma

tempestade da manhã. Tive que subir a inclinação lentamente, prestando atenção

especial para evitar as áreas particularmente enlameadas.

Na metade do caminho até a colina senti o chão tremer da mesma forma

que faz quando se aproxima um cavalo galopando.

Eu parei e pesquisei a clareira.

Então o ouvi.

Algo estava atravessando a floresta. E era grande o suficiente para fazer

a terra vibrar. Antes de eu poder contar com meus pés para correr, eu o vi.

Era um urso preto, possivelmente o maior urso-negro na floresta

Nacional Great Smoky Mountains, e ele corria bem na minha direção.

Ofeguei, horrorizada, mesmo que tenha rapidamente calculado minhas

chances de chegar à estação de florestal, antes do urso me alcançar. Essas chances

eram um grande e gordo zero.

Fiz a única coisa em que pude pensar, e que todas as crianças crescendo

nos limites do parque são instruídas a fazer se forem encurraladas por um urso

na floresta.

Caí no chão e me fingi de morta.


O chão molhado, enlameado se infiltrou através de meu jeans e

camiseta. Eu tentei respirar e estava mole, mas não consegui. Eu segurei minha

respiração, meu corpo tenso com a expectativa de se tornar lanche de urso.

Como regra, ursos negros não comem pessoas. Nem mesmo um urso

macho grande, de 180 quilos como este. Eles são geralmente tímidos e se

aventuram apenas ao amanhecer e entardecer. Geralmente ficam caminhando

entre as árvores, fazendo sestas e mastigando frutas.

Então não fazia sentido para esta criatura correr para fora da floresta, às

14h00min numa terça-feira. Ele estava se movendo rápido e descontroladamente

em minha direção como se fosse o último arbusto de frutas maduras da

temporada ou uma cesta de peixes.

O senti trovejando e me fingi de morta.

Como me fingia de morta... O que estava fazendo?!Uma parte de mim

ordenou. Levanta-se, se levanta, se levanta!

Abri os olhos, olhei para o chão. Uma vozinha que estava crescendo

mais alta com cada tremer ordenou que eu enfrentasse o fim da minha história

em vez de me esconder dele e fingir de morta. Eu não tinha feito o suficiente?

Quanto da minha vida ia ser sobre fuga?

De repente me lembrei de um artigo que li sobre uma alpinista que

assustou um urso se colocando de pé e segurando o casaco sobre sua cabeça, em

essência a fez parecer tão grande como o urso pardo.

Obviamente enlouquecendo pela noção patética de morrer enquanto me

fingia de morta, pulei para meus pés, agarrei o fundo da minha camisa e a puxei

por cima da minha cabeça e enfrentei o urso. Estava perto agora. Podia ouvir a

respiração da fera. Me forcei a abrir os olhos e o fiz bem a tempo de o ver desviar
ligeiramente de seu curso original. Enrijeci quando ele galopou a menos de meio

metro de onde eu estava como um doente mental com minha camisa na minha

cabeça.

É isso mesmo. O urso passou por mim como se eu nem estivesse lá.

Por favor.

E ele continuou correndo por diante, até o outro lado da clareira e para a

floresta. Apurei os ouvidos, ainda segurando minha respiração e ouvindo os sons

dele atravessando a floresta e sentindo a diminuição das reverberações debaixo

dos meus pés.

Virei-me e olhei por cima do ombro, olhando fixamente para o lugar

onde ele tinha ido.

— Oh meu Deus! — Gritei, olhando à esquerda e à direita, dando uma

risada assustada, descrente, muito histérica. — Oh meu Deus, eu só fiz isso. —

Minhas pernas cederam e caí nas minhas costas nuas, o sutiã ficou bom para o

lixo, atingindo o terreno enlameado com imensa força e eu respirava o cheiro da

terra.

Não me importava que as manchas de sujeira, lama e grama estivessem

endurecendo. Nem me importava que meu cabelo estivesse úmido e o corpo

suado e pegajoso da adrenalina. Estava feliz por estar viva, com todos os

apêndices no lugar e sem um arranhão.

Então, ouvi outro barulho, e congelei. Era um rosnado. Em comparação

com o urso estrondoso, era um som sutil. Mas o rosnado causou uma nova onda

de medo no meu estômago antes de subir pela minha espinha, porque reconheci o

que significava o som.


Lentamente, sentei e percebi que o urso não estava correndo em direção a

alguma coisa. O urso estava fugindo do Guaxinim raivoso atualmente a olhar para mim

completamente louco.

Gritei e saltei de pé assim que o guaxinim minúsculo, com sua boca

espumando, correu fora da floresta e para a clareira.

—Guaxinim! Guaxinim raivoso!!! — Gritei, correndo ladeira acima para

a estação florestal. — GUAXINIM!!!

O momento foi aterrorizante e absurdo. Não tinha fugido do urso-negro-

cem-quilos, mas estava fugindo de um guaxinim raivoso, menor que a média.

— XINIM! — Gritei mas depois fiz uma careta, a hiper-civilizada parte

do meu cérebro balançando sua cabeça em julgamento severo por usar essa

palavra em qualquer contexto.

Lembrei-me que estava segurando a mochila de Jethro de provisões

numa mão e a camisa na outra. Então abri o saco e comecei a atirar qualquer coisa

que pudesse encontrar no roedor, minha camisa, a garrafa térmica de Jethro, o

filtro de água, um saco de nozes, roupa interior, o tempo todo gritando.

— GUAXINIM!!!

O pequeno diabo não iria ser dissuadido. Só continuou vindo, rosnando

e espumando. Tropecei em algo e cai, meus braços rasparam contra pedras, meus

dentes bateram com um clique, me fazendo acidentalmente morder a língua.

O sabor do sangue encheu minha boca, minhas mãos procuravam por

algo, alguma coisa para segurar o guaxinim. Eu encontrei uma pedra e joguei no

bicho, depois outra e outra.

Em desespero, gritei.
— Me ajudem! URSO! URSO!! — Decidindo que a palavra urso traria

mais ajuda de alguém ao alcance da voz de uma forma que guaxinim não faria ou

talvez não.

Acertei o animalzinho com uma pedra pesada, confundindo o animal

por alguns preciosos segundos e me levantei. Minhas mãos estavam aranhadas,

meus braços arranhados, machucados e lamacentos, os jeans cheios de lama, mas

fui para o resto da montanha, correndo até que tinha certeza que meu peito ia

explodir.

Quando estava a dez metros da cabana, olhei por cima do meu ombro e

encontrei o guaxinim a pouco mais de um metro e meio de distância. Reagi por

instinto, rugi, me virando, colocando o pé esquerdo no chão e administrando um

chute de goleiro rapidamente no guaxinim pequeno de uma forma que teria feito

o treinador de futebol da minha escola orgulhoso.

O guaxinim percorreu uns dez metros colina abaixo e então rolou e

levantou. Aparentemente, não precisou de muito tempo de recuperação, porque

começou imediatamente a subir a colina em uma perseguição louca.

Ouvi a porta da estação florestal abrir atrás de mim. Virei-me e comecei

a correr para a segurança da cabana, não dei nenhuma atenção à expressão de

Drew de atordoamento e confusão.

— Ash? O que...?

Sem explicar ou pensar, fui para a arma de Drew, a retirei, desliguei a

segurança, me virei, apontei e atirei no guaxinim.

Gostaria de dizer que só levou um tiro, mas isso seria uma mentira.

Esvaziei a câmara inteira e apertei o gatilho várias vezes mais depois que todas as

balas foram gastas. Alguns tiros falharam. outros não.


Mensagem para levar para casa:

Guaxinim raivoso: zero.

Ashley Winston: ainda está viva e livre de raiva.

Fiquei com a arma na mão, ofegante, olhando para o chão à distância

por um período indeterminado. A adrenalina diminuiu, meu ritmo cardíaco

baixou, e o corpo começou a tremer.

— Ash...?

O som de Drew dizendo meu nome me assustou, e pulei. Antes que

pudesse fazer qualquer outro movimento, ele me envolveu e trouxe minhas

costas contra seu peito.

Com a mão livre foi para a arma. Gentilmente, a pegou e colocou no

coldre e começou a nos levar para dentro. Notei que chutou a porta com o pé e

nos levou mais para dentro da cabana.

Inesperadamente, meus joelhos falharam e cedi. Também

inesperadamente, Drew me girou nos braços e me carregou para um sofá

desbotado vermelho e branco. Ainda mais inesperadamente, em vez de me

colocar no sofá, se sentou e me embalou no colo.

Eu não chorei. Eu não ia chorar. Após um longo tempo sentada no colo

de Drew, me tornei ciente de que ele estava acariciando meu cabelo agora

selvagem e esfregando minha coxa, com os jeans cheios de crosta de lama. Percebi

que só tinha enfrentado um urso preto com os olhos abertos e os braços esticados

acima da cabeça. Relembrei o guaxinim raivoso perto de me atacar várias vezes,

começando com o rosnar e terminando com oito tiros.


A realidade finalmente veio. Eu estava molhada, sem camisa, arranhada,

machucada, lamacenta e com frio. Mas estava viva. Eu me mexi. Os movimentos

de Drew pararam. Eu mudei de posição. Ele inclinou a cabeça e olhou para mim,

os olhos cinzentos brilhando amplos e procurando.

— Oi, Drew. — Eu disse. Os tremores tinham passado e já não estava

mais a tremer, mas minha voz era mais fraca do que teria gostado.

— Oi, Ash. — Sua voz era profunda, forte e calmamente comandando.

— Quer me contar o que aconteceu?

Pisquei para ele, dando uma respiração profunda, abri a boca para

responder e Jethro estourou pela porta da frente da cabana.

— O que diabos está acontecendo? O rádio está enlouquecendo com

relatos de um urso gigante na colina e tiros neste local. Quando cheguei encontrei

isto... — Jethro segurava a cueca, camisa, mochila e um saco de nozes. —...Tudo

colina acima, junto com pedaços de guaxinim morto agarrados à minha merda

como confetes, e... Ashley?

Jethro olhou de Drew para mim, em seguida, novamente. Ele parecia

estar absorvendo minha aparência, arranhões e hematomas frescos nos braços, a

sujeira no rosto e a falta de camisa cobrindo meu tronco.

Seu comportamento se tornou ao mesmo tempo sinistro e grave. Ele

mudou tão de repente que vacilei. Os olhos eram como punhais brilhando

quando se viraram para onde a mão de Drew repousava na minha coxa.

Seus olhos escuros foram até Drew e o encarou com um brilho

ameaçador.

— Você quer me dizer o que acha que está fazendo com a minha irmã?
CAPÍTULO 9

“Porque ás vezes pessoas boas acabam não sendo tão boas como você poderia não

esperar”.

― Jonathan Safran Foer, Extremely Loud and incredibly Close

~Ashley~

A primeira vez que contei a história do susto com o urso e o ataque do

guaxinim raivoso, fiz com pressa para meu irmão mais velho não matar Drew.

Assim que Jethro tinha se acalmado o suficiente para ouvir, Drew tirou a

camisa e me entregou.

— Há uma pia nos fundos e sabão. Vá lavar os arranhões e, por favor...

Coloque isso. — Ele disse, os olhos colados no chão. Ele não me olhou novamente

até que eu tinha voltado, meus cortes e arranhões lavados, a camisa cinza escura

me cobrindo acima dos joelhos dos jeans enlameados.

A segunda vez que contei a história, demorou uma eternidade.

Perguntas foram feitas e me deram náuseas, sobre o tamanho do urso, que

direção tomou, de onde o Guaxinim veio, eles queriam saber a localização exata,

quando tinha perdido minha camisa, o que aconteceu com o saco de provisões de

Jethro, e como me cortara e machucara os braços.


Drew ficou agachado perto de mim o tempo todo, esfregando minhas

costas em intervalos ou acariciando meu cabelo. Instintivamente me inclinei

contra ele, aceitando seu calor e conforto, ambos se sentiam ótimos, como estar

submersa num banho morno. O rosto de Jethro empalideceu quando vim para a

parte do guaxinim raivoso. Ele deu-me apertados sorrisos que traíram quão

impotente e frustrado ficou com a situação.

Eu estava terminando com a segunda recitação quando chegou mais

gente. Três rangers adicionais e dois guardas florestais apareceram, não batendo

quando entraram.

Drew ficou onde estava e Jethro fez as apresentações rápidas; três deles

pareciam me conhecer ou me reconhecer, presumivelmente porque passei os

primeiros dezoito anos de minha vida nas proximidades. Realmente não olhei

para os homens ou peguei seus nomes. Notei que todos tinham barbas, como há

duas semanas, eu estava numa sala com sete homens barbudos.

Uma pequena bolha de riso escapou de minha garganta antes que

pudesse evitar. Não era alto, mas isso me fez parecer um pouco perturbada. Olhei

de relance para a mesa, tentando focar na robustez da mesma, o peso sólido da

madeira. Esfreguei a testa e notei que as minhas mãos ainda estavam tremendo.

Não tanto quanto antes, mas os tremores estavam lá.

Então, me pediram para narrar a história mais uma vez. Quando relatei

o pedaço sobre o guaxinim, todos os recém-chegados tiveram reações

semelhantes do Jethro: espanto e horror.

Claro adicionado a este tumulto foi o fato de que Drew estava sem

camisa. Tentei notar o mínimo, mas ainda reparei. Como não poderia? Não
importa o quanto uma mulher é corajosa, ela percebe quando um homem tem um

peito, costas, braços e estômago como Drew.

Minha reação à sua perfeição física ficou especialmente agravada desde

que eu ainda estava exaltada pela adrenalina. Se tivéssemos sozinhos, ele podia

ter estado em perigo de um tipo diferente de ataque de urso, o urso Ashley. Ele

seria atacado. Por mim.

Tentei não me debruçar sobre o fato de que a vida e situações de morte

aparentemente me tornaram um sapo excitado.

Em vez disso, concentrei-me no fato que me senti viva, realmente senti, e

era bom estar viva. Era bom sentir.

Jethro pairou ao meu lado, a mão no meu ombro durante a história.

Meus olhos ficavam piscando para Drew, verificando para ver se estava me

observando, ou se era seguro olhar de soslaio para seu torso nu. Claro, que nunca

foi seguro. Ele passeou pelo quarto, mas os olhos nunca deixaram meu rosto, a

expressão focada. No entanto, eu peguei seu olhar observando minha boca

enquanto eu falava e às vezes se demorando no meu pescoço.

Isto não ajudou minha condição de sapo com tesão.

Quando cheguei à parte de onde tirei minha camisa e enfrentei o urso,

Jethro balançou a cabeça e Drew murmurou.

— Não acredito que fez isso.

Quando terminei, os homens começaram a falar entre si, me deixando a

olhar desorientadamente pelo quarto. Mais uma vez, minha atenção parou na

mesa de carvalho.

Eu peguei a essência da discussão. Estavam discutindo, bem, não

realmente discutindo, para me fazer recitar o conto mais uma vez. Jethro
argumentou que eu tinha já tinha passado por muito, que poderiam recontar se

necessário.

Os outros cinco queriam ouvir minha versão novamente. Um dos

homens propôs que gravassem a história, e então, eu iria lá fora mostrar onde

tudo aconteceu para colocarem num diagrama.

Vozes foram levantando, e continuei a olhar para a mesa sólida. Nunca

tinha notado o intrincado padrão dos veios de madeira antes. As marcas eram

enigmáticas e fascinantes.

Então Drew estava ajoelhado ao meu lado. Sua mão quente estava na

parte de trás do meu pescoço, enviando pequenos picos de calor na minha

espinha. Seus dedos estavam no meu cabelo. Ele apertou delicadamente, trazendo

minha atenção para ele.

Como de costume, seus olhos estavam tristes e ardentes, mas agora

pareciam mais azuis e vibrantes do que me lembrava. Notei que ele tinha o

começo de pés de galinha ao redor dos olhos. Estava distraída pela forma

marcante e ousada de suas sobrancelhas.

— Ash...

— Sim? — Ele tinha uma pinta logo abaixo do olho direito, e era muito

atraente... E perturbador.

— Querida, você está bem?

— Sim. — Eu suspirei. Geralmente não aturo ser chamada de querida,

ainda mais quando Drew diz, especialmente assim, todo macio, preocupado, e

sem camisa me fez querer prová-lo.

Opa... De onde vem isso? O que há de errado comigo?


— O que está errado com ela? — Isto veio de um dos outros homens. —

Ela está alta ou algo assim?

— Não, idiota. — Drew quebrou, mas os olhos dele permaneceram no

meu. — Ela está em choque, e ela tem muita adrenalina no sistema.

Eu estava ciente da sala mergulhando no silêncio. Em algum lugar no

fundo da minha mente, lembrei que Drew era infame pela falta de detalhamento.

Imaginei que seu desabafo foi um grande choque. As sobrancelhas marcantes e

ousadas de Drew se uniram e ele franziu a testa, estudando meu rosto, uma mão

no meu cabelo, a outra segurando a minha.

— Quando foi a última vez que comeu?

Dei de ombros.

— Você precisa colocar alguma comida em você. É uma surpresa você

ainda estar de pé.

— Obrigado por me agarrar. — Disse estupidamente, olhando seus

olhos como uma adolescente apaixonada. Não me importava. Ele era tão

epicamente bonito e estava sendo tão legal e suas mãos me faziam sentir tão bem,

ele era tão forte e resistente e mencionei epicamente bonito? E sem camisa?

Estava vagamente ciente de outra pessoa entrando na cabana e os

homens se movendo, arrastando os pés e abrindo espaço para o recém-chegado.

— Querida, seria uma honra agarra-la a qualquer momento se quiser

cair.

Abri a boca para responder, mas estava distraída pelos olhos vívidos de

Drew e a atraente sarda e pelo som do meu nome vindo de uma voz familiar.

— Ashley? Ashley Winston?


Virei-me num piscar de olhos ao ouvir meu nome, minhas sobrancelhas

altas na testa. Em pé do outro lado da mesa estava um homem, e este homem era

muito familiar. O cabelo era loiro e cortado curto, os olhos castanhos, ele tinha

aproximadamente a minha idade e tinha mais ou menos 1.83 de altura. O homem

estava de uniforme azul da polícia, que lhe caía muito, muito bem. Ele não tinha

barba cobrindo o queixo quadrado. Neste momento, todos os dentes brancos

estavam em exibição num sorriso largo.

— Ashley? Sou eu, Jackson. — Ele se apontou com ambas as mãos.

Franzi a testa para o nome do meu passado e permiti lançar os olhos

sobre ele novamente. Eu conhecia o nome Jackson extremamente bem porque

Jackson era o nome do meu namorado do colégio e melhor amigo de infância.

Mas o Jackson, que eu conhecia era baixinho, magricela, pálido, tocava o oboé na

banda do colégio e tinha um problema grave com acne.

Ele não era um oficial de polícia musculoso, de 1,83m com um

bronzeado dourado, uma barba de areia e uma voz de homem viril.

— Ashley, sou Jackson. — Seu sorriso se tornou desequilibrado e

juvenil. — Não me diga que mudei tanto assim.

Eu vacilei quando finalmente o reconheci porque ele tinha mudado, mas

o sorriso era exatamente o mesmo.

— Oh meu Deus! — Eu deixei escapar, em seguida, me levantei,

soltando a mão de Drew. — Jackson James?

Jackson veio ao redor da mesa, acenando o tempo todo.

— Menina, o que diabos aconteceu com você? Parece que lutou contra

um urso preto.
— Não tem ideia. — Uma risada saiu dos meus lábios, pois ele me

colocou nos braços, dando-me um grande abraço. Jackson me largou, mas

continuou a segurar minha mão na sua.

— Ouvi um pouco no rádio quando fui chamado. — Os olhos de Jackson

cintilaram por cima do ombro para onde Drew estava atrás de mim, então

voltaram para descansar no meu rosto. — Ouvi sobre sua mãe. Eu sinto muito.

Eu vacilei novamente, desta vez porque tinha esquecido completamente

sobre o que estava acontecendo com a minha mãe. Eu estava inteiramente focada

em sobreviver, então, quando tudo acabou e estava a salvo, não me conseguia

concentrar em alguma coisa tangível exceto as impossivelmente bonitas

características faciais de Drew, o calor de suas mãos, a uniformidade profunda de

sua voz e a falta da camisa.

— Sinto muito. — Repetiu a Jackson, apertando a minha mão. — Queria

saber se estaria na cidade. Só tenho pena de que foi necessário o ataque de um

urso para nos encontrarmos.

— Estou surpreso que decidiu vir aqui. — O comentário veio de Jethro,

que de repente estava ao meu lado. A proximidade do meu irmão forçou Jackson

a soltar minhas mãos e a dar um passo para trás. — Não é um pouco fora de sua

jurisdição, Jack?

— Sim, para ser honesto. Sim, é. — Os olhos de Jackson cintilaram entre

os meus e Jethro, a expressão aberta e sincera. — Mas o relatório fez soar como se

houvesse uma troca de tiros. E quando ouvi o nome da Ashley...

Senti uma mão no meu quadril e um peito nas minhas costas. Deduzi

que era Drew quando ele sussurrou.

— Me deixe levá-la para se limpar. — Seu hálito quente no meu pescoço.


Irrefletidamente, como se fosse a coisa mais natural do mundo, inclinei-

me contra ele. Ele escorregou o braço na minha cintura e me virou ligeiramente

em direção ao quarto.

— Já chega. — Disse Drew. — Ela já acabou. Todos precisam ir.

Não me surpreendi quando ninguém argumentou desta vez, devido ao

tom da sua voz. Mesmo se ele não fosse maior vários centímetros que cada

homem na sala, sua presença dominante e aura perpétua de comando seria

suficiente. Imaginei que quando Drew Runous batia o pé sobre uma questão,

ninguém era rápido em contradizer.

Homens barbudos foram agarrando os chapéus e resmungando, os

sapatos arrastando no chão de madeira à medida que partiam. Não perdi que os

olhos de Jackson se concentraram no braço de Drew na minha cintura antes de

olhar para os meus.

— Vou para casa de sua mãe esta semana e então falamos. — Ele me deu

um sorriso amigável. — Você é uma jovem muito sortuda, Ashley Winston.

Pisquei para ele, mas não consegui encontrar as palavras para responder

que sorte não teve nada a ver com a minha sobrevivência. Eu sendo dura, no

entanto, pode ter estado envolvido. Além disso, a arma de Drew. Jackson não

pareceu se importar com meu silêncio, porque ele me deu uma piscadela e saiu

sem dizer mais nada.

Drew virou para Jethro e disse sobre a minha cabeça.

— Vou levá-la comigo. Você tem aquela viagem para preparar.

Jethro apertou meu ombro.

— Obrigado. — Meu irmão mais velho então me deu um beijo na testa.

— Estou tão contente por estar bem.


Concordei e Jethro deu-me um sorriso afetuoso. Ele então foi ter com os

outros guardas e reuniu o que precisava para a viagem.

Drew me virou em sua direção, mas vi que Jethro saiu da cabana. Então

sozinha com um Drew sem camisa, ergui meus olhos para os dele.

Como de costume, ele estava me observando, mas o olhar era

desprovido do calor estranho e intenso que tinha nos primeiros dias em que nos

conhecemos. Ele parecia olhar para mim com interesse medido ainda que

desligado.

— Você tem uma história com Jack?

Balancei a cabeça.

— Ele era meu namorado do colégio.

Drew franziu a testa.

— Pensei que fosse mais esperta.

Um pico de irritação passou pela minha espinha e me afastei, os eventos

do dia e a persistente adrenalina abasteceu minha resposta contundente.

— Não preciso me explicar pra você, mas ao crescer, Jackson James era a

única pessoa que não a minha mãe que não me via como um pedaço ignorante e

descartável de bunda. Ele viu mais em mim do que o que parecia. Pelo menos,

achei que ele fazia. Mas os anos me deram sabedoria. Aprendi que nenhuma

quantidade de boas intenções ou educação de minha parte vai mudar as

primeiras impressões sobre mim, ou ver o que querem ver. Eu podia ser capaz de

discutir o mérito da teoria da Gestalt com acuidade e confiança, mas isso não faz

diferença se a outra pessoa não está prestando atenção. Então acho que você

poderia dizer que sou mais esperta que isso agora.


Os olhos de Drew estavam quentes e ferozes, enquanto eu falava, mas

tenho a impressão de que a ferocidade não foi direcionada a mim. Quando

terminei, ele olhou novamente para mim com sua intensidade, mas foi subjugada

e hesitante e estava tentando se controlar. Vários segundos se passaram nossos

corpos balançando em direção um do outro. Senti que estava a ser puxada em

direção a ele, eu estava tonta com isso.

Ou talvez fosse apenas pouco açúcar no sangue.

Eu quebrei o silêncio, não sendo mais capaz de tolerar a tensão entre

nós.

— Posso dirigir, sabe. Eu dirigi para aqui mais cedo. O carro da mamãe

está no fundo da colina.

Drew franziu a testa, os olhos dele passaram pelo meu corpo.

— Quando foi a última vez que comeu?

Eu olhei para ele e rebobinei meu dia. Quando me vi de mãos vazias,

rebobinei o dia de ontem. Eu engoli e disse.

— Eu comi um pãozinho.

— Quando?

— No café da manhã.

—Quando?

Pressionei meus lábios juntos e franzi as sobrancelhas.

— Ontem.

Ele me olhou por um tempo, mas antes que pudesse emitir sua resposta

me rendi dizendo.

— Bem. Você tem um bom ponto. Eu não devia estar dirigindo quando

estou exausta e tonta de fome. Ponto feito e admitido. Continuando...


Balancei nos meus pés, me sentindo um pouco tonta, e tive que dar um

passo para trás e me segurar à mesa para me equilibrar. Drew envolveu seu braço

em torno de minhas costas para me manter na posição vertical.

— Estou levando você. — Ele rosnou, embora não parecia que estava a

colocar para fora. Na maior parte parecia determinado.

— Não seja estúpido. — Disse e o empurrei. — Eu posso andar.

— Ash... — Meu nome era um sussurro perto de minha orelha. — Me

deixe ajudá-la.

— Não preciso de sua ajuda.

— Você precisava mais cedo.

— Eu não precisava de você. Precisava de sua arma.

Do canto do meu olho, vi Drew fechar os olhos lentamente, sua boca

pressionando em uma linha dura. Não sei se estava chateado ou tentando se

impedir de dizer é o que ela disse.

Longamente ele limpou a garganta e me levantou nos braços. Pensei em

lançar um ataque, mas decidi contra isso. Realmente, eu só tinha energia

suficiente para um revirar de olhos.

— Estou carregando você para descer a colina.

— Bom.

— Então estou dirigindo.

— Tanto faz.

— Depois disso você vai comer.

— Certo.

— Então vai dormir.

— Ótimo.
Drew olhou para baixo, para mim, nos seus braços e murmurou.

— Ah, mulheres. Elas frequentemente fazem os altos melhores e piores

baixos.

Meu Deus, estava meio desequilibrada, porque aquela citação de

Nietzsche me fez rir.


CAPÍTULO 10

“A pessoa seja ela cavalheiro ou dama, que não tem prazer em um romance, deve

ser intolerante e estupida”.

― Jane Austen

~Ashley~

Drew me deu uma barra de proteína quando chegamos a sua

caminhonete. Ele acenou para ela com a mão e o queixo, indicando que eu

deveria comer. Imaginei que agora tínhamos ultrapassado o ponto onde era

necessário emitir comandos verbais. Meros gestos era completamente aceitáveis.

A única vez que Drew falou durante o caminho foi quando fui para

pegar o caderno de capa de couro marrom no console do caminhão.

— Não toque nisso. — Ele roubou de mim e o colocou da porta do lado

do motorista.

Segurei as mãos, agarrando o papel de embrulho da barra de proteína

num punho.

— Bem. Eu não ia ler. Ia movê-lo para que pudesse colocar o papel no

porta-copo. O que é isso, afinal, seu diário?


Ele apertou o punho no volante, e parecia estar tremendamente atento

na estrada, mesmo que provavelmente pudesse dirigir em ziguezagues de olhos

vendados.

Abruptamente ele rosnou.

— São as notas de campo. Não toque novamente.

Não falamos novamente durante a viagem, e logo fui embalada pelos

altos e baixos, curvas e voltas da estrada da montanha.

Acordei num sofá que não reconheci num quarto muito escuro e

desconhecido. Devo ter dormido muito tempo porque podia ver a lua através de

uma série de janelas que se estendiam numa parede inteira. A lua estava

convertida numa luz pálida, prateada, que me lembrou dos olhos de Drew... E

esse pensamento me fez sentir quente e confusa. Portanto, o afastei.

Então notei que não estava com meu jeans.

Torci o pescoço para dar uma olhada à minha volta. As outras três

paredes eram revestidas com estantes, que, se meus olhos pudessem ser

confiáveis, estavam recheadas com livros a ponto de transbordar.

Além das prateleiras, o quarto era equipado com o sofá de couro

marrom em que estava deitada, uma grande mesa lateral de madeira, duas

poltronas de couro e uma mesa de centro de madeira grossa. Uma guitarra

acústica descansava no suporte no canto mais distante.

Decidi que gostava da sala. Parecia um lugar real, um lugar onde eu

podia tricotar, ler ou deitar ao luar e ver estrelas cadentes pela parede de janelas.

Estava coberta com um lençol, que puxei para o lado, piscando enquanto

me sentei ereta, aguardando um sinal de onde estava e o que fazer em seguida.

Ouvi um barulho e avistei luz debaixo de uma porta que inicialmente não tinha
notado. Tive a sensação de que a porta era a escolha óbvia, me levantei e

caminhei até ela.

Uma vez aberta, segui os sons dos pratos e panelas, que também eram a

fonte de luz. Fui nas ponta dos pés até virar a esquina. Vi Drew num fogão a gás

mexendo uma panela fumegante de algo do qual saia o cheiro delicioso antes de

saboreá-lo e adicionar sal.

Ele perguntou sem levantar a cabeça.

— Como se sente?

Inclinei-me contra o batente.

— Com sede e... Confusa.

Os olhos de Drew cintilaram nos meus, as sobrancelhas juntas.

— Me deixe pegar um pouco de água.

Vi como ele caminhou em torno da cozinha, me pegando um copo e o

encheu com água da torneira. Ele estava usando jeans azul escuro que lhe caíam

muito bem, baixos em torno de seus quadris, acentuados por um cinto grosso de

couro. Infelizmente, não estava sem camisa. Usava uma camiseta branca que

também se encaixava muito bem. Ele caminhou em direção a mim segurando o

copo com água.

Aceitei com agradecimentos e engoli o líquido fresco e puro como um

riacho da montanha e me senti instantaneamente melhor. Ele ficou na minha

frente, as mãos repousando sobre seus quadris. Senti seus olhos sobre meu corpo,

que ainda estava envolto em sua camisa gigante (e agora suja).

A fivela era bastante grande, e tinha a palavra selvagem nela. Ele

também estava descalço, e notei que tinha pés bonitos.


— Quer mais? — Ele perguntou enquanto os olhos se deslocavam dos

meus pés até meu pescoço, em seguida, para as marcas roxas nos braços.

— Não, obrigado. — Lambi meus lábios e olhei ao redor.

— Melhor?

— Sim, obrigada. — Meus olhos estavam consumindo a visão de sua

cozinha. Era perfeita. As bancadas eram da grossura de blocos de carniceiro, a pia

superdimensionada em porcelana. Os armários eram pintados de cinza, quase

azul, e as paredes eram amarelo pálido. Era organizada, charmosa e espaçosa.

Parecia-me que devia fazer parte de um set de filmagem.

— Eu amo sua casa. — Disse sem saber que.

Drew pegou o copo da minha mão, nossos dedos se roçando. O contato

me assustou e trouxe minha atenção de volta para ele. A mão dele ficou ociosa,

cobrindo a minha por alguns segundos enquanto nossos olhares se enfrentaram.

Ele limpou a garganta antes de responder.

— Obrigado. É um bom lugar.

— Um bom lugar?

— Sim. Estamos no lago ‘Bandit’. — Ele apontou com a cabeça em

direção à janela acima da pia, onde nada era visível, exceto um céu escuro da

noite.

— Uau... Realmente?

Ele assentiu. Notei que sua expressão era de orgulho hesitante. Ele devia

estar orgulhoso, possuir um lugar no lago ‘Bandit’ era mais difícil que convencer

um porco a tomar banho. As casas eram escrituradas às famílias e não podiam ser

vendidas. Se os proprietários queriam sair, tinham que vender ao governo

federal, porque a terra era parte do Parque Nacional.


Cada casa se situava em vários hectares e era rodeada de um lago

excepcionalmente imaculado no cume da montanha apenas a 16 km da estrada

principal.

O lago era uma mina de ouro do século XIX e início do século XX.

Eventualmente foi abandonada, e o buraco estava cheio de água. No lago eram

permitidos apenas motores elétricos, assim não há motores a gasolina. e não havia

nenhum escoamento de fertilizantes ou produtos químicos. Ele estava no topo do

mundo e era um dos mais límpidos dos Estados Unidos. Também era bem

abastecido com peixe.

Como conseguiu arrebatar a casa provavelmente era uma história

fascinante.

— Estamos para o oeste. O pôr do sol é transcendental.

Dei um sorriso evasivo pelo uso da palavra transcendental para descrever

um pôr do sol.

— Vou ter de dar uma olhada em algum momento... — Disse, e com

estas palavras lembrei de onde estava, com quem e por que ficando confusa com

a situação. — Ei, então, por que estamos aqui?

Drew, olhou para mim por um momento e pareceu lutar, como se se

estivesse a se conter, antes de voltar para o fogão.

— O que quer dizer? — Mais uma vez, sua atenção se centrou na panela

onde cozinhava algo.

— Quero dizer, por que não me levou para casa?

— Eu passei pela sua casa. Cletus fez uma mala para você, está no

banheiro.

— Por que não me deixou lá?


Drew suspirou.

— Porque alguém precisa tomar conta de você, e seus irmãos têm as

mãos cheias agora, com sua mãe.

Esta lógica não fazia nenhum sentido.

— Eu posso cuidar de mim. — Disse, apontando o óbvio.

O olhar dele se levantou da panela onde tinha adicionado uma pitada de

tempero misterioso e se fixou onde eu estava. A expressão era ilegível e irritante.

Senti que tinha decidido algo sobre mim desde nossa última troca de palavras.

Ele era muito mais frio e reservado agora. A luz nos olhos dele tinha reduzido

consideravelmente.

Finalmente, ele disse.

— Eu sei. — Então olhou para a panela.

— Sabe? — Perguntei, não fazendo nenhum esforço para esconder

minha confusão. — Então por que estou aqui?

Isto provocou um suspiro.

— Porque precisa comer e eu preciso comer, e tenho sopa, pão e torta.

— Você tem sopa, pão e torta?

Ele assentiu, ainda estudando o fogo.

Cheirei o ar, percebendo que o quarto cheirava a sopa de galinha, pão

fresco e torta misteriosa como sobremesa. Meu estômago notou também, porque

roncou. De repente estava morrendo de fome. Sopa, pão e torta parecia muito,

muito bom.

— Que tipo de torta? — Entrei mais na cozinha e procurei no balcão pela

torta.

— Torta de nozes.
Dei de ombros para esconder meu prazer. Adoro torta de nozes. Assim

como minha mãe. De repente, me senti culpada por ter torta de nozes. Talvez

pudesse levar um pedaço. Talvez ela pudesse ter uma mordida.

— Suas coisas já estão no banheiro. Vá tomar banho. Então podemos

comer. — Drew basicamente me dispensou deixando a panela fumegante e se

ocupando com os pratos. Olhei para suas costas por alguns segundos e observei

que o cabelo dele estava úmido. Ele deve ter tomado banho já.

Olhei de relance para as minhas mãos. Estavam sujas e arranhadas. Na

verdade, eu estava suja por todo o lado. Realmente não tinha percebido.

No piloto automático, caminhei me arrastando para fora da cozinha e

pelo corredor. Tinha dado dez passos quando ouvi sua voz gritar:

— É a terceira porta à esquerda.

Com estas instruções, encontrei facilmente o banheiro. Ele estava certo.

Cletus fez uma mala. Continha exatamente dois pares de calcinha e três conjuntos

de pijama regata. Infelizmente, ele negligenciou incluir mais alguma coisa, como

roupas apropriadas, um sutiã ou produtos de higiene pessoal.

Me inclinei para fora da porta e gritei para Drew.

— Posso usar seu sabonete?

Houve um breve silêncio, antes que ele respondesse:

— Sim, com certeza. Use o que precisar.

Pesquisei o armário do banheiro, encontrando sabonete e xampu.

Também achei sua lâmina na pia e o creme de barbear. Sem motivo que não seja a

satisfação de estragar sua navalha, decidi depilar as pernas. Além disso, para que

ele precisava uma navalha? Os Vikings não se barbeiam usando facas?


Xeretei o armário procurando condicionador. Tinha certeza que ele

usava. O cabelo loiro era longo, ondulado e brilhante. Parecia macio ao toque...

Esses pensamentos fizeram cair a ficha, porque eu não deveria estar pensando

sobre as fechaduras brilhantes de Drew quando estava prestes a ficar nua em sua

casa. Na verdade, fiz uma nota mental nunca pensar sobre fechaduras brilhantes

de Drew.

Estava prestes a fechar o armário quando vários frascos de vidro

castanho escuro chamaram minha atenção. Peguei um e li o rótulo.

— Ketamina... — Sussurrei para o banheiro. Olhei de relance para o

espelho e vi que meus olhos eram grandes e largos. Ketamina era uma substância

controlada e usada como anestésico. O fato de que ele tinha vários frascos

estocados em seu armário de banheiro só serviu para solidificar sua imagem em

minha mente de um homem saqueador e misterioso.

Não fiquei exatamente ansiosa com a descoberta, mais me assustou e

inquietou. Não ajudando, uma coruja escolheu aquele momento exato para piar.

Deu-me um arrepio e uma intensa sensação de desgraça.

Lutei contra outro arrepio, dizendo à minha imaginação hiperativa que

se acalmasse e abandonasse minha busca pelo condicionador.

Me despi e saltei para o chuveiro. Eu me ensaboei e enxaguei duas

vezes. Lavei meu cabelo duas vezes. Então depilei as pernas. Quando terminei, a

água estava fria. Eu tinha usado toda a água quente.

Era muito bom estar limpa.

Franzi a testa com este pensamento porque no meu chuveiro no início

do dia não senti a mesma limpeza ou mesmo como que era necessária. Mesmo
assim, poderia argumentar que estava mais suja esta manhã depois de uma

semana sem tomar banho do que após o ataque de um guaxinim raivoso.

Vesti meu pijama, semelhante ao que Drew tinha visto quando nos

conhecemos e eu torci seu mamilo, e fiz o caminho de volta para a cozinha

usando o pente para pentear meu cabelo. Drew acabara de colocar as tigelas de

sopa na mesa. Notei que duas fatias de pão caseiro também estavam em cada

lugar.

— Onde guarda seus talheres? — Me dirigi para a gaveta mais próxima

da máquina de lavar louça e abri, à procura de colheres.

— Na extremidade, gaveta de cima...

O jeito como disse gaveta me fez parar e olhar para cima. Ele olhava

apreensivo para mim.

— O que está vestindo?

Olhei para baixo, em seguida, de volta para ele.

— Pijama.

— Vai ficar durante a noite? — Sua voz era firme.

Dei de ombros, começando a ficar irritada, e meu pescoço aqueceu.

— Como vou saber? Não sabia que ia comer aqui também. Isto é tudo

que Cletus embalou. É um saco cheio de pijama e sem sutiãs.

Ele fez aquela coisa de fechar os olhos lentamente novamente e o queixo

caiu para o peito. Quando falou olhava para o chão.

— Você se sentiria mais confortável numa das minhas camisetas?

O estudei durante um momento, um pouco surpresa com a reação para

mim de pijama. Notei a tensão nos ombros, a maneira que as mãos estavam
enroladas em punhos. As palavras de aviso de Sandra ecoaram na minha cabeça

enquanto tentava as refutar com fatos.

Fato um: Mau-humor perpétuo quando eu estava por perto.

Fato dois: Se ele estivesse interessado em mim, então por que tinha

desaparecido e evitado contato visual nas últimas duas semanas?

Fato três: Homens impossivelmente bonitos significavam vasos de

Satanás.

Eu sabia que não fazia sentido. Não sabia naquele momento o que

pensar sobre a previsão de Sandra ou qualquer outra coisa que não fosse a

comida, pois cheirava muito, muito bem, pela primeira vez em quase três

semanas, e eu ia comer e gostar. Eu só tinha lutado um urso e um guaxinim

raivoso. Estava morrendo de fome.

Drew pode estar atraído por mim. Também, poderia me achar grosseira,

desprezível, repugnante e irritante, um belo pedaço de bunda, um rosto bonito,

com um sotaque caipira. Sua propensão para evitar olhar para mim pode

significar qualquer uma dessas coisas, especialmente desde que estávamos

prestes a comer.

Porque eu achava a antiga teoria (atraído por mim) inconveniente e fora

da minha realidade confortável, decidi abraçar a última teoria (irritado comigo).

Racionalizei desta forma: melhor ser alheia a um flerte que confundir

bondade com flertar. Um te faz sem noção, o outro patética.

E nada disso importava, porque ele vivia no Tennessee e eu morava em

Chicago, e em nenhum dos dois nos encontraremos.

Portanto, perguntei.
— Se sentiria mais confortável se eu estivesse usando uma das suas

camisetas?

Os olhos dele olharam para os meus, a boca uma linha firme. Ele parecia

tão incomodado e quente... Ou talvez quente e incomodado. Não sei qual. Drew

acenou.

— Bem. — Cruzei meus braços sobre o peito e olhei de relance para o

fogão, me sentindo tremendamente autoconsciente. — Vá me buscar uma camisa.

Eu vou pegar as colheres.

***

Eu usava uma das suas camisas limpas, extragrande e preta, e

novamente estava nadando nela.

Comemos em silêncio até que Drew esclareceu, depois da minha

segunda porção da sopa de galinha, que não estávamos comendo canja de

galinha. Era sopa de faisão (pheasant), não deve ser confundida com sopa

camponesa (peasant), que é o que pensei que ele tinha dito no começo.

Isto conjurou imagens de Drew, o viking, cortando cervos para o jantar.

— Muitos dos caçadores locais gostam de deixar presentes de caça para

os rangers e vigilantes.

— Bem, de qualquer forma, camponês ou faisão, tem gosto de frango.

Meus pacientes me trazem presentes também. Coisas como vírus e cartões de

presente...

Finalmente, Drew deu um sorriso, os olhos perderam um pouco da

desconfiança. Fiquei aliviada que meu comentário pareceu quebrar a tensão


estranha que havia assolado a noite desde que fui para a cozinha de pijama.

Geralmente comer em silêncio compartilhado me dava azia.

Ele me surpreendeu perguntando.

— Então, gosta de poesia?

Hesitei, a colher no meio do caminho entre a tigela e minha boca. Eu não

conhecia Drew suficientemente bem para saber por que ele tinha perguntado ou

para onde ia com isso, então decidi dizer.

— Sim, gosto de poesia.

Ele assentiu com a cabeça e enfiou um pedaço de pão na boca.

— Você? — Solicitei, tentando encorajar a discussão. — Quero dizer,

gosta de poesia?

Ele não respondeu imediatamente, optando por mastigar lentamente e

beber a cerveja. À distância ele respondeu com um espertalhão.

— Sim. — Em seguida, silêncio. Esperei ele continuar, já que afinal ele

foi o único a abordar o assunto. Mas ele não o fez. Olhou para a comida como se

fosse à coisa mais interessante na sala. Talvez fosse para ele.

Cansada de silêncio, eu disse um pouco alto.

— Bem, isso é bom. Olhe para todas as coisas que temos em comum,

Drew! Poesia e... Camisas. — Seus olhos piscaram para os meus e de volta para a

sopa. Se eu estava lendo o brilho corretamente, ele se divertia. Diversão era

preferível a estoicismo silencioso, então continuei.

— Nós até mesmo usamos o mesmo sabonete, pelo menos hoje. Aposto

que até usamos a mesma marca de navalha. Então me conte mais sobre você.

— O que quer saber? — Ele disse isso sem levantar a cabeça.

— Qualquer coisa. De onde vem?


— Texas.

— E onde você foi para a escola?

— Texas A & M para graduação, Baylor para especialização.— Drew se

levantou, agarrou a minha tigela vazia e a colocou na sua. Ele empilhou todos os

pratos do jantar e os carregou para a pia.

— Passatempos? — Perguntei, seguindo atrás dele.

Ele pegou dois pratos novos no armário. Como antes, o vi caminhar em

torno de sua cozinha. Seus movimentos eram graciosos e sem pressa,

paradoxalmente preguiçosos e eficientes. Pareceu-me que muitas coisas sobre

Drew eram contraditórias.

Hoje cedo, ele tinha acariciado o meu cabelo, me chamou de querida,

esfregou minhas costas, em seguida, minutos atrás, tinha olhado para mim com

irritação aquecida quando entrei de pijama. Nas últimas semanas ele tinha me

evitado, não fazendo contato visual. Então hoje, me cobriu com um cobertor

enquanto eu dormia. Quando ele gritou comigo por passar muito tempo na sala, e

enviou Cletus com batatas e frango frito.

Ele detinha a procuração com poderes da minha mãe e era o executor

dela, mas pagou as contas da casa do seu próprio bolso. Eu não conseguia

entender.

Drew retornou à mesa carregando dois pratos de sobremesa, uma faca,

dois garfos e a torta. Uma vez que se estabeleceu no lugar, cortou uma torta de

nozes, uma das minhas favoritas, sendo a minha absolutamente favorita a torta

de limão feita por minha mãe.

Finalmente, respondeu, mas eu estava tão concentrada na torta que

quase esqueci que tinha feito uma pergunta.


— Eu gosto de cozinhar... E ler.

Finalmente, alguma coisa!

— Eu também. — Aceitei a generosa fatia de torta e imediatamente dei

uma mordida. Era muito, muito boa. Apontei para ele com o garfo e disse.

— Bem, eu gosto de comer, que é como cozinhar. Esta é uma boa torta.

Gosto de ler. Veja, isso é outra coisa que temos em comum, torta e livros. Então, o

que está lendo agora?

— A biografia de Nikola Tesla.

— Eu não li esse. Que tal ficção? Qual foi o último bom romance que

leu? — Dei mais duas mordidas na torta. O sorriso sutil desvaneceu e os olhos

finalmente se levantaram para os meus e assegurou.

— Não gosto de ficção.

Eu pisquei para ele, e tenho certeza que minhas sobrancelhas estavam

fazendo uma dança interpretativa do que estava acontecendo dentro do meu

cérebro.

— Você não gosta de ficção?

— Não. Nunca liguei para isso.

— Qualquer ficção? — Eu mastigava uma noz enquanto eu o

considerava. — Nunca gostou de qualquer ficção? Por que está sempre lendo

ficção para minha mãe?

Ele deu de ombros.

— Porque ela gosta.

— Quanto a filmes?

— Não estou interessado.


Recolhi uma respiração lenta, profunda e estudei seu rosto. Isto

explicava muito sobre ele, porque estava tão triste. Um vaso perfeito para

Satanás. Além disso, eu tinha terminado minha torta. Então minha expressão de

decepção foi dupla.

— Você gosta de ficção? — Ele perguntou.

Eu acenei com a cabeça vigorosamente.

— Oh, sim. Amo romances. Eu amo ficar perdida na história de outra

pessoa, pensando na vida de sua perspectiva, vivendo suas experiências.

— Por que não viver suas próprias experiências?

Eu enruguei o nariz para esta questão.

— Por que eu faria isso quando consigo ser uma centena de diferentes

pessoas por ano? Cem vidas diferentes. Amo uma centena de vezes, sem me

preocupar com o perigo ou o risco. E tudo a partir do conforto da minha cadeira

de leitura.

A carranca de Drew era séria e, ao contrário das outras vezes que tinha

recitado Nietzsche, ele parecia um pouco empolgado quando ele citou.

— Não há suficiente amor e bondade no mundo para permitir desistir

deles para seres imaginários.

Olhei para ele, o rosto grave e olhos sérios prateados.

Drew era um gambá ímpar.

— Certo. — Disse, torcendo a boca para o lado. — Bem, acho que

encontramos algo que não temos em comum. E para constar, não gosto de

Nietzsche.

— Está mudando de assunto.

— Talvez.
— Por quê? Fica desconfortável quando alguém a desafia?

Eu podia sentir minha pressão arterial subindo, principalmente porque

Drew parecia que estava se divertindo, minha torta se foi, e ele ainda não tinha

tocado a sua.

Quem faz uma torta de noz-pecã, e em seguida, ignora a própria fatia? E

esta era uma torta verdadeiramente notável. Eu tinha acabado a minha e estava

esperando outro pedaço. Eu odiava que ele tinha um domínio tão firme sobre seu

autocontrole.

Eu não respondi logo e talvez tivesse esperado tempo demais, porque

ele disse.

— Talvez se passasse mais tempo com pessoas reais em vez de fictícias,

discussões honestas não seriam tão desconfortáveis para você.

— Passo muito tempo com pessoas reais. Você conheceu minhas amigas

Sandra e Elizabeth. Acha que passo as noites de terça com elas a discutir sobre o

tempo? E eu tenho muitos mais amigos.

— Onde estaria agora se estivesse em Chicago?

Esse pensamento me deprimiu. Eu estava sentindo a falta de minhas

amigas.

— Sim. Hoje é terça, não é? Estaria com meu grupo de tricô agora...

— Então gosta de viver na cidade?

— Sim.

— Por quê?

Dei de ombros, procurando as palavras e ficando um pouco curta em

razões. Gosto do meu grupo de tricô. Gostava que as pessoas não me

conhecessem, automaticamente não esperava que fosse filha do lixo de Darrell


Winston. Eu gostava que fui capaz de me reinventar. Gostava que fosse

respeitada no trabalho. Eu gostava da minha independência.

Finalmente, afirmei.

— Eu gosto de meus amigos. E eu gosto da cultura.

Seu olhar estreitou enquanto ele citou.

— Em indivíduos, insanidade é rara. Mas em grupos, partidos, nações e

épocas, é a regra.

Eu olhei para ele e bufei:

— Você chamou meu grupo de tricô de louco, Nietzsche? Isso não é

bom, especialmente depois que Elizabeth fez aquele delicioso ravióli.

Ele balançou a cabeça.

— Não, não conheço seu grupo de tricô o suficiente para classificá-las

como loucas. Mas estou chamando congregações de insanas. Você não acha o

conformismo e aderência às normas arbitrárias da sociedade sufocantes?

— Acho mentes pequenas sufocantes. Mas há muitas mentes pequenas

no interior do Tennesse assim como na metrópole agitada de Chicago.

Ele zombou.

— Exceto que no interior do Tennessee não precisa responder a eles.

Você nem sequer tem que falar com eles.

— A menos que o sequestrem e façam você comer torta e sopa

camponesa.

Seu sorriso foi imediato, e parecia que o pegou de surpresa, porque ele

rapidamente o tentou cobrir, limpando a garganta.

— Você não tem torta com seu grupo de tricô?

— Não uma torta com gosto tão bom, mas ainda sinto falta delas.
— Em vez disso está aqui comigo, tendo um bom tempo e não de todo

desconfortável. — Ele ainda estava lutando contra o sorriso.

Não pude acreditar que alguém chamaria Drew de tímido ou reservado.

Ele não era tímido. Ele era um urso, e estava interessado em mim.

— Não estou desconfortável. — Estalei, mas era mentira. Eu estava

desconfortável. E quente. E ficando com raiva. — Talvez só não goste de homens

mandões, presunçosos, cabeça de mula que demoram uma eternidade para comer

sua torta.

Seu sorriso foi imediato e amplo.

— Então, qual é seu tipo?

— Não tenho um tipo.

— Todo mundo tem um tipo.

— Tudo bem, qual é o seu?

— Pequenas, loiras, grandes peitos. — Ele fez uma curva de movimento

na frente do peito com as mãos, presumivelmente para enfatizar a grandeza das

mamas, ou para demonstrar que poderia, na verdade, ter um peito grande. Sua

barba se contorceu, mas os olhos estavam sóbrios. Não podia dizer se ele estava

falando sério ou se ele estava sendo propositalmente irritante.

Porque é o seguinte, quando uma menina pergunta a um cara qual é o

seu tipo, ela quer pelo menos que uma das suas características físicas seja

enumerada. Caso contrário, ele só lhe está a disser que a considera repulsiva.

Eis a lógica do cérebro feminino!

Infelizmente, tenho 1,80m. Portanto, não sou pequena e delicada. Tenho

cabelo castanho e muito e não tenho grandes mamas, pelo menos, não tão

grandes como Drew parecia preferir.


Assenti lentamente, lutei contra o desejo de somar suas características

físicas e reivindicar lealdade ao seu oposto. Em circunstâncias normais, eu seria

educadamente honesta, até porque isso é como minha mãe me criou. Drew

causou estragos no meu normal, e agora estava tentada a irrita-lo em troca.

Inspirei num grande sopro silencioso e me forcei a fazer passar o desejo

mesquinho de retribuição. Talvez fosse apenas um sinal do meu cansaço.

Em última análise, respondi com honestidade.

— Bem. Quer saber meu tipo?

Ele meio que assentiu, meio que deu de ombros, mas os olhos brilhavam

e traíram seu interesse.

— Com certeza.

— Ok. — Eu cruzei meus braços sobre o peito. — Meu tipo tem uma

alma romântica. Ele vai fazer meu cérebro e meu coração lutarem para ver quem

fica com ele primeiro. Ele faz o que é certo, mesmo quando não é fácil, na

verdade, especialmente quando não é fácil. Ele sabe o valor da disciplina, educação,

honra e contenção. E sua força de caráter é a única coisa que supera a força de seu

amor por mim.

Os olhos de Drew pestanejaram na minha cara enquanto eu falava. A

sobriedade anterior em seu olhar ficou mais aguçada, caso contrário, não notaria,

pois ele ficou perfeitamente parado. Eu me preparava para ser ridicularizada.

Mas nada veio. Vários segundos passaram durante o qual consideramos um ao

outro como duas estátuas cautelosas. O ar se tornou espesso e meu pescoço

coçava. Senti um peso pressionando meus ombros. Mas o peso foi ponderado

com um significado que estava provavelmente demasiado cansada e agravada

para pensar.
Quando não poderia aguentar mais de seu silêncio e constante olhar,

adicionei:

— Que é o meu tipo. Você sabe, fictício.

Não perdi seu piscar ou a forma como os ombros se juntaram perante o

meu uso da palavra fictício que ele achou ofensivo. Imaginei que fictício era a

palavra menos favorita dele. Em resposta, dei um sorriso triste.

— Ficção. — Disse ele num tom liso, sem emoção.

Balancei a cabeça.

— É isso mesmo. Fictício.

— Acha que não existe nenhum homem com honra?

— Diga, Nietzsche.

Ele enrugou o nariz como se minhas palavras lhe deram um gosto ruim

na boca.

— Nietzsche não era contra a honra. Ele queria que as pessoas

desafiassem as normas sociais estabelecidas que sufocam a individualidade e

liberdade.

Balancei a cabeça, irritada, que agora fui forçada a citar Nietzsche.

— Ok, você me não dá nenhuma opção, Drew. Assim é Nietzsche, e

passo a citar. ‘Se esforçar para ter honra significa se tornar superior e desejar que

isso também seja publicamente evidente. Se a primeira falta e a segunda, no

entanto, é desejada, a primeira fala de vaidade. Se esta última é carente e não

perdida, se fala de orgulho.’ Nietzsche igualou honra com orgulho e vaidade.

Drew me encarou, seus olhos cheios de maravilha.

— Como é que...?
— Claro está surpreso. Você acha que as mulheres são vacas. —

Enquanto ele estava distraído, peguei meu garfo e roubei um pedaço grande de

sua torta de nozes. Era uma boa torta, e se ele não ia comer então eu ia.

Só por diversão, disse:

— Muuuuuu.

Drew lançou um suspiro longo e sofrido que terminou com uma risada.

Ele balançou a cabeça, olhando para mim como se eu fosse uma fascinante

espécie. Gostei de como seus dentes brancos foram enquadrados pelos lábios e

barba quando sorriu. Eu odiava o fato de ter notado.

— Sua capacidade de citar Nietzsche textual é incrivelmente irritante. —

Ele finalmente admitiu.

— É? — Levantei minha sobrancelha e roubei outro pedaço de torta,

pausando antes de colocar a minha melhor e dizer. — Ou é fantástico?

— É fantástico... — Ele murmurou, os olhos abaixando para minha boca.

—... E sensual.

Eu estava assustada com a admissão, e engasguei com a torta de Drew.

Meus olhos alargaram, peguei o copo de água e bebi três goles antes de colocar o

copo de volta na mesa.

Na verdade não acreditei nos meus ouvidos, então lutei por um

momento antes da minha boca formar a pergunta.

— O quê?

— O quê, o quê? — Ele disse, levantando uma sobrancelha em desafio.

— O que disse?

— Você ouviu. — Mais uma vez, sua voz era profunda, constante e

íntima, os olhos atentos e intensos.


O topo da minha cabeça se sentiu quente, assim como o peito e pescoço

estavam pegando fogo. Não acreditei que ele tivesse dito isso. Eu só... Não pude

entender. Era muito muito baixo na lista de coisas que eu tinha esperado Drew

dizer, alguma vez, provavelmente porque estava em negação.

Podia sentir o meu olhar chocado se transformar num lívido clarão, e

meu queixo doía porque o estava apertando tão duro. Rosto bonito, belo pedaço

de bunda, sotaque de classe baixa. Isso é o que eu era.

Drew, ficcional, bonito vaso de Satanás, tinha realmente, realmente me

irritado. Eu estava machucada, com cortes e me afogando em luto. Não precisava

ouvir que eu era sexy, especialmente não dele. Não do tipo que tinha a procuração

com poderes da minha mãe e não conseguia decidir se ele me desprezava ou

gostava de mim.

Porque, a verdade terrível era, também o achava sexy.

Pensei que ele era fora-da-gráfico sexy, com sua culinária, leitura, cisma,

falta de camisa e respiração, o que significava que ele era um usuário e idiota. E

seria completamente incômodo estarmos atraídos um pelo outro. Seria

epicamente problemático. O potencial para o desgosto desastroso era memorável.

Minha mãe estava morrendo. Morrendo. Eu tinha apenas me levantado

para um urso e assassinado um guaxinim raivoso. Então fui arrastada aqui,

obrigada a tomar um banho com o sabão com cheiro maravilhoso, vestir a camisa,

comer seu delicioso jantar e me envolver numa batalha de inteligência.

Eu estava cercada por Drew, agredida de todos os lados.

Eu não queria isso. Não queria nada disso. Eu queria minha mãe

saudável. Queria Chicago e livros. Queria o conforto, contentamento e

previsibilidade. Queria meu grupo de tricô e travessuras da noite de terça-feira.


Talvez um dia encontrar um bom homem normal, um contador, ou

alguém que consertasse relógios. Eu ficaria bem na frente sobre o arranjo, então

não haveria nenhum sentimento ferido, e ele iria se contentar com

companheirismo, em vez de paixão.

Ou talvez eu só teria meus amigos e seria ótimo. Eu podia lidar com

isso. Estava bem com isso. Essa era minha vida agora, e estava feliz.

O que não precisa ou queria era de um doutor guarda florestal mandão

do Texas com um cérebro sexy, olhos sensuais e sexy em tudo. Porque meu

coração estava agora mais esperto do que ele era sexy, e meu coração me avisou

que Drew seria meu maior erro de sempre. Não teria forças para me recuperar da

morte da minha mãe e de outro homem, me fazendo sentir como lixo.

— Por que diz isso? — Minha voz era um pouco estridente, e tinha

dificuldade em manter o volume baixo o suficiente para ser considerado

apropriado dentro de casa.

— Porque é verdade.

Eu balancei a cabeça, lentamente no início e depois mais rápido.

— Você é um idiota.

Levantei da mesa, raspando minha cadeira contra o chão, mas então

hesitei. Ele fez o jantar e limpou os pratos. As boas maneiras ditavam que eu

precisava limpar os pratos de sobremesa e lavar a louça.

Em vez de sair indignada, como queria, nos surpreendi apontando para

sua torta mal tocada e perguntei bruscamente.

— Já acabou com isso?


— Porquê? Quer comer minha torta? — Ele perguntou como se estivesse

me oferecendo mais do que torta, e a suavidade do seu tom me pegou

desprevenida.

Eu balbuciei por alguns segundos, depois disse.

— Não, não quero sua estúpida torta deliciosa.

Peguei meu prato, garfo e o prato da torta de nozes restante. Marchei

para a cozinha, lancei meu prato na pia, cobri a bandeja da torta e encontrei um

lugar para ela na geladeira.

Então, na minha fúria e um manto de distração impermeável, fui para a

pia e comecei a lavar a louça. Tinha acabado de lavar as nossas tigelas, os pratos

de sobremesa e utensílios de cozinha e estava prestes a voltar para a mesa para ir

buscar os copos, quando Drew chegou perto de mim e desligou a torneira.

— Querida, pare de lavar a louça.

— Bem. Terminei de qualquer maneira. — Me afastei dele e fui para a

toalha seca no balcão.

— Eu quero ir para casa. Pode chamar um dos meus irmãos para me

levar?

— Ash...

— Ouça, Drew. — Eu encarei-o, meu coração batendo no peito, e chamei

cada pedacinho de polidez entranho que tinha. — Obrigado pelo jantar. Obrigado

pelo chuveiro, o sabonete e sua camisa. Obrigado por me deixar ficar aqui e me

levar para baixo da colina. Agora pode chamar um dos meus irmãos para me

levar para casa?

Seus olhos pareciam estar à procura dos meus. Sua expressão era

cautelosa, mas percebi flashes de desânimo e miséria lá.


— Eu vou te levar para casa. — Ele disse silenciosamente.

Olhei para ele, ponderando se seria melhor a carona em seu caminhão

para a casa de mamãe, ou esperar na casa dele, até um dos meus irmãos aparecer.

— Bom. — Me virei e entrei num ritmo decididamente normal no

banheiro. Eu recolhi minha mala e roupa suja, fazendo uma pausa por um

momento quando vi a camisa cinza escura de Drew na mistura. Não havia nada

para ela. Precisava a lavar juntamente com a preta que estava usando.

Então, daria de volta para ele na próxima vez que estivesse na nossa

casa, porque não queria nada de Drew Runous.


CAPÍTULO 11

“— Por quê é que… — Ele disse, na entrada do metro. — Sinto que te conheço

há tantos anos?

— Porque eu gosto de você. — Ela disse. — E eu não quero nada de você”.

― Ray Bradbury, Fahrenheit pg 451

~Ashley~

Na manhã seguinte... Acordei com o som das vozes. Na verdade,

apenas uma voz. Drew.

Isto era surpreendente porque não partimos em termos amigáveis,

quando ele tinha me deixado na noite anterior.

A casa ficou em silêncio. Pulei fora da caminhonete tão logo ele

desacelerou o suficiente para que fosse seguro. Eu o ouvi xingar antes de fechar a

porta do passageiro. Acompanhou-me até a varanda apesar do desprezo frio, e eu

tinha batido a porta na cara dele.

Atualmente, parecia que ele estava lendo em voz alta. Sua voz era baixa,

até mesmo macia e muito, muito perto. Abri meus olhos e olhei ao redor, debaixo

as pálpebras semicerradas. Ele estava sentado de costas para mim numa cadeira

de madeira, e minha mãe virou-se ligeiramente em direção a ele. A primeira coisa


que notei foi que ele estava usando sua roupa de trabalho. As costas estavam

úmidas de suor. A segunda coisa que notei foi à passagem que estava lendo. Era

um dos meus favoritos de Elizabeth Gaskell um romance muito romântico Norte e

Sul no qual Sr. Thornton, arrojado e desejável, no entanto desprezado pela

arrogante Sra. Hale, faz sua proposta. Miss Hale acredita, bastante

orgulhosamente e erradamente, que ele fez o pedido de casamento, só porque

queria honrar o limite para fazê-lo. Por isso, Miss Hale rejeita o sonhador Sr.

Thornton.

— 'Eu não quero ser aliviado de qualquer obrigação, ' disse ele,

instigado por sua maneira calma. ' goste ou não goste, interrogou não saibam,

mas que, eu escolho acreditar que devo minha vida a você — Ele sorri e me

parece um exagero. Eu acredito, porque ele adiciona um valor para essa vida para

pensar — Ah, Miss Hale! — continuou ele, reduzindo a voz em uma intensidade

tal concurso da paixão que ela estremeceu e tremeu diante dele...

Miss estúpida Hale.

Por que heroínas em romances, apesar da sua educação e estilos de vida

invejáveis, são tão antipáticas?

É como se me batessem com um pau de baunilha tolo, desprovido de

personalidade e cego para o presente antes deles.

Estão condenados a vaguear na ignorância até as últimas trinta páginas

do livro. Por essa altura geralmente ativamente estou torcendo contra um final

feliz, porque os homens fantásticos de ficção merecem coisa melhor.

Isto é verdadeiro para noventa e oito por cento de romances, com

exceções notáveis sendo heroínas de Austen, Elizabeth Bennett e Anne Elliot.

Na vida real, é o contrário.


Os homens são tão sem noção, egocêntricos e indignos, uma réplica

branda do outro. São motivados pelo sexo, desporto, caça, carros e comida. Se não

podem estragar, torcem por ele, dispará-la, conduzi-la ou consumi-la, então

também poderia ser coletor ou um absorvente.

Fechei os olhos e me concentrei no som da voz dele porque apesar de

meus sentimentos mistos e sem categoria, Drew estava chegando à melhor parte.

— Ela não falou. Ela não se mexeu. As lágrimas de orgulho ferido

caíram quentes e rápidas. Ele esperou por algum tempo, ansiando por ela dizer

alguma coisa, mesmo uma provocação, para que pudesse responder. Mas ela era

silenciosa. Ele pegou seu chapéu. 'Uma palavra mais. Até parece que você pensou

que contaminado para ser... '— Desenhou a passagem de tropeçar, em seguida,

fez uma pausa.

Abri os olhos a tempo de ver seus ombros subir e descer com uma

respiração profunda. Quando ele continuou, a voz dele era mais moderada, quase

triste.

—' Você parece como se pensasse que é contaminado por ser amado por

mim. Você não pode evitá-lo. Ou melhor, se eu fizesse isso, não posso limpar você

dele. Mas não, o faria se pudesse. Nunca amei nenhuma mulher antes: minha

vida tem estado muito ocupada, meus pensamentos absorveram com outras

coisas. Agora eu amo e amarei. Mas não tenha medo de muita expressão da

minha parte... '— Ele parou de ler, e fiquei com a impressão no silêncio

prolongado que ele não iria continuar.

Meus olhos foram atraídos para o movimento na cama onde estava

minha mãe. Ela levantou a mão e colocou no joelho. Vi que os olhos dela ainda

estavam fechados como se dormisse e tencionei para ouvir as palavras que ela
falou.

— Você leu muito bem, Andrew. Muito bom. — Suas palavras foram

arrastadas, e isso fez com que meus olhos ardessem. As palavras foram arrastadas

e lentas nos últimos dias, um subproduto da morfina.

— Obrigado, Bethany. — Ele cobriu a mão com a sua, e franzi a testa

com a familiaridade do gesto.

— Onde estava? — Ela perguntou.

Eu podia ver sua hesitação, uma coisa tangível, uma luta. Finalmente,

ele disse.

— Sei que eu não estou muito presente. — Meu coração torceu quando

ouvi a compaixão em sua voz. — Como se sente?

— Oh, não é tão ruim. Como você está?

— Estou bem.

— Quanto tempo esteve aqui?

— Há meia hora.

Franzi a testa. Minha mãe não me pareceu nada surpreendida que Drew,

Andrew como ela o chamava, tinha tomado para si a tarefa de ler para ela depois

de entrar na casa e se posicionar no quarto que ela compartilhava com a filha.

Algo estava errado. Em vez disso, estava sentindo falta de algo.

— Ashley está acordada? — Minha mãe perguntou.

Rapidamente fechei os olhos, me esforçando para ficar imóvel e ouvi sua

cadeira ranger quando mudou o peso.

Depois de algumas batidas ele disse.

— Acho que não. Ela não se moveu desde que cheguei.

A cadeira rangeu outra vez, presumivelmente quando voltou para


minha mãe. Havia um traço de divertimento na voz dela quando ela falou em

seguida.

— E o que acha da minha Ashley?

Eu parei de respirar, todos os músculos tensos, e tornei-me absorta no

próprio silêncio. Ele não respondeu imediatamente, mas a cadeira rangeu outra

vez. Tentei imaginar sua expressão. Se qualquer indicação de nossos encontros

anteriores, a cara dele provavelmente era de aversão.

— Conheço você há três anos. Em todo esse tempo não mencionou que

Ash era apelido para Ashley. — O tom dele era uma suave acusação.

— Não fiz, não é? — Mamãe parecia satisfeita com ela mesma. — O fato

de que ela é minha filha, e não meu filho a faz menos notável? Ela é menos digna

de sua amizade porque é mulher?

— Difícil não perceber que é uma mulher, agora que a vi.

Neste momento mamãe deu uma risada subjugada.

— Sim, ela é uma mulher. Receio que não é muito de uma menina, no

entanto. Ela foi uma mulher mais da metade da vida. Como você, ela cresceu

rápido.

Drew permaneceu em silêncio, e ouvi minha mãe dizer.

— Oh, você pode falar livremente. Se ela estiver dormindo, nenhuma

quantidade de nossa conversa vai acordá-la. Ela é uma dorminhoca sólida,

sempre foi.

— Não tão sólidaa. A primeira vez que tive o prazer de conhecê-la, eu

tinha inconscientemente apenas a acordado.

— Ah, sim. Jethro falou-me nisso. Ela te deu um aperto de mamilo?

Drew resmungou alguma coisa e a mãe riu.


— Você não esta ligando um motor agora, então me diga, o que acha de

Ash?

O senti vacilar e, em seguida, surpreendeu o voodoo fora de mim,

dizendo:

— Ela é notável... E linda.

Rosto bonito, belo pedaço de bunda.

Aperto meus dentes juntos.

— Sim. Ela é. Ela é tremendamente bonita, como o pai dela era lindo.

Billy tem isso também e Roscoe até certo ponto. Sei que não gosta quando eu falo

sobre Darrell, Ashley o odeia o mesmo que você, mas ela tem o olhar dele,

querendo ou não.

— Se for o caso, acho que entendo um pouco melhor agora como

Christine pode ter cair por Darrell após conhecê-lo por um tempo tão curto. —

Ele disse isso muito suavemente como se falasse para si mesmo.

O quê?

— Você sabe? — Minha mãe perguntou. Eu reconheci o tom que ela

usou. Ela usaria em mim quando sentiu que eu tinha descoberto algo óbvio, ou

quando queria me guiar em determinada direção.

— Sim. Eu faço. — Disse Drew.

— E também não é muito conveniente. — Minha mãe bufou. —Senhor,

ficar estúpido por alguém nunca é conveniente. Sua irmã se apaixonou por

Darrell, igual a mim, da mesma forma que as outras. Você ficou estúpido com

aquela cavadora de ouro que me falou. Ela tinha o jogo longo e você jogou por

anos antes de fazê-la mover-se. Você deve ter sido um verdadeiro idiota por ela.

Nada faz as pessoas inteligentes mais estúpidas que a beleza.


Ouvi o sorriso na voz de Drew quando respondeu.

— Ser estúpido não é uma experiência que gostaria de repetir.

Minha mãe ficou em silêncio por um longo instante.

— Agora, você sabe melhor que isso. Sabe que não é a única pessoa a ser

queimada na história da humanidade. Se não quer repetir a experiência, então

não repita. Desta vez, seja estúpido para mais do que beleza. Ser estúpido pode

valer a pena, por alguém como minha Ash.

O quê?

Isto é como Drew sabia de minha família? Porque sua irmã Christine

tinha sido enganada pelo meu pai? E quando Christine... Tinha caído na linha do

meu pai? E onde estava Christine? E quando Drew conheceu minha mãe e meus

irmãos? E quem era esta escavadora de ouro? E por que minha mãe falava com

Drew como se ele fosse seu amigo mais leal?

Eu tinha sentimentos mistos sobre ouvir a conversa. O anjo no meu

ombro queria colocar um fim nisso, o diabo no meu outro queria continuar a

escutar. Sabia tão pouco sobre Drew. Perguntar-lhe de meus irmãos era inúteis a

menos que eu queria saber como ele bom de tiro ou que tipo de carro que dirigia.

Apesar de minhas boas intenções, o diabo venceu.

Drew suspirou.

— Bethany...

Ela o cortou.

— Não, escute. Não estou propondo nada. Só estou usando Ashley

como exemplo. Ela tem tanta coisa que vale a pena. Ela é inestimável e linda.

Você mesmo disse. Ela faz seu melhor para escondê-lo, acho. Algumas pessoas

rejeitam seus dons dados por Deus porque a sociedade os faz sentir vergonha
quando brilham.

— Por que mentiu para mim? — Ele não parecia irritado. Pareceu-me

curioso. — Porque fingiu que Ash era um homem?

— Eu não menti... Não exatamente. Eu só... Não corrigi suas suposições.

Eu gostava de falar sobre ela para alguém que sabia o que significava a coragem

que significou para ela escapar por conta própria, querer algo melhor, trabalhar e

ter sucesso. Você a admirava quando deixava você pensar que ela era um homem.

Não vejo por que isso deve mudar agora.

— Não. — Ele disse isso a contragosto. Nem eu podia ouvir o

ressentimento em sua voz.

— Como é inconveniente para você. — Ela disse numa gargalhada. —

Deve ser difícil para um cara como você admirar uma mulher por sua inteligência

e bondade, antes de ter uma chance para ignorá-la por causa de seu sexo e beleza.

— Isso não é verdade. — A voz dele tinha uma borda dura. — Eu

admiro muitas mulheres. Admiro você.

—... E pense em mim como um substituto para a mãe que nunca teve, e

para a irmã que perdeu. — Não podia acreditar que ela estava falando com ele.

Não podia acreditar que ele a deixou. — Eu te conheço, Andrew. Sei que sua

família te tratou com desprezo. Você não quer se machucar. Eu entendo, talvez

entenda melhor que a maioria das pessoas. Mas nem todas as mulheres bonitas

são oportunistas caçadoras.

— Sei disso.

— Você sabe o que acho? Acho que gosta dela.

Drew fez um som de piada: não uma rejeição da declaração, mas não

uma confirmação de qualquer maneira.


Ela continuou.

— Você faz! Você gosta dela. Admite que ela seja adorável. Você admite

que a admira. Admita que goste da minha Ash.

— Eu não estou admitindo nada.

— Por que não?

— Porque você é a mãe dela, não minha irmã.

— Então?

— Então, diferente de sua bondade, doçura, graciosidade e sagacidade,

o que gosto sobre Ashley Winston não deveria ser discutido com a mãe de Ashley

Winston.

Se eu já não estivesse tão parada como uma estátua, com suas palavras,

tão insistentemente faladas, teriam o efeito. Ele realmente viu essas coisas em

mim? Ou só estava sendo gentil com minha mãe?

— Ah, isso soa bem. Agora eu realmente quero saber. — Mamãe disse.

— Confie em mim, não.

— Está caindo pela minha Ashley? O que fez ela? Foi mais esperta que

você?

— Algo assim.

Levou todos meus superpoderes de quietude para não me sentar na

cama e gritar, o quê? Meu cérebro estava transbordando de informação nova e

confusa.

— Como chegamos neste assunto? — Ele parecia realmente confuso e

um pouco irritado.

— Estou tentando fazer você ver a razão antes de partir desta terra e

deixar você desprovido de sabedoria maternal. E tentando fazer o mesmo para


todas as minhas galinhas...

— Falando nisso, quero te fazer uma pergunta.

— Vá em frente.

— Você sabia, quando me fez o seu poder de decisão, e tudo o mais,

você sabia que... — Ele fez uma pausa, e achava que era porque não tinha

intenção de dizer em voz alta, mas me surpreendeu quando ele perguntou. —

Você sabia que estava doente em estado terminal?

Ela não hesitou na resposta.

— Sim. Eu sabia.

Drew liberou o que parecia ser um torturado suspiro, e os dois

sentaram-se em silêncio por vários minutos. Pensei sobre espreguiçar

alongamento acordando, mas não. Eu tive novas informações nadando no

cérebro. Eu precisava de um segundo para acompanhar.

Mamãe disse, então, do nada.

— Ela estava no concurso Miss Tennessee, sabe. Ela tinha apenas dezoito

anos na época, ficou em segundo lugar.

Eu odiava esse fato sobre mim, odiava que tivesse feito isso, não porque

aparentemente opunha aos concursos de beleza em si. Eu era tão tímida e

reservada, mas ao mesmo tempo, também estava desesperada para sair do

Tennessee, esta pequena cidade com uma serraria, uma biblioteca, uma escola

secundária.

Minha mãe tinha dinheiro, sim. Mas também teve sete filhos. Seus pais

eram ricos, mas sustentar uma família sem saber como investir as poupanças

tinha comido seu ninho de ovos. Não lhe pedi, e ela não tinha oferecido.

Pensando bem, era a memória do desespero que eu odiava, não o concurso.


— Sério? — Ele falou pausadamente. — Isso explica muita coisa.

Minha mãe deu uma pequena risada.

— Não. Realmente não. Não em tudo. Imagina como seria para ela uma

casa cheia de meninos? E não apenas os meninos, meninos Winston e seus

amigos.

— Irmãos e irmãs nem sempre se dão bem; nada de anormal nisso.

— É verdade, mas eles estavam todos crescendo como o pai dela,

selvagens com sua própria liberdade, se preocupando em lamber as próprias

feridas e de mais ninguém. Mas Ash... Como você disse, ela estava quieta,

curiosa, sensível. Como você, ela escreveu poesia. Senhor tenha piedade, as peças

que costumavam pregar nela, eles nunca paravam. Eles nunca pararam de

atormenta-la, empurrando e usando, não até que ela partiu. Aí perceberam que

algumas dores não podem ser desfeitas, e egoísmo afasta as pessoas. Mas era

tarde demais.

— Você nunca me disse o que fizeram.

— Oh... Vamos ver...

Decidi que minha mãe tinha dito bastante. Não precisava de Drew

ouvindo como meu irmão Jethro frequentemente tinha tentado usar encontros

comigo como moeda de troca com seus amigos do futebol para tudo o que queria

tirar deles. Jethro sempre disse que eu estava fazendo um favor, mas parecia

suspeitamente que estava a ser prostituída, especialmente quando um de seus

amigos de dezoito anos insistiu que eu, com meros quinze anos, era esperado

para colocar para fora.

Claro, outro grande exemplo era o método preferido dos gêmeos de

demonstrar seu afeto por mim, esfregando sua cueca suja na minha cabeça, com
marcas de derrapada e tudo, ou me segurando e cuspindo na minha boca.

Mas então, garotos são garotos, como meu pai gostava de dizer. Eu tive

que dar crédito a meu pai porque, no final, ele estava certo. Garotos são garotos. E

é por isso que sabia melhor do que abrir meu coração para um.

Eu movi meus membros sem descanso debaixo das cobertas e estiquei os

braços acima da cabeça. Como esperava, a conversa chegou a um impasse.

Tremulando os cílios como se estivesse acordando, virei o pescoço e olhei de

relance ao redor da sala. Deixei meus olhos irem para minha mãe primeiro, então

para onde Drew se sentou na cadeira de frente para mim.

— Oh. — Disse quando meu olhar encontrou o dele, a voz rouca de

sono. — O que está acontecendo? Está tudo ok?

Seus olhos seduziram os meus, me mantendo imobilizada. Estava de

volta, a estranha intensidade e calor, mas agora vi o que era, desejo relutante.

O que eu suspeitava ontem à noite, depois que ele me chamou de sexy

foi confirmado esta manhã enquanto escutava que Drew gostava de mim, ou,

pelo menos da minha aparência. E isso é provavelmente porque ele agia como Sr.

Itchy Britches, sempre que eu estava por perto.

Eu sabia exatamente o que ele sentia. O achar bonito definitivamente me

deu areia nas rachaduras. Tudo sobre ser atraída por ele era inconveniente: lugar

errado, hora errada, pessoa errada.

Mas depois de dormir sobre meu chilique da noite anterior, decidi que o

que precisávamos fazer era ir para além deste padrão em que tínhamos caído de

olharem, cair num momento confuso e aquecido e, em seguida, evitar o contato

por dias. Precisamos superar a irritação de nossa atração mútua para um espaço

familiar agradável, seguro e plácido.


O júri ainda estava em recesso de suas intenções e a experiência de vida

me disse para ter cuidado com homens bonitos, empunhando elogios. Se

pudéssemos chegar a um compromisso onde suas intenções eram inócuas por

funções definidas, então talvez pudéssemos relaxar perto um do outro.

O discurso lento da mamãe cortou o silêncio espesso.

— Está tudo bem. Andrew e eu estávamos conversando sobre como

você é bonita.

Sorri interiormente para minha mãe e suas palhaçadas atrevidas então

deixei meus olhos deslizarem para Drew. Ele também usava um sorriso, pequeno

e paciente.

— Bem, não me deixe os parar. — Eu disse, balançando as pernas sobre

o lado da cama e alcançando meu roupão. — Por favor, continue falando da

minha beleza.

Minha mãe riu levemente, em seguida, suspirou.

— Quando Marissa vai chegar? Prometi-lhe uma receita ontem.

— Qual delas?

— Biscoitos.

Concordei, sabendo qual era a receita.

— Se você quiser, vou transcrevê-la para você.

—Não. Arranja-me o cartão e posso fazê-lo. Gostaria de usar minhas

mãos para algo útil.

Chamei a atenção de Drew e indiquei com a cabeça que ele devia seguir-

me. Suas sobrancelhas se levantaram no que achei ser surpresa. No entanto, ele

ficou parado, à esquerda do Norte e Sul na cadeira de madeira onde estava sentado

e se virou para minha mãe.


— Tenho que ir andando. Mas estarei de volta esta noite.

— Isso é bom, querido. — Ela arrastou, dando um sorriso nebuloso.

Drew saiu primeiro, dando-me um olhar curioso.

— Eu vou voltar, mamãe. Vou escovar os dentes.

— Por favor, faça. Pelo Deus dos céus, não queria dizer nada, mas está

parecendo áspera nas últimas semanas. Talvez deva fazer um tratamento facial e

um penteado. Enquanto está nisso, fazer as unhas. — Ela riu levemente e piscou

para mim. — Tome seu tempo, querida. Eu estou me preparando para tirar uma

soneca de gato.

Atravessei a cama e lhe deu um beijo na testa. Seus olhos já estavam

fechados. Quando saí da sala, fechei a porta atrás de mim.

Drew estava me esperando no corredor, os braços cruzados sobre o

peito, a expressão solene e curiosa.

Ambos começamos a falar ao mesmo tempo.

— Podemos apenas...

— Eu preciso te dizer...

Ele suspirou e fechou os olhos. Olhei de relance para o teto.

— Por favor, você primeiro. — Eu disse, brincando com o cinto do meu

roupão. Ele me deu um olhar medido, mas cedeu.

— Pensei ter visto um morcego Indiano no seu quintal na semana

passada enquanto estava aqui. É uma espécie em extinção nesta parte da floresta.

Desde que sua propriedade faz fronteira com o parque, não é inédito vê-los de

vez em quando.

— Ok. — Este tópico de notícias e conversa me pegou completamente de

surpresa. Pensei que ele ia falar para mim do meu mau comportamento. Em vez
disso, estava discutindo negócios de guarda florestal. — O que significa?

— Significa que o cabo de fibra óptica que está enterrado no seu jardim

da frente, que está sendo usado pelo Condado, foi ligado a casa. Vamos colocar

câmeras de frente para o parque, no seu alpendre traseiro, esperando pegar um

dos morcegos Indianos.

Eu acenei e dei de ombros.

— Tudo bem.

— Isso também significa que terá acesso gratuito à Internet, realmente

rápido acesso à Internet. Instalei um roteador esta manhã. — Ele puxou um

pedaço de papel do bolso e me entregou. — Aqui, este é o login e senha. Você

pode escolher a sua, é claro.

Olhei para ele, minha boca completamente aberta. Minha mente pode

estar se movendo como um rio de melaço nos dias de hoje, mas peguei dele à

deriva e, em seguida, mais alguns. Ele tinha Internet ligada a casa. Agora posso

chamar minhas amigas em Chicago. Eu poderia agora falar pelo Skype com elas

às terças.

Meus olhos picaram, e uma ponta de agradecimento cresceu em meu

peito. Drew segurou meu olhar, o seu próprio cauteloso e vigilante.

— Obrigada. — Eu disse. — Muito, muito obrigada. — O instinto disse-

me para abraçá-lo, mas algo sobre seu olhar me disse que seria um erro. No final,

apertei seus bíceps. — Obrigada. — Eu repeti meus olhos onde minha mão

repousava sobre seu braço nu. Quatro linhas brancas irregulares chamaram

minha atenção e franzi a testa, falando antes de pensar melhor sobre isso. — O

que na terra...? O que aconteceu com seu braço? — Eu pisei mais perto,

inspecionando as cicatrizes.
— Ah, foi um urso. — Ele disse o assunto com naturalidade, como se

todo mundo tivesse uma cicatriz de urso.

Meus olhos levantaram para os seus, e tenho certeza que minha cara

traiu a incredibilidade.

— Um urso? Você tem estas cicatrizes de um urso?

Ele assentiu.

— O quê? Quando? Como? — Minha atenção se voltou para as

cicatrizes. Elas eram feias, como se o urso tinha tentado tirar o braço dele.

— Costumo correr na trilha pela manhã. Às vezes, um ou mais dos seus

irmãos vêm, às vezes estou sozinho. Às vezes há ursos nas trilhas. — Ele deu de

ombros como se toda a gente corresse com ursos. — Geralmente me deixam em

paz.

— Qual o comprimento da trilha?

— Entre 9,5 km e 19 km.

— E desta vez o urso... O quê? Queria tomar o braço e bater em você

com ele?

Ele sorriu para mim.

— Não, querida e foi uma ursa. Uma ursa pode se irritar se você ficar

entre ela e seus filhotes.

— Como escapou?

— Carrego uma arma tranquilizante amarrada às costas quando corro.

Eu atirei nela, mas ela deu uma pancada forte antes de cair.

— Oh, meu Deus. — Eu balancei a cabeça. — Você é um lunático. Se

tivesse um nome viking seria Drew o Emoções-fortes ou Drew Nunca-um-

momento-maçante.
Seu sorriso esmaeceu para um pequeno sorriso perplexo como se não

soubesse se o estava ridicularizando ou não.

Franzi a testa com a confusão, lançando uma sombra sobre suas

características.

— O que há de errado? O que disse?

Ele balançou a cabeça, estudando-me como se tentasse determinar

minhas intenções.

— Nada.

Mas era algo. Eu tinha inadvertidamente dito algo para diminuir o

brilho em seus olhos. Decidi deixá-lo ir agora e afastei a mão.

— De qualquer forma... Mais uma vez, obrigada.

— Não precisa agradecer. — Ele limpou a garganta. — O que queria

dizer?

— Oh, sim. — Quase esqueci. O dom de conectividade com a Internet e

a história do ataque de urso tinha retirado todos os pensamentos da minha

mente. Coloquei o pedaço de papel com a senha da internet sem fio no bolso do

meu roupão. Preparei-me para a conversa, plantei os pés e respirei fundo,

determinada a nos mover para fora do círculo perpétuo e sarcástico. — Drew,

quero me desculpar por te chamar de idiota ontem à noite. Foi muito rude,

especialmente depois que me alimentou, com o jantar e torta. Espero que aceite

meu pedido de desculpas.

A mandíbula de Drew estava marcada, a boca numa linha reta plana,

mas os olhos estavam inquietos, vibrantes e vívidos, viajando sobre meu rosto.

Tive que esperar alguns segundos antes que ele me desse um aceno de cabeça.

— Bom. — Suspirei aliviada e o olhei nos olhos. — Bom... — Eu repeti,


sem saber o que dizer. Estava tentando medir o humor dele e me perguntei se

agora seria um bom momento para abordar o assunto de um cessar-fogo.

Eu o conhecia há três semanas, mas depois de escutar essa conversa

entre ele e minha mãe, percebi que mal o conhecia. Finalmente decidi que mais

cedo era melhor que mais tarde, e fui em frente sem pensar muito

cuidadosamente sobre as palavras. Não queria que parecessem ensaiadas ou

forçadas.

— Então, parece ter uma relação muito positiva com a minha mãe e

meus irmãos, não concorda?

Seu olhar ficou aguçado e ele lambeu os lábios antes de responder.

— Sim. Eu gostaria de pensar que sim.

— Quase parece familiar. Roscoe me disse sobre a viagem que fizeram.

Isso parece ser algo que irmãos fazem juntos. E como você ajudou Jethro e os

outros meninos com sua oficina, e como parece se importar muito com minha

mãe, quase como ela fosse a sua própria.

Drew ficou muito quieto, me observando, mas sem nada a dizer. Desde

que não parecia inclinado a confirmar nem negar minhas declarações, continuei

em frente.

— Tem uma irmã?

Ele vacilou, piscando várias vezes antes de liberar uma respiração lenta.

— Eu… — Ele engoliu e olhou para a parede atrás da minha cabeça, em

seguida, de volta para mim. — Eu tinha uma irmã.

Eu franzi a testa para isto.

— Tinha uma irmã? — As palavras me escaparam e traíram a surpresa.

Eu esperava que ele dissesse, Sim, tenho uma irmã. O nome dela é Christine.
— Sim. Ela morreu. — Ele acrescentou depressa. — Ela suicidou-se

quando eu tinha dez anos.

— Oh! — Minha mão se levantou por própria iniciativa e se colocou em

seu braço novamente, apertando-o. Dei meio passo para frente. — Eu sinto muito.

Deve ter sido terrível. Sinto muito.

— Por quê? — Sua voz era rouca e tensa, como se a memória fosse um

ferimento recente. A morte dela parecia afetá-lo com a mesma força, vinte anos

mais tarde.

— Ah, eu ia sugerir que, uma vez que parece pensar nos meus irmãos

como seus irmãos e se importa muito com minha mãe, que talvez você e eu

poderíamos encontrar um terreno comum também. Talvez você pudesse pensar

em mim como... Como uma irmã.

Drew olhou para mim, a tristeza em seus olhos se transformando em

confusão incrédula, então finalmente fixando-se em diversão desnorteada.

— Quer que eu pense em você como minha irmã?

— Não como sua irmã. Não estou querendo substituir ninguém, pelo

contrário, como outra irmã, uma nova irmã. — Dei-lhe um sorriso esperançoso.

Estava de repente muito ciente de quão pequeno e íntimo era o espaço no

corredor com os olhos de Drew viajando para baixo do meu corpo e de volta

outra vez. De forma ardente.

Ele surpreendeu-me dando dois passos para frente, e o que me levou

para trás batendo na parede. Ele estava sufocando meu espaço, no entanto, o

único lugar que tocávamos era onde minha mão ainda descansava em seu braço

logo acima do cotovelo.

— Ashley... — Ele sussurrou.


— Sim? — Disse, meu coração na garganta, o corpo quente em todo o

lado.

— Você é muito bonita.

— Eu... Eu sou?

— Você sabe que é, porque também é muito inteligente, você é doce e é

gentil. E não há um homem vivo, que não seja casado ou relacionado a você, que

desejaria ser seu irmão.

Drew levantou suas mãos e pensei por um momento que ele ia tirá-las,

eu gostava do que tinha feito antes. Em vez ele segurou meu rosto, os dedos

acariciando a linha da mandíbula.

— Peço desculpa. — Ele disse as palavras num suspiro lento. Ele

balançou a cabeça lentamente. — Mas nunca vou ser capaz de pensar em você

como irmã.

Meu estômago revirou.

— Que tal prima?

Ele balançou a cabeça novamente, os lábios formando uma dica de

sorriso.

— Sobrinha?

Seu sorriso alongou, em seguida, achatou, e a cabeça abaixou em direção

a minha, nossas bocas a três polegadas de distancia.

— Nenhum dos meus sentimentos por você são familiares. Desculpe-me

se isso te incomoda, mas não sou bom em brincar de faz de conta, mentir ou

fingir, como deve ter notado.

— Oh... — Meus joelhos estavam um pouco fracos.

— Aqui está à coisa, querida. — As mãos de Drew levantaram para meu


cabelo e colocaram vários fios atrás das orelhas, dedos roçando a área sensível do

meu pescoço. Eles ainda ficaram lá por alguns segundos, causando um arrepio na

espinha. — Diga o que precisa, e vou dar a você.

Os olhos dele eram suaves, e ele foi capaz de dizer isto sem soar lascivo

ou sugestivo. Pelo contrário, parecia um apelo para deixá-lo ajudar como se a

coisa mais importante do mundo que ele queria ajudar eram às minhas

necessidades, qualquer necessidade.

— Mas e você? — Minha voz foi silenciada. — O que precisa?

A boca de Drew subiu... Mas seus olhos não tinham um sorriso.

— Não preciso de nada, não de você.

Vacilei, porque, se ele queria ou não, as palavras me fizeram sentir uma

bofetada. Soltei a mão de seu braço e dei uma volta no corredor.

— Oh, ok. — Disse, acenando e sentindo a quente confusão que

acompanhava a rejeição. Pelo menos ele foi sincero. Ele deve ter detectado meu

desejo de escapar porque me agarrou com ambas as mãos me mantendo refém.

— Ashley, não é o que está pensando. Você tem muita coisa na mente.

Mal está cuidando de si mesma. Você não está comendo.

Concordei, ainda não olhando para ele, minha garganta trabalhando

sem engolir. Minha boca se sentia seca, e eu precisava de água.

Ele pressionou.

— Não peço muita coisa além de me deixar ajudar. Não tenho

expectativas. Sei que sua vida não é... Não está aqui. Você tem um trabalho e

amigos em Chicago. Você precisa de alguém para ajudá-la a passar por isso, nas

próximas semanas, porque as coisas vão piorar.

Pisquei a umidade repentina em meus olhos, e fui finalmente capaz de


engolir antes de dizer.

— Então, não vai ajudar sendo um irmão para mim?

— Claro que não.

Permiti-me olhar para ele... E quase fui superada pela paixão e

sinceridade nos seus olhos. Tive que desviar o olhar para recuperar a compostura.

Concordei, aceitando que ele quis dizer o que disse, porque ele não era bom em

brincar de faz de conta. Limpei a garganta.

— Então, que tal um amigo? Poderia você ser meu amigo?

Ele não respondeu por um longo tempo, tanto na verdade que pensei

que poderia perturbá-lo. Levantei meus olhos dele, esperando avaliar sua reação.

Ele não parecia irritado ou chateado, mas os olhos estavam tristes. Eles estavam

momentaneamente tristes. A melancolia me bateu no meu peito e tornou difícil

respirar por três batidas de coração.

— Claro. — Ele disse, e acenou dando um passo para trás, soltando

minhas mãos suavemente, dando-me espaço. — Eu ficaria honrado em ser seu

amigo, se é o que precisa.

— Obrigada. — Meu queixo tremia, mas ponderei as lágrimas. — É o

que preciso.

Aparentemente, eu era muito talentosa em jogar e fingir.


CAPÍTULO 12

“Ser você mesmo em um mundo que esta constantemente tentando te fazer ser

outra coisa é sua maior realização”.

― Ralph Waldo Emerson

~Ashley~

Minha mãe colocou o pé na minha bunda, figurativamente, e me

mandou para fora de casa na sexta-feira após o ataque do guaxinim.

Ela disse que eu estava flutuando. Ela estava certa. Eu estava flutuando,

mas estava realmente muito melhor. Eu tinha mudado. Senti-me diferente. Eu

estava diferente.

Por mais clichê que parecesse, o dia da perseguição do urso e do ataque

do guaxinim tinha me mudado. Foi como ligar um interruptor. Um minuto eu

estava contida me fingindo de morta, esperando tornar-me um lanche de urso e

no próximo senti-me ansiosa e inquieta, com energia não gasta.

Ainda estava cuidando de minha mãe, atenta quando os visitantes

chegaram para me certificar de que não a sobrecarregasse, gastando cada um de

seus momentos de vigília com ela e um monte de seus momentos de sono


também. Mas agora estava comendo, conversando com meus irmãos,

voluntariamente, e vestindo roupas limpas.

Então, sabe, comportando-me como uma pessoa sã.

O problema era que, agora que tinha energia sobrando, estava ficando

inquieta. Acho que ela estava ficando um pouco louca. Ela precisava de uma

pausa de mim.

— Anime-se, linda. — Duane escorregou o braço ao redor de meus

ombros e deu um aperto. Estávamos sentadas no banco de trás do carro do Billy,

Duane e Beau estavam sentados em ambos os meus lados. — Cletus é muito bom

no banjo.

— Eu nem sabia que tocava banjo. — Disse isso a Cletus sentado no

banco da frente.

— É verdade. Eu toco banjo. — Cletus disse, segurando o banjo.

— Ele começou depois que saiu, eu acho. — Beau coçou atrás do seu

pescoço. — E a jam session é uma boa diversão. Eles servem churrasco, bem como

várias e diversas saladas.

Dei uma olhadela em Beau do canto do meu olho.

— Várias e diversas saladas?

— Sim, várias e diversas. sabe todos os tipos, como macarrão, batata,

macarrão e batata, salada de frutas, salada de repolho... — Ele assentiu, e os olhos

dele alargar antes de piscaram para Duane, em seguida, volta para mim.

— Gosto de salada de repolho. — Acrescentou Duane.

Eu sorri para eles. Os gêmeos eram seriamente adoráveis.

— Então, fala-me de tudo. Onde é esse lugar? O que posso esperar?

— Pode esperar me ver tocar banjo, com certeza. Pode contar com isso.
— Cletus não virou quando disse, mas o tom era enfático, como se estivesse me

fazendo uma promessa sagrada.

— As pessoas vêm todas as noites de sexta-feira. Acho que

aproximadamente cinquenta músicos aparecem, todos os tipos, todas as idades.

— Explicou Beau.

— Cinquenta? E todos tocam juntos?

— Não. — Duane abanou a cabeça. — Há cinco ou seis salas. Pode andar

de uma sala para a próxima, ouvir qualquer grupo que quiser. Os músicos podem

mover-se também. Se querem mudar as coisas, só vão para uma sala diferente.

— Cada sala normalmente toca um tipo diferente de música. — Beau

indicou com seu queixo em direção à frente. — Cletus gosta de enfiar com

bluegrass, mas um quarto normalmente tem blues e outro musica popular.

— Onde é esse lugar? É uma sala de concertos?

— Não, não, nada extravagante. É o centro de comunidade de Green

Valley, sabe aquele no quarteirão da loja de gaita de foles do Big Ben. Quando

éramos crianças, ele foi abandonado, eu acho, mas costumava ser uma escola.

Servem comida no antigo refeitório, e a música é reproduzida nas salas de aula.

— Eles colocaram uma miscelânea de cadeiras, cadeiras de mesa e

bancos de igreja em cada uma das salas de aula para que as pessoas possam

sentar e ouvir música. Todos os músicos tocam em uma extremidade de cada

sala, e as cadeiras ficam em frente aos músicos.

— Pode visitar todos as salas se cansar de ouvir Cletus tocar.

— Como sabem o que tocar? — Perguntei no carro, não realmente

entendendo o conceito de uma jam session. Quando era cantora e tocava piano,

tinha considerado, mas sempre usei partituras. — Alguém irá fornecer a música,
ou tem que trazer a sua?

Billy riu, finalmente falando.

— Não, Ash. Não é assim. Alguém começa, e os outros vão

participando. Não sabe o que vai tocar quando você aparecer é tocar na mesma

tecla que toda mundo e tentar acompanhar. Às vezes pega um solo, às vezes, é a

melodia, e às vezes só toca acordes, o que funcionar para o grupo.

— Legal. — Concordei, principalmente, sem compreender a ideia.

Pensei que só faria mais sentido uma vez que visse.

— Às vezes Billy canta. Duane se ofereceu, mas não muitas vezes.

— Sim, mas ele vai se Drew estiver lá. — Beau deslocando-se no lugar, e

ele pareceu um pouco animado.

— Drew vai estar lá? — Quase morri quando meu peito expandiu, em

seguida, aperou com uma sacudida de pânico.

— Espero que sim. — Beau sorriu. Eu tentei sorrir de volta.

Ainda passei todas as noites na sala, no sofá ao lado de minha mãe, mas

nas três últimas manhãs, eu tinha acordado para encontrar Drew lendo para ela,

ou os dois falando baixinho.

Durante sua conversa com mamãe, o que ouvi, ele disse que gostava de

minha bondade, doçura, graciosidade e sagacidade. Então, mais tarde, ele disse

na minha cara que eu era bonita, inteligente, doce e gentil. Pensei sobre isso, mais

do que devia, e fez-me sentir sem rumo e agitada. Nunca ouvi novamente. Estava

confusa o suficiente sem ouvir opiniões de Drew.

Todas as manhãs, entreguei-me alguns minutos para estudá-lo. Se ele

estava na casa durante o dia, me peguei muitas vezes o olhando. Quando ele se

juntou a nós para jantar à noite, roubei olhares em sua direção, especialmente
durante os tempos quando estava engajado em uma conversa com alguém, ou

rindo, ou qualquer outro momento que tinha certeza que sua atenção era

direcionada em outro lugar.

Mas Roscoe e Jethro tinham razão. Ele não falava muito. Na maior parte

escutava, observava, estudava.

Contudo, naqueles raros momentos quando não estava observando, o

observei. Seus movimentos eram ágeis, e andava com uma arrogância de

vaqueiro ignorante e sensual. Tinha certeza que ele não sabia que a maneira como

caminhava era sensual, mas era.

Sua voz era alegre e calmante. Ele era tremendamente lindo e

epicamente sonhador. Mas muito mais que isso, sua compaixão e cuidado para

minha mãe, sua paciência com meus irmãos e a generosidade para todos nós iria

me fazer desmaiar se fosse do tipo de desmaiar.

— Se Drew estiver lá, talvez cantem juntos, como da última vez. — Beau

disse a Billy, inclinado para frente e tocando seu ombro.

— Vamos ver. — Billy deu de ombros parando no centro comunitário,

desligando o motor.

Olhei o estacionamento, havia um bom número de carros, e mais foram

enchendo os pontos vazios. Quase 18h00min, e parecia que o lugar já tinha um

bom público.

O edifício era definitivamente uma antiga escola, apesar de muito

pequena do lado de fora. O tijolo vermelho e branco antigo era recentemente

restaurado. Eu rapidamente supus que o interior consistia de uma sala grande, a

cantina, e dois corredores. O primeiro, o mais longo, parecia que continha salas

de aula o outro dois ou três escritórios.


Billy me guiou, colocando trinta dólares num balde de doações na

entrada. Dois homens mais velhos ficavam sentados à mesa, quando Billy entrou.

— Sr. Winston. Bom te ver, senhor.

Billy apertou as mãos com deferência.

— Sr. McClure, Sr. Payton, vocês conhecem meus irmãos. Não sei se

lembra da minha irmã Ashley.

Seus olhos mudaram para mim e um sorriso quente, iluminando seus

rostos. Sr. McClure ofereceu sua mão para mim primeiro. Reconheci-o como chefe

dos bombeiros. Ele tinha visitado minha escola quando eu tinha oito anos.

— Meu Deus, você cresceu e está bonita. — Ele disse, assobiando e

dando uma piscadela.

Olhei para meu vestido, o primeiro vestido que tinha usado desde que

vim para o Tennessee e alisei minha mão sobre o tecido de algodão azul. Gostei

do padrão simples, o decote quadrado e mangas rematadas, bem como o ajuste

na cintura. Tudo acabou com uma saia larga abaixo dos joelhos.

Ele não era vulgar. Portanto, achei o assobio um pouco demais.

Sr. Payton, que devia ter pelo menos de 80 anos, tinha um sorriso

excepcionalmente insolente, quando disse.

— Onde estavam escondendo você?

— Em Chicago. — Billy disse categoricamente.

Cletus adiantou, e fiquei agradecida por sua interrupção.

— Sr. Payton, devo perguntar, como está seu Ford?

— Oh, ele está funcionando como novo. Você fez um bom trabalho.

Cletus deu-lhe um aceno de cabeça, um sorriso satisfeito no rosto.

— Falando de carros, Duane, enquanto estiver aqui, se importaria em


dar uma olhada no meu ar condicionado? Não está arrefecendo o suficiente e

verifiquei o fluido. — Sr. McClure levantou e acenou para Duane o seguir, o que

ele fez prontamente.

— Guarde-me uma salada de repolhos. — Ele chamou por cima do

ombro, dando-me um alegre aceno. — Isto pode demorar.

***

Duane realmente retornou dentro de quinze minutos, porém suas mãos

estavam sujas com graxa. Ele tinha identificado a questão para o Sr. McClure e

providenciou para o homem mais velho trazer o seu carro para loja.

Cletus escolheu um quarto tocando bluegrass e surpreendeu-me sem

palavras quando, durante a primeira música, lançou um solo de banjo agressivo e

impressionante. O grupo tocou um cover de Mumford e Sons, Beneath my feet, e

foi totalmente incrível.

Os quatro ficaram juntos à primeira hora ou assim, ouvindo Cletus tocar

seu banjo. Pela minha parte, foi uma experiência totalmente surreal me sentar

entre meus irmãos e bater papo em intervalos ou apenas desfrutar da sua

companhia.

Billy se desculpou após há primeira hora para ir comer alguma coisa, e

Duane foi com ele. O grupo do Cletus estava prestes a fazer uma pausa. Ouvi

músicas filtrando de uma das outras salas de aula, e virei em direção ao corredor,

me esforçando para ouvir que tipo de músicas os outros grupos estavam tocando.

— Vá. Vá ver alguns dos outros. — Billy me cutucou com o cotovelo. —

Nós vamos encontra-la quando Cletus tiver terminado, ou só nos encontramos


aqui.

Dei para meu irmão um pequeno sorriso, que ele retornou, e senti um

estranho sentimento de admiração e gratidão que tinha sorte o suficiente de estar

relacionada com estes homens verdadeiramente notáveis e adoráveis.

Escorreguei do meu assento o mais silenciosamente que pude e

caminhei para o salão, decidindo parar em cada um dos quartos para uma canção

ou duas, em seguida, voltar ao grupo do Cletus. Este plano funcionou

perfeitamente nos três primeiros quartos. Eles tocaram blues, folk e country

respectivamente.

No entanto, quando cheguei ao quarto, a sala final, todos os

pensamentos de ficar para uma canção fugiu de minha mente. Drew estava lá. Ele

estava posicionado à frente do grupo, sentado de perfil, contra a parede esquerda.

Ele estava dedilhando um violão, tocando a progressão de acordes

juntamente com duas outras guitarras, um contrabaixo e um violino enquanto

dois banjos duelaram pelo domínio.

Rapidamente procurei e encontrei um assento na parte de trás da sala,

mais perto da porta. A peça foi inteiramente instrumental, mas eles tocaram

juntos como se tivessem praticado por anos. Três dos músicos estavam em seus

setenta ou oitenta, dois homens e uma mulher. Um dos tocadores de banjo não

tinha mais de 16, mas era absolutamente incrível. Os outros dois músicos

pareciam ser da idade de Drew ou um pouco mais velhos.

A canção chegou ao fim e o público aplaudiu e aplaudiu, mostrando o

apreço pela excelente música. Sorri enquanto assisti Drew porque ele parecia não

notar a audiência. Parecia que ele ficaria feliz em tocar o dia todo,

independentemente de alguém, exceto os músicos, estivesse lá para ouvir.


O contrabaixo chamou uma chave, Fá maior, acho, e jogou a progressão

de acordes, levando os outros para o tema. Mais uma vez, estavam tocando.

Desta vez a reconheci como a canção se tornou popular pelo filme dos irmãos

Coen Oh Brother, Where Art Thou?

Minha alegria só aumentou ainda mais quando Drew e o garoto no

banjo começaram a cantar a letra em perfeita harmonia. Então, quase desmaiei

quando a cara de Drew eclodiu num sorriso enorme, e ele e o prodígio de banjo

trocaram um olhar significativo como se estivessem a partilhar uma piada

privada.

Ele estava tão relaxado e completamente bem com o canto sobre tristeza

constante com um gigante sorriso na face. Eu queria rir, não porque a cena era

engraçada, mas porque fiquei agradavelmente surpreendida. Ele parecia tão feliz,

e sua felicidade era contagiosa. Além disso, tinha uma voz verdadeiramente

notável, de barítono aveludado, claro que senti em meus ossos.

Eu vi e ouvi completamente em transe. Depois ele cantou sobre nos

encontrar na Costa Dourada de Deus, a música acabou. Eu estava desprovida em

meio dos aplausos. Este momento era perfeito, ouvir Drew cantar e tocar com tal

talento e gozo óbvio me pareceu como um presente súbito e milagroso.

E então tudo acabou. O grupo mudou-se, e eu estava presa. O outro

tocador de banjo chamou a chave de G, tocando o tónico.

Drew tocou o acompanhamento com os outros banjos, as outras duas

guitarras e violino, fornecendo a progressão de acordes, enquanto a do

contrabaixo levava a melodia de “Os salteadores”.

Olhei para ele, ainda ouvindo os ecos de seu desempenho anterior e a

melancolia do sentimento que tinha acabado.


— Drew Runous tem uma bela voz. — Uma mulher na fila à minha

frente sussurrou para sua amiga, chamando minha atenção. As duas mulheres

parecem ser da idade de mamãe, ou um pouco mais velhas. Ambas as senhoras

pareciam vagamente familiares, como gente de cidade natal que eu tinha

esquecido, e não pude deixar de ouvir a conversa.

— Sim, e ele é belo de se olhar, também. — A outra mulher disse um

sorriso indulgente no rosto.

— Minha Jennifer é caída por ele desde que ele a ajudou com problemas

no carro dela, quando ficou parada na Moth Run, perto do lugar dos Winstons.

— Não sabia que eram um par.

— Oh, não, eles não são, mas Jennifer desejava que fossem. Ela não pode

fazê-lo falar. Só teve respostas monossilábicas, embora tenha ido até a estação de

guarda-florestal, um número de vezes com muffins e afins. E sabe que ele nunca

está na cidade, bem, quase nunca. Não conseguiu mais que três palavras dele. Ela

finalmente desistiu. — A mãe de Jennifer suspirou.

— Ele é tímido. Talvez ela devesse mostrar mais o interesse. Ela é uma

beleza.

— Ah, isso ela é. — A segunda mulher riu um pouco e inclinou-se mais

próximo à amiga que ia contar uma história escandalosa. Eu também me inclinei

para frente, irracionalmente querendo saber o que estava prestes a ser falado. Até

brinquei com meu sapato para disfarçar a intenção.

— Jennifer desceu para a estação de Cades Cove, sabendo que ele estaria

lá. Ela trouxe o bolo de banana, sabe, o que ela ganhou o segundo prêmio para a

feira? Bem, usou esse vestido amarelo que o pai dela não gosta e o que acha que

ela fez? Foi direto a Drew, envolveu seus braços em volta do pescoço e o beijou.
A primeira mulher afastou-se, sua expressão chocada com descrença.

— Oh, meu caro senhor. — Sussurrou alto. — O que ele fez?

A mãe suspirou.

— Ele não correspondeu, mas foi um verdadeiro cavalheiro.

— Quando foi isso?

— Oh, não sei. No início do verão, acho. Mas sabe que ele está na cidade

há anos e não é nem nunca foi visto com qualquer garota que eu esteja ciente.

As duas mulheres compartilharam um olhar, como se Drew não ser

visto com uma mulher durante vários anos automaticamente significava que ele

também sofria de uma doença fatal, ou era gay.

Endireitei-me no meu lugar e voltei os olhos para frente da sala, quando

uma senhora olhou por cima do ombro. Lutando contra um corar de culpada,

cometi o erro de olhar para Drew, quando ele virou a cabeça, varrendo a

multidão.

Nossos olhos se encontraram, e ele olhou duas vezes. Sua boca se

separou um pouco, os olhos se arregalaram um pouquinho. Então ele sorriu.

Apesar de minhas bochechas vermelhas, sorri de volta e dei-lhe um

aceno. Mantive meus olhos colados à frente, mesmo quando senti as duas

senhoras virarem e olharem para mim.

Sentei-me ainda como uma estátua e pensei em fazer uma fuga rápida,

mas Drew continuou olhando sempre para mim durante o restante da melodia,

uma dica de um sorriso no rosto, os olhos, ancorando-me à cadeira.

Quando a canção chegou ao fim e o músico do contrabaixo anunciou

que fariam uma pausa de meia hora, sabia que não poderia correr e fugir, porque

não queria ir embora.


Ele pôs a guitarra atrás dele, apoiando-a contra a parede do espaço dos

músicos. A multidão saia da sala. Para evitar ser pega nas ondas formadas pela

porta, mudei-me ainda mais caminhando perto da parede então Drew teria um

caminho mais claro se escolhesse vir falar comigo.

Seus olhos nunca deixando o meu rosto, Drew navegou entre as cadeiras

de madeira, bancos e tamboretes, fazendo o seu caminho para mim.

Notei que várias pessoas tentaram falar com ele, mas ele os dispensou,

suavemente, dizendo. “Com licença” ou “Eu já volto”. Meu batimento cardíaco

aumentou enquanto ele se aproximava, assim como fez o tamanho de seu sorriso,

e me senti um pouco sem fôlego.

Não sabia que estava sorrindo até que falei.

— Oi.

Não quebrando o passo, Drew me apoiou contra a parede, as mãos

segurando minha cintura, a boca inesperadamente na minha para uma suave,

doce e acariciado beijo.

Não vou mentir. Eu o beijei de volta. Mas foi um beijo confuso por

várias razões. Primeiro, deu-me um misto de coisas, como diria Sandra. Talvez

tenha sido a barba, mais provável, era o homem que estava junto à barba. Em

segundo lugar, não me pareceu um beijo de amigo, apesar do fato de que tinha

acabado em menos de cinco segundos. Mas não parecia exatamente foi planejado

para ser algo mais. Na verdade, não acho que ele tenha planejado beijar-me. Foi

um beijo verdadeiramente espontâneo. Em terceiro lugar, seu beijo fez-me sentir

como se tivesse sido cheia com um raio de relâmpago, minha energia inquieta

aumentou dez vezes no momento em que nossos lábios tocaram.

Senti-me distintamente atordoada enquanto o olhava.


— Oi, Ash. — Seus olhos dançavam sobre o meu rosto. Ele parecia feliz,

pelo menos mais feliz do que nunca o tinha visto. — É bom te ver.

Eu sorri.

— Você me viu hoje de manhã.

— Mas não estava usando este vestido.

Ainda confusa e não encontrando nenhuma resposta para a declaração,

fiquei em silêncio e depois disse.

— Cletus toca banjo.

— Sim, querida. Eu sei disso. — Seu sorriso intensificou-se quando

removendo as mãos do meu corpo e deu dois passos para trás. Eu quase o segui

para permanecer em sua órbita, mas consegui colocar uma coleira mental no meu

instinto e desejo de fazê-lo.

— Você gostou da música? — Seus olhos eram alegres.

— Oh sim... Tudo foi ótimo. Especialmente você, foi fantástico. Adorei

assistir o movimento dos seus dedos, você tem dedos grandes. Eles são muito

compridos e realmente sabem como os mover.

Uma pequena e divertida carranca vincou a testa com o derramamento

de palavras da minha boca, e o sorriso se tornou enorme. Ele olhou para o chão,

colocando as mãos nos bolsos e levantou os olhos cinza-azuis para os meus.

— Bem... Obrigado, Ash. Vou manter sua admiração por meus dedos em

mente para o futuro.

Meu pescoço começou a coçar enquanto nós nos entreolhávamos,

provavelmente porque meu cérebro lentamente apanhou a conversa.

Rebobinando o que tinha recém saído da minha boca, e o embaraço aquecido

rolou para cima, do meu peito para as bochechas.


— Eu... Quis dizer. — Gaguejei, e podia sentir o sorriso caindo do meu

rosto com compreensão envergonhada do que tinha na verdade dito tomando o

lugar do meu torpor pós-beijo.

— Sei o que quis dizer. — Ele disse em silêncio, de forma a aliviar meu

embaraço.

Limpei a garganta e olhei para o chão, em seguida, de volta para ele.

— Bem, você também tem uma voz incrível.

Seu sorriso tornou-se um pouco constrangido, mas não menos sincero

ou quente.

— Obrigado. Isso é legal de dizer da sua parte.

— Sério. — Concordei vigorosamente, querendo que ele entendesse que

estava sendo honesta. — Não dou elogios falsos porque isso só serve para

diminuir seu valor. Estou avisando, Drew Runous, que tem uma voz incrível.

Você deveria cantar o tempo todo. Deve viver sua vida cantando todas as

palavras a partir de agora.

Ele riu. Os olhos dele me lembraram sinos de prata no Natal, alegre e

brilhante.

— Tudo bem, acredito em você. Obrigado.

— Seu nome Viking deve definitivamente ser Drew o Saqueador

Cantante, mas ainda gosto de Drew Nunca-um-momento-maçante.

Ele levantou uma sobrancelha única enquanto respondeu.

— Não, a maioria das pessoas me chamaria Drew, o Chato. — O tom

dele era plano e seco.

Eu bufei.

— Quais pessoas? Lutadores de jacaré? Piratas somalis?


Ele deu de ombros e falou claramente sem amargura ou malícia, como se

estivesse explicando uma verdade universal.

— As pessoas normais querem ir a bares, festas, se socializar, ser visto.

Dinheiro, poder, influência... — Ele respirou fundo antes de acrescentar. — Eu

não sou assim.

— Como você é? — Perguntei antes de perceber o que tinha falado.

Uma única sobrancelha levantou novamente para minha pergunta

ousada, e uma dica de um sorriso surgiu no canto da boca. Quando ele

respondeu, a voz tinha uma sugestão arrogante e charmosa do Texas, me

pegando desprevenida.

— Querida, acho que sabe como sou.

Não conseguia parar as alfinetadas da consciência que pontilhavam a

pele dos meus braços, pescoço e peito. Não obstante, tentei achatar meu sorriso.

— Diga de qualquer maneira.

Ele apenas balançou a cabeça para mim como se eu fosse um pouco

estranha. A verdade é que só queria ouvi-lo falar, e ele raramente falava sobre si.

— Ok... Quantas pessoas da nossa idade debatem filosofia? Lê poesia?

Aprendem sobre espécies invasoras e o efeito que têm sobre os ecossistemas

sensíveis? Ou que tal viver no meio do nada? Simplesmente vivendo?

Tenho a impressão que Drew estava se referindo a alguém em

particular. Talvez aquela interesseira que minha mãe tinha mencionado.

Também, senti que estava me dando um raro vislumbre de quem era, porque

sempre estava me cutucando com a vara de Nietzsche, e eu admirava o que vi.

— Muito poucos. — Respondi honestamente. — São aqueles que

geralmente acabam atacados por ursos.


Drew riu como se eu tivesse o pegado de surpresa, e o som era

contagioso.

Em breve estávamos rindo juntos. Quando o riso foi terminando,

olhamos um para o outro por um tempo, durante o qual quase me perdi nos

olhos prateados.

Estava pensando em viver no meio de lugar nenhum com Drew, lendo

poesia, debatendo filosofia e aprendendo a ser. Não pensava que isso soasse

chato. Se adicionasse meu grupo de tricô e livros, parecia o paraíso, especialmente

se ele estivesse sem camisa.

Ou nu.

Quando essa imagem entrou na minha mente, corei escarlate e olhei

para fora, fingindo estar extremamente interessada na movimentação confusa da

multidão.

— É bom te ver assim. — Finalmente disse quando fui corajosa o

suficiente para olhar nos olhos dele outra vez.

— O quê? — Ele adiantou, sorrindo para mim, e levantei meu queixo

para apontar seus olhos.

— Eu conheço você há um mês. Geralmente você é...

— Eu sou o quê?

— Sinceramente, você é exigente e intenso, mas... — Eu agarrei o braço

para impedir qualquer potencial recuo. —... Você nunca é chato.

Compartilhamos um sorriso e um olhar. Foi um daqueles incrivelmente

raros momentos na vida, gosto de quem você é e quero te conhecer melhor, quando

você olha para outra pessoa e sabe que está sentindo um grau semelhante de

afeto e estima por você também e a empolgação com a possibilidade de um


conhecimento mais profundo.

É uma faísca, compreender a pessoa como um indivíduo e o

valorizando, a ele ou a ela como tal. É a tentação potencial e promessa para mais,

mais uma vez, mais experiências compartilhadas, mais momentos de intimidade.

É um momento de singularidade perfeito, e é completamente diferente

da atração mútua, porque nunca é baseado em fatores físicos, e não está

relacionado ao sexo. Só tinha experimentado este fenômeno com amigos do sexo

feminino, a excitação vertiginosa de encontrar uma pessoa que realmente queria

conhecer melhor.

Mas desta vez, com Drew, pareceu mais profunda e assustador.


CAPÍTULO 13

“Você fala quando deixa de estar em paz com os seus pensamentos”.

― Khalil Gibran

~Ashley~

— Ainda bem que você quase morreu.

Parei, franziu a testa e me virei para olhar meu irmão Jethro, por cima

do ombro.

— O que disse?

Seus olhos castanhos me olhavam de volta, a expressão pensativa e

distraída.

— Eu disse, que estou feliz que quase morreu. — Ele sorriu um sorriso

torto e se agachou ao lado da água. Ele pegou uma pedra plana, lisa e virou-a na

palma.

Minhas sobrancelhas arquearam e abri a boca para responder, mas

depois não conseguia pensar em nada para dizer. Onze dias se passaram desde

minha valsa com o guaxinim, e oito dias desde o episódio com Drew na noite de

sexta da jam session. Ambos foram importantes, mas por razões diferentes.

Um me fez sentir mais viva e mais consciente de tudo à minha volta. O


outro me fez sentir confusa, com medo e mais consciente dos meus arredores

(especialmente se os arredores incluíam Drew).

Em vez de responder à declaração perturbadora do Jethro, um som

escapou de minha garganta, semelhante a um Uhhhhhh.

Vendo ou sentindo minha confusão, Jethro agitou as mãos no ar, ainda

segurando a pedra e abanando a cabeça.

— Não, não, não, você não entende, Ash. Você mudou. Estávamos

preocupados. Você mudou desde a coisa com o guaxinim é como se estivesse

finalmente acordada.

— Oh. — Eu disse, imediatamente compreendendo o que ele quis dizer,

porque estava certo. Minhas relações com meus irmãos estavam tornando-se uma

coisa real. Dei crédito ao ataque de guaxinim por me acordar, mas também

reconheci que dois outros fatores importantes melhoraram as interações:

1° agora uso o banheiro de baixo exclusivamente. Tinha me rendido ao

fato de que o banheiro de cima era um perigo de oftalmologia, perigoso para a

minha pressão arterial e bem-estar mental.

2° fiz barulhos em todo lugar que fui fora da sala, corredor e cozinha.

Esta consistia em bater com tachos e panelas, cantando Old MacDonald tinha

uma fazenda... no volume máximo, e, se estava com um humor particularmente

pateta, gritando: “Prontos ou não, lá vou eu!” Se anunciava minha presença, as

chances de entrar numa sessão de desembalagem de salsicha programada ou não

programada diminuía exponencialmente.

O calor do verão estava se tornando um outono temperado. Eu fiz

caminhadas, às vezes mais de uma vez por dia. Gostei da floresta e toda a beleza

do deserto circundante. Tirei meus sapatos e entrei no riacho atrás de nossa casa,
que era onde estava agora com Jethro, pulando de pedra para pedra.

Era sábado e seu dia de folga, e ele passava o dia comigo. Passamos a

maior parte do dia com minha mãe e, em seguida, mais tarde na cozinha fazendo

empadão de peru. Eu fiz a massa. Ele o recheio.

Mas na última hora, mais ou menos, tínhamos saído calmamente para

explorar o deserto de nossa infância, reviver velhas memórias, visitando velhos

amigos.

— Ei, então... — Jethro pausou, sua atenção sobre a pedra na mão. —

Encontrei Jack novamente outro dia. Ele perguntou sobre você.

— Jack?

— Sim, Jackson James, o idiota que partiu seu coração na escola. —

Enrugando o nariz e depois bufando.

— Ele pode ter quebrado o meu coração, mas não da maneira que pensa.

— Lembro-me, Ashley. Você ficou muito desfeita. Ninguém sabe o por

quê.

— Em primeiro lugar, eu não estava apaixonada por ele. Não gostava

dele desse jeito. — Mexi os dedos dos pés e dei alguns passos para frente,

remexendo o fundo do riacho e causando uma pequena nuvem de areia que

flutuou sobre meus pés.

— Então por que estava namorando ele?

Dei de ombros e olhei para o meu irmão.

— Porque ele foi bom para mim, e todos os outros eram idiotas.

Ele abriu a boca para responder, em seguida, fechou. As sobrancelhas

dançavam ao redor antes que ele finalmente dissesse algo.

— Bem, você chocou o inferno fora de todos quando o escolheu. E então


chocou o inferno fora de todos, quando ele terminou com você.

Suspirei na lembrança e torci meus lábios. Eu tinha quebrado as coisas

com Jackson, romanticamente, durante nossa última semana de escola. Eu tinha

explicado a ele que não via um futuro para nós como namorado/namorada, mas

desesperadamente queria que continuássemos amigos. Acho que julguei mal seus

sentimentos porque ele disse a toda a escola que tinha me largado, que

basicamente significa que a cidade inteira saberia dentro de dias.

Então, ele me escreveu uma carta para me dizer que nunca queria me

ver ou falar comigo novamente. Olhando para trás agora, parecia bobo e ridículo,

escola, finais de namoro, cartas, rumores, drama! Já não importava quem acabou

com quem. O que me importava era perder meu melhor amigo.

— Ei! Onde estão? — A voz de Billy soou pela floresta puxando ambos

nossos olhares na direção dos pés triturando em folhas caídas.

— Aqui. — Jethro respondeu, em seguida, virou-se para mim, revirando

os olhos. — Billy é o cara mais inteligente eu sei, mais esperto que Drew, mas não

sabe nada sobre rastreamento na floresta.

Eu sorri em resposta, minha saia preta reuniu-se nas mãos quando desci

da pedra na água fresca. A água foi até os joelhos e me apressei a passar com

propósito. Portanto, minha saia — que caiu para o meio da panturrilha, quando

estava tentando a impedir de molhar, mostrava minhas pernas até as coxas.

— Eu ouvi isso. — Veio uma resposta severa. Endureci e virei a minha

cabeça, porque a resposta severa foi a voz de Drew, não de Billy.

Drew e Billy finalmente emergiram e, após pegar a vista de suas formas

se aproximando, me virei e caminhei ainda mais na água. Senti-me confusa e

agitada. Meu coração batia como se quisesse escapar de meu peito e o pescoço
estava quente e coçando. Eu não sabia para onde olhar.

Agora era assim que meu corpo e cérebro respondiam a Drew,

especialmente depois da nossa conversa de corredor e nosso talvez beijo-amigo

muito desorientado. Desde a nossa conversa na sessão de jam, Drew e eu não

falamos muito, não sobre nada de substância. Mas já não o sentia como um

inimigo ou usurpador de direito.

Não era muito parecido com um amigo também.

Eu continuei a estudá-lo todas as manhãs. E à tarde, se ele estava por

perto. E à noite se ficasse para o jantar. Toda esta observação e nenhuma conversa

ou toque renderam um monte de emoções confusas.

Mas, de alguma forma, observá-lo de longe, me fez sentir muito mais

natural que interagir com ele por perto. Talvez porque em algum nível sentia

Drew como um personagem fictício, bom demais para ser verdade, perfeito

demais para ser real. Isso me incomodava. Senti que estava faltando algo óbvio,

ou talvez não tivesse ainda feito a pergunta certa para determinar suas segundas

intenções.

Sim, eu era uma trepadeira, mas não importava. Drew trouxe essas

compulsões para mim, então ele só poderia sofrer com meu olhar e levá-lo como

homem.

Ou garota. Porque, se há uma coisa que uma menina cresce aprendendo

a fazer, é sofrer olhando de soslaio.

— Jethro, preciso das chaves do Chevy. — Billy, sempre a tratar de

negócios, gritou por entre as árvores. Ele gritou apesar de que ele estava perto o

suficiente para ser ouvido se empregasse uma voz normal.

Crescendo, Billy sempre pareceu perplexo pela floresta. Ele falava mais
alto que o necessário, fazia coisas estúpidas como jogar pedras em colmeias e

tentava andar sem pisar nas pedras com os sapatos. Como se a mata o fizesse

burro.

— Manteiga com biscoitos, Billy! Te disse que eu deixei as chaves na

cozinha.

Se não tivesse sido tão desconcertada pela presença de Drew, eu

definitivamente teria dado a merda a Jethro por dizer manteiga com biscoitos como

um meio de expressar sua frustração. Todos nós fomos criados com a noção que

manteiga com biscoitos era tão mau como o foda-se.

Ouvi os passos a retirarem-se juntamente com o som do Jethro e Billy

com as vozes irritadas e insultos suaves.

Jethro: — Elas estão no gancho, como poderia perdê-las?

Billy: — Não estão no gancho. Eu não sou cego. Posso ver sua cara feia, não é?

Jethro: — Não sei, não é? Não encontra uma árvore na floresta.

Billy: — Eu posso. Vê? É uma árvore. — O ouvi chutá-la para dar ênfase.

Jethro: — Isso não é uma árvore, boneco. É um arbusto. Vou te dar cinco

dólares se puder encontrar uma folha.

Eu pressionei os lábios e ri para mim. Sua insignificância era quase

constante. Eles me lembravam um pouco os galos no quintal, cantando ao outro

apenas por uma questão de cantar.

Subi minha saia e cruzei para o outro lado do rio. O fundo do córrego

era areia em alguns pontos, rochosos em outros. Caminhei lentamente,

apreciando a sensação da água fria correndo entre as pernas e os sons do silêncio

da floresta.
Eu deveria me sentir tranquila e à vontade, mas não. Os pêlos na parte

de trás do meu pescoço formigaram e um arrepio correu minha espinha.

Instintivamente, olhei ao redor e por cima do ombro, tentando encontrar a fonte

do meu desassossego.

Drew estava no lugar abandonado do Jethro. Os dedos no cinto, a

camiseta branca enfiada na cintura das calças de carga azul e estava usando o

cinto marrom grosso com a fivela que dizia SAVAGE. E estava me observando. O

rosto estava neutro, exceto um sussurro de um sorriso curvando seus lábios e

iluminando os olhos.

Meu olhar se ampliou, surpreso ao encontrá-lo do outro lado do banco.

Meus passos vacilaram e pararam. Nós entreolhamos silenciosamente, e a canção

de um pássaro nas proximidades encheu o ar. Quando o pássaro terminou seu

solo, Drew levantou o queixo, isto teve o efeito de encapuzar o olhar dele, e

disse:

— Bom te ver outra vez fora de casa.

Dei-lhe um sorriso apertado.

— E não estou sendo perseguida por um guaxinim raivoso, certo?

— Certo. — Seu sorriso aumentou e ele acenou com a cabeça uma vez.

— Então, ligou para suas meninas?

Meu sorriso apertado tornou-se suave e sincero.

— Sim. Sim eu fiz. Obrigada novamente por isso.

Eu sabia que estava se referindo ao meu grupo de tricô em Chicago. A

primeira coisa que fiz depois de fazer login na Internet foi enviar e-mails para

meus amigos, deixando-os saber como as coisas estavam, e me desculpei por não

entrar em contato mais cedo.


Desde então fiquei no Skype uma vez com minhas amigas Janie e Fiona,

uma vez com Elizabeth, duas vezes com Marie e Kat e duas vezes com a Sandra e

marido, Alex (que também considerava um amigo próximo).

Alex partilhava a minha paixão por romances e, portanto,

frequentemente estávamos discutindo os méritos de um autor ou outro. Ele tinha

acabado de reler um dos meus favoritos, Lonesome Dove e estava ansioso para

debater as virtudes de um final feliz contra um final da vida real.

Ele preferiu um final feliz. Eu preferia um final da vida real. Discutimos

isso muitas vezes.

— Não há necessidade de agradecer. — Drew deu de ombros, os olhos

graves. — Tudo o que precisar.

Senti-me de repente tímida e caímos em silêncio novamente. Olhei, mas

tinha certeza que ele ainda me observava. Deixei-me roubar-lhe um relance do

canto de olho e achei que estava certa. Na verdade, seus olhos estavam nas

minhas pernas, especificamente, onde minha saia estava levantada nas coxas.

Minha explosão bizarra de timidez foi acompanhado por uma dose

abrupta de autoconsciência.

Não ajudando, Drew escolheu aquele momento para dizer.

— 'A minha amiga deve ser um pássaro, porque ela voa...'

Focalizei, ciente do som que meu coração estava fazendo entre minhas

orelhas e engoli a crescente sensação de desassossego delicioso.

Claro, reconheci as palavras que ele tinha acabado de dizer como o

início de um poema. Mas o poema original de Emily Dickenson era sobre um ele,

não era uma ela; como em meu amigo deve ser um pássaro, porque ele voa. Era um

poema de amor, e provocou algo no meu estômago e peito. A floresta se sentia


perto e esmagadora, como se estivesse sendo enrolada num cobertor de troncos e

folhas. Mas consegui limpar minha garganta e recitar a seguinte linha.

— ' Mortal, meu amigo deve ser, porque ele morre.'

Eu podia ouvir o sorriso na voz de Drew quando ele continuou:

— ' Farpas ela tem, como uma abelha. Ah, amiga curiosa...' —

Eu levantei os olhos e olhei nos dele. Terminamos o poema, dizendo em

uníssono.

— Você me intriga.

O sorriso de Drew era imenso. Devolvi porque estava aleatoriamente

impotente contra a visão dele. Ele foi banhado na luz do sol da tarde filtrada

através das árvores e lançando um brilho dourado. Então, basicamente, ele estava

deslumbrante.

Depois de um longo momento, olhando para ele, fez meu peito doer,

então mudei minha atenção para outro lugar e disse.

— O quê? Sem Nietzsche hoje?

— Que tal este um. 'Estupidez em uma mulher é pouco feminina.'

Sorri para a água e assenti.

— Essa é uma boa. Não suporto o cara. Mas admito que foi uma boa

citação.

— O que há para não gostar? Seus argumentos bem construídos contra a

insanidade do pensamento do grupo e forçam a mediocridade da sociedade? Ou

é o magnífico bigode que não aguenta?

Minhas sobrancelhas levantaram, embora mantivesse minha atenção

afixada à superfície da água.

— Nietzsche não tinha bigode.


— Sim, ele tinha.

— Não, não era um bigode. Era a pele de um animal da floresta de

tamanho moderado e uma escolha de estilo de vida.

O riso de Drew encheu o ar, dançando ao redor de minha cabeça e

pousou suavemente em meus ouvidos. Fiquei satisfeita em ouvir, uma profunda

risada que faz a barriga doer de rir, emparelhado com o comportamento na noite

da jam session, contradizendo minhas estimativas anteriores dele como sem

alegria. O seu riso foi diminuindo, deixando-me com as bochechas rosadas de

prazer e um largo sorriso na boca.

Desde que estava lançada, adicionei:

— Eu gosto deste também. 'Todo pensador profundo tem mais medo de

ser compreendido do que ser mal compreendido.'

Olhei de relance para Drew e me arrependi. A força do seu olhar quase

me derrubou. Franzi a testa em sua expressão e olhei para longe. Decidi me

ocupar, estudando com veemência as pedras no leito do córrego translúcido,

separando as rochas laranja das outras com os dedos dos pés.

Mas meus pés interromperam seus movimentos quando o ouvi recitar

várias linhas de poesia:

— Fogo arde azul e quente.

A sua justa luz não me cega.

O cheiro de fumaça é satisfatório, o seu gosto alimentando a minha língua.

Eu acho que o fogo não tem idade, nunca é velho e, no entanto já não é mais

jovem.

Carvões de manhã são frios, luz do dia me deixa cego.


Eu amo o fogo principalmente por causa do que ele deixa para trás.

Minha carranca aprofundou-se porque não reconheci o poema. Atrevi-

me a dar-lhe um olhar curioso. O olhar parecia de alguma forma pesado, de

alguma forma, exigente e feroz, de uma forma que não pude imediatamente

compreender, ou talvez não estava preparada para entender.

Independentemente disso, fiz a pergunta que estava na minha mente.

— Não reconheço isso. Quem escreveu?

Drew retirou os polegares do cinto e colocou as mãos nos bolsos. O olhar

ainda enervante em intensidade, ele deu de ombros e disse:

— Eu.

Minha boca caiu aberta de surpresa, e pisquei perante sua admissão.

— Você escreveu?

Ele assentiu.

— Você escreve poesia?

Ele assentiu mais uma vez, olhou para a ponta das suas botas e, em

seguida, novamente para mim.

Pensei sobre o poema, ou pelo menos as linhas que pude lembrar. Se

soubesse que ele ia recitar um poema próprio, pediria para ir devagar para poder

escrevê-lo, pegá-lo mais tarde e memorizar. Nunca, em um milhão de anos, diria

que Drew era um poeta.

Parecia que ele tinha um dom para chocar a 'manteiga fora dos meus

biscoitos'.

No que pareceu uma partida repentina, mas que poderia ter sido após

vários minutos de mim a olhar para ele completamente aturdida, Drew jogou o
polegar por cima do ombro e disse.

— Preciso ir embora. Vejo você mais tarde.

Com isso, ele se virou para partir.

Meu coração fez uma coisa esquisita de apertar no peito e meus pés

foram em direção a ele sem eu lhes dizer para fazê-lo. Quando percebi que estava

basicamente atrás dele, arrastando minhas pernas como pesos pesados para a

borda do córrego, mandei o meu corpo parar e desistir da perseguição.

Mas antes que pudesse parar minha boca, deixei escapar uma pergunta

para sua parte traseira que partia.

— O que é que o fogo deixa para trás? Destruição? Morte?

Drew não respondeu até que estava quase fora da vista. Então se virou

e, andando para trás dando alguns passos, gritou.

— Ash, o fogo deixa cinzas1.

1
Cinzas em inglês, pode ser traduzido como Ash. Referencia a Ashley.
CAPÍTULO 14

“Ele nunca tinha conhecido tal bravura como a bravura de Scarlett O’ Hara

indo conquistar o mundo nas cortinas de veludo da mãe e com as penas da calda de um

galo”.

― Margaret Mitchell, Gone With The Wind

~Ashley~

Cinco semanas depois.

Cheguei ao Tennessee e fiquei sem piadas.

Na segunda-feira que fiquei sem piadas, Billy Joe e Marissa ficaram

sentados com mamãe enquanto ela cochilava, Marissa, tinha decidido ficar para o

jantar depois que terminou o turno. Eu estava na cozinha limpando os pratos do

jantar com Cletus e Jethro, perdida em pensamentos durante a secagem.

Estava pensando sobre Drew e imaginando onde estava. Ele não tinha

vindo jantar. Ele tinha estado MIA (desaparecido em combate) desde nossa

recitação de poesia na floresta. Perguntei-me, de soslaio, se a chuva que tinha

caído sem parar nos últimos dois dias, era responsável pela sua ausência.

Cortando minhas reflexões, ouvi a voz da minha mãe chamando o meu


nome e minhas mãos paralisaram justamente quando Billy apareceu na porta.

— Ash, Ash, venha rápido. Mamãe diz que ela tem algo a lhe dizer. —

Ele fez uma pausa apenas o tempo suficiente para me acenar para ir, e em

seguida, desapareceu no corredor.

Pousei a panela e mal registrei o som enquanto ela caía no chão atrás de

mim. Já estava correndo para fora da cozinha e pelo corredor.

Os olhos da mãe estavam abertos, e ela parecia completamente lúcida.

Guardei esta visão dela, tirando uma foto com minha mente, porque me ocorreu

que este poderia ser seu último momento lúcido.

— Ei, mãe. Estou aqui. — Estendi a mão e ela a agarrou imediatamente.

— Ashley. — Os olhos dela eram largos, e a urgência de sempre estava

presente. Abruptamente, preocupei-me que ela diria algo mais profundo em vez

de seus habituais pedaços aleatórios de sabedoria.

Estava apavorada, que desta vez, ela diria algo real e necessário de

abalar a terra e isso significaria o fim.

Mas meus medos foram aliviados quando ela disse.

— Ashley, os galos. Temos muitos galos. Eu contei a sua amiga Sandra

sobre isso enquanto ela estava aqui. Você precisa matá-los, todos, menos um,

senão vai causar problemas para as galinhas, e elas não põem tantos ovos. Os

galos precisam de um propósito. Se não der ao galo um propósito, eles arranjam

problemas.

Dei-lhe um pequeno sorriso e acenei, o nó de medo em meu peito

aliviou.

— Ok, vou fazer isso. Amanhã vou matar os galos.

Ela assentiu, relaxando nos seus travesseiros e suspirou.


— Bom. Isso é bom. Talvez possa fazer frango frito. Também acho que

prometi à Julianne da biblioteca uma ave. Importa-se?

Eu balancei a cabeça.

— Vou ligar para ela esta semana.

— Obrigada. — Ela disse atentamente, os olhos se movendo entre os

meus.

Então ela esperou, me observando como se esperasse que eu dissesse

outra coisa.

Eu endureci quando percebi que ela estava esperando que eu contasse

uma piada, e minha garganta apertou quando minha mente ficou em branco. A

corrida para a sala, a minha preocupação quando eu a encontrei tão lúcida e

acordada, o medo que se apoderou de mim quando pensei que ela ia finalmente

compartilhar algo realmente urgente tinham apagado as piadas da minha mente.

Meu ritmo cardíaco dobrou quando os olhos dela estavam sobre o meu

rosto, seu sorriso expectante desaparecendo.

— Por que o galo foi ao KFC? — Billy, em pé junto do meu ombro,

deixou escapar a pergunta.

Olhei para ele e, para minha surpresa, vi que todos os meus irmãos

também estavam no quarto. Os olhos do Billy cintilaram para mim, em seguida,

voltaram para a minha mãe quando ele disse a parte final da piada.

— Porque ele queria ver uma galinha nua (strip).

Nós caímos em silêncio por um segundo, então minha mãe enrugou o

nariz dela e balançou a cabeça. Mas também estava rindo.

— William, isso é uma péssima piada.

— Tenho uma. — Roscoe se ofereceu. Ele estava parado do outro lado


da cama segurando a mão da minha mãe. — Por que o galo atravessou a rua?

— Porquê, Roscoe? — O rosto dela se dividiu com um sorriso.

— Porque ele precisava fazer cocorocó.

Um riso leve iluminou o quarto e Duane bufou:

— É a piada mais idiota que já ouvi.

— Então diz uma. — Desafiou Roscoe, estreitando os olhos em gozação

com o irmão.

— Bem, eu vou. E vai ser incrível. Vai explodir todo o resto das suas

piadas tristes sobre frangos.

— Estamos esperando. — Beau empurrou o ombro do Duane.

— Quando quiser. — Jethro disse de onde estava aos pés de mamãe, os

braços cruzados sobre o peito.

— Ok, preparem-se. — Duane olhou para mim, então para mamãe e

limpou a garganta dramaticamente. — Porque o galo atravessou a estrada, rolou

na lama e atravessou a estrada novamente?

As suas sobrancelhas vermelhas estavam arqueadas sobre seus olhos

azuis quando olhou ao redor da sala com arrogante, sem trocadilho, hipérbole

dramática e esperou.

— Ninguém vai adivinhar?

— Apenas diga a parte final e pare de exagerar. — Beau disse e piscou

para minha mãe.

— Seria melhor. — Mamãe disse, conseguindo retornar a piscadela a

Beau.

— Tudo bem. — Disse Duane, finalmente nos dando a parte final. — Foi

porque ele era um duplo cruzamento sujo.


A maioria dos meus irmãos gemeu e ri por entre os dentes.

Cletus, no entanto, franziu a testa e balançou a cabeça.

— Não entendi.

Isso continuou por algum tempo, os rapazes contando piadas de frango

terríveis enquanto mamãe riu e zombou.

Eu não disse nada. Não queria perder um único segundo. Tentei lembrar

cada riso, cada palavra, cada sorriso. Estava fazendo um vídeo com a mente,

enchendo-me com a memória, avidamente, agarrando-me ao sentimento de estar

cercada por minha família e compartilhando estes momentos felizes.

Com todas as piadas, meu coração se elevou e então caiu quando o riso

se dissipou. Fiquei preocupada que seria a última vez.

Algum tempo mais tarde, quando veio à última piada, e olhamos em

volta, mamãe estava dormindo, um sentimento esmagador de fim se abateu sobre

mim. Nós sete nos sentamos calmamente em uma quietude que parecia um ponto

final. Pode não ter sido o fim da história, mas era definitivamente o fim de um

capítulo.

***

Naquela noite eu não conseguia dormir. Me debati e rolei na minha

cama, incapaz de ficar confortável. A tempestade devia ter ajudado, um presente

indescritível de ruído de fundo, mas isso não aconteceu. O abafar da chuva me

fez ansiosa. Meu cérebro não me permitia considerar que o som estava ralando

meus nervos, porque não tinha visto Drew, desde que a chuva começou no

sábado.
Por volta das 02h00min, deixei a sala, levando minha colcha comigo e na

ponta dos pés fui para a porta dos fundos. Meu plano era ficar na varanda e ouvir

a tempestade sem a obstrução das paredes.

A chuva soava diferente de Chicago nas Smoky Montains. A diferença

entre uma tempestade na cidade e uma tempestade nas montanhas era a

diferença entre ouvir uma canção no alto-falante do celular e um concerto ao

vivo.

Na cidade, o som era maçante, a chuva batendo na calçada, lixeiras,

toldos, janelas e edifícios. O som era agudo e sem graves.

Nas velhas montanhas, no entanto, a chuva atingiu a superfície de cada

folha, cada pedra, cada riacho. Ele ecoava, me rodeando, se sentia em camadas,

rico e reconfortante.

Acompanhado com o cheiro da frescura, água limpa, relâmpagos

distantes e intermitentes, o rolamento suave quase constante do trovão, do tipo

macio que é sentido no peito e sutilmente faz o chão tremer, a tempestade era

mais que um som. Foi uma experiência que tocou cada um de meus sentidos.

De pé na varanda, fechei os olhos, limpei a mente e respirei na

tempestade.

E então chorei.

Não sabia por que estava chorando. Bem, que não sejam as razões

óbvias. Realmente, o problema era que não sabia por que estava chorando agora.

Não chorei desde o dia que descobri sobre o prognóstico da minha mãe.

No último mês cheguei perto algumas vezes, mas as lágrimas não tinham vindo.

Fui capaz de segurá-las na baía como um soldado.

Talvez fosse a chuva, tornando o mundo novo e fresco. Talvez tenha


sido a noite que passei rindo com meus irmãos, apreciando-os de uma forma que

nunca fiz antes. Talvez tenha sido o sentimento de certeza que estes próximos

dias estariam cheios de últimos: a última vez que eu riria com minha mãe, a

última vez que iria vê-la sorrir, a última vez que ouviria a voz dela.

Talvez tenha sido tudo.

— Ash?

Minhas costas enrijeceram e mordi meus lábios entre os dentes ao som

de Drew dizendo meu nome. Sua voz parecia rouca, sonolenta, como se tivesse

acabado de acordar.

— Drew?

— Sim.

Eu não me virei.

— O que faz aqui?

— Estava dormindo no sofá na sala da família. Acordei quando ouvi

você vir aqui. Está chorando?

— Não. Não estou chorando. — Balancei a cabeça, ainda voltada de

costas para ele. — Eu definitivamente não estou chorando. Não. Não estou

chorando. Estou limpando os olhos... Com água salgada... Feita nos meus canais

lacrimais. — Funguei, e senti os cantos da minha boca baixar. Tentei como se

fosse suficiente, endurecer meu queixo ou fechar os olhos para conter as lágrimas.

Eu sabia que Drew ainda estava lá atrás de mim. Mas não sabia que

tinha passado para onde eu estava inclinando-me contra o poste de madeira da

varanda até que senti suas mãos nos meus ombros.

Ele não esperou por eu assentir para seu conforto. Ele me agarrou, me

virou, puxou para a parede de seu peito e cercou meu corpo com os braços. Uma
das grandes mãos foi para minha coluna inferior, a outra para a parte de trás da

cabeça, e seus lábios estavam na minha testa. Não me preocupando com meu

orgulho, eu aguentei.

Esqueci-me convenientemente de todas as objecções anteriores contra

suas ofertas de compaixão. Em vez disso, imediatamente me derreti contra ele.

Apeguei-me a sua camisa e enterrei a cabeça no seu peito. Pressionei meu corpo

contra o dele.

Seu abraço era uma forte promessa de segurança, cheia de conforto. Na

verdade, me senti desesperada. Se um abraço poderia ser frenético, esse abraço

era. Senti como se ele precisasse me segurar sem aceitar nada em troca. Ele

precisava demonstrar que possuía força suficiente por nós. Ele precisava de mim

próxima e carregar meus fardos. Portanto, por um momento de tempo confuso,

nebuloso, me entreguei a dor.

Eu estava longe dos meus amigos, da vida que amei e da família que

tinha escolhido em Chicago. Estava rodeada de pessoas que tinha rejeitado,

pessoas que eram essencialmente estranhos, e agora estava lamentando os ter

afastado e perdido anos com meus irmãos. Eu queria pedir desculpas e reparar as

cercas, mas estava uma bagunça de angústia.

Eu estava olhando para uma vida sem mamãe nela.

Inclinei-me sobre Drew e cedi, sentindo-me incrivelmente bem. Ele era

sólido e quente. Ele era forte.

Ele cheirava bem, como a floresta, chuva e homem. A camiseta dele era

de um algodão desgastado, macio e absorvente. Por um momento, apenas deixei-

me precisar de alguém. Minhas mãos se apoderaram do tecido, e chorei.

Drew enfiou os dedos através de meu cabelo, os lábios escovaram um


beijo suave contra minha testa.

— Ashley... Querida... — Ele sussurrou, e a voz era tão diferente da

habitual voz áspera, ou o estoicismo sarcástico que empregou ao citar Nietzsche.

Eu estava ocupada chorando na sua camisa absorvente e agarrando o alívio fugaz

de um fardo temporariamente compartilhado. Não tinha nenhuma atenção para

poupar. Não poderia decifrar o significado por trás da carícia delicada, seu tom e

palavras.

— Diga-me o que precisa. — Ele disse entre beijos suaves contra meu

cabelo, testa e bochecha. — Vou fazer tudo para você.

Ouvi, mas realmente não processei as palavras a não ser no nível básico.

Ele queria me ajudar. Essa foi à mensagem recebida. Portanto, limpei meu nariz

na sua camisa e disse entre lágrimas.

— Eu estou usando a sua camisa como lenço.

— Tudo bem. — Senti o sorriso dele contra minha bochecha. —É sua se

quiser.

— Eu vou lavá-la. — Eu ainda precisava lavar suas outras camisas. Esta

seria a número três.

— Não se preocupe.

— Eu vou me preocupar. Está coberto de meleca, muito anti-higiênico.

Você pode ficar doente. Não quero que fique doente.

Drew riu. As mãos nas minhas costas esfregando devagar, em círculos

calmantes, e ele me deu outro abraço.

— Vou deixar você lavar minha camisa se me disser o que posso fazer.

Diga-me o que precisa.

— Eu preciso de... — Eu soluçava. Tinha chorado tanto que minha


respiração tinha dissolvido em começos, pausas e soluços.

— Qualquer coisa, Ashley.

— Eu preciso de...

— Qualquer coisa, é sua.

— Preciso que me conte uma piada.

Drew se calou, a mão cessou de se mover nas minhas costas.

— Uma piada. — Ele disse as palavras inexpressivamente.

— Sim. Uma piada. Certifique-se que seja muito engraçada. — Eu podia

sentir seu coração bater contra minha bochecha, instintivamente, aconcheguei-me

mais perto quando disse. — Sem pressão.

O som do seu coração foi eclipsado pelo riso súbito, profundo, baixo e

retumbante. Levantei a cabeça do lugar confortável e olhei para ele, as

características visíveis na noite azul.

Ele estava sorrindo, me olhando e seus olhos estavam completamente

cativantes. Eles rastrearam meu rosto com reverência e, se o que vi era real ou

imaginário, os olhos dele me disseram que eu era preciosa.

E então o beijei.

Eu não sabia por que o beijei. Bem, que não as razões óbvias. Realmente,

o problema era que eu não sabia por que estava a beija-lo agora.
CAPÍTULO 15

“Qualquer homem que possa dirigir com segurança enquanto beija uma garota

bonita simplesmente não dá ao beijo a atenção que ele merece”.

― Albert Einstein

~Ashley~

Se Drew ficou surpreso com meus lábios de repente contra os dele,

então escondeu a surpresa realmente, realmente bem.

Uma de suas mãos me agarrou ao redor da cintura, me segurando e a

outra agarrou meu cabelo e o puxou, posicionando minha cabeça como gostava.

Como se me organizasse e abrisse para seu uso... Como se tivesse esperado por

isso... Como se tivesse planejado e coreografado este beijo para garantir a

perfeição.

Era um tango completamente afinado, tátil. Onde ele liderou, e eu segui.

Sem hesitar, ele nos girou, me apoiou contra a parede externa da casa. Ele me deu

três sensuais, beijos de boca fechada, que fez meu estômago apertar e o peito

expandir com desespero.

Então beliscou meu lábio inferior e me provou. Instintivamente, abri

minha boca, minha língua se lançou, à procura da dele. Ele me deu. Ele me deu o
peso dele. Ele me deu a pressão dos dedos contra minha pele e estômago. Deu-me

um profundo rugido no peito que ecoou na minha cabeça e que pareceu para meu

coração e meu corpo como mais. Mais disto... Mais dele. Dê-me mais.

Eu já não estava mais dividindo um fardo. Seus rogos tinham mudado

de foco. Sua necessidade de dar tinha se invertido e, com o mesmo fervor que

tinha ordenado meu conforto anteriormente, agora exigiu minha rendição

incondicional. Minha cabeça estava nas estrelas. Nossos corpos eram

instrumentos celestiais da necessidade descuidada. As preocupações se

transformaram em nada.

Acho que gemi, minhas mãos sob sua camisa, tocando a imensidão dura

e quente do seu estômago. Acho que choraminguei porque me senti tão bem

quanto parecia, melhor do que parecia. O pensamento de não tocá-lo por toda a

parte fez-me sentir fraca e despertou uma agonizante urgência dentro de mim.

Era um beijo de alma abrasadora, orgulho destruído e posse do corpo.

E ele terminou.

Drew abruptamente se afastou.

Fiquei no cosmos sem mapa, sem saber se é possível uma viagem de

regresso a terra.

Ergui a ponta dos dedos aos lábios. Eu os encontrei molhados e

inchados, evidências do nosso beijo frenético, e soltei uma respiração curta. Meus

olhos procuraram por ele na varanda e descobriram que ele estava na outra

ponta. Estava de costas para mim, e encostado no parapeito, olhando a noite.

Estava tão escuro que duvidei que ele pudesse ver muito.

Nunca tinha experimentado um beijo onde o tempo de recuperação era

necessário para uma ou ambas as partes. Precisando de um minuto para me


recompor, fechei os olhos e apertei a mão no meu coração. Minha cabeça caiu

para trás, conectando com a parede, e tentei regular a respiração. Meu coração

não cooperava. Ele batia como se soubesse melhor, como se entendesse que este

beijo significava mais que o resto de mim, e era ao mesmo tempo emocionante e

assustador.

Gradualmente, como acordando de um sonho, estava mais uma vez

ciente da chuva, do trovão rolando e a sinfonia que era uma tempestade nas

velhas montanhas.

— Quis fazer isso por um tempo. — A voz de Drew, o som e o tom, me

assustaram.

— Você quis? — Levantei a cabeça da parede e pisquei para a sua

silhueta escuta, ainda um pouco longe. — Por quanto tempo?

— Desde que te vi.

— Desde que me viu? — Meu eco foi um guincho.

— Sim. — Ele admitiu, chegando mais perto. Seus olhos brilharam na

luz esparsa oferecida pelo clarão distante de um raio. Eles estão focados com uma

intensidade aquecida na minha boca.

Procurei esclarecer o significado.

— Desde que me viu hoje à noite?

— Não. Desde que te vi. Desde que pus os olhos em você e senti pena de

cada coisa linda que foi feita por não ser mais resplandecentes anuladas pelo seu

ser.

Não respirei por dez segundos. Quando o fiz, o ar deixou meus pulmões

num suspiro, e com ele foi minha paz de espírito.

— Foda-se... — Disse, porque o que estava sentindo merecia um


palavrão extraordinariamente forte. — Você é um poeta.

— Ash...

Balancei a cabeça e fechei os olhos, porque a memória do nosso beijo

quente e perfeito, a visão na minha frente, o sussurro da sua admissão tão

angustiante, tornou-se demais para meu pequeno coração manipular.

— Não fale mais. — Eu implorei. — Acho que suas palavras não são

seguras para eu ouvir.

São armas, pensei, como os punhos de um lutador de luta marcial são armas.

Com bastante uso, prática e habilidades afiadas, as palavras eram as armas de escolha

usadas por excepcionais escritores e poetas. Mentes podem ser alteradas, corações podem

ser perdidos e quebrados, almas podem ser entregues tendo em conta as palavras certas.

Ou erradas.

— Não fale mais. — Ele repetiu, mais perto do que eu esperava. O hálito

dele caiu sobre meu rosto e as mãos deslizando na minha cintura, pressionando

meu corpo ao seu. — Chega de conversa. — Ele disse novamente, desta vez como

um sussurro contra meu pescoço.

— Drew...

— Shh. — Sua mão tocou minha bochecha, o polegar acariciando meu

lábio inferior.

Eu estava confusa e virada do avesso. Não sabia o que dizer, fazer, ou

como me mover neste labirinto de minha própria autoria. Então eu disse:

— Podemos esquecer que isto aconteceu? — Não tentei disfarçar o

desespero em minha voz. — Não podemos chamar isto de erro?

Ele ficou quieto por um tempo, segurando-me num abraço de corpo

inteiro, a mão acariciando minha bochecha e depois indo suavemente para baixo
no meu ombro e braço. Os dedos dele encontraram os meus, trazendo meu pulso

à boca e o beijaram, sua respiração e barba fazendo cócegas na pele sensível.

Em seguida, apertou minha mão aberta no peito.

Finalmente, ele disse:

— Não, querida. Você sabe que não sou bom em fingir.

Soltei um suspiro trêmulo que tocou a frente da camisa.

— Não sei o que estamos fazendo.

— Não?

— Moro em Chicago.

— Eu sei.

— Eu tenho uma vida lá.

— Eu sei.

— Sua vida está aqui.

— Sim, Ash, eu sei. — Ele se inclinou e beijou meu pescoço, me fazendo

tremer.

— Quando tudo isso acabar. — Engoli a última palavra, porque por

acabar realmente quis dizer quando minha mãe morrer. — Eu vou embora. Eu vou

embora e não vou voltar.

— Querida, sei tudo isso.

— Não quero que nenhum de nós se machuque. — Declarei, mas não

tinha certeza se estava suplicando a Drew ou a mim mesma.

— Não há nada que possa fazer sobre isso. — Ele tocou meu queixo, e

em seguida, o beijou. — Você subestima o quão profundamente você corta

quando suas intenções não carregam nenhuma faca.


***

Drew me acompanhou de volta para casa, segurando minha mão

enquanto andávamos no escuro, então me deixou com um beijo rápido e

impulsivo.

Vi sua silhueta partir, ouvi o som dele recuperando seu lugar no sofá e

esperando mais alguns minutos. Não sei o que estava ouvindo, mas em breve o

único som era da própria respiração e batimento cardíaco. Finalmente, fui para

dentro. Mas minha mãe me parou chamando meu nome.

— Ash, é você?

Fui até à cama dela e peguei sua mão. Os olhos ainda estavam fechados.

— Sim. Sou eu.

— O que se passa, querida? Não consegue dormir?

Abri minha boca para dizer que estava usando o banheiro, mas eu parei.

Não sabia há quanto tempo ela tinha acordado, e não queria gastar nada disso

para pacificá-la ou ser educada apenas por causa da educação.

— Mamãe, como conheceu Drew?

Mamãe riu levemente e deu na minha mão um fraco aperto.

— Então... Pensamentos sobre Andrew estão te atrapalhando?

Engoli desconfortavelmente.

— Honestamente, a chuva me acordou. Mas acho que os pensamentos

de Andrew me mantiveram acordada.

Ela abriu os olhos e olhou para mim.

— Você quer saber sobre Andrew. — Era uma declaração, não uma

pergunta.
— Sim. Eu quero saber. Não estou chateada, pelo menos, não mais, mas

estava um pouco, com você dando-lhe o poder de decisão. Mas por que faria isso?

Quão bem o conhece? Como você o conheceu?

— Bem... Vamos ver... — Minha mãe falava arrastado. Ela parecia

drogada, mas não confusa ainda não quase tão consciente como parecia à

tardinha.

— Me desculpe, estou pressionando você? Não temos que falar sobre

isso.

— Não, querida. Está bem. — Outro fraco aperto enquanto estávamos

mãos dadas. — Vamos ver... Você sabia que Andrew é um poeta?

— Sim. — Tinha descoberto há vários dias, quando ele me disse que

fogo deixa para trás Ash (cinzas).

— Conheci-o há cerca de três anos. Eu tinha começado um grupo de

leitura de poesia na biblioteca. Acho que te falei quando começou. Na maior parte

era eu e Diane Sylvester e algumas senhoras do clube da terceira idade. Enfim,

um dia, entra o Andrew. — Ela fez uma pausa e vi sua boca curvar num sorriso.

— Perguntei-lhe se poderia ajudá-lo a encontrar algo, pensando, claro, que ele

tinha caído no nosso pequeno grupo por acidente. Ele perguntou se éramos o

grupo de poesia, e quando admiti que éramos, ele sentou. Bem, devia ter visto a

cara de Diane Sylvester. Por falar nisso, devia ter visto meu rosto. Eu acho que nós

duas estávamos em estado de choque. Esqueça aquelas velhinhas do centro,

exceto a Sra. Cooper. Ela estava tão contente como sal nas torradas. Ela é uma

loba, não que há algo errado nisso, mas acho que ela deixou Andrew um pouco

desconfortável enquanto lambia os lábios para ele.

Eu sorri para esta imagem.


— A Sra. Cooper tem quantos anos?

— Oitenta e dois, mas estava com setenta e nove, e peço desculpas por

ser indelicada, tem um monte de dinheiro.

No Tennessee, ou talvez apenas no meu cantinho, é considerado

descortês a palavra dinheiro. Pode falar sobre estripar um cervo e fazer linguiça de

carne de veado, pode falar sobre uma luta, você pode falar sobre suas

hemorroidas e todos os detalhes nojentos do parto, mas se disser a palavra

dinheiro, deve pedir desculpas por ser indelicado.

— Então, o que aconteceu?

— Ele não disse muito durante a primeira reunião, mas estava me

encarando com um olhar feroz. Pensei que eu o poderia ter ofendido. Mas ele

voltou uma segunda vez e li alguns de seus trabalhos. Depois disso, ele

perguntou se eu queria tomar um café, então fizemos.

— Você já pensou que ele estava interessado em você?

— Deus não! Ele é mais novo que Jethro!

— Mas...

— Mas nada. Eu sabia que não era assim. Andrew estava perdido, eu

poderia dizer por sua poesia, e estava à procura de um lar. Ele agitou meus

instintos maternos, não meus femininos. Além disso, no momento ele precisava

de uma mulher como uma vaca precisa de uma sela. O que ele precisava, e o que

tentei fornecer-lhe, era uma orelha incondicional e apoio.

— Por que você confia tanto dele? Quero dizer, assinou suas decisões

médicas para ele. Ele é o executor de sua vontade.

— Porque o conheço. Sei sua história e seu coração. Ele é... — Ela sugou

um fôlego e parecia estar procurando as palavras certas para continuar. — Ash,


ele parece um filho para mim. E espero que ele saiba disso. Espero que ele me

veja como a mãe que nunca teve, pelo menos, espero que tenha preenchido esse

papel durante os três anos que nos conhecemos.

— Ele não tem mãe?

Ela suspirou.

— Querida, isso não é a minha história para contar. Mas vou te dizer

isto: Eu confio em Andrew Runous mais do que confio em você agora.

Eu vacilei.

— E isso não é porque te amo menos. Te amo até ás estrelas e mais além,

como sempre. Mas você tem um coração sensível, sua mãe está morrendo e seu

cérebro está confuso. Lembro de quando minha mãe morreu. Eu tomei decisões

terríveis nos meses que se seguiram. Eu quase me reconciliei com seu pai. Foi um

caos.

Entendi o que ela quis dizer. Apesar da minha reação inicial à sua

admissão, percebi que também confiava em Drew neste momento. Ele tinha

quebrado o beijo. Ele me deixou na porta de casa. Fiquei agradecida que ele

estava lá para lidar com toda a logística e detalhes para que meus irmãos e eu

pudéssemos gastar nosso tempo e energia em nossa mãe.

— Há uma coisa que tem me chateado. — Persisti. Não quero cansá-la,

mas ela parecia especialmente lúcida neste momento, pareceu-me uma boa hora

para perguntar. — Por que não disse sobre como as coisas tinham melhorado

aqui? Os meninos estão fazendo muito melhor do que jamais teria imaginado. Por

que não me manteve atualizada sobre tudo isso? Eu sei que deveria ter

perguntado mais, mas pensei que... — Fiz uma pausa, procurando minha mente,

então, acrescentei. — Pensei que as coisas não tinham alterado porque nunca me
disse o contrário. Pensei que ainda eram todos uns malandros.

Minha mãe estava muito quieta, e percebi que pensava. Finalmente, ela

abanou a cabeça, os olhos fora de foco e disse.

— Não sei. Seu tempo aqui, crescendo, foi difícil nesta casa cheia de

meninos desordeiros e insensíveis. Talvez, pensei que estava te protegendo... Eles

eram tanto como seu pai, então... Mas isso não faz sentido. Não sei.

Esta resposta me surpreendeu, especialmente porque ela parecia

perdida. Não consegui pensar em nada para dizer. Antes de formar uma resposta,

ela disse:

— Talvez estivesse vivendo através de você, só um pouquinho. Talvez

eu invejasse a vida que tem, o que fez para si mesma. Talvez quisesse mantê-los

só para mim. Não sei querida. Não falei com eles sobre você também e você sabe,

eles nunca perguntaram. Às vezes nos comportamos de maneiras que não fazem

sentido, nem para nós mesmos. É uma loucura todos nós temos isso. E não sou

perfeita. Mas sinto muito. Você me perdoa?

— Sim. Claro que sim. — Queria abraçá-la, mas sabia que era

impossível, então acabei por acariciar sua bochecha.

— Agora, Ash, tenho um favor para pedir. — Ela mudou na cama dela e

o rosto dela ficou sóbrio, os olhos sérios.

— Claro, mãe.

— Você não vai gostar. Mas preciso que me escute, e preciso que confie

em mim.

— Você sabe que confio em você.

— Ash, baby, preciso que ligue para seu pai. Preciso vê-lo, mas, mais

importante, ele precisa ver todos vocês antes de ir.


Não podia falar porque não tinha certeza do que ouvi. Ela não poderia

possivelmente ter me pedido para convidar aquele homem para esta casa. Agora

não. Nem nunca.

— Por quê, mamãe? Só não entendo como poderia...

— Ash, você precisa confiar em mim. Há coisas que não sabe.

Eu liberei um ronco descrente.

— Então me diga.

— Não, querida, porque então você vai ligar e contar a ele. Conheço seu

pai, e sei o que estou fazendo. Preciso falar com ele cara a cara. Ele precisa ver

todos vocês, todos vocês juntos, unidos. Ele precisa vê-los assim para saber que

não tem espaço de manobra, porque tudo que ele precisa é de um pouco de

espaço em sua cabeça, Jethro ou Beau. Todos precisam apoiar uns aos outros. Isso

é o que ele precisa ver.

— O que está falando? Espaço de manobra para quê?

— Ashley, Darrell sabe que estou doente. Ele está esperando, esperando

sua hora, e então vai vir atrás deste lugar e tudo dele, isso significa seus fundos

também. Ele não tentou, não imediatamente, mas vai tentar. E isso vai ser um

pesadelo para seus irmãos. Você não mora mais aqui, mas esta é a sua casa. Este

lugar pertence a todos vocês, mas seu pai não vai ficar feliz com isso. Acha que

quero que todos tenham que lidar com ele durante o funeral? Precisamos resolver

isto agora.

Olhei para ela, tentando determinar o que estava na raiz deste pedido

urgente. Nem tudo o que ela disse fazia sentido para mim porque ela obviamente

estava escondendo algo.

Independentemente disso, uma realidade que tinha ignorado começou a


escoar em minha consciência. Não havia me ocorrido antes, provavelmente

porque estava enrolada e torcida em seu diagnóstico terminal, e não pensei sobre

o que viria depois, mas, tanto quanto sabia, meus pais eram casados.

Tudo o que estava no nome da minha mãe também pertencia ao meu

pai. Deixei essa verdade afundar em meus ossos. Somente o nome da mãe estava

na escritura da casa e contas bancárias. Eu sabia disso com certeza. Pelo menos,

era o caso quando eu estava crescendo.

Meus pais tinham se separado dois anos antes de minha avó morrer, e

ela deixou tudo para minha mãe. Mas meu pai nunca deu a minha mãe o

divórcio. Ela tentou ao longo dos anos, e ele resistiu, ameaçando e fazendo sua

vida um inferno. Agora entendi por que. Como seu marido, ele herdaria tudo.

— Ah, mãe... — Suspirei, porque não sabia o que fazer. Não quero ver

meu pai. Não queria chamá-lo. Não queria ter a nuvem dele pairando sobre seus

últimos dias.

— Ash, olhe para sua mãe. Você precisa chamar seu pai. Eu preciso falar

com ele. Ele precisa ver que todos estão unidos e que não vai ser capaz de

manipula-los.

Assenti, fechei os olhos e esfreguei minha testa com a mão livre. O

pensamento de ver o meu pai me deixou com dor de estômago.

— Por que agora? — Sussurrei. — Por que não se divorciou há anos? Por

que não você não o chamou até agora?

— Quando Roscoe fez dezoito anos, tentei novamente. Não contei sobre

isso porque não queria te preocupar. Mas estamos há dois anos nisso, Ash, e

ainda não estamos perto. E você sabe por que esperei até Roscoe atingir a

maioridade? Você viu como era, toda vez que tentei me divorciar de seu pai foi
um pesadelo.

Concordei porque me lembrei. A última vez que minha mãe tentou se

divorciar foi quando eu estava no colegial. Ele só não molestava a minha mãe. Ele

assediava a todos nós. Ele pegou o Roscoe da escola, em seguida, o abandonou

num campo. Roscoe tinha dez anos. Ele veio para minha escola e me tirou da

classe de aula, e em seguida, me levou para The Dragon Biker Bar. Passei à tarde

com medo na cabeça. Meu pai tinha homens pagando para dançar comigo, o que

realmente só significava que eu estava aterrorizada e maltratada por uma hora

antes de Jackson James e seu pai policial aparecerem me levando.

Ele foi para o moinho onde Billy trabalhou, apareceu bêbado e quase fez

com que Billy fosse despedido. A lista continuava e continuava. Acho que minha

mãe poderia ter lidado com o assédio por si mesma, mas não tinha estômago para

nos ver passar por isso.

— Mas e se ele tentar... E se ele tenta tomar decisões médicas sobre seus

cuidados? Ele ainda é seu marido. Por que convidá-lo aqui quando ele ainda pode

te machucar?

— Ele não pode, querida. Mesmo que não estamos divorciados, estamos

legalmente separados. O único que pode tomar decisões é o Andrew. Isso foi feito

há meses.

— Ok. — Eu disse, me sentindo perto de lágrimas novamente. Eu as

engoli, embora. Eu não chorei. — Ok, mamãe. Eu vou chamá-lo.

— Obrigada, Ash. — Minha mãe exalou, os olhos fechados, e o corpo

dela pareceu relaxar como se tivesse tirado um fardo gigante. Eu fiquei do lado

da cama e estava prestes a ir para a minha cama quando ela disse. — Tenho algo

para te dizer, Ash. É muito importante.


Eu segurei sua mão em ambas as minhas e apertei.

— O que foi mamãe?

— Sei que não gosta de precisar das pessoas, mas talvez, apenas uma

vez, deixe-se precisar de alguém. Talvez se deixe precisar de Andrew. Ajudaria a

ele também, eu acho. Ele merece ser necessário para alguém como você. Mesmo

que por um curto período de tempo...

Esperei que ela continuasse, mas não. A mão dela tinha ficado mole na

minha, e sabia que ela estava dormindo.

Eu a assisti dormir um pouco e depois fui para minha cama e me

coloquei nela. Não dormi muito naquela noite novamente, por razões óbvias.

Debati-me, me virei e finalmente dormi algumas horas mais tarde. Quando

acordei, Drew tinha desaparecido.


CAPÍTULO 16

“Não há praticamente nenhuma atividade que não pode ser reforçada ou

substituída por troco, se realmente quer ser obsessivo sobre isso”.

― Stephanie Pearl-McPhee, At Knit’s End:

Meditations for Womem Who Kint Too Much

~Ashley~

Se alguém tivesse me dito há cinco semanas atrás que eu ia estar

citando Emily Dickenson na floresta com Drew, teria dito que esta pessoa podia

investir num bom psicoterapeuta.

Se alguém me dissesse há uma semana que ia beijar Drew na varanda de

trás da casa da minha mãe como se seus lábios e corpo fossem minha única fonte

de alimento e seria deixada com um desejo persistente que não pode ser saciado,

teria dito a essa pessoa sobre a invasão alienígena acontecendo em Poughkeepsie.

Também teria mencionado que era leal às árvores Kinkan. Porque o que mais

diria para poder parecer imensamente insano?

No entanto, lá estava eu, consumida.

Eu amo o fogo mais por causa do que ele deixa para trás...

Cinzas (Ash). Ele deixa para trás cinzas (Ash).


Pressionei a base das minhas palmas contra os olhos e respirei fundo.

Neste momento, estava lá em cima no meu quarto, tentando tirar um cochilo

antes da minha noite de terça pelo Skype com o grupo de tricô e falhando

miseravelmente.

Esta seria a segunda vez que fui capaz de usar o Skype e participar do

meu grupo de tricô, e estava ansiosa durante toda a semana sobre isso,

esperando.

Eu estava cansada. Eu tinha o lugar, o motivo e a oportunidade para

tirar uma soneca. Mas não conseguia dormir.

No início do dia, liguei para meu pai, deixando uma mensagem no

celular dele. Disse que minha mãe queria falar com ele, e desliguei. Então, tinha

começado a espalhar a palavras aos meus irmãos que íamos ter uma reunião de

família, depois da chamada com meu grupo de tricô no Skype.

Poderia ter me preocupado com um imenso número de coisas: a visita

iminente do meu pai, dar a notícia aos meus irmãos, a partida iminente da minha

mãe, como iria massacrar todos os galos. Mas não estava.

Eu estava pensando sobre Drew.

O que havia de errado comigo?

Como era possível estar me sentindo assim, consumida, sobre o beijo de

Drew e suas palavras quando já estava consumida com o sofrimento sobre minha

mãe e a certeza da morte dela? Ele se aproximava à distância como um tirano

demente no recreio de uma escola.

Mas beijar Drew tinha me feito sentir tão bem e a ideia de ceder...

Fui rapidamente me tornando viciada na maneira que meu coração

acelerava e minha barriga torcia quando sentia seus olhos em mim. Acho que
estava um pouco apaixonada com a forma como ele disse meu nome ou me

chamou de querida como se eu fosse doce e só ele sabia que eu era deliciosa.

Frustrada e decepcionada com meu comportamento, chuto as cobertas

com muito mais força que necessário e viro o rosto no travesseiro. Meu rugido

abafado se tornou um grito, e soco o colchão várias vezes.

Olhei de relance para o relógio na mesa de cabeceira e vi que tinha

apenas quinze minutos até ligar para minhas amigas no Skype. Desistindo da

soneca, peguei meu laptop e tricô e fiz o caminho lá para baixo.

Cletus e Joe estavam com a mamãe. Joe estava de plantão, o que

geralmente significava que se ele parasse por alguns minutos, talvez se sentasse

um pouco na sala para dizer merda. Então geralmente saía para visitar outro

paciente.

Esta noite, ele decidiu ficar. Disse que outra paciente tinha morrido,

então tinha mais espaço na agenda.

Pelo presente Cletus e Joe estavam jogando xadrez, que... Eu não

poderia envolver minha mente em torno. Independentemente disso, deviam vir

me buscar, quando ela acordasse. Minha mãe tinha dormido durante a maior

parte do dia, e quando acordou, não comeu quase nada.

Eu mantinha um registro de suas atividades, quando ela dormia,

quando comia, quanto tempo estava acordada, o nível de dor dela auto relatada,

quanta morfina usava. Eu esperava que todas as informações servissem como um

sinal de aviso, quando chegasse a hora que o quando o fim estivesse próximo.

Também sabia que a coleta de dados servia como um calmante, acalmado minha

necessidade de controlar uma situação sobre a qual absolutamente não tinha

controle.
Portanto, com base em todos os dias que antecederam, hoje as horas de

sono e a falta de ingestão de alimentos era um valor aberrante e austero.

Tentei não pensar muito sobre isso enquanto sentei no sofá, onde Drew

tinha dormido na noite anterior, e reiniciei meu laptop. Se pensasse sobre isso, eu

enlouqueceria.

— O que esta fazendo? — Roscoe perguntou conversando, caindo no

sofá ao meu lado.

— Vou abrir o Skype para minha noite de tricô.

— Por que o faz aqui? Pensei que o wireless pegasse em todos os lugares

da casa?

— Ele faz. Mas quando tentei acessar o Skype do meu quarto, o vídeo e

o áudio ficavam cortando. O sinal é melhor aqui em baixo.

Roscoe franziu a testa.

— Disse a Drew?

— Não. — Senti um pouco o aumento de conscientização com a menção

do nome de Drew, como se fosse um segredo, e o ouvir pronunciado em voz alta

era uma emoção. Eu estava verdadeiramente ridícula.

Afastando as borboletas golpeando no meu estômago, abri o Skype, me

certificando que meu avatar se mostrava como disponível, em seguida, coloquei o

laptop na mesa de café e cheguei meu tricô.

— Por que não? — Roscoe persistiu. — Tenho certeza de que ele

consertaria.

— Tenho certeza de que Drew tem coisas melhores para fazer com seu

tempo. Além do mais, só agradeço que simplesmente funciona. Não me importo

de fazer as chamadas aqui.


— Por quê? — Olhei de relance para meu irmão.

— Te incomoda? Eu fiz aqui na semana passada e ninguém pareceu se

importar.

Ele balançou a cabeça.

— De jeito nenhum. Gostei muito de suas amigas, especialmente a loira.

As duas quentes, mas Sandra me assustou um pouco. Agora, Elizabeth... Ela é o

tipo de prestador de cuidados de saúde de quem eu posso ficar atrás, se sabe o

que quero dizer.

— Ugh. — Eu revirei meus olhos. — Você é nojento.

— Não sou nojento. Estou em paz com a minha sexualidade, e gostaria

de dar aos outros um pedaço dela, espalhar um pouco de paz ao redor, obter

vários pedaços por aí.

Sufoquei uma risadinha e bati-lhe no braço.

— Bem, vou ter a certeza contar seus sentimentos ao marido de

Elizabeth.

— Ela é casada? — Ele parecia perdido.

— Sim. Aqui, se você ficar em torno pode conhecê-lo. Eles estão prestes

a telefonar-me.

— Não, obrigado. — Ele bufou, fez uma pausa e, em seguida, estreitou

os olhos para mim. — Como ele é? Ele também é médico? Aposto que eles

brincam de médico juntos.

— Ugh! Realmente, Roscoe? Realmente?

— A sério, como ele é?

Respirei fundo e segurei, pensei em como descreveria Nico para alguém

que nunca o conheceu. Era difícil porque não sabia onde começar. Nico era um
famoso comediante. E ele era quente. E doce. E completamente, totalmente,

apaixonado por Elizabeth.

— Ele é grande. — Finalmente disse. — Têm horários loucos e mal se

vêem. Ele aprendeu crochê para que pudesse se juntar ao nosso grupo de tricô e

passar mais tempo com ela.

— Ele aprendeu crochê para agradar a uma mulher?

Dei um tapa em Roscoe novamente.

— Sim. Ele aprendeu crochê por uma mulher. E você é um idiota.

— Eu nunca faria isso. — Disse Roscoe com um sorriso. — Fale sobre a

perda de seu cartão de homem.

Eu grunhi e suspirei. Meu irmãozinho iria aprender no dia em que se

apaixonar loucamente por uma mulher e acarinhá-la era como um menino

ganhando seu cartão de homem. O indicador na tela anunciou que uma chamada

estava chegando, então cliquei no botão para aceitar. Uma imagem da Elizabeth e

Nico na sala se materializou na tela, e meu coração foi aquecido pela visão.

Sandra, Elizabeth, Janie, Fiona, Marie e Nico estavam todos sentados no grande

sofá secional da sala, uma janela ao fundo fornecia uma vista deslumbrante da

cidade.

Era Chicago. Era noite de tricô. Meus amigos estavam lá. Parecia casa.

— Ah! É você! — Marie sorriu um sorriso enorme e jogou os cachos

loiros nas costas. — Olhe seu rosto lindo. Senti saudades dele. — Ela me mandou

um beijo. Marie sempre parecia que tinha acabado de sair das páginas da Vogue.

Sua ambição e necessidade feroz de independência poderiam fazê-la ser fria e

calculista. Pessoalmente, a achava fodona.

— Ei, garota. — Devolvi o sorriso e suspirei, sentindo-me feliz de uma


forma que tinha perdido desde que pisei naquele avião para o Tennessee. —

Onde está Kat?

— Foi buscar as bebidas. — Marie virou a cabeça na direção da cozinha

de Elizabeth, fora da tela.

— Quem é esse? Quem está sentado ao seu lado? — Elizabeth indicou

para a minha direita onde estava sentado o Roscoe. — Esse é Billy ou Roscoe?

— Este é Roscoe, e estava de saída.

Todos em Chicago me ignoraram e acenaram para meu irmão, dando-

lhe cumprimentos e sorrisos amigáveis.

— Oi, Roscoe. Sou Janie. — Ela se apresentou com um aceno curto

enquanto torcia o cabelo longo, encaracolado, vermelho num coque atrás da

cabeça. — É um prazer conhecê-lo. Você compartilha uma semelhança

impressionante com sua irmã. Mas onde ela é excepcionalmente bonita, você é

excepcionalmente um homem bonito, o que significa que não ficaria atraente

vestido de mulher.

Eu conhecia Janie, então sabia que ela não queria dizer isso em tudo. Ela

frequentemente fazia observações em voz alta que a maioria das pessoas só

pensa... Calmamente... Na cabeça... Onde esses pensamentos devem ficar.

Roscoe sentou-se reto e inclinou para frente, a presunçosa.

— Ei, prazer em conhecê-la.

— Para baixo, garoto. — Sandra riu e indicou Janie com seu queixo. —

Você não quer mexer na geléia de morango. O marido dela é grande e assustador

e faz com que as pessoas desapareçam na sexta-feira, ou mesmo qualquer dia da

semana.

— Ele não é tão ruim. — Esta declaração veio de Fiona, a mais sensata e
também a mais velha do nosso grupo, embora apenas por alguns anos. Ela tinha

ido para a escola de engenharia, mas em seguida, deixou o mundo do trabalho,

para tornar-se uma mãe que fica em casa.

— Ele é aterrorizante. — Disse Nico, fazendo com que todas rirmos.

Podia ver que ele fazia crochê. Ele e Janie faziam crochê enquanto o resto de nós

malha.

— Olá, Nicoletta. — Acenei para ele. Nós o chamávamos de Nicoletta,

para que se sentisse como uma das garotas. No entanto, não ajudou. Ninguém

jamais poderia confundir Nico com uma das garotas.

— Oi, Ashley. — Nico retornou meu aceno com um sorriso de olhos

cintilantes. — Marie está certa, é bom ver seu rosto. Sinto falta da suas fazenda de

gado leiteiro em analogias.

Antes que pudesse retroceder, Roscoe levantou abruptamente e foi para

fora da sala. Franzi a testa depois de sua retirada de forma bruta então dei de

ombros, um pouco perplexa com sua partida repentina, mas não estando curiosa

o suficiente para descobrir por que saiu tão rápido.

Só então, a voz de Kat soou no alto-falante do meu laptop.

— Oh meu Deus do céu, olha quem é. Fio extravagante McGee!

Olhei para a tela e vi Kat em pé na borda da tela, as mãos segurando

dois copos de vinho.

— De que está falando?

— Isso é meu novo nome após ter invadindo seu estoque de fios. Tem

qualquer fio acrílico em seu estoque? Algum sintético? Ou apenas fibras de luxo?

— Kat cutucou, obviamente tendo escavado através de meu estoque de fio

quando parou no meu apartamento para regar minhas plantas. Não me importei
com a provocação em tudo, mas o comportamento era estranho para ela.

Normalmente, ela era reservada e tranquila. Foi realmente muito bom vê-la sair

da sua concha. Só demorou quatro anos.

— Isso é esnobismo de fio reverso, e não justificarei seu questionamento

com uma resposta.

Kat riu, tomou um gole de seu vinho tinto e reivindicou o lugar vazio ao

lado de Marie.

— É justo. A sério, roubei alguns dos seus fios. E seu recorte do tamanho

real de Charlie Hunnam diz oi.

Antes que pudesse responder, senti que algo me bateu na cabeça, algo

insubstancial. Virei e olhei atrás do sofá e vi um copo de plástico no chão.

Levantei os olhos para a porta da cozinha, encontrei Beau e Roscoe, fora do

enquadramento da webcam. Olhei de relance para o copo, em seguida, de volta

para eles, com uma sobrancelha levantada.

Eles acenaram os braços freneticamente, indicando que eu deveria me

juntar a eles na cozinha, mas não disseram nada em voz alta.

Então voltando para a webcam, suspirei e anunciei.

— Desculpa, eu já volto. Dois dos meus irmãos caipiras querem brincar

de charadas na cozinha.

— São charadas caipiras? — Marie, perguntou com os olhos em seu

tricô.

— O que são charadas caipiras? — Janie animou-se.

Sandra forneceu uma definição que só era um pouco ofensiva.

— É onde os jogadores do sexo masculino tem que estar bêbados de

aguardente e só estão autorizados a dar dicas, jogando diferentes andamentos em


um banjo.

— Ou um jarro. Eles podem também dar dicas tocando um jarro. —

Acrescentou Fiona.

— E a resposta é sempre o filme, Deliverance .— Esta joia veio de Nico.

— Ha, ha. Muito engraçado. — Eu revirei meus olhos.

— Vá em frente. — Disse Elizabeth, acenando com a mão no ar. — E

enquanto está de pé, pode pegar um pouco de vinho.

— Nós sentiremos saudades enquanto estiver fora, Ashley. — Nico

sorriu para mim. Ele era realmente adorável. Tipo, níveis ilegais de adorável.

Alguém deve ser considerado responsável por sua meiguice num tribunal.

— Concordo! — Isto veio da Sandra. — As rosas são vermelhas, violetas

são azuis, rimar com vinho é difícil.

Rindo das maluquices, coloquei meu tricô de lado e fui para a cozinha.

Minha missão era dupla: repreender meus irmãos por jogar copos plásticos na

minha cabeça e encontrar vinho. Nem tinha certeza se tínhamos vinho. De

repente ocorreu-me que tinha passado um mês inteiro sem vinho tinto. Só não era

saudável.

Assim que estava a três passos de distância da entrada, Beau estendeu a

mão e agarrou o meu pulso, puxando-me para a cozinha.

— Ashley Austen Winston. — Sua voz era um sussurro áspero. — Você

conhece Nico Moretti? Exijo que me responda agora.

Presumi que Beau falava de Nico, marido de Elizabeth, porque Nicoletta

e Nico Moretti na verdade eram a mesma pessoa.

Dei a irmão um olhar que esperava que transmitisse a natureza extrema

da minha irritação.
— Beauford Fitzgerald Winston, você não faz exigências para mim.

Nunca. Se desculpe por este terrível comportamento.

Roscoe arremessando para frente, os olhos largos e acusatórios.

— Ashley Austen Winston! Como pode não dizer?

— Não era da sua conta, Roscoe Orwell Winston.

— Você conhece Nico Moretti, Ashley Austen Winston. Você o conhece. E

ele é hilário. — Roscoe jogou as suas mãos para cima.

— Algum de vocês sabe se temos qualquer vinho?

—... Vinho? Vinho? Você quer falar sobre vinho agora, Ashley Austen?

— Beau balançou a cabeça para mim e suspirava. — Sinto que não posso mais

confiar em você.

— Beauford Fitzgerald Winston, você está sendo bobo. — Então, um

pensamento me ocorreu. Meus olhos estreitaram enquanto pesquisando os dois.

— Escute, se puder me encontrar... Ou for buscar vinho tinto, vou apresentá-lo

para Nico Moretti. Temos um acordo?

Eles ambos assentiram com a cabeça em uníssono.

— Negócio fechado.

— Bom. — Girei nos calcanhares e saí para a sala de família, com

intenção de voltar à noite do tricô. Podia ouvir a conversa do grupo vindo dos

pequenos alto-falantes do meu laptop.

Nesse momento, no entanto, a porta da frente abriu revelando Duane

meu irmão e meu amigo de infância/ex-namorado/agora gostoso policial, Jackson

James. Duane parecia ansioso e passava os dedos pelo cabelo. Jackson estava

vestido com uniforme, parecendo muito como estava há algumas semanas atrás,

quando o tinha visto brevemente na cabana.


— Sem dano, sem falta, Duane. — Jackson estava dizendo, e vacilei um

passo, dando uma olhada entre os dois. Os olhos de Jackson se acenderam

quando ele me viu.

— Ashley!

— Jackson... — Pisquei para ele e depois olhei para Duane por uma pista

sobre o que estava acontecendo. Duane suspirou e revirou os olhos.

Duane não foi útil.

Policial Jackson se adiantou, um sorriso gigante no rosto e alcançou

minhas mãos.

— É bom te ver, Ash. — Seu sorriso se desvaneceu numa expressão séria

de preocupação. —Como estão?

Eu pisquei para ele um pouco mais, francamente assustada por vê-lo.

Ele era Jackson, mas ele não o Jackson, e eu não pensava nele há anos.

— Uh, tudo bem. Quer dizer, as coisas estão bem. Bem, você sabe, tão

bem quanto poderiam. — Eu estava gaga e os olhos piscaram para o laptop

empoleirado em cima da mesa de café. O grupo de Chicago poderia ver e ouvir

tudo o que está acontecendo agora na minha sala de estar.

— Eu sinto... Sobre tudo. — Jackson disse sinceramente, dando outro

passo antes de estender a mão e apertar a minha. Seus olhos castanhos seguraram

me com tamanha concentração que tenho a sensação que estava se desculpando

por mais do que o que estava acontecendo atualmente com minha mãe.

— Obrigado por sua preocupação, Jack. Mas Ashley tem a família para

apoiá-la. E acho que não é uma boa hora. Então... — Duane veio ao meu lado,

muito perto, e cruzou os braços, enfiando a barba gengibre no belo rosto de

Jackson.
— Duane Faulkner, sou perfeitamente capaz de falar por mim mesma.

— O cutuquei no ombro e puxei minhas mãos.

Jackson não me soltou imediatamente, hesitei meio segundo antes de me

soltar de seu aperto. Ele deu seu sorriso torto, e os olhos eram esperançosos.

— Jackson... — Dei-lhe um sorriso tranquilizador. — Como está sua

disponibilidade esta semana? Prefiro não sair de casa, mas eu poderia fazer

sanduíches. Se mamãe estiver bem disposta, tenho certeza que ela iria desfrutar

de uma visita.

— Oh sim, gostaria de vê-la também. Deixe-me dar-lhe meu número de

celular. — Ele enfiou a mão no bolso e tirou uma caneta e papel.

Aproveitei o breve período de calmaria na conversa para olhar a tela do

computador e tive que lutar contra um revirar de olhos quando encontrei o grupo

inteiro de tricô amontoado na frente da webcam para ver o que estava

acontecendo na minha sala da família do Tennessee com ávido interesse.

— Achei o vinho! — Beau veio da cozinha, sorrindo de orelha a orelha

em triunfo, segurando pequena uma garrafa.

Eu suspirei.

— Beau, isso é vinagre de vinho tinto. Não é vinho tinto.

— Diz vinho tinto nele. — Ele olhou para mim e para ele. — Qual é a

diferença?

— Eu avisei, imbecil! — O grito veio de Roscoe na cozinha. —Ela não vai

beber isso. É para marinar saladas.

— Não podemos todos ir para a faculdade e beber vinho chique, Roscoe

Orwell. Alguns de nós trabalham para viver! — Beau gritou de volta, depois

franziu a testa para Jackson quando me entregou um papelzinho dobrado. — O


que é isso? O que faz aqui, Jack? O que é este papel?

Beau e Duane ficaram ao meu lado, vermelhos no topo e barbudos como

colunas de desconfiança e descontentamento.

Duane arrebatou o papel de meus dedos e o entregou a Beau. Eu rangia

um protesto chocado, mas Duane me cortou.

— Jackson, qual é seu nome do meio? — Ele exigiu.

Jackson virou para Duane franziu a testa e disse.

— Uh... John.

— Dê-me isso. — Eu disse, me jogando no peito largo de Beau para

arrebatar o papel de volta.

— Bem, Jackson John James, não gostei que me mandasse encostar esta

noite, sem razão, só porque então poderia como uma fuinha se meter nesta casa.

— Duane Faulkner! — Repreendi. — Deixa de ser feio, isso é o bastante!

— Quando disse isso, a porta da frente abriu entrando Jethro, Billy, e claro Drew.

Gemi e fechei os olhos. Emparelhada com minha frustração também sentia uma

inquietação, porque Drew estava aqui. Ele estava no quarto comigo, respirando o

mesmo ar. Respirei fundo e abri os olhos. Tanto quanto queria mantê-los focados

no meu irmão mais velho, eles instintivamente procuraram e encontraram Drew.

Seu rosto estava desprovido de expressão, o que significava que parecia

irritado. Os olhos piscaram para meu corpo uma vez como se verificando-me por

lesão. Levou todo meu poder de sanidade para tirar o olhar de Drew e prestar

atenção aos meus irmãos.

— O que está acontecendo? — Jethro falou primeiro.

— Jackson está dando a Ashley seu número de telefone, é o que é. —

Beau disse como se Jackson estava me dando um corpo para esconder.


— E estão fazendo planos para sanduíches. — Duane acrescentou,

cruzando os braços sobre o peito. Eu gemi novamente.

— Oh irmão...

— Sim? — Jethro, Billy, Duane e Beau disseram em uníssono.

— Me escute, precisa se afastar e se comportar. Jackson é um velho

amigo. É normal que dois amigos se envolvam numa conversa!

— Desde que não seja sexo. — Billy murmurou sob a respiração.

Inspirei um forte suspiro.

— William Shakespeare Winston!

Ele me deu uma carranca.

— Não me olhe assim. Todos estávamos muito bem antes de você

aparecer. Agora que está de volta, de repente temos a atenção da polícia local?

Todos sabemos por que Jackson John James está aqui, e não é para sanduíches.

Ouviu um barulho vindo dos alto-falantes do meu laptop e olhei a tela.

Todos do meu grupo de tricô estavam amontoados, obviamente na

frente da tela. Em algum momento, um deles deve ter feito pipoca, porque todos

os sete deles estavam comendo, os olhos grudados à ação acontecendo no

Tennessee.

Todos os homens barbudos na sala, e o único homem não barbudo,

seguiu meu olhar.

— Não se importe conosco! — Marie acenou para a câmera do lado dela,

assim, essencialmente, no meu quarto de família inteiro. —Continue. Isto é mais

divertido do que a luta de gelatina da Nicoletta.

— Eu concordo. — Acrescentou Nico, enfiando pipoca na boca.

— Espere um minuto. Aquele é...? — Jethro puxou meu braço e com a


outra mão, apontou meu laptop.

— Aquele é Nico Moretti? O comediante com aquele programa na

Comedy Central?

— Oi. — Nico disse alegremente com a boca cheia de pipoca. — Muito

prazer.

A sala mergulhou em três segundos de silêncio, quando todos na minha

sala de família olharam para a tela do meu computador e todos na tela sorriram

de volta. Não sei quanto tempo isto teria continuado se Roscoe não tivesse

chegado apressado da cozinha com um grande sorriso no rosto, segurando uma

garrafa na cabeça e gritando.

— Vinho! Eu achei vinho!


CAPÍTULO 17

“Nós não éramos pessoas de abraçar. Em termos de conforto emocional era nossa

convicção que nenhuma quantidade de contato físico poderia igualar os poderes curativos

de um coquetel bem feito”.

― David Sedaris, Naked

~Ashley~

Após as apresentações serem feitas, meus planos para a noite de tricô

descarrilaram, mas de maneira nenhuma foram arruinados.

Todos os assentos na sala da família foram rapidamente tomados, e senti

os olhos de Drew me seguindo quando reclamei meu lugar no sofá. Jackson

sentou-se à minha direita por cerca de dez segundos antes que Billy disse-lhe

para se mover. Então, Billy sentou à minha direita.

Isto deixou Jackson com três opções: ficar, sentar no chão ou sair.

Ele me bateu no ombro, me disse para ligar mais tarde e saiu.

Quando Jackson fechou a porta da frente, virei e encontrei Drew me

olhando. Sua expressão era ainda estóica, não muito irritada, mas definitivamente

arredio. Em seguida, Drew deixou a sala, não a casa. Ele desapareceu no corredor,

na direção à sala, deixando-me com meus irmãos e amigos em Chicago.


O resto da hora passou com conversa sociável, exceto num ponto

quando Jethro chocou a manteiga fora de nossos biscoitos, puxando para fora seu

próprio tricô em andamento. Ele estava tricotando um chapéu e usando uma

mistura de lã alpaca/merino, um fio conservador deve ter pego numa pequena

loja. Era marrom e com quatro dobras de lã penteada. Tive que conter minhas

mãos de acariciar os fios.

Meus irmãos e eu o olhamos. Ele ignorou-nos, em vez disso Marie fez

uma pergunta sobre seu trabalho como escritor freelance, e a conversa mudou de

tema.

O comentário de Billy anteriormente ficou preso na minha mente, sobre

como todos estavam bem antes de eu aparecer. Eu sabia que tínhamos algumas

palavras não ditas entre nós. Dos meus irmãos, ele era o único que parecia ser

amargo sobre minha partida há oito anos. Em algum momento, ele e eu teríamos

que falar sobre isso.

Cerca de duas horas da minha chamada do Skype, o encontro estava

concluindo, então levantei e espreguicei, indo ver como minha mãe estava,

deixando meus irmãos com meus amigos para dizer adeus e me sentindo

estranhamente bem sobre isso. Embora, quando refleti, não foi estranho para mim

me sentir bem.

O fato de que meus irmãos e amigos se darem tão bem teria sido

impensável para mim há alguns meses. Mas agora que realmente os conhecia, ou,

pelo menos, estava começando a conhecê-los, me pareceu completamente natural.

Minha família escolhida em Chicago e minha família biológica no

Tennessee eram os mesmos tipos de pessoas. Na verdade, se refletisse sobre isso,

tinha realmente me cercado com irmãos substitutos, sob a forma de mulheres que
tricotam.

Fiona era Billy, lógico e cabeça nivelada, mas escondendo um lado

sensível. Marie era Jethro, perspicaz ainda com grande coração. Jane era Cletus,

doce e muitas vezes alienado. Sandra era Roscoe, um malandro. Elizabeth e Kat

eram os gêmeos, com Elizabeth mais ousada como Beau e Kat tímida como

Duane.

As personalidades não eram perfeitas, mas eram próximas. Esse

pensamento me fez sorrir desde que me senti um pouco como o macaco em

ambos os grupos.Quando abri a porta para a sala, encontrei Drew sentado na

cadeira de madeira, escrevendo em seu caderno de couro, Joe guardando o

tabuleiro de xadrez e Cletus arrumando o quarto.

Minha mãe não parecia estar acordada, mas me aproximei da cama só

para ter certeza. Quando o fiz, Drew olhou para cima e nossos olhares se

cruzaram. Insegura da etiqueta apropriada, dei um breve sorriso e desviei o olhar

antes que pudesse registrar uma mudança em sua expressão. Na melhor das

circunstâncias, não sei como agir perto Drew após nosso beijo para acabar com

todos os beijos.

Como estava, meu pedido de socorro sobre Drew foi colocado em

espera, desde que estava preocupada que mamãe ainda dormia.

— Ela está acordada? — Perguntei no quarto.

Joe veio para ficar ao meu lado.

— Não. Não está. Vi seu recado sobre ela não comer.

Assenti com a cabeça e ele olhou. Ela estava mais pálida do que o

habitual, mas isso provavelmente foi porque precisava comer. Eu tinha lavado

seu cabelo no início do dia durante o curto período de tempo que estava acordada
e dei um banho com a ajuda da Marissa.

Me virei para o Joe.

— Ei, importa-se de ficar com ela? Só por meia hora ou algo assim?

Precisamos ter uma reunião de família, e não quero que ela fique sozinha.

— Posso ficar com ela. — Drew ofereceu.

Voltei minha atenção a ele, meus olhos descansando no rosto, por mais

que as frações de segundo que tinha racionado até agora. Permiti-me a

experiência de sentir um pouco de algo... Felicidade? Desejo? Melancolia? Eu não

sabia, quando nossos olhares se trancaram.

— Não. Você precisa estar lá. — Eu disse.

Sua sobrancelha subiu e ele abriu a boca para me questionar, mas cortei-

lhe, dizendo.

— Preciso de você lá, Drew. Por favor.

Ele me olhou, os olhos inescrutáveis, mas assentiu. Eu estudei-o, quando

ele levantou e colocou o caderno num dos bolsos laterais das calças.

— Eu deveria ir? — Cletus me perguntou, equilibrando vários pratos,

duas toalhas, um jornal e uma caixa de ferramentas.

— Sim, Cletus, você deveria.

— Ok, vou estar lá. — Ele assentiu uma vez, em seguida, saiu da sala.

— Aquele rapaz... — Joe suspirou.

Drew caminhou para a cama da minha mãe e ficou perto de mim com as

costas dos seus dedos roçando os meus, causando um fluxo de calor no meu

braço e pescoço. Olhei de relance de onde nossos dedos encostavam e encontrei-o

olhando para mim. Havia uma tranquilidade, uma quietude sobre ele, e me

envolveu. A sala desapareceu.


— Ei, Ash. — O tom dele estava calmo, gentil.

— Ei, Drew. — Dei um passo mais perto. Não pude evitar.

— Teve um bom momento esta noite com seus amigos?

— Sim. Obrigado novamente por tornar isso possível.

A expressão de Drew estava achatada quando disse.

— Você precisa parar de me agradecer.

— E se não quiser parar?

Os ângulos fortes de seu rosto se amaciaram, e testemunhei algo que não

pude identificar em seus olhos. Mas a próxima instrução de Joe retirou Drew e eu

de nosso olhar de discussão acalorado.

— O rapaz me bateu no xadrez sete vezes.

Joe tinha tornado a sentar na cadeira, e realmente parecia aborrecido.

— Quem, Cletus? — Drew perguntou, em seu tom descrente.

— Sim. Cletus. Faço parte de um campeonato organizado pela Mensa, e

nunca perdi sete vezes seguida antes. Ele é um gênio, julgo eu.

Drew e eu olhamos de relance um para o outro. Imagino que tínhamos

semelhantes expressões de admiração e confusão.

Cletus é um gênio. Não pude entender isso.

Minha família nunca deixou de atordoar a manteiga dos meus biscoitos.

***

Não gostei de ter que dar a notícia aos meus irmãos, todos de uma vez.

Eu tinha pensado em chamar cada um e dizer-lhes, separadamente, mas depois

me senti mal. Primeiro, o que diria? E se não tivesse chance para explicar?
Era muito melhor que estivessem todos juntos e ouviriam exatamente a

mesma coisa. Eles se reuniram na sala da família quando Drew emergiu do

corredor. Drew continuou andando quando parei no limiar para a sala. Ele

caminhou para o sofá, aparentemente, mantendo distância.

Eu estava grata de que ele não viu qualquer razão para anunciar o fato

de que tínhamos nos beijado. Mas por que iria?

Nos beijamos uma vez. Bem, tecnicamente, se contasse a jam session no

centro comunitário e aquela vez no corredor após os grandes fogos de artifício,

nos beijamos três vezes. E o que realmente significava isso, afinal?

Eu poderia estar confusa sobre isso, mas ele não parecia muito afetado.

Eu sinceramente não sabia o que ele sentia por mim, pelo beijo ou o que viria a

seguir, se alguma coisa o afetava. Ele era tão reservado às vezes e intensamente

expressivo em outros momentos.

Além disso, o que eu estava prestes a dizer não ia ser fácil ou simples.

Eu não precisava de meus seis irmãos me questionando sobre minha relação com

o Drew, especialmente desde que estava sem respostas, fora que queria beijá-lo

novamente, muitas vezes, com emoção. Suspeitei que ele sentia o mesmo, não, eu

sabia que ele sentia o mesmo, mas além de beijar eu sinceramente não tinha idéia.

— É sobre aquele idiota do Jack? Eu odeio esse cara. — Beau zombou e

tomou um longo gole de cerveja antes de acrescentar. —Sempre arrebentando as

coisas.

O insulto do Beau conseguiu me puxar da minha cabeça. Drew entrou

em foco e percebi que tinha ficado olhando para ele por cerca de um minuto. Suas

sobrancelhas estavam arqueadas em expectativa confusa, e me olhava como se eu

tivesse perdido a cabeça no corredor.


Limpei a garganta e olhei para o chão, meio convencida que podia

encontrar minha mente no tapete.

— Por que ele mandou você encostar, Duane? — Esta pergunta veio de

Billy.

— Ele é um idiota. Disse que minha luz traseira estava apagada.

— É estava?

— Sim. Mas ele ainda é um idiota.

— Ash, por favor me diga que não vai ter sanduíches com ele? — Beau

me deu um olhar que transmitia claramente sua desaprovação a Jackson James.

Meus olhos piscaram para Drew e notei que tinha descido as

sobrancelhas. Ele me observava com um brilho estreito. Rapidamente afastei os

olhos, ignorando a pergunta de Beau e me enderecei a meus irmãos.

— Não os chamei aqui para falar sobre Jackson. Isto é sobre Darrell

Winston.

A sala ficou quieta, eu poderia dizer que os tinha surpreendido.

Novamente, meus olhos dispararam para Drew. Ele estava encostado no braço do

sofá, os braços cruzados sobre o peito, uma carranca severa estragando as feições.

Isto o fez aparecer mais assustador e até mesmo como um viking mais saqueador

que o normal.

Billy foi o primeiro a se recuperar.

— Ele contatou você? Você o viu?

— Não. Vou dizer o que está acontecendo, mas tem que me prometer

que vai ouvir e não interromper até eu terminar.

Alguns resmungos e o som de várias bocas barbudas, mas no final,

ouviram e não interromperam.


Contei-lhes sobre minha conversa com mamãe na noite anterior, e disse

que já tinha chamado nosso pai e deixado uma mensagem.

Quando terminei, fui novamente recebida com silêncio até Roscoe

levantar do seu lugar e começar a andar.

— Não gosto disso. — Ele disse. Dos sete, Roscoe conhecia Darrell como

um tormento e não tanto como um pai-atormentador. Eu entendi sua reação

inicial porque a compartilhei.

— O que ela precisa falar com ele? — Duane perguntou, seu rosto

franzido em confusão. — O que mamãe poderia dizer? — Em seguida, usando

sua voz mais alegre, ele disse. — Olá, Darrell, você é um idiota. Espero que

queime no inferno.

— Talvez, ela vá matá-lo e nos poupar. — Jethro murmurou isso de

onde estava no sofá, os cotovelos sobre os joelhos, e olhos no chão.

Billy se mexeu de onde tinha se encostado à lareira.

— O que quero saber é como ela planeja impedi-lo de ficar com a casa?

Separados judicialmente ou não, eles estão casados.

— Acho que posso responder a isso. — Disse Drew, olhando para a

frente, a mandíbula determinada. — Acho que posso responder a ambas as

perguntas.

Os olhos de Drew pegaram os meus e seguraram o olhar. Vi uma dica de

arrependimento e saudade antes que ele abordasse meus irmãos.

— Quando sua mãe assinou a procuração e me fez o executor do

testamento, também assinou sobre todos os seus fundos os colocando sobre meu

controle. Eu comprei a casa, tudo nela e a terra que a rodeia, por mil dólares.

Eu sempre tinha ouvido falar do termo o silêncio encheu a sala, mas não
acho que tinha experimentado a sensação de silêncio de verdade encher uma sala

até aquele momento. O silêncio encheu a sala, até pensei as paredes podiam se

curvar sob a pressão do mesmo.

A boca do Billy abriu e fechou, sua mente obviamente tendo dificuldade

em compreender a situação. Imaginei que todos usavam expressões similares.

Drew continuou.

— Ela também criou uma S-corp com dois de nós como co-proprietários.

Ela transferiu todas as suas economias e contas de investimento, a herança de

seus avós, para a empresa, em seguida, se removeu como parceira. A única conta

que ela manteve em seu nome é a conta corrente do banco local na cidade onde o

salário da biblioteca é depositado.

— Porque... Por que ela faria isso? — As palavras de Beau eram

sufocadas, confusas.

— Ela disse na época que tinha medo que seu pai de alguma forma a

limpar no divórcio. Ela queria colocar tudo em meu nome, transferir todos os

bens, até o divórcio acabar.

— Ela deve ter sabido que estava morrendo. — A voz de Cletus, estável

e neutra, me surpreendeu. Dos meus irmãos, ele parecia estar absorvendo esta

notícia e vendo a situação com a maior clareza. — Se fosse sobre o divórcio, ela

teria pedido a um de nós para ajudar. Ela não queria que soubéssemos que estava

doente. Ela não queria nos ter em uma posição ruim quando morresse.

Novamente, o silêncio encheu a sala. Era o silêncio associado a sete

cérebros trabalhando duro para entender as motivações de uma mulher

moribunda.

Os olhos de Drew cintilaram nos meus. Ele parecia estar pensando e o


olhar era cauteloso como se esperasse me ver zangada com a revelação. Mas eu

não estava com raiva. No início, fiquei surpresa. Então, quando as peças do

quebra-cabeça se juntaram, me senti aliviada.

Porque se qualquer um de nósm, eu ou meus irmãos, estivéssemos na

posição de Drew, iríamos ser alvo de meu pai. Ele teria jogado tudo no seu

arsenal de manipulação em nós. Eu não estava zangada com Drew, mas

certamente não o invejava. Meu pai não era um bom homem.

Atravessei para onde ele ainda estava encostado no braço do sofá. Ele

ficou parado enquanto me aproximava os braços caindo para os lados, a

expressão cautelosa.

Parei longe o suficiente de Drew para dar-lhe espaço.

— Você o conheceu antes? Darrell?

— Sim. Uma vez. — Seu olhar era vigilante, como se não soubesse o que

esperar de mim, mas estava se preparando para o pior.

Meus olhos baixaram para seu peito e vi a ascensão e queda várias vezes

antes de falar novamente.

— Estou preocupada com você, Drew.

— Não fique.

Eu levantei os olhos até aos dele, segurando o olhar.

— Ele vai fazer sua vida um inferno quando descobrir.

Ele retornou minha fala com um pequeno e triste sorriso.

— Ele vai tentar e vai falhar.

— Por favor, deixe-me saber como posso ajudá-lo.

Drew me deu um aceno sutil, os olhos ficando duros e aquecidos.

— Eu te disse antes, não preciso de nada de você.


Vacilei, tropeçando nos meus pés, mas Drew pegou minha mão e me

segurou no lugar. Só então, embora não pudesse vê-lo, ouvi a voz de Billy.

— Eu concordo. Não gosto de ser mantido no escuro, mas... Homem,

Drew, esteja pronto para uma enorme tempestade quando Darrell chegar. Todo o

inferno está preparando-se para se libertar. Você tem que deixar-nos saber se

podemos ajudar.

— Alguém dê aquele homem uma cerveja ou uísque. — Jethro disse, e o

quarto entrou numa erupção de riso quebrando de tensão.

— Ou os dois! — Beau bateu em Drew na parte de trás e caminhou em

direção à cozinha, presumivelmente para uísque e cerveja.

A conversa barulhenta dos rapazes Winston eclipsou minha rigidez

atordoada. Meus irmãos começaram a discutir o pleno significado por trás de

todo o planejamento que minha mãe tinha feito e a parte de Drew nele. Enquanto

isso, no meio de suas conversas ainda completamente separados Drew e eu

olhávamos um ao outro. Ele apertou minha mão, afastando qualquer potencial

recuo.

À distância, ele disse calmamente.

— Sério, Ash. Sei que sua vida não é aqui. Sei que seu lugar e seu povo

estão em Chicago.

Concordei, pressionando os lábios num sorriso de entendi, porque o

entendi perfeitamente neste ponto. Mas quando eu puxava contra seu domínio,

ele não me soltou.

— Drew.

— Sim?

— Deixe-me ir.
Ele hesitou, os olhos se movendo sobre meu rosto.

— Ainda não.

Franzi o nariz para ele, não tentando esconder minha irritação, e

suspirei.

— Pensei que não precisasse de nada de mim.

— Sim... — Sua mão apertou antes que me soltasse. Eu o ouvi

murmurar. — Mas isso não significa que não quero algo. — Justamente quando

Beau se aproximou e nos entregou uísque.


CAPÍTULO 18

“Gosto do meu corpo quando está com o seu corpo”.

― E. E. Cummings

~Ashley~

Eu tive que matar os galos.

Bem, eu não tinha que massacrar os galos, mas alguém precisava, e

prometi a minha mãe que iria fazer.

Matei muitos animais antes, quando estava crescendo. Costumávamos

ter cabras, coelhos, galinhas e patos. Não tínhamos gansos porque eles são

injustos para morder. Além disso, são sacanas desagradáveis e mal-humorados.

Três dias se passaram desde que tinha chamado Darrell Winston. Não

tínhamos ouvido falar dele e todos estávamos no limite.

Meu tempo no Tennessee estava ficando curto, as estações do ano

estavam mudando, e em breve estaria no meu apartamento, de volta para meu

trabalho e vida. Até meus irmãos pareciam sentir minha partida iminente.

Jethro pediu meu endereço na cidade. Roscoe e eu consultamos um

calendário, tentando encontrar uma data em dezembro, quando ele podia me

visitar nas férias de inverno. Cletus e os gêmeos sugeriram uma viagem para
sucateiras em Chicago, esperançosos de que eles seriam capazes de descobrir um

tesouro de carros enferrujados que poderiam transportar para o Tennessee.

Minha mãe dormia na maioria das vezes, as visitas de seus amigos da

biblioteca e do pastor eram geralmente breves, ou daríamos uma desculpa.

Quando acordou, ela estava confusa e seu discurso foi lento. Eu podia sentir ela

se afastando, desaparecendo. Uma parte crescente de mim reconheceu que não

tinha controle sobre a situação.

Mas outra parte, teimosa e obstinada, lutou contra as horas

escorregadias, querendo que o tempo parasse.

Então, em vez de ficar sentada o dia todo e ficando louca de ver minha

mãe respirar, decidi deixar meus irmãos e dar uma volta para que pudesse matar

os galos.

Era um plano sólido. Eu tinha o cone pronto e a faca. Estava usando os

meus jeans mais velhos, uma camiseta de manga comprida com um top por baixo

e botas de trabalho. Tinha o mesmo avental preto e velho que costumava vestir

para a ocasião, bem como equipada com luvas de couro.

No entanto, quando chegou a hora de fazer a coisa, não podia.

Simplesmente não consegui. Tinha esse maldito galo de cabeça para baixo,

desorientado, mas não podia fazer.

Soltei um frustrado suspiro, soltei o galo e fiquei chutando um balde.

Chutar o balde me fez senti muito bem, então decidi dar um murro num feixe de

palha. Isso foi bom também, então continuei a fazê-lo.

Não sei quanto tempo passei furiosa contra a palha, talvez um minuto,

talvez vinte. Quando finalmente parei estava vermelha, minha trança solta tinha

desfeito, e meu cabelo estava selvagem ao redor dos ombros. Meu estômago,
braços e pernas estavam doloridos do treino.

Com a respiração difícil, arranquei as luvas e coloquei as mãos na

cintura, encarando a palha. Parecia a mesma.

— Melhor?

Minha cabeça girou em volta, procurando a origem da voz e encontrei

Drew de pé à beira do pátio, os dedos no cinto, a camisa verde escura enfiada nas

calças de uniforme, chapéu de cowboy e uma expressão séria no rosto.

Ele teria derretido minha manteiga se eu estivesse com algum humor

para manteiga... Ou para derreter.

Quem estou enganando? Minha manteiga derreteu assim que vi seu chapéu.

Eu estava irritada, com os galos por cantar, com minha mãe por morrer,

com meu pai por ser mal encarnado e com Drew por derreter minha manteiga

quando não estava com vontade de ser... De ser manteiga ou derreter.

Eu o encarei, não gostando que notei quão excepcional ele parecia, e

esperei recuperar o fôlego antes de responder.

— Sim, me sinto melhor agora.

— O que está fazendo?—

— Bem, você não precisa ser Sherlock Holmes para resolver o mistério.

— Estendi as mãos para desamarrar o avental.

Os seus olhos estreitaram e a boca achatou numa linha dura.

— Está chateada comigo?

— Sim.

— Porquê?

— Pelo fato de que está respirando, eu acho.

Nos últimos três dias, Drew e eu passamos muito tempo juntos. Durante
todo esse tempo, ele nunca citou Nietzsche, não tinha recitado poesia e mal tinha

falado. Pior que isso, não tocou em mim, nem uma vez.

Entretanto, havia um javali selvagem de necessidade dentro de mim, um

que tinha acordado com seus olhos inquietantes, palavras poéticas, voz barítono

de veludo, feitos heróicos e beijos habilmente coreografados.

Ele deixou que eu me afogasse em querer.

Drew deslocou o peso, a cabeça inclinando-se para o lado quando olhou

para mim. Apesar da sombra fornecida pelo chapéu, eu poderia dizer que estava

lutando contra um sorriso.

— Minha respiração te incomoda?

— Às vezes. — Removi o avental, entrei no galpão e o pendurei num

prego, onde ele ficava. Se tivesse dito o que estava na minha mente, diria que seu

autocontrole me incomoda.

Ou talvez não fosse o autocontrole. Talvez ele tivesse perdido o

interesse.

Ou talvez houvesse algo terrivelmente errado comigo. Durante este

tempo de tristeza e stress, eu queria me perder, esquecer meus problemas e

debater os méritos dos filósofos bigodudos do século XVIII ou reviver nossa alma

abrasadora, destruidora de orgulho, reclamando o beijo.

Drew me encontrou dentro do galpão e trancou a porta com seu corpo.

— Como está hoje, Ash?

— Sou apenas igual a um pêssego, Drew. Tenho tentado matar um galo

pela última hora, e não consigo cortar o maldito galo. Como você está? — Estava

quente e abafado no galpão, então tirei minha camisa de manga comprida e

pendurei nos ombros. Isto deixou-me em camiseta, jeans e botas de trabalho.


Ele me observou, os olhos se movendo do topo da minha cabeça para o

estômago, provavelmente percebendo meu cabelo selvagem, bochechas

vermelhas e o suor descendo pelo tronco.

— Você apenas pesquisa ou...? — Eu acenava para mim e levantei as

sobrancelhas. Estava esperando transmitir impaciência, ao invés do fato de que

sua leitura estava definitivamente derretendo a minha manteiga.

— Está se sentindo frustrada, querida? — Ele disse as palavras

suavemente, numa voz cadenciada, como se estivesse falando intimamente com

alguém, ou como se estivesse falando com alguém com quem planejava ser

íntimo. Drew chegou para trás e empurrou a porta. Eu guinchei enquanto a porta

fechava.

Meus olhos piscaram para a porta, em seguida, de volta para ele. Ele

tirou o chapéu e jogou-o de lado, e foi quando vi a intenção em seus olhos, claro

como cobertura num bolo, e fiquei momentaneamente atordoada.

Antes que pudesse lidar com a situação ou processar como responder a

isso, ele me alcançou em quatro passos, apoiando-me contra o armário no galpão

e capturou minha boca na sua. Minha camiseta de mangas compridas caiu no

chão. Eu mal notei.

Gostaria de dizer que eu o afastei. Gostaria de dizer que não recebi seus

beijos e carícias. Gostaria de dizer que não agarrei avidamente sua camisa e

toquei cada polegada de seu estômago, peito e costas e esfreguei-me contra ele.

Também gostaria de dizer que não gemi como uma vadia quando ele colocou

uma mão dentro da minha blusa, os dedos e a boca dando a meus seios um

deliciosamente tratamento.

Gostaria de dizer tudo isso, mas se o fizesse, seria mentira.


Porque aconteceu.

As mãos dele eram quentes e propositais, e usou seu corpo com

habilidade deliciosa, balançando-se contra mim, levando-me a ofegar. Seus dedos

habilmente desabotoaram meus jeans, entrando em minha calcinha, me

separando. Eu levemente arqueei, querendo ficar mais perto, precisando de seu

toque e a fricção do nosso abraço compartilhado.

Flashes dele sorrindo, tocando sua guitarra, citando Emily Dickenson

passaram através da minha mente, memórias associadas de querer, querê-lo,

querendo isso, mais. Eu queria ser tocada por ele, possuída, reivindicada de uma

forma que espelhava meu desejo e traiu sua necessidade por mim.

Eu abri os olhos e o encontrei a olhar-me, o olhar azul prateado

selvagem. Vi a falta de autocontrole, a mesma loucura selvagem que foi me

esmagando. Além disso, e sei que isso irá chocar o inferno fora das pessoas

porque chocou o inferno fora de mim, Drew trouxe-me à borda de euforia e seu

precário precipício em menos de sessenta segundos. Num minuto estava

hesitante para sentir e provar. Então a boca dele estava no meu peito e a mão dele

estava na minha calcinha. Então, minha cabeça foi jogada para trás e eu estava

montando a montanha-russa, fazendo paraquedismo e bungee jumping.

Ainda estava com tanto tesão, tão quente por ele, que não conseguiu

reunir suficiente bom senso para ficar envergonhada. Enquanto os tremores

diminuíam, deixando minhas pernas fracas e vacilantes, meu corpo gasto e

cantarolando, Drew enrolou a mão por trás da minha cabeça e trouxe meu rosto

para seu peito. Ele encostou minha bochecha, a respiração quente caiu sobre

minha orelha, e ele mordeu meu pescoço. Em seguida, o lambeu.

Segurei-me a ele para não cair de bunda. Falando da minha bunda,


Drew mudou a sua bela mão (que segundos atrás me levou à liberação) da frente

da minha calcinha para meu traseiro, e ele me apertou num suspiro irregular,

como um gemido escapando.

— Inferno, porra, eu amo seu corpo. — Ele rosnou. —Você é perfeita. —

Ele me puxou contra ele, beijando e mordendo meu maxilar e clavícula

alternadamente.

Minha respiração ainda não estava normalizada e o coração ainda batia

num ritmo estrondoso no peito, mas minha mente estava limpando, e não podia

acreditar no que eu tinha acabado de fazer, ou melhor, o que fizemos.

Exalei pesadamente e pisquei contra as lágrimas que estavam se

reunindo. Drew parou, a boca pressionada contra meu ombro. Ele deve ter

sentido que eu estava chorando, ou prestes a chorar, porque mudou as mãos para

a parte superior do meu braço e me segurou apenas longe o suficiente para

inspecionar meu rosto.

— Não, não, não... — Ele disse rapidamente, então inclinou-se para a

frente e deu beijos suaves em meus olhos. — Não, não chore. Por favor, não

chore.

— Eu sou uma pessoa má. — Disse, embora não foi precisamente o que

queria dizer. Se meu cérebro estivesse funcionando corretamente, eu diria algo

como: o que há de errado comigo que não paro de pensar em você quando a minha mãe

está morrendo e meu pai malvado está prestes a aparecer e fazer todos nós ainda mais

miseráveis e você vai suportar o peso do seu horror e no entanto longe da minha perpétua

melancolia está a esperança que você vai encontrar um jeito de me levar seu braços, ler

suas poesia, me irritar com citações de Nietzsche, me envolver numa batalha de

sagacidades e me fazer sentir bem.


— Não, Ash. Você não é uma pessoa ruim.

— Eu sou. Sou uma tarada. Acabei de gozar no barracão às 03h00min

numa sexta-feira como uma fazendeira vadia, ou.... Uma vadia barraqueira.

Ele riu e me envolveu em seus braços, me levando contra seu peito

delicioso.

— Não, querida. Você não é. Você não é nenhuma dessas coisas. É a

beleza personificada. Você é graça e fascínio. Penso em você e paro de respirar.

Preocupo-me que qualquer movimento roubará a imagem de você de minha

mente. Mas a memória é um fantasma pálido, oco à realidade luminosa. Porque

quando vejo você, quando te toco...

— Oh meu Deus, você tem que parar de falar! — Peguei seu rosto com

ambas as mãos e trouxe sua boca à minha. Se não tivesse, poderia ter

espontaneamente explodido.

Quando tinha certeza que ele não ia resumir-se e continuar a torturar-

me com sua prosa, envolvi os braços em volta do pescoço e fiquei na ponta dos

pés, relaxando nas deliciosas sensações causadas por outro beijo perfeito.

Oxigênio tornou-se uma preocupação, e estava preocupada novamente,

então me afastei, abaixando a testa para seu ombro e respirando pesadamente.

— Gosto de como você me cala. — Drew também estava respirando

pesadamente. Ele tentou correr os dedos pelo meu cabelo, mas não conseguiu.

Estava muito emaranhado da minha luta com o monte de palha.

— Eu gosto quando você cala a boca.

Minha admissão o fez rir e ele beijou minha testa e bochecha. Ficamos

juntos, nos abraçando no galpão por um curto e tranquilo período de tempo, até

nossa respiração se equilibrar e os corações desacelerarem.


Mordi meu lábio inferior, puxando-o entre os dentes, minha mente

ocupada pelo fato de que estava no barracão da minha mãe com um homem que

desejava, mas realmente não conhecia. E ele só me trouxe ao orgasmo em sessenta

segundos.

Se alguma vez houve um homem que eu deveria conhecer melhor, era

ele.

***

O caminho de volta para a casa não foi estranho, e isso foi o que

estranho, se faz sentido.

Também é estranho, nós tomamos o caminho mais longo, o realmente,

realmente muito longo.

Drew pôs o braço em volta dos meus ombros e enrolei o meu na cintura

dele. Roubei seu chapéu de cowboy e o coloquei na cabeça. Era muito grande,

então empurrei de volta para ele e o deixei descansar num ângulo precário.

— Encontrei uma piada para você.

Olhei para cima para ele.

— É mesmo? Qual?

— Você ouviu minha piada de Nietzsche?

— Ah, não.

—Bem, não há uma.

Esperei por uma batida, confusa. Então, entendi tudo de uma vez e

revirei meus olhos.

— Isso é uma piada horrível.


— Ok, que tal esta. — Ele limpou a garganta e tentou esconder o sorriso

dele. — O que Deus disse no funeral de Nietzsche?

— O quê?

— Nietzsche está morto.

Esta me fez rir. Fechei meus olhos e balancei a cabeça, permitindo que

Drew guiasse nossos passos.

— Essa é hilariante. Bom trabalho.

Andamos sempre num silêncio sociável, e permiti-me desfrutar do

conforto de seu braço sobre meus ombros, comprimida em seu lado como

pertencesse aquele lugar, como um espaço feito só para mim. O sol da tarde

estava por trás de nós, e o primeiro verdadeiro frio de outono dançou sobre

minha pele, fazendo meus ombros tremessem.

— Você está com frio? — Ele perguntou, me olhando.

— Não. Não realmente. É bom.

Drew tirou o chapéu da minha cabeça, largou minha cintura, e em vez

disso, segurou minha mão e me puxou em direção a uma árvore derrubada no

meio das flores silvestres. As maiorias das flores se foram quando o verão foi

dando lugar ao tempo mais frio, mas suas hastes iam até aos joelhos como grama

alta.

— Vem, senta. — Ele instruiu, renunciando ao tronco de árvore em favor

de se sentar no chão entre as flores.

Eu sentei ao lado dele, e ficamos bum silêncio sociável por um tempo,

absorvendo o esplendor geral do campo. Era intocável, ao contrário da área ao

redor da casa. Meus irmãos, com seus hobbies e confusões tinham desordenado

mais ou menos um acre nas proximidades da casa, mas o resto dos quinze
hectares eram bosques, campos e deserto. As árvores em Green Valley ainda

estavam verdes, mas as árvores nas montanhas já estavam mudando de cor.

Vermelho, laranja e amarelo atapetavam as montanhas enevoadas que

chegavam ao céu azul. Com a coroação das cores vívidas de outono, as

montanhas anunciaram a mudança nas estações.

Senti o olhar de Drew em mim, então me virei para encará-lo, a

expressão aberta e questionadora. Mas ele não disse nada. Em vez disso, só ficou

olhando.

— O que está olhando?

— Você.

— Sim. Obviamente você está me olhando, mas por quê? Eu tenho

comida nos dentes? Alface no cabelo?

— Não.

— Então, é só, o quê? Só olhar para mim?

— Sim.

Franzi o nariz e apontei um dedo para ele.

— Há algo de errado com você... Na cabeça. Você é estranho.

— Ash, não há nada de estranho em eu te olhar.

— Mantenha os olhos para si mesmo.

Sua boca puxou para o lado enquanto abertamente ele admirava meu

rosto, e então ele recitou.

— 'Há uma inocência na admiração: ocorre em quem ainda não

percebeu que podem um dia ser admirados.' — Ele repetiu citando Nietzsche

cadenciadamente, quase timidamente.

Revirei meus olhos. Se alguma vez uma citação de Nietzsche tinha sido
usurpada, foi dessa vez.

— Poooor-favor. Se ainda não descobriu que 99% das fêmeas no

Tennessee Oriental e Oeste da Carolina do Norte o admiram vendo você indo e

vindo, é um idiota. E sei que não é um idiota.

— Você não entendeu. — O rosto de pedra rachou num sorriso. — Não

me importa noventa e nove por cento das fêmeas, Ash. Eu estava me referindo a

apenas uma.

Eu o observei, estudando, inspecionando e Drew me olhava de volta.

Meu estômago torceu, e o peito estava pesado com uma inquietação crescente.

Eu estava sentindo mais do que devia.

Drew, segurou meu olhar, puxou minha mão e me baixou para o chão

com ele. Então, passou alguns segundos nos posicionando para que eu estivesse

aconchegada ao seu lado, o braço em volta de mim, minha bochecha em seu

peito.

Fiquei quieta por um minuto, olhando para frente com os olhos

arregalados, confusos com o que estava acontecendo.

— Relaxe. — Ele disse. — Você está muito dura.

Levantei a cabeça e olhei para ele, procurando seu rosto em busca de

pistas, mas não me deu nenhuma dica. Se alguma coisa que sua expressão me fez,

foi mais confusa. Isto era principalmente porque seus olhos estavam macios e

acariciando meu rosto. Além disso, ele tinha enroscado os dedos nos meus

cabelos e foi esfregando como se fosse seda e estava apreciando a textura.

— O que está acontecendo? — Deixei escapar, meu rosto e voz

mostrando uma pitada de pânico. — O que estamos fazendo?

— Estamos aqui deitados. — Os lados da sua boca torceram.


— Mas por quê? O que eu perdi?

— Não acho que perdeu muita coisa.

— Mas perdi alguma coisa. Eu definitivamente perdi alguma coisa... —

Olhei para cima e para baixo o comprimento dele. — Eu perdi algo grande.

A mão dele estava ainda no meu cabelo, os dedos entrando e saindo da

cortina espessa e macia, escovando meus cachos para um lado e depois o outro.

Meu corpo começou a relaxar, porque ele fazia me sentir bem.

— Drew... — Suspirei o nome dele, mas quando ouvi o som dele, como

eu soava quando o disse, como se fosse um convite, me sacudi e reorientei. —

Estamos deitados em um campo de flores silvestres.

— O que tem contra flores silvestres?

— Nada, exceto... Nós realmente não nos conhecemos.

— Eu conheço você.

Eu reclamo.

— Bem, eu não conheço você.

— O que quer saber? — Ele perguntou suavemente, os olhos carinhosos

percorrendo o caminho de minha testa para o pescoço, ombros, braços, estômago,

então de volta num estudo sem pressa.

Fiz uma pausa, porque a resposta a essa pergunta era tanta coisa. Havia

tanto que queria saber. Minha boca abriu e fechou e pisquei para ele.

Oficialmente, tinha um problema pestanejante.

— Eu... Eu... Eu suponho que gostaria de saber como você conheceu a

minha mãe, como conheceu minha família, de onde vem. — Eu sabia que mamãe

falou de seu ponto de vista, mas estava curiosa sobre a perspectiva de Drew.

Também queria saber como sua irmã conheceu meu pai.


Ele assentiu, mas não parou de brincar com meu cabelo ou de me

distrair, com seu olhar reverencial.

— Minha irmã se suicidou depois de seu pai prometeu se casar com ela

quando ele já era casado com sua mãe.

Minha boca?

Aquela que já estava aberta?

Sim, essa mesmo.

Caiu.

Meus olhos também piscaram em uma sucessão rápida, grande

surpresa!, e balancei a cabeça, conseguindo dizer apenas.

— Oh meu Deus.

Eu não podia acreditar que ele só... Ele disse isso. Ele disse como se

estivesse contando sobre seu primeiro projeto de ciência. Senti como se uma

bomba tivesse explodido. Minhas orelhas estavam zunindo.

Mas ele continuou como se não tivesse apenas dito algo completamente

alterando a vida.

— Minha irmã basicamente me criou depois que minha mãe morreu. Ela

morreu logo depois que nasci. Minha irmã, Christine, era quinze anos mais velha,

e tinha problemas de saúde mental. — Drew deu de ombros, os olhos se

mudando para uma nuvem que passava. — Ela era maníaco-depressiva.

— Oh meu Deus. Drew... — Coloquei a mão em sua bochecha e virei seu

rosto para meu. — Eu sinto muito, sinto muito. Eu sinto muito.

Não pude me conter. Deslizei pelo seu corpo e lhe dei um beijo rápido.

Ele engoliu, e as feições endureceram como se as decidisse. Ainda assim,

quando falou, seu tom era gentil, beirando o indulgente.


— Não precisa se desculpar. Você não fez nada de errado.

— Meu pai é um canalha.

— Sim. — Drew assentiu. — O meu pai também é. Seu pai e o meu têm

muito em comum.

Dei-lhe uma expressão triste.

— Seu pai é polígamo?

— Não. Mas é um senador dos EUA, e seduz noivas de outros homens.

Lembrei-me de Roscoe me dizendo a primeira parte há semanas.

— Noivas de outros homens?

— Sim. Como a minha, por exemplo. Mas, para ser justo, ela queria ser

seduzida.

Novamente, como se uma bomba tivesse explodido. Minha respiração

me deixou num suspiro e nos entreolhamos.

Bem... Isso não é a merda de sapato num casamento.

Olhei de relance para seus lábios, em seguida, beijei-o novamente. Desta

vez tenho a certeza que o beijo transmitiu quanto eu tinha pensado nele, e em

seus beijos, nos últimos dias.

Ele respondeu imediatamente e nos beijamos por alguns minutos.

Quando as coisas começaram a escalar, ele gentilmente me empurrou, segurando

meu rosto nas mãos.

Drew fitou meus olhos como se me procurasse neles, ou em mim, a

resposta para às grandes questões da vida. Encontrei seu olhar de frente, segurei-

o, desafiei-o para encontrar um traço de piedade, relutância ou arrependimento.

Eu não sentia nada disso.

Em vez disso, sentia orgulho e lealdade feroz, por ele, por tudo o que
tinha conseguido apesar da família e orgulho da minha família por acolhê-lo

como um dos seus.

Também pode ter sido o desejo do sentimento. Na verdade, eu era o

desejo de sentimento. Não vou mentir. Tudo o que ele encontrou em mim deve

ter satisfeito suas preocupações implícitas, porque a expressão de Drew perdeu

sua gravidade e ele suspirou.

— Ash.

— Sim?

— Quem me dera que pudéssemos... — Ele disse rapidamente e depois

parou, lambeu os lábios e colocou os olhos no céu.

Senti que ele estava segurando-se de dizer o que pensava. Ele parecia

estar literalmente a morder a língua. Sim, literalmente. Sua língua estava entre os

dentes e ele a mordia.

Longamente, parecendo pensativo, Drew limpou a garganta antes de

começar novamente.

— Procurei seu pai quando estava na faculdade, então descobri onde ele

se casou com sua mãe, e descobri que ela ainda morava aqui. Fiquei curioso sobre

ela. Então quando abriu uma vaga de diretor de guarda de caça, usei a entrevista

de emprego como uma oportunidade de conhecê-la.

Eu escorava a cabeça com uma mão e coloquei a outro no peito,

observando-o.

— E como foi?

Ele sorriu.

— Ela era outra coisa. — Em seguida, ele franziu a testa novamente. —

Em muitos aspectos, me lembra Christine: coração mole e sensível, mas também


um talento para a insolência.

Eu ri e descansei meu queixo no peito.

— Ela tem um talento para insolência.

— Insolência tem um componente genético. Isso é passado de mãe para

filha.

Eu revirei meus olhos.

— Que seja, Nietzsche.

Então ele citou uma de minhas citações de Nietzsche menos favoritas.

— 'Não há fatos, somente interpretações.'

Drew levou a mão ao meu cabelo e começou a penteá-lo com os dedos,

como tinha feito momentos atrás, e tive uma experiência fora do corpo.

Sinceramente não sabia como tinha chegado neste lugar, nesta hora,

neste instante. Eu era uma pessoa que não reconheci, mas tinha um fraco senso de

saber a um tempo atrás. Fui uma pessoa do meu passado, quando a confiança era

dada livremente, e minha mente excessivamente idealista se precipitou para

conclusões romantizadas mesmo quando confrontada com expectativas realistas,

bom senso e lógica.

Eu estava deitada em um campo de flores silvestres... Flores silvestres.

Estava meio em cima de Drew ficcionalmente bonito. A mão dele estava no meu

cabelo. Tínhamos acabado de nos beijar. Eu confiei nele, porque ele tinha

provado, através de suas ações, ser digno de confiança. E não estava dando

nenhum pensamento à vida real, tristeza ou as ramificações de me entregar

voluntariamente a esta montanha de homem.

Tive que me colocar fora do transe, porque Drew estava falando

novamente, e eu queria ouvir.


—… Então eu vim novamente na semana seguinte na biblioteca, desta

vez trouxe um pouco da minha poesia e, não sei por que fiz isso, mas mostrei a

ela. Ela leu, fez algumas sugestões e me deu um livro de poesia de E. E.

Cummings.

— Ah, eu amo E. E. Cummings. — Suspirei quando disse isso, porque

realmente amava E. E. Cummings. Sempre que precisava de uma dose de

romance ou de euforia crua, eu lia E. E. Cummings. Absurdo do meu coração. Ele

me fez sentir que segurava uma luz dentro de mim que poderia queimar e arder à

raiva como um inferno, ou que me mostrou que eu tinha pelo menos o potencial

para queimar. Só precisava de alguém que sabia como acender o fósforo.

Drew, sorriu, e em seguida, beijou meu nariz.

Isso deveria ter me parecido estranho, os descuidado toques íntimos,

mas não era. Eles não pareciam. Ele não parecia.

Obviamente, eu estava louca.

E porque era louca, me aconcheguei mais perto dele e perguntei:

— Roscoe disse que bateu a merda fora de Jethro uma vez.

Drew acenou com a cabeça quando pegou minha mão e colocou os

dedos através dos meus, estudando a ponta deles.

— Sim. Foi depois que aceitei o trabalho. Estava aqui há cerca de dois

meses. Sua mãe tinha me chamado para jantar algumas vezes. Jethro sabia quem

eu era, me conheceu mais de uma vez... — Ele ficou quieto, por um tempo

enquanto investigou meus dedos, testando como combinamos, comparando os

tamanhos das nossas palmas.

Eu estava fascinada com esta dança de nossas mãos e perdi a noção do

que estávamos discutindo. Quando Drew continuou, levei alguns segundos para
lembrar o tema.

— Acho que ele fez isso porque era a única maneira que sabia para

chamar a atenção.

— O que? Quem?

Ele colocou minha mão sobre o coração, em seguida, deu-me um sorriso

curioso.

— Jethro. Minha moto. Acho que ele roubou minha moto para chamar

minha atenção.

— Ah, e você bateu nele?

— Não sabia que era uma chamada de atenção no momento. Só pensei

que ele era um idiota por roubar minha moto.

Não pude evitar, eu ri. Pobre Jethro. Ele teve um tempo difícil, sendo o

mais velho. Ele conhecia nosso pai melhor que todos, e ser o primogênito de

Darrell Winston não era uma posição invejável.

— Mas então se tornaram amigos.

— Sim. Nós fizemos. Bons amigos.

— Como irmãos?

Drew me olhou por um tempo, em seguida, olhou para longe como se

ponderando sobre este conceito.

— Espero que sim, mas não sei. Não tenho irmãos.

— E outra família? Tias? Tios? Primos?

— Minha mãe era filha única. E a família do meu pai... Eles são todos da

alta sociedade, pessoas ricas do petróleo em Houston. Eles não me entendem,

muito, e não me importo de compreendê-los.

— O que quer dizer? Devem estar orgulhosos de você. Você é um


maldito PhD da Baylor.

O sorriso dele estava quente, mas quase não encontrou os olhos.

— Quero dizer, para eles, minha irmã era uma vergonha, porque era

doente mental. Quando morreu, eles mexeram os pauzinhos para que meu pai

ganhasse a eleição. Então, quando ele e minha noiva começaram a andar, queriam

que endossasse publicamente sua relação, porque meu pai foi caindo nas

pesquisas.

Enquanto ele falava com os olhos endurecidos. Obviamente, a memória

era distante, mas os sentimentos eram frescos.

— Minha irmã Christine foi uma vergonha, porque tinha nascido

diferente e precisava de ajuda. Meu pai ia casar com minha noiva, e sou uma

decepção, porque não endossei publicamente o casamento deles. A hipocrisia da

sociedade, o que é considerado um comportamento adequado, é completamente

vergonhoso para mim.

Torci minha boca para o lado e contemplei o homem que Drew era. Ele

recitou os detalhes do seu passado quebrado com uma indiferença que era de

quebrar o coração porque não me pareceu forçado. E ele só tinha jogado isso

tudo, toda sua bagagem cheia de roupa suja. Ele não me pediu para lavá-lo,

escolhê-lo, gostar, ou sentir o cheiro.

Ele simplesmente disse, Aqui. Olhe para esta bagunça de merda. Eu sou

assim. Mas ele não era uma bagunça. Sua família era uma bagunça. Drew era

lindo, poético e real.

Eu pensei em retribuir. Pensei em contar a ele sobre meu pai, como ele

tinha estado à deriva dentro e fora de nossas vidas, enganando a todos. Sobre

como ele costumava bater em minha mãe, como ela aguentou isso. Pensei em
contar a história do dia em que ela finalmente o jogou para fora, quando veio

para casa e encontrou Billy com doze anos todo preto e azul e chamou a polícia.

Roscoe tinha dois anos naquela altura.

Em vez disso, eu estava quieta, como uma covarde. Eu não estava

pronta para abrir minha bagagem e compartilhar a roupa suja.

— O que está pensando?

A pergunta suavemente falada de Drew puxou-me de meus

pensamentos. Ele me observava atentamente, e brevemente me perguntei se tinha

verbalizado qualquer uma das minhas reflexões internas. Estávamos cara a cara

agora, uma das minhas pernas jogada sobre seu estômago, peito a peito, e eu

estava debruçada sobre ele no meu cotovelo.

Dei de ombros e reuni uma respiração profunda.

— Acho que estava pensando que você é muito corajoso, jogando tudo

cá para fora sobre si mesmo, sobre sua família e passado.

— Não tenho nada a esconder.

— Sério?

— Realmente.

— Então o que estava preparando para dizer antes? Você começou a

dizer uma coisa: quem me dera...

Os olhos de Drew pareciam queimar mais brilhantes, intensos e quentes,

à minha menção da sua declaração inacabada.

Longamente ele abanou a cabeça sutilmente e disse.

— Não quero dizer coisas que não está pronta para ouvir.

— Pode me dar uma dica?

A boca dele abriu para o lado, mas os olhos eram de melancolia.


— Não, querida. Não posso. Por favor, não peça, porque não consigo

pensar em nada mais difícil do que te dizer não.

Claro, isso me fez sorrir e sentir quente do peito até os dedos dos pés.

— Por que de repente gosta tanto de mim, Drew?

Drew tocou meu nariz e presenteou-me com um beijo suave antes de

responder.

— Não há nada de súbito sobre isso.


CAPÍTULO 19

“Não chore porque acabou, sorria porque aconteceu”.

― Dr. Seuss

~Ashley~

— Você sabe fazer torta?

— Torta?

— Sim, uma torta. Acho que mamãe quer comer sua torta. Ela não tem

comido muito.

Nós tinha retomado a posição anterior. O braço de Drew estava em

meus ombros, e o meu próximo de seu tronco. Desta vez estávamos fazendo o

caminho direto para casa.

Não tínhamos ficado muito tempo no nosso campo de flores, porque

senti-me ansiosa em voltar para ver como minha mãe estava, e era hora do jantar.

— Que tipo de torta? Ela tem uma preferência?

— Você nunca fez a torta da mamãe antes? — Por algum motivo, isso

me surpreendeu. Drew fazia tortas fantásticas. Era uma torta que devia ser

compartilhada.

— Acho que não. Mas ela me fez a torta de limão, algumas vezes. Acho
que se tivesse que escolher entre qualquer uma das minhas tortas e a dela, teria

escolhido a dela. — Ele coçou a parte de trás do pescoço, em seguida, a barba. —

Talvez eu devesse tentar fazer o merengue de limão.

— Ei, isso seria ótimo. — Eu sorriu. — Acho que ela realmente gostaria.

— Bem, dando a nós um olhar acolhedor? — Beau, chamou alguns pés

de distância. Nenhum de nós tinha notado sua abordagem, e tropeçamos. Meu

irmão sorriu, olhando entre mim e o Drew.

— Se importam se me juntar a vocês?

Sem esperar por uma resposta, Beau escorregou o braço na minha

cintura e me incentivou a fazer o mesmo com ele. Ele então nos impulsionou em

direção a casa, andando como uma unidade.

— Eu preciso limpar o celeiro, está ficando muito confuso para puxar os

carros. — Beau falou sobre minha cabeça e Drew balançou a cabeça. — A

propósito, é bom ver que se dão tão bem. Eu estava um pouco preocupado no

início, depois que ouvi sobre o episódio de torcer o mamilo. Muito bom de sua

parte Drew, deixar tudo esquecido.

— Ei! Foi ele quem me acordou às seis da manhã.

— Se acalme, mulher. Só digo é bom ver vocês se comportando como

irmão e irmã, é tudo.

Senti Drew endurecer ao meu lado, a mão no meu ombro flexionando.

Eu roubei um olhar sobre ele e encontrei o rosto bonito, marcando com uma

carranca pensativa. Andamos vários passos num silêncio tenso antes de Drew

limpar a garganta e retardar os passos.

— Beau. — Drew disse, e o tom dele nos fez parar. — Não é o que acha.

Meus olhos se arregalaram e enfrentaram Drew, dei-lhe a minha melhor


cara de que diabos você esta fazendo? Ele me ignorou.

Beau deu-nos um sorriso perplexo e afastou-se, levantando suas mãos.

— Não, Drew. Cara, não estava pensando nada. Eu nunca pensaria isso.

Como disse, irmão e irmã.

— Beau, não tem nada disso. — Drew disse devagar, o braço sobre meus

ombros apertados.

— Oh Deus. — Disse numa expiração rápida, em seguida, fechei os

olhos.

— Drew, cara, eu sei.

— Não. Beau ouça-me. Tenho sentimentos por sua irmã que não são

fraternais. — Ele fez uma pausa, a mão caiu para minha cintura, e ele me apertou

contra seu lado.

Minha pressão arterial subiu. Não consegui abrir meus olhos. O silêncio

era muito estranho, muito ruim. Além disso, não entendia por que ele tinha feito

isso. Ele poderia não ter dito nada, concordando, sem contradizer.

— Espere... Espera, espera, espera... — Ouvi Beau. — Está dizendo que

você e a Ash, que são...

— Sim. — Disse Drew. — É isso mesmo. E respeito você e Ashley

demais para enganá-lo.

Beau suspirou novamente, e abri um dos meus olhos para dar uma

olhada no meu irmão. Beau me olhava com preocupação incrédula.

— Ash... — Ele deu um passo mais perto de mim, seu tom era solene. —

Gosto de Drew e tudo, ele fez muito por nós, mas tem certeza disto? Sem ofensa,

Drew. — Ele atirou um olhar a Drew, em seguida, de volta para mim. — O que

tem a dizer?
Dei uma olhadela em Drew, ele me olhando com os olhos inquietante,

encontrado sua expressão confiante, aberta e desprotegida. Não pude evitar

sorrir.

— Sim. — Disse a Drew, então enfrentei meu irmão. — Sim, Beau. A

resposta é sim. Sim, não tenho sentimentos fraternais com Drew. Sim, estamos

nos dando muito bem, melhor do que bem, de uma maneira melhor do que bem.

Mas obrigada. — Pisei longe de Drew e alcancei os ombros de meu irmão, em pé

na ponta dos pés para beijar sua bochecha. — Obrigada por se preocupar com o

que eu penso.

Ele sorriu para baixo para mim como se eu fosse louca.

— Ashley, claro que me importo com o que pensa. Você é minha irmã.

Se não está feliz, então vou ter certeza... — Os olhos dele deslizaram sobre com o

Drew. — Vou ter a certeza que ninguém está feliz.

***

Minha mãe não tinha acordado desde que a tinha deixado para matar

os galos, o que significava que também não tinha comido. Nós ainda não ouvimos

do meu pai.

Drew foi trabalhar na torta, assim que chegamos em casa, mas não podia

sentar-me ainda. Meu pescoço coçava e senti como se tivesse abelhas atrás dos

olhos durante todo o jantar. A comida, o bolo de carne de Jethro, que geralmente

era extremamente saboroso, parecia serragem na boca.

Insisti em lavar os pratos, principalmente porque precisava estar me

movendo ao redor, precisava fazer alguma coisa. Eu terminei em tempo recorde,


e em seguida, defini minha mente para reorganizar a gaveta das especiarias.

Quando Joe, o enfermeiro da noite, chegou, segui-o até a sala. Cletus

estava lá, sentado na minha cama, de pijama e lendo o que parecia ser uma

revista científica. Drew também estava presente. Ele estava lendo para a minha

mãe, A história sem fim. Eu consegui dar um pequeno sorriso, e ele jogou de volta

o sorriso e fez um bom bocado para aumentar e acalmar meus nervos.

— Ela ainda não comeu? — Joe perguntou, a voz calma e em causa.

— Não. — Eu disse, e meus olhos se encontraram com ele. — É hora de

um tubo? — Eu já sabia a resposta a esta pergunta.

Antes que Joe pudesse responder, Drew disse.

— Ela não quer isso. Está no seu testamento. Ela disse que não queria

um tubo de alimentação.

Meu olhar disparou para o seu. Seus olhos deram um pedido de

desculpas, mas o conjunto da mandíbula disse que não era negociável.

— Na segunda-feira, ela estava rindo e brincando. — Cletus disse da

minha cama. — Por que está tão quieta? Só passaram cinco dias.

— Talvez ela esteja cansada. — Eu disse, mas pareceu-me

completamente coxo.

Olhei para ela. Um pequeno brilho de suor cobria sua testa e lábio

superior. Coloquei minha mão de tempo em tempo para verificar a temperatura.

Estava legal.

— Ela não tem febre. — Disse Joe. Eu podia sentir seus olhos em mim.

Assenti com a cabeça e depois dirigi as próximas palavras a Cletus.

— O que acha que está fazendo? Você está no meu lugar.

Cletus abanou a cabeça.


— Não. Hoje é o meu lugar. Você já teve isso, e eu quero.

— Cletus...

— Não me olhe assim, irmãzinha. Vou te dizer, se pode levantar-me e

levar-me para a cama, então pode ficar aqui. Pois é, estou cansado e pronto para

dormir. — Como se para pontuar as palavras ele bocejou e acenou em direção à

porta. — Agora sai daqui. Já venci o Joe no xadrez sessenta vezes esta semana.

— Foram doze.

— Sim, podia ter sido sessenta. — Ele bocejou novamente. —Vamos.

Joe riu enquanto saia. Drew colocou o livro sobre a cadeira de madeira e

veio até mim. Não estava reparando nele. Estava focada e pensando sobre a

transpiração cobrindo o lábio superior da minha mãe. Não fazia qualquer sentido.

O quarto era fresco, mas não frio. Ela estava fria, não pegajosa. Eu não entendi.

Drew colocou a mão na minha e puxou, levando-me para fora da sala.

Uma vez que a porta se fechou atrás de nós, puxou-me pelo corredor, para as

escadas até meu quarto. Eu o segui, ainda pensando no lábio e testa de mamãe,

procurando no meu cérebro todas as possíveis causas para sua súbita sonolência e

falta de apetite.

Queria saber se devia acordá-la para comer a torta. Eu tinha certeza de

que ela estaria interessada.

— Ei, onde vai? — Jethro chamou atrás de nós, despertando-me de meus

pensamentos.

— Estou levando Ashley para a cama. — Drew respondeu sem girar,

olhar meu irmão ou parar a subida pelas escadas.

— Oh. — Vi Jethro acenar, seu olhar nos observando. Abruptamente os

olhos dele se estreitaram e ele colocou as mãos nos quadris, mas não disse mais
nada.

Drew levou-me ao quarto e fechou a porta atrás de nós. Eu estava

cansada. Também estava distraída. Quando Drew se virou e me beijou, um beijo

de boca fechada macio, persistente que me fez esquecer o que estava pensando e

onde estava, minhas mãos torceram em volta do seu pescoço e beijei-o de volta,

pressionando meu corpo ao seu.

Fizemos isso por um tempo. Ele me beijou. Eu o beijei de volta. Ele

parecia estar se segurando, porque estava controlando o nível de intensidade,

retirando de vez em quando e colocando beijos no meu pescoço e clavícula. As

mãos acariciaram e massagearam minhas costas, no entanto, não senti nada mais

do que frustrante reconforto.

No entanto, quando a parte de trás dos meus joelhos bateu na cama e caí

para trás, ele subiu e pairou acima de mim, o quarto, e todo o resto, entraram em

foco.

— Espere um minuto, espere um minuto... — Eu pressionei minhas

mãos no peito dele enquanto ele pairava sobre mim, se curvando para morder

meu pescoço. — O que estamos fazendo?

— Beijando. — Ele sussurrou no meu ouvido e depois lambeu minha

orelha.

Estremeci, engoli e fechei os olhos.

— Acho que não deveríamos fazer isso.

— Porquê? — Ele continuou a beijar, lamber, morder, repetidamente.

— Porque eu... — Dei um suspiro imperfeito. — Porque estou

preocupada com minha mãe.

Ele parou as doces ações e levantou a cabeça, os olhos se movendo sobre


meu rosto. Ele parecia estar considerando assim como o que tinha acabado de

dizer.

Após um tempo, ele se deitou ao meu lado e enroscou os dedos através

de suas longas madeixas.

— Eu sei, querida. Estava apenas tentando distraí-la.

Virei-me de lado e o encarei.

— Você estava fazendo um bom trabalho.

Seus lábios torceram para o lado e me observou, as mãos se movendo no

meu cabelo, então me surpreendeu dizendo:

— Gostaria de dormir aqui com você esta noite.

Eu abri a boca, mas não sabia como responder por que não sabia que o

ele estava pedindo. Lendo minha mente, ele acrescentou.

— Só dormir. Só quero dormir.

— Oh. — Concordei em compreensão, pensando em só dormindo ao lado

de Drew e achando que gostei da idéia. O pensamento de alguém me abraçar à

noite toda era muito atraente, especialmente se essa pessoa fosse Drew. Seria

como ter um homem viking-travesseiro grande e forte.

Percebi que ele ainda estava esperando minha resposta, então inclinei-

me e escovei um beijo contra sua boca.

— Sim. Isso seria bom. Obrigada.

Os olhos dele estreitaram como eu me afastei.

— Você precisa parar de agradecer-me.

— Não consigo. — O beijei novamente, em seguida, sussurrei contra sua

boca. —Fui criada com boas maneiras.


***

Acordei abruptamente por nenhuma razão em particular e fui

surpreendida pela escuridão circundante. Demorei cerca de dez segundos para

descobrir que estava no meu quarto, não na sala, e que Drew estava ao meu lado,

dormindo.

Ele era quente e sólido, e nossos membros estavam atados em caos

perfeito. Seus braços estavam ao redor do meu tronco. Meus braços ao redor do

seu pescoço. A cabeça dele estava no meu peito. Uma de suas pernas estava entre

as minhas e nossas coxas estavam enganchadas.

Era divino.

Então relaxei no sentimento por vários minutos antes de olhar para o

relógio na mesa de cabeceira. Eu o encontrei e ao lado dele estava o caderno de

couro de Drew. Olhei para o couro marrom, estudei os símbolos nórdicos na

frente e encontrei-me perguntando o que estava lá dentro. O tinha testemunhado

escrever no livro de vez em quando e de alguma forma tinha duvidado que

continha notas de campo.

Agitando-me, porque o que Drew escreveu no caderno realmente era da

minha conta, olhei de relance para o relógio. Era pouco antes de 04h30min e

apesar de meus atuais níveis épicos de conforto aconchegante, me senti como se

tivesse uma pedra na boca do estômago e um defeito no ouvido. Eu estava

tomada por um desejo de levantar.

Apesar do cuidado com o qual tentei extrair-me de Drew, eu o acordei.

— Ashley. — Ele começou acordando, dizendo meu nome, antes que

tivesse deixado seu estado de sonho, os braços apertando em volta de mim.


— Shh... Drew. — Sussurrei. — Eu preciso levantar.

Ele olhou para mim como se confuso com a visão de meu rosto.

— Ashley?

— Sim

— O que faz aqui?

— Drew, você está na minha cama. Nós dormimos.

— Oh. — Sua mão deslizou pelo meu corpo, da cintura à coxa, como se

verificando para ver se era real.

A confusão dele fez-me pensar com o que tinha sonhado, ele disse meu

nome ao acordar, mas ficou surpreso ao me ver lá.

— Por que me acordou? — Ele perguntou para meu peito.

Franzi o nariz para ele.

—Eu não quis. Estava tentando me levantar, sem incomodá-lo. Foi um

acidente.

— Oh... — Novamente, ele disse isso para meu peito. A mão dele

acariciava seu caminho até que repousava sobre minhas costelas logo abaixo do

peito. — Esta é uma ótima maneira de acordar. — Desta vez ele falou

principalmente para si, mas os olhos não se moveram de meus peitos.

Ficando mais quente no pescoço, soquei para baixo o desejo crescendo

dentro de mim e tentei sentar.

— Drew, preciso fazer xixi. Remova os braços antes que minha bexiga

exploda.

Ele relutantemente me soltou, recuando para a cama com um baque

pesado enquanto me levantei.

— Pensando bem, não deveríamos fazer isso novamente. — Ele


murmurou.

Eu peguei o roupão dei de ombros.

— Por que não?

— Por... Razões. — Ele rosnou.

Pressionei meus lábios juntos para impedir de sorrir, meus olhos se

movendo sobre seu peito e estômago, iluminados apenas pelo fraco brilho da lua

e a luz das estrelas entrando pela minha janela. Ele tinha razão, claro. Acordando

emaranhados juntos vestindo muito pouca roupa, não foi uma boa ideia. Não se

eu estava planejando ir embora quando tudo isto acabasse e voltar à minha vida

em Chicago.

Talvez por isso tenha acordado de repente com um sentimento duro na

barriga. Talvez meu cérebro e estômago estivessem em conflito, tentando me

alertar contra meu coração.

O pensamento me deixou triste e confusa, então rapidamente saí do

quarto sem mais uma palavra e dei dois passos em direção ao banheiro, mas

depois parei. Fiquei imóvel no corredor lá em cima até a contagem de dez, porque

uma sensação de mau agouro me bateu.

Impulsivamente, mudei de rota e desci as escadas, caminhei pelo

corredor até a sala e abri a porta.

Estava tudo quieto exceto o suave ressonar de Cletus e o bip de

máquinas da mamãe. Claro, sabia que o nome das máquinas e o que significava

os bips da minha escola, treinamento, e anos como enfermeira de piso. Mas agora,

presos a minha mãe, eles se tornaram só máquinas de bip.

Vasculhei o quarto por algum sinal ou a fonte do meu desassossego, e

percebi que minha mãe estava acordada.


Fui até ela, alisando o cabelo da testa com uma mão e alcançado seus

dedos com a outra.

— Mamãe. — Eu sussurrei. — Você está bem? O que posso conseguir

para você?

Os olhos dela eram largos, mas lutou para engolir. A soltei por um

rápido momento e abri a geladeira ao lado da cama onde guardava os cubos de

gelo. Enchi uma xícara e trouxe-os para os lábios. Ela aceitou alguns com

gratidão, fechando os olhos e suspirando.

Senti uma facada de culpa que tinha estado lá em cima aconchegada

com Drew, e ela ficou aqui acordada e com sede. Jurei que eu ia dormir somente

naquela cama, de agora em diante.

— Eu sinto muito, mãe. Eu deveria ter estado aqui em baixo.

Ela balançou a cabeça, a voz dela mal acima de um sussurro.

— Não, querida. Acabei de acordar. Não faça isso.

— Não faça o que?

— Eu conheço esse olhar. — Ela fez uma pausa e inspirou. Eu poderia

dizer que fez isso com esforço. Ela então disse. — Você está sentindo culpa sobre

as coisas que não pode controlar. Nunca se sinta culpada por coisas além de sua

influência.

Dei-lhe um sorriso corajoso enquanto alisava seu cabelo.

— Tudo bem. Não farei isso mais se prometer comer uma fatia de torta.

Drew fez a sua de merengue de limão.

Seus olhos fecharam como se não pudesse mantê-los abertos, mas a boca

curvou ligeiramente em minhas palavras.

— Isso soa muito bom, querida. É um acordo. Vá pegar um pedaço.


Eu coloquei os cubos de gelo na mesa e virei para sair, mas depois parei

quando a ouvi dizer.

— Ash, espera.

Caminhei para ela.

— O que? Quer mais alguma coisa?

— Não, querida. Só queria te dizer que te amo.

— Oh. — Assenti, ela deu um sorrisinho, inclinado-me beijei sua testa.

— Eu também te amo, mamãe, até as estrelas e mais além.

Ela me deu seu sorriso novamente, os olhos ainda fechados.

— Como sempre.

Eu apertei a mão dela e sussurrei.

— Ok, já volto com a torta. — Em seguida, virei-me para a porta e fiz

meu caminho para a cozinha.

Quando abri a geladeira, encontrei apenas dois pedaços de torta. Isso me

irritava. Primeiro de tudo, eu ainda não tinha comido um pedaço, e a torta foi

minha idéia. Em segundo lugar, esses charlatães que chamo de irmãos sabiam

que a torta era para minha mãe.

Arranquei uma fatia e coloquei no prato e, em seguida, decidi esconder

o resto do bolo na parte de trás da geladeira, então ela poderia ter uma segunda

fatia mais tarde.

Satisfeita com meus esforços para esconder a última fatia, peguei um

garfo e a torta, voltei para sala e fui para a cama.

— Mamãe, eu tenho sua torta. — Sussurrei. — Eu não provei ainda,

então não sei se é tão bom quanto a sua, mas é bonita.

Ela não se mexeu.


Vi-a por um minuto, querendo saber se devia acordá-la, em seguida,

notei que as máquinas não apitavam.

Não alcancei a compreensão de uma vez.

Em vez disso, olhei para a linha plana no pequeno monitor por alguns

segundos... Talvez até um minuto antes que reconheci o que significava. Quando

o fiz, o mundo ficou em silêncio.

Havia uma quietude que acompanhava a morte de um ente querido.

Tudo se torna mais silencioso, mas não é só o som que fica esmaecido.

Movimento, percepção, ação, emoção, tudo é distante e removido.

Talvez o silêncio fosse porque tinha estado tão ocupada até este

momento. Depois de acordar com o choque de seu diagnóstico e enfrentar a

realidade, tinha dado tudo de mim para cuidar dela e cuidar de minha família.

Mas agora, sendo a realidade a linha plana no monitor, ela se foi. Os

temas e as tarefas que tinham enchido minhas horas de vigília por mais de um

mês foram com ela. A torta na minha mão não tinha mais sentido, e o mundo

parecia um lugar estranho e estrangeiro.

Estava no fundo de um lago. Estava à deriva. Senti que poderia segurar

o fôlego por anos. E estava fora do alcance de todas as coisas que importavam

antes, mas de repente pareciam triviais diante da morte.


CAPÍTULO 20

“Você sabe que o charme é uma maneira de obter resposta, sim, sem ter feito

qualquer pergunta clara”.

― Albert Camus, The Fall

~Ashley~

Todos fizemos um monte de olhares para o nada naquele dia.

O ponto que me pareceu mais interessante sobre nosso olhar coletivo foi

os objetos para os quais as pessoas olham.

Jethro olhou pela janela. Billy olhou para a lareira. Cletus olhou para a

porta da frente. Beau olhou para a mesa da cozinha. Duane olhou para o

congelador. Roscoe olhou para a mesa de costura da mamãe.

Sentei-me na cadeira e olhei para o local onde estava a cama de hospital.

Continuei procurando e tentando atribuir simbolismo para tudo: o vazio

da sala e a sua grandeza, uma tempestade repentina que começou logo depois

que a levaram, o livro A história sem fim que Drew tinha lido na noite anterior.

Drew nos manteve em movimento. Ele fez café da manhã e disse-nos

para comer. Ele fez sanduíches e disse-nos para comer. Ele fez sopa de faisão com

biscoitos e disse-nos para comer. Ele viu se todo mundo tomou banho e se vestiu.
Ele ligou a TV na sala transmitindo todos os filmes da Pantera cor de rosa, um após

o outro.

Depois do jantar, estávamos todos na cozinha ajudando a lavar a louça,

e tive o pensamento, alguém deve dar uma olhada na mamãe.

E foi quando comecei a chorar.

Jethro estava mais próximo. Ele envolveu um dos seus grandes braços

ao redor de meus ombros e me puxou para seu peito. Eu chorei na sua camisa de

flanela, enquanto me acalmou e segurou perto. Minha mente estava uma bagunça

confusa, então não protestei, ou mesmo pensei em protestar, quando peguei meus

pés e fui para fora da cozinha para a sala de família.

Não reparei que era Drew quem me carregou para fora da cozinha até

algum tempo depois, quando ele disse.

— Querida, não pode lavar esta camisa.

Olhei para cima para ele, surpresa ao encontrar-me na sala de estar, no

seu colo, seus braços em volta de mim, sua mão no meu cabelo.

— Porquê? — Eu disse, duas lágrimas quentes, gordas, rolando pelo

meu rosto.

— Porque não me deu de volta as outras, e as camisas estão acabando.

Eu considerei suas palavras depois ri e enterrei o rosto em seu pescoço.

— Deixa de ser estúpido. Você vai recuperá-las.

— Quando? Quer que eu ande em torno das montanhas sem camisa?

Esse foi um comentário que podia ter provocado uma reação

completamente diferente vinte e quatro horas antes. Mas como era Drew

fornecendo-me humor e conforto, e isso era o que eu precisava. Eu não preciso de

nada além disso.


— Você já ligou para seus amigos hoje? — Ele perguntou, me

surpreendendo.

Respirei fundo, segurei em meus pulmões e respondi.

— Não.

— Você deve. Eles vão ajudar. Eles provavelmente sentem sua falta. —

Ele colocou o queixo na minha cabeça e,como se o pensamento só tivesse ocorrido

agora, acrescentou baixinho para si mesmo. — Você vai embora em breve...

Sentei-me imóvel e deixe as palavras passarem por mim. Claro, ele

estava certo. Eu deixaria em breve, mais provável quando o funeral acabasse. Não

devia ter sentido choque, mas senti. Fui arrancada fora destes pensamentos

quando a maçaneta da porta da frente sacudiu seguida por uma batida forte,

insistente.

Drew esticou a sua cabeça em direção à cozinha, quando nenhum dos

meus irmãos apareceu, ele me pôs no sofá.

— Só um segundo. — Ele disse. —Deixe-me ver quem é.

Peguei uma almofada e a abracei no meu peito. Notei que uma caixa de

lenços magicamente apareceu na mesa do café, então roubei alguns e limpei os

olhos, sentindo a futilidade da ação. Estas eram apenas as primeiras lágrimas.

— Quem diabos é você? E onde está minha esposa?

Eu congelei de terror. Como um relâmpago dividindo uma árvore, as

palavras do homem e o tom agressivo, cortavam através névoa da minha tristeza

como nada mais poderia.

— Darrell. — Drew disse num tom lacônico pausadamente. Ele

bloqueou a porta com seu corpo e acrescentou. — Bethany morreu esta manhã.

Você está atrasado.


— Saia do meu caminho. Esta casa é minha.

Eu pulei do sofá e corri para a cozinha. Conhecendo meu pai a força dos

números, era muito necessária.

— Pessoal, ele está aqui. — Sussurrei alto. Meu rosto deve ter mostrado

o pânico porque todos endureceram por meio segundo e depois foram

estimulados para a ação. Meus irmãos se moveram como o se próprio diabo tinha

chegado, e a única maneira de mantê-lo fora era permanecer na porta.

Esperei meio minuto, inspirando e expirando até que senti minha

coragem flutuando e então os segui para fora.

O som crescente de vozes e temperamentos me fez vacilar, e vi que

Roscoe estava de pé na porta. O resto deles estava lá fora no jardim da frente.

Fui até Roscoe e coloquei a mão nas costas dele. Ele olhou para baixo, o

rosto tenso, sua mandíbula determinada. Mas os olhos suavizaram quando

reconheceram os meus, e ele envolveu um braço ao redor de meus ombros, me

colocando para perto dele. Nós assistimos a cena se desenrolar da casa.

Darrell Winston estava a alguma distância da varanda, talvez cinco pés e

Jethro e Billy de pé na frente dele. Jethro tinha os braços cruzados, mas Billy tinha

tomado uma postura agressiva, seus punhos fechados e os pés apoiados como se

estivesse pronto para dar um soco.

— Filho, esta é minha casa. — Darrell dirigia-se a Jethro, e seu tom era

inteiramente razoável. — Por que vai para ficar entre um homem da sua casa?

— Darrell...

— Eu sou seu pai. Você vai se dirigir a mim como tal.

O pomo de Adão do Jethro se moveu quando ele engoliu duro, e os

olhos estavam com as pálpebras pesadas com irritação.


— Estou tentando explicar as coisas para você. Minha mãe morreu esta

manhã. Você não é bem-vindo no funeral, e não é bem-vindo aqui. Esta casa não é

sua.

— Filho, esta é a casa que fiz para minha família morar com sua mãe.

Esta casa pertence a mim e a todos vocês. Precisamos nos unir e apoiar uns aos

outros.

Billy revirou os olhos. Tenho a sensação que estava propositadamente o

tentando fazer morder a isca.

— Você está delirando. — Ele disse. — Nunca fomos seus filhos. Você é

um doador de esperma, e seus serviços não são mais necessários.

Surpreendentemente, meu pai não mordeu a isca.

— Onde está sua irmã? Onde está minha garotinha?

— Não acho que deva chamá-la assim. — Cletus disse, esfregando o

queixo pensativamente. — Ela odeia você, e tem agora, vinte e seis. Parece errado.

— Ashley. — Meu pai chamou meu nome, obviamente não notando que

eu estava vendo toda a cena. Novamente, eu congelei. Sua voz era exigente, e

tantas lembranças de infância terríveis explodiram a superfície. — Garota, você

vai vir aqui.

— Nós avisamos que saísse, velho. Este lugar não é seu. Não era da

minha mãe também, não quando ela morreu. Ela vendeu. — Beau disse de pé na

escada da varanda com Duane em seu ombro.

— Vendeu? — Darrell atirou um olhar irritado sobre Beau, e senti no

momento em que ele percebeu que eu estava lá, o segundo, seus olhos se

estabeleceram nos meus. — Ashley, garota, olhe para você. — Ele colocou uma

mão sobre o peito que a visão de mim machucasse seu coração. — Você esta
linda.

Olhei para ele de meu lugar ao lado de Roscoe, retirando a força do meu

irmão caçula.

— Seu papai precisa falar com você, baby.

— Não fale com ela. — Drew chegou à frente, como se tivesse estado

quieto até este ponto.

Meu pai o ignorou, manteve a voz calma. Um sorriso suplicando, um

sorriso tão bonito, temperado de suas características quando disse.

— Venha aqui, garotinha. Posso ver que está chorando. Eu sei que sua

mãe te amava muito. Vem para o papai então posso fazer melhorar.

Vi muito de mim nele, em suas palavras faladas suavemente, os olhos

que sorriam quando se moveu, como ele parecia quando tentava parecer sincero.

Isso fez meu estômago virar.

— Jethro, o obrigue a sair, ou vou prendê-lo. — A ameaça de Drew foi

dita calmamente, mas pareceu uma bala na luz.

— Como vai fazer isso? — Darrell virou o seu sorriso para Drew, mas

agora parecia mais um sorriso. — Esta é minha casa, filho. Esta é a minha família.

— Esta não é sua família e não me chame de filho. — As palavras de

Drew estavam assustadoramente estóicas e sem emoção.

— Darrell. — Cletus falou pausadamente, soando estranhamente à

vontade. Pensei por um momento que Cletus ia colocar a mão no ombro do meu

pai, mas ao invés disso ele fez um gesto na direção de Drew. — Este é um agente

federal, e você está na terra dele. Você vê, ele comprou esta casa há algum tempo.

Agora, de acordo com a lei do Tennessee, mesmo se ele não fosse um oficial,

poderia atirar e matar você agora, se se sentir ameaçado.


— É isso mesmo. — Beau colocou. — E estaríamos testemunhando.

— É isso mesmo. — Duane ecoou seu irmão gêmeo. — É, somos sete

testemunhas.

Vi uma sombra breve de confusão e apreensão cair nas bonitas

características do meu pai. Ele olhou para o Cletus, ele nunca gostou de Cletus,

então seus olhos cortaram para Drew.

— São mentiras. Bethany não poderia ter vendido esta casa, não sem eu

saber. — Sua atenção se voltou para mim como se eu fosse o teste decisivo da

verdade da família. Ele não pareceu gostar do que viu, porque os olhos dele

cresceram então se estreitando. Ele ergueu um dedo e apontou para Drew, mas os

olhos nunca deixaram os meus. — Este é seu homem?

— Darrell Winston, saia da minha propriedade. Esta é a última vez que

estou dizendo. — Drew se adiantou com Jethro a seu lado. Não queria que Drew

o tocasse. Ele era um homem horrível, o mal, e não queria que Drew tivesse

qualquer contato com ele.

Saí do abraço de Roscoe e fiquei no centro da varanda, cruzando meus

braços sobre meu peito.

— Sim, Darrell. Esse é meu homem. E ele só disse para sair da

propriedade. Não há nada para você aqui. Todo o dinheiro sumiu. A casa

pertence a Drew. Minha mãe deixou uma conta corrente com exatamente sessenta

e três dólares. Isso é dinheiro suficiente para comprar um tanque de gasolina,

uma caixa de cerveja e sair da cidade.

— Ashley, sua mãe lhe deu minha casa? — Meu pai estava gritando

agora, e o sorriso tinha desaparecido. Mesmo no crepúsculo gritante, eu podia ver

seu rosto ficando vermelho.


— Não. — Balancei a cabeça. —Não, ela não fez. Ela não nos deixou

nada. — Nada êxito a paz de espírito, amor, lembranças, risadas, sabedoria... E Drew.

Meu pai se virou novamente para Drew, Cletus e Jethro deram um passo

em frente, mas seu olhar estava fixo em mim.

— Isto não acabou. Você acha que só porque estou saindo isto está

acabado, mas não está. Esta casa é minha. Esse dinheiro é meu. Vocês são meus.

Vocês me pertencem. O que é de vocês é meu. Vocês são meu sangue.

— Você não é merda nenhuma. — Billy cuspiu.

— Cala a boca, William. — Meu pai estava na porta de seu carro agora.

Ele lançou um rosnado em Billy, os olhos azuis piscando maus e perversos para

seu filho, que poderia muito bem ter sido seu clone fisicamente. — Já ganhei de

você uma vez, e vou vencer novamente.

Billy surpreendeu todos rindo.

— Você acha que eu não podia ter lutado velho? Eu tinha doze anos,

mas sabia onde o veneno de rato era guardado. Deixei você me vencer. Era a

única maneira de você sair de nossas vidas. Batia na minha mãe, mas ela teria

continuado a apanhar para sempre. Você bateu num dos seus bebês e ela se

tornou uma mamãe urso.

Fiquei satisfeita em perceber que não fui a única a olhar Billy com

choque e surpresa. Parecia que nenhum dos meus irmãos tinha conhecimento que

Billy foi o arquiteto da nossa liberdade aos doze anos de idade.

Meu pai fez um movimento como se estivesse se preparando para

cobrar de Billy, mas Jethro e Cletus bloquearam seu caminho e o empurraram de

volta para seu carro.

— É hora de ir. — Disse Jethro, apontando para nosso pai.


— Sim, é hora de você ir. — Cletus disse, então apontou para as rodas

do carro de Darrell e acrescentou — Mas também é hora de investir num novo

conjunto de pneus. Ao menos dar-lhes proteção para a segurança de outros

veículos na estrada.

Darrell fez uma careta para seu terceiro filho, e em seguida, apontou sua

raiva para mim.

— Isto não acabou. Eu estarei de volta.

Ele bateu a porta do Mustang preto e saiu de nosso caminho de cascalho.

Todos observaram o carro até que ele saiu da propriedade e puxou para entrar na

rodovia. Então esperamos até que estivesse fora de vista.

Mesmo assim, todos ficamos em nossos lugares por vários segundos.

Cletus foi o primeiro a se mover. Ele andou até Drew e bateu-lhe no

ombro.

— Bem-vindo à família, Andrew. Vocês dois farão lindas crianças.


CAPÍTULO 21

“Indiferença e negligência, muitas vezes fazem muito mais danos do que a

antipatia definitiva”.

― J.K. Rowling, Harry Potter e a Ordem da Fênix

~Ashley~

Eu estava no meu quarto, deitada, quando Drew me encontrou.

— Aí está você. — Ele cruzou para a cama, sentou-se na borda e me

puxou para um abraço de urso. Em seguida, ele amaldiçoou. Ele amaldiçoou e

amaldiçoou, e fez isso por muito tempo. Também mencionou o nome do meu pai

mais que algumas vezes.

Darrell Winston nos deixou há cerca de duas horas. Eu fui a primeira a

chegar em casa, e fiz o caminho mais curto para meu quarto. Deitei na minha

cama e olhei para o teto. Eu precisava de algum tempo com meus pensamentos.

Eu não estava me escondendo, só tentando pôr a cabeça no lugar.

Mas também estava me escondendo. Não queria encarar meus irmãos

depois de reivindicar Drew como meu homem. Caramba, não queria enfrentar

Drew também.

Pensei em minha mãe e o funeral próximo.


Nos últimos quarenta dias, acho que sofri por ela a cada hora. De certa

forma, sofri por ela antes mesmo dela morrer.

E agora que ela se foi, sofro por ela ainda. Parte de mim queria saber, no

entanto, se a dor seria mais nítida, mais debilitante, se não tivesse sido dado um

mês para nos despedir.

Pensei sobre sua doença e queria saber se poderia ter feito algo

diferente. Então lembrei de uma das últimas coisas que ela disse para mim: não

me sentir culpada por coisas fora do meu controle. Estas palavras me fizeram

sentir melhor, mais estável.

E então pensei em Chicago. Pensei em minha vida, meus amigos, meu

trabalho, minha casa, meus livros, minhas coisas. Meu trabalho permitia uma

licença de três meses para cuidar de um membro da família doente, mas dão

apenas cinco dias para funerais e luto. Era bastante provável que estaria em

Chicago em uma semana ou menos.

Esse pensamento me deu uma pausa. Estava animada para ver meus

amigos. Tinha imensas saudades deles. Sentia falta da cidade. Eu também sentia

falta do meu apartamento e trabalho, mas num grau muito menor.

Este último mês e meio aconteceu. Aconteceu a doença da minha mãe e

a morte. Aconteceram a ligação e o reacender das minhas relações com a maioria

dos meus irmãos, a exceção de Billy, que ainda parecia me segurar no

comprimento do braço.

Além disso, Drew aconteceu... E ai meu cérebro parou. Porque eu não

sabia o que pensar sobre Drew. Não sabia como me sentir sobre ele ou o que me

era permitido sentir sobre ele.

Ele me disse mais de uma vez que não precisava de nada de mim. E que
minha vida estava em Chicago. O isso significa para nós?

Além disso, havia um 'nós'?

Ou era apenas um bom homem tentando ajudar a família do seu amigo

num momento difícil?

Agora, na cama, com raiva de meu pai em nome da minha família, não

senti nenhuma clareza sobre a questão. Drew me segurando perto dele fazia

especialmente difícil imaginar um futuro sem ele.

Minhas mãos foram ao cabelo dele e os tirei do rosto, encorajando-o a

inclinar-se para que pudesse olha-lo. Minhas palavras foram feitas para acalmar

seu temperamento irritável.

— Ei, acabou, sim? Ele se foi. Ele ainda não sabe, mas não há nada que

possa fazer para nos prejudicar. Você e a mamãe tiveram a certeza disso.

Drew estudou-me, seus olhos estavam mais vívidos para mim do que

antes, de aço quente e prata.

— Deixe-me te levar para casa comigo, apenas para os próximos dias até

o funeral acabar e o testamento ser lido, e Darrell ver que não há nada para ele

aqui.

A oferta me pegou desprevenida. Olhei para ele e ele me olhou de volta.

Uma vozinha na minha cabeça queria dizer. Você está me confundindo, Drew. Pode

parar de tomar conta de mim agora. Ela se foi. E eu vou ficar bem. Eu decidi que não

sabia o que dizer ou pensar de nós dois. Talvez, não havia nada a dizer. Talvez

pudéssemos passar através do funeral, ele me desejaria o bem, e eu iria embarcar

num avião para Chicago, e seria isso.

Esse pensamento me deixou entorpecida, então optei pela polidez

honesta.
— Obrigada, Drew. Isso é muito gentil. Mas receio que não posso

aceitar.

Ele estremeceu em minhas palavras, piscou duas vezes. A expressão

mudou, enquanto estudava meu rosto.

— O que está acontecendo, Ash?

Eu me desembaracei dos seus braços e levantei, andei até minha cômoda

e o encarei.

— Não quero deixar meus irmãos sozinhos, não agora.

Os olhos de Drew se estreitaram enquanto ele me observava.

— Darrell é obcecado por você. Você não pode dar um passo fora desta

casa, Ash. Não é seguro. Ele comanda aqui.

— Eu sei, eu sei é que, eu os deixei. Quando fui para a faculdade, deixei-

os.

Billy tinha levado uma surra por todos nós. Não havia nenhuma

maneira que eu ia deixar meus irmãos agora.

— Não, querida. Você viveu sua vida. — Drew levantou da cama e

caminhou até mim. Ele foi se aproximando de mim, mas parou quando eu cruzei

meus braços. Drew deu um passo atrás, franzindo a testa, mas continuou a

pressionar seu ponto. — Então você não abandonou seus irmãos, e não está

fazendo isso agora. Só... Venha comigo.

— Eu fiz. Eu abandonei-os. — Pensei nas últimas seis semanas ou assim,

e como Billy estava perpetuamente irritado pela minha presença. — Não posso

deixá-los agora.

— O foco do seu pai vai estar neste lugar, porque ele não entendeu

ainda. Ninguém na cidade sabe onde moro. Ele não pode chegar a você na
montanha. Além disso, acho que seus irmãos precisam disso. Eles precisam de

uma batalha para lutar. Você vem comigo.

— Drew...

A porta do quarto abriu. Jethro e Billy entraram, olhando de Drew pra

mim e então ao redor do meu quarto. Billy franziu a testa para minha mala aberta

e uma bagunça no chão.

— Está pronta para ir?

Imaginei que eles estavam falando sobre a oferta de Drew me levar para

sua casa. Olhei para Drew por um segundo para mostrar o meu desagrado que

ele falou com meus irmãos sobre isso antes de falar comigo, e depois coloquei as

mãos na cintura e olhei diretamente para Billy.

— Não, não estou pronta para ir. Não vou a lugar nenhum. E não gosto

de ser discutida enquanto não estiver presente. — Então, não escondendo minha

decepção e frustração que ele foi por trás de minhas costas, disse a Drew. — Você

deveria ter falado comigo antes.

— Ashley Austen Winston, isso não foi ideia de Drew. A ideia foi

minha. Você não pode estar aqui. Precisa partir. — O tom irritado de Billy foi

uma surpresa, e encontrei seus olhos me perfurando com uma rígida exasperação.

Depois do espanto inicial, uma onda de irritação aquecida inchou,

fazendo-me ver vermelho.

— William Shakespeare, deixe de ser desagradável. Você esteve jogando

observações sarcásticas em minha direção desde que cheguei. Eu sei que não

gosta muito de mim, e sinto muito que deixei vocês há oito anos, mas estou aqui

agora. E isso tem que servir para alguma coisa.

Parecia que Billy estava pronto para lançar um ataque, mas Jethro pisou
entre nós, bloqueando nossa visão um do outro e falou em sua voz mais razoável.

— Agora, sossegue as penas, Ashley. Você sabe que isso não é verdade.

Billy te ama o mesmo que o resto de nós. Querida, deixe Drew levá-la para sua

casa. Ele explicou tudo, e sei que não é seu homem. Ele vai te manter segura de

Darrell.

Eu pisquei, novamente, pega de surpresa e abri a boca para protestar,

mas Jethro me calou e me puxou para um abraço.

— Escuta, é por pouco tempo, talvez só uma noite. Mas acho que todos

nós iriamos dormir melhor sabendo que esta fora do alcance do nosso pai.

— Estou segura aqui. — Argumentei. — Quanto mais segurança posso

obter? Estou rodeada por meus seis irmãos caipiras.

Ele deu uma risada e pôs a bochecha em cima da minha cabeça.

— Ash, eu honestamente não sei o que Darrell vai fazer. Ele pode entrar

aqui com uma arma. Ele poderia tentar incendiar a casa. Ele é louco. O que sei é

que Drew é um agente federal, e o pai dele é um senador dos EUA. Ele pode

prender Darrell, se for preciso. Além disso, ele vive no topo da montanha Bandit

Lake. Navegar por essas estradas é como tentar fazer xixi em um potinho

enquanto esta bêbado e com os olhos vendados. Ninguém sabe exatamente onde

Drew mora exceto eu e talvez Roscoe.

— Mas...

— Mas nada, querida. — Jethro afastou-se, mas as mãos repousavam

sobre meus ombros, seus olhos castanhos penetrantes, quase hostis. — Por favor,

Ash. Por favor, vá com o Drew. Por favor, deixe ele te levar para casa e mantê-la

segura.

Pisquei e olhei para o lado. Meus olhos estavam ásperos por ter chorado.
Minha voz era anasalada quando falei, e sabia que minha frustração estava

através dela.

— Eu não sou indefesa, Jethro. Tenho cuidado de minha mãe no último

mês. Eu me certifiquei que ela estava banhada, confortável, e que havia comido.

Moro sozinha em Chicago. Entrei na faculdade.

— Querida, Ash, ninguém está questionando o fato de que, de todos

nós, você é a mais capaz de viver no mundo real e a tomar boas decisões. Mas

Darrell Winston não é um ser com fundamentos. — Jethro suspirou aflito, os

olhos estavam vidrados. Seus dedos flexionaram em meus ombros e apertou-me

um pouco quando falou, sua voz instável. —Querida, você é preciosa para nós.

Você é preciosa para mim. Acabamos de perder nossa mãe. Você é minha irmã, e

não posso...

— Ok, ok. — O interrompi porque ele estava trabalhando num bate-

boca. A última coisa que queria era discutir com meus irmãos. Se quisessem que

eu fosse com Drew, se lhe dava paz de espírito, então eu iria. Jethro, expirou,

fechou os olhos em alívio, e me deu um grande abraço.

— Obrigado.

Meus olhos travaram em Drew, cujo olhar era impenetrável, a boca

numa linha plana. Não conseguia imaginar no que ele estava pensando.

— Está bem. — Funguei, não gostando que fui chantageada

emocionalmente para sair. Quando Jethro finalmente tirou as mãos dos meus

ombros, eu falei com os três, segurando meu dedo indicador na minha frente

como uma espada. — Mas que conste a todos que concordei com isto apenas sob

coação.

— Tão notável. — Billy estalou. — Mas honestamente, Ash? Se não


tivesse concordado, estava preparado para amarrá-la e fazer Roscoe deixá-la na

porta de Drew. Você é mais teimosa do que mamãe às vezes.

Algo em mim estalou com seu tom áspero. Eu estava cansada dessa

distância entre nós. Cansada de receber sua censura. Eu precisava reconhecer

meus erros, e precisava que ele entendesse que estava arrependida. Então peguei

sua mão e a segurei.

— Billy, você me perdoa? Por favor, me perdoa? Estou lutando para

ficar agora porque estou tentando aprender com meus erros. Não quero deixar

tudo como antes. Eu sinto que te abandonei.

Assisti a garganta dele trabalhar sem engolir. Longamente, ele disse.

— Não seja estúpida.

Eu o ignorei e desculpei-me novamente porque eu tinha que fazer,

porque ele precisava ouvir isso.

— Billy, me desculpe por ter partido.

Os olhos de Billy moveram-se entre os meus, e podia ver um fio cru de

emoção nos olhos azuis. Eu tinha atingido um nervo.

— Ashley Austen Winston. — Ele disse, a voz áspera e instável. —

Nunca foi sobre sua partida. Você teve que ir. Eu entendo. Todos sabíamos disso.

Nunca lamente a necessidade de melhorar a si mesma.

Concordei, lágrimas brotando nos olhos. Pensei que ele tinha acabado e

estava grata pelas palavras. Portanto, ele me surpreendeu quando continuou.

— O que me irritou foi você desaparecer. Eu aguento sua irritação e

olhares duros. Inferno, posso lidar com sua decepção, sua raiva, seu sarcasmo e

sua gritaria como uma alma penada sobre nada muito importante. O que não

suporto é sua apatia. Apatia entre membros da família faz o sangue que eles
compartilham virarem água.

***

Nenhum de nós falou durante o trajeto para a montanha. Perdida em

meus pensamentos, fui pega numa rede de minha própria autoria.

Drew pegou minha mala do banco da caminhonete, antes que eu tivesse

a chance de alcançá-la. Pensei em lembrá-lo que a mala gigante tinha rodas, mas

decidi ficar quieta. Ele parecia inquieto como se quisesse carregar algo pesado.

Eu tinha embalado tudo, até mesmo o vibrador e os preservativos de

Sandra, por que não sabia quando ou se teria a chance de voltar para casa antes

de voltar para Chicago. Além disso, Deus me livre se um dos meus irmãos

achasse o vibrador ou preservativos no meu quarto. O telhado da casa iria

explodir.

A vida estava acontecendo rápido demais. Minha mãe tinha morrido às

04:33 am da manhã; Agora era 23:30 da noite, e tudo tinha mudado.

Ele destrancou a porta da frente e abriu, apontando para mim entrar

primeiro. Eu fiz. A última vez que estive na casa de Drew foi há várias semanas

atrás, quando o chamei de idiota por ter me chamado de sexy. Não pude deixar

de sorrir pela memória, porque estava tão brava com ele que mal conseguia ver

direito.

Agora minha mãe se foi e sinto falta dela. Drew e eu também iriamos

nos separar indefinidamente em apenas alguns dias.

Mas isso não é verdade. Eu estava pensando em voltar pra casa para

Tennessee no Natal. Talvez vermos um ao outro então...


Por alguma razão, a ideia de ver Drew de passagem durante as férias de

família fez-me sentir pior do que não vê-lo em tudo.

Drew me levou ao fundo do corredor, passando pelo banheiro, onde eu

tinha usado sua navalha, para um quarto grande. As paredes foram pintadas de

um verde pálido. Uma cama de casal ancorada no centro de uma parede, o

edredom parecia uma colcha velha feita com hexágonos de tecidos brancos e

amarelos bordados a mão ordenadamente juntos no projeto da abelha. Uma mesa

lateral estava ao lado da cama e um banco de madeira ao pé dela.

Muito parecida com a biblioteca que acordei durante a minha primeira

visita, uma parede inteira era de vidro, mas dois dos painéis de vidro eram portas

que levavam para um grande alpendre ou varanda. Não podia ver muito a

varanda agora, mas durante o dia, eu teria que explorar.

— Você vai dormir aqui. — Drew levou minha mala para o banco de

madeira e acrescentou. — Pode usar o banheiro de antes. Se estiver com fome,

sirva-se de alguma coisa.

Concordei, pensando que a cama parecia incrivelmente confortável.

Tinha essa aparência confortável, o colchão era daquela espuma ortopédica super

chique e os travesseiros eram de penas. Ele demorou no banco, olhando ao redor

do espaço como se o fiscalizando.

— Você deveria dormir um pouco. — Ele disse, não olhando para mim

quando andou para a porta.

Então, uma coruja piou.

Eu tremi e murmurei.

— Hootiedoom.

Drew parou em seu caminho, os olhos movendo-se para os meus.


— O quê?

Eu me dei uma pequena sacudida.

— Desculpa, eu disse hootiedoom .

Suas sobrancelhas arquearam, mas a boca curvou ligeiramente.

— O que é hootiedoom?

— É quando tem uma sensação de medo logo depois que uma coruja

pia.

Drew olhou para mim por uma batida, depois sorriu.

— Nunca ouvi falar de hootiedoom. Talvez deva adicioná-lo para

minhas anotações de campo.

Fiquei grata pela quebra na tensão, e dei um pequeno sorriso.

— Você tem um PhD, e nunca ouviu falar de hootiedoom? Que tipo de

pós-graduação você teve na 'Universidade Baylor'? — Eu fiz aspas no ar para dar

ênfase.

— Obviamente não uma muito boa.

— Obviamente. Então estou supondo que nunca ouviu falar de Snipe-

Shivers?

Ele pressionou os lábios juntos e encarou-me com os pés separados

como se estivesse planejando ficar por algum tempo.

— Não. Nunca ouvi falar de Snipe-Shivers.

— Oh, abençoe seu coração. — Eu disse antes de perceber que ia dizer.

Obviamente, uma parte de mim desejava gracejar com Drew, engajar-se numa

batalha de sagacidades e pensar em algo diferente de morte e funerais, membros

da família perigosos e loucos e partir em poucos dias para Chicago.

Sua boca caiu aberta e os olhos dele se tornaram pires sob as


sobrancelhas arqueadas.

— Não acredito que acabou de jogar um abençoe seu coração em mim.

— O quê? — Dei de ombros, esperando que minha expressão forçada de

desatenta fosse meio convincente. — O que está errado em dizer abençoe seu

coração?

— Ashley, cresci no Texas. Senhoras em todo o Sul usam abençoe seu

coração por uma razão e uma razão apenas.

Dei de ombros.

— Não sei o que você está falando. Tenho só boas intenções para o seu

coração.

O ar na sala mudou assim que as palavras deixaram minha boca, minha

última declaração ecoando entre nós, e não percebi o duplo significado até muito

tarde.

— Você? — Ele disse de forma simples, o sorriso de seus lábios

desvanecendo. Drew desviou o olhar primeiro, deu um passo atrás e baixou os

olhos para o chão. — Vou deixar você dormir um pouco.

Sem pensar, parei sua retirada, agarrando o braço acima do cotovelo.

— Espere, Drew.

Seus olhos cortaram os meus e um sorriso severo curvou sua boca. Ele

cobriu minha mão com a dele.

— O funeral será na quarta-feira. Imagino que vai querer reservar o seu

vôo logo que possível. Tenho uma conexão de satélite aqui para o wireless.

Suspirei, meu coração sentindo como um peso morto no peito, então eu

provavelmente parecia oprimida quando disse.

— Honestamente, não sei o que quero.


— Ashley... — Drew deu um passo à frente e segurou meu rosto com a

palma grande. Imediatamente embrulhei minhas mãos à volta do pulso para

mantê-lo lá. Os olhos dele ficaram perdidos enquanto estudava meu rosto. O fato

de que estava me olhando não pareceu estranho porque eu também estava

olhando para ele. Eu tinha um desejo crescente de memorizar cada detalhe de

suas características, apenas no caso de que, após esta semana, nunca mais vê-lo.

Sua expressão ficou séria, quando os olhos estavam focados mais uma

vez e ele disse.

— Ash, você acabou de perder sua mãe, e acabei de perder uma boa

amiga. Agora você sabe que não penso em você como irmã... — As sobrancelhas

dele levantaram quando disse isso, a voz mergulhada com o charme do Texas, e

isso me fez rir mesmo que me senti perto de chorar.

— Sim. E você sabe que não penso em você como um irmão. — Eu

funguei, orgulhosa de mim mesma por não sucumbir às lágrimas.

— Bom. — Ele beijou meu nariz, seu polegar traçando minha bochecha,

e então me segurou e olhou nos olhos. — Deixe-me ser o amigo que precisa para

ajudá-la a passar os próximos dias. Fica aqui, comigo. Já te disse antes, eu não

tenho expectativas. Não estou pedindo nada. Você tem sua vida em Chicago. Eu

sei disso. Não há nenhuma pressão aqui.

Concordei, sentindo uma pontada de decepção e alívio, mas

principalmente decepção, que me fez sentir totalmente desorientada, quando ele

me lembrou que nossa relação era uma com nenhuma expectativa. Apesar da

confusão sobre o assunto, eu queria o que ele estivesse oferecendo. Se

pudéssemos nos focar em confortar um ao outro, então eu iria aproveitar o

máximo nos próximos dias. Eu ia levar o máximo de conforto de Drew, o que ele
estivesse disposto a oferecer. E vou tentar ser a amiga que ele precisava em troca,

mesmo se ele realmente não precisasse de nada de mim.

— Ok. — Eu disse, dando meio passo para frente. — Se for esse o caso,

então quero que você durma comigo, apenas dormir, como fizemos ontem à

noite. Porque poderia realmente usar um homem-travesseiro Viking agora.

— Homem-travesseiro Viking? — Seus lábios pressionaram juntos

novamente e a barba se contraiu.

Concordei, olhando nos olhos prateados, minhas mãos deslizaram de

seu pulso para sua cintura. Eu queria guardar sua intimidade e conforto na

memória. Queria viver os próximos dias, como se pudéssemos passar a

eternidade no topo desta montanha. Eu queria que ele me ensinasse a apenas

existir.
CAPÍTULO 22

“De que estrelas caímos nós, para nos encontrar aqui?”

― Friedrich Nietzsche

~Ashley~

Nós visitamos o padre para falar sobre a missa, e eu chorei.

Fomos para a casa funerária para confirmar os detalhes, e eu chorei.

Paramos no cemitério para verificar a sepultura, e eu chorei e chorei.

Vários dos amigos de mamãe chamaram Jethro enquanto estávamos por

aí, querendo saber sobre o velório, o enterro, a recepção após o funeral. Jethro

disse-me que caçarolas começaram a chegar em massa, e perguntou se achava que

um congelador novo seria uma boa ideia.

Isso me fez chorar.

Outras coisas que me fizeram chorar: lavar as camisetas de Drew

enquanto lavava minhas roupas, tricô, ler livros, comer torta, jogar xadrez com

Cletus quando ele e Roscoe vieram na casa de Drew me trazer as joias de mamãe,

os livros antigos e todas as cartas que ela tinha escondido de mim ao longo dos

anos, aprendendo que os Twins finalmente massacraram os Roosters, abraçar os

meus irmãos, fazer planos para visitar no Natal e reservar meu voo de volta a
Chicago.

Eu estava pronta para partir na tarde de quinta, o dia depois do funeral,

dentro de dois dias. Liguei para meu chefe, para deixá-lo saber que estaria de

volta ao trabalho na segunda de manhã e que mandaria o atestado de óbito por

fax para o departamento de recursos humanos do hospital. Toda a minha roupa

estava pronta. Minha bolsa estava lotada.

Coisas que não me fizeram chorar: deitar aconchegada com Drew na

cama, ouvir a chuva, beber café com Drew antes de sair para o trabalho e discutir

com ele sobre a influência negativa do compositor alemão Wagner em filosofias

de Nietzsche, Skype com meus amigos, passear no bosque, fazer o jantar com

Drew para meus irmãos quando vieram até a montanha nos visitar, ouvir Drew

ler romances em voz alta depois do jantar enquanto faço tricô (nota, por algum

motivo, tricotar sem seu acompanhamento vocal fazia-me chorar), discutir os

méritos de ficção versus não-ficção até 01:00 da madrugada, Drew me

provocando, adormecer nos braços de Drew, beijar Drew, segurar a mão de

Drew, olhar para Drew, estar com Drew.

Tentei não me debruçar sobre o quanto eu adorava estar com Drew,

porque se fizesse, eu chorava.

— Estou feliz que cancelamos o velório. — Disse Jethro, os olhos dele

estreitaram na estrada. Nós estávamos em nosso caminho de volta da funerária

na cidade, e percebi que ele estava concentrado. O caminho para a casa de Drew

não era simples, errando uma rua podia significar perder uma hora tentando

encontrar o caminho de volta. — Dá a Darrell menos oportunidade para espalhar

suas merdas por aí.

Concordei porque tive que concordar.


Desde o confronto na noite de sábado, Darrell esteve na delegacia de

polícia, na Câmara Municipal, bar de motoqueiros The Dragon, na igreja de

mamãe, no trabalho do Billy, na estação florestal onde era o escritório do Jethro e

na Winston Auto Shop. Ele também voltou à casa várias vezes, então me falaram,

mas saiu antes da polícia chegar.

Darrell não foi à única razão pela qual decidimos cancelar o velório. Não

queríamos um caixão aberto. Bem, estávamos planejando uma recepção depois

do funeral. Não havia nenhuma razão para ter um velório e uma recepção para

dar às pessoas tempo adicional para terem conversas estranhas.

Eu podia sentir os olhos de Jethro em mim, então olhei para ele. Sua

atenção foi dividida entre mim e a estrada.

— Ash, posso perguntar uma coisa?

— Manda.

— O que está acontecendo com você e Drew?

Eu segurei o olhar do meu irmão por uma batida, então inalei

lentamente, fechei os olhos e apoiei minha cabeça no encosto do banco.

— Jethro... Eu honestamente não sei.

— Mas alguma coisa está acontecendo... Mais do que apenas amigos?

Dei de ombros, ainda não olhando para ele.

— O que ele disse? Quer dizer no sábado depois que fiquei na varanda e

disse a Darrell que Drew era meu homem. O que ele disse a todos vocês lá

embaixo enquanto eu estava no meu quarto?

Jethro limpou a garganta antes de falar.

— Ele apenas disse que não tem sentimentos fraternais por você, mas

que estava tentando ajudá-la a lidar ao longo do último mês ou assim, tentando
dar-lhe um ouvido amigo, conforto. Ele queria ser o que você precisava.

Eu assenti e engoli, minha boca tinha gosto de sal e decepção.

Jethro continuou.

— Ele também disse que não tinha nenhuma expectativa porque sabe

que você pertence em Chicago. Ele foi muito insistente que não estava tentando

mantê-la no Tennessee. Disse que queria te fazer feliz. Ele disse que queria que

todos nós ficássemos felizes.

— E vocês não o pressionaram para obter mais informações? — Olhei

para Jethro, mas os olhos dele estavam colados à sinuosa estrada da montanha.

— Nós fizemos, mas Beau apoiou-o. Ele nos disse para parar de

atormentar Drew e apenas perguntar diretamente.

— Hmm... — Assisti a estrada em frente numa série rápida de

ziguezagues que me fez segurar a porta. As árvores estavam mudando de cor, e

alguns argumentam que as montanhas antigas eram mais resplandecentes no

outono. Elas eram todos os tons de vermelho, amarelo e laranja vibrante. Alguns

verdes teimosos permaneceram.

Eu brevemente me perguntei se Drew tinha escrito qualquer poesia

sobre isso, a beleza das folhas mudando. Senti-me confiante de que ele faria

justiça ao fenômeno.

— Então... Ash? Você está bem com Drew? Eu confio nele para não tirar

proveito, mas gostaria de ouvir de você.

Eu suspirei.

— Sim, esta tudo bem com Drew. Ele não é... Ele não está se

aproveitando. — Se alguém estava se aproveitando, era eu.

— Vão continuar a se falar depois que você partir?


Eu não respondi imediatamente... Eu não tinha conversado com Drew

sobre isso. Tanto quanto queria manter contato com ele, eu também não queria

que nada sobre nossas interações mudassem. O pensamento de manter contato

me encheu de pavor, porque isso significava falar ao telefone ou via e-mail, não

pessoalmente. Seria um tormento total. Nós não seriamos capazes de beijar, tocar,

provocar e demonstrar.

Seria como observar as folhas mudarem ou ouvir a chuva nas

montanhas via webcam. Claro, é bonita, mas é uma experiência vazia. Isso a torna

triste porque não está lá para vivê-la. Eu queria viver Drew.

— Não sei. — Eu finalmente disse. — Ainda não decidi.

Era a vez de Jethro dizer.

— Humm...

Dirigimos várias milhas mais em silêncio, ele com seus pensamentos, eu

com os meus. Então ele disse.

— Hoje é terça!

Ele também poderia ter gritado Fogo!

Eu ofeguei e agarrei o peito, assustada pelo volume de sua declaração.

— Jesus, Jethro! Você assustou o inferno fora de mim. O que está

acontecendo?

Ele mudou-se em seu lugar e disse em voz baixa.

— Esqueci que hoje é terça.

— Bem você não precisava gritar sobre isso. Não vai mudar o fato de ser

uma terça-feira mais de uma terça-feira gritando sobre isso.

Ele assentiu, olhando para fora do para-brisa, mas notei que usava uma

sugestão de um sorriso. Era um, tenho um segredo sorriso. Olhei para ele, tentando
entrar na mente e ler a razão por trás de seu sorriso mal escondido. Obviamente,

não funcionou.

— O que você está escondendo, Jethro Whitman Winston?

Viramos na rua de Drew, numa estrada de cascalho com Jethro ainda

sorrindo.

— Não há razão. Apenas gosto de terças.

Ele estacionou a caminhonete, em seguida, pulou para fora e abriu a

porta para mim. Agora eu sabia que algo estava errado.

— O que há de errado com você? — Disse quando ele pegou a minha

mão e puxou-me do meu assento.

— Nada está errado. — Ele chutou a porta com o pé e agarrou-me pelos

ombros, empurrando-me para o alpendre.

— Sou capaz de andar em linha reta, você sabe. Não estou bêbada.

— Ainda não. — Ele murmurou.

— O que fez?

Só então, a porta de tela se abriu e Janie, minha querida amiga e membro

do meu grupo de tricô, tropeçou fora da casa de Drew.

Ao ver-nos, seu rosto iluminou-se com um sorriso enorme e ela gritou

por cima do ombro.

— Ela está aqui!

Olhei para ela e literalmente dei um passo atrás, francamente perplexa

pela imagem de Janie em pé na varanda de Drew, vestida com uma calça cinza,

equipada de uma camisa de malha vermelha com mangas compridas, e 10cm de

stilettos carmesim. Mesmo ela sendo naturalmente alta, gostava de andar sobre

stilettos femininos.
Os passos de Jethro desaceleraram quando pegou a visão dela, e o ouvi

dizer sob sua respiração, manteiga com biscoitos, isso sim que é uma mulher.

Eu o ignorei porque todos, homens e mulheres, reagiam assim quando

viam Janie pela primeira vez. Jane tinha peitos e bunda com uma cintura fina e

pernas longas. Mas minha querida amiga era completamente alheia ao efeito que

seu corpo tinha sobre os homens, pelo contrário, ela assumia que os homens a

olhavam perplexos porque tinha uma tendência a esguichar informações triviais

ao acaso.

Ainda não podia acreditar nos meus olhos que ela estava ali, em carne e

osso, uma imponente visão de cabelos ruivos. Ela correu para frente e me

abraçou, o rosto pressionado ao meu.

— Acabamos de chegar. Este lugar é incrível! A vista é espetacular! —

Ela jorrou, e sabia que era apenas o começo de uma observação típica de Janie.

Ela recuou, liberando-me e olhou em volta para a cor do outono, que

estava no seu auge.

— Agora que a clorofila está retrocedendo, a glicose está presa,

transformando as folhas em cores diferentes. A luz ultravioleta e temperaturas

decrescentes são é claro, as culpadas. Tipo quando as pessoas se tornam mais

pálidas no inverno, é importante obter suficiente vitamina D.

Ela se virou para Jethro, cuja boca estava boquiaberta.

— Oi, sou a Janie. Você é Jethro, o mais velho. Você terminou seu

chapéu? Posso ver o novelo de lã que usou?

***
— Eu não conseguiria encontrar o caminho de volta até aqui nem se

todo meu estoque de novelo de lã estivesse em risco. Quantas voltas

fizemos? Cinquenta? Cem? — Elizabeth disse de seu assento perto da lareira.

Drew acendeu à lareira porque o tempo ficou chuvoso e frio

abruptamente. Bem como, a temperatura no topo das montanhas sempre foi uns

bons cinco ou dez graus mais frio que era no vale.

— Mais como catorze. — Drew respondeu, entregando a Marie e a

Elizabeth uma taça de vinho.

Segui-o com os olhos, olhando por cima do meu tricô apenas tempo

suficiente para assistir seu passo fácil e movimentos flexíveis quando cruzou para

a lareira e acrescentou outra tora. Ele era a graça em movimento, e arranjou para

meus amigos me surpreender ao virem para o Tennessee.

Não sabia que queriam vir ao funeral. Durante as conversas de Skype

desde o falecimento de mamãe, eles não disseram uma palavra sobre isso, e não

perguntei. Todos tinham suas próprias vidas e problemas.

Mas, Drew tinha entrado em contato com Sandra. Sandra contatou Janie.

Janie pediu ao seu marido Quinn o avião particular para que pudessem voar

juntos.

Os homens estavam na cozinha e na varanda de trás, bebendo cerveja e

falando sabe-se lá o que, enquanto as senhoras estavam tricotando na biblioteca.

A casa abrigava uma quantidade impressionante de pessoas com

facilidade. Todos os meus irmãos estavam presentes, além de Drew e eu. Todo o

grupo de tricô foi contabilizado, o que significava seis senhoritas e Nico. Além

disso, Fiona, Janie e Sandra também trouxeram seus cônjuges.

Greg, marido de Fiona, atualmente estava na cozinha fazendo todo


mundo rir. Ele era um engenheiro de petróleo e ficava fora a maior parte do ano

para o trabalho. Fiquei realmente comovida que ele e Fiona tinham optaram por

descer, especialmente quando seu tempo juntos era tão fugaz e precioso.

— Este lugar provavelmente nem sequer aparece em fotos aéreas. —

Fiona disse pensativamente. A cadeira estava ao lado da parede de janelas, e ela

estava olhando o deserto de vermelho, amarelo e laranja. — Seria um ótimo

esconderijo.

— Todo mundo vai saber onde você mora agora. — Sandra apontou

para Drew, e ele deu-lhe um sorriso por cima dos ombros. Ela continuou. — Vou

tirar fotos e postá-lo no Google Earth. Você vai ter pessoas batendo na sua porta

tentando vender cookies na próxima semana. Pode me agradecer depois.

— Vou agradecer-lhe agora por não fazer isso.

— Vamos, Charlie. — Sandra implorou, e estreitou os olhos para ele

para dar efeito. — Você não gosta cookies?

— Meu nome é Drew, e gosto muito de cookies.

Uma explosão de riso da cozinha invadiu nosso descanso aconchegante,

e notei que Fiona sacudiu a cabeça quando a voz do seu marido Greg subiu acima

das outras.

—… Não me importava se tinha buracos de bala, o carro era gratuito.

Vai me dizer que recusaria um carro grátis só porque tinha buracos de bala?

O tom de Quinn estava incrédulo quando ele respondeu.

— Por favor, não me diga que dirige com seus filhos ao redor naquele

carro.

— Ah, sim. Claro que sim. — Greg respondeu como se Quinn fizesse

uma pergunta ridícula. — Essa é sua herança, Quinn. Vou deixar aos meus filhos
aquele carro furado e minha coleção de creme antifúngico quando morrer. Não

precisa ficar com ciúmes, mas sinta-se livre para tomar notas.

Kat riu quando suas vozes desvaneceram. Ela virou para Fiona e disse:

— Greg é o cara mais engraçado que já conheci. Ele deveria falar com

Nico sobre se tornar comediante.

Fiona, bufou.

— Hum, não. Não posso imaginar o que sairia de sua boca na frente de

uma platéia.

Vi que Drew esboçou um sorriso, um que ele estava tentando esconder.

Eu estreitei meus olhos para ele.

— O que? Por que está sorrindo?

— Porque sua amiga Kat esta certa, e também Fiona. Sem ofensa, Fiona,

mas seu marido não está bem da cabeça. As coisas que ele diz são hilariantes, mas

não próprias para o horário nobre.

Fiona assentiu com a cabeça uma vez para Drew.

— Exatamente. Está exatamente certo. Drew é um homem esperto.

Drew ficou de pé, olhou ao redor, quando disse:

— Se alguém precisar de alguma coisa, sintam-se livre. Há mais comida

na cozinha... — Seu olhar virou para Marie. —... E vinho.

— O quê? — Seus olhos se arregalaram e ela olhou para os lados. — Por

que olha para mim?

Ele não disse nada, apenas deu-lhe um amável, suspeito e bem-

humorado olhar. Antes de sair, ele segurou meus olhos e me presenteou com um

pequeno sorriso, em seguida, deixou a sala para se unir aos homens na varanda.

Ouvimos uma onda de vibração, quando o vidro da porta da cozinha abriu, em


seguida, fechou com sua partida.

E isso foi quando todo mundo, menos eu, parou de tricotar e se

inclinaram a frente em seus lugares e nivelaram-me com olhares expectantes.

Sentindo seus olhos, afundei mais baixo no sofá e disse.

— O fogo é bom, não é? Tão aconchegante...

— Corta a merda, Ashley. O que está acontecendo com você e o homem

da montanha? Quando isso aconteceu? Como aconteceu? Conte-nos tudo. Não

deixe nada de fora. Queremos detalhes! Além disso, amo que ele use

suspensórios. É totalmente atraente. Vou agora comprar suspensórios para Alex.

— Sandra sempre teve um jeito lindo de começar à caçada.

Marie levantou sua mão.

— Eu apoio a moção sobre os suspensórios.

— Somos três. — Disse Elizabeth.

— Então passou. — Sandra anunciou.

Bufei o cabelo para fora da minha testa e coloquei meu tricô para baixo,

fechando os olhos.

— Não faço ideia. Tudo que sei é... Ele foi incrível. Ele é como... Ele é...

Gah.

— Ele é 'gah'? Uh oh. — Fiona disse isto, e podia ouvir o divertimento na

voz dela.

— Não. — Abri apenas um olho, encontrando o olhar dela. — Não há

nenhum uh oh. Não pode haver um uh oh.

— Por que, quero dizer, não pode haver um uh oh?— Marie levantou as

sobrancelhas, os olhos estreitos.

— Porque ele não... Porque eu não... — Abri meu olho e me esforcei para
colocar em palavras todas as razões do por que Drew e eu não tínhamos nenhum

futuro. Eu resolvi. — Porque apenas não podemos... Nós não podemos uh oh.

— Por que não? — Kat pressionou. — Ele claramente se importa com

você, e você se importa com ele, e sua família parece gostar dele, não que deve

fazer alguma diferença o que sua família acha, então por que não ir? Quer dizer,

ninguém é perfeito. E se tem sentimentos deve agir sobre eles, em vez de

empurrá-los de lado e esperar muito tempo. Se esperar demais vai ser tarde, e ele

vai começar a sair com outra pessoa, como uma analista de negócios no décimo

sétimo andar. — No final de seu pequeno discurso, ficou claro que Kat estava

falando para si mesma.

Todos olhamos para ela, esperando ela perceber que inadvertidamente

derramou uma lata figurativa de feijão.

— Uh... O que? — Marie perguntou.

Kat suspirou, terminando seu vinho com três goles, o rosto dela

sombreando em uma cor para combinar. Ela continuou em uma voz baixa.

— Quis dizer, não o afaste se você se importa com ele.

Fiona limpou a garganta, chamando nossa atenção para ela e deu uma

sacudida de cabeça. Isso significa que devemos deixar Kat em paz e não

pressionar. Sandra, como de costume, foi buscar a bola que caiu.

— Bem, voltando ao delicioso Drew. Posso entender por que você está

hesitando. Ele é um guarda florestal em Tennessee. Não é como se conseguisse

um emprego em Chicago.

— Ele poderia, mas não como um guarda florestal. — Janie ofereceu. —

Ele tem PhD em biologia e gestão da vida selvagem de Baylor. Ele poderia

facilmente obter um emprego em Chicago.


Eu balancei a cabeça.

— Não. Não, eu nunca iria pedir para ele mudar para Chicago. Ele não

pertence a cidade. Ele pertence aqui, na floresta e deserto. Ele vai murchar e

morrer numa cidade grande. Ele precisa de espaços abertos, animais selvagens,

vistas de tirar o fôlego e a tranquilidade das montanhas. Não seria certo. Eu

nunca pediria isso.

— Mas e se ele quiser ficar perto de você? — Elizabeth piscou para mim.

— Nico saiu de Nova York, mudou-se do programa de televisão, para Chicago e

ficar comigo.

— Isso foi diferente. — Eu ainda estava balançando a cabeça. — Nico

mudou-se de uma grande cidade para outra cidade grande e tem a vantagem de

estar mais perto de sua família. Ele não tem uma irmã em Chicago? E o resto da

sua família não está por perto em Iowa?

— A maioria, sim. Isso é verdade.

Sandra interrompeu.

— Mas, por favor, me diga que vocês já fizeram a façanha.

Minha boca caiu aberta em indignação chocada.

— Sandra Fielding Greene, sei que não acabou de dizer isso para mim.

— Eu disse. Você estão dando o olhar de sexo toda vez que estão juntos

na mesma sala. Se ainda não rolaram no feno, então precisa fazer antes de voltar

para Chicago com a gente. Bata esse barril, Ashley. Toque nele!

— Fiona? Me ajude aqui? — Olhei para Fiona por ela ser a voz da razão

e encontrei-a me olhando com expressão calculada.

— Ashley. — Ela começou, parou, suspirou e começou de novo. —

Ashley, está claro para mim que você está deixando o Tennessee com o coração
partido. — A boca dela puxava para o lado e os olhos eram simpáticos. — Sua

mãe acaba de falecer. Você tem que se dar algum tempo para se lamentar. Seu

caminho leva a Chicago, pelo menos por um tempo. E o caminho de Drew é aqui

no Tennessee. Se esses caminhos se encontrarem ou cruzarem novamente só

depende de vocês. Não deixe Sandra empurrá-la para uma encruzilhada antes de

estarem prontos.

Sandra reclamou.

— Oh, você e suas analogias de trânsito. Twerk and jerk, isso é o que eu

sempre digo. — Sandra bateu na coxa para dar ênfase.

— Ugh, Sandra. Podemos ter uma conversa sem você fazer referências

twerking? — Marie abanou a cabeça. — Já superei twerking.

Fiona segurou meus olhos e partilhámos um sorriso. O conselho dela

deu-me um pouco de paz, mas meu coração egoísta queria tudo agora. Ele queria

Chicago e noites de tricô. Queria meus irmãos. Queria as velhas montanhas e

cores do outono, a queda da neve do inverno, o despertar da primavera e os

campos de verão das flores silvestres. Meu coração queria minha mãe de volta. E

meu coração queria Drew.

A resposta grosseira de Sandra tirou Fiona e eu de nosso momento.

— Você sabe que ama. E além do mais, se você faz o twerking direito,

deve estar por baixo e ele por cima.

— O que é twerking afinal? — Fiona perguntou ao quarto. — Eu vi

alguém na Ellen falando sobre isso.

— Você não tem suficiente lixo. — Eu disse. — Vá comer mais bolo.

— Meu lixo é na frente, o estômago. — Disse Elizabeth. —Existe uma

maneira de twerking com sua barriga?


— Não. Isso é berking. — Sandra disse isto quando Kat estava tomando

um gole de água, que prontamente saiu da boca dela.

— Droga, Sandra! — Ela limpou o queixo.

— Você tem sorte que não foi o vinho. — Sandra acenou com a cabeça

para Kat. — Quando será que irá aprender, não beba quando estou falando.

— Berking? — Janie perguntou.— Como a artista Bjork?

— Completamente diferentes. Berking é o twerking de barriga. — Marie

explicou.

— Isso não é berking. — Eu disse categoricamente. — Isso é gelatina

rolante.

O quarto entrou em erupção de riso, e não pude deixar de rir da minha

própria piada.

— Oh, minhas estrelas! Senti saudade de você. — Sandra disse,

levantando-se para me dar um abraço, pressionando sua bochecha contra a

minha. — Estou tão feliz por ter você de volta.

***

Meus irmãos bem como minhas senhoras e seus maridos partiram

depois da meia-noite. Jethro levou a caravana de volta à cidade onde estavam

hospedados numa velha pousada até depois do funeral.

Drew e eu arrumamos a casa, ensacando as garrafas restantes na lixeira

e limpando o balcão. Não havia muito para arrumar, já que Elizabeth e Janie

atravessaram a sala de estar, antes de partir e reuniram todas as embalagens

vazias. Fiona e Greg tinham lavado e guardado os pratos, e meus irmãos levaram
o lixo para o caminhão de Jethro.

Quando estava passando pela porta de correr para a varanda, vi meu

reflexo. Eu estava sorrindo. Senti-me bem a sorrir, e estava grata pela distração

dos meus amigos na noite antes do funeral.

Drew me alcançou e me beijou na bochecha.

— Vai preparar-se para à cama.

Eu concordei e me arrastei pelo corredor até o banheiro, esticando meus

braços acima da cabeça quando fui.

Depois de me lavar e escovar os dentes, coloquei meus pijamas e puxei

para baixo as cobertas da cama. Uma estrela brilhante para fora da janela chamou

minha atenção, então desliguei as luzes e abri a porta da varanda, saindo para o

alpendre.

Estava ainda frio, mas a chuva tinha desaparecido. Não tinha nenhuma

lua. As estrelas eram pontinhos de brilho contra um céu negro, vivo e brilhante.

Um pensamento súbito me atingiu: estrelas eram como uma ideia distante ou

conceito no céu da cidade. Elas eram escuras e distantes.

Mas aqui, sentia como se fosse capaz de tocá-las, se levantasse minha

mão, e desejasse bastante.

— De que estrelas caímos para nos encontrar aqui? — Drew citou atrás

de mim, e me virei para vê-lo encostado à porta. Ele ainda estava vestido com

suas calças pretas, camisa de botão branca e suspensórios. Mas as botas estavam

fora. Sorri para ele por cima do ombro, em seguida, voltei para o céu.

— Quem disse isso?

— Seu velho amigo Nietzsche, de fato.

Eu suspirava um riso descrente.


— Tem certeza? Para Nietzsche, isso é muito romântico. Soa mais como

Shakespeare ou Byron.

— No contexto do texto original, a citação não é romântica. Mas acho

que Nietzsche era uma alma romântica, de certa forma. — A voz de Drew era

profunda e atenciosa.

— Como assim? Ele gostava muito de vacas?

Ouvi Drew reunir um fôlego antes de responder, um sorriso na voz.

— Não, não precisamente. Ele disse que homens e mulheres amam de

forma diferente, e acho que há muita verdade em sua filosofia sobre o assunto.

— Deixe-me adivinhar, quando uma mulher declara seu amor, ela faz

isso com erva doce e trevo. As vacas amam trevo.

— Você nunca vai me perdoar pelo comentário de vaca, vai?

— Não. — Eu balancei minha cabeça.

Nós silenciosamente observamos as estrelas, e pensei em como seria

capaz de roubar este momento e mantê-lo, tirá-lo e revivê-lo quando precisasse

de Drew, quando sentisse falta dele. Porque eu iria sentir falta.

Drew quebrou o silêncio dizendo.

— Acho que Nietzsche teria apreciado a ironia da sua situação de fim-

de-vida.

— O que que dizer?

— Durante seus últimos anos, ele era completamente dependente da

bondade e moralidade de sua mãe. Então, depois de sua morte, sua irmã. Na sua

vida profissional, ele insistiu que, na melhor das hipóteses, as mulheres eram

vacas e essa moralidade era uma construção arbitrária da sociedade. Mas parece-

me que as mulheres e moralidade mostraram-lhe a verdade no final.


Sorri para isto, principalmente porque me surpreendi com suas

palavras, mas também porque o pensamento era sadicamente satisfatório. Este

toque de sadismo me irritou. Os seres humanos são piores quando estão no papel

de espectador. Assistimos ansiosamente outros recebem punição, mas rejeitamos

a simples verdades sobre nós mesmos mesmo quando as verdades são

administradas com cuidado.

Empurrei estes pensamentos filosóficos estranhos para o lado,

provavelmente um sinal de que tinha passado muito tempo na companhia de

Drew e pedi-lhe para esclarecer sua declaração anterior.

— Especificamente a que verdade ele foi mostrado no final?

— Bem, para um homem morrendo, intelectualismo, orgulho e filosofia

têm tanto uso como areia. — Senti Drew mais perto, embora não ouvi ou vi ele se

mover, sua voz caiu quando acrescentou. — Nossa vontade é tão forte como o

nosso corpo, o desejo de que precisamos sempre será o maior ideal.

Eu tremia. Ele continuou, mas parecia distraído, como se falasse

principalmente a si mesmo. O meditativo, baixo timbre era hipnótico e

paralisante, e isso fez meu coração bater mais rápido.

— É sempre assim que funciona, não é? No fim, nossa visão é mais

nítida. — Senti o calor nas minhas costas, pouco antes dele escovar os dedos do

meu ombro até meu pulso numa leve carícia. —Sem ser recorrido por ideais, de

imagem, percepção, ambição, boas intenções, nem honra, ganhamos o

conhecimento do que realmente importa conhecimento que poderia ter-nos

poupado de...

Eu podia ouvir a hesitação na voz dele, assim incitei:

— Nos poupado de quê?


— De desperdiçar o tempo.
CAPÍTULO 23

“Pois afinal, a melhor coisa que se pode fazer quando está chovendo é deixar

chover…”

― Henry Wadsworth Longfeloow

~Ashley~

Eu achava que sabia o que queria. Pensei que queria chamuscar, arder e

queimar. Eu estava tão errada.

Meu desejo por Drew não era um incêndio. Era uma tempestade. Mais

precisamente, era uma tempestade no deserto de Great Smoky Mountains.

Quando o desejo é uma chama, se inflama, brilhante e quente. É

emocionante, sexy e físico. O fogo é um perigo para o qual somos atraídos.

Gostamos de jogar com ele para ver se podemos escapar ilesos. Você pode vê-lo,

mas nunca tocá-lo. Você nunca pode chegar muito perto. É sobre o desejo. Essa é

diversão, o fascínio do fogo.

Mas em pé naquela varanda com Drew em minhas costas, não me

tocando, não falando, nada sobre meu desejo por ele parecia divertido, e não me

sinto sexy ou excitante também.

Sim, eu queimei. Sim, o desejo era físico, mas era muito mais do que um
desejo. Doía como uma sede.

— Drew, eu não... — Eu sussurrei, e me surpreendi porque minha voz

vacilou, em seguida, rachou. Eu chorei.

Baixei a cabeça e inclinei-me sobre o parapeito da varanda. Eu queria

dizer, não quero perder mais tempo, mas minha garganta não funcionaria porque eu

estava me afogando.

Ele deve ter ouvido as lágrimas em minha voz, porque os braços dele me

cercaram ao mesmo tempo, virando-me de encontro ao seu peito.

— Peço desculpas. — Ele disse, então ficava dizendo isso. — Me

desculpe, Ash. Eu sinto muito.

Eu balancei a cabeça e empurrei contra ele, para que pudesse procurar

sua boca e saciar esta sede dolorosa. Ele imediatamente me soltou. Os braços

caíram quando ele recuou para me dar um espaço que eu não queria.

Ele passou uma mão pelo cabelo, parecendo triste e desanimado.

Eu ainda não conseguia falar, mas não queria que ele interpretasse

erroneamente meus atos. Lancei-me para ele, meus braços chegando ao pescoço,

meus lábios cobrindo os seus, movendo-se, trabalhando, buscando, perseguindo,

até que ele compreendeu minha intenção.

Ele estava atordoado no início. Eu poderia dizer por que, embora

estivesse beijando-me de volta, as mãos dele continuavam pairando na minha

cintura, superficial e experimental.

Então as mãos estavam no meu corpo. Seu toque ecoou, cercando, senti

camadas reconfortantes. Ele tentou me acalmar, mas eu não queria nada de sua

maciez. Eu queria a tempestade. Eu precisava de uma chuva torrencial.

Eu puxava fora seus suspensórios e ele me ajudou, trabalhando-os sobre


os ombros. Eu o empurrei, entrando com ele através da porta, ao mesmo tempo

freneticamente puxando as roupas, desabotoando sua camisa, as calças,

estendendo a mão para ele.

— Ash. — Ele respirou, levantando a cabeça e pegando meu pulso.

— Eu preciso de você. — Puxei meu pulso de seu punho e arranquei

minha camisa, empurrei para baixo o pijama e calcinha e capturei sua boca,

lançando um novo ataque. — Eu preciso de você. Por favor, eu preciso de você.

Drew era a chuva. Precisava de seu toque em cada parte do meu corpo,

em cada superfície. Precisava dele para me cobrir, impregnar, inundar e

preencher. Minhas palavras e a nudez pareciam acender uma torrente dentro dele

porque ele me agarrou. Suas mãos procurando, se movendo, buscando e

perseguindo.

Meus dedos estavam ávidos de sua pele, e eu o toquei. Eu precisava da

suavidade de granito de seu tronco, costas e peito. Eu precisava das curvas

sólidas de sua parte inferior e coxas. Eu precisava da dureza de seda de seu

comprimento. E quando o agarrei ele engasgou na minha boca, tremendo, os

dedos flexionando e cavando para me ancorar a ele, afundou os dedos em minha

carne para deter qualquer fuga.

Ele virou-me e eu caí, meu traseiro batendo na cama e vi quando ele

tirou o restante das roupas, mas não conseguia parar de tocá-lo. Minhas mãos

frenéticas enquanto tentavam roubar carícias.

Ele estava nu, quando se juntou a mim, e não tinha tempo para deliciar-

me com a visão porque a sede estava se construindo. Ela queimou baixo na

barriga e enrolou coração num punho. Eu não conseguia respirar porque estava

me afogando no meu próprio desejo e necessidade.


Ele beijou-me enquanto o agarrei, acariciei, segurei seu corpo em minhas

mãos e tentei memorizar as sensações. A boca dele mudou-se para meu peito,

com a língua quente, molhada e faminta, provando-me, saboreando.

Ele beijou um caminho para a barriga, as mãos em todos os lugares, e

sabia qual era sua intenção quando ele avançou mais baixo.

— Não, não, fique comigo. — Estendi as mãos para as mãos dele, braços,

tudo o que eu pudesse pegar. — Fique aqui. Preciso de você. Eu preciso de você.

Com Drew, não era sobre o prazer do ato. Era sobre estar com ele.

Precisava de seu coração junto ao meu, sua boca na minha.

— Ash. — Ele veio a mim, ouvir meu nome nos seus lábios era tortura.

— Querida, estou sem preservativos. Eu não, eu não... — Vi a garganta dele

funcionar quando engoliu.

— Eu tenho. — Balancei a cabeça freneticamente. — Eu os tenho. Tenho

camisinhas, em lotes de tamanhos diferentes.

Ele olhou para baixo para mim, os olhos dele procurando meu rosto.

— Você tem camisinha?

— Sim. — Beijei sua boca atordoada. — Não, não pergunte. — Empurrei

seu peito, pulei da cama e voei a minha mala, cavando o fundo. Minha mão

encontrou o vibrador primeiro e empurrei-o para o lado. Então encontrou os

pacotes de preservativos, agarrei um punhado e voltei para a cama.

Estava rasgando um pacote com os dentes quando voltei para ele,

extraindo a bainha e alcançando seu eixo. As mãos dele surgiram para ajudar,

mas bati nelas, rolando o preservativo na cabeça perfeita, no eixo reto de seda,

quase em desespero quando percebi totalmente sua grossura e comprimento.

Mas um milagre aconteceu. Porque se encaixou.


Encaixou perfeitamente.

Abençoe a Sandra e as camisinhas de tamanho magnum.

E, diabos, ele era lindo.

As pessoas podem reclamar que falar de preservativos ou sexo seguro

torna o ato menos espontâneo e erótico. Essas pessoas estão erradas. Proteção

apenas estraga o humor quando um parceiro não está tão empenhado em

segurança enquanto o outro está.

Olhando para Drew, deitado de costas, duro, preparado e pronto para

mim, seus olhos ecoando a intensidade da minha necessidade, pronto para me

encher e saciar esse desejo incapacitante, não havia nada mais erótico.

Ele estendeu a mão para mim e o montei antes que ele tivesse a chance

de me virar. Drew se sentou, agarrando meus quadris quando peguei seu

comprimento. Eu trouxe-o para meu ápice, baixei-me e joguei a cabeça para trás

enquanto ele me enchia.

Ofeguei e ele murmurou uma maldição. A boca encontrou meu peito,

lambendo, chupando e mordendo, os dedos escavados no meu quadril, em

seguida, nas costelas, e depois nádegas, selvagem e necessitado. Eu ainda estava

me ajustando à invasão que tinha iniciado, em seguida afundei mais, levando

todo o comprimento.

Ele amaldiçoou novamente, exalando as palavras como se não pudesse

entender o que estava acontecendo, e a mente lutasse pela sanidade em face do

desejo insano. Eu me levantei, então baixei, depois balancei, minhas mãos em

seus ombros, nossos corpos esfregando juntos numa carícia mútua.

Drew era um trovão suave e constante, do tipo macio que é sentido no

peito e sutilmente faz o chão tremer.


Nossa respiração acelerou. Apesar da frieza da noite, nossos corpos

estavam quentes e lisos, o movimento desajeitado, voraz e grosseiro.

Reconheci o momento que sua mente finalmente compreendeu e aceitou

o que estávamos fazendo, senti o segundo que ele tomou as rédeas. Ele alcançou

minha liderança desajeitada, assumindo o controle e definindo o ritmo. Suas

mãos estavam guiando ao invés de procurar e ele me mexeu conforme gostava,

ele sabia que ia me trazer mais prazer e mais contato. Ele sabia o que eu

precisava, como precisava dele. Ele me ensinou que você não dança no fogo, você

dança na chuva.

Entreguei-me por vontade própria. Onde ele liderou, eu segui. Onde ele

empurrou, eu cedi. A chuva se tornou torrencial, a maré alta, uma onda

reivindicando, uma coisa violenta.

— Ashley, olhe para mim. — Ele rosnou.

Olhei-o nos olhos e nossos olhares se enfrentaram, prata no azul. Os

sons que fiz ficaram em silêncio para meus ouvidos, mas não conseguia segurá-

los dentro quando me rendia a esta euforia. Meu gozo veio como um flash, e

manteve-se, reivindicando-me uma e outra vez. Ela me cegou para tudo, menos

ele e seu clímax, o êxtase que ele encontrou em mim e no meu corpo.

Drew foi o relâmpago, duro, doloroso e maravilhoso. Esmagadoras

rajadas de brilho penetrante, assustadoras e belas em sua intensidade.

Eu tinha pensado nele como graça em movimento, mas estava errada.

Drew era poesia em movimento. Como suas palavras, sua vida amorosa

era uma arma. A chuva, como a chama, é perigosa. Mas você não percebe seu

poder, até ser tarde demais.


***

A segunda vez que fizemos amor foi um pouco antes do nascer do sol.

Eu tinha caído num sono profundo, nua e envolta em seus membros.

Ele acordou-me com beijos carinhosos no pescoço, seus hábeis dedos

entre minhas pernas. Virei para ele, os braços abertos e puxei-o para mim.

O passo e ritmo foram mais lentos, medidos e definidos inteiramente

por Drew. Lembrou-me outra vez de um tango, artisticamente coreografado

como se ele estivesse planejando os passos. Os beijos e toques foram gentis,

Veneráveis, prolongados. Foi uma chuva de primavera, trazendo vida às novas

flores.

Meu gozo foi intenso, mas doce como mel. E derivei de volta ao sono,

me sentindo saciada no momento.

Algum tempo depois, acordei com um sobressalto.

Eu estava sozinha. Eu estava nua. Eu estava quente. E onde Drew

dormiu também estava quente, um indício de que ele saiu recentemente da cama.

Sentei, trazendo automaticamente o lençol comigo e olhei ao redor da

sala. Luz vermelha e roxa batia de leve contra a janela, o sol estava brilhante, mas

não muito alto no céu. A névoa do sono diminuiu e a realidade, tanto boa, ruim e

confusa, não desabou.

Pelo contrário, a realidade chegou em via rápida, uma vacilante invasão.

Minha vida foi servida para mim numa bandeja bizarra que não reconhecia.

Minha mãe se foi, hoje era seu funeral. Drew e eu fizemos amor duas vezes ontem

à noite. Amanhã eu iria dizer adeus aos meus irmãos e voar de volta para

Chicago.
Amanhã eu deixaria Drew.

A porta do quarto estava fechada, mesmo assim, ouvi vozes do outro

lado, vindas de algum lugar da casa. Vesti rapidamente minhas roupas

descartadas apressadamente da noite anterior e caminhei.

Minha mão pairou sobre a maçaneta, mas não toquei. Em vez disso,

olhei para a parede e deixei o peso das minhas decisões nos meus ombros. Quase

perdi o fôlego.

Eu não sabia o que estava fazendo.

Drew tinha me deixou novamente sem nenhum mapa.

Mas a culpa era minha, porque eu era uma menina grande e sabia como

funcionava um GPS. Eu não deveria ter contado com ele para ser minha bússola.

Reunindo a coragem e determinação para traçar meu próprio rumo, abri

a porta e, sem nunca ter me encontrado neste tipo de situação antes, fui tão

naturalmente quanto possível pelo corredor.

As vozes ficaram mais altas quando me aproximei da cozinha, e as

reconheci imediatamente. Meus irmãos estavam aqui, todos os seis.

Espiei e minhas suspeitas eram verdadeiras. Todos os seis dos meus

irmãos estavam lá, além de Drew, Alex e Sandra.

Alex me viu primeiro. Ele estava prestes a acenar, mas eu balancei

minha cabeça freneticamente e retirei-me mais no corredor. Não sabia como fazer

isso. Não sabia como entrar lá e agir naturalmente. Drew tinha um histórico de

anunciar coisas antes de discuti-las comigo, como quando disse a Beau que seus

sentimentos por mim não eram fraternais. Portanto, preocupei-me que ele

imediatamente contaria à sala que consumamos nossa relação. Mas também, me

preocupava que ele não contaria a sala inteira que consumamos nossa relação.
E se ele estava arrependido? E se nossa noite juntos não significou para

ele o que significou para mim? E, a propósito, já que eu estava pensando sobre o

assunto, o que a nossa noite juntos significava para mim? Qual era minha

opinião?

O ponto vital, eu estava assustada e nervosa, exausta e emocional e

desejava que meu GPS não funcionasse.

Ouvi passos se aproximarem e me virei preparada para fugir para o

banheiro, mas uma mão pegou meu braço e me virou.

— Ashley, o que está errado? Você esta bem? — Ao ver Alex, dei um

enorme suspiro de alívio. Ele era o mais afável de todos os homens que

atualmente habitavam a casa.

Eu pressionei meu dedo nos lábios e fiz um gesto para ele me seguir,

puxando-o para a biblioteca e fechando a porta.

Devo admitir que Alex era impressionante em sua aparência, ele se

parecia com um perigoso vândalo sexy. Alto com o corpo de um nadador, olhos

azuis escuros que, por vezes, eram violeta, cabelos preto, e uma cicatriz irregular

que ia do queixo até o pescoço. Ele também cinco anos mais novo que eu e quase

oito anos mais novo que sua esposa, minha boa amiga Sandra. Ah, e a voz dele

era de manteiga derretida. Sério.

— Ei... — Os olhos dele se estreitaram em mim. — Está tudo bem? Além

do óbvio.

Ah, e muitas lhe faltava habilidades sociais habituais como apropriadas

demonstrações de simpatia e/ou empatia.

Concordei, soltando a respiração.

— Sim, acho que sim... Quando foi que todos chegaram?


— A poucos minutos. Fiquei com seus irmãos ontem à noite em casa.

Agora você tem acesso gratuito para aquele site de transmissão de vídeo, que

gosta. Além disso, a NSA’s black ops fund, deu uma contribuição para National

Cervical Cancer Coalition em nome de sua mãe.

Ah, e ele era um gênio.

Minhas sobrancelhas levantaram.

— Alex. Não faça isso. Isso é roubo.

— Qual parte?

— Tudo.

— Bem. — Ele franziu a testa, olhando irritado. — Por que estamos

escondidos aqui?

— Não estamos escondidos. Eu só, não estou pronta para enfrentar

todos.

Seu cenho franziu quando me estudou.

— Porquê?

Eu ignorei a pergunta. Isto poderia continuar todo o dia.

— Por que estão todos aqui? Eu pensei que o plano era nos encontrar em

casa.

Ele deu de ombros, colocando as mãos nos bolsos.

— Algo sobre seu pai louco. Ele veio ontem à noite. Não acho que seu

irmão quer que ele siga o cortejo fúnebre. A propósito, você quer que arruíne sua

pontuação de crédito? Eu poderia apagá-lo a partir de dados centrais.

— Não. Ele arruinou sua própria pontuação de crédito anos atrás, e há

uma grande possibilidade que seja procurado por algum crime em algum lugar. É

melhor deixá-lo nos bancos de dados centrais, então. — Olhei por cima do ombro
de Alex. — Drew está lá fora?

— Sim. — Alex olhou pensativo por um momento. — Você acha que ele

vai me levar para pescar? Eu nunca fui pescar.

Eu pisquei para ele e sua aleatoriedade.

— Pescar?

— Sim. Talvez Sandra e eu possamos voltar com você quando visitar.

Drew é gente boa, e parece que seria muito bom para pesca. Nós não

conseguiremos pescar hoje, obviamente. Não temos tempo. Ele mencionou sobre

você voltar com a gente hoje. Vai ser bom ter você de volta. Você é melhor no

xadrez que Nico.

Meu corpo congelou como se eu tivesse sido mergulhada em água

gelada, mas meus olhos imediatamente cortaram a Alex.

— O quê?

— Você sabe, o avião do Quinn. Todos voamos juntos. Você vai voltar

com a gente.

Olhei para os olhos violeta de Alex por um instante, na esperança de que

tivesse entendido mal.

— Para Chicago?

Ele estreitou o olhar em mim.

— Sim... Para Chicago. Onde mais iriamos?

— Hoje?

Ele assentiu, colocando as mãos nos bolsos.

— É isso mesmo. Drew e Quinn organizaram tudo.

Exalei e senti como se meu coração deixou o corpo.

— Drew fez isso? Drew arranjou tudo?


Alex resmungou.

— Sim. Como disse, foi ideia de Drew.

Olhei para Alex, mas realmente não o vi. Foi ideia de Drew. Drew queria

que eu partisse hoje. Eu estava indo para Chicago hoje, e foi ideia de Drew.

A porta da biblioteca se abriu e chupei uma respiração assustada.

Felizmente, era apenas Jethro.

— Ash, aí está você. Como está? Nós trouxemos comida, e Drew fez um

pouco de café. — Jethro caminhou até eu e me deu um abraço rápido. — Ei, Alex.

Alex deu Jethro um pequeno aceno.

— Oi, Jethro.

— Você precisa ir se preparar. — Jethro disse para mim, e me empurrou

para fora da porta, no corredor e para o banheiro. — Você vai comigo para o

funeral. Precisamos sair na próxima meia hora, porque sabe que demora 45

minutos para chegar à cidade. O reverendo Seymour está nos esperando, e deixei

meu terno na igreja.

Em seguida, abruptamente, ele fechou a porta, me deixando sozinha

com meus confusos pensamentos e o coração partido como companhia.


CAPÍTULO 24

“Estamos com medo de nos importar muito, com medo que a outra pessoa não se

importe nada”.

― Eleanor Roosevelt

~Ashley~

Corri através do chuveiro. Isso era porque eu precisava ver e falar com

Drew e precisava fazê-lo logo que possível, senão iria perder a cabeça.

Quando estava me secando, Sandra bateu na porta e me entregou

roupas íntimas e um vestido preto. Eu sequei o cabelo, me vesti rapidamente,

apliquei um mínimo de maquiagem, sem rímel, e corri para a cozinha, apenas

para descobrir que Drew estava tomando banho no outro banheiro.

Sandra empurrou uma xícara de café para as minhas mãos e dois pastéis

dinamarqueses, envolvidos num guardanapo.

— Coma isso. Beba isso.

Concordei, olhando além dela para o corredor e a porta de Drew. Fiquei

impressionada com a realização de que nunca tinha visto o quarto dele. Nós só

dormimos no meu quarto, o quarto de hóspedes.

Eu entreguei os pastéis e o café volta a Sandra, não olhando para ela


quando passei e disse:

— Segura isto para mim um segundo, ok?

— Ah, sim. Certo. Mas tem apenas cinco minutos. — Ela chamou atrás

de mim.

Dei-lhe um polegar para cima. Quando cheguei à porta de Drew, hesitei

na frente dela, presa entre querendo entrar e saber que bater era a escolha certa.

Eventualmente eu bati. Ele não respondeu.

— Drew? — Eu perguntei, não gostando que minha voz saiu mais aguda

do que pretendia. Eu limpei minha garganta. — Drew, posso falar com você?

Ouvi-o andar por aí, uma gaveta abrindo e fechando.

— Sim, me dê um minuto.

Mais passos. Mais gavetas abrindo e fechando.

Então o ouvi chegar mais perto da porta. Coloquei as mãos na minha

cintura e depois cruzei os braços sobre o peito. Eu não conseguia descobrir o que

fazer com meus braços.

Ele abriu a porta, cerca de quatro polegadas, apenas o suficiente para eu

ver os olhos dele, que ele estava sem camisa, e que ele usava uma toalha na

cintura.

— Drew, eu posso... Podemos falar por um minuto?

Os olhos dele dispararam por cima do meu ombro e, em seguida,

voltaram para meu rosto. Ele não reagiu, mas parecia perturbado.

Senti uma pequena facada de dor no meu peito e um calor crescente no

pescoço. Soltei a respiração lentamente, tentando ter bom senso e não tirar

conclusões precipitadas, que eram pouco lisonjeiras para nós dois. Mas era difícil

não fazer. Tirar conclusões precipitadas estava em na minha composição genética.


— Drew... — Lambi os lábios, engoli em seco. — Eu realmente preciso

falar com você.

Seus olhos se moveram sobre os meus, então ele se afastou da entrada e

abriu mais a porta para que eu pudesse entrar. Ele olhou ao redor do quarto como

se estivesse procurando por algo.

— Drew, eu...

Eu não sabia por onde começar. Uma distância súbita e desconfortável

tinha crescido entre nós, aconteceu em algum momento depois que ele tinha feito

amor comigo esta manhã. Eu queria falar sobre ontem à noite. Eu queria

perguntar por que ele arranjou para eu ir embora hoje. Eu queria perguntar-lhe se

eu era a única que estava sentindo como se tivesse sido pega nua numa

tempestade.

— O que é? — Ele estava além de mim, as costas rígida e reta como se

estivesse se preparando. Seus olhos que geralmente eram vibrantes e legais

estavam cautelosos.

— Você organizou com Quinn para eu partir hoje?

— Sim.

Olhei para ele, esperando que continuasse com alguma explicação.

Quando não fez, eu pisquei várias vezes (porque piscar era meu padrão quando

eu estava confusa e frustrada). Eu não sabia o que dizer.

Talvez se estivesse no meu juízo perfeito, talvez se não fosse à manhã do

funeral da minha mãe, talvez se cada uma das minhas experiências anteriores

com a intimidade física não tivesse terminado comigo sendo descartada, eu

poderia ter pedido uma explicação.

Mas não fiz.


Eu não tinha energia.

Pressionei meus lábios juntos, acenei com a cabeça lentamente e simulei:

— Eu vejo. Bem, obrigada. Isso facilita. Acho que devo empacotar

minhas coisas.

— Sandra já fez isso. — Ele disse o rosto e tom inexpressivos.

— O quê?

— Sandra, ela já arrumou suas coisas. — Drew apertou a toalha na

cintura.

Assenti novamente e retirei os olhos dele, não querendo vê-lo. Em vez

disso, olhei em torno do quarto, não realmente notando muito. A cama era maior

que a minha. Seu caderno de couro estava na mesa de cabeceira. Ele não tinha

fotos em qualquer lugar.

Eu inalei uma firme respiração, virei e caminhei até a porta,

murmurando.

— Jethro provavelmente vai me dar maus olhares se eu o fizer chegar

tarde.

Eu estava fora da porta, no corredor e fora da casa antes de começar a

chorar. Eu não estava vendo onde ia, e quase colidi com a Sandra. Ela ainda

estava segurando meu café e pastel.

***

O funeral de mamãe foi um exercício de atravessar os movimentos por

uma questão emocional. Eu nunca fui uma fã de funerais por mais que as razões

óbvias. Das emoções, de luto, em especial sinto como algo que deve ser
intensamente privado e sagrado.

Toda a cidade apareceu na igreja. Meus irmãos e eu sentamos no banco

da frente, e não pude deixar de sentir como se estivesse em exibição.

De qualquer maneira, exceto ter que compartilhar minha dor com

algumas centenas de pessoas, foi uma bela cerimônia.

Não chorei até a Sra. Beverton, a diretora do coro, cantou o segundo

verso de Amazing Grace. Sinto que é obrigatório tocar, Amazing Grace, durante

um funeral cristão. É a única maneira de certificar-se de que todo mundo saia

chorando como um bebê.

Billy pôs o braço em volta de mim e me segurou perto, meus outros

irmãos e Drew estavam carregando o caixão. Drew se destacou do resto como o

mais alto, e era o único loiro do grupo. Tudo o que vi foi à parte traseira de sua

cabeça, quando carregavam o caixão para o carro fúnebre. Tudo que sentia era

um vazio.

Billy e eu estávamos no meio da multidão no nosso caminho para fora e

passamos tanto tempo quanto poderíamos ouvindo as pessoas recontando

histórias de bondade da minha mãe. Eventualmente, tivemos que sair da

multidão e dirigir para o cemitério a fim de chegar a tempo para o enterro.

Ao chegar, fomos conduzidos para uma tenda ao lado do local do

enterro. Billy e eu tomamos as duas últimas cadeiras na primeira fila ao lado de

Cletus e Jethro. Drew e meus três irmãos mais jovens estavam na segunda fila

atrás de nós, mas Drew estava do outro lado, quatro lugares de onde eu estava

sentada.

Disse a mim mesma que não me importava, e acho que acreditei nisso,

principalmente porque estava enterrando minha mãe. Drew, eu, nós... Realmente
não importava. Eu estava tendo um daqueles momentos nada importa, porque todos

vamos morrer de qualquer maneira.

Assisti com fascínio quando abaixaram o caixão de mamãe no solo após

algumas orações.

O reverendo Seymour então esperou que todos colocasse um punhado

de terra em cima. Eu contive-me.

Quando tudo acabou, olhei por cima do ombro e vi minhas amigas e

seus maridos em pé na parte de trás da tenda, todos em vestidos e ternos pretos.

Drew estava falando com Quinn e Fiona. Três deles pareciam estar em uma

conversa profunda. Minha atenção mudou-se para o resto do grupo, e peguei

Marie acenando e soprando-me um beijinho. Dei-lhe um sorriso agradecido.

Notei também que dois dos enfermeiros de cuidados paliativos de

mamãe estavam presentes, Marissa e Joe. Eles estavam juntos, de mãos dadas, e

ambos me deram sorrisos gentis quando nossos olhares se encontraram. De

repente percebi que Roscoe nem Billy estiveram na disputa pelo afeto de Marissa,

e me perguntei como poderia ter sido tão cega para o que estava acontecendo em

torno de mim nas últimas seis semanas.

O que mais eu tinha perdido? O que mais eu não vi?

Quando a multidão partiu para a recepção, vários dos amigos de mamãe

da biblioteca começaram a soprar bolhas sobre o túmulo.

— Naomi Winters é uma Wicca, eu acho. — Billy se aproximou e

sussurrou esta informação no meu ouvido.

— O que bolhas têm a ver com ser um Wicca?

Ele deu de ombros e balançou a cabeça.

— Honestamente não sei, mas se te incomoda...


— Não. Está bem.

Billy e eu ficamos por trás da multidão, deixamos os carros saírem e

vimos às senhoras explodir suas bolhas. Olhei para o rosto normalmente sério e

encontrei sua boca se curvando para cima em um meio sorriso.

Espontaneamente, ele disse:

— Lembra quando éramos crianças e tivemos aquela máquina de bolha?

Concordei imediatamente, recordando a memória.

— Você e Cletus a colocaram numa árvore e me disseram que as bolhas

eram fadas.

Ele sorriu, os olhos perdendo o foco.

— Você era tão fofinha. Acho que realmente acreditava em fadas,

unicórnios e todas essas coisas.

— Eu costumava fazer. — Concordei, lembrando-me fugazmente como

me sentia ao acreditar em magia.

— Acho que quando saiu, levou isso com você. — Billy disse

inesperadamente.

Olhei para ele novamente, procurando seu rosto. Não queria dizer-lhe

que quando saí, tinha enterrado aquela parte de mim, bem como tínhamos

enterramos nossa mãe.

— Você é uma boa mulher, Ash. Você merece a felicidade, unicórnios,

fadas de bolhas e arco-íris. Não se contente com menos.

Eu engoli em seco e sorri para meu irmão. Quando consegui responder,

minha voz foi áspera e desigual:

— Obrigado, Billy. Você também.

Das sete crianças, ele era o mais duro. Mas suspeitava que ele também
sentia as coisas mais profundamente.

***

A recepção foi realizada na biblioteca, e foi ai que Darrell apareceu.

Realmente, tivemos sorte. Ele poderia ter penetrado no funeral, fazendo

o dia inteiro desagradável. Para ele, foi muito atencioso esperar até o final dos

eventos do dia para fazer uma cena e tentar um sequestro.

Infelizmente para Billy e eu, éramos seus alvos.

Billy virou para o estacionamento de biblioteca, que estava tão cheio que

tivemos que parar na grama.

Saltei do carro e endireitei o vestido antes de caminhar com Billy,

quando senti uma mão agarrar meu pulso e me puxar dos meus pés. Eu teria

caído, exceto que meu pai envolveu seu braço na minha cintura, meio que me

levantando.

Engasguei e depois gritei. Ele me bateu duro no rosto duas vezes, e

minha bochecha doeu como uma picada de abelha irradiando para baixo na

minha mandíbula e ao redor do olho.

— Cala a boca, menina. Não grite com seu pai. — Ele me sacudiu

grosseiramente, me jogou contra o carro, em seguida, agarrou-me outra vez.

Na visão periférica, vi Billy correr ao redor do carro e atacar meu pai.

Antes que ele pudesse me alcançar. Um deles deu um soco no estômago, e o

outro o atingiu na cabeça com um tubo de metal de algum tipo. Ele desmaiou,

caindo de cara na grama. Ele não teve uma chance.

Medo pelo meu irmão me colocou em ação. Eu lutava nos braços do


meu pai e consegui bater no seu pé e dar uma cotovelada nas costelas. Seu aperto

soltou apenas o suficiente para eu dar uma cabeçada nele, o impacto da minha

cabeça batendo no seu nariz deu um satisfatório crack. Eu esperava que tivesse

quebrado seu nariz, porque minha cabeça doía como uma filha da puta.

Ele me soltou de uma vez, as mãos indo ao rosto. Eu gritei alto enquanto

debatia o que fazer em seguida.

Devo correr para Billy? Não. Os motociclistas estavam entre mim e meu

irmão. Infelizmente, meu pai não estava sozinho. Dois motociclistas grandes

atingiram Billy e o esforço seria inútil.

Devo procurar uma arma? Não. Eu estava à beira de um estacionamento

de biblioteca, não em um vestiário ninja.

Devo tentar fazer uma fuga para a biblioteca? Sim. Porque Darrell era o

único entre mim e o edifício, e Darrell estava ocupado xingando e gritando sobre

o nariz.

Só por precaução, o chutei na canela com minhas bicudas sapatilhas

pretas enquanto corria passando por ele. Eu estava apontando para suas bolas,

mas amarelei no último minuto.

Ouvi os motociclistas gritando atrás de mim, mas não poupei uma

olhada para ver se estavam em perseguição. Corri ao redor de um arbusto grande

e comecei a atravessar a passagem que separa o estacionamento da biblioteca

quando quase fui atropelada por um carro.

O carro desviou para não bater em mim, e falhou por pouco. Era uma

viatura policial e sentado dentro estava Jackson James. Ele estava me olhando

como se eu tivesse sido transportada do espaço.

Corri para a porta do motorista e quase o derrubei quando ele abriu.


— Jackson, preciso de sua ajuda, preciso de sua ajuda.

— Ashley, devagar, devagar. O que aconteceu com seu rosto?

— Esqueça meu rosto, você precisa vir comigo. — Eu puxei sua manga,

tentando fazê-lo mover-se para onde Darrell e seus amigos motoqueiros estavam

fazendo sabe Deus o que com meu irmão.

Jackson cavou em seus calcanhares e colocou as mãos gentis nos meus

ombros.

— Calma, sei que você de vir do funeral e deve estar muito triste, mas

você não deve correr na frente de carros.

Eu rosnei.

— Para o inferno com isso! — E peguei sua arma.

É isso mesmo, EU PEGUEI SUA ARMA.

Isso deve ter chocado o cocô fora dele, porque eu já estava ao redor do

capô do seu carro e além do arbusto quando o ouvi gritar.

— Ashley Winston! Você pegou minha arma?!

Não tinha ideia se ele me seguiu.

Corri de volta para onde o carro de Billy estava estacionado e encontrei

os dois motociclistas colocando meu irmão no portas malas, meu pai estava

encostado ao lado do carro segurando o nariz, a cabeça inclinada para trás.

Destravei a trava de segurança e apontei a arma para os motociclistas.

— Não toque nele. — Disse com aço em minha voz.

Os motociclistas, que pareciam com qualquer um dos outros

motociclistas que já vi enquanto crescia, velho, sujo, suado, barba por fazer,

barriga grande, coberto de couro, pararam, os olhos alargaram-se, movendo-se

entre mim e a arma que eu segurava.


Ao som da minha voz, meu pai olhou para cima. Perifericamente o vi

estender uma mão para mim, com a palma para cima, como se suplicando-me.

— Agora, Ashley, bebê, você precisa me dar essa arma.

Os motociclistas não se moveram de onde estavam ao lado da porta

malas, Billy estava incapacitado com a metade dentro e metade fora do carro. Eles

estavam olhando para mim e pareciam estar me avaliando.

Meu pai se moveu como se fosse dar um passo em minha direção. Por

instinto, abaixei a arma para o joelho do motociclista mais alto, mirei e disparei.

Ele caiu no chão, segurando a coxa. Eu tinha mirado muito alto.

Pelo menos, esperava que o tiro fosse obter a atenção de alguém.

Estávamos no estacionamento de uma biblioteca, pelo amor do Deus! Alguém

não deveria ter vindo por aí agora? As pessoas não leem livros?

E onde estavam todos do enterro? O estacionamento estava basicamente

cheio de carros. Não havia ninguém checando seus livros e indo para o

estacionamento agora?

— Puta merda! — Exclamou o motociclista mais baixo. Para calar a boca

dele, levantei a arma e a apontei para ele:

— Você se afastará do meu irmão ou farei de você um eunuco.

Ele assentiu com a cabeça, e levantou as mãos em rendição.

— Claro, querida.

— Não me chame de querida!

— Bem, bem. Só me deixe pegar meu irmão aqui e vamos sair do seu

caminho. — O motociclista mais baixo se arrastou para seu compatriota caído,

que estava xingando e gritando.

Assisti os dois com os olhos apertados, à procura de movimentos


bruscos.

— O que diabos está acontecendo? — Ouvi a exclamação de Jackson

emparelhada com o bater de seus passos na calçada. Obviamente, ele não tinha

vindo atrás de mim até que ouviu o tiro. Ele era talvez o pior policial na história.

Não tirei meus olhos dos motoqueiros.

— Jackson, você se lembra de meu pai, Darrell? Bem, ele e seus amigos

saltaram sobre Billy e eu e como pode ver, eles já carregaram Billy no porta-malas

do carro dele, e acho que estavam tentando fugir conosco.

A capacidade do meu pai de falar suavemente foi inibida por seu nariz

quebrado.

— Agora, isso não é verdade. Vim prestar a minha homenagem e Billy,

ele...

— Billy se nocauteou e aterrissou no porta-malas? — Jackson perguntou,

a voz atada com sarcasmo.

Jackson pode ter sido um policial terrivelmente negligente, mas conhecia

a história da minha família. Ele usou o rádio no ombro para pedir reforços, e

podia sentir seus olhos em mim. Achei curioso que ele ainda não tentou pegar a

arma das minhas mãos.

Quando ele terminou de falar da situação em seu rádio, ele pegou um

par de algemas no cinto e disse enquanto passava por mim.

— Cubra-me.

Então, andou direto para meu pai e começou a ler seus direitos. O

motociclista mais baixo foi o próximo, então o mais alto. Dos três, Darrell

reclamou mais alto e gritou sobre brutalidade policial.

Jackson estava algemando o homem que levou um tiro quando ouvi o


som de pessoas se aproximando.

Meus olhos piscaram para o lado e fiz uma pausa, quase largando a

arma. Alívio fluiu por mim rápido e quente.

Jetro veio na frente e entrou numa corrida, quando me viu. Drew, Quinn

e Duane estavam logo atrás.

— Ashley, o que está acontecendo? O que está fazendo? — Jethro

diminuiu enquanto se aproximava, os olhos saltando ao redor da cena como uma

bola de pingue-pongue. Quinn retirou uma arma da parte de trás das calças do

terno, acenou para mim e anunciou sua presença para Jackson.

Drew, no entanto, caminhou direto para mim, nunca desacelerou,

segurando meus olhos o tempo todo, e colocou a mão por cima da minha, com

fluidez levando a arma do meu aperto. Ele colocou a trava de segurança com o

polegar e envolveu um braço na minha cintura.

— Você esta bem? — Sua mão livre se moveu sobre meu corpo como se

estivesse procurando lesões.

Eu acenei, olhando para ele.

— Sim... Estou bem.

Ele colocou uma mão no meu queixo e virou meu rosto, os olhos

atirando fogo, a mandíbula apertada quando olhou meu rosto e olhos.

— Você vai ter um olho roxo.

Pisquei pra ele e percebi que provavelmente estava certo. Meu olho

direito devia estar muito inchado, porque já estava tendo problemas para ver com

ele.

— Ouvimos um tiro. — Explicou Quinn. — Quem disparou? Quem foi

baleado?
Jackson falou antes que eu pudesse.

— Eu disparei. Atirei neste. — Ele apontou para o motociclista com a

ponta da sua bota. — Eu entreguei a arma para Ashley para ela me dar cobertura

para que eu pudesse prender os três.

— Qual deles te machucou? — Drew perguntou com os dentes cerrados.

Estudei-o através do meu olho bom.

— Isso importa?

— É importante para mim.

Minhas próximas palavras ecoaram o que pensei o dia todo e saiu da

minha boca antes que eu soubesse que ia dizer.

— Por quê? Não sou mais problema seu.

Drew vacilou, a mão caindo do meu rosto, e se inclinou para trás como

se eu tivesse o empurrado.

— O que há de errado com Billy? — Duane foi para o porta-malas do

carro, inclinando-se sobre seu irmão.

Afastei-me de Drew e imediatamente perdi o breve oásis de conforto

oferecido, conforto que tomei estupidamente, mesmo que ele nunca precisou ou

esperou algo de mim em troca. Caminhei para Billy para ver o que poderia ser

feito por ele antes da ambulância chegar.

Jackson andou até Drew, na minha visão periférica, eu o vi estender sua

mão para fora quando disse.

— Você pode devolver minha arma agora.

— Ei. — Duane estava de pé ao meu lado. — O que aconteceu com você?

— Me machuquei. — Meus dedos estavam na parte de trás da cabeça do

Billy, sondando para sinais de hemorragia, eu respondi sem me virar. — Mas, não
se preocupe, eu vou me recuperar.
CAPÍTULO 25

“Eu aprendi que estar com aqueles que eu gosto é o suficiente”.

― Walt Whitmam

~Ashley~

O tempo cura todas as feridas. Tempo é essencial. O tempo é curto. O

tempo está ao meu favor.

Mentiras.

Tudo mentira.

O tempo é o inimigo. O tempo estava jogando pelo outro time. O tempo

se estende como um deserto sem fim. A única coisa que o tempo faz é cambalear

como um marinheiro bêbado e lhe dar rugas. E sífilis.

Verão virou outono, outono gerou inverno, e o inverno gerou sete mil

pés de neve em Chicago, mais ou menos seis mil, novecentos e noventa pés. E só

na última semana de novembro.

Felizmente para mim, era minha vez de sediar a noite do tricô, e tinha o

próximo dia de folga. Isso significava que quando chegar em casa, não teria que

me aventurar na neve e no vento uivante e dirigir por trinta e seis horas. Eu

poderia me vestir no meu pijama térmico e ficar bêbada.


Mas eu não iria ficar bêbada. Não gosto de como me senti quando fiquei

bêbada, como perdi o controle enquanto bebia além da razão. Fiz isso uma vez

desde que voltei do Tennessee e tive que ser contida fisicamente de fazer uma

ligação-bêbada para Drew.

Não foi bonito. Enquanto estava embriagada, eu derramei toda a história

e meus amigos forneceram sete ombros para eu chorar.

Sandra, Nico e Fiona eram enormes defensores de Drew no início. Não

me pressionaram exatamente, mas usaram todas as oportunidades para

sutilmente sugerir que deveria entrar em contato e ser honesta com meus

sentimentos.

Eu não podia. Continuava imaginando o rosto dele, gentilmente me

deixando para baixo. Quando joguei a cena na minha cabeça, eu era aquela pobre

garota Jennifer, que ouvi as mulheres murmurando na sessão de jam, toda

arrumada no vestido amarelo e carregando um bolo de banana para um homem

que provavelmente poderia ser doce e ninguém sabia o que era isso. Ele iria me

dizer como eu era bonita, rosto bonito, belo pedaço de bunda, sotaque brega, mas

que não precisava de nada meu.

Ele foi sincero desde o início sobre não precisar de mim. Eu não podia

culpá-lo por isso.

Uma vez que os três perceberam que a única coisa realizada por suas

dicas sutis era meu silêncio e uma brecha crescente entre nós, eles pararam.

Agora nós, eu e meu grupo de tricô, coletivamente o chamamos de Dr.

Ruinous2. Observe a adição do 'i'.

Sandra pensou no apelido. Acho que foi sua oferta de paz, uma forma
2
Em ruínas, arruinado.
de mostrar que estava do meu lado. Ainda assim, eu raramente discuto sobre ele.

Em vez disso, eu calmamente marinava meus sentimentos. Quando meus amigos

trouxeram a tona o silêncio incomum durante nossas noites de tricô, eu atribuía a

persistente dor causada pela doença e morte de minha mãe, o que era verdade,

em grande parte.

Sinto falta dela todos os dias, e não sabia como chorar abertamente e em

voz alta.

Portanto, eu escapava nos livros, mas evitei ler romances. Eu não preciso

ler qualquer felizes-para-sempre. Em vez disso, decidi me contentar em estar com

as pessoas que gosto.

Quando cheguei em casa do trabalho na terça-feira, Kat já estava lá. Ela

nunca devolveu a chave do meu apartamento, e nunca pedi de volta.

— Ei! — Ela chamou da cozinha. — Espero que não se importe, eu parei

e peguei sopa wonton e eggrolls para o grupo. Estou usando sua única panela

para mantê-los quente.

Não pude evitar o meu sorriso.

— Eu tenho mais de uma panela.

— Não, não. Você literalmente tem uma panela. A propósito, peguei seu

correio. Esta na mesa do café. Você tem um pacote.

— Um pacote, é? — Fiquei intrigada, minha mãe costumava me mandar

pacotes com frequência antes de sua morte. Não tive nenhuma segunda fonte de

pacotes que não fosse das lojas de Internet.

Tirei minha roupa de inverno, botas, chapéu, luvas, cachecol, outro

cachecol, casaco externo, casaco interno, um terceiro cachecol, suéter, e caminhei

até a mesa do café, deixando minhas meias de lã. O pacote era realmente um
envelope grande, acolchoado. Não tinha nenhum endereço de retorno e o

carimbo indicava que foi enviado de Franklin, na Carolina do Norte.

Não conhecia ninguém na Carolina do Norte. Pelo menos, não me

lembro de conhecer alguém em Franklin, Carolina do Norte.

Juntei uma respiração profunda e comecei a abri o pacote, mas fui

interrompida pelo interfone externo.

Enfiando o envelope debaixo do braço, corri para o alto-falante e apertei

o botão.

— Quem é?

— Deixe-nos entrar! Estamos congelando nossas tetas aqui. — A voz de

Sandra estava distorcida e envolta em estática.

— Ok, deixe-me apertar o botão. — Respondi. Apertei o botão e

acrescentei. — Vou deixar a porta aberta, então pode entrar quando chegar.

Entrei na cozinha para verificar a sopa. Kat deve ter comprado no

General Tso's. Ele colocaram o baby bok choy na sua sopa de wonton e usavam

camarão e carne de porco.

— Que cheiro bom.

— Sei você gosta da sopa do General Tso's. — Ela me deu um sorriso

tímido, a maioria dos sorrisos de Kat era tímido, e puxou uma garrafa de vinho

de ameixa. — E escolhi este.

— Ah, legal. Vou abri-lo. — Coloquei o pacote fechado no balcão da

cozinha e procurei o abridor de garrafa. Kat e eu conversamos recentemente sobre

compartilhar um apartamento para economizar no aluguel. Depois do Natal,

planejávamos finalizar os detalhes. Originalmente, planejei ir ao Tennessee para o

feriado, mas quando a data se aproximou, estava pensando seriamente em ficar


na cidade e fazer turnos extras, que era geralmente muito lucrativo. Além disso,

não gosto particularmente da ideia de estar na casa da minha mãe sem ela.

Também, tinha a questão do Dr. Ruinous que era um besouro rola-bosta sempre

presente na minha torta.

No entanto, realmente sentia falta dos meus irmãos. O pensamento de

passar o Natal sem eles era inaceitável. Eu me perguntei se poderia convencê-los

a me encontrar a meio caminho entre Chicago e Green Valley, ou talvez apenas

uma ou duas horas em casa.

Ouvi o barulho da porta abrindo seguido pelo grito de Elizabeth.

— Somos nós: Janie, Sandra, Nico e eu.

— Quinn e Alex podem vir mais tarde. — Janie anunciou.

— Está mais frio que as bolas de Satã lá fora! — A voz de Sandra rugiu

no corredor. Kat e eu compartilhamos um sorriso e revirei meus olhos.

— Bem, vêm e tire as roupas. — Gritei de volta.

— Eu não posso. Nicoletta está com a gente.

— Não me deixe te impedir. — O tom de provocação do Nico fez-me rir.

— Não é você, Nico. — Ouvi a voz de Janie responder fora da cozinha.

— É Alex e Quinn. A última vez que desistimos de tricotar inesperadamente e

tivemos uma festa de dança de calcinhas, demorou vinte e seis dias de intimidade

física constante antes dele começar a relaxar novamente.

Nico riu.

— Porque foi uma festa mista?

— Honestamente, não. Não acho que ele estava com ciúmes... — Janie

entrou na cozinha, parando para dar a Kat e eu um abraço.

— O que foi então? — Perguntei, curiosa.


Janie pressionou os lábios juntos, os olhos ampliaram quando me olhou

por um longo instante. Abruptamente, inclinou-se e sussurrou no meu ouvido.

— Eu acho que o excitava.

Dei uma gargalhada e cobri a boca.

— Oh, meu Deus. Por todos os meios, devemos manter nossas roupas.

Sandra entrou na sala, ainda removendo as camadas de roupa.

— Sim, não é uma boa ideia. Alex não podia tirar as mãos de mim por

meses depois. É como se eu fosse o Alex-catnip.

Não pude deixar de sorrir para Sandra. Onde Janie sussurrava

informações íntimas, Sandra colocava tudo para fora. Pareceu-me que elas eram

um perfeito yin e yang. Janie era excessivamente detalhada sobre informações

triviais e fazia os estranhos desconfortáveis com seus fatos aleatórios, enquanto

Sandra era incomparável em ambientes sociais. Ela sabia exatamente o que dizer

e quando dizer, quando colocava sua mente para funcionar.

Com seus amigos, Sandra era a rainha de TMI pessoal, enquanto que

Janie nunca falava de assuntos pessoais, a não ser que fosse pressionada ou

cutucada.

— O que cheira bem? — Nico pairou na porta da cozinha, os olhos

brilhando, sobrancelha levantada, sorriso de menino no lugar.

Levei meses para me acostumar com Nico, talvez até um ano. Eu

definitivamente tinha uma pequena, e muito benigna, queda por ele. Na verdade,

estava bastante certa de que todas tinham. Não importava o fato de que era uma

celebridade, ele tinha níveis perigosamente antinaturais de carisma. Era como ter

uma queda por uma nebulosa ou uma pintura, você só queria olhar para ele.

Com o tempo, no entanto, a sensação e sentimentos tornaram-se


semelhantes as garotas que tive com o resto das senhoras no tricô. Admirava-o,

gostava de sua companhia e desejava-lhe felicidade em todas as coisas.

— Kat pegou sopa de wonton e eggrolls para jantar. — Eu expliquei.

— Obrigado, Kat! — O grupo ecoou este sentimento grato, e Kat abaixei

a cabeça, com o rosto tornando-se rosa. Desde que eu e ela começamos há passar

mais tempo juntas, tinha notado que ela não aceitava elogios ou felicitações muito

bem. Eu teria que começar a enchê-la com comentários sobre o quão incrível era.

— Não é grande coisa. — Ela dispensou sua gratidão.

— Ei, Ashley, o que é isto? — Sandra entrou na cozinha já lotada e

pegou o pacote que eu tinha deixado em cima do balcão.

Tirei várias taças de vinho do armário.

— Oh, não sei. Acabou de chegar.

— Posso abri-lo? — Ela perguntou. — Sabe como eu amo abrir a

correspondência de outras pessoas. É tão irritante que isso seja crime.

Dei de ombros.

— Certo.

Ela começou a rasgar o pacote enquanto eu enchia as taças com vinho de

ameixa.

— Preciso de alguns conselhos. — Anunciou Janie. Ela inclinou-se contra

a mesa da cozinha, os braços dobrados, seu rosto bonito marcado por uma

carranca pensativa.

— O que foi, botão-de-ouro? — Elizabeth se espremeu na cozinha e

levou as taças do balcão para a mesa.

— Não sei o que comprar para Quinn no Natal.

— Você, com um laço. — Nico disse inexpressivo. — Talvez esqueça o


laço.

— Não, quero dizer, reduzi para duas coisas. Preciso de ajuda para

decidir entre as duas.

— Quais são? — Sandra perguntou quando puxou um pacote retangular

embrulhado num jornal do envelope. — Por que não fazer-lhe alguma coisa?

— Bem, eu já fiz para ele aquele chapéu e cachecol. Então, já foi.

— E é preto com um cinza muito escuro, então sabe que ele vai adorar.

— Elizabeth disse com algum sarcasmo.

Tivemos uma piada de que Quinn era na verdade o Batman.

Janie assentiu com a cabeça, tanto porque concordou e entendeu a piada.

— Mas as outras duas coisas são um pouco complicadas. Eu também

posso fazer seus pais voarem para cá no Natal, ou acho que consigo que sua irmã

venha.

— Mas não ambos. — Kat, afirmou, a voz quente com simpatia e

compreensão.

Janie suspirou.

— Seus pais ficariam bem com ver sua irmã, mas acho que Shelly não

viria se soubesse que os pais dele estavam lá. Ela ainda tem... Problemas.

Escutei a conversa com interesse porque espelhou minha situação. Eu

queria ver meus irmãos no Natal, mas não queria enfrentar Drew. Gostando ou

não, meus irmãos o consideravam uma parte da família. Na verdade, ele era uma

parte da família, especialmente depois de tudo que fez por nós, para minha mãe,

para mim.

Ouvir a luta de Janie com a situação me fez perceber o quão egoísta fui

sobre a coisa toda. Não queria que meus irmãos escolhessem entre nós. Eu não
era aquela pessoa. Minha mãe me criou para ser melhor. Só tinha que achar uma

maneira de não precisar de nada de Drew, assim como ele não precisava de nada

de mim.

Limpei minha garganta, pronta para dizer a Janie que deveria convidar

os dois, a irmã de Quinn, Shelly e seus pais, mas então Sandra engasgou.

Eu estava no meio de servir um pouco de vinho, então lhe dei um olhar

superficial.

— O que é?—

— Oh! — A exclamação de surpresa de Elizabeth veio a seguir.

Para isso, coloquei a garrafa para baixo e andei para onde Sandra

mantinha o conteúdo do envelope, mas Elizabeth estava bloqueando a minha

visão.

— O que é? — Perguntei, insinuando-me entre elas para poder ver sobre

o que era a excitação.

Então, eu vi.

— Oh... — Exalei, meus olhos se movendo sobre o objeto nas mãos de

Sandra.

Era o caderno de couro de Drew, o que ele carregava no bolso, sempre

parecia estar escrevendo e nunca andava sem. Imediatamente reconheci os

símbolos nórdicos na frente. Mas estava chamuscado, a capa estava queimada

como várias das páginas. As bordas estavam negras e frágeis, mas, diferente da

capa, estava quase inteiramente intacto.

Sandra estendeu para mim, os olhos arregalados.

— Drew mandou isso?

Eu balancei a cabeça, não pegando o caderno.


— Eu... Eu não sei.

Não podia acreditar nos meus olhos. Eu queria estar irritada ou

obstinada, mas não estava.

Elizabeth colocou as mãos nos quadris.

— Ele esta bem? Por que isto está queimado? — Pegou o envelope e

deu-lhe uma inspeção mais atenta, ela acrescentou. — O carimbo é de Franklin,

na Carolina do Norte. Ele se mudou para lá?

Dei de ombros, levantando minhas mãos para cima, os olhos colados no

caderno.

— Eu não sei. Não faço a menor ideia. Não falei com ele desde o funeral

de minha mãe.

As últimas palavras que disse a ele foram não sou mais seu problema.

Eu não conseguia superar Drew até que comecei a não gostar dele. Não

ia ser capaz de perdoar e esquecer.

Isto não ia ser uma daquelas relações onde podíamos ser amigos. Ele

cortava muito profundo com suas boas intenções, para não mencionar nossos

breves interlúdios de perfeita química.

A raiva era essencial, porque caso contrário, era tremendamente triste.

Amargura e raiva forneciam energia cultivável, algo em que se concentrar, algo

pelo qual trabalhar. Tristeza, simplesmente me deixava à deriva.

Mas agora, o pavor agarrou meu peito enquanto eu estudava o livro,

meu estômago enrolado num nó com a visão da tampa carbonizada. Este livro

tinha estado num incêndio.

Esfreguei meus dedos sobre o peito... Porque meu coração parecia que ia

saltar das costelas. Sem aceitar o caderno, sai da cozinha e corri para meu celular.
Eu hesitei por um minuto, em seguida, decidi chamar Jethro, no caso de Drew

estar vivo e bem e eu estivesse exagerando.

Seu telefone foi direto para a caixa postal. Liguei duas vezes mais.

Ambas às vezes foi direto para o correio de voz.

Então liguei para Drew. O dele foi direto para o correio de voz.

Então liguei para Billy. Ele atendeu no terceiro toque.

— Ei, Ash. O que foi? — Eu sabia que ele estava ainda no trabalho,

porque podia ouvir os sons reveladores das serras em segundo plano.

— Billy! Tentei ligar para Jethro e Drew. Nenhum deles atendeu. Eles

estão... Está tudo bem?

— Sim, tanto quanto sei. Eles estão na Carolina do Norte nessa

Appalachian trekf por duas semanas. Jethro vai voltar sexta. Eles desligaram os

telefones, porque não há nenhuma área onde estão, mas têm o telefone via satélite

para emergências. Esta provavelmente fora para salvar a bateria.

Carolina do Norte.

— Eles estão juntos?

— Sim. Por quê?

— Quando foi a última vez falou com algum dos dois?

— Uh, esta manhã. Ei, você ainda vem para o Natal? Jethro disse para

não contar com você este ano.

Eu dei um grande suspiro de alívio, a tensão em meu peito aliviando.

— Sim. — Eu balancei a cabeça, mesmo que ele não pudesse ver. — Sim,

claro que ainda vou para o Natal. Eu disse que estaria. Vou estar lá.

Para Billy, sua resposta soou quase alegre.

— Oh. Bom. Cletus irá fazer gemada alcoólica.


— Ugh, isso soa nojento. — Eu ri, minha cabeça bateu na parede quando

fechei os olhos. Meu cérebro ainda estava descendo do arranha-céu de

preocupação.

— Escuta, vou falar com você mais tarde. Eu tenho que voltar ao

trabalho. Quer que eu diga algo a Jethro?

— Não. Não é nada. Eles voltam na sexta?

— Jethro volta sexta-feira, sim.

Nos despedimos e olhei para a tela do telefone depois de desligar,

absorvendo as informações que Billy acabou de me dar. Eu me tornei ciente de

uma presença no meu cotovelo e olhei à direita. Todos estavam pairando em

volta de mim. Suas expressões tensas.

— Então? Está tudo bem? — Elizabeth perguntou.

— Sim. Jethro e Dr. Ruin... Drew... Estão fazendo uma caminhada na

Carolina do Norte. Os telefones estão desligados. Billy conversou com Jethro essa

manhã.

— O envelope foi enviado antes de ontem. — Elizabeth ergueu-o como

se fosse à prova. — O fogo que queimou o livro aconteceu antes de ontem, Jethro

e Drew devem estar bem.

— Se estivessem feridos, Billy saberia.

Sandra estendeu o caderno para mim.

— Ashley, acho que ele deve ter enviado isto por uma razão.

Olhei de relance para o livro queimado, em seguida, encontrei seus

olhos verdes, arregalados com preocupação sincera. Juntei uma respiração

profunda antes de responder.

— Eu não... — Balancei a cabeça. — Não sei como me sinto sobre isso.


— Por que não começa olhando para ele? — Ela o estendeu.

Eu não o peguei. A respiração profunda que tomei foi insuficiente, então

fui para o sofá e sentei. Notas de campo. Isso era o que Drew disse que escrevia no

livro. Sandra me seguiu e sentou-se à mesa de café na minha frente. Ela pegou a

minha mão direita e colocou o caderno nela.

— Ele mandou isto para você. Não precisa lê-lo, mas agora pertence a

você. Tem que pega-lo.

Concordei, segurando, mas não olhando o livro. Eu não estava pronta

para falar, ainda não. Eu não sabia de meus próprios pensamentos. Sandra

pareceu sentir isso porque levantou-se abruptamente e caminhou para a cozinha.

— Onde está Marie e Fiona? — Ouvi Elizabeth perguntando, e o assunto

foi oficialmente mudado. Meus amigos me deixaram sozinha com o caderno

queimado de Drew.

Escutei sua discussão na outra sala, os sons que faziam se reunindo em

torno de minha mesa de jantar. Eu amava seus ruídos, seus risos. Sentia-me em

casa, com conforto, satisfação e segurança.

As minhas emoções eram um estouro de conflitos quando olhei para o

caderno em minhas mãos. Escovei meus dedos sobre o couro quebradiço e

carbonizado. Ele estava coberto de Ash3.

3
Cinzas.
CAPÍTULO 26

“Se você ler o diário de outra pessoa, você terá o que merece”.

― David Sedaris

~Ashley~

Era 06:14 e eu estava acordada.

Na verdade, não tinha ido dormir.

Depois que meu grupo de tricô saiu, passeei no apartamento, limpando,

arrumando, ligando a TV, desligando a TV, tentando ler The Brothers Karamazov e

falhando, mas para ser justa, só li os The Brothers Karamazov porque sou um pouco

masoquista.

Tentei dormir, mas não consegui.

O caderno repousava sobre a mesa do meu quarto. Ele parecia zangado.

Sua presença é parecida como um guaxinim raivoso empoleirado na borda do

deserto, pronto para pular para frente para me atacar até que eu sucumba à

loucura.

Percebi nas primeiras horas da pequena manhã que ignorar o caderno

era inútil. Portanto, em torno das 02:30, me rendi à loucura e abri uma página

aleatória perto da frente. Na página tinha um poema:


Para Ashley

Eu espero que o homem,

Você é mulher

Resplandecente

Resiliente

Refinada

Eu viro

Antes de você ver

A maneira

Que me afeta

Era lindo, simples e triste. O próximo eu reconheci, e isso me fez

suspirar, pensando no dia que eu o ouvi pela primeira vez.

Para Ashley

O Fogo queima azul e quente.

A sua luz não me cega.

O cheiro de fumaça é satisfatório, sabor nutritivo para minha língua.

Eu acho que o fogo não tem idade, nunca se é velho e ainda não é mais jovem.

Carvões de manhã é lega, a luz do dia me deixa cego.

Eu amo o fogo mais por causa do que ele deixa para trás.

Então, li outro, depois outro. Em breve, uma hora tinha passado e eu


ainda estava lendo. Algumas passagens eram poemas, outras eram cartas. Eu

saltei sobre aquelas que não eram dirigidas a mim e fiquei surpresa ao descobrir

que em direção ao centro do livro, todos os poemas e cartas começaram com o

meu nome.

Ashley Austen Winston,

Você não sabe quão profundamente corta quando suas intenções não carregam

facas.

Ash,

Quando você chorou, eu aprendi que impotência tem gosto. Porque tudo o que

podia fazer era engolir.

Ash,

Eu quero dar-lhe um livro para que eu possa assistir você lê-lo. Seus lábios se

movem. Eu os observo enquanto te assisto. Eu quero que fale comigo. Quero seus lábios se

movendo para mim.

-Drew

Para Ashley —

Você é meu doce

Doce para provar, doce para ver

Desejos permanecem até

Seu corpo rodeia, consola e inflama

Sua pele de veludo, seu cabelo de seda


Sua língua de mel.

Ash,

Seus lençóis, ainda é uma pilha branca em cima da mesa, sei que o despeito me

impede de lavá-los. Você deixou uma impressão, rugas profundas onde encostou a cabeça,

onde eles embalaram seu corpo. Foram apenas três dias, mas memorizaram seu cheiro, eles

me levam até sua quietude.

Eles eram muito gentis? Seu toque era muito leve? Você se lembra como se

sentia quando eles te seguraram você? Ou nunca guardou na memória?

Eu fui gentil demais? Meu toque era muito leve? Você se lembra como se sentia

quando te segurei? Ou nunca guardou na memória?

-Drew

Ashley,

Eu peguei um urso hoje na nova armadilha. O levaremos a cem de milhas ao

norte. Isso é cem milhas mais perto de onde você está. Decidi que as unidades e medidas de

distância são besteiras. Com você há apenas duas distâncias que importam:

Aqui.

Não aqui.

Você não está aqui.

-Drew

Querida Ashley,

Estive lendo seu E. E. Cummings. Eu ouço sua voz na minha cabeça quando
leio as palavras, e é um tipo peculiar de tortura. Não consigo parar de fazer isso. Amo sua

voz, mesmo quando é um tipo peculiar de tortura. Sinto falta de você de uma forma que as

palavras me falham. Elas são tão inadequadas e vazias como eu sou.

Eu me pergunto, você gostou de seu corpo quando estava com o meu? Você

carrega meu coração com você (em seu coração)? Ele fala sobre esculpir lugares, mas não

sinto que me foi dada uma escolha. Eu não afastei nada. Eu não abri nenhum espaço para

você.

No entanto, você chegou. Eu vi você. Você falou. Foi só isso. Eu não desisti de

nada, mas perdi tudo.

-Drew

Querida,

Esta noite o silêncio parece um grito. Se estivesse aqui, nós poderíamos afastá-

los com nossos sussurros.

-Drew

Ash,

Fui até o nosso campo hoje.

Estava frio e as flores sumiram.

Toda a cor está ausente.

Você as levou quando partiu?

Por que você faria isso?

-Drew

Para Ashley —
Sua indiferença parece o fim

De uma vida sem sentido

Uma vida sem ser

Deve, eventualmente, parar

Senão o ser

Perde a sua vida

Para Ashley —

Se eu te dissesse que te amo agora

Quantos segundos levariam

Quanto tempo você permitiria

Tudo o que eu sou está quebrado

Eu me afasto

Antes que você possa ver

O quanto eu preciso de você para ficar

Comigo...

E então passei as próximas horas sentada na minha mesa, debruçada

sobre as notas de campo de Drew, as lendo mais e mais. No começo, tentei

manter uma distância emocional das palavras, de seus pensamentos, da

profundidade das emoções que tinha escondido tão magistralmente durante

nosso tempo juntos.

Ele podia não ser bom em brincar de faz de conta, fingindo ou

mentindo, mas era muito bom em se esconder.

Chorei algumas vezes, manchando a pele sob os olhos com a fuligem


dos meus dedos. A cadeira ficou desconfortável. Eu ignorei a dor, estranhamente,

sentindo como se fosse merecida.

No final, minha alma foi movida. Não havia nenhuma outra maneira de

descrever. Ler os pensamentos de Drew era como ser catapultada para o céu

contra minha vontade. Ele me amava, ou então tinha escrito. Ele precisava de

mim, mas nunca disse isso. Nunca em voz alta.

Eu refleti sobre nosso tempo juntos, vendo as coisas mais claramente

através dessa nova lente, e embora ele nunca disse as palavras, percebi que tinha

me mostrado em 1 milhão de maneiras diferentes. Com cada olhar, abraço, a

necessidade desesperada de arcar com meus fardos, ele estava me dizendo que

me amava.

Virei à página para alguns dos meus favoritos, os que me fizeram sentir

que poderia desmaiar com a enorme alegria. Mas quando relia as passagens, um

balão de dúvida sutilmente trabalhou seu caminho para a minha consciência, e

amarrado nele estavam perguntas.

Por que ele tinha se escondido? Por que me afastar? Por que não lutar

por mim? Ele não era covarde.

Ele era o homem mais corajoso que conheci. E por que enviá-lo para

mim agora? Com nenhuma explicação, nenhuma carta, nada.

E por que diabos parecia que ele tinha tentado queimá-lo?

Inquietação que me agarrou. Eu precisava falar com ele. Eu precisava

vê-lo, mas sabia que não era possível.

Ver suas palavras em preto e branco, tinta em uma página, escrito em

sua mão, fez-lhes sentir real para mim. Talvez mais real do que se ele tivesse dito

em voz alta.
Estimulada por este pensamento, peguei uma caneta e um pedaço de

papel e comecei a escrever uma carta.

Meu Drew,

Eu te amo. Te amo desesperadamente. Não tenho seu jeito com as palavras. Se

pudesse, eu escreveria a você poesia. Em vez disso, você terá que se contentar com meus

pensamentos ao acaso e explicações pelo meu comportamento.

Eu sinto muito que tenha sido cega, que não entendi a extensão dos seus

sentimentos. Não te vi claramente, e a culpa é minha.

Quando estávamos juntos, quando nos conhecemos, eu admito que estava num

nevoeiro. Eu estava cega para tudo, exceto própria dor e luto por minha mãe antes de sua

morte. Durante aquelas seis semanas, eu estava focada em fazer que cada momento

contasse. Ela era minha mãe e eu a amava, eu a amo e não conseguia ver além do meu

próprio sofrimento e tristeza.

Isso não é uma desculpa. É a verdade.

Independentemente disso, sinto que sou uma daquelas estúpidas invejáveis

heroínas de histórias românticas. As que foram atingidas com um pau de baunilha tolo,

desprovidas de personalidade e cegas para o presente ante elas. Eu estava condenada a

vagar na ignorância até as últimas trinta páginas do livro.

Parte de mim está torcendo ativamente contra meu próprio final feliz, porque o

herói fictício merece alguém melhor do que uma garota que é cega para seu amor e

devoção.

Mas isto não é um romance. Sou péssima em design de interiores. Nem sempre

cubro as tampas do assento de tecido quando estão disponíveis em banheiros públicos (às

vezes estou com pressa, ou estou me sentindo preguiçosa), mas sempre lavo as mãos.
Acordo com hálito matinal e frequentemente faço escolhas de moda pobres. Eu

leio muito, como muito cookies e tenho um problema com novelos (significado, tenho mais

novelos do que poderia tricotar em objetos acabados; não há nenhuma maneira que vou

usar todos antes de morrer, no entanto, ainda vou comprar mais. Eu provavelmente

necessito de intervenção). Eu também possuo apenas uma panela.

Eu sinto que é importante você saber essas coisas sobre mim, porque não sou

perfeita.

Eu tiro conclusões precipitadas. Sou um pouco crítica (algo que estou

trabalhando). Sou covarde e não digo às pessoas como me sinto a menos que seja

empurrada além de minhas dúvidas. Eu odeio minha aparência porque pareço com meu

pai.

E entendo que você não é um bilionário alfa atormentado por tédio. Irrita-me

que deixa suas meias por toda a casa. Eu não acho que meias sujas irão ajudar num

apocalipse zumbi.

Além disso, pra que é a ketamina debaixo da pia no banheiro? É assustador.

Também acho irritante quando diz o que faz ou falar com os meus irmãos sem

primeiro falar comigo, como arrumar para eu voar de volta no dia do funeral, isso

realmente me irritou. Você assume muitas responsabilidades para si. Por que faz isso? Por

que insiste em carregar o fardo para todos?

Você não entende que preciso que você precise de mim? Como posso dar se você

não vai pegar?

Além disso, você pode não ser bom em brincar de faz de conta, mas você é um

mestre da evasão. Trabalhe nisso.

Gostaria de saber se ficou em silêncio por tanto tempo porque temia minha

rejeição? Ou talvez temesse que eu cresceria e iria me ressentir por você ter me pedido
para ficar em Tennessee? Independentemente disso, entendo que também é imperfeito. Eu

entendo que é corajoso, mas você é humano e não imune ao medo.

Eu entendo que sente as coisas profundamente, talvez tão profundamente que os

sentimentos se tornam paralisantes.

Entendo isso sobre você e ainda te amo desesperadamente. Eu te amo além da

razão. Quero estar com você agora. Eu quero viver você.

Amor, Ash

Não me dei tempo para pensar sobre o que tinha escrito.

Dobrei a carta, coloquei em um envelope, colei um selo, escrevi o

endereço, surpreendendo-me, quando sabia de cor, e corri escadas a baixo para

enviá-lo. Eu a coloquei através da abertura do correio e a assisti flutuar até que

caiu sobre uma pilha de outras cartas.

Olhei para a caixa de correio durante vários minutos. Eu me perguntava

se qualquer uma das outras eram de amor.

Lentamente, fiz meu caminho de volta para meu apartamento. Quando

alcancei o segundo piso, permiti-me pensar sobre a carta. Os pensamentos dentro

eram dispersos e provavelmente mal organizados, mas todas as palavras eram

verdade e isso é o que mais importava. Honestidade.

Foi só quando entrei na casa e fechei a porta que me ocorreu que Drew

pode não escrever de volta. Talvez Drew enviou o caderno porque seguiu em

frente. Talvez foi sua maneira de me libertar, deixar-me ir.

Pensei isso por um minuto, em seguida, rejeitei. Se Drew me enviou o

livro, foi porque queria que eu lesse. Ele queria que eu soubesse seus sentimentos.

Ele queria me responder. Talvez tivesse esperado os dois meses porque queria me
dar mais tempo para lamentar minha mãe. Tempo para me curar. Tempo para

ver.

Concordei com esta linha de pensamento, na verdade, saltei sobre essa

linha como um vagabundo pulando no trem do amor.

Meus passos eram mais leves, enquanto caminhava para o quarto.

Peguei o caderno de Drew, no caminho para a cama e o coloquei na minha mesa

de cabeceira.

Olhei sonolenta para a capa de couro queimada, quando peguei no sono,

imagens de Drew, eu e o nosso futuro como vagabundos pulando-no-trem-do-

amor encheram meus sonhos.


CAPÍTULO 27

“Os homens confiam por arcar com há rejeição. As mulheres confiam pela

espera”.

― Carolyn McCulley

~Ashley~

Eu não comecei a entrar em pânico até o final da terceira semana de

dezembro.

Drew não respondeu. Depois de uma semana, escrevi-lhe outra carta.

Esta passou por vários rascunhos e era uma carta de amor adequada. Vasculhei

romances para bons exemplos e até mesmo pesquisei por uma seleção de cartas

de amor de famosos na Internet. Eu queria que fosse uma maravilhosa carta de

amor.

Então resolvi escrever uma carta todos os dias, e fiz isso por duas

semanas, cada uma cuidadosamente elaborada. Eu encerei nas páginas sobre sua

bondade de coração, sua força, seus olhos, seu traseiro, ele tinha um traseiro

excepcional, suas mãos, seu sorriso, o quão inteligente era, sua voz e talento de

poeta.

Durante este tempo, evitei as chamadas de telefone dos meus amigos e


inventei desculpas para ignorar o tricô à noite. Não queria falar sobre o caderno,

não ainda, não até poder relatar o meu felizes para sempre.

No fim dessas duas semanas, recebendo nada em troca, eu liguei para

ele.

Seu telefone foi para a caixa postal.

Decidi que iria esperar e ligar-lhe doze horas mais tarde para que não

parecesse uma stalker desesperada. Seu telefone caiu novamente na caixa postal.

Foi neste momento que entrei em pânico. O pânico não durou muito

tempo, no entanto. Ele rapidamente deu lugar à depressão intensa, cheia de

angústia. Não poderia encontrar raiva porque eu estava enterrada no chafurdar

de auto piedade, isso é ao sul do ridículo e um pouco a oeste de se controle.

Eu era uma patética vagabunda com o coração partido pulando-no-

trem-do-amor. No passado, chamaria Momma durante este tempo. Eu iria ligar

para ela e ela me daria conselhos. Ela era meu lugar macio para pousar. Mas ela

se foi. Sentia sua falta terrivelmente e não apenas porque meu lugar macio se foi,

mas porque sentia falta dela.

Pensei em conversar com Sandra sobre isso, mas as chances eram que ela

viraria uma psicoterapeuta. Pensei em falar disso com Kat, mas ela parecia estar

passando por algum tipo de drama familiar e estava em Boston.

Todo mundo estava ocupado com as férias, argumentei. Realmente, era

só uma desculpa. Se tivesse ligado, elas teriam respondido, teriam ouvido, teriam

ajudado. Não liguei porque não queria. Eu queria me machucar, tão louco quanto

parece. Eu queria chorar em particular, por mamãe, por Drew, por mim mesma,

antes de ter que falar sobre minha estupidez com outra pessoa.

Natal agora parecia como um castigo inevitável. Desde que o transporte


aéreo era tão irregular em torno dos feriados, eu planejava dirigir de Chicago

para Tennessee durante dois dias. Jethro não queria que fosse sozinha, mesmo eu

tivesse explicado que era perfeitamente capaz, ele e Beau decidiram pegar a

estrada e vir me buscar. Eles tinham alugado um carro para a viagem. Iriamos

levar a minha caminhonete para a viagem de volta.

Acho que Jethro suspeitava que eu fosse desistir de passar o Natal em

Tennessee se me deixassem com meus próprios recursos. Eu sinceramente não

sabia o que teria feito se tivessem me deixado. Provavelmente iria me enrolar

numa bola com massa de biscoito, bolo de frutas e vinho.

Como tinha pouca escolha a não ser passar duas semanas no Tennessee

com meus adoráveis, tremendamente fantásticos, irmãos caipiras. Os

pensamentos de me afogar numa tigela de ponche cheia de gemada alcoólica me

levou até os movimentos necessários para fazer as malas.

Eles estavam para chegar às 16:00. Passaríamos uma noite na cidade

para dar-lhes uma oportunidade para descansar e, em seguida, iniciaríamos a

viagem no dia seguinte.

Atualmente, eu estava sentada no sofá assistindo Dr. Phil, bebendo

vinho e comendo bolo de frutas e biscoitos quando meu telefone tocou. Dei uma

olhada no identificador de chamadas, disposta a deixá-lo cair na caixa postal.

Estava evitando chamadas de Sandra e Fiona na última semana em particular.

Elas estavam preocupadas comigo. Eu não estava preparada para enfrentá-las e a

sua simpatia.

Para minha surpresa, era um número de Tennessee que não reconhecia.

Meu coração disparou e endureci, segurando o telefone mais apertado. Limpei

minha garganta, engoli em seco e trouxe o celular para o ouvido.


— Olá?

— Você tem evitado minhas ligações. — A voz severa de Sandra cortou

a linha.

Eu suspirei.

— Não tenho... Eu estive... Ocupada.

— Isso é uma mentira. Posso dizer quando está mentindo.

— De que número você está ligando? É um número de Tennessee.

— Alex cortou a linha e me deu um número de Tennessee. Eu

suspeitava que não fosse atender se soubesse que era eu.

Eu suspirei novamente, revirando os olhos.

— Não pode simplesmente me deixar chafurdar?

— Não, querida. — Esta era Fiona, aparentemente também estava na

linha. — Não podemos deixar você chafurdar. Isso é por que não é assim que

funcionamos. Você sabe melhor que isso.

— Além disso. — Ouvi a voz da Janie. — Nós não sabemos o porquê de

você estar na fossa.

— A última vez que vi você foi há três semanas. Você tinha acabado de

receber aquele caderno queimado. — Elizabeth, ao que parece, também estava na

linha. — Você nunca nos disse se o leu, e não fazemos ideia do que está nele.

Sinta-se livre para guardar os detalhes para você, mas algo aconteceu, não tente

negar.

Marie foi a última a falar.

— Agora nos deixe entrar. Estamos aqui em baixo e temos vinho.

Dei uma olhada para a garrafa na minha mesa de café e o copo meio

vazio ao lado.
— Não é um pouco cedo para beber vinho? — Perguntei.

— Não me dê uma lição sobre o vinho. — A voz de Sandra ainda era

severa. — Sei que você está ai em cima agora e se sentindo bem. Como pode ver,

estou tão chateada que até inventei uma rima.

— Ela está muito chateada. — Marie entrou na conversa. —Melhor nos

deixar entrar antes que as coisas fiquem feias.

Eu gemi, fechando meus olhos e esfregando minha testa.

— Bem. Bem. Tragam o vinho.

Desliguei o telefone e caminhei até a porta, a abrindo e esperando elas

chegarem. Elas fizeram uma grande comoção subindo as escadas, e ouvi o fim de

seus planos bem antes que chegassem ao patamar.

—… Deixe ela falar. Ela parece confiável. — Marie disse, mas para

quem, eu não sei.

Então Fiona:

— Obrigado. É sempre bom saber que sou confiável.

Sandra bufou e disse.

— Mal sabem elas...

Então, chegaram na minha porta.

Eu fiquei ali as observando. Todas me olhavam com simpatia, miserável,

miserável simpatia. Suspirando pela terceira vez, virei-me da porta e falei por

cima do meu ombro.

— Entrem e tragam o vinho.

Começaram a se despir, traje de inverno, e em seguida fui atacada por

trás por um abraço em grupo.

Fiona, a que aparentava confiança, falou primeiro.


— Ashley, querida, não sairemos até nos dizer o que aconteceu e por

que está nos evitando por quase um mês.

— Só faz três semanas. — Disse em protesto coxo.

Só então, a campainha do meu interfone tocou. Olhei de relance para o

relógio de parede. Eram apenas 10:20. Eu tinha mais seis horas planejadas para

chafurdar antes que meus irmãos chegassem.

— Quem é? — Janie perguntou quando o abraço do grupo foi

dissolvido. — Você está esperando alguém?

Dei de ombros.

— Meus irmãos não deveriam estar aqui até as quatro. — Eu disse, e

vacilei até a porta e apertei o botão.

— Quem é? — Falei para o interfone, e no fundo, ouvi Sandra dizer.

— Os irmãos dela estão vindo? Alguém sabia disso?

— Jethro e Beau. Estamos do lado de fora.

Olhei para o alto-falante, por um longo segundo, em seguida o apertei.

Eu tinha sido salva pela campainha e meus irmãos que tiveram um timming

perfeito. Destranquei e abri a porta com um crack para que pudessem entrar.

— Desculpe cortar a conversa, mas, como vocês ouviram, Jethro e Beau

estão aqui para me levar para o Tennessee.

Fiona, colocou as mãos nos quadris e abanou a cabeça.

— Não. Assim que eles te verem irão querer se juntar a intervenção.

Olhei de relance para mim, notei que tinha migalhas de bolo de frutas na

minha calça de moletom. Distraidamente, escovei minha mão para cima e para

baixo para tirá-las.

— Do que você está falando?


— Ashley, parece que você não penteou o cabelo em dias. — Elizabeth

disse isto como uma amiga preocupada, sem condenação no tom de voz.

— E tem manchas escuras nas bochechas. — Marie apontou para sua

própria bochechas e queixo para mostrar-me onde.

Toquei meu rosto e meus dedos ficaram manchas de fuligem. Era do

livro de Drew. Eu o estava lendo.

Jethro e Beau entraram e encheram a entrada em arco para a sala de

estar. Eles deram uma olhada ao redor do meu apartamento, obviamente,

absorvendo a falta de decoração e de esplendor geral.

— Hey, senhoras. — Beau disse a minhas amigas.

Todos trocaram saudações por um minuto ou dois. Senti como se

estivesse assistindo o início de um programa de natureza muito bizarro.

— Bom lugar. — Beau disse isso como se fosse sincero.

Dei um sorriso plano e dei de ombros.

— Obrigada.

Jethro virou o olhar para mim, e assisti quando seus olhos me varreram

de cima para baixo, se estreitando na volta. Todas as senhoras na sala ofegaram, e

senti seus olhos mudando para mim. Olhei para Jethro, fixei nas palavras que ele

disse, minha mente fica silenciosa, então ruidosa, e depois fica silenciosa

novamente.

Quando falei, era apenas um sussurro.

— O que disse?

Ele se mexeu, os olhos correndo para Beau, as senhoras, então de volta

para mim.

— O caderno. Você recebeu? Você leu?


— Você... — Pisquei como um beija-flor bate as asas, caindo fora do

vagão de não-piscar espetacularmente e com estilo. — Jethro Whitman Winston,

você que mandou o caderno para mim?

Jethro franziu a testa para mim.

— Claro que sim. Não recebeu minha nota?

— Nota? Que nota? — Ainda piscando no ritmo da minha confusão,

balancei minha cabeça, olhando Sandra.— Não! Que nota?

Ela levantou as mãos.

— Não vi uma nota também.

— Vai buscar o caderno. Vou te mostrar.

Não precisou dizer duas vezes. Corri para meu quarto, peguei o caderno

da mesa e corri de volta para a sala de estar.

Beau tinha atravessado a sala e pegou meu bolo de frutas. Ele deu uma

mordida, inclinou-se perto de Janie e confessou.

— Estou morrendo de fome.

Ela deu-lhe um sorriso agradável.

— Não me surpreende. Com base na sua altura e peso, provavelmente

consume mais de três mil calorias por dia, supondo que se envolva em exercícios

moderados.

Eu ignorei-os e entreguei o caderno à Jethro.

Jethro abanou ao abrir o livro e caiu um pedaço de papel. Ele tinha sido

dobrado na parte de trás onde as páginas estavam em branco. Ele o pegou do

chão e me entregou.

— Aqui está minha nota.

Eu a abri, dei-lhe um último olhar e li as palavras.


Querida Ash,

Salvei isto de uma fogueira para você. Drew o jogou quando pensou que eu

estava dormindo e, em seguida, se afastou. Eu tirei de lá porque suspeitava sobre o que era.

Desculpe pelas bordas estarem queimadas. Eu o peguei o mais rápido que pude.

Quando você estava aqui, enquanto minha mãe estava morrendo, ele escreveu

todos os dias. Vi-o no trabalho. Quando você partiu, ele o carregava em todos os lugares

em que ia.

Eu li as duas primeiras páginas, e sabia que você precisava ler isso porque Drew

é um bom homem e você é uma boa mulher. Os dois merecem ser felizes.

Sei que você tem uma vida em Chicago e é uma boa. Eu gosto de seus amigos e

acho que deve mantê-los. Mas também vi que estava triste quando partiu, e eu acho que é

só metade por causa de Momma.

Além disso, não temos direito a dizer uma palavra nos seus assuntos, mas tenho

certeza que falo por todos nós, quando digo que seria bom te ter mais perto nós.

Com amor, seu irmão,

Jethro

Coloquei meus dedos nos meus lábios quando cheguei à parte levava em

todos os lugares em que ele ia.

Meu queixo começou a tremer quando li eu gosto de seus amigos e acho que

deve mantê-los.

A primeira lágrima caiu no eu acho que é só metade por causa de Momma.

E eu estava uma grande bagunça quando Jethro confessou seria bom te ter
mais perto nós.

Jethro andou até mim e me deu um abraço. Ocorreu-me que tinha

chorado mais desde agosto do que em toda minha vida. Eu também tinha

recebido mais abraços de meus irmãos do em toda minha vida.

— Não sabia que foi você. Eu não sabia. — Chorei na sua camisa,

segurando a parte da frente do casaco dele.

— Bem, quem mais poderia ter feto isso?

— Pensei que foi Drew. — Confessei num epicamente grande, ridículo,

digno-de-filme, soluço embaraçoso.

A revelação de Jethro mudava tudo. Era para eu nunca ver o caderno.

Ele nunca quis compartilhar esses sentimentos comigo. Ele queria queimá-lo. Ele

tinha ido embora, de mim, da possibilidade de nós, e eu estupidamente lhe enviei

meu coração pelo correio.

— Então foi você? — Fiona perguntou, procurando esclarecer para o

grupo. — Você enviou o pacote?

Jethro assentiu com a cabeça.

— Sim. Eu pensei que estava ajudando.

— O que está nele? — Elizabeth perguntou. — O que é tão terrível que a

jogou neste tipo de depressão?

Eu solucei, funguei e tentei explicar através das lágrimas que não era

terrível. Tentei explicar que o livro significou muito para mim. Então tentei

explicar por que estava na minha profunda, profunda depressão.

— Fiquei acordada toda a noite o lendo. Apenas... Apenas... Mudou

minha alma. Então lhe escrevi uma carta e enviei. E então mandei-lhe uma carta

todos os dias nas últimas duas semanas, e ele nunca respondeu. Ele nunca
respondeu!

Jethro abriu a boca para falar, mas o interrompi, minha voz oscilando

entre histeria áspera e estridente.

— Então o chamei e ele não atendeu. Escrevi-lhe quinze cartas de amor e

ele ignorou todas elas e não atende o telefone quando ligo!

Várias das minhas amigas resmungaram, me lançando olhares

compassivos e solidários. Janie envolveu seus braços em volta de mim por trás.

— Que bastardo. — Sandra respirou. — Ele é o Dr. Ruinous. Nós o

odiamos.

Jethro levantou as mãos como se estivesse tentando acalmar um motim,

antes de se tornar violento.

— Agora, esperem. Você não conhece a história toda. Pare de tirar

conclusões precipitadas.

— Que desculpa ele poderia ter? — Marie perguntou. — Ele está ferido?

Está preso sob um objeto pesado? Será que ele caiu sem a capacidade de se

levantar?

Então Beau chocou o inferno fora de mim, dizendo:

— Não. Ele está na trilha dos Apalaches e não tem área no celular.

Encarei Beau, fixei nas palavras que disse, minha mente silenciosa, então

ruidosa e depois fica em silêncio novamente.

Quando falei, foi mal acima de um sussurro.

— O que você disse?

— Disse que ele esteve na trilha dos Apalaches nas últimas seis semanas.

Jethro voltou há semanas, mas Drew não esteve em casa em seis semanas.

Imagino que o correio está se acumulando em uma pilha dentro da porta. É onde
estão as cartas. Além disso, ele não tem sinal no celular. — Beau anunciou

casualmente enquanto afundava o dedo na massa de biscoito, pegando um

grande pedaço e comendo.

Então, olhou para mim e os rostos atordoados das minhas amigas como

se fossemos alienígenas, estendeu a mão e pegou meu vinho.

— E ele volta amanhã. Então, não se preocupe. Ele vai ter suas cartas em

seguida. Importa-se se eu beber isso?


CAPÍTULO 28

“Bran pensou sobre isso. ‘ Um homem ainda pode ser corajoso se esta com

medo?’

‘Essa é a única vez que um homem pode ser corajoso.’ Seu pai disse a ele.”

― George R.R. Martin, Game Of Thrones

~Ashley~

Fui golpeada com uma intensa sensação de déjà vu.

Eu estava sentada no avião de Quinn. Que estava lotado, as moças do

tricô e eu, meus irmãos, e Quinn, a caminho de um lugar distante, unindo-se para

ajudar uns aos outros, fora em outra aventura.

Já fizemos isso antes.

Mas desta vez era bem diferente, porque desta vez, todos que estavam a

bordo... Estavam tentando me ajudar.

Depois de Jethro e Beau deixaram cair as informações como armas de

destruição em massa por toda a minha vida, o meu grupo de tricô e eu,

realizamos uma conferência rápida. Foi algo parecido com isto:

Fiona: — Como se sente sobre Drew lendo suas cartas quando chegar em casa

amanhã?
Eu: — Não é bom. Não adianta nada. Eu as quero de volta.

Marie: — Porquê?

Eu: — Ele não me mandou o caderno.—

Sandra: — Você acha que os sentimentos dele mudaram?

Eu: — Ele obviamente nunca quis que eu visse o caderno. Droga, ele queria se

livrar dele tanto que tentou destruí-lo. Sinceramente, não sei quais são seus sentimentos,

mas escrevi as cartas pensando que ele tinha me enviado o caderno. Quero todas as volta.

Fiona disse para Sandra: — Não que você perguntou, mas concordo com a

Ashley. Ela escreveu as cartas sob falsas suposições. Se quer as cartas de volta, acho que

devemos fazer tudo ao nosso alcance para recuperá-las.

Elizabeth: — Qual é o plano?

Janie: — Vou chamar Quinn, vamos usar o avião. Podemos provavelmente voar

para fora em algum momento de hoje.

Eu: — Não faça isso. posso dirigir durante a noite.

Janie: — Não. Inaceitável.

Fiona: — Concordo com Janie. Se temos de aturar um rabugento Quinn

durante todo o ano, então poderemos usar seu avião para as situações de emergência.

Elizabeth: — Concordo. Vamos agir!

Jethro e Beau estiveram estranhamente calados durante toda a conversa

fiada. Enquanto o grupo de tricô entrou em ação, eles saíram e agarraram

sanduíches italianos para todos. Todos almoçamos com apetites vigorosos,

bebemos três garrafas de vinho e planejamos nossa estratégia no conforto do

comando Central (Também conhecido como minha cozinha).

E assim que me encontrei com o cinto de segurança e me preparando

para pousar em Knoxville, Tennessee. Meu coração estava na garganta, e não


conseguia manter minhas mãos paradas o suficiente para tricotar no avião. Eles

continuavam a tremer.

Portanto, desisti e fechei os punhos no meu colo pelo restante do vôo.

Nosso plano era simples. Jethro me levaria até a montanha. Eu iria usar

a chave do seu esconderijo na varanda dos fundos. Eu, então, entraria,

recuperaria minhas cartas e sairia. Jethro iria me levar para casa. Então todos

iriamos tomar uns tiros de gemada alcoólica para comemorar.

Bem, eu e minhas amigas tomaríamos tiros. Olhando para os rostos de

Beau, Jethro e Quinn, duvidei que fossem comemorar com a gente.

Quinn tinha reservado um tempo para decolar para fora de Knoxville só

depois da meia-noite. Portanto, todas as senhoras, além de Quinn, seriam capazes

de chegar em Chicago por volta das 02:30 a.m.

Antes de sairmos, Fiona insistiu que eu tomasse um banho e lavasse o

cabelo. Então ela supervisionou eu me vestir e colocar a maquiagem, exatamente

como Billy tinha feito meses atrás. As semelhanças entre os dois aqueceram meu

coração.

Desta vez, no entanto, eu não estaria diante de um urso. Eu pretendia

roubar e sair da casa de Drew sem ser detectada, então celebraria o Natal com

minha família como se as últimas três semanas nunca aconteceram.

— Betty providenciou um carro para nos encontrar no aeroporto. —

Quinn disse, referindo-se a sua secretária, quando o avião pousava na pista. Ele

estava sentado ao lado de Janie à minha frente.

Encontrei os olhos azul gelados um pouco desconcertante, então

simplesmente acenei com a cabeça e falei para seu queixo:

— Obrigada. Obrigada pela ajuda.


Eu imaginei que ele pensava que eu era ridícula. Janie tinha explicado a

situação para ele durante a viagem para Knoxville, de uma forma que só Janie era

capaz de fazer, como um relatório de polícia, apenas os fatos.

Quinn dirige sua própria empresa de segurança global e é

perpetuamente taciturno. Muitas vezes me pergunto o que pensa dos amigos

loucos da esposa. Ele provavelmente acha que somos loucos.

— Não foi nada. — O tom de voz suave me surpreendeu.

Olhei para cima e o encontrei me observando com um olhar penetrante e

estreitado. Este era o seu olhar inquietante de base, em outras palavras, o olhar

Quinn.

Ele ainda me pegou desprevenida, quando se inclinou para frente, os

cotovelos sobre os joelhos, uma careta no rosto e disse:

— Sei que eu apenas forneço o modo de viagem e isto não é da minha

conta, mas acho que deveria dar a Drew e a você mesma um pouco mais de

crédito.

Eu pisquei com confusão para ele.

— O que quis dizer?

— Drew é um cara legal, um cara esperto. Como qualquer cara

inteligente, é um bom cara quando é apresentado com uma mulher notável, ele

vai fazer a coisa certa por ela, a coisa honrada, mesmo que isso signifique desistir

de você. Isso foi o que ele fez. Ele desistiu porque achou que era a coisa certa a

fazer. Mas se diz que o quer, ele moverá céu e terra para fazer que aconteça.

Olhei para ele por um instante então inclinei-me e perguntei

calmamente.

—Porque você não desistiu de Janie? Houve um tempo em que pensou


que a estava colocando em perigo, por que você não desistiu dela? Fez a coisa

certa?

Os olhos dele se estreitaram ainda mais, mas uma sugestão de sorriso se

moveu sobre os lábios.

— Porque, ao contrário de Drew, eu não era um cara legal.

***

As palavras de Quinn ecoaram na minha cabeça todo o caminho para a

montanha.

Se Drew era alguma coisa e apenas uma coisa, ele era um cara bom. Ele

era o melhor. Ele era leal ao extremo. Ele era um abnegado. Ele era o epítome de

forte, sacrifício e silencioso.

Em muitas maneiras, me lembrava de minha mãe, honrada ao ponto da

loucura. Mas não era um mártir. Ele era sorrateiro sobre sua honra, segurou-a

perto, sendo reservado sobre isso.

Isso me deixou louca e irritou. Talvez se ele tivesse sido um pouco mais

egoísta, não estaríamos nesta confusão. Então, novamente, se ele fosse um pouco

mais egoísta, não seria Drew.

Ao mesmo tempo, ele tinha tentado queimar o caderno. Ele o tinha

jogado no fogo e foi embora. Ele sabia que eu estava vindo para casa para o Natal.

Obviamente, não tinha nenhuma intenção de me dizer como se sentia. Ou talvez

os sentimentos mudaram.

Minhas emoções poderiam ter sido um novelo emaranhado de fios, mas

estava tudo correndo conforme o planejado. Até mesmo antes do previsto. As


senhoras estavam de volta na fazenda, provavelmente causando um tumulto.

Meu coração martelou no peito quando reconheci como estávamos

próximos da casa de Drew, embora o cenário parecesse diferente, porque as

árvores eram invernalmente nuas. Sentei-me um pouco mais reta, as mãos

abrindo e fechando no colo. Finalmente, Jethro estacionou o carro na entrada da

garagem e parou. Ele a colocou em ponto morto e acionou o freio de mão.

— Ash.

Engoli em seco, e assenti. Eu não olhei para Jethro, porque estava muito

ocupada e com avidez memorizando todos os detalhes da casa de Drew.

— Ash, vá buscar as cartas, então podemos voltar para casa. Estou

morrendo de fome. — Jethro parecia irritado.

Olhei de relance para ele.

— Desculpe por ter te metido no meu drama. Eu prometo, Jethro, isto

não é como sou. Eu nunca tenho dramas. Sou geralmente e completamente livre

de dramas.

Ele colocou a mão no meu joelho e apertou, os olhos gentis movendo-se

entre os meus.

— Está tudo bem. Todos já passamos por muita coisa. A morte de

Momma, Darrell ficando louco. Estou feliz que ele está preso, e parece que as

acusações irão manter. Mas este ano tem sido difícil.

Eu cobri sua mão com a minha.

— Obrigado por ser um ótimo irmão mais velho.

Ele me deu um pequeno sorriso.

— Você sabe que sempre farei o que for melhor para você, certo?

Concordei, devolvendo o sorriso dele.


— Ok, vá fazer isto. Vá, siga em frente. — Ele levantou o queixo em

direção a casa.

Respirei fundo e sai da cabine da caminhonete. Estava frio lá fora, e

havia uma fina camada de neve no chão, nada igual Chicago, mas apenas o

suficiente para o inverno fazer sua presença conhecida. Esfreguei minhas mãos

juntas e caminhei em torno do lado da casa para a varanda onde encontrei o

grande vaso de cerâmica ao lado da porta do quarto de hóspedes, onde Drew

escondia uma chave reserva.

Foi então que ouvi o som de rodas no cascalho.

Meu corpo estava imóvel com espanto. Me sacudi e forcei os pés a se

moverem. Tão silenciosamente e sorrateiramente quando pude fui na ponta dos

pés para o lado da casa e espiei da esquina a tempo de ver meu irmão Jethro

saindo.

É isso mesmo.

Jethro me abandonou, nas Smoky Mountains, na varanda de Drew, no

inverno.

Instintivamente, corri para frente da casa e desci os degraus da varanda

para a estrada. Estava prestes a gritar o nome do meu irmão, mas me segurei. Ele

não iria voltar mesmo que me ouvisse. Não pude acreditar. Por alguns segundos

olhei estupidamente onde sua caminhonete tinha acabado de estar, com a boca

aberta.

Enquanto isso, outra coisa totalmente inesperada aconteceu. Ouvi a

porta da frente da casa de Drew abrir e passos atrás de mim, o inconfundível som

de botas em uma varanda de madeira.

Meu coração parou. O tempo, o atrevido, parou. Tudo parou.


E então ele disse.

— Ash?

Fechei os olhos. O som da voz de Drew dizendo meu nome, tão incerto,

tão esperançoso, tão confuso, ele era minha tempestade de verão. Ele fazia coisas

comigo, coisas bizarras que era incapaz de descrever. Meus sentimentos

eclipsaram a capacidade de pensar.

Tomando um fôlego profundo, abri meus olhos e reconheci o que estava

sentindo. Eu estava com medo. Era como encarar o urso ao lado daquela colina.

Precisava ser mulher e parar de brincar de morta. Esta era a minha vida e eu

precisava vivê-la.

Minha garganta trabalhou e finalmente consegui engolir quando

levantei meus olhos para Drew.

Ele estava fora da porta. Ele tinha uma toalha nas mãos. Estava usando

jeans baixo pendurados na cintura, porque estava sem o cinto. A camisa era verde

escuro. Sua barba era grotesca, espessa, não aparada, despenteada... Como um

Viking saqueador. E os olhos dele se moveram sobre mim como se não pudesse

acreditar que eu estava lá. Acho que ele meio que esperava que eu fosse outra

pessoa quando o enfrentei.

Meu coração deu uma guinada gigante e meu estômago caiu. Eu tive

que enfiar as mãos nos bolsos para não agarrar meu peito.

Ele era tão bonito... Tão epicamente derretível. Eu queria olhar para ele

todo o dia, enquanto ele me lia notas de campo. Mas mais do que isso, queria

estar com ele. Apenas estar.

Engoli novamente e limpei a garganta.

— Oi, Drew.
Seus olhos queimaram quando falei, se estabeleceram nos meus e a

expressão passou de confusa para cautelosa.

— O que esta fazendo aqui? — Ele olhou atrás de mim, obviamente

procurando meu transporte.

Pensei sobre essa pergunta e qual a melhor forma de responder, qual

versão da verdade contar.

Por alguma razão, as palavras da minha mãe há meses escolheram

aquele momento para ecoar na minha cabeça: medo não conta se você realmente quer

alguma coisa.

Ela estava certa. Ela estava tão certa. E além do mais, sendo

completamente honesta, isso não poderia ser mais perigoso do que assustar para

um urso de quatrocentos quilos.

Reunindo cada grama de coragem, dei um passo em frente, depois dois,

depois três. Minha voz saiu mais conturbada do que gostaria quando disse:

— Eu te mandei algumas cartas enquanto estava fora. Você as recebeu?

Os olhos dele estreitaram em mim, uma nova sombra de confusão

caindo sobre suas características, e ele respondeu hesitante:

— Eu não sei. Ainda não olhei o correio.

Assentei com a cabeça, pressionando meus lábios juntos e subi os

degraus.

— Deve haver umas 15. Eu vim para... — Parei, me sentindo um pouco

fora do ar por nenhum motivo. Esperei até chegar ao degrau final antes de

continuar. — Eu vim para pegá-las antes de você ter a chance de lê-las.

Estávamos cara a cara agora, apenas três passos entre nós.

Sua testa se franziu com a minha confissão, mesmo enquanto seus olhos,
aquecidos e intensos, se moveram sobre o meu rosto. A fome no olhar dele era

uma coisa crua, tangível. Quase dei um passo atrás sob o peso dela, e me

perguntei se ele sempre me olhou assim. Ele era tão óbvio antes? Eu tinha sido

tão completamente cega?

— Por quê? — Sua voz era áspera e a palavra soou como uma demanda.

— Porquê... — Parei novamente, oprimida sob a intensidade do seu

olhar. Sem pensar, dei um passo para frente.

Drew se encolheu com o movimento, as mãos sobre a toalha, segurando-

a com os punhos apertados. Naquele momento ele me lembrou de um animal

ferido e senti que meu peito poderia rachar com a força da minha admiração e

amor por ele.

Lembrei-me do caderno e suas palavras, e percebi que minhas suspeitas

estavam certas. Ele viveu sua vida num labirinto insondável, paralisado pela

profundidade de seus sentimentos. Poesia era a sua saída, sua válvula de pressão,

ele a segurava perto, Como um segredo cuidadosamente guardado.

— Porque Jethro me enviou seu caderno. — Disse com pressa. Ele não

pareceu entender o significado imediatamente, então usei sua desorientação para

explicar toda a história.

— Jethro salvou seu caderno do fogo e me enviou. Eu pensei que foi

você quem me enviou para eu ler.

A compreensão apareceu em seus olhos e ele se endireitou, ficou tenso, e

reconheci seu pânico porque era espelhado com o meu próprio apenas alguns

minutos atrás. Urgência alimentou minhas palavras. Eu precisava contar-lhe

tudo, antes que ele tivesse a oportunidade de processar essa traição de confiança.

— Ele pensou que estava fazendo uma coisa boa. Quando eu li, eu...
Eu... Palavras não podem descrever o que senti. Imediatamente escrevi uma carta

dizendo como me senti, como me sinto, como te amo. — Engoli a última palavra,

porque meu medo tinha finalmente me alcançado.

Fechei os olhos e balancei a cabeça. Eu não conseguia olhar para ele e

continuar falando, então não o olhei.

— Eu te amo, Drew. Eu te amo. Eu te amo muito. Não sei como dizer

isso de outra forma. Mandei quinze cartas nas últimas três semanas. São cartas de

amor, e são as melhores que pude fazer. E quando você não me mandou nada de

volta, tentei ligar para você, mas você não respondeu. Então Jethro me disse que

ele que enviou o caderno. Ele me disse que você quis queimá-lo. E eu entrei em

pânico. Eu pensei que...

Tive que pressionar meus lábios porque meu queixo tremia e eu

absolutamente, me recusava chorar.

— Pensei que seus sentimentos mudaram... Que você não me queria

mais... Que esses belos poemas e cartas... Que não me queria. Então vim aqui para

recuperar minhas cartas antes que pudesse vê-las. — Acabei cobrindo meu rosto

com as mãos. Meu pescoço ardia, e sabia que meu rosto e peito eram de um

brilhante carmesim.

Drew não respondeu. Ele estava quieto por tanto tempo que pensei que

ele pudesse ter ido embora. Mas então ouvi as botas dele rasparem contra a

madeira da varanda e senti o calor do seu corpo quando ele se aproximou. Os

dedos delicadamente rodearam meus pulsos e ele puxou minhas mãos do rosto.

— Ash, abra os olhos. — O tom dele era infinitamente suave.

E isso me assustou, porque era sempre assim que começava meu

pesadelo. Ele me decepcionaria com ternura infinita.


— Não posso. — Deixei cair minha cabeça para que ele não visse meu

rosto.

— Por que não?

— Porque tenho medo.

— De quê?

— De você me decepcionar suavemente.

Drew soltou meus pulsos e as mãos cobriram minhas bochechas, as

aquecendo. Ele inclinou meu queixo para cima, e senti seus lábios em mim com

um beijo infinitamente suave. Ele sussurrou.

— Querida, abra os olhos.

Abri meus olhos. Eu olhei para ele, em seu olhar de mercúrio. Eu vi

desejo, alívio, admiração e vi amor.

Antes que pudesse falar, ele disse.

— Não vou te decepcionar e nunca irei deixar você ir.


CAPÍTULO 29

“Há sempre alguma loucura no amor. Mas há também sempre alguma razão na

loucura”.

― Friedrich Nietzsche

~Ashley~

Ele cercou minha cintura com um braço e me levantou, capturou minha

boca com um beijo que começou com uma exploração tenra, mas rapidamente se

encaminhou para uma situação de código vermelho. Meus braços rodearam seu

pescoço, segurando-o mais apertado, instintivamente clamando para chegar mais

perto.

Seu ombro grande bateu no batente da porta quando tentou fazer o

caminho para dentro de casa, batendo nossos dentes juntos, e meu lábio superior

teve um acidente na pressa de nos re-familiarizar. Também teve o efeito de me

trazer de volta para o momento presente e o porquê de eu estar aqui.

— Você esta bem? — Ele perguntou, mas os olhos estavam na minha

boca, mesmo quando puxou a porta com a mão livre.

Balancei a cabeça.

— Sim, mas…
Ele me cortou, os lábios se moveram contra os meus novamente, como

se planejasse me devorar com sensualidade e o perfeitamente coreografado tango

de línguas. Era pecaminoso, invadindo e conquistando, como eu imaginava que

um viking saqueador poderia beijar a fim de estabelecer seu domínio.

Apesar da delicia de sua boca, mãos, peito, lados, costas, parte inferior,

coxas, braços, e, convenhamos, indisciplinada barba, não podia deixar as coisas

progridem antes de esclarecer o que estava acontecendo.

Isto não era uma necessidade neurótica de definir tudo, pelo menos,

acho que não. Só não quero nunca mais cair no poço de vinho, biscoitos, bolos de

frutas e calças de moletons. Também não queria colocar o precioso coração de

Drew em risco.

Coloquei minhas mãos em seus ombros e inclinei a cabeça para trás, o

resto de mim estava pressionado firmemente à sua frente.

— Espera, espera, primeiro precisamos conversar. — O porquê de eu ter

gritado não tenho ideia. Realmente. Não tenho ideia do por que gritei com ele. Só

sei que fiz.

Ele se acalmou um pouco, o aperto afrouxou, mas não me deixou ir. Em

vez disso, gentilmente me desceu e puxou minha jaqueta, mordendo, e em

seguida lambendo meu pescoço.

— Fale. — Ele ordenou.

Eu tremi e exalei um sopro repentino.

— Não posso falar, não enquanto você está derretendo minha manteiga.

Isso lhe deu uma pausa. A boca de Drew cessou sua agressão, e levantou

o rosto do meu ombro, os olhos brilhantes com desejo palpável, mas também

diversão.
— Derretendo sua manteiga?

Assenti e tentei me afastar, mas falhei, suas mãos agarraram minha

cintura como se temesse que eu fugisse ou desaparecesse.

— É isso mesmo. Coloque-me numa panela e me ligue. Derreta minha

manteiga. — Eu estava respirando pesadamente, principalmente porque, mesmo

que ele parasse de me beijar, ele ainda estava derretendo minha manteiga.

Eu podia me sentir cada vez mais apática em falar sobre qualquer coisa,

exceto se ele curou sua escassez de preservativos.

Na mesma nota eu soltei.

— Não tenho preservativos comigo.

Suas sobrancelhas saltaram e ele deixou escapar.

— Bem, você está limpa?

Eu balancei a cabeça.

— Estou limpo. Você está tomando pílula?

Balancei a cabeça.

— Ok. Próximo assunto.

O falar sem pensar continuou.

—Por que você me afastou depois da nossa noite juntos?—

As sobrancelhas dele saltaram mais alto, mas não respondeu, não

imediatamente. Em vez disso, ele olhou para mim, não com malícia, mas com

calor, e apertou seu punho no meu corpo.

Finalmente respondeu:

— Ash, eu não estava tentando afastá-la, mas não queria impedi-la.

Bethany me falou sobre você muitas vezes. Admito, ela te chamava de Ash e me

deixou pensar que você era um homem, mas estava tão orgulhosa. Ela me contou
sobre como lutou sua vida inteira para deixar este lugar, como era tudo o que

falou ao crescer.

Isso era verdade. Foi tudo que sempre quis quando era criança. Mas não

era sobre deixar o Tennessee. Tennessee era lindo, era por sua beleza que eu

acreditava na magia quando era uma criança.

Queria fugir do horror do meu pai e as palhaçadas dos meus irmãos. Eu

queria ser educada, ver o mundo, vê-lo e encontrar meu lugar nele.

— Nunca foi sobre o Tennessee, Drew. Tratava-se de uma situação

infeliz de escapar e encontrar outra coisa para mim mesma que não fosse uma

casa cheia de adolescentes perpétuos. Eu estava tão cega. Estava tão cega sobre

como você se sentia. Você dizia que não precisava de mim, e eu acreditei. Pensei

que não encontrou nada em mim, nada que pudesse precisar.

Ele balançou a cabeça antes de eu terminar de falar, as mãos se movendo

para meu rosto, tirando meus cabelos das têmporas.

— Não. Não, Ashley. Você não estava cega. Você era incapaz de ver

qualquer coisa além da sua mágoa. Te vi todos os dias durante seis semanas e

como cuidou da sua mãe. Você só podia vê-la durante esse tempo. Ela precisou

de você. Seus irmãos precisavam de você. E é como deveria ser. Você estava aqui

para ela e sua família. Eu entendi isso. Não queria que sentisse qualquer pressão

de mim. Não tinha nenhuma expectativa de que você sentisse por mim o que eu

sentia por você. Eu queria ser um conforto, não um peso.

Eu o vi com olhos estreitos. Quando ele terminou, eu (novamente)

desabafei.

— Bem, comece colocando um pouco de pressão em mim. Comece a

precisar de mim. Comece a ter expectativas excessivamente elevadas.


Sua boca puxou para o lado como se estivesse tentando suprimir um

sorriso, e as mãos enfiaram no meu cabelo, em seguida, acariciaram a minhas

costas, eventualmente parando na base da espinha.

— Ok. Eu irei.

Eu não terminei.

— Tal como, me peça para ficar.

— Fique. Fique comigo.

— E, não apenas para o Natal.

— Ash, quero que se mude para cá.

— Sim. — Concordei, sentindo que o assunto foi resolvido, e iria

trabalhar a logística mais tarde porque sabia que no meu coração que era onde eu

queria estar. Eu não queria ver Drew. Eu não queria falar com Drew. Eu queria

viver Drew.

Além disso, eu era uma enfermeira. As enfermeiras eram necessárias em

todos os lugares.

— E outra coisa... — Agarrei a frente de sua camisa. — Pare de tomar

decisões por mim e ter discussões sobre mim nas minhas costas. Você devia ter

falado comigo antes de me mandar embora no avião de Quinn.

Sua boca achatou e o traço de humor na expressão se transformou em

suave frustração.

— Isso foi para seu próprio bem. Darrell tinha feito uma confusão por

toda a cidade sobre como seus filhos lhe roubaram. Seu nome era o que ele tinha

gritado mais alto. Precisávamos que saísse da cidade.

— Ou, eu poderia ter ficado aqui com você.

Ele lambeu os lábios, a frustração aliviando.


— Eu não sabia que era uma opção.

— Bem saberia se tivesse falado comigo sobre isso.

Os olhos de Drew se estreitaram e ele parecia estar me inspecionando.

Aproveitei a oportunidade para passar os braços em volta do seu

pescoço e pressionar minha frente à sua.

— Basta pensar, você poderia ter gasto as últimas dez semanas

derretendo a minha manteiga.

Suas mãos se moveram para minha bunda e a apertaram através do

jeans.

— Seu ponto de vista é bom.

Isso me fez dar um grande e largo sorriso e talvez um pouco presunçoso.

Drew balançou a cabeça para meu sorriso presunçoso, então, passou a beijá-lo do

meu rosto quando me levou para trás até o quarto dele.

Andamos no corredor sem incidentes e logo meu cachecol estava fora,

meus sapatos, minha camiseta e eu estava me pressionando contra as mãos

quentes quando elas agarraram, acariciaram e massagearam minha bunda,

estômago, costas e seios.

Abri os olhos quando ele se ajoelhou em cima de mim, minhas mãos se

estendendo para frente de suas calças. A luz estava acesa no quarto e, apesar de

toda a euforia realmente maravilhosa e necessária que acompanham os dedos

hábeis de Drew, minha atenção foi roubada por uma foto em sua cômoda.

— Isto é...? — Olhei, pisquei e depois franzi a testa para a foto.

Ele beijou meu queixo enquanto eu tentava me concentrar,

desabotoando minha calça, fazendo-me sentir no céu.

Mas a imagem era tão surpreendente, que tinha que perguntar.


— Drew, sou eu?

Drew enrijeceu, suas mãos no meu corpo ficaram imóveis. Passaram

alguns segundos enquanto eu olhava para a foto e Drew estava ajoelhado imóvel

em cima de mim, o rosto novamente enterrado no meu pescoço.

Eu liberei um huff, e afastei para poder ver seus olhos, mas também

segurando seus braços para que ele não pudesse ir muito longe.

— Drew... — Certifiquei de que minha voz fosse suave e calma quando

nossos olhares se encontraram. Ele me olhou com cautela. — Na sua cômoda, essa

foto é minha?

Ele não respondeu. Mas depois de uma batida, ele tentou sair do meu

aperto. Eu não o deixaria ir, então, apertei meus punhos. Quando ele sentiu a

força dos meus dedos, sua boca puxou para o lado.

— Ash, eu não vou te deixar. Apenas irei pegar as fotos.

— Fotos?

— Sim. Fotos.

O libertei e ele me deu um beijo rápido antes de passear ao longo da

cômoda agarrando três molduras. Ele voltou, sentou-se na borda da cama e deu

um tapinha no espaço ao lado dele.

Cheguei mais perto, enfiando o cabelo atrás das orelhas e olhei as fotos

em seu colo. Eu estava certa. A primeira imagem era minha. Era minha e minha

mãe no Havaí. Eu tinha a levado lá a três anos de férias. Nós duas parecíamos

felizes e bronzeadas.

— Bethany me deu.

— Quando?

— Quando descobriu que eu estava apaixonado por você.


Meu coração falhou no peito e olhei para ele. Ele estava me observando,

os traços abertos, mas hesitantes. Não gostei da relutância, então me inclinei e o

beijei, com necessidade de remover a incerteza da sua expressão.

Um pensamento me ocorreu, então, quebrei o beijo e descansei a testa

contra a dele, minha mão em sua mandíbula e pescoço para mantê-lo perto.

— Drew, naquele dia que parti, quando bati na sua porta, eu ouvi as

gavetas abrindo e fechando, você estava as escondendo?

— Sim.

Eu reclamei.

— Oh, Drew... — Eu o beijei. — Isto faz parte da coisa não querendo me

segurar?

Ele enfiou os dedos de uma mão no meu cabelo e me puxou até que

nossos olhos se encontraram.

— Ashley, eu preciso de você. Eu preciso de você como pulmões

precisam de ar. Mas preciso da sua felicidade, não de sua obrigação.

— Bem, isso explica por que gosta de Nietzsche, abençoe seu coração...

O olhar de Drew imediatamente se transformou num clarão, a hesitação

dando lugar à diversão relutante.

— Você acabou de abençoar o meu coração, de novo?

— Abençoei seu coração sexy e viking. — Eu disse meus olhos voltando

para as fotos.

Ele esfregou a mandíbula, me entregando os quadros.

— Se vai me insultar, então estou vou as cartas.

Tão abruptamente como começou, para minha frustração infinita, ele se

afastou. Drew estava no meio do corredor, quando eu percebi que ele realmente
iria pegar as cartas. Abracei-me e uma pequena risada nervosa passou por meus

lábios.

— O medo não conta se você realmente quer algo... —Murmurei sob

minha respiração, as palavras de Momma acalmaram novamente meu coração

trovejando, e olhei de relance para as fotos no meu colo.

Coloquei a do Havaí de lado. A imagem seguinte era eu me graduando

na escola de enfermagem. Eu estava com capelo e beca, segurando meu diploma.

Minha mãe tinha estado tão orgulhosa e eu desesperadamente queria deixa-la

orgulhosa.

A última foto era de mim quando eu tinha 18, alguns dias antes de partir

para a faculdade. Eu estava cercada por todos os meus irmãos. Estávamos na

borda da floresta num cenário de flores da primavera. A cena era linda.

Estávamos rindo. Lembrei-me do momento. Acho que Beau tinha acabado de

fazer algo louco.

Olhei para aquela por mais tempo. Fiquei surpresa com o que vi. Com

dezoito anos Ashley era uma mulher jovem e bonita, uma garota esperta, uma

menina com sonhos e esperanças que talvez ainda acreditasse em fadas e

unicórnios, não muito, só um pouco, muito pouco. Sim, eu me parecia com o meu

pai, mas e daí? Me parecer com Darrel não me fazia ser Darrel mais do que Cletus

tocando banjo fazia Cletus ser como Darrell.

Seria uma vergonha se Cletus não amasse música. Seria uma vergonha

se Roscoe não fosse encantador. Seria uma vergonha se Billy não fosse tão

esperto.

Essa Ashley também amava seus irmãos apesar de seu tormento, e podia

ver em seus rostos que eles também a amavam.


Quando pensei sobre mim nessa idade, tudo o que me lembrava de que

estava querendo partir, querendo fugir, querendo ser diferente. Mas agora não

queria ser diferente. Eu queria ser ela. Mas queria ser mais, como um edifício

quer ser mais do que o fundamento. Sendo mais não queria dizer que eu

precisava abolir quem fui.

E estando com Drew, eu não estaria dando um passo para trás. Estaria

voltando para casa.

***

— Quer outra panqueca? — Joguei a pergunta sobre meu ombro, sem

levantar a cabeça da frigideira. Eu não estava acostumada aos potes

extravagantes de Drew e panelas ou seu luxuoso fogão a gás. Portanto, estava

olhando as panquecas como se assistiria um falcão.

Eu era uma falcoeira de panqueca.

— Não, obrigado. — Drew respondeu de um lugar perto de meu ombro

pouco antes de suas mãos levantaram a bainha da minha camisa. Era outra das

suas. Em algum momento, eu teria que lavá-las.

Drew acariciou um caminho das minhas coxas para os quadris, a minha

parte inferior das costas, em seguida, estômago. Suas mãos estavam quentes. Eu

tremia, instintivamente arqueando, pressionando minha bunda contra ele.

Quando falei, soei um pouco ofegante para meus ouvidos.

— Não deveria chamar os rapazes e ter seu carro de volta?

Roscoe, ao que parece, tinha deixado Drew em casa apenas algumas

horas antes de eu chegar. A caminhonete de Drew estava na Winston Brothers


Auto Shop e, apesar de ter estado lá por seis semanas, ainda não foi consertada.

Imagine isso.

E também, meus irmãos não atenderem ao telefone quando ligamos.

Nem nenhuma das minhas amigas. Não sabia se já tinham saído para Chicago,

mas achava que sim. Estávamos presos. Isolados do mundo. Não tínhamos como

descer a montanha. Era glorioso.

Os dedos de Drew escorregaram mais abaixo, mergulhando na cintura

da minha calcinha. Eu engoli em seco. Ele não respondeu à minha pergunta. Em

vez disso, chegou mais perto e com a outra mão desligou o fogão.

Drew derreteu minha manteiga.

Ele a derreteu de pé, sentado, agachado, inclinado, lendo, sorrindo,

abraçando, rindo, franzindo a testa, escrevendo, trocando uma lâmpada,

ordenhando uma vaca, basicamente, se era um verbo e ele estava fazendo, minha

manteiga estava derretendo.

Redescobri este fato nas trinta e seis horas depois do nosso grande papo,

enquanto estávamos presos em sua casa no topo da montanha, não que ordenhou

vacas. Ainda.

Também redescobri que ele era um homem de palavra. Quando ele me

disse na varanda que não iria me deixar ir, ele quis dizer essas palavras

literalmente. Não acho que se passaram cinco minutos sem ele me agarrando,

acariciando, abraçando, beijando, basicamente, se era um verbo que envolve

tocar, ele estava fazendo isso.

Ainda estava segurando a espátula quando, após vários minutos de suas

atenções inteligentes, perdi minha mente. Eu a perdi em frente ao seu fogão e

forno. Sem pensar, quando me desfiz em suas mãos, joguei minha cabeça para
trás para me agarrar a ele e quase o golpeei no rosto com a espátula. Ele

habilmente se abaixou do meu ataque inadvertido, e senti seu peito ressoar com

uma risada.

Minha cabeça caiu contra o seu ombro e fiquei nesta posição, enquanto

tentava normalizar a respiração. Ele removeu os dedos da minha calcinha e

esfregou as palmas das mãos nas minhas coxas até minha cintura e novamente

em movimentos suaves e sensuais.

— Você pode fazer isso a qualquer momento. — Disse num suspiro

vacilante, olhando o teto.

— Eu irei. — Drew emparelhou esta declaração evocativa, junto com

uma mordida na minha orelha.

Nunca olhei para o teto antes. Estava coberto de telhas decorativas de

cobre, pelo menos se pareciam com cobre. Nesse pós-orgasmo com a mente-

aleatoriamente, me encontrei fixando o teto.

— Drew, posso te fazer uma pergunta estranha?

Ele assentiu com a cabeça, colocou os lábios na minha têmpora e me deu

um beijo.

— Como conseguiu comprar esta casa? Ou, como eu acho, é algo que

chegou a sua posse? Esses lugares não são todos transferidos de tal forma que

tem que vender para o governo dos EUA?

Suas mãos cessaram seu ataque rítmico e senti que ele sorria contra

minha bochecha.

— Este lugar pertencia à minha mãe. Está em sua família há gerações.

Minha irmã morou aqui há algum tempo, mas estava muito negligenciado

quando o tirei das mãos do meu pai.


Concordei, ainda olhando para o teto. Muitas das telhas estavam

começando a oxidar de laranja para turquesa, o efeito era impressionante.

— E agora é seu?

Ele assentiu.

— Sim. É meu agora.

Eu sorri. Eu gostava que esta era a casa de sua mãe e que agora ele

estava morando nela, que a tinha restaurado. Respirei fundo, me endireitei de seu

ombro e virei para enfrentá-lo.

Estava prestes a lhe contar o tanto gostei do teto quando fui

interrompida pelo estridente som de uma buzina alta e longa nas proximidades

da entrada. Nós dois endurecemos, escutando os sons adicionais. A buzina soou

novamente e fomos postos em ação.

Corri pelo corredor a procura de minhas calças puxando-as e colocando

minhas botas com pressa. Drew, infelizmente para mim, colocou uma camisa de

manga comprida, mas não fez qualquer tentativa de mudar o pijama de flanela

ou calçar sapatos. Ele então me jogou um de seus suéteres. Quando passou por

minha cabeça, ele enrolou os braços em minha cintura e me pressionou contra ele

num beijo rápido.

— Eu te amo. — Ele disse.

— Também te amo. — Eu disse.

Nós dois sorrimos para a convicção um do outro e fomos para a porta.

A visão que nos cumprimentou era inesperada, mas de nenhuma

maneira indesejável.

Um desfile de carros estava estacionado na entrada da garagem.

Reconheci a caminhonete de Drew, que Beau tinha conduzido até a montanha.


Roscoe, Sandra, e Alex estavam saindo do lado do passageiro, Alex do banco da

frente e Sandra na parte de trás da cabine juntamente com Roscoe.

Então chegou a caminhonete de Jethro carregada com o resto dos

rapazes Winston.

Depois chegou uma viatura policial.

Drew olhou para mim e não estava apreensivo. Em vez disso, estava

com um brilho leve de irritação porque ambos adivinhamos que Jackson James

estava dirigindo o carro.

A multidão se descarregou e andaram em direção aos degraus, batendo

papo como se hoje fosse domingo e acabassem de sair da igreja.

Jethro nos alcançou primeiro. Ele estava carregando o que parecia ser

um recipiente de bolo e usava um sorriso de merda.

— Olá, vocês dois. Meu Deus, se não são um colírio para meus olhos.

— Jethro. — Drew acenou para meu irmão uma vez. — O que está

acontecendo?

— É véspera de Natal. Pensamos em trazer a festa aqui. Além disso,

Ashley esqueceu as roupas em casa, então as trouxemos também. — Jethro deu

um tapinha no ombro de Drew e entrou na casa, como se fosse convidado.

Roscoe chegou em seguida. Ele estava carregando minha mala e

parecendo feliz da vida.

— Só vou colocar isso no seu quarto. Você sabe, o que irão dividir.

Beau e Duane seguiram, com os braços cheios de comida, Beau,

balançou a cabeça enquanto subia os degraus.

— Eu juro, Drew. Você precisa se livrar de Jackson James, deixe-o saber

que Ash é a sua mulher. Ele não disse isso quando nos fez parar por excesso de
velocidade na subida, mas tenho certeza que ele está esperando compartilhar

sanduíches com Ash em breve.

Duane acenou com seu acordo.

— Eu odeio esse cara, sempre me encostando.

— Você estava correndo? — Eu perguntei.

— Claro que sim. — Duane assentiu com uma piscada e um sorriso.

Cletus e Alex entraram na conversa quando se aproximaram da

varanda. Vi que Cletus estava segurando seu tabuleiro de xadrez, e Alex

segurava várias caixas.

— Oh, Oi Ash... Drew. — Alex assentiu com a cabeça para nós como se

fosse perfeitamente natural ele estar lá. Eu adorava isso. Adorava que ele se

sentisse assim.

Cletus parou tempo suficiente para dar a Drew um olhar intenso.

— Então... Agora posso recebê-lo na família?

Drew acenou com a cabeça.

— Sim. Agora pode me receber na família.

— Ok. Bem-vindo à família.

Então Cletus e Alex desapareceram dentro.

Sandra veio em seguida, carregando uma grande tigela de ponche cheia

de líquido branco.

— É uma gemada alcoólica. — Explicou, xingando um pouco sob a

pressão da tigela pesada. — Não é realmente tão ruim. Quinn não gostou, mas

então ele não gosta de nada exceto sua mulher.

— Cadê todo mundo? Eles voaram de volta? — Perguntei, me movendo

para ajudá-la.
— Não, não, deixa comigo. Todo mundo voltou naquela noite depois

que Jethro nos disse o que tinha feito. Para ser honesta, foi um alívio. — Sandra

entrou rapidamente, falando por cima do ombro. — Ele nos salvou de ter que

planejar algo semelhante.

Billy subiu as escadas com passos vagarosos, segurando sacos cheios de

presentes embrulhados. Sua expressão era fria ainda imperturbável. Quando

chegou em mim e Drew, ele parou. Olhou para mim e depois mudou os olhos

para Drew e disse:

— Espero que você a trate bem. Espero que a faça acreditar em magia

novamente, fadas, arco-íris, toda essa merda. Estamos entendidos?

Drew assentiu com a cabeça, estendendo a mão para meu segundo

irmão.

— Sim, senhor. Estamos entendidos.

Billy olhou para a mão de Drew, colocou um dos sacos na varanda,

então aceitou para uma breve balançada. Ele então olhou por cima do ombro

quando ele pegou a bolsa e acrescentou:

— Ashley, se livra desse cara, por favor?

Quando Billy entrou, Drew e eu viramos nossa atenção para um sem

barba Jackson James. Ele pairava na calçada, de pé na frente de seu carro. Quando

me viu olhando para ele, me deu um aceno.

Puxei uma respiração profunda e retornei o aceno com um sorriso

educado, dizendo para Drew.

— Você acha que consegue lidar com a multidão lá dentro?

— Acho que sim... Por um tempo, pelo menos.

— Vou descobrir o que ele quer. — Eu disse, inclinando a cabeça em


direção de Jackson.

Drew acenou com a cabeça, os olhos brilhantes e tranquilos.

— Faça isso.

Ele inclinou-se para baixo e me deu um beijo suave e, em seguida,

entrou para lidar com a nossa família louca.

Olhei para Jackson por um instante antes de caminhar calmamente para

encontrá-lo na porta da garagem.

— Ei, Jackson.

— Oi, Ashley. Espero que não se importe de eu seguir Duane por um

trecho. Quando ele disse que você estava na cidade, eu pensei... Bem, preciso falar

com você sobre o que aconteceu com Darrell, quando você pegou minha arma.

Cruzei meus braços sobre o peito, me abraçando contra o frio.

— Eu peguei a arma? Não me lembro. Lembro de você me entregar a

arma. — Esta foi à história que contei a polícia no dia da tentativa do sequestro.

Jackson sorriu.

— Sim. Bem, obrigado. E sinto muito que fui estacionar meu carro, ao

invés de te ajudar. Eu não sabia o que estava fazendo. Eu deveria ter te seguido.

Dei de ombros, caminhando para o capô de seu carro e me inclinando

contra ele. Ainda estava quente.

— Agora acabou. Nada pode ser feito sobre o passado.

Jackson se virou de modo que ainda estávamos de frente um para o

outro, a casa atrás dele. Uma carranca conturbada lançou uma sombra sobre o

rosto bonito. Ele me estudou por um instante antes de acrescentar.

— Bom, seu pai e os camaradas se declararam culpados, sem contestar.

Eles pegaram de 3-5 anos em Bledsoe County. Então, pelo menos não irá vê-lo
por um tempo.

— Isso é um alívio.

— Ashley. — Ele disse de repente, dando um meio passo a frente. —

Sinto muito sobre sua mãe. Ela era uma mulher muito gentil... Uma boa mulher.

— Obrigado, Jackson. Agradeço por isso. — Meus olhos se afastaram

por cima do seu ombro, detectando os movimentos da casa. Beau e Duane

estavam de pé na janela de frente para a garagem. Seus braços estavam cruzados.

Seus rostos tinham uma expressão dura semelhante. Eles olhavam para nós.

Jackson, percebendo a direção do meu olhar, se torceu para olhar por

cima do ombro. Ambos meus irmãos aproveitaram a oportunidade para usar os

dedos indicadores e médios das mãos direita para apontar para os olhos deles e,

em seguida, apontaram os dedos para Jackson no símbolo universal para estou de

olho em você.

Eles fizeram isso simultaneamente.

Eu revirei meus olhos.

— Apenas ignore.

Jackson olhou para mim e sorriu.

— Não. Está tudo bem. Eles não gostam de mim muito desde que

Darlene Simmons e eu fomos a um encontro.

— Quando foi isso? — Lembrei-me de Darlene da escola. Ela era dois

anos mais velha que nós, mesma série que Duane e Beau, e a fantasia de líder de

torcida de cada homem.

— Oh... — Jackson apertou os olhos, abaixou-se e pegou uma pedra da

calçada. — Acho que há três anos.

Dei uma gargalhada.


— Parece que eles precisam superar isso.

Ele assentiu, os olhos castanhos quentes procurando meu rosto, um

sorriso hesitante nos lábios. Um breve silêncio caiu entre nós quando ele olhou

para mim e lhe permiti olhar. Por fim, aparentemente, se sacudindo, ele disse:

— Ashley, eu não queria te chatear enquanto estava passando por aquilo

tudo com a sua mãe, mas queria uma chance de falar com você por alguns

minutos. — Parou, hesitou, os olhos varrendo sobre meu rosto.

— Claro. — Dei de ombros.

— A coisa é. — Ele começou, parou, olhou para a pedra nas mãos. — Eu

queria pedir desculpas, pela maneira como te tratei depois da escola. Não fui

legal e não era justo, e você merecia coisa melhor.

As palavras eram legais e me fizeram perceber que precisava ouvi-las.

Também percebi que nunca é tarde para pedir desculpas, mas algumas desculpas

chegam demasiado tarde.

— Não se preocupe, Jackson. Agradeço o pedido de desculpas, mas isso

foi tudo há muito tempo.

Ele assentiu, olhando para mim novamente.

— Sim, mas quis dizer a muito tempo.

Pressionei meus lábios juntos e dei um sorriso, que ele retornou.

Ficamos em silêncio olhando um ao outro por outro instante antes que ele

dissesse:

— Então... Você e Drew Runous, hein?

Meu sorriso cresceu.

— Sim. Eu e Drew.

Seus olhos estreitaram.


— É sério?

Concordei, meu sorriso se transformando num sorriso gigante.

— Sim. Na verdade, tenho certeza que é uma condição crônica.

***

Nosso primeiro Natal juntos foi feliz porque ele foi passado com nossa

família, rodeados de pessoas que nos amavam.

Embora, eu pudesse ter passado sem Sandra levando os gêmeos a fazer

uma interpretação de Ela vai estar descendo a montanha quando vier, note a mudança

de palavreado.

E também, pedaços da sabedoria de Momma sussurravam na minha

cabeça de vez em quando. Felicidade e reumatismo ficam maiores se contar as pessoas.

Ela estava certa. Compartilhar a felicidade com a minha família a fez se sentir

maior.

Com as palavras sussurradas, veio um grande momento ah-ha. Percebi

que esses ditados aparentemente aleatórios, que não entendia na época, eram o

modo de me dizer tudo o que precisava saber. Eles eram como ela tentou

responder todas as perguntas que não seria capaz de perguntar depois que ela se

fosse. Fiquei tão agradecida.

Deram-me conforto. Deram-me paz. E me fizeram sentir que ela ainda

estava aqui de alguma forma, guiando meu caminho desajeitado.

Drew e eu ainda tínhamos problemas para discutir e detalhes para

resolver. Eu ainda precisava voltar para Chicago, dar aviso prévio, encontrar um

emprego no Tennessee e passar através da moção de desenraizar minha vida para


que pudéssemos ficar juntos. Então poderíamos viver um do outro todos os dias.

Foi um aborrecimento. Eu não queria deixá-lo, mas a vida é dura. A

mudança leva tempo. E a mudança que é duradoura leva planejamento e atenção.

No dia anterior do meu vôo de volta para Chicago, desde que não tinha

minha caminhonete e não iria de carro, encontrei Drew em nosso campo de flores

silvestres. Ele estava sentado no chão frio rodeado por hastes e caules mortos.

Ele parecia estar olhando a montanha acima do nosso vale, olhos

semicerrados, cotovelos descansando sobre os joelhos.

Seu chapéu de cowboy estava nas mãos e os dedos o segurando

levemente, como se confiasse no chapéu para ficar parado, sem ter de suportar

seu peso.

Eu estava embrulhada num cobertor da casa. Era a velha colcha que

cobria minha cama e me fez lembrar minha mãe. Ela e minha avó trabalharam

nela antes de minha avó morrer. Minha mãe tinha terminado a colcha por conta

própria.

— Ei, quer companhia?

Drew olhou por cima do ombro, um acolhedor, embora quase

imperceptível sorriso aqueceu suas feições.

— Sempre, se for você.

Fui até onde ele estava sentado. A neve tinha derretido, e depois,

recongelado, deixando gelo no chão. Ele triturava sob minhas botas com cada

passo.

Ficamos assim, ele sentado, eu de pé, por alguns minutos. O mundo

estava frio. O vento tinha cheiro de gelo. As árvores tinham perdido todas as suas

folhas. O topo da montanha estava coberto de neve.


— A poesia não é para uma sociedade civilizada. — Drew disse de

repente, quebrando o momento, sem dizer nada mais.

Decidi incitá-lo quando senti que ele não iria continuar sem um

empurrão.

— Como assim? Já li muita poesia segura-para-trabalho.

— Não estou falando de cartões e sentimentalismo, não as coisas que

gentilmente aquecem seu coração ou fazem você se sentir nostálgico. — Ele

levantou os olhos para os meus, a expressão, austera e sóbria. — Estou falando do

tipo que te queima, deixa cicatrizes, do tipo que se arrepende de ler, porque não

pode esquecer sobre isso. É uma coisa selvagem, feroz. Tem garras e morde.

Eu o estudei quando disse isso, como os olhos dele inflamaram com

ferocidade. Gostaria de saber se o mesmo poderia ser dito sobre ele. Ele era um

pouco de uma coisa selvagem, feroz. Não duvido que deixaria uma cicatriz. Eu

tinha dado uma espiada como seria se um dia ele decidisse que eu não era mais

sua xícara de chá doce.

Fechei a distância nos separando e sentei ao lado dele, levantando a

colcha para ela não molhar e não particularmente me importando se gelo

cobrindo o chão umedeceu minha calça.

Drew olhou para mim, o olhar rapidamente, pesquisando meu rosto.

— Parece que você quer dizer algo.

— Eu me perguntava... — Hesitei porque meus pensamentos não

estavam totalmente formados. Ao invés de fazê-lo esperar, falei o que sentia. —

Eu me perguntava, quando cheguei, por que minha mãe colocou tanta confiança

em você. Mas acho que foi porque ela leu sua poesia. Lê-la é conhecê-lo. Poesia é

a representação dos sentimentos em palavras. Ele revela o coração de uma pessoa.


Ele me estudou, os olhos prateados piscando e se movendo entre os

meus.

— Estou feliz que conhece o meu coração, porque você é meu coração.

Eu sorri. Não pude evitar. Sorri tanto que doeu meu rosto e pensei que

poderia ter torcido algo. Ele não pareceu se importar. Seus olhos ficaram macios,

distraídos, quando se moveram dos meus para meus lábios.

— Você me arruína com seus sorrisos.

Eu franzi a testa, balançando a cabeça para ele.

— O que? O que eu disse?

— Você tem que deixar a poesia sob controle, caso contrário vou arrastá-

lo para meu quarto e nunca o deixaremos, nunca vou encontrar um emprego, e

vamos nos tornar vagabundos sensuais.

Fiquei satisfeita em ver um sorriso enorme espalhando por sua face,

iluminando os olhos. Ele levantou uma sobrancelha, a voz baixa mergulhando

com o charme do Texas.

— É mesmo? Então, permita-me dizer...

Eu o interrompi, cobrindo sua boca com a mão.

— Sim, realmente. Vou me tornar uma viciada em sexo e precisar de

aconselhamentos, talvez começar a ir para reuniões anônimas para viciado em

sexo. — Tirei minha mão e a passei pelo meu cabelo, acrescentando como uma

reflexão tardia. — Que não é tão anônimo em Green Valley, Tennessee, porque

todo mundo conhece todo mundo.

— Não estou pensando em todo mundo. Estou pensando sobre seu

corpo.

Toquei seu ombro com o meu, apreciando a forma que um sorriso


mudou sua face. Os olhos dele se tornaram a cor de um céu luminoso, sua boca e

dentes emoldurados pela barba espessa.

Sem intenção, eu disse:

— Eu te amo.

— Eu amo você, também. — Ele disse sem hesitação.

Meu coração pulou no peito, era um pular feliz.

— É mesmo? Tem certeza? Sabe, tenho dificuldades em acreditar em

qualquer coisa que não está escrita. Talvez deva escrever um livro sobre isso.

— Sobre isso?

— Sobre o quanto me ama.

— Eu já fiz. — Ele piscou e poderia dizer que ele estava tentando lutar

com um sorriso.

— Eu sei. — Não pude evitar meu sorriso. — Escreva outro. E depois de

terminar, escreva mais outro... Depois outro.

— Quanto tempo espera que eu escreva livros sobre este assunto?

— Por tanto tempo quanto você me amar.

— Então vou estar escrevendo sobre isso o resto da minha vida.


EPÍLOGO –

Conheça Drew

“Fora da briga com os outros fazemos retóricas, fora da briga com nós mesmos

fazemos poesia”.

― W.B. Yeats

~Drew~

— Acho que Alex e Sandra estão vindo para o Natal. — Ashley me diz

do outro lado do sofá. — Foi um prazer visitá-los em Chicago no Halloween,

levando as crianças para fora com Fiona, mas acho que ele gosta de suas

excursões de pesca.

Eu aceno, ouvindo. Sandra e Alex são nossa família, e quero que eles

fiquem no Tennessee. Eu disse isso a Alex. Através da família escolhida por

Ashley, descobri os benefícios da sociedade. Eles são enormes, e as relações são

inestimáveis.

— Além disso, gostaria que admitisse que fiz um excelente ponto sobre

as falhas nas passagens de Linas Vepstas sobre a teoria do tempo. Não estou

dizendo que acredito em predestinação, mas como minha mãe diria, predestinação
faz parte do plano.

— É uma questão de mecânica quântica Ashley, um universo de

probabilidades. Determinismo de qualquer tipo é impossível.

— Sim, mas assume que é impossível viajar no tempo. Mesmo Einstein

nunca concebeu tanto. Você e eu estamos destinados a ser, e já analisamos esse

ponto. Portanto, você deve admitir que fatores além de nosso controle, ou talvez

nossa capacidade de compreender, podem ter uma mão em determinar nosso

caminho.

— Não admito nada.

— Típico... — Ela faz um pequeno som, e isso me faz sorrir.

—O que está escrevendo?

— Notas de campo.

— Se isso são notas de campo então sou um Cocker Spaniel caolho com

mau hálito.

Isto me faz rir, mas não paro de escrever. Acho que nunca ri tanto na

minha vida antes de conhecer Ashley. Ela traz uma faísca para todas as coisas,

ilumina cada lugar vazio.

— Lê para mim. — Diz ela, me empurrando com os dedos.

Olhei para baixo, longe de onde meu caderno repousava sobre a mesa.

Seus dedos dos pés estavam pintados de rosa, eles brilhavam e estavam no meu

colo. Ela os mexeu como se estivesse acenando com os pés.

— Por favor. — Ela disse.

Meus olhos percorreram seu comprimento e desfrutaram de sua forma.

O tom e o contorno das pernas, agravadas pela única fonte de luz. Ela está

deitada no sofá, o e-Reader apoiado na barriga.


O desejo guerreia. Como tal, apenas posso vê-la em silêncio.

Eu preciso dela.

Quando escrevo, falar é um obstáculo. Esforço-me para abdicar de

pensamentos que são sombras de meus sentimentos e paixões. Dando palavras

para estes impulsos selvagens nunca lhes faz justiça porque não são minha

vontade, seu curso leva a nenhuma ação, e expressá-los é um exercício de

frustração incessante. Mas os retendo da página é um caminho para a insanidade.

Uma vez tentei queimar as palavras, pensando que o fogo iria me

libertar. Eu estava errado. Lamentei a perda e me alegrei quando descobri que o

livro tinha sido salvo.

— Drew, você lerá isso para mim? — Os olhos dela me lembravam do

oceano.

Eu balancei a cabeça.

— Ainda não.

Seu sorriso alargou. Ela me olha como se me conhecesse. Ela faz. Ela me

conhece.

— Nós estamos juntos, a o que? Quase um ano agora? E posso contar em

uma mão o número de vezes que leu sua poesia em voz alta para mim. Além

disso, está me dando aquele olhar.

— Que olhar?

— O olhar de, eu sou um bolo, então e sei que é uma boa. —Suas

sobrancelhas se moveram para cima e para baixo.

Eu continuo a sorrir, mas não falo nada.

As palavras são coisas desajeitadas. Cruas, selvagens, com fome,

necessidade, desespero, o fascínio não define adequadamente como anseio por


sua rendição completa. Eu quero que ela chore. Eu quero rasga-la calmamente e

amorosamente assisti-la sangrar. Anseio saber se posso inspirar um décimo do

tormento que ela inspira em mim. Como posso falar essas coisas em voz alta?

Eu preciso dela.

Sua rendição, minha para possuir e explorar. Esta ambição permanece

intangível porque, embora eu sinta, eu não desejo isso. Eu comunico esta

ganância somente através da poesia, e poesia serve como uma alegoria imperfeita.

Ashley bufa. Seus olhos estreitam. Sei como funciona sua mente. Ela está

ponderando barganhar. Ela coloca o e-Reader no chão e vem a mim de joelhos,

com os braços ao redor de meu pescoço, seus seios pressionando contra o meu

ombro. Lamento a invenção da roupa.

— Drew, se não vai ler, talvez possa cantar para mim? — Seus lábios

estão próximos aos meus e preciso prová-la.

Balanço a cabeça, mantendo minhas palavras suaves para não trair a

ferocidade da minha necessidade.

— Não, querida. Não esta noite.

— Você vai para a sessão de jam comigo amanhã? Cletus está de volta

na cidade, e vou levar salada de repolho para os gêmeos.

— Sim. Devemos ir. — Estou saindo do túnel e falando, a comunicação é

menos pesada.

— E vai cantar para mim então?

— Sim, se você cantar comigo.

— É um trato. — Ela sela-o com um beijo e não a deixo ir. Eu tomo sua

boca doce até que a sinto ficar inquieta. Fecho meu livro e viro as costas a ele.

Removo o véu das roupas dela e me contento sendo o instrumento pelo qual ela
perde o controle.

Eu nunca iria machucá-la, não através de força, atos ou palavras. Anseio

acalmá-la, acariciá-la, segurar seus medos, carregar suas tristezas, ser o

instrumento de seu êxtase. Sou seu lugar seguro e ela é o meu.

Eu preciso dela.

Ser o método de sua loucura me alimenta. Vejo-a arfar, sinto sua

respiração quente derramar contra minha pele e é como água para as ervas

daninhas grossas que emaranharam e sufocaram meus instintos ignóbeis.

Nem sempre gosto de escrever poesia. Gosto de vivê-la.

Mas se pudesse escolher os poemas que vivo, não seria sempre alegre,

nem gostaria do contentamento inerte. Tristeza e luta trazem seriedade à alma e à

mente, uma seriedade que não pode ser alcançada através da mera felicidade.

Estamos mais despertos para o mundo e nossos próprios anseios e desejos

quando sofremos.

Ashley se estende, arqueando as costas, e o movimento ágil demonstra

quão impotente meu corpo é a promessa do seu e com isso, a promessa de prazer,

de vulnerabilidade, de proximidade comum.

As mãos dela estão acima da cabeça, e o cabelo obsidiana emaranhado

com os braços pálidos. Eu seguro seus pulsos.

Se a tristeza é uma força da gravidade, e a mera felicidade é inércia,

então o amor e estar apaixonado é a força cinética.

Uma força construída sobre as ações do passado, movendo-nos.

Movemos-nos.

Eu a vejo. Ela está abaixo de mim. Seu corpo é liso, complacente, repleto

de doçura. Quero adorar, mas preciso possuir. Eu sofro porque ela é para sempre
a antecipação, mesmo quando seguro-a, encho-a, saboreio-a, domino-a e

consumo-a.

Eu preciso dela.

~FIM~
A SÉRIE WINSTON BROTHERS

Beauty and the Mustache (Knitting in the City, #4; Winston Brothers, #0.5)

Truth or Beard (Winston Brothers, #1)

Grin and Beard It (Winston Brothers, #2)

Beard Science (Winston Brothers, #3)

Beard in Waiting (Winston Brothers, #3.5)

Beard in Mind (Winston Brothers, #4) *

Dr. Strange Beard (Winston Brothers, #5) *

Beard Necessities (Winston Brothers, #6) *

*Livros ainda não lançados pela autora.

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