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Projeto Cu-Au Boa Vista

Varjão e Cezarina-GO

Contextualização e Potencial Econômico

Geólogos
Carlos Magno Carvalho Pinheiro
Igor Póvoa Dantas

Setembro/2019
1. Introdução

Investigação realizada recentemente na área do Projeto Boa Vista confirmou que o


contexto geológico da região representa continuidade para sul do Arco Magmático Goiás, bem
como comprovou a sua potencialidade para depósitos de Cu-Au fundamentada, sobretudo, em
importantes ocorrências de rochas ricas em cianita e pirita similares àquelas que ocorrem no
contexto do Arco Magmático Mara Rosa, mais especificamente no Depósito de Cu-Au
Chapada. Essas ocorrências têm sido interpretadas como litocapas metamorfizadas (halos
hidrotermais argílicos metamorfizados) que se associam aos depósitos de Cu-Au do tipo pórfiro
da região. Essas informações, aliadas a dados de geofísica aérea e geoquímica, têm demonstrado
que a área do Projeto Boa Vista representa um dos mais promissores prospectos (greenfield
prospect) do Arco Magmático Goiás.

2. Localização

A área do Projeto Boa Vista encontra-se em um contexto socioeconômico próspero e


na fronteira de um dos mais importantes polos do agronegócio do Centro-Oeste, ou até mesmo
do Brasil, distando cerca de 100 km a oeste de Goiânia-GO, 300 km a sudoeste de Brasília e 3
km a sudeste de Cezarina-GO (Figs. 1 e 2). Além dessa localização estratégica, a região mostra-
se recortada por importantes rodovias (ex. BR-060), ferrovia (EF-151-FNS) e hidrovia
(Hidrovia Tietê-Paraná).

3. Geologia Regional

A área do Projeto Boa Vista está inserida no Arco Magmático Anicuns-Itaberaí


(AMAI), um segmento com orientação geral NW-SE que, juntamente com os arcos magmáticos
Arenópolis e Mara Rosa, integram o Arco Magmático Goiás (Fig. 3). O AMAI está
representado predominantemente pela Sequência vulcanossedimentar Anicuns-Itaberaí, que
foi compartimentada em três unidades definidas com base no predomínio de rochas
metassedimentares e/ou metavulcânicas: Unidade metavulcânica máfica; Unidade
metassedimentar; e Unidade metavulcanossedimentar.

A Unidade metavulcânica máfica é constituída predominantemente de anfibolitos


finos (metabasaltos), além de ortgnaisses dioríticos a tonalíticos. Os anfibolitos apresentam
granulação fina, foliação difusa e são constituídos predominantemente de hornblenda,
clinopiroxênio (diopsídio), epidoto (zoizita, clinozoizita) e plagioclásio, além dos acessórios
ilmenita, magnetita, titanita e carbonato.

Fig. 1: Mapa de localização e acesso ao Projeto Boa Vista.

A Unidade Metavulcanossedimentar é constituída de metavulcânicas félsicas e


máficas, metapsamitos impuros (metagrauvacas), metapelitos, quartzitos e, subordinadamente,
calcissilicáticas. As metavulcânicas félsicas e máficas são identificadas por ortognaisses finos
e anfibolitos finos, respectivamente, enquanto as metassedimentares são diagnosticas por
variações de xistos ricos em clorita, muscovita e biotita (metapelitos), xistos feldspáticos e
paragnaisses finos (metagravauca), e quartzitos.

A Unidade metassedimentar é composta predominantemente por xistos, mármores e


as suas hospedeiras imediatas. Enquanto os xistos ocorrem em um contexto de relevo aplainado,
com afloramentos escassos, os mármores e as suas hospedeiras afloram em elevações que se
destacam na paisagem na forma de serras estreitas e alongadas, cuja assinatura geofísica
gamaespectrométrica na composição ternária RGB (K,eTh, eU) é realçada por tonalidades de
roxo intenso. Vale destacar a presença de várias pedreiras que exploram mármore para
finalidades diversas.
Fig. 2: Imagem da plataforma SPOT 5 obtidas a partir do software Google Earth Pro. Detalhe para a
delimitação dos direitos minerários e resultados de Au em amostras coletadas no campo. Área foco
encontra-se hachurada.
Fig. 3: Faixa Brasília. Fonte Pimentel et al. (2014).

Integram ainda o AMAI rochas plutônicas identificados por Plutônicas pré- a sin-
tectônicas e Plutônicas tardi- a pós-tectônicas, com ampla variação composicional de tonalito
a granito. Enquanto o primeiro conjunto exibe fortes evidências de deformação (milonitização,
gnaissificação) e metamorfismo de fácies xisto verde alto a anfibolito, o segundo mostra-se
indeformado ou pouco deformado, com evidências de texturas ígneas preservadas e
metamorfismo da fácies xisto verde baixo.

Informações preliminares indicam que o AMAI foi gerado e deformado no


Neoproterozóico, entre 900 e 600 Ma, durante a Orogenia Brasiliana.

4. Geologia do Projeto Boa Vista

A área do Projeto Boa Vista encontra-se em grande parte inserida no contexto do


Complexo Varjão, identificado por um núcleo heterogêneo de rochas Plutônicas pré- a sin-
tectônicas que ocorrem embutidas tectonicamente por falha de empurrão na Unidade
Metavulcanossedimentar da Sequência Anicuns-Itaberaí (Figs. 4 e 5).
Fig. 4: Mapa geológico do Projeto Boa Vista.
Fig. 5: Mapa geológico de detalhe com a localização das amostras analisadas para Cu e Au. Área foco
encontra-se hachurada.
O contato leste do Complexo Varjão com o Grupo Araxá também se dá por falha de
empurrão, indicando vergência para leste. Este complexo se destaca na paisagem por estar
associado a morros alongados que alcançam as cotas mais elevadas na região, atingindo por
vezes cerca de 950 metros. A orientação preferencial N-S dessas elevações é determinada por
zonas de cisalhamento dúctil a dúctil-rúptil identificadas por tectonitos hidrotermalizados
diagnosticados por transformações avançadas de cloritização, sericitização e, em menor
proporção, carbonatação e sulfetação incipiente.

De maneira geral, as rochas que compõem o Complexo Varjão são representadas


predominantemente por núcleos de ortognaisses graníticos a tonalíticos parcialmente
preservados, que ocorrem em associação com dominíos de rochas ricas em biotita, epidoto e
cianita (Fig. 6). Estudos preliminares indicam que essas associações representam,
respectivamente, halos de alteração hidrotermal potássica, propilítica e fílica/argílica
associados a um sistema magmático-hidrotermal do tipo Cu-Au pórfiro (Fig. 7).

Fig. 6: (A) Cianita-biotita xisto de granulação fina. A rocha tem coloração cinza escuro à esverdeada,
e apresenta xistosidade marcada pela presença de biotita em textura lepidoblástica; (B) A rocha pode
ser classificada como um epidosito pois apresenta níveis com mais de 90% de epidoto, o que também
gera a coloração esverdeada; (C) e (D) Cianitito de granulação média e coloração azulada nas porções
preservadas. A rocha apresenta uma capa de alteração de coloração ocre.
Fig. 7: Secções não dimensionais que ilustram a relação entre intrusão, alteração hidrotermal,
mineralização e evolução estrutural de depósitos Cu-Au: (a) Distribuição esquemática e hipotética de
assembleias de alterações magmático-hidrotermais desenvolvidas durante o estágio de mineralização
do pórfiro. (b) Seção esquemática destacando a relação entre rochas encaixantes, intrusão e
mineralização de Cu-Au no Sistema pórfiro-epitermal Boa Vista.

5. A mineralização de Cu-Au Boa Vista

A área do Projeto Boa Vista é dominada por uma associação de rochas ricas em cianita
e pirita (pirita cianititos, pirita-cianita quartzitos, pirita-cianita-quartzo xistos) que ocorrem ao
longo de serras estreitas e alongadas, com disposição geral N-S, e se estendem por cerca de 10
km ao longo da margem esquerda do Rio dos Bois (Fig. 8). A pirita é mais frequentemente
encontrada na forma de boxworks em produtos oxidados, onde esporadicamente se associa a
malaquita. Essas rochas exibem tonalidades arroxeadas (ocres) em resposta à oxidação dos
sulfetos.

Fig. 8: Disposição geral das serras de cianititos.


Na base das elevações, é comum a presença de gossans e concentrações ferruginosas
maciças e espessas (Fig. 9). Esporadicamente, são encontrados núcleos de pirita quartzito
inalterados exibindo grande concentração de pirita deformada (> 20% do volume) e com
granulação fina (Fig. 10). Análises geoquímicas em pirita cianitito e pirira quartzito
apresentaram resultados de até 2,18g/t (Fig. 10) e valores anômalos para Mo, Pb, Ag, Bi, Hg,
Sb, Se e Te, característicos de veios associados a depósitos epitermais (Fig. 11).

No setor norte da área é observado rochas relacionadas a um sistema similar a skarn,


com magnetititos e epidoto-quartzo metadiorito de granulação grossa rico em crisocola (silicato
de cobre), com concentração de Cu acima de 1,0% (Fig. 12).

Fig. 9: (a) Capa de alteração de coloração ocre desenvolvida sobre Pirita quartzito (gossan); (b) Capa
de alteração com forte iridescência desenvolvida sobre Pirita quartzito; (c) Concentração ferruginosa
desenvolvida na base das elevações; (d) Quartzito com alteração de coloração ocre em decorrência da
decomposição de sulfetos.

Essas ocorrências são similares àquelas encontradas em vários contextos no Arco


Magmático Mara Rosa (exs. Serra das Araras, Serra do Caranã, Serra de Bom Jesus, Serra dos
Picos), situação em que são interpretadas como litocapas dos depósitos de Cu-Au pórfiros da
região (ex. Depósito de Cu-Au Chapada; Oliveira et al., 2016).
Fig. 10: (a) Detalhe de pirita quartzito aurífero de granulação fina contento grandes concentrações de
pirita deformada (>20%) e ouro (2,18g/t) (Amostra BV-01a). Observa-se a borda de alteração na rocha
de cor ocre e com boxworks de pirita, característica que auxilia a prospecção da rocha mineralizada.
(b) Pirita quartzito aurífero parcialmente oxidado com teores de ouro que variam de 1,0 a 0,13g/t
(Amostra BV-007),

6. Geofísica do Projeto Cu-Au Boa Vista

6.1. Magnetometria

A partir do mapa de Campo Magnético Anômalo (Fig. 13a) do Projeto Boa Vista pode-
se observar anomalias magnéticas. Com base no CMA (Campo Magnético Anômalo) foi
produzido o mapa da Primeira Derivada Vertical (Fig. 13c), que evidencia as características do
gradiente vertical geralmente relacionado às altas frequências, e que permite a obtenção de
informações sobre as feições mais rasas. A partir desse mapa é possível observar feições
estruturais como lineamentos, descontinuidades e contatos. Na área do Projeto Boa Vista
ocorrem lineamentos com orientação preferencial NE-SW (Fig. 13c).

A partir das derivadas direcionais do CMA calcula-se o Sinal Analítico 3D (Fig. 13e).
Esse produto depende das características do corpo magnético anômalo e marca os limites
lateralmente e em profundidade dessas anomalias. Em corpos rasos, as suas bordas podem ser
delimitadas a partir do SA3D (Sinal Analítico 3D), e dentro da área do Projeto pode-se observar
anomalias magnéticas bem marcadas com orientação N-S aproximada.
Fig. 11: Imagem da plataforma SPOT 5 obtidas a partir do software Google Earth Pro. Detalhe para
a localização inferida do veio mineralizado em Au, com base nas amostras anômalas coletadas em
superfície.
Fig. 12: (a) Epidoto-quartzo metadiorito de granulação grossa com crisocola. (b) Granito alterado
hidrotermalmente com malaquita.

Fig. 13: (a) Campo Magnético Anômalo (CMA); (b) Contagem Total (CT); (c) Primeira Derivada
Vertical (1DZ); (d) Mapa de Porcentagem de Potássio; (e) Sinal Analítico 3D (SA3D); (f) Mapa
Gamaespectométrico – RGB.
6.1. Gamaespectometria

As principais fontes radiação gama (ɣ) detectáveis na superfície terrestre são emitidas
durante o decaimento dos elementos radioativos potássio (K40), urânio (U238), tório (Th232) e
seus respectivos isótopos filhos presentes na composição da maioria das rochas. O mapa de
Contagem Total (Fig. 13b) mostra a contagem total da radiação gama do potássio (em
porcentagem), de urânio e tório (em ppm) da camada mais superficial da crosta terrestre
(aproximadamente 35cm), que pode ser constituída de rochas preservadas, rochas
intemperizadas, solos ou coberturas vegetais. A partir da contagem total é possível produzir
mapas de composição ternária, como por exemplo o mapa com padrão RGB - red, green, blue
(Fig. 13f) onde as cores vermelho, verde e azul são associadas ao potássio, ao tório equivalente
(eTh) e urânio equivalente (eU), respectivamente. Também é possível obter o Mapa de
Porcentagem de Potássio (Fig. 13d), que mostra somente a porcentagem da radiação
proveniente do potássio. Na área do Projeto Boa Vista é possível observar anomalia de potássio
com orientação N-S de aproximadamente 10km de extensão.

7. Potencial para Depósitos de Cu e Au do Projeto Boa Vista

O Projeto Boa Vista representa um dos mais promissores prospectos (greenfield


prospect) do Arco Magmático Goiás em função das seguintes constatações:

• A geologia do Projeto Boa Vista representa continuidade para sul do Arco Magmático
Goiás, exibindo características similares às do Arco Magmático Mara Rosa;

• O Arco Magmático Mara Rosa hospeda os principais depósitos e ocorrências de Cu-Au do


tipo pórfiro do Arco Magmático Goiás, com destaque para o Depósito de Cu-Au
Chapada, pertencente à Yamana Gold;

• Entre as encaixantes do Depósito de Cu-Au Chapada destacam-se associações de rochas


ricas em cianita e pirita, que exibem características similares àquelas encontradas no
Projeto Boa Vista;

• No Depósito de Cu-Au Chapada, as encaixantes ricas em cianita e pirita representam


litocapa metamorfizada (halo argílico metamorfizado) do depósito de Cu e Au. As
hospedeiras desse depósito são representadas por rochas ricas em biotita (biotita
xistos e anfibólio-biotita xistos), que ocorrem em contato transional com a litocapa
argílica metamorfizada;

• Litocapas argílicas que se associam aos depósitos de Cu-Au pórfiro nem sempre são
anômalas nesses elementos, mas eventualmente podem hospedar importantes
depósitos de Au epitermal;
• No caso do Projeto Boa Vista, as poucas análises geoquímicas feitas até o momento
mostraram que as rochas ricas em cianita e pirita são fortemente anômalas em ouro
(>2 g/ton Au) e que apresentam características geoquímicas (valores anômalos em
Pb, Mo, Bi, Ag, Bi, Hg, Sb, Se, Te) similares àquelas encontradas em depósitos
auríferos epitermais. Além disso, sistemas epitermais preservados podem estar
associados a ocorrências de Cu-Au pórfiro em profundidade, o que foi verificado até
o momento em algumas amostras contento crisocola e malaquita com teores acima
de 1,0% Cu.

8. Referencia

Oliveira, C. G.; Oliveira, F. B.; Giustina, M. E. S. D.; Marques, G. C.; Dantas, E. L.; Pimentel,
M. M.; Buhn, B. M. 2016. The Chapada Cu-Au deposit, Mara Rosa magmatic arc,
Central Brazil: Constraints on the metallogenesis of a Neoproterozoic large porphyry-
type deposit. Ore Geology Reviews, v. 72, p. 1-21.

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