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Revista DI
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RESUMO: A audiodescrição (AD) tem sido aplicada principalmente para pessoas com deficiência visual, mas pode também
atender às com deficiência intelectual (DI). Este artigo relata uma pesquisa com 12 alunos das unidades da Associação de Pais e
Amigos dos Excepcionais (APAEs) de Salvador e São Paulo para identificar lacunas de compreensão do roteiro de AD para pessoas
com deficiência visual aplicados a pessoas com DI, por meio da exibição de três curtas-metragens com e sem AD e de questionários
de avaliação da compreensão. Os resultados revelaram que um roteiro de AD mais interpretrativo e explícito é mais indicado para
pessoas com DI. A repetição de informações e o uso de termos menos complexos também se mostraram bastante recomendáveis
como forma de manter a atenção e assegurar a assimilação dos filmes apresentados.
Palavras-chave: Audiodescrição; Deficiência intelectual: Interpretação; Pesquisa de recepção.
A
audiodescrição (AD) é uma modalidade de tra- e congressos, partidas de futebol, telejornais, livros didáticos
dução audiovisual de natureza intersemiótica e qualquer outra atividade cujo conteúdo possa ser interrom-
que visa tornar acessíveis produtos e atividades pido por alguma barreira comunicacional. A AD tem como
culturais de comunicação e de informação, como público primário pessoas com deficiência visual, para as quais
cinema, televisão, teatro, dança, exposições em museus, palestras se volta a maioria das pesquisas dessa área. Estudos recentes
1
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
indicaram que a AD pode ser útil também para pessoas com Até o ano de 2010, nenhuma pesquisa no Brasil nem no
deficiência intelectual (DI) (CARNEIRO, 2015), com autismo mundo havia se debruçado sobre a AD para outros públicos
(FELLOWES, 2012) e idosos, além de auxiliar no aprendizado que não as pessoas com deficiência visual. Sabia-se, porém, que
de uma nova língua quem não necessariamente tem alguma empiricamente a AD ajudaria no entendimento de produtos
deficiência (SILVA; BARROS, 2017). No Brasil, 23,9% da culturais por parte de outros públicos, de acordo com alguns
população apresenta deficiências visual, auditiva, motora ou autores e normas na área, como a UNE 153020.
intelectual (OLIVEIRA, 2012), o que reforça a necessidade
de políticas que assegurem os direitos e a autonomia dessas ESTUDO PILOTO
pessoas para usufruir as produções culturais. Em 2010, o Grupo de Pesquisa Tradução, Mídia e Audiodescrição
Com a Lei de Acessibilidade de 2000, a AD passou a ser obri- (Tramad) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) fez a AD
gatória e, após o Decreto nº 5.296, de 2004 (BRASIL, 2004), de uma peça de teatro na cidade de Santo Amaro da Purificação,
a fazer parte dos televisores digitais, por meio de um canal de na Bahia. Para surpresa da equipe, o público que compareceu
áudio acessado pela tecla second audio program (SAP) do controle ao espetáculo não foram pessoas com deficiência visual, como
remoto. A lei prevê o aumento gradual de programas televisivos se esperava, mas um grupo de alunos da Associação de Pais e
com AD e gera uma demanda crescente de profissionais espe- Amigos dos Excepcionais (APAE) da cidade, que conhece-
cializados em AD e uma oferta também progressiva de cursos ram a AD pela primeira vez. Intrigados com o resultado ines-
de formação de audiodescritores. O primeiro curso de espe- perado, os pesquisadores planejaram um estudo piloto, reali-
cialização em AD foi organizado pela Universidade Federal de zado em 2011, para avaliar o grau de efetividade da AD para
Juiz de Fora (UFJF) em 2015 e permitiu a audiodescritores já pessoas com DI.
atuantes reforçarem sua formação acadêmica e refletirem sobre Depois do contato inicial com a APAE de Santo Amaro, a
suas práticas. As discussões entre os participantes indicaram que fonoaudióloga e o coordenador da instituição ajudaram a sele-
cursos de curta duração não seriam suficientes para capacitar cionar quatro alunos com DI leve para participar da pesquisa,
profissionais qualificados, embora dessem suporte inicial para que consistia em uma entrevista prévia, na exibição de um filme
quem quisesse começar a atuar nessa área. Atualmente, além de 15 minutos sem AD, na aplicação de um questionário de
de os canais de televisão abertos manterem no ar oito horas compreensão, em nova exibição do filme, dessa vez com AD,
semanais com programas audiodescritos, a Agência Nacional novamente na aplicação do questionário de compreensão e, ao
do Cinema (Ancine) decretou que todo material audiovisual final, na aplicação de outro sobre a qualidade da AD. Os resul-
produzido com patrocínio financeiro público deve conter os tados do estudo piloto indicaram que a AD de fato auxiliou a
três recursos de acessibilidade: janela de língua brasileira de compreensão da narrativa fílmica por essa audiência, mas não
sinais (Libras), AD e legenda fechada para surdos. de forma satisfatória, o que motivou a inclusão de pessoas com
Para a produção da AD, é necessária uma equipe, que, em DI, além das com deficiência visual, nas pesquisas do grupo
geral, é composta de um audiodescritor roteirista, um audiodes- (FRANCO et al., 2013, p. 201-211).
critor revisor, um audiodescritor consultor e um audiodescri- Em 2012 elaboramos dois tipos de roteiro de AD para a
tor narrador. O roteirista pode ser também revisor e narrador, exposição Jorge Amado Universal, exibida no Museu de Arte
e o consultor preferencialmente uma pessoa com deficiência Moderna da Bahia (MAM-BA), em Salvador. Um dos roteiros
visual. O trabalho final da equipe deve ter linguagem acessí- trabalhava as obras do escritor baiano para pessoas com DI, com
vel, ser coerente com o produto traduzido e abarcar o máximo uma abordagem diferente da feita com o público de pessoas
possível de informações para que a audiência possa usufruir com deficiência visual. Em 2013 outro estudo no MAM-BA
de forma satisfatória o material ou a atividade audiodescrita. investigou se e como pessoas com baixa visão e pessoas com
SP5 É a neta da avó. (Qual é o nome dela?) Não prestei atenção. Romanza.
A linguagem utilizada nos roteiros de AD é outro ponto alunos se mostraram bastante dispersos e um participante
importante, já que termos lexicais mais complexos podem dormiu. Já na segunda versão os alunos se mostraram mais
interferir na compreensão dos espectadores com DI. Por fim, atentos, indicando as peculiaridades do roteiro de AD para
a AD assegurou a atenção à obra. Como os filmes eram silen- atender pessoas com DI e a necessidade de estudos mais
ciosos, durante a exibição da versão sem audiodescrição os aprofundados sobre esse tema.
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