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ARTIGO

Audiodescrição para pessoas


com deficiência intelectual
Pesquisa com 12 alunos com deficiência intelectual leve indicou que
os roteiros devem ser mais explícitos, com repetições e termos mais
simples que os usados para pessoas com deficiência visual
Bárbara Cristina dos Santos Carneiro1

RESUMO: A audiodescrição (AD) tem sido aplicada principalmente para pessoas com deficiência visual, mas pode também
atender às com deficiência intelectual (DI). Este artigo relata uma pesquisa com 12 alunos das unidades da Associação de Pais e
Amigos dos Excepcionais (APAEs) de Salvador e São Paulo para identificar lacunas de compreensão do roteiro de AD para pessoas
com deficiência visual aplicados a pessoas com DI, por meio da exibição de três curtas-metragens com e sem AD e de questionários
de avaliação da compreensão. Os resultados revelaram que um roteiro de AD mais interpretrativo e explícito é mais indicado para
pessoas com DI. A repetição de informações e o uso de termos menos complexos também se mostraram bastante recomendáveis
como forma de manter a atenção e assegurar a assimilação dos filmes apresentados.
Palavras-chave: Audiodescrição; Deficiência intelectual: Interpretação; Pesquisa de recepção.

A
audiodescrição (AD) é uma modalidade de tra- e congressos, partidas de futebol, telejornais, livros didáticos
dução audiovisual de natureza intersemiótica e qualquer outra atividade cujo conteúdo possa ser interrom-
que visa tornar acessíveis produtos e atividades pido por alguma barreira comunicacional. A AD tem como
culturais de comunicação e de informação, como público primário pessoas com deficiência visual, para as quais
cinema, televisão, teatro, dança, exposições em museus, palestras se volta a maioria das pesquisas dessa área. Estudos recentes

1
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

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O trabalho final da equipe deve ter linguagem acessível,
ser coerente com o produto traduzido e abarcar o máximo
possível de informações para que a audiência possa usufruir de
forma satisfatória o material ou a atividade audiodescrita

indicaram que a AD pode ser útil também para pessoas com Até o ano de 2010, nenhuma pesquisa no Brasil nem no
deficiência intelectual (DI) (CARNEIRO, 2015), com autismo mundo havia se debruçado sobre a AD para outros públicos
(FELLOWES, 2012) e idosos, além de auxiliar no aprendizado que não as pessoas com deficiência visual. Sabia-se, porém, que
de uma nova língua quem não necessariamente tem alguma empiricamente a AD ajudaria no entendimento de produtos
deficiência (SILVA; BARROS, 2017). No Brasil, 23,9% da culturais por parte de outros públicos, de acordo com alguns
população apresenta deficiências visual, auditiva, motora ou autores e normas na área, como a UNE 153020.
intelectual (OLIVEIRA, 2012), o que reforça a necessidade
de políticas que assegurem os direitos e a autonomia dessas ESTUDO PILOTO
pessoas para usufruir as produções culturais. Em 2010, o Grupo de Pesquisa Tradução, Mídia e Audiodescrição
Com a Lei de Acessibilidade de 2000, a AD passou a ser obri- (Tramad) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) fez a AD
gatória e, após o Decreto nº 5.296, de 2004 (BRASIL, 2004), de uma peça de teatro na cidade de Santo Amaro da Purificação,
a fazer parte dos televisores digitais, por meio de um canal de na Bahia. Para surpresa da equipe, o público que compareceu
áudio acessado pela tecla second audio program (SAP) do controle ao espetáculo não foram pessoas com deficiência visual, como
remoto. A lei prevê o aumento gradual de programas televisivos se esperava, mas um grupo de alunos da Associação de Pais e
com AD e gera uma demanda crescente de profissionais espe- Amigos dos Excepcionais (APAE) da cidade, que conhece-
cializados em AD e uma oferta também progressiva de cursos ram a AD pela primeira vez. Intrigados com o resultado ines-
de formação de audiodescritores. O primeiro curso de espe- perado, os pesquisadores planejaram um estudo piloto, reali-
cialização em AD foi organizado pela Universidade Federal de zado em 2011, para avaliar o grau de efetividade da AD para
Juiz de Fora (UFJF) em 2015 e permitiu a audiodescritores já pessoas com DI.
atuantes reforçarem sua formação acadêmica e refletirem sobre Depois do contato inicial com a APAE de Santo Amaro, a
suas práticas. As discussões entre os participantes indicaram que fonoaudióloga e o coordenador da instituição ajudaram a sele-
cursos de curta duração não seriam suficientes para capacitar cionar quatro alunos com DI leve para participar da pesquisa,
profissionais qualificados, embora dessem suporte inicial para que consistia em uma entrevista prévia, na exibição de um filme
quem quisesse começar a atuar nessa área. Atualmente, além de 15 minutos sem AD, na aplicação de um questionário de
de os canais de televisão abertos manterem no ar oito horas compreensão, em nova exibição do filme, dessa vez com AD,
semanais com programas audiodescritos, a Agência Nacional novamente na aplicação do questionário de compreensão e, ao
do Cinema (Ancine) decretou que todo material audiovisual final, na aplicação de outro sobre a qualidade da AD. Os resul-
produzido com patrocínio financeiro público deve conter os tados do estudo piloto indicaram que a AD de fato auxiliou a
três recursos de acessibilidade: janela de língua brasileira de compreensão da narrativa fílmica por essa audiência, mas não
sinais (Libras), AD e legenda fechada para surdos. de forma satisfatória, o que motivou a inclusão de pessoas com
Para a produção da AD, é necessária uma equipe, que, em DI, além das com deficiência visual, nas pesquisas do grupo
geral, é composta de um audiodescritor roteirista, um audiodes- (FRANCO et al., 2013, p. 201-211).
critor revisor, um audiodescritor consultor e um audiodescri- Em 2012 elaboramos dois tipos de roteiro de AD para a
tor narrador. O roteirista pode ser também revisor e narrador, exposição Jorge Amado Universal, exibida no Museu de Arte
e o consultor preferencialmente uma pessoa com deficiência Moderna da Bahia (MAM-BA), em Salvador. Um dos roteiros
visual. O trabalho final da equipe deve ter linguagem acessí- trabalhava as obras do escritor baiano para pessoas com DI, com
vel, ser coerente com o produto traduzido e abarcar o máximo uma abordagem diferente da feita com o público de pessoas
possível de informações para que a audiência possa usufruir com deficiência visual. Em 2013 outro estudo no MAM-BA
de forma satisfatória o material ou a atividade audiodescrita. investigou se e como pessoas com baixa visão e pessoas com

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uma das etapas do trabalho, a aproximação dos participantes
Os seis participantes do estudo, em antes do desenvolvimento da pesquisa, para conhecê-los e
ganhar a confiança deles.
três dias seguidos, assistiram a três As equipes do Serviço de Socioeducação da APAE DE
curtas-metragens produzidos no SÃO PAULO e do Centro de Formação e Acompanhamento
Ceará – Vida Maria, Reisado Miudim e Profissional (Cefap) da APAE de Salvador orientaram a esco-
lha dos seis alunos de cada instituição — três com síndrome
Águas de Romanza – com e sem AD. de Down e três com DI leve sem causa definida — para partici-
Depois de cada exibição, preenchiam par da pesquisa. Os seis participantes deveriam ter diagnóstico
de grau leve de DI, porque deveriam responder a perguntas e
um formulário de compreensão
questionários sobre os filmes a serem exibidos. A Organização
Mundial da Saúde (OMS) entende como DI leve os casos
que podem realizar tarefas mais complexas com supervisão
DI poderiam contribuir para a construção do roteiro de AD (BALLONE, 2007).
— no Brasil a participação das pessoas com deficiência visual Primeiramente, os participantes do estudo responderam a
se limita à avaliação da clareza do roteiro de AD, enquanto na um questionário de perfil com informações pessoais e familia-
Alemanha, por exemplo, o consultor com deficiência visual par- res, escolaridade e hábitos como telespectadores. Muitos disse-
ticipa da construção do roteiro desde o início. Nesse estudo, ram que gostavam de assistir a filmes, novelas e programas de
pessoas com baixa visão de Salvador e alunos da APAE de auditório, o que sugeriu que conviviam com produtos televisi-
Santo Amaro deveriam observar obras selecionadas da exposi- vos e não iriam se opor a assistir a filmes. Em seguida, em três
ção Esquizópolis e descrever o que viam. Os resultados mostra- dias seguidos, assistiram a três curtas-metragens produzidos
ram que a pessoa com baixa visão tem de ter um grau de visão no Ceará: Vida Maria, Reisado Miudim e Águas de Romanza
mínimo que a permita perceber a obra de arte e contribuir em (um por dia). Em cada dia os participantes assistiam inicial-
sua roteirização, enquanto as com DI não poderiam ajudar de mente a uma versão de cada filme sem AD, seguida da aplica-
forma sistemática na construção do roteiro, já que suas narra- ção de um questionário de compreensão, e depois assistiam
tivas não se relacionavam com as obras. ao mesmo filme com AD voltada para pessoas com deficiência
A partir de 2013, adotando a mesma metodologia do estudo visual, com outro questionário de compreensão, acrescido de
piloto de 2011, procurei elencar quais elementos deveriam perguntas sobre a AD.
constar de um roteiro de AD voltado para o público com DI As atividades foram gravadas por duas câmeras: uma cap-
em uma pesquisa mais ampla, nas APAEs de Salvador e São tou as expressões faciais dos alunos, e a outra acompanhou
Paulo, de modo a evidenciar um eventual contraste entre duas o computador em que o filme era exibido para registrar a
regiões brasileiras. Após a aprovação do projeto de pesquisa situação que originou a reação dos participantes. Em confor-
pelos comitês de ética das duas instituições, em setembro de midade com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
2014, deu-se início a coleta de dados. Como os participantes (TCLE), o conforto e o bem-estar dos participantes foram
deveriam ter entre 20 e 40 anos, fui encaminhada ao Serviço verificados com frequência e eles sabiam que poderiam parar
de Socioeducação da APAE DE SÃO PAULO, a primeira das a atividade a qualquer momento. Todos, exceto um, perma-
duas instituições a responder à minha consulta sobre a possi- neceram até o fim em todas as etapas dos três filmes e disse-
bilidade de participação no estudo, para explicar o projeto de ram que haviam gostado muito das atividades e participariam
pesquisa a seus profissionais. outra vez, se necessário.
O contato prévio com os participantes, nas oficinas e nos
intervalos entre as atividades, também foi de extrema impor- ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS
tância para que se sentissem à vontade com o pesquisador e ao Uma questão já discutida e superada nos estudos da tradu-
assistirem aos filmes, como indicado por Franco et al. (2013, p. ção é que a subjetividade do tradutor pode influenciar no
201-211). Esta pesquisa adotou o modelo social de deficiência, produto final da tradução, mas esse debate continua nos
que a entende não como uma limitação física ou fisiológica, mas estudos da tradução audiovisual (TAV), particularmente da
como resultado da ineficiência social e das barreiras provoca- AD. Para alguns autores, como as normas de AD internacio-
das pela organização político-social que excluem as minorias nais — ITC Guidance (INDEPENDENT TELEVISION
(BAMPI; GUILHEM; ALVES, 2010). Essa abordagem reflete COMISSION, 2000), Wenn aus Bildern Worte werden (DOSH;

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BENECKE, 2004), UNE 153020 (ASOCIACIÓN ESPAÑOLA
DE NORMALIZACIÓN Y CERTIFICACIÓN, 2005) e A análise dos dados indicou que,
Audio Description Coalition (2007) —, bem como Snyder
(2014), a subjetividade do tradutor pode interferir de forma
para esse público poder usufruir um
negativa na tradução das imagens, impondo sua interpretação filme audiodescrito, a AD deveria
e limitando a interpretação do público-alvo. A interpretação ser mais explícita, já que essa
feita durante a tradução é intrínseca e inevitável, pois o tradu-
tor, a seu modo, tentará mostrar à audiência as imagens que audiência tende a perder o foco
informam e emocionam, fazendo dele próprio um mediador. mais facilmente em atividades que
Além de a interpretação ser característica própria de cada pes-
soa, que percebe o mundo diferentemente, a tradução de ima-
demandam mais concentração
gens em palavras não intenciona dar ao espectador uma única
forma de interpretar um filme, uma vez que os espectadores
também são interpretantes e o conhecimento de mundo de informações que levem o espectador a fazer inferências e a tirar
cada indivíduo permite diversas outras interpretações a par- as próprias conclusões sobre a obra, viu-se que esse processo
tir da mediação do audiodescritor. poderia ser ineficiente para pessoas com DI. De fato, a análise
Costa (2014) indaga o que é descrever a um mínimo de dos dados indicou que, para esse novo público poder usufruir
interpretação, já que na área da AD alguns teóricos aceitam a de forma mais eficiente um filme audiodescrito, a AD deveria
natureza subjetiva da tradução, mas sugerem que o tradutor/ ser mais explícita, nos termos de Braun (2007), já que essa
audiodescritor reduza essa interpretação a um mínimo, con- audiência tende a perder o foco mais facilmente em ativida-
templando apenas o essencial para a construção mental da obra. des que demandam mais concentração, como assistir a filmes.
Para Braun (2007), interpretar consiste em explicitar o que se Como observado, as pessoas com DI precisam de inter-
vê e expressar uma opinião sobre a obra. Já descrever consti- pretação e informações explícitas para fazer relações entre as
tui uma forma mais objetiva de traduzir, sem emissão de opi- cenas e as personagens, de modo a entender, por exemplo,
niões e, desse modo, uma atividade menos subjetiva. As duas que Antônio é marido da personagem principal do filme Vida
formas levariam o espectador a fazer inferências sobre o que Maria, como demonstrado no Quadro 1, a seguir.
está sendo descrito. O público-alvo da AD, porém, são pessoas Ainda que a AD tenha auxiliado na compreensão de alguns
com deficiência visual, com faculdades cognitivas intactas e dos alunos, como pode ser percebido na segunda coluna, mui-
sem dificuldades para fazer inferências. tos dos participantes não se deram conta de quem de fato era
Esta pesquisa investigou os momentos em que pessoas com a personagem.
DI teriam mais dificuldade para interpretar as cenas dos três fil- Ao assistirem à cena de Reisado Miudim em que os meni-
mes. Como o roteiro de AD deve ser objetivo e indicar apenas nos se mostram a língua, a maioria dos participantes deste

Quadro 1. Pergunta 6 do questionário de compreensão do filme Vida Maria.


Pergunta 6
Participantes Quem é o marido de Maria José?
Sem audiodescrição Com audiodescrição
É o que depois o outro entrou, aí entrou mais
SP1 É o Antônio.
um e falou, bença, ele falou, Deus te abençoe.
Do que já morreu. (Já morreu? Mas você não sabe o
SP2 Ah, isso aí é uma longa história.
nome dele, não?) Não. É o pai da Maria de Lurdes.
SP3 É o pai. Antonio.
SP4 Vi, era um homem. (Você lembra o nome dele?) Não. José. (Não.) Esqueci. (Antônio.) Antônio.
[Foi necessário retornar ao vídeo, pois a aluna
SP5 alegou não se lembrar das cenas, uma vez que foi a
primeira vez que teria visto o filme.] Não lembro.
SP6 Essa parte eu esqueci. A moça só falou “Marido”.
Fonte: Carneiro, 2015.

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estudo não entendeu que os meninos estavam brincando é que repetições são fundamentais para a fixação de informa-
(Quadro 2). ção por esse público. O nome das personagens, por exemplo,
Já em Águas de Romanza, os participantes não entenderam foi uma das informações que os participantes, em um primeiro
os desenhos na parede como um sonho da menina (Quadro 3). momento, não conseguiram lembrar e, depois de assistirem à
Esses dados levaram à conclusão de que um roteiro mais inter- versão com audiodescrição, relembraram com mais facilidade
pretativo pode ser mais efetivo para esse público. Outra conclusão (Quadro 4).

Quadro 2. Pergunta 4 do questionário de compreensão do filme Reisado Miudim.


Pergunta 4
Por que o menino que está dançando e aquele que está olhando
Participantes
da porta da casa ficam mostrando a língua um para o outro?
Sem audiodescrição Com audiodescrição
SP1 Porque um tá com inveja porque o outro tá dançando. Porque o menino que tava dançando não chamou o amigo pra dançar.
(Você ainda acha que eles não se gostam?
SP2 Porque ele não gosta um do outro.
São amigos?) Não, são inimigos.
(Você ainda acha que os meninos que se dão língua não
SP3 se gostam?) [Balança a cabeça negativamente.
Ainda acha que os meninos não se gostam.]
SP4 Tá provocando ele. Tá provocando.
SP5 Fazendo micagem, fazendo graça. Além da falta de respeito, eles estão fazendo gracinha.
SP6 É que eles ficam brigando. Não sei, porque ele sente vergonha e não quer participar.
Fonte: Carneiro, 2015.

Quadro 3. Pergunta 12 do questionário de compreensão do filme Águas de Romanza.


Pergunta 12
Os desenhos que surgem na parede do quarto da menina são reais? Romanza acorda mesmo para
Participantes
ver os desenhos? Por que você acha que ela está acordada? [Caso respondam que a menina acorda.]
Sem audiodescrição Com audiodescrição
Não. É de mentirinha. (Você acha que quando Romanza acorda
para brincar com eles ela está acordada de verdade?) Não, ela
Não. (O que eram aqueles desenhos?) Era de aparecido. (A menina
tá dormindo. (Então ali é um sonho dela, não é?) Isso, e depois
SP1 tava acordada mesmo?) Ela tava dormindo. (Então os desenhos
aparece o boneco rindo. Ela acordou, brincou com o boneco
eram o quê? Se ela estava dormindo, os desenhos eram reais?) Não.
na parede, passou a mão na parede. (Mas ela na verdade tava
dormindo, não foi?) Foi, tava dormindo.
Não. (E por que eles aparecem para ela?) Eles são de madeira. (Mas
a menina acorda para brincar com eles? Ela tá acordada?) Não, são São. (Então ela acorda para brincar com os desenhos?) Acorda.
SP2
[?] do corpo dela todo. (Mas ela estava acordada?) Tava acordada. Ela vê a mão assim ó. (Ela está acordada ali?) Tá.
(Então os desenhos são reais?) Não, ela viu só pelos tempos.
É que ela se movem. (A Romanza tá brincando com eles
Não. (O que são esses desenhos?) Esses desenhos vira, é realidade. de verdade?) É. (Ela tá acordada ali?) [Balança a cabeça
SP3
(Então ela está acordada?) [Balança a cabeça positivamente.] positivamente.] Ela toca na parede, é que ela tocou, é que ela
dança, foi para camisola dela.
Não. (E o que acontece aí? O que a menina está fazendo?)
São. (A menina acorda para ver os desenhos?) Tá brincando. (Mas ela está acordada?) Não, tá dormindo.
SP4
[Balança a cabeça positivamente.] (Então aqueles desenhos todos são o quê?) São de mentira.
(Então ela está o quê?) Tá sonhando.
São imaginários. Ela teve um pensamento imaginário. (E ela
acorda para ver os desenhos?) Acorda. (Mas você acha que ela
SP5 Não, são imaginários e a menina está sonhando.
estava acordada ou outra coisa?) Tava acordada ou sonhando
também. Na verdade, sonhando.
É o sonho da menina. (Mas ela acorda para ver os desenhos?) Ela
SP6 dorme e ela acorda que ela queria ver os desenhos. (Mas não são É. É o sonho da menina.
reais?) Não.
Fonte: Carneiro, 2015.

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Quadro 4. Pergunta 1 do questionário de compreensão do filme Águas de Romanza.
Pergunta 1

Participantes Quem é a menina? Qual é o nome dela?

Sem audiodescrição Com audiodescrição

SP1 Sim, o nome dela é Vanessa. Romanza

Como assim? (Como é o nome da menininha?) Não era Maria?


SP2 Da mãe ou da filha? (O nome da menininha, você lembra?) Não.
(Não, essa daí, você lembra?) Não sei quem é não.

SP3 Ename. Romanza

SP4 Ixe. [Balança a cabeça negativamente.] Antônia. (Quase! É Romanza.) É, Romanza.

SP5 É a neta da avó. (Qual é o nome dela?) Não prestei atenção. Romanza.

SP6 Roman. Romanza.

Fonte: Carneiro, 2015.

A linguagem utilizada nos roteiros de AD é outro ponto alunos se mostraram bastante dispersos e um participante
importante, já que termos lexicais mais complexos podem dormiu. Já na segunda versão os alunos se mostraram mais
interferir na compreensão dos espectadores com DI. Por fim, atentos, indicando as peculiaridades do roteiro de AD para
a AD assegurou a atenção à obra. Como os filmes eram silen- atender pessoas com DI e a necessidade de estudos mais
ciosos, durante a exibição da versão sem audiodescrição os aprofundados sobre esse tema.

REFERÊNCIAS
ASOCIACIÓN ESPAÑOLA DE NORMALIZACIÓN Y CERTIFICACIÓN. UNE COSTA, L. M. Audiodescrição em filmes: história, discussão conceitual e
153020: audiodescripción para personas con discapacidad visual. Requisitos pesquisa de recepção. Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica
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