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Estado da arte em Memória, Identidade, Educação Patrimonial e o Ensino de História

Mestranda Morgana Modolon

O presente trabalho, pode ser definido como um estado da arte, que segundo Ferreira
(2002), são pesquisas bibliográficas “com o desafio de mapear e de discutir uma certa
produção acadêmica em diferentes campos do conhecimento, tentando responder que aspectos
e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares”.
Nessa pesquisa, como indica Ferreira (2002), será utilizada uma metodologia de
caráter inventariante e descritivo da produção acadêmica que relacione Educação Patrimonial
e Ensino de História, Identidade ou Memória e Ensino de História.
Tal recorte temático foi estabelecido a partir das discussões da historiadora Flávia
Caimi (2008), onde a historiadora apresenta as principais linhas de força nas pesquisas sobre o
Ensino de História e indica “Memória, identidades e educação patrimonial” como uma dessas
linhas.
Tais linhas de força foram delineadas por Caime (2008), em uma pesquisa realizada
em publicações na área e nos anais dos eventos Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de
História (Perspectivas), Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de História
(ENPEH) e Simpósio Nacional de História (ANPUH), alguns dos mais importantes eventos
acadêmicos do campo da História e do campo do Ensino de História especificamente1.
Desse modo, para identificar como as temáticas da Educação Patrimonial, Identidade,
Memória e Ensino de História em múltiplos espaços de ensino se relacionam e comparecem
nas pesquisas acadêmicas, esta pesquisa se debruçará sobre os anais destes mesmos eventos.
Além disso, para melhor compreender e mapear a produção acadêmica sobre a linha
de força em questão, as investigações serão ampliadas para outros materiais disponíveis para
o acesso online. Serão mapeados também, publicações de artigos acadêmicos, que
componham dossiês sobre o ensino de História, nos quais as temáticas do patrimônio ou da
memória se façam presentes. Esses materiais serão obtidos no site do Laboratório de Ensino

1
Sobre a importância desses eventos para a constituição da área do ensino de História, ver MESQUITA, Ilka
Miglio de. Memorias/identidades em relação ao ensino e formação de professores de história: diálogos com
fóruns acadêmicos nacionais. Tese defendida no PPGEDU UNICAMP, 2008. Disponível em:
http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/252062
de História e Educação (LHISTE) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 2.
Também serão considerados, os artigos publicados nas principais revistas de Ensino de
História do país: a Revista História Hoje e a Revista História & Ensino.

Todas as buscas terão como parâmetro, as principais palavras chaves para descrever e
delimitar as pesquisas sobre a linha de força pesquisada, ou seja: Memória, Identidades,
Educação Patrimonial e Ensino de História.
De acordo com as delimitações de Caime, nesta linha de força:

Discute-se o papel da história escolar na construção de identidades plurais frente ao


risco de homogeneização embutida na perspectiva da globalização. Apresenta-se
novo conceito de educação patrimonial, levando em conta aas diferentes produções e
expressões culturais, ultrapassando a noção de patrimônio como um mero arquivo
arquitetônico e material. Busca-se potencializar, junto das crianças e jovens,
múltiplas relações de pertencimento, o compartilhamento de marcas de memórias de
determinados grupos e, em especial, conferir identidades aos sujeitos, seja pela
dispersão, ou pela coesão de traços culturais, mas nunca pela homogeneização e pela
imposição desta ou daquela cultura. Por fim, compreende-se a memória como um
elemento que “visa a dar sentido a experiências pessoais, passadas e presentes”.

Nesse sentido, para entendermos a amplitude apresentada pela autora quanto aos
conceitos de patrimônio, identidade e memória, em sua relação com o Ensino de História, se
faz necessário que a busca por palavras chaves se amplie, além das palavras “Memória(s)”,
“Identidade(s)” e “Educação Patrimonial”, as buscas contemplarão as palavras: “Patrimônio”,
“Museu(s)” e “História Oral”, relacionadas as palavras “Ensino de História”, “Ensino”,
“Aprendizagem” e “Escola(r)” em seus títulos. A parir dos títulos selecionados, serão lidos e
analisados os resumos dos textos, quando disponíveis.
Os textos serão contabilizados e separados de acordo com as palavras chaves
mencionadas no parágrafo anterior e também as intersecções entre elas. Após a tabulação dos
dados, serão observadas tendências no interior da linha de força “Memória, Identidade,
Educação Patrimonial e Ensino de História”.
Serão considerados os trabalhos entre 1995 e 2018. Tal recorte foi pensado,
considerando o momento histórico em que se começa a discutir os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs), publicados em 1997 e o presente, em 2018.
No interior desse recorte, serão considerados alguns marcos temporais, como o decreto
3551 de 2000 – que institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que
constituem patrimônio cultural brasileiro e institui no âmbito do Ministério da Cultura, o

2
As informações sobre as revistas e o laboratório, foram retiradas diretamente dos respectivos sites. História
Hoje. Disponível em: https://rhhj.anpuh.org/RHHJ; História e ensino. Disponível em:
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino.
"Programa Nacional do Patrimônio Imaterial", visando à implementação de política específica
de inventário, referenciamento e valorização; e o decreto 6040 de 2007 – que institui a
Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.

A linha de força “patrimônio, memória e o ensino de História” nos eventos da área

Conforme mencionado anteriormente, com base nas reflexões de Caimi (2009), serão
considerados como os principais eventos da área do Ensino de História: o Encontro Nacional
Perspectivas do Ensino de História (Perspectivas), Encontro Nacional dos Pesquisadores do
Ensino de História (ENPEH) e Simpósio Nacional de História (ANPUH). Estes eventos
historicamente estão relacionados a constituição do Ensino de História como um capo de
pesquisas, como aponta Ilka Miglio de Mesquita (2008).
Segundo Mesquita (2008) a Associação Nacional de História, a ANPUH, foi fundada
em 1961, como uma associação de professores universitários, que não permitia a participação
de professores da educação básica.
Porém, durante a década de 1970, a entidade passou a ser palco de disputas, que
visavam incluir tais professores, o que veio a acontecer em 1979, em meio a disputas internas
e a luta da entidade contra a reforma universitária - que visava a substituição da formação
universitária em História, pela formação em Estudos Sociais e a implantação dos Estudos
Sociais na Educação Básica, substituindo a História.
Nesse contexto, com vozes dissonantes e divergências, a ANPUH passou a permitir a
participação de professores da educação básica, alunos de mestrado e doutorado, no entanto
estes ainda possuíam um espaço reduzido para suas demandas.
No entanto, o ensino de História só se consolidou enquanto campo na década de 1980,
durante a redemocratização do país, após longos anos de ditadura civil militar. Em meio as
disputas políticas do país e no interior da ANPUH, se desenvolveu um movimento de luta
pelo reconhecimento da autenticidade do saber histórico escolar e dos saberes docentes, no
bojo, da luta de professores contra uma reforma universitária.
Ainda segundo Mesquita (2008), durante esse momento histórico outros espaços para
discussão sobre o Ensino de História se consolidaram, como Encontro Nacional Perspectivas
do Ensino de História (Perspectivas), em 1988, que visava incluir no debate um número mais
expressivo de professores da educação básica, e o Encontro Nacional Pesquisadores do
Ensino de História (ENPEH), criado em 1993, para ser o espaço de discussões, produção e
difusão da pesquisa do Ensino de História, contribuindo para a consolidação e legitimação do
campo.
Devido à importância desses espaços na consolidação do campo do ensino de História,
como mencionados anteriormente, tais eventos foram os mesmos considerados nas pesquisas
de Caime (2008). Por esse motivo, estes mesmos espaços foram selecionados para identificar
como este campo se encontra nos últimos anos na presente pesquisa.

Memória, Identidade, Educação Patrimonial e o Ensino de História na ANPUH

Ao todo, entre 1995 e 2017, dentro da Anpuh, foram selecionados 91 trabalhos, apenas
de eventos nacionais. Além destes, no I e no II Seminário Nacional História e Patrimônio
Cultural - GT ANPUH Brasil, foram encontrados 9 trabalhos.
Analisando o primeiro recorte, entre 1995 e 2000, é possível observar uma pequena
quantidade de produções que se relacionem a linha de força – um total de sete trabalhos.
Sendo que, foram encontradas apenas pesquisas relacionadas à Memória, Museu e Identidade.
Após o decreto 3551 de 2000, há um aumento mínimo no número de pesquisas que se
relacionam a linha de força, passando para um total de dez trabalhos. No entanto, há uma
diversificação maior nas pesquisas, que vão incluir Patrimônio, Educação Patrimonial e uma
intersecção entre Memória e Identidade.
Com o decreto 6040 de 2007, é possível observar um aumento significativo no número
de publicações dentro da linha de força – que passou para 74 trabalhos. No entanto, cabe
ressaltar, que se trata de uma quantidade maior de eventos – um total de seis eventos entre
2008 e o presente, um número superior aos recortes anteriores.
Além disso, há uma diversificação ainda maior entre as temáticas pesquisadas:
Memória, História Oral, Patrimônio, Museu, Educação Patrimonial e Identidade; também as
intersecções Memória e Educação Patrimonial, Memória e Patrimônio, Memória e Museu,
Memória e Identidade, e Memória e História Oral. Sendo que Educação Patrimonial e Museu
concentram a maioria das pesquisas.
É possível observar que a maioria dos trabalhos que envolvem museu, tratam-se de
apontamentos metodológicos para aproximar museu e escola, geralmente, a partir da
experiência de alguma instituição, museu ou escola. Esse elemento pode ser observado no
trabalho “A universidade, a escola e o museu: práticas educativas no Ensino de História”, que
parte de uma experiência de um projeto de extensão universitária dos cursos de História e
Turismo da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), que desenvolveram uma
oficina sobre Memória, História e Patrimônio Histórico com alunos do 9º ano da E. E. João
Belo de Oliveira e posteriormente promoveu uma visita dos alunos ao Museu Carangola.
Também é possível observar uma inclinação nos trabalhos relativos a memória em
estabelecer uma ligação metodológica entre memória e ensino de História, mas
diferentemente do Museu, em geral os trabalhos envolvendo Memória não partem de
experiencias ou estão relacionados a instituições. Os trabalhos envolvendo Memória aparecem
apenas como orientações metodológicas, como no trabalho “Ensino de História e Memória:
usos do passado e os desafios do historiador e do professor”, onde o autor Mário Sérgio
Pereira de Olivindo, destaca os principais desafios impostos ao historiador e ao professor de
história no trabalho com a memória e aponta algumas possibilidades teóricas e metodológicas
para o seu enfrentamento.
Os trabalhos envolvendo Memória também aparecem relacionando a memória a outros
temas, como no trabalho “A função social do historiador e o ensino da ditadura militar:
caminhos para a promoção da reparação, da memória e da verdade”, que levanta reflexões
teóricas e metodológicas acerca dos usos da memória.
Um dado importante a ser observado, é a criação do Grupo de Trabalho Nacional de
Patrimônio Cultural, que aconteceu em 2011, da junção de grupos constituído em seções
regionais da Associação em Patrimônio Cultural, que pode ter impactado no número de
pesquisa no recorte temporal de 2008 a 20018. Também é importante ressaltar, que não há um
GT especifico que aborde Patrimônio e Ensino de História.
Após a criação do Grupo de Trabalho Nacional de Patrimônio Cultural, em 2016 e
2018, aconteceram também os seminários do GT História e Patrimônio Cultural da ANPUH.
A partir dos quais, foi possível observar que as temáticas que mais se destacaram foram
aquelas relacionadas à Memória, Patrimônio e Educação Patrimonial.
No I Seminário Nacional História e Patrimônio Cultural - GT ANPUH Brasil, apesar
de se tratar de um evento promovido pelo GT História e Patrimônio Cultural, com inúmeros
trabalhos relacionados a temática, no evento promovido em 2016, apenas três trabalhos
relacionavam-se ao ensino de História. Além disso, as pesquisas se limitaram a abordar a
Educação Patrimonial e o Patrimônio.
Em 2018, houve um aumento irrisório, de modo que, foram encontrados um total de
seis trabalhos. Dos quais, as temáticas abordadas foram Memória, Patrimônio e a intersecção
entre Memória e Patrimônio.
Memória, Identidade, Educação Patrimonial e o Ensino de História no ENPEH

Dentro do grande reconte temporal, considerando os eventos realizados entre 1995 e


2018, dos PCNs aos dias atuais, foram analisados apenas seis eventos – 1995, 1999, 2004,
2005, 2006 e 2017. Nos quais foram selecionados um total de 23 trabalhos, sendo que alguns
trabalhos foram excluídos, apesar de possuírem inclinação para a temática, devido a
metodologia elegida para este trabalho.
Dentro do primeiro recorte, estabelecido entre a publicação dos PCNs em 1995 e o
decreto de 3551 de 2000, foram realizados apenas três eventos: em 1995, 1997 e 1999. No
entanto, tivemos acesso apenas aos anais de dois eventos: 1995 e 1999, sendo que em 1995
nenhum trabalho que se enquadrasse em nossa metodologia foi relacionado a linha de força.
No evento realizado em 1999, apenas quatro trabalhos se relacionaram com a linha de
força pesquisada, em sua maioria, relacionados a temática da Memória, considerando
Memória como uma temática ampla, com a tendência a se relacionar com outras temáticas. Os
Grupos de Discussão (GDs) onde foram encontrados trabalhos foram “História do ensino de
História”, “Linguagens alternativas e novas tecnologias” e “Produção do conhecimento”,
sendo que, nos anais do evento não havia informações sobre os coordenadores de grupos
temáticos e nenhum GD especificamente voltado a Memória, Patrimônio, Identidade e Ensino
de História.
No segundo recorte, estabelecido entre 2000, após a publicação do decreto de 3551
de 2000, até 2006, um ano antes da publicação do decreto 6040 de 2007, foram encontrados
os anais de três eventos, realizados em 2004, 2005 e 2006. No total, foram encontrados 16
trabalhos dentro da linha de força pesquisada – nove em 2004, três em 2005 e quatro em
2006. Sendo que a maioria dos trabalhos eram relacionados a questão do Patrimônio, dos
quais, a maioria no primeiro ano analisado. Houve recorrência apenas nas pesquisas
relacionadas a Memória e Ensino de História e Identidade e Ensino de História. Percebendo o
grande aumento no número de trabalhos dentro da linha de força, podemos conjecturar que o
decreto 3551 de 2000 teve algum impacto nas pesquisas.
Além do decreto 3551 de 2000, é possível indicar que a criação de Grupos de
Discussões voltados diretamente a linha de força em questão também teve influência no
aumento do número de pesquisas envolvendo memória, identidade, patrimônio, educação
patrimonial, museu e história oral. Isso porque, em 2004, quando temos registro do Grupo de
Discussão Ensino de História e Patrimônio, além de encontrarmos um total de sete trabalhos
selecionados dentro dos critérios estabelecidos pelos critérios desse trabalho, o GD reuniu
ainda outros cinco trabalhos. Um total superior ao número total de trabalhos encontrados em
vários GDs de Encontros anteriores. Já no evento de 2005, foi criado o Grupo de Discussão
Memória, História e Ensino de História, onde dois trabalhos foram considerados nessa
pesquisa. E no Evento de 2006, foi criado o Grupo de Discussão Memórias, tempo e História
no ensino de História, que agrupou dois dos quatro trabalhos selecionados dentro dos critérios
dessa pesquisa.
No que diz respeito ao último recorte temporal, partindo de 2008, após o decreto 6040
de 2007, encontramos apenas os anais de um evento, ocorrido em 2017. Nesse evento em
questão, os Grupos de Discussão passaram a ser chamados de Grupos de Pesquisas em
Diálogo, sendo que não havia nenhum GPD que incluísse as questões da linha de força
Memória, identidades, educação patrimonial e Ensino de História. No entanto, nos textos de
apresentação dos GPDs, alguns incluíam as questões da linha, como o GRD Demandas sociais
e a pesquisa em ensino de História, que afirma sobre os trabalhos inscritos no GPD:

No total foram 23 trabalhos inscritos que se inserem em três grandes eixos: 1)


Memória e o Patrimônio Cultural, envolvendo experiências com a cidade e com os
museus; 2) Abordagem das leis 10639/2003 e 11645/2, focando principalmente, o
Ensino de História de povos africanos e afrodescendentes, nas quais podem ser
observadas, tanto intersecções com as discussões sobre Memória e Patrimônio
Cultural, como também com os currículos, a formação docente (inicial e
continuada), os livros e materiais didáticos e as práticas pedagógicas. 3) A questão
do Ensino de História, a oralidade e o letramento e seus suportes de leitura e escrita.
(ENPEH, 2017, p. 224 – grifo meu)

Além deste, haviam outros GPDs que apesar de não abordarem diretamente,
possibilitavam discussões envolvendo as temáticas da linha de força. No total, foram
encontrados um total de 11 trabalhos, um número significativo. No entanto, o número de
trabalhos que se enquadram nos critérios desse trabalho diminuiu, pois muitos dos trabalhos,
apesar de abordar Memória, identidades, educação patrimonial e Ensino de História, focam
em outras temáticas, como livros didáticos, currículos, ou formação docente.
Entre todos os trabalhos selecionados nessa pesquisa, a maior recorrência de pesquisas
coincide nos trabalhos que se relacionam com as temáticas da memória e do patrimônio.
Qualitativamente, é possível observar que, dentre os trabalhos relacionados a
memória, estão relacionados a orientações metodológicas para abordar a memória como uma
ferramenta no Ensino de História, algumas vezes também relacionando-se com outros temas,
como memória nacional, ditadura militar ou questões étnico raciais.
De modo que, no que diz respeito a temática da memória, podemos observar essa
características claramente nos trabalhos: “O imaginário da Independência: entre a tradição da
memória e o ensino de História” (1999), “Memórias da ditadura – uma proposta para a sala de
aula” (2004), “Educação e memória: uma história a ser pensada” (2005), ou “A construção da
memória nacional e o ensino de história: algumas reflexões” (2006).
Já nos trabalhos que abordam a questão do patrimônio, existe uma tendência a
indicação de uma aproximação metodológica entre o Ensino de História e o patrimônio. O
trabalho “Educação, História e Patrimônio: da Prática à Teoria” (2006).

Memória, Identidade, Educação Patrimonial e o Ensino de História no Perspectivas

Considerando o marco temporal, foram analisados apenas sete eventos, sendo que
nestes eventos foram encontrados um total de 70 trabalhos.
No período em questão, foram analisados dois eventos, ocorridos em 1996 e 1999. De
modo que, foi encontrado apenas um trabalho dentro da linha de força analisada, precisamente
no evento de 1999: “Desvendando as redes da memória local: ensino de história e vida
cotidiana”, de Ângelo Priori. No ano em questão, já havia um GD voltado a linha de força, o
GD. “Memória e Ensino de História” (1 trabalho), coordenado por Andrea Delgado.
Já entre 2000 e 2006, foi analisado apenas o evento organizado em 2001, onde foi
encontrado um total de três trabalhos na linha de força estabelecida e todos relacionados a
museus. No evento analisado, não foi possível identificar os GDs a qual os trabalhos se
relacionavam e devido ao número extremamente reduzido de eventos e trabalhos, não foi
possível analisar o impacto do decreto 3551 de 2000.
O recorte entre 2007 e 2018 foi o período de maior recorrência em trabalhos
encontrados, mas também o período com maior disponibilidade de anais online. Neste
período, foram analisados os eventos de 2007, 2012, 2015 e 2018.Sendo que, durante os
quatro anos, houve um total de 66 publicações e maioria das pesquisas estava relacionada a
questão da Memória, em 2007 foi um trabalho; em 2012, foram 14 trabalhos; em 2015, nove
trabalhos; e bem como no ENPEH, evento anteriormente analisado: em 2018, cinco
trabalhos. Além da memória, o Museu também foi destaque, com um trabalho em 2007;
quatro trabalhos em 2012; oito trabalhos, em 2015; caindo para um trabalho em 2018.
Os anos de 2012 e 2015 são os que contem mais trabalhos na linha de força analisada
e as temáticas mais recorrentes foram Memória e Museus, sendo que, as pesquisas
envolvendo museus somaram quatro trabalhos no primeiro ano e dobraram para oito no
segundo ano, enquanto as pesquisas sobre memória diminuíram de 14, para nove trabalhos..
Não foi possível verificar os grupos de discussão nos quais se inseriram os trabalhos
em 2012, por isso não é possível afirmar que a presença de um GD especifico na linha de
força Memória, Identidades, Educação Patrimonial e Ensino de História tenha influenciado
diretamente este dado. Já em 2015, havia um GD chamado “Os museus e a formação da
consciência histórica”, que concentrou oito, dos 24 trabalhos comunicados naquele ano.
Mas é possível conjecturar que o aumento das pesquisas dentro da linha de força, se
relacione com a legislação especifica – decretos 3551/2000 e 6040/2007. Porém, devido à
falta de anais encontrados no recorte de 1995 a 2006, não é possível confirmar tal hipótese.
Dentro das pesquisas bordando Museus, podemos observar uma tendência, percebendo
que a maioria dos trabalhos consistem em orientações metodológicas para uma aproximação
entre Museus e Ensino de História, em geral, a partir de experiencias de educação em museus,
como é o caso do trabalho intitulado “O espaço museal como ferramenta para o Ensino de
História” (2015), que parte da experiencia do Museu Histórico de Londrina e sua exposição
permanente, que apesar de ser concebida sob uma narrativa oficial, apresenta subterfúgios
para problematizar essa narrativa e conhecer outros olhares sobre a história de Londrina.

Memória, Identidade, Educação Patrimonial e o Ensino de História no LHISTE

O Laboratório de Ensino de História e Educação (LHISTE) da Universidade Federal


do Rio Grande do Sul (UFRGS) é uma iniciativa conjunta entre os professores da área de
Ensino de História da Faculdade de Educação (FACED), os professores da disciplina de
História do Departamento de Humanidades do Colégio de Aplicação (CAP) e do
departamento de História no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH-UFRGS).
Segundo o próprio site, o LHIST objetiva o diálogo entre a Universidade e a Escola,
num processo de mútua aprendizagem, no sentido do refinamento da produção do
conhecimento e das práticas pedagógicas na área do Ensino de História.
O Lhiste possui uma plataforma, onde estão reunidos alguns dossiês voltados ao
Ensino de História, publicados em diferentes revistas. Dentro dos limites da plataforma,
considerando os marcos temporais e os mesmos parâmetros para a pesquisa anteriormente
mencionados, foram encontradas 25 revistas, nas quais foram identificados 14 artigos
relacionados com a temática Memória, Identidade, Educação Patrimonial e o Ensino de
História.

A maioria das pesquisas encontradas relacionavam-se a memória, somando um total de


quatro artigos, e museu e patrimônio, comando um total de três artigos. Todos os artigos
referentes a educação patrimonial eram reflexões sobre experiencias em sala de aula e no
Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (APERS). Uma característica também
observada nos artigos relacionados a museus, pois dois abordavam as experiencias de
professores de História em museus específicos e um trabalho, de certa maneira conectava-se
as duas temáticas, fazendo uma análise de algumas experiencias educativas em museus. Já os
artigos relativos a memória, se assemelham aos textos apresentados nos eventos da área, não
possuindo uma afinidade temática, em geral relacionando memórias de um determinado
processo histórico ao ensino de História desse processo, com exceção de uma entrevista
realizada com Kátia Maria Abud, que visava abordar memórias de uma professora sobre o
ensino de História.
Dentro das revistas analisadas, as revistas que mais apresentaram publicações foram as
revistas Revista Opsis, vinculada a Universidade Federal de Goiás(UFG), que em 2015
publicou um dossiê temático intitulado Dossiê Ensino de História e formação docente:
pesquisas sobre o Ensino de História e a revista Enseñanza de las ciencias sociales: revista de
investigación, vinculada a Universidade de Barcelona (AB), publicado em 2018 e apresentado
no editorial com o título El uso social del conocimiento geográfico, histórico y social escolar.
Nas outras revistas, foram encontrados no máximo um ártico relacionado a Memória,
Identidade, Educação Patrimonial e o Ensino de História. Além disso não foram localizados
estudos específicos na temática. Também é importante destacar, que as revistas mais antigas
apontadas pela plataforma do Lhiste, datam de 2014.

Memória, Identidade, Educação Patrimonial e o Ensino de História nas revistas


especializadas em Ensino de História

Revista História Hoje


Segundo o site oficial, a Revista História Hoje é uma publicação semestral da
Associação Nacional de História - ANPUH – Brasil, que se dedica a divulgar resultados de
pesquisa, reflexões, projetos e experiências, voltados para temas que privilegiem a articulação
entre História, Ensino de História e Formação Docente e também a criar um espaço
institucional de debate sobre os diferentes lugares de atuação dos profissionais da área,
especialmente nos âmbitos das escolas de Educação Básica e dos cursos superiores. A revista
possui conceito Qualis B2 em História e em Educação e passou a ser publicada apenas em
2012, momento em que o campo do Ensino de História se encontrava significativamente
demarcado. No período em questão, foram analisadas 14 edições da revista e um total de 18
publicações.
A memória é a questão central, nos artigos publicados na revista, ora intercalada com
outras palavras chaves, como patrimônio, identidade, museus ou palavras que compõem
outras linhas de força, como história local ou fontes. É possível elencar como exemplo, o
artigo “Memórias, identidades e silêncios: a História Local em sala de aula, trabalhada com
diferentes gerações”, de Mario Sérgio Ignácio Brum, que compões o dossiê publicado em
2015 e intitulado “Cursos de formação de professores de História: cenário internacional,
configurações e avaliações”, que apesar de interseccionar memória, identidade e história local
(que diz respeito a uma linha de força especifica), pois apesar de tratar de história local, o
artigo consiste em uma reflexão sobre uma experiencia especifica, com alunos da localidade
de Cidade Alta, no Rio de Janeiro, sobre memórias trazidas pelos próprios alunos sobre a
constituição do bairro durante a Ditadura Militar e as implicações disso na constituição da
identidade da comunidade local e como isso comparece no ensino de História.
O museu também se repete em inúmeras publicações, que se dividem entre reflexões
sobre o papel do museu no ensino de História e na sociedade contemporânea, como o caso do
artigo “O tempo presente e os sentidos dos museus de história”, escrito por Cecilia Helena de
Salles Oliveira e publicado no segundo semestre de 2013, no dossiê “O Ensino de História e o
Tempo Presente”. E reflexões sobre experiencias especificas de ensino de História no museu
ou a partir do museu, com muitos exemplos no dossiê Práticas de memória, patrimônio e
ensino de história, publicado em 2014;
A revista v. 3, n. 6 (2014), em especial, foi destinada a discutir linha de força
Memória, identidades, educação patrimonial e Ensino de História, de modo que, foi um dossiê
temático intitulado Práticas de memória, patrimônio e ensino de história. Nesse volume,
apesar de todos os trabalhos se relacionarem a temática, devido a escolha de palavras chaves
desse trabalho, foram considerados oito artigos em diálogo com a temática, sendo que quatro
sobre Museus, um sobre Memória e Museu, um sobre Memória e Patrimônio e um sobre
Memória.
Em geral, após a leitura dos artigos, é possível identificar que as pesquisas da revista,
se caracterizam por analises de experiencias de professores ou alunos, em diversos espaços
educativos, como escola e museu. Sempre problematizando ou apontando caminhos para o
uso do patrimônio no ensino de História, em dialogo com um referencial teórico significativo
e, geralmente os artigos ligam-se a pesquisas mais densas. Existem pesquisas refletindo sobre
patrimônio, memória e museus a partir de realidades especificas, uma cidade, memórias de
determinados grupos e um museu. É possível observar esses elementos a partir da tabela
abaixo:

Revista História Hoje -


Práticas de memória, patrimônio e
ensino de história v. 3, n. 6 (2014) –
Jul/Dez Objetivo/ Problematização
Autor/
Título
autora
Apresentação: Por que (Sobre o objetivo do dossiê como um todo) Este dossiê propõe – para o
seguir pensando, hoje público em geral e especialmente para professores e educadores –
Júnia Sales
em dia, nas conexões reflexões orientadas à qualificação do debate acerca dos modos plurais de
Pereira, Sonia
entre práticas de interpretar, provocar experiências e buscar modos de significação do
Regina Miranda
memória, patrimônio e patrimônio material e imaterial diante da desafiadora tarefa de ensinar
Ensino de História? História na contemporaneidade. (p. 11)
A memória como
Outro destaque que necessita ser evidenciado e está diretamente ligado à
patrimônio ou a
reflexão que aqui realizamos refere-se ao Ensino de História com base
História como prática
nas práticas de memória. Essas práticas constituem-se também em
social? Reflexões
comemorações e celebrações pertinentes a alguns personagens ou
sobre práticas de Marizete Lucini
acontecimentos significativos para esse grupo social que se desenvolvem
memória e ensino de
no âmbito do Assentamento. Práticas que se efetivam como resistência a
história na Pedagogia
uma memória produzida pela História que não contempla os
do Movimento Sem
trabalhadores do Campo. (p.20)
Terra
Considerando, evidentemente, a importância das políticas públicas de
Ouro Preto de todos
patrimonialização, interessa-nos provocar reflexões sobre os seus efeitos
os tempos: sentidos e Rosiane Ribeiro
de sentido em aulas de história, evidenciando escalas possíveis para
efeitos do patrimônio Bechler, Júnia
compreensão e alargamento dos horizontes de interpretação deste espaço
na condição histórica Sales Pereira
múltiplo que é o de uma cidade “histórica”, patrimônio da humanidade e
da cidade
ícone referencial do passado histórico do Brasil. (p.67)
Crianças nos templos
Priorizou-se a compreensão sobre os processos de significação
das Musas:
produzidos por crianças no interior de museus, partindo-se da aposta
mediadores culturais, Maria Fernanda
política na ideia de que, enquanto espaços educadores presentes e/ou
processos de Van Erven, Sonia
possíveis de existir nas cidades, o direito à cidade representa também o
significação e Regina Miranda
direito à cultura da/na cidade e, acima de tudo, o direito à memória. (p.
aprendizagens em
92)
museus
O amor no museu: Kênia Sousa Rios Com esse entendimento, eu e os alunos partimos para a grande aventura
uma experiência de de tornar possível a reflexão histórica em face dos objetos do amor
ensino de História romântico. Coisas que guardaram a intimidade e a loucura de histórias e
com objetos do amor enredos pessoais, mas que passaram a ser compreendidas e lidas na
romântico intenção da Oficina Histórica. Desse modo, cada objeto selecionado tinha
nome, corpo, cheiro e endereço, ao mesmo tempo em que escapava do
íntimo para dar-se ao estudo de estudantes de história. Nessa perspectiva,
papéis culturais de homens e mulheres, relações econômicas e familiares,
religião, trabalho e sociedade de consumo foram temas que fizemos
surgir nas linhas de uma carta de amor. (p. 130-140)
As ações educativas realizadas pelo Museu perpassam os vários projetos
desenvolvidos (exposição de longa duração, exposições temporárias,
arquivo, reserva técnica, grupo de contadores de histórias, biblioteca
Experiências de ações Cláudia Rose
infanto-juvenil, mulheres artesãs e oficinas culturais) e visam fortalecer
educativo - Ribeiro da Silva,
os vínculos comunitários entre os moradores, colaborando com o trabalho
comunitárias no Miriane da Costa
de preservação e divulgação do patrimônio cultural e afetivo das
Museu da Maré Peregrino
comunidades da Maré. O artigo tem por objetivo refletir sobre esse
conjunto de ações com base no trabalho de formação de jovens bolsistas
no Museu. (p. 155)
O objetivo do artigo é refletir sobre a ação educativa e as dinâmicas
voltadas para as escolas, tecidas no Museu de Arqueologia D. Diogo de
Sousa (MDDS) situado na cidade de Braga, Portugal. Esse museu dedica
Imaginar os romanos e Elizabeth
o seu acervo principalmente aos achados romanos. Aqui serão abordadas
a romanização: Aparecida Duque
as obras plásticas de estudantes do 2º e 3º Ciclos da Educação Básica,
exposição de trabalhos Seabra, Maria do
expostos no Museu, como respostas às propostas de seu Serviço
de alunos no museu Céu Melo
Educativo para as comemorações do Dia Internacional de Museus.
Procuraremos entender as intenções que norteiam a ação, a produção de
sentidos e os usos do patrimônio cultural. (p. 181)
Heterogeneidade
temática e usos da Considerando-se o museu na contemporaneidade como um espaço de luta
memória de uma política e cultural pela afirmação da diversidade, o artigo busca discutir
experiência histórica: Luciano Magela algumas potencialidades do Museu Digital da Memória Afro-Brasileira
uma visita ao Museu Roza
para a problematização dos dilemas enfrentados na efetivação da Le i
Digital da Memória
Afro-Brasileira e 11.645/2008 no Ensino de História. (p. 223)
Africana

Revista História & Ensino

A Revista História & Ensino é uma publicação do Laboratório de Ensino de História


do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina, que em geral, publica
artigos inéditos, traduções, resenhas e entrevistas relacionados ao Ensino de História. A
revista é bastante conceituada no meio acadêmico, sendo sua qualificação pelo sistema de
avaliação qualis CAPES de 2017 A2 em Educação, A2 em Ensino e B3 em História. Na
análise da Revista Ensino & História, devido a densidade das produções, foram incluídos
artigos com interface com livro didático e currículo.
No período definido para essa pesquisa, tendo como marcos estabelecidos a
publicação dos PCNs em 1995 e o ano de 2018, foram analisadas 33 edições da revista
História & Ensino e nestas revistas foram encontradas um total de 21 publicações sobre
memórias, museus, patrimônio, educação patrimonial, identidade e ensino de História. A
Revista História & ensino é mais antiga que a revista História Hoje, de modo que, é possível
observar o fluxo da produção durante todo o recorte temporal.
Dentro do primeiro recorte estabelecido, entre 1995 e 2000, ano da publicação do
decreto 3551, foram encontradas apenas três pesquisas publicadas. Após o decreto 355/2000,
não é possível observar grandes mudanças nas publicações da revista. Com um total de seis
pesquisas dentro da linha de força, apenas em 2006 houve a recorrência de pesquisas
relacionadas a linha, sendo uma sobre Memória e uma sobre História Oral.
A parir de 2007, com o decreto 6040, até 2018, houveram 12 publicações relacionadas
a linha de força. É importante ressaltar, que o recorte em questão é maior e que o aumento no
número de publicações é equivalente, pois entre 2001 e 2006 foram considerados seis anos,
enquanto entre 2007 e 2018 foram considerados 12 anos e a partir de 2010 a revista passou a
ser semestral, e as publicações passaram de seis, para 12.
Um elemento interessante a ser observado no recorte 2007-2018, é a ausência de
pesquisas relacionadas a museus e a recorrência de pesquisas relacionadas à memória. Dos
artigos publicados, quatro artigos falavam de memória, um sobre memória e patrimônio, e
apenas um sobre museu.
As pesquisa relacionadas a memória possuem características bem distintas, foi
possível identifica que algumas pesquisas não se relacionavam ao ensino de História, apesar
da revista possuir um direcionamento para o campo (tais pesquisas foram desconsideradas nos
números aqui apresentados); outras eras relacionadas a memórias docentes, como o artigo
“Memórias e práticas no ensino e pesquisa de História”, publicado em 2009, por Helenice
Ciampi, que consiste na apresentação de resultados e problemas enfrentados pela autora,
durante um projeto coordenada pela mesma nos anos anteriores, onde a mesma realizou uma
serie de entrevistas com professores da cidade de São Paulo, registrando memória, saberes e
práticas desses sujeitos; há ainda, aquelas pesquisas que se partem de experiencias práticas,
das quais podemos citar o artigo “História e memória em sala de aula: as ideias dos alunos
sobre as manipulações fotográficas no governo de Stálin (1923-1954)”, publicado por
Andreya Susane Seiffert em 2011. Também é evidente a aproximação entre a memória e a
História local, pois duas das quatro pesquisas se relacionadas a memória dialogam com a
História local, como o artigo intitulado “Vestígios e memórias: História Local e o ensino de
história nos anos iniciais do Ensino Fundamental”, publicado por Clarice Bianchezzi, Arlene
Medeiros Coelho, Denise Costa da Silva e Érica de Souza e Souza, publicado em 2014, que
relata e o artigo “História e memória: pesquisa-ação-participativa no ensino da História
Local”, publicado por Soeli Regina Lima.
Afunilando o recorte: Memórias da ditadura militar e ensino de História no Banco de
Teses e Dissertações da CAPES

Dentro da linha de força proposta por Flávia Cimi (2008), o que mais interessa a este
estado da arte são os trabalhos relativos a memórias da ditadura militar e o ensino de História,
pois este levantamento faz parte de uma proposta de pesquisa mais ampla, visando um
mapeamento e analise de trabalhos que possam dialogar ou inspirar minha dissertação de
mestrado, que apesar de ainda não estar inteiramente delimitado, visa refletir sobre as
memórias da ditadura militar em Criciúma e o ensino de História.
Para afunilar a pesquisa, a busca foi estendida ao banco de teses e dissertações da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPS). É importante
explicar como se desenvolveu este levantamento, levando em consideração que o banco de
teses e dissertações da CAPS apresenta um número muito elevando ao buscar-se as palavras
chaves escolhidas como relevantes para essa pesquisa – memória(s), ditadura e ensino de
História - com um total de 1028367 resultados, considerando-se apenas pesquisas de mestrado
e doutorado, desenvolvidas entre 1996 e 2018. Para refinar essa busca, adicionou-se alguns
filtros, limitando a pesquisa à grande área das ciências humanas e as áreas do conhecimento e
área de avaliação Educação, História e Ensino, visto que não havia a opção por Ensino de
História (nessa seleção, foram consideradas as duas opções idênticas que o filtro ofereceu).
Porém, mesmo com tais refinamentos foram encontrados 88299. Visando ainda a diminuição
desse número e a viabilidade do levantamento, optou-se acrescentou-se por fazê-lo dentro das
demarcações temporais já estabelecidas nesta pesquisa (1996-2000, 2001-2007, 2008 – 2018)
e foram incluídos alguns filtros em área de concentração ou nome do programa.
No caso do recorte temporal entre 1996 e 2000, foram utilizados apenas os resultas
referentes aos programas de Ciências e práticas educativas, Educação, Educação, Educação:
História, política, sociedade, História, História e História Social, contabilizando um total de
6817 trabalhos. Cabe ressaltar as dificuldades encontradas em filtrar os resultados para esta
busca, visto que o banco de teses e dissertações da CAPES não filtra as pesquisas por palavras
encontradas no título, ou entre as palavras chave das pesquisas encontradas, o que incluí entre
os resultados, uma série de pesquisa que não possui relação com a temática pesquisada.
A partir dessa busca e de uma leitura dinâmica dos resultados encontrados, foram
encontrados dentro do primeiro recorte temporal, um total de 119 pesquisas de mestrado, que
falam sobre a temática da memória e possuem a palavra memória ou memórias, ensino de
História e/ou ditadura no título. As pesquisas foram tabuladas conforme as palavras chaves
que implicaram em sua seleção neste levantamento e organizada conforme áreas de
convergência, de modo que, foi possível identificar que muitas pesquisas sobre memória
dialogavam até os anos 2000, com a História da Educação, tratando-se de pesquisas que
compõem indiretamente o campo do ensino de História, porque estão nessa área de limites
pouco definidos. Em sua maioria, essas pesquisas abordam memórias de sujeitos e
instituições, ou memórias de sujeitos sobre instituições, como por exemplo, a dissertação de
Jacqueline de Fátima dos Santos Morais, intitulada Por entre fragmentos: memória e
esquecimento de professores do Instituto de Educação (1998), ou a pesquisa de Viviane
Santana Mendes, intitulada História e Memória: a Escola Estadual de Uberlândia 1912-1929
(2000) e Virginia Maria Santana Chamusca, intitulada Em busca do tempo que não se perdeu -
Memórias de pessoas a respeito de seus professores (2000). Estas pesquisas aparentam lidar
com a temática da memória de diferentes formas, porem por se tratarem de pesquisas
anteriores a Plataforma Sucupira, muitas delas não estão disponíveis online.
Foram levantadas ainda, outras 55 pesquisas relacionadas a memória(s), porem com
enfoques bem diversificados, a maioria sem nenhum diálogo com o ensino de História ou
mesmo com a educação. Sem a identificação de um eixo central, essas pesquisas se tornam
irrelevantes para o levantamento, apensar de estarem diretamente ligadas a palavra chave.
Destas pesquisas com a palavra memória como único eixo norteador, quatro se relacionavam
a temática do patrimônio e duas a temática do museu: A memória do patrimônio histórico
tombado em Ponta Grossa – Paraná, de Marcia Maria Droppa; A Pedagogia da Memória nos
Anos 79-80: Um Estudo sobre A Noção de Memória Social Ensinada pelo IPHAN, de ,
Alayde Wanderley Mariani; Memória Arquitetônica em Ribeirão Preto: planejamento urbano
e política de preservação, de Valéria Margarth de Campos Verde Valadão; Museu no bloco
Afro Ilê Aiyê: um espaço de memória e etnicidade, de Joseania Miranda Freitas; e Guardar e
celebrar o passado: o museu de Porto Alegre e as memórias na cidade, de Zita Rosane
Possamai.
Nas 14 pesquisas em que a palavra chave em questão é o ensino de História, nenhuma
pesquisa encontrada se relaciona com a questão da memória. De modo geral, é possível
identificar uma tendência nessas pesquisas em relacionar o ensino de História as inovações
tecnológicas características dos anos 2000, como a difusão da internet e a consolidação da
televisão como um meio de comunicação de massa de fácil acesso. Foram encontradas
pesquisa como por exemplo a de Olavo Pereira Soares, intitulada O ensino de História e a
cultura midiática (2000), a pesquisa de Marcelo da Silva Murilo, A prática de Ensino de
História: o uso do vídeo agindo na produção de um novo saber (2000) e a dissertação de Celso
Rogério Klammer, O mundo não para de girar: o ensino de história e as tecnologias da
informação: possibilidades e limites (1999).
Já as pesquisas relacionadas a ditadura militar brasileira foram ainda mais reduzidas,
totalizando seis trabalhos. É possível conjecturar que isso aconteceu porque o recorte
temporal em questão se inicia apenas dez anos após o fim da ditadura, um processo conduzido
com o intuito de apaziguar. As pesquisas sobre a ditadura possuem enfoques diversos, como a
pesquisa de Geisa Cunha Franco, intitulada O Papel da Grande Imprensa na Preparação dos
Golpes Militares: um estudo comparativo entre o Brasil, 1964 e a Argentina, 1976 (1997); ou
a pesquisa de David Maciel, Democratização e Manutenção da Ordem na Transição da
Ditadura Militar à Nova República (1974-1985) (1999).
Quanto as pesquisas de doutorado, foram encontradas ao todo, 23 teses, sendo que
apenas uma delas relacionadas ao ensino de História – Ensino de História e nação na
propaganda do milagre econômico-Brasil: 1969-1973, defendida por Luis Fernando Cerri
(2000) – e duas a ditadura militar – Reinventando o otimismo: ditadura, propaganda e
imaginário social no Brasil (1969-1977), de Carlos Fico da Silva Junior e Minas Gerais na
ditadura militar: lideranças e práticas políticas (19771-1983), de Selmane Felipe de Oliveira.
As pesquisas restantes possuem a palavra memória no título e a maioria delas não se relaciona
com a temática do ensino de História ou da ditadura, possuindo como único eixo conectivo a
questão das memórias, mas abordando as memórias de formas variadas, enfocando grupos
específicos, acontecimentos ou instituições. Podemos citar como exemplos, a pesquisa Quem
é do Mar não Enjoa: memória e experiências de estivadores do Rio Grande-RS (1945-1993),
de Carlos Alberto de Oliveira (2000); a tese Memória e administração: O arquivo Público do
Império e a Consolidação do Estado Brasileiro, defendida Celia Maria Leite Costa (1997); e
Cidades e sertões: entre a História e a memória, de Gilmar Arruda (1997). Também é possível
identificar, algumas pesquisas relacionando a temática da memória ao patrimônio e ao museu:
Lugares da memória: no Estado do Paraná: Demandas e políticas pela preservação do
patrimônio cultural, Teresa Jussara Luporini (1997); Os Arquitetos da Memória: a construção
do patrimônio histórico e artístico nacional no Brasil (anos 30 e 40), de Márcia Regina
Romeiro Chuva (1998); Museu Paulista: Memória e História, de Maria José Elias (1996); e
Um lugar de memória para a nação: o Museu Paulista reinventado por Affonso d'Escragnolle
Taunay (1917-1945), de Ana Cláudia Fonseca Brefe (1999).
A partir de 2001, até 2007, a metodologia da busca no repositório da CAPES, bem
como a sistemática de levantamento e tabulação dos dados, precisou sofrer algumas
adaptações, pois ao se buscar pelas palavras chaves Memória/as, ensino de História e ditadura
militar, o número de resultados foi ainda maior que os obtidos no recorte temporal anterior. A
busca foi realizada dentro dos mesmos parâmetros, utilizando as mesmas palavras chaves e os
mesmos filtros aplicados ao recorte anterior, porém o levantamento foi feito de forma um
pouco mais refinada. Observou-se que havia um serie de pesquisas que falavam sobre as
memórias dos alunos e alunas da escola básica, professores e outros sujeitos sobre seus
processos de alfabetização e letramento, pesquisas que a pesar de utilizarem a categoria
memória, operam dentro de um viés que compreende a memória apenas como lembrança, não
problematizando os trabalhos e os usos da memória. Pesquisas sobre essa temática, por
exemplo, não foram contabilizadas no levantamento. Além disso, pesquisas que a pesar de
utilizarem a memória como categoria, dialogavam especificamente com outras áreas de
conhecimento como ensino de física, não foram contabilizadas também.
Das pesquisas que foram contabilizadas, foram encontradas 29 dissertações de
mestrado e 25 teses de doutorado. Dentre as dissertações, sete foram selecionadas por
abordarem o ensino de História e 22 trabalhos sobre memória/s. Dentre os trabalhos sobre
ensino de História, existe uma tendência em abordar a História do ensino de História e
currículo. Já os trabalhos relativos a memória/s, possuem recortes temáticos variados, falando
de diferentes sujeitos e acontecimentos como os trabalhos mencionados no recorte anterior.
Cabe destacar, dois trabalhos que se diferenciaram: Focando a discriminação em sala de aula:
memória, história e ensino de história, de Márcia Regina Poli Bichara (2005), que aborda
questões sobre o uso das memórias em contraponto a História, para discutir a temática da
discriminação e da escravidão no ensino de História, analisando documentos produzidos pelos
alunos durante as aulas de História. A autora dialoga com autores como Walter Benjamin para
desenvolver o conceito de rememoração e E. P. Thompson par desenvolver o conceito de
História. A autora utiliza na área da educação, as contribuições de Vigoski para refletir sobre a
aprendizagem.
Dentre as pesquisas de doutorado, foram selecionadas quinze pesquisas sobre
memória/s e nove sobre ensino de História. Dentre os trabalhos sobre memórias, ales dos
trabalhos sobre memórias de grupos, personagem e acontecimentos históricos específicos, é
possível observar uma forte tendência de aproximações entre a categoria memória e pesquisa
da área de História da educação, que utilizam a categoria memória para narrar e/ou analisar a
História da educação no Brasil, através das narrativas de professores e alunos. Isso pode ser
observado em trabalhos como Histórias e memórias de educandos e educadores na
constituição da identidade do projeto educativo de integração social-peis: referências em
políticas públicas e institucionais para a educação de jovens e adultos e formação de
educadores, tese defendida por Silmara de Campos (2004).
Além dessa tendência, cabe destacar a tese Poder e contrapoder: militares e
historiadores disputam a memória e a história do regime de 1964, onde a autora Lucileide
Costa Cardoso (2004) analisa as disputas pela memória da ditadura no seu tempo presente.
Dentre os trabalhos que abordam o ensino de História, se mantem a tendência de
pesquisas sobre a História do ensino de História e sobre os documentos e currículo. São
exemplos dessa abordagem a tese Parâmetros Curriculares Nacionais: contexto, fundamentos,
processo de elaboração e influência no ensino de História, defendida por Maria de Fátima
Souza de França Cabral; e a pesquisa A formação do professor e o ensino de história. Espaços
e dimensões de práticas educativas (Belo Horizonte, 1980/2003), de Claudia Regina Fonseca
Miguel Sapag Ricci.

Nessa busca, foi possível perceber que nas últimas décadas as pesquisas relacionadas
ao ensino de História ganharam espaço e as pesquisas relacionadas a memória continuaram
sendo produzidas de forma significativa. Porem, a aproximação entre as duas coisas se dá de
forma reduzida, de modo que a forma mais comum, são pesquisas sobre a História do ensino
de História, em que as memórias são fonte para as pesquisa e consequentemente utilizadas
como uma categoria de análise. Uma abordagem bastante distinta da qual me proponho a
desenvolver.

Banco de dissertações do ProfHistória

Devido as características do ProfHistória - Mestrado Profissional em Ensino de


História, todos as dissertações desenvolvidas no programa se relacionam diretamente com o
ensino de História. Além disso, devido ao programa ser uma iniciativa recente, se enquadrado
apenas no último recorte temporal proposto nesse levantamento – entre os anos de 2008 a
2018, foi possível fazer as buscas de forma bastante detalhada e atenta. Devido ao repositório
de teses ser especifico do programa, o refinamento das buscas foi limitado a escolha das
palavras chave, que foram as mesmas utilizadas anteriormente no banco de teses e
dissertações da CAPES: memória/s, ensino de História e ditadura militar, sendo consideradas
algumas variações, como sala de aula, regime militar e etc.
Ao todo foram encontradas 26 dissertações que utilizam memórias como fonte e/ou
categoria de análise de diferentes formas. A maioria das pesquisas desenvolvidas no programa
datam de 2016, ano de defesa das dissertações desenvolvidas pelos alunos das primeiras
turmas do programa. Apesar de abordarem diferentes temáticas, a maioria das pesquisas visa
desenvolver um material didático e refletir sobre metodologias que utilizem as memórias no
ensino de História.
Algumas pesquisas aproximam a questão da memória de instituições como o museu –
um total de três dissertações, ou buscam refletir dentro da perspectiva do patrimônio – quatro
dissertações – e/ou educação patrimonial – três dissertações .
Referências Bibliográficas

FERREIRA, Norma Sandra de Almeida. As pesquisas denominadas "estado da arte".


Educação & Sociedade. 2002, vol.23, n.79, pp.257-272. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/es/v23n79/10857.pdf. Acessado em 05/06/2019.

CAIMI, Flávia. Novas conversas e antigas controvérsias: um olhar sobre a historiografia do


ensino de História. In OLIVEIRA, Margarida; CAINELLI, Marlene; OLIVEIRA, Almir
(Orgs.). Ensino de História: múltiplos ensinos em múltiplos espaços. Natal: EDFURN, 2008,
p. 127-135.
BRASIL. Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2000/decreto-3551-4-agosto-2000-359378-
norma-pe.html. Acessado em 02/10/2019.

DECRETO Nº 3.551, DE 4 DE AGOSTO DE 2000. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3551.htm. Acessado em: 22/07/2019.

DECRETO Nº 6.040, DE 7 DE FEVEREIRO DE 2007. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6040.htm. Acessado em:
22/07/2019.

Anexos

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