Você está na página 1de 12

Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Escola de Formação de Professores e Humanidades


Curso de Licenciatura em História

Disciplina: HIS1001. Antiguidade Clássica


Prof. Me. Ivan Vieira Neto (Turma A01 / 2023-1)

APOSTILA DE CURSO
ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Texto 03

A Redescoberta de Creta.

Referência

FINLEY, M.-I. Aspectos da Antiguidade. São Paulo: Martins Fontes,


1991. pp. 9-27.
COLEÇÃO O HOMEM E A HISTÓRIA

Braudel, F. - O Espaço e a História no Mediterrâneo M. I. FINLEY


ASPECTOS
Braudel, F. - Os Homens e a Herança no Mediterrâneo
Duby, G. - A Europa na Idade Média
Wolf/, P. - Outono da Idade Média ou Primavera dos Tempos Modernos?

DA
Ferro M. - A História Vigiada
Finley, M. I - Uso e Abuso da História
Finley, M. /. - Economia e Sociedade na Grécia Antiga
Braudel, F. - Gramática das Civilizações
Duby, G. - A Sociedade Cavaleiresca
Duby, G. - São Bernardo e a Arte Cisterciense
ANTIGUIDADE
Le Goff, J. - A História Nova
Duby, G. - Senhores e Camponeses
Dalarun, J. - Amor e Celibato na Igreja Medieval
Finley, M. I. - Grécia Primitiva: Idade do Bronze e Idade Arcaica
Grimal, P. - O Amor em Roma
Finley, M. /. - Aspectos da Antiguidade

Próximos lançamentos
Daumard, A. - Os Burgueses e a Burguesia na França
TRADUÇÃO
MARCELO BRANDÃO CiPOLLA

Martins Fontes
A REDESCOBERTA DE CRETA

O historiador grego Políbio, escrevendo em Roma por


volta de 150 a.C., criticou os filósofos que incluíam Creta
nas discussões sobre o Estado ideal. "Com poucas exceções,"
escreveu, "é impossível encontrar um lugar onde a vida pri­
vada esteja tão impregnada de perfídia e onde a política pú­
blica seja tão iníqua quanto em Creta." A ganância e a ava­
reza "são nativas da terra de Creta", onde as pessoas "es­
tão envolvidas em inúmeras insurreições públicas e parti­
culares, assassinatos e guerras civis".
Políbio tinha o hábito de fazer generalizações morda­
zes, não necessariamente confiáveis, acerca dos povos de vá­
rias regiões da Grécia, em especial daquelas de que não gos­
tava. No entanto, é verdade que a Creta do seu tempo era
uma água-furtada do mundo grego e uma das principais ba­
ses de pirataria do Mediterrâneo oriental. Não havia nada
de muito interessante a ser estudado nas instituições con­
temporâneas de Creta. Mas a ilha também estava envolta
em lendas e tradições, algumas singulares e curiosas. Ha­
via, por exemplo, o rei Minos, que controlava o mar com
a sua armada e era famoso pelo senso de justiça, dádiva de
10 ASPECTOS DA ANTIGUIDADE A REDESCOBERTA DE CRETA 11

seu pai, Zeus. Minos tinha na sua corte aquele artesão ini= ma caverna onde a mãe se ocultara para salvá-lo do marido,
gualável, de ascendência divina: Dédalo, um refugiado de 0 titã Cronos, que tinha o hábito de devorar os próprios
Atenas, que construiu as asas com as quais fugiu da ilha com filhos. Discutia-se se a caverna estaria localizada no monte
seu filho, Ícaro. Ícaro aproximou-se demais do sol, suas asas Ida, na região central de Creta, ou, com maior probabilida­
derreteram, e ele se afogou no mar. Minos perseguiu Déda­ de, no monte Dikte, mais ao leste. Creta está repleta de ca­
lo até a Sicília, onde foi morto (também por afogamento) vernas de montanha, e centenas delas já eram ocupadas por
pelas filhas de um rei local, Kokalos. No Hades, de acordo povos neolíticos pelo menos desde 6000 a.C. Muitas
com o testemunho de Ulisses, que visitou o local, Minos tornaram-se ou continuaram a ser santuários já no período
podia ser visto ostentando um cetro de ouro e distribuindo histórico grego, e, é claro, as controvérsias seriam inevitá­
justiça. veis. Mas havia consenso quase que geral, e não só entre
Os mitos, é claro, poucas vezes primam pela coerência os cretenses, quanto a um fato: a ilha era a terra natal do
rei dos deuses olímpicos, e isto é da maior importância. Por
e Minos possuía uma outra face menos atraente. Era casa­
que Creta, afinal de contas?
do com Pasífae, filha do Sol, que alimentou uma paixão an­
Existem lugares que naturalmente evocam sentimentos
tinatural por um touro saído do mar. O próprio Minos,
de misticismo e reverência, que possuem aquilo que é cha­
em certo sentido, era filho de um touro, se bem que este
mado pelos estudiosos da religião de qualidade numinosa.
fosse Zeus disfarçado (sua mãe era Europa). Pasífae, porém,
Delfos, por exemplo. Os que visitam Delfos sentem-na mes­
apaixonou-se por um touro de verdade; ela recorreu a Dé­ mo hoje, apesar dos hotéis modernos e das lojas de lembran­
dalo, que construiu um engenho que lhe permitiu manter ças, dos carros estacionados e dos ônibus turísticos. Caver­
relações com o animal. Pasífae deu então à luz um mons­ nas e nascentes também a têm. Mas seria difícil sustentar
tro, meio homem, meio touro, chamado Minotauro (lite­ que Creta tem uma qualidade numinosa suprema, ou mes­
ralmente, o Touro de Minos). O rei abrigou o Minotauro mo especial. É a maior ilha do mar Egeu, uma forma alon­
num labirinto especialmente construído e ordenou aos ate­ gada com cerca de 258 km de comprimento e 58 km de lar­
nienses, seus súditos, que enviassem todos os anos sete ra­ gura no ponto mais largo, com uma área de mais ou menos
pazes e sete virgens para serem oferecidos ao monstro co­ 8.400 km2 (um pouco menor do que Chipre, ou, digamos,
mo alimento. Certo ano, Teseu, o jovem filho do rei de Ate­ Porto Rico). É montanhosa, e a paisagem, vista do mar por
nas, persuadiu o pai a incluí-lo na remessa anual de vÍtimas. quem chega do sul, é rude, escarpada e espetacular. Algu­
Quando chegou a Creta, Teseu de pronto conquistou o amor mas partes, em especial as Montanhas Brancas do oeste, são
da filha de Minos, Ariadne, e com a sua ajuda abateu o Mi­ praticamente inacessíveis, e hoje, assim como na Antigui­
notauro. Os dois fugiram- estranhamente, não foram per­ dade, são dignas apenas de cabritos selvagens e criminosos.
seguidos-, e Teseu abandonou Ariadne na ilha de Naxos, Creta já foi famosa pelos seus ciprestes e carvalhos, pelas
onde o deus Dionísio a encontrou e desposou. suas pastagens altas, suas oliveiras e vinhas, seus campos fér­
O interesse de Zeus por Creta não estava restrito a Eu­ teis, pelos portos do norte e do leste. (Se hoje a maior parte
ropa e a Minos. Ele próprio havia sido criado na ilha, nu- da ilha é estéril, isso se deve à má administração dos cris-
12 ASPECTOS DA ANTIGUIDADE A REDESCOBERTA DE CRETA 13

tãos e sarracenos.durante a Idade Média.) E também é uma do de Agamenon? E o que eram Agamenon, a sua Micenas
ilha de cavernas. e a expedição que comandou senão gregos, não só na lin­
Mas, depois que se diz tudo isto, a ligação especial en­ guagem que falavam, mas também no modo de vida?
tre Zeus e Creta permanece inexplicada, uma vez que a rries­ Essa falsa imagem manteve-se até princípios do século
ma descrição pode�ia ser igualmente aplicada a muitas par­ XX. De qualquer maneira, durante a maior parte dos sécu­
tes da Grécia e da Asia Menor (a Turquia moderna) e a ou­ los intermediários poucas pessoas na Europa Ocidental se­
tras ilhas do Mar Egeu. Não foi a geografia de Creta que quer pensaram em Creta. A ilha foi disputada e explorada
lhe conferiu uma preeminência especial, mas a sua história, de tempos em tempos por romanos, imperadores bizanti­
ou melhor, a sua pré-história. Já houve um tempo - entre nos, sarracenos, cruzados, turcos, e finalmente, já quase na
2000 e 1400 a.C., em números redondos - em que Creta nossa época, pelos gregos, que a reintegraram ao seu terri­
viveu uma Idade de Ouro, em que era muito mais rica, mais tório nacional. Mas, como já afirmara Políbio, intelectual
poderosa e mais civilizada que qualquer outra das áreas que ou historicamente, não valia a pena estudar Creta, nem em
mais tarde constituiriam o mundo grego. Essa cultura pri­ livros nem diretamente.
mordial foi destruída e literalmente enterrada: mesmo os O primeiro avanço importante foi realizado em 1834
seus remanescentes físicos logo desapareceram. Mas uma vaga por um jovem do Trinity College de Cambridge chamado
lembrança subsistiu. A vida em si não desapareceu da ilha. Robert Pashley. Ele havia completado o curso universitá­
Muitos dos antigos grandes centros (ainda que não todos), rio normal em línguas clássicas e matemática, e estava des­
como Cnossos, Gortyn e Faístos, subsistiram na condição tinado a ser um grande advogado. Antes, porém, ele se uniu
de cidades gregas menores, relativamente empobrecidas, com àquela notável constelação de exploradores e arqueólogos
uma consciência vaga e distorcida de um passado grandio­ britânicos do século XIX - Layard, Burton e Stanley tal­
so, de Minos, do labirinto e do seu Minotauro, de serem vez sejam os mais famosos, e, sem dúvida, foram os mais
a terra 1e Zeus, o maior dos deuses olímpicos. espetaculares -, que abriam então novos campos de pes­
Devemos ressaltar quão vaga era essa consciência. Se um quisa, vastos e exóticos. Com vinte e sete anos, Pashley ha­
cretense, digamos, do século V a.C. (ou qualquer outro grego via conseguido, por intermédio de historiadores e geógra­
dessa mesma época) fosse questionado a respeito de Minos, fos antigos e de fragmentos medievais e modernos, alguns
ele o descreveria como um grande governante grego de ou­ inéditos, todas as informações disponíveis sobre a ilha de
trora. Saberia que Creta já fora habitada por não-gregos, que Creta. Assim, acompanhado de um gravador espanhol de
ele chamaria de eteo-cretenses ("cretenses verdadeiros"), de Malta chamado Antonio Schranz, para mapear e descrever
quem o povo de Praisos, no leste de Creta, afirmava des­ todos os sítios antigos que conseguisse localizar, ele partiu
cender. Mas nunca duvidaria de que essa Idade de Ouro fo­ para Creta. Seu olho para o terreno era o de um batedor
ra constituída por uma civilização grega essencialmente igual indígena, tanto que um especialista moderno, ao se referir
a sua, apenas mais gloriosa, mais rica, mais magnífica. Pois aos quase sete meses de trabalho de Pashley, disse que ele
não havia o neto de Minos, Idomeneu, liderado um dos fa­ "identificou a maioria dos sírios com uma precisão nunca
mosos contingentes enviados contra Tróia, sob o coman- antes atingida e, desde então, poucas vezes desafiada".
14 ASPECTOS DA ANTIGUIDADE A REDESCOBERTA DE CRETA 15

Ele também era um lingüista talentoso, com uma capa­ escreveu: "A cidade de Minos, o local onde se situava, se­
cidade incomum de granjear a confiança da população lo­ gundo a lenda, o Palácio para ele construído, com todas as
cal, o que contribuiu bastante para o seu sucesso. Em 1834, maravilhas artÍsticas que continha, por seu artesão Déda­
Creta ainda estava sob o domínio dos turcos, recuperada lo ... e o próprio labirinto, impôs-se naturalmente como o
pelo acordo firmado depois da guerra de independência grega primeiro objetivo." Entre Pashley e Evans o pensamento
de 1821-1831. Os cretenses, parte cristãos, parte muçulma­ sofrera uma completa revolução - uma revolução que não
nos, eram analfabetos, ignorantes e pobres, e não tinham foi concebida na própria ilha, mas na Ásia Menor e depois
motivos para confiar em ninguém. "Antes da revolução gre­ na Grécia continental, e realizada por um só homem, Hein­
ga", escreveu Pashley, "Creta era a província mais mal­ rich Schliemann. A investigação em Creta prosseguira, res­
governada do Império Turco." trit-a, porém, como no caso de Pashley, a relíquias e docu­
O relato ilustrado das viagens de Pashley, em dois vo­ mentos gregos. Não que os resultados obtidos não fossem
lumes, foi publicado em 1837. Não houve mais volumes, importantes: foi descoberta em Gortyn boa parte de um
uma vez que todos os seus escritos e desenhos foram con­ código jurídico do século V a.C., inscrito em pedra, que ain­
sumidós pelo fogo no ano seguinte. O que ele conseguiu da é único entre as antiguidades gregas. Assim, o estudo da
publicar é fascinante, não só pela detalhada explanação dos história e da civilização grega avançava consideravelmente,
procedimentos que utilizou para identificar o que queria, enquanto a glória da Creta primitiva permanecia tão obs­
mas também pelas descrições da vida cretense, e, inciden­ cura e improvável quanto havia parecido a Políbio, dois mil
talmente, das idéias da população local acerca do seu passa­ anos antes.
do distante. Um menino de dez anos, por exemplo, disse­ Veio então o incrível Schliemann - em Tróia em 1870,
lhe que "o labirinto de Creta era uma das sete maravilhas em Micenas em 1876, e em Orchomenos, na Grécia Cen­
do mundo, na época dos a�tigos helenos" e que "essas sete tral, em 1881 - e o mundo constatou, atônito, que as len­
maravilhas correspondem aos sete sacramentos da Igreja das gregas deviam ser levadas a sério, ainda que não tão ao
Cristã". O próprio Pashley sabia tanto quanto o menino pé da letra quanto sugeria o próprio Schliemann. Schliemann
acerca da existência de uma grande civilização pré-grega. Ele não seria Schliemann se não tentasse expandir o seu traba­
procurava resquícios greco-romanos, e achou alguns, que lho a Cnossos. Mas lá o obscurantismo burocrático turco
acreditava remontarem "ao período mais antigo da civili­ e a idade finalmente o dobraram, e ele não realizou mais
z�ção". Quando localizou Cnossos, foi levado a comentar, que uma fracassada escavação experimental. A descoberta
como bom racionalista, que as "cavernas naturais e sepul­ dos segredos de Cnossos foi reservada a Evans, e nunca um
cros escavados" da região "evocam a conhecida lenda anti­ só homem dominou tão completamente um campo arqueo­
ga do labirinto de Creta... Não há, porém, motivo para crer­ lógico (a não ser o Abbé Breuil e as pinturas pré-históricas
mos que o labirinto de Creta teve uma existência mais real em cavernas).
que o seu fabuloso ocupante". Arthur Evans (Sir Arthur a partir de 1911) infelizmen­
Cerca de setenta anos depois, Arthur Evans, recordando­ te adquiriu em nossa época algumas qualidades lendárias,
se das suas primeiras escavações em Creta, dez anos antes, que complicam os problemas surgidos desde então. Uma
16 ASPECTOS DA ANTIGUIDADE A REDESCOBERTA DE CRETA 17

delas é a suposição absurda de que ele era na realidade um em muitos aspectos essenciais da cultura posterior de Ate­
amador brilhante. Os fatos são estes: filho de um impor­ nas ou Esparta ou mesmo da Cnossos grega. Não poderia
tante arqueólogo e numismata, Evans recebeu a melhor edu­ haver um símbolo melhor ou mais visível dessa diferença
cação clássica e histórica disponível, passou seis anos em Ra­ que o próprio grande palácio, a estrutura labiríntica que as
gusa (hoje Dubrovnik) estudando os arquivos e antiguida­ escavações subseqüentes em outros lugares de Creta demons­
des dos eslavos do sul e dos antigos ilíricos. Estudou com traram ser característica do mundo minóico. Esse tipo de
o sogro, o notável historiador E. A. Freeman, as ruínas e palácio, ou, diga-se de passagem, qualquer tipo, era total­
moedas da Sicília, e adquiriu mais experiência arqueológica mente desconhecido entre os gregos posteriores. O edifí­
na Grã-Bretanha. Em 1884, aos trinta e três anos, quando cio monumental característico destes era o templo armado
foi nomeado curador do Ashmolean Museum de Oxford, por colunas, uma estrutura ausente na civilização minóica,
eram poucos, se houvessem, os arqueólogos tão bem trei­ assim como a escultura monumental: não havia estátuas gran­
nados em toda a Europa. des em Creta, nem de homens nem de deuses. E não havia
Durante uma visita a Atenas, Evans comprou algumas indícios de uma divindade masculina suprema: se Zeus era
pedras de selo gravadas provenientes de Creta, nas quais jul­ um dos antigos deuses de Creta, e não uma importação pos­
gou perceber sinais de uma escrita desconhecida. Lá foi ele terio_r, foi um precursor muito fraco do olímpico grego.
para a ilha à procura de outras, as quais encontrou sem di­ A medida que prosseguiam as escavações e os estudos
ficuldade, visto que eram usadas como amuleto pelas mu­ tornou-se óbvio que a civilização minóica era centrada no
lheres grávidas. "Pedras de leite", elas as chamavam. Na An­ palácio e apresentava mais analogias com as civilizações con­
tiguidade, essas pedras também eram utilizadas em volta do temporâneas do Oriente Médio do que com a cultura gre­
pescoço ou do pulso, mas não tinham a função de amuleto ga posterior. Por trás da civilização minóica estavam um
ou talismã. O desenho gravado era o selo ou a marca do aumento de população, considerável quando comparada com
dono, usada para "selar" documentos, cerâmica, ou qual­ a pequena quantidade de pessoas que habitavam cavernas
quer coisa que necessitasse de tal identificação. de montanha no período neolítico;" um grande avanço tec­
As "pedras de leite" decidiram a questão para Evans: nológico - que incluía o uso do metal - e o desenvolvi­
ele faria escavações em Cnossos. Como era herdeiro de duas mento de uma organização social e de uma estrutura de po­
fortunas, pôde superar as dificuldades que haviam detido der complexas. Quem quer que tenha construído os palá­
Schliemann. Em 1894 ele comprou o sírio. Ainda assim, te­ cios dispunha de grandes recursos, tanto materiais quanto
ve de esperar que os turcos finalmente deixassem a ilha, no humanos, e tinha acesso a idéias e mercadorias do Egito,
fim de 1898, quando começou a escavar quase imediatamen­ da Síria, e mesmo da Babilônia. Todos os centros cretenses
te. Na primeira tentativa descobriu o palácio e uma grande importantes localizavam-se perto de bons portos, ou me­
quantidade de tabuletas inscritas. A civilização "minóica", lhor, de praias protegidas, visto que naquela época os na­
como Evans a chamou, renasceu em 1900, pois ele de pronto vios eram trazidos à terra quando fazia mau tempo.
percebeu que ali havia uma cultura muito mais avançada Talvez o aspecto mais espantoso dessa civilização seja
do que a da Idade da Pedra e que, ao mesmo tempo, diferia o seu aparente caráter pacífico. Os complexos palacianos
18 ASPECTOS DA ANTIGUIDADE A REDESCOBERTA DE CRETA 19

não eram fortalezas como as de Micenas, Tirinto e outros ria, como pode perceber qualquer turista que visite Cnos­
centros continentais. Tampouco havia traços de qualquer sos, se for razoavelmente observador e não der ouvidos à
outro tipo de fortificação, ou de armas e exércitos. Nesse tagarelice oficial dos guias.
aspecto, Creta diferia nitidamente das suas contemporâneas. Não que a imaginação não seja uma ferramenta essen­
Nem mesmo os reis são visíveis: há um trono na sala do cial do arqueólogo. Considere-se a questão, básica, da data­
trono de Cnossos, mas as paredes são decoradas com ani­ ção: quando começou a civilização minóica? Quando ela
mais míticos e padrões florais. O domínio dos mares tal­ terminou? Tais questões tiveram (e ainda têm) de ser res­
vez explique a sensação de perfeita segurança contra ataques pondidas sem o auxílio de qualquer documento minóico da­
marÍtimos. Mas nunca houve perigo de conflitos entre pa­ tado. A datação, assim, é arqueológica - isto é, inferida a
lácios? E não havia necessidade de coação e proteção poli- partir do estudo cuidadoso das camadas sucessivas nas ruí­
cial na própria ilha? nas, da identificação de objetos datáveis importados de ou­
Estas são perguntas óbvias; não podem ser respondidas tras sociedades, como o Egito, e da observação de similari­
agora porque os indícios disponíveis são, em sua m� ior parte, dades entre esses objetos e objetos cretenses encontrados em
objetos materiais - edifícios, ferramentas, cerâmica, obras contextos datáveis. Para se chegar mesmo a uma data apro­
de arte - e estes nunca nos dizem muita coisa acerca das ximada, é necessária uma grande sensibilidade para minú­
idéias e instituições sociais de uma civilização. Evans e ou­ cias estilísticas e técnicas de artesanato, qualidade que Evans
tros arqueólogos encontraram várias tabuletas insc:itas, m� s, possuía em alto grau. Na melhor das hipóteses, pode-se ob­
durante a sua vida, elas desafiaram todas as tentativas de m­ ter uma aproximação: é importante ressaltar isto agora, quan­
terpretação. É uma singularidade da car:eira de �vans que, do a cronologia cretense está novamente sendo debatida com
atraído a Creta por caracteres desconhecidos escntos em pe­ uma ferocidade inversamente proporcional à certeza que po­
dras de selo, ele se tenha concentrado em todas as suas ou­ de ser razoavelmente postulada por qualquer um.
tras descobertas e negligenciado a publicação das tabuletas, A cronologia de Evans pode ser disposta numa tabela
atrasando por conseqüência sua interpretação. (recentemente modificada por R. W. Hutchinson, que, de
1934 a 1947, foi curador da Villa Ariadne, o quartel-general
Evans morreu em 1941 com noventa anos, ainda traba­ de Evans em Cnossos):
lhando em suas publicações. Homem de prodigiosa ener­
gia e força de vontade, contava com o apoio leal de um grupo Alto Minóico 1: 2500-2400 a.C.
de colaboradores muito capacitados, e os seus esforços pio­ II: 2400-2100
neiros logo foram seguidos por outras escavações em toda III: 2100-1950
a Creta. Também era um polemista feroz, capaz - o que
Médio Minóico 1: 1950-1840 a.C.
II: 1840-1750
provou na prática -de calar as vozes dissidente
_ _ ��1,
s. Em 1
III: 1750-1550
portanto, a imagem mais largame nte aceita da Creta mmoica
Baixo Minóico 1: 1550-1450 a.C.
era aquela construída por Evans, e incluía, deve-se acrescen­ II: 1450-1400
tar ' uma boa dose de inferência e de reconstrução imaginá- III: 1400-1050
20 ASPECTOS DA ANTIGUIDADE A REDESCOBERTA DE CRETA 21

É evidente que o padrão é por demais elegante e simé­ contrados mais do que Evans havia suposto existir. Quan­
trico. Ele também sugere a existência de um império: o es­ do se pensa nas pouquíssimas formas de escrita inventadas
quema, inferido a partir das ruínas de Cnossos, foi arbitra­ pelo homem ao longo de toda sua história, é espantoso no­
riamente estendido a Creta como um todo, embora hoje tar que a pequena ilha de Creta produziu pelo menos duas
tenhamos certeza de que pelo menos parte dele não é apli­ que foram exclusivamente suas. Havia uma escrita por ima­
cável a certos sítios, como Faístos. E por que deveria? Afir­ gens modificadas, que Evans chamou de "hieroglífica" por
mar que toda a Creta era cultural e politicamente monolí­ analogia com a escrita egípcia; haviam duas escritas diferen­
tica é uma suposição gratuita (e, hoje, comprovadamente tes, mais avançadas (nas quais os signos individuais corres­
falsa). No entanto, uma vez admitidos estes defeitos, esta pondem a sílabas), que ele chamou respectivamente de li­
ainda é, de maneira geral, a cronologia mais largamente acei­ near A e linear B; e, num pequeno disco encontrado em
ta; o Médio Minóico é reconhecido como o grande perío­ Faístos, possivelmente um objeto importado, havia ainda
do criativo, e 1400 -como a data realmente terminal. Naquela outro sistema de escrita. Todos aparecem unicamente em
época ocorreu uma grande destruição da qual a civilização Creta, com exceção do linear B, cujo uso era mais dissemi­
minóica nunca se recuperou. O Baixo Minóico III foi des­ nado na Grécia continental que na própria Creta, mas que
prezado por Evans como um miserável mundo de "selva­ só ocorre em textos extremamente curtos ou em marcações
gens". de pedras de selo e cerâmica, e essa brevidade aumenta imen­
Depois do "quando", a próxima pergunta é, por certo, samente as dificuldades de interpretação. Devemos lembrar
o "quem". Não há dúvida de que Creta foi alvo de migra­ que a escrita sobre materiais perecíveis, como o papiro egíp­
ções antes e ao longo do período minóico. A última delas cio - mesmo que houvesse existido, o que não sabemos -
trouxe gregos à ilha. Mas, antes dos gregos, quem foi para não teria resistido ao clima cretense. Certos registros pala­
lá? E de onde vinham? Em breve retomaremos estas ques­ cianos eram gravados em pequenas tabuletas de argila em
tões, que em grande medida ainda estão em aberto. A mais forma de folha, que não eram cozidas, e eram descartadas
famosa das disputas pessoais de Evans dizia respeito aos gre­ tão logo deixassem de ser necessárias. A destruição dos pa­
gos. Existem afinidades e influências inquestionáveis entre lácios era acompanhada por grandes incêndios, que aciden­
a arte e a arquitetura palacianas de Creta tardia e a grande talmente coziam algumas tabuletas inscritas, e apenas estas
civilização que então se desenvolvia na Grécia continental foram recuperadas pelas escavações modernas.
(que chamamos de civilização micênica). Evans naturalmente
insistiu na originalidade e na prioridade cretenses, e quase Em 1952 um jovem arquiteto britânico, Michael Ven­
conseguiu destruir a carreira de um arqueólogo mais jovem, tris, anunciou, após anos de trabalho intensivo, que a lin­
Alan Wace - que viria a se tornar a maior autoridade so­ guagem das tabuletas escritas em linear B era uma forma
bre Micenas -, que o desafiou (e que, como foi provado arcaica do grego. Esta descoberta imediatamente desafiou
posteriormente, esteve muito mais perto da verdade). ainda que de maneira exasperante, grande parte da image�
Parecia razoável supor que o veredicto final estivesse ortodoxa da civilização minóica. Agora era certo que os go­
encerrado nos escritos não decifrados, dos quais foram en- vernantes de Cnossos, na época da sua destruição, falavam
22 ASPECTOS DA ANTIGUIDADE A REDESCOBERTA DE CRETA 23

grego. Mas quando haviam chegado, em que quantidade e tes que um povo de língua grega viesse a dominar Cnossos
com que efeitos? As tabuletas não contêm datas. Seu con­ em sua fase final; a escrita silábica foi inventada original­
teúdo se restringe a prosaicas listas de suprimentos, reba­ mente para representar aquela linguagem e só mais tarde
nhos 'de ovelhas, inventários de posses do palácio e afins. foi aplicada ao grego, ao qual não se adaptava muito bem
Elas confirmam e elaboram a imagem, já sugerida pelas pró­ (assim como a escrita cuneiforme e o alfabeto fenício fo­
prias ruínas, de uma sociedade muito centralizada, burocrá­ ram empregados para linguagens diversas das originais). E
tica, dirigida pelo palácio, mas infelizmente não contêm in­ assim as duas velhas perguntas permanecem sem resposta:
formações significativas acerca da política ou dos contatos Quem? Quando?
com o exterior. E até agora a escrita em linear B não foi As tabuletas não respondem a segunda questão, não só
encontrada em qualquer outro sítio cretense que não Cnos­ por não conterem datas, mas também por serem todas o
sos. Significará isto que a invasão de um povo que falava produto de um único momento no tempo: o momento em
grego - o que parece ter ocorrido - não atingiu o restante que um determinado palácio foi incendiado. Assim, sabe­
da ilha? Talvez - ou talvez estejamos sendo enganados pe­ mos que o linear B era usado em Cnossos na época da sua
lo acaso, pelo azar de arqueólogo. destruição, mas não sabemos quando a escrita foi introdu­
O linear B é uma escrita que se desenvolveu a partir zida lá, ou quantas modificações sofreu ao longo dos anos.
do linear A, mas a descoberta de Ventris não contribuiu Dependemos ainda da datação arqueológica. Embora a maio­
para a sua interpretação. Isso se deve, em parte, à pouca quan­ ria dos arqueólogos continue aceitando a essência do esque­
tidade de textos disponíveis. Embora o linear A, ao contrá­ ma cronológico de Evans, este tem sido rigorosamente con­
rio do linear B, tenha sido encontrado em vários sítios cre­ testado, principalmente pelo professor Leonard Palmer, de
tenses, só os fragmentos de linear B provenientes de Cnos­ Oxford. Suas dúvidas devem-se ao seguinte fato: nos sítios
sos (excluindo-se, neste cálculo, os encontrados no conti­ continentais onde foram encontradas tabuletas em linear B,
nente) excedem em cerca de dez vezes a quantidade total como em Pilos, nas mesmas condições que as encontradas
de textos conhecidos de linear A. Contudo, a dificuldade em Cnossos (novamente graças aos incêndios após a des­
principal reside no fato de que a linguagem do linear A cer­ truição dos palácios), a data geralmente aceita é 1200 a.C.
tamente não é o grego nem, provavelmente, qualquer ou­ São duzentos anos após a data proposta por Evans para o
tra língua conhecida. O duro trabalho criptográfico conti­ fim da era minóica, e, no entanto, a linguagem e o conteú­
nua sem interrupções. Ocasionalmente anuncia-se algum es­ do geral das tabuletas de Cnossos são essencialmente indis­
petacular avanço, que acaba por se revelar um alarme falso; tinguíveis do que foi encontrado no continente. Portanto,
assim, ainda é correto dizer, como escreveu John Chadwick argumenta Palmer, a data deve ser aproximadamente a mes­
em 1958: "somos forçados a admitir que qualquer progres­ ma. A partir desta base simples, o argumento torna-se por
so parece estar momentaneamente bloqueado pela insufi­ demais técnico, por demais complicado, e por demais áspe­
ciência do material disponível". Uma conclusão, no entan­ ro. Os cadernos de notas de Evans têm sido examinados,
to, parece segura: a linguagem da escrita linear A era a lín­ com o intuito de comparar as afirmações publicadas com
gua do povo que criou a Idade de Ouro minóica, muito an- as primeiras impressões anotadas durante a escavação. No-
24 ASPECTOS DA ANTIGUIDADE A REDESCOBERTA DE CRETA 25

vos esforços vêm sendo dispendidos no sentido de correla­ Mas todos os partidos nesta novíssima disputa concor­
cionar e sincronizar as relíquias de Cnossos com as de ou­ dam em um ponto: o elo integral existente entre o estrato
tros sítios aos quais, como já dissemos, o elegante esquema pré-grego da população cretense e a Ásia Menor. Algumas
de Evans não se aplica, exceto com modificações drásticas. das provas são lingüísticas (e, de novo, altamente técnicas),
E a questão, velha e crucial, da relação entre as duas cultu­ como em topônimos pré-gregos como Cnossos ou Tilissos,
ras - cretense e continental - está sendo retomada. e algumas são arqueológicas. Mas a mais óbvia é o onipre­
A violência da polêmica não ajudou o leigo a compreen­ sente touro. Nos afrescos cretenses os touros estão em to­
der o que está em jogo. Não se pode simplesmente deslocar da parte, em diversos papéis (mas nunca como divindades
a destruição de Cnossos em duzentos anos e esquecer o as­ ou qualquer coisa que se assemelhe ao Minotauro, que de­
sunto. Se Palmer estiver certo, toda a cronologia da última ve ser uma invenção grega pós-minóica). Existem também
grande era minóica terá de ser modificada, e, com ela, a nossa os misteriosos "cornos de consagração", que por vezes ser­
compreensão do papel do novo elemento grego, tanto na vem como uma base sobre a qual o duplo machado era co­
ilha quanto no continente. Se ele estiver certo, talvez a es­ locado como um tipo de estandarte. Esta combinação pos­
crita linear B seja uma invenção continental, e não creten­ sivelmente tem um significado ritual. Ora, o touro também
se. A imagem, proposta por Evans, de um longo e miserá­ é identificado em contextos religiosos da Ásia Menor, asso­
vel período selvagem em Cnossos teria de ser abandonada, ciado, por exemplo, ao deus hitita do clima, e, de maneira
e a grande onda de destruição que atingiu o continente em mais sensacional, nas descobertas feitas a partir de 1961 por
1200 a.C. teria de ser estendida também -à ilha. James Mellaart em Çatal Hüyük, na Planície de Konya,
Nessa medida, a datação de Palmer é um importante
centro-sul da Ásia Menor. Trata-se de um sÍtio neolítico,
desafio à cronologia ortodoxa. Por outro lado, isso não im­
cujo nível mais profundo foi datado de 6500 a.C. Ele e'n­
plica a rejeição da imagem global da civilização minóica desde
controu pinturas em paredes semelhantes às pinturas rupes­
o seu surgimento no neolítico, cerca de trezentos ou mais
tres da Idade da Pedra na Espanha oriental; mas encontrou
anos antes de 2000 a.C.. Hoje sabe-se muito mais do que
também chifres de boi dispostos cerimonialmente de uma
Evans jamais soube, e uma ampliação do conhecimento ine­
vitavelmente acarreta correções, elaboração e refinamento maneira que nos recorda, de forma notável, os "cornos de
da imagem. Mas a sua realização se destaca como um dos consagração" cretenses.
grandes monumentos na história da arqueologia, e torna­ É um longo caminho o que leva da Ásia Meno�, em
se mais notável ainda quando se considera que, quando ele 6500 a.C., à Creta de 2000 a.C., mas esta nova descoberta,
começou, tanto a disciplina quanto as suas técnicas eram quando relacionada com todos os outros elos conhecidos,
novas e freqüentemente grosseiras. Qualquer sugestão de não pode ser tomada como uma coincidência sem signifi­
que Evans foi incompetente ou desonesto é tão absurda cado. O essencial é que todos esses elos sugerem uma mi­
quanto o mito do seu amadorismo. É fácil ser inteligente gração da Ásia Menor para Creta em algum momento do
e superior depois que outro já realizou o desgastant� traba­ passado distante, e não um simples empréstimo de idéias
lho de escavação. oú instituições, que também ocorria todo o tempo.
26 ASPECTOS DA ANTIGUIDADE A REDESCOBERTA DE CRETA 27

A redescoberta de Creta ainda é, sem dúvida, um pro­ 1200, como na Grécia continental. Quando os gregos rea­
cesso muito incompleto. O arqueólogo grego Nicholas Pla­ pareceram sob a luz plena da história, muitos séculos de­
ton descobriu em 1962 um grande palácio labiríntico e, em pois, eles ainda falavam grego, mas utilizavam uma nova
1963, algumas tabuletas em linear A, nas proximidades da forma de escrita e tinham um modo de vida completamen­
vila de Kato Zakro, na costa leste da ilha. O palácio, cujo te novo. É por isso que a Creta minóica e a Grécia micêni­
nome se desconhece, é o quarto maior já desenterrado em ca são na verdade elementos da pré-história grega.
Creta, depois dos de Cnossos, Faístos e Malia, e, mesmo
assim, um arqueólogo de primeiro time, D. G. Hogarth,
colaborador de Evans, realizou escavações no local em 1901
e não conseguiu encontrá-lo. Na Grécia continental, em Te­
bas, operações de construção civil realizadas no começo de
1964 revelaram as primeiras tabuletas em linear B a serem
encontradas nesse sítio, além de um grande número de pe­
dras de selo babilônicas datáveis; pelo menos uma delas per­
tence ao período compreendido entre 1375 e 1350 a.C. As
planícies da Ásia Menor estão pontilhadas de colinas como
Çatal Hüyük, com possibilidades ilimitadas. A datação por
carbono 14 já fez a Era Neolítica de Creta recuar mil anos
e poderá um dia oferecer uma resposta cientÍfica à cronolo­
gia posterior. A análise química da argila e dos pigmentos
da cerâmica proporcionará um fundamento novo e confiá­
vel à análise estilística.
Parece inevitável que todos estes problemas e propos­
tas levantem grandes cortinas de fumaça de publicidade, com
afirmações e contra-afirmações proferidas com uma certe­
za e uma acidez injustificáveis. A grande desvantagem des­
te processo é desviar a atenção da essência para o efêmero
e para personalidades. A essência, afinal, é uma grande civi­
lização perdida, atraente sob vários aspectos. Enquanto
aguardamos respostas mais exatas para diversas questões (so­
bre origens, conexões, datas), a arte e a arquitetura, as reali­
zações técnícas, os indicativos de como a sociedade se orga­
nizava, estão lá para serem contemplados. Também o está
a catástrofe final, tenha ela ocorrido em 1400 a. C. ou em

Você também pode gostar