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“Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava;

levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles,


pois dizia: Talvez tenham pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em seu
coração. Assim o fazia Jó continuamente.” Jó 1.5
 
O grande “nó” na educação de filhos nos dias atuais é, sem dúvida, a ausência de
autoridade no seio da família. Talvez a própria natureza humana apresente um
desconforto não só para estar debaixo de autoridade como para exercer a função de
autoridade! Tedd Tripp, em seu livro “Pastoreando o Coração da Criança” suscita várias
perguntas que nos levam a pensar na natureza da autoridade dos pais em relação aos
seus filhos, das quais eu destaco algumas:

·    A autoridade é investida sobre o pai ou a mãe em virtude da diferença de tamanho


entre os pais e os filhos?
·    Fomos investidos de controle por sermos mais inteligentes e mais experientes?
·    Deus nos chamou a orientá-los porque não somos pecadores e eles o são? 1

Por certo a resposta a essas perguntas é “não”. Todavia, na caminhada da maioria das
famílias tidas como cristãs, a prática diária responderia “sim”! Muitos pais agem (às
vezes também dizem!) de forma a dar a entender que os filhos devem obediência a eles
ou porque são pequenos e eles são grandes, ou porque os filhos não têm experiência de
vida ou porque olham para os filhos como pecadores reféns de certos comportamentos
já há muito tempo vencidos e dominados pelos adultos.

No entanto, os pais são autoridade sobre os seus filhos porque Deus os colocou nesta
posição. Mais ainda, os pais precisam exercer o seu papel de autoridade sobre os filhos
deixando transparecer que estão fazendo essa tarefa em cumprimento às
determinações divinas para o bem estar da família. Isso deve trazer transformações na
atitude dos pais e, por certo, no modo como os filhos se sujeitam a eles.

Numa sociedade tão remota e num tempo tão primitivo, Jó demonstrou uma profunda
compreensão do seu papel de pai! Ele não era apenas uma figura dentro de uma
estrutura familiar, mas um pai ativo que interagia com seus filhos e abraçava a
responsabilidade de instruí-los, interceder a favor deles e intervir em suas vidas.
Para tanto, é imprescindível reconstruir alguns alicerces para estabilizar e fortalecer a
relação pais e filhos entre os cristãos. Longe de ser uma lista exaustiva, abaixo aponto
algumas bases nas quais a paternidade cristã deveria se firmar.

1.    Os pais também têm o dever de obedecer!


Pai e mãe precisam estar tomados por uma convicção de que a exigência para que seus
filhos os obedeçam tem sua raiz no fato de que Deus os comissionou a criar os filhos
na disciplina e na admoestação do Senhor (cf. Ef 6.4) e a ensiná-los no caminho da
obediência (Pv 22.6). Nesse sentido, os pais também estão no exercício de sua
obediência a Deus, persuadidos de que as ações paternais compostas por instruções,
intervenções e até correções de disciplina nada mais são do que o “caminho da vida”
(cf. Pv 6.23).

Assim, a relação entre pais e filhos não deveria caminhar no compasso das
características pessoais de cada casal, mas na cadência dos mandamentos bíblicos
impostos sobre os pais. Sendo bem pragmático, nenhum pai ou mãe deveria deixar
transparecer a seus filhos que está exigindo obediência deles por estar simplesmente
furioso num dado momento ou porque foi criado de um certo jeito e é conservador ou
porque o modo de viver dos filhos está agredindo o seu próprio modo de ver a vida, mas,
sobretudo, porque esse pai ou essa mãe está atuando debaixo da lei e da autoridade
divina!

Os pais não podem exigir obediência de seus filhos porque seu gosto pessoal é ter
filhos obedientes, mas porque Deus disse que eles precisam fazer dessa maneira.
Quando os pais ensinam os filhos no caminho da obediência, mais do que realizando
um sonho pessoal de ter filhos bem criados e educados, eles estão sendo fiéis às
ordens divinas.

2.    Os pais funcionam como agentes de Deus!


Quando saímos a campo e dialogamos com papais e mamães aqui e ali, não é difícil
perceber que os casais (ou o pai sozinho e a mãe sozinha em alguns casos!) têm
reduzido a tarefa da paternidade ao suprimento das necessidades básicas dos filhos,
isto é, dar alimento, abrigo, vestimentas, lazer e educação escolar. Tedd Tripp lembra
que Deus chamou os pais “a uma tarefa mais profunda do que alguém que cuida” 2.
Os pais deveriam se ver como agentes de Deus e abraçar intensamente a tarefa de
instruir, corrigir e treinar seus filhos, não apenas como “cuidadores”, mas fazendo o
papel “discipuladores” que apontam aos filhos a todo momento à quem realmente estão
submissos. No livro de Deuteronômio, a instrução à Israel foi “Estas palavras que, hoje,
te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado
em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.” (6.6-7).

Cabe aos pais fazer dos seus filhos discípulos comprometidos com os valores sociais,
morais e espirituais claramente estabelecidos na Palavra de Deus. Em última análise, a
questão não é se o filho obedece ao pai ou à mãe como um escravo ao seu senhor, mas
se ele os segue como um discípulo ao seu mestre.

3.    Os pais fazem o papel de treinadores com alvos claros e bem definidos!
Uma parcela significativa dos pais não tem alvos bem definidos para seus filhos. Em
linhas gerais as metas dos pais acabam sendo imediatistas (por exemplo, se tem um
filho bebê somente querem que ele durma a noite toda!), circunstanciais (por exemplo,
se tem uma filha adolescente somente não querem que ela namore tão cedo aquele
garoto indesejável!) e egocêntricos (por exemplo, alguns pais querem que o filho se
torne um profissional numa determinada área visando ganhar muito dinheiro!).

Os pais correm o risco de canalizarem todas as suas energias para uma paternidade
marcada pela autossafistação. Neste caso, a pergunta aos pais não é “o que querem
para si mesmos”, mas sim, “o que querem para os seus filhos?” Lançando mão de uma
linguagem da área da saúde, quando os pais não têm alvos claros e bem definidos para
os filhos, acabam fazendo até um bom trabalho de “correção”, mas deixam a desejar no
que tange à “prevenção”!

A educação de um filho pode ser reduzida a correções de comportamento que emergem


de situações onde, ou os pais foram envergonhados, ou estão profundamente irritados
com a criança (ou adolescente, ou jovem). E isso não é bom! As ações dos filhos podem
ganhar uma dimensão que ocultará as atitudes do coração. Os alvos dos pais precisam
estar voltados para o coração de seus filhos, na expectativa de que, quanto às
instruções dadas, eles as prenderão perpetuamente aos seus corações e serão como
colares no pescoço (cf. Pv 1.8-9).
O texto de Provérbios 6.20-23, além de belíssimo, é bastante adequado aqui: “Filho meu,
guarda o mandamento de teu pai e não deixes a instrução de tua mãe; ata-os
perpetuamente ao teu coração, pendura-os ao pescoço. Quando caminhares, isso te
guiará; quando te deitares, te guardará; quando acordares, falará contigo. Porque o
mandamento é lâmpada, e a instrução, luz; e as repreensões da disciplina são o caminho
da vida”. Se os pais não apontarem aos seus filhos a direção para onde devem ir, se não
lhes mostrarem o “caminho da vida”, a possibilidade de estarem totalmente perdidos e
distantes dos ideais divinos será significativamente real.
 
Concluindo, pode ser que alguém dirá: “Mas o problema é que meus filhos não me
ouvem!” No entanto, eu creio que os pais podem persuadir seus filhos a uma melhor
aceitação da instrução e correção. Pais e mães cristãos precisam encontrar sabedoria
nas Escrituras Sagradas para lidar com seus filhos de tal modo que o coração deles se
curvará em obediência e todos os processos neurais em suas mentes irão se convencer
de que “o que rejeita a disciplina menospreza a sua alma, porém o que atende à
repreensão adquire entendimento.” (Provérbios 15.32

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