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Análise Polínica Comparativa e Origem Botânica de Amostras de Mel de Meliponinae (Hymenoptera, Apidae) Do Brasil e Da Venezuela
Análise Polínica Comparativa e Origem Botânica de Amostras de Mel de Meliponinae (Hymenoptera, Apidae) Do Brasil e Da Venezuela
Maio de 2010
Artigo
RESUMO
Introdução
Imigrantes europeus que chegaram ao Brasil no séc XIX trouxeram consigo as abelhas
vulgarmente chamadas de européias (Apis mellifera Linnaeus.). A introdução no Brasil
em 1956 da subespécie africana Apis mellifera scutellata (Lepeletier) gerou a forma
híbrida que passou a dominar a apicultura nacional a partir dos anos 70. Este híbrido
levou a um crescimento da atividade apícola no país e responde pela maior parcela da
produção brasileira de mel. Com a rápida expansão de Apis, as abelhas sociais nativas,
as abelhas-sem-ferrão (Meliponinae), sofreram um impacto em sua interação planta-
polinizador devido à disputa pelas fontes alimentares com as abelhas introduzidas
(Biesmeijer et al. 2005).
Segundo estudos realizados na região de São Paulo por Ramalho et al. (1989), a dieta de
espécies do gênero Melipona estudadas é composta principalmente de néctar de plantas
das famílias Anacardiaceae, Burseraceae, Clusiaceae (Guttiferae), Euphorbiaceae,
Leguminosae, Myrtaceae, Melastomataceae, Solanaceae e Moraceae. Fidalgo &
Kleinert (2007) destacaram para a região de Ubatuba, litoral do Estado de São Paulo, a
espécie Melipona rufiventris (Lepeletier) realizando coleta de pólen, néctar e resina nos
meses de dias mais longos e clima quente e úmido.
Em uma revisão apresentada por Barth (2004), observa-se que a maioria das análises
polínicas feitas em méis de Meliponinae do Brasil foi realizada na região amazônica.
Absy & Kerr (1977) ressaltaram a grande atuação das operárias de Melipona seminigra
(Friese) visitando várias espécies florais e sendo responsável como a principal espécie
produtora de mel da Amazônia. Marques-Souza (1996) descreveu a coleta de pólen
realizada por Trigona williana (Friese) na região da Amazônia Central, como estando
relacionada a possíveis mudanças climáticas e ao padrão de floração das diferentes
espécies de plantas. O mesmo aspecto também foi considerado por Absy & Kerr (1977)
e Absy et al. (1984) que constataram uma baixa diversidade na coleta de pólen pela
abelha Melipona compressipes manaosensis Schwarz, na maioria em plantas com curtas
floradas devido ao alto índice de chuvas no período de estudo. Marques-Souza (1996)
observou que a coleta de pólen por esta espécie de abelha foi intensa na família
Caesalpiniaceae, já que possui facilidade em manusear as peças florais, esta espécie
assim evitaria a competição com outras abelhas.
Na região Nordeste, no estado do Maranhão, Kerr et al. (1986/87) realizaram um
levantamento da flora local visitada por Melipona compressipes fasciculata Smith.
Foram identificadas 36 famílias vegetais visitadas pelas abelhas sendo Mimosaceae,
Myrtaceae e Solanaceae as mais freqüentes.
Material e Métodos
A preparação das amostras de mel seguiu o método padronizado por Louveaux et al.
(1978). Dez gramas de mel foram dissolvidos em 20 mL de água destilada e distribuídos
em dois tubos de centrífuga com capacidade para 15 mL, centrifugando-se por 15
minutos a uma velocidade média de 1500 rpm. O sobrenadante foi desprezado e
acrescentou-se 5 mL de água destilada. Centrifugou-se novamente por 15 minutos,
descartando-se o sobrenadante. Adicionou-se 5 mL de água glicerinada (1:1)
permanecendo os tubos em repouso por 30 minutos. Após nova centrifugação
desprezou-se o sobrenadante, deixando os tubos emborcados sobre papel absorvente
para melhor drenagem do sedimento. Este foi retirado do tubo com o auxílio de um
estilete contendo um pequeno pedaço de gelatina glicerinada na ponta, sendo depositado
sobre uma lâmina de microscopia e levemente aquecido. Foi colocada uma lamínula
sobre o material, vedando-se com parafina.
Resultados e Discussão
Na região Nordeste, com destaque para o Estado da Paraíba, foram encontrados poucos
trabalhos que tratassem de análise polínica de mel das abelhas-sem-ferrão. Em duas
amostras analisadas, foi encontrado o pólen dominante de Fabaceae do tipo Crotalaria.
Outros tipos polínicos foram também observados, mas em quantidades menores, tais
como Anadenanthera colubrina, Antigonon leptopus, Caesalpiniaceae, Cactaceae,
Myrcia, Rubiaceae, Rhamnaceae, Scrophulariaceae. Kerr et al. (1986/1987) destacaram
para uma região do Maranhão a presença do pólen de Myrtaceae e Caesalpiniaceae nas
amostras de bolotas de pólen coletadas pela abelha Melipona compressipes fasciculata
Smith.
Em relação às porcentagens bruta e corrigida dos tipos polínicos nas amostras de mel de
Meliponinae dos dois países, constatou-se uma significativa diferença entre as do Brasil
e da Venezuela. Nas amostras provenientes do Brasil, encontramos uma quantidade de
tipos polínicos poliníferos maior do que nas amostras da Venezuela. Este fato poder-se-
ia dar devido à disponibilidade de recursos tróficos (Moreti et al. 2002), já que as
abelhas utilizam o pólen polinífero como fonte de proteína para a subsistência da
colméia.
Agradecimentos
Referências
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