Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Estado Da Arte Patrimonio, Memória e Ensino de História
Estado Da Arte Patrimonio, Memória e Ensino de História
O presente trabalho, pode ser definido como um estado da arte, que segundo Ferreira
(2002), são pesquisas bibliográficas “com o desafio de mapear e de discutir uma certa
produção acadêmica em diferentes campos do conhecimento, tentando responder que aspectos
e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares”.
Nessa pesquisa, como indica Ferreira (2002), será utilizada uma metodologia de
caráter inventariante e descritivo da produção acadêmica que relacione Educação Patrimonial
e Ensino de História, Identidade ou Memória e Ensino de História.
Tal recorte temático foi estabelecido a partir das discussões da historiadora Flávia
Caimi (2008), onde a historiadora apresenta as principais linhas de força nas pesquisas sobre o
Ensino de História e indica “Memória, identidades e educação patrimonial” como uma dessas
linhas.
Tais linhas de força foram delineadas por Caime (2008), em uma pesquisa realizada
em publicações na área e nos anais dos eventos Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de
História (Perspectivas), Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de História
(ENPEH) e Simpósio Nacional de História (ANPUH), alguns dos mais importantes eventos
acadêmicos do campo da História e do campo do Ensino de História especificamente1.
Desse modo, para identificar como as temáticas da Educação Patrimonial, Identidade,
Memória e Ensino de História em múltiplos espaços de ensino se relacionam e comparecem
nas pesquisas acadêmicas, esta pesquisa se debruçará sobre os anais destes mesmos eventos.
Além disso, para melhor compreender e mapear a produção acadêmica sobre a linha
de força em questão, as investigações serão ampliadas para outros materiais disponíveis para
o acesso online. Serão mapeados também, publicações de artigos acadêmicos, que
componham dossiês sobre o ensino de História, nos quais as temáticas do patrimônio ou da
memória se façam presentes. Esses materiais serão obtidos no site do Laboratório de Ensino
1
Sobre a importância desses eventos para a constituição da área do ensino de História, ver MESQUITA, Ilka
Miglio de. Memorias/identidades em relação ao ensino e formação de professores de história: diálogos com
fóruns acadêmicos nacionais. Tese defendida no PPGEDU UNICAMP, 2008. Disponível em:
http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/252062
de História e Educação (LHISTE) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 2.
Também serão considerados, os artigos publicados nas principais revistas de Ensino de
História do país: a Revista História Hoje e a Revista História & Ensino.
Todas as buscas terão como parâmetro, as principais palavras chaves para descrever e
delimitar as pesquisas sobre a linha de força pesquisada, ou seja: Memória, Identidades,
Educação Patrimonial e Ensino de História.
De acordo com as delimitações de Caime, nesta linha de força:
Nesse sentido, para entendermos a amplitude apresentada pela autora quanto aos
conceitos de patrimônio, identidade e memória, em sua relação com o Ensino de História, se
faz necessário que a busca por palavras chaves se amplie, além das palavras “Memória(s)”,
“Identidade(s)” e “Educação Patrimonial”, as buscas contemplarão as palavras: “Patrimônio”,
“Museu(s)” e “História Oral”, relacionadas as palavras “Ensino de História”, “Ensino”,
“Aprendizagem” e “Escola(r)” em seus títulos. A parir dos títulos selecionados, serão lidos e
analisados os resumos dos textos, quando disponíveis.
Os textos serão contabilizados e separados de acordo com as palavras chaves
mencionadas no parágrafo anterior e também as intersecções entre elas. Após a tabulação dos
dados, serão observadas tendências no interior da linha de força “Memória, Identidade,
Educação Patrimonial e Ensino de História”.
Serão considerados os trabalhos entre 1995 e 2018. Tal recorte foi pensado,
considerando o momento histórico em que se começa a discutir os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs), publicados em 1997 e o presente, em 2018.
No interior desse recorte, serão considerados alguns marcos temporais, como o decreto
3551 de 2000 – que institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que
constituem patrimônio cultural brasileiro e institui no âmbito do Ministério da Cultura, o
2
As informações sobre as revistas e o laboratório, foram retiradas diretamente dos respectivos sites. História
Hoje. Disponível em: https://rhhj.anpuh.org/RHHJ; História e ensino. Disponível em:
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino.
"Programa Nacional do Patrimônio Imaterial", visando à implementação de política específica
de inventário, referenciamento e valorização; e o decreto 6040 de 2007 – que institui a
Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.
Conforme mencionado anteriormente, com base nas reflexões de Caimi (2009), serão
considerados como os principais eventos da área do Ensino de História: o Encontro Nacional
Perspectivas do Ensino de História (Perspectivas), Encontro Nacional dos Pesquisadores do
Ensino de História (ENPEH) e Simpósio Nacional de História (ANPUH). Estes eventos
historicamente estão relacionados a constituição do Ensino de História como um capo de
pesquisas, como aponta Ilka Miglio de Mesquita (2008).
Segundo Mesquita (2008) a Associação Nacional de História, a ANPUH, foi fundada
em 1961, como uma associação de professores universitários, que não permitia a participação
de professores da educação básica.
Porém, durante a década de 1970, a entidade passou a ser palco de disputas, que
visavam incluir tais professores, o que veio a acontecer em 1979, em meio a disputas internas
e a luta da entidade contra a reforma universitária - que visava a substituição da formação
universitária em História, pela formação em Estudos Sociais e a implantação dos Estudos
Sociais na Educação Básica, substituindo a História.
Nesse contexto, com vozes dissonantes e divergências, a ANPUH passou a permitir a
participação de professores da educação básica, alunos de mestrado e doutorado, no entanto
estes ainda possuíam um espaço reduzido para suas demandas.
No entanto, o ensino de História só se consolidou enquanto campo na década de 1980,
durante a redemocratização do país, após longos anos de ditadura civil militar. Em meio as
disputas políticas do país e no interior da ANPUH, se desenvolveu um movimento de luta
pelo reconhecimento da autenticidade do saber histórico escolar e dos saberes docentes, no
bojo, da luta de professores contra uma reforma universitária.
Ainda segundo Mesquita (2008), durante esse momento histórico outros espaços para
discussão sobre o Ensino de História se consolidaram, como Encontro Nacional Perspectivas
do Ensino de História (Perspectivas), em 1988, que visava incluir no debate um número mais
expressivo de professores da educação básica, e o Encontro Nacional Pesquisadores do
Ensino de História (ENPEH), criado em 1993, para ser o espaço de discussões, produção e
difusão da pesquisa do Ensino de História, contribuindo para a consolidação e legitimação do
campo.
Devido à importância desses espaços na consolidação do campo do ensino de História,
como mencionados anteriormente, tais eventos foram os mesmos considerados nas pesquisas
de Caime (2008). Por esse motivo, estes mesmos espaços foram selecionados para identificar
como este campo se encontra nos últimos anos na presente pesquisa.
Ao todo, entre 1995 e 2017, dentro da Anpuh, foram selecionados 91 trabalhos, apenas
de eventos nacionais. Além destes, no I e no II Seminário Nacional História e Patrimônio
Cultural - GT ANPUH Brasil, foram encontrados 9 trabalhos.
Analisando o primeiro recorte, entre 1995 e 2000, é possível observar uma pequena
quantidade de produções que se relacionem a linha de força – um total de sete trabalhos.
Sendo que, foram encontradas apenas pesquisas relacionadas à Memória, Museu e Identidade.
Após o decreto 3551 de 2000, há um aumento mínimo no número de pesquisas que se
relacionam a linha de força, passando para um total de dez trabalhos. No entanto, há uma
diversificação maior nas pesquisas, que vão incluir Patrimônio, Educação Patrimonial e uma
intersecção entre Memória e Identidade.
Com o decreto 6040 de 2007, é possível observar um aumento significativo no número
de publicações dentro da linha de força – que passou para 74 trabalhos. No entanto, cabe
ressaltar, que se trata de uma quantidade maior de eventos – um total de seis eventos entre
2008 e o presente, um número superior aos recortes anteriores.
Além disso, há uma diversificação ainda maior entre as temáticas pesquisadas:
Memória, História Oral, Patrimônio, Museu, Educação Patrimonial e Identidade; também as
intersecções Memória e Educação Patrimonial, Memória e Patrimônio, Memória e Museu,
Memória e Identidade, e Memória e História Oral. Sendo que Educação Patrimonial e Museu
concentram a maioria das pesquisas.
É possível observar que a maioria dos trabalhos que envolvem museu, tratam-se de
apontamentos metodológicos para aproximar museu e escola, geralmente, a partir da
experiência de alguma instituição, museu ou escola. Esse elemento pode ser observado no
trabalho “A universidade, a escola e o museu: práticas educativas no Ensino de História”, que
parte de uma experiência de um projeto de extensão universitária dos cursos de História e
Turismo da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), que desenvolveram uma
oficina sobre Memória, História e Patrimônio Histórico com alunos do 9º ano da E. E. João
Belo de Oliveira e posteriormente promoveu uma visita dos alunos ao Museu Carangola.
Também é possível observar uma inclinação nos trabalhos relativos a memória em
estabelecer uma ligação metodológica entre memória e ensino de História, mas
diferentemente do Museu, em geral os trabalhos envolvendo Memória não partem de
experiencias ou estão relacionados a instituições. Os trabalhos envolvendo Memória aparecem
apenas como orientações metodológicas, como no trabalho “Ensino de História e Memória:
usos do passado e os desafios do historiador e do professor”, onde o autor Mário Sérgio
Pereira de Olivindo, destaca os principais desafios impostos ao historiador e ao professor de
história no trabalho com a memória e aponta algumas possibilidades teóricas e metodológicas
para o seu enfrentamento.
Os trabalhos envolvendo Memória também aparecem relacionando a memória a outros
temas, como no trabalho “A função social do historiador e o ensino da ditadura militar:
caminhos para a promoção da reparação, da memória e da verdade”, que levanta reflexões
teóricas e metodológicas acerca dos usos da memória.
Um dado importante a ser observado, é a criação do Grupo de Trabalho Nacional de
Patrimônio Cultural, que aconteceu em 2011, da junção de grupos constituído em seções
regionais da Associação em Patrimônio Cultural, que pode ter impactado no número de
pesquisa no recorte temporal de 2008 a 20018. Também é importante ressaltar, que não há um
GT especifico que aborde Patrimônio e Ensino de História.
Após a criação do Grupo de Trabalho Nacional de Patrimônio Cultural, em 2016 e
2018, aconteceram também os seminários do GT História e Patrimônio Cultural da ANPUH.
A partir dos quais, foi possível observar que as temáticas que mais se destacaram foram
aquelas relacionadas à Memória, Patrimônio e Educação Patrimonial.
No I Seminário Nacional História e Patrimônio Cultural - GT ANPUH Brasil, apesar
de se tratar de um evento promovido pelo GT História e Patrimônio Cultural, com inúmeros
trabalhos relacionados a temática, no evento promovido em 2016, apenas três trabalhos
relacionavam-se ao ensino de História. Além disso, as pesquisas se limitaram a abordar a
Educação Patrimonial e o Patrimônio.
Em 2018, houve um aumento irrisório, de modo que, foram encontrados um total de
seis trabalhos. Dos quais, as temáticas abordadas foram Memória, Patrimônio e a intersecção
entre Memória e Patrimônio.
Memória, Identidade, Educação Patrimonial e o Ensino de História no ENPEH
Além deste, haviam outros GPDs que apesar de não abordarem diretamente,
possibilitavam discussões envolvendo as temáticas da linha de força. No total, foram
encontrados um total de 11 trabalhos, um número significativo. No entanto, o número de
trabalhos que se enquadram nos critérios desse trabalho diminuiu, pois muitos dos trabalhos,
apesar de abordar Memória, identidades, educação patrimonial e Ensino de História, focam
em outras temáticas, como livros didáticos, currículos, ou formação docente.
Entre todos os trabalhos selecionados nessa pesquisa, a maior recorrência de pesquisas
coincide nos trabalhos que se relacionam com as temáticas da memória e do patrimônio.
Qualitativamente, é possível observar que, dentre os trabalhos relacionados a
memória, estão relacionados a orientações metodológicas para abordar a memória como uma
ferramenta no Ensino de História, algumas vezes também relacionando-se com outros temas,
como memória nacional, ditadura militar ou questões étnico raciais.
De modo que, no que diz respeito a temática da memória, podemos observar essa
características claramente nos trabalhos: “O imaginário da Independência: entre a tradição da
memória e o ensino de História” (1999), “Memórias da ditadura – uma proposta para a sala de
aula” (2004), “Educação e memória: uma história a ser pensada” (2005), ou “A construção da
memória nacional e o ensino de história: algumas reflexões” (2006).
Já nos trabalhos que abordam a questão do patrimônio, existe uma tendência a
indicação de uma aproximação metodológica entre o Ensino de História e o patrimônio. O
trabalho “Educação, História e Patrimônio: da Prática à Teoria” (2006).
Considerando o marco temporal, foram analisados apenas sete eventos, sendo que
nestes eventos foram encontrados um total de 70 trabalhos.
No período em questão, foram analisados dois eventos, ocorridos em 1996 e 1999. De
modo que, foi encontrado apenas um trabalho dentro da linha de força analisada, precisamente
no evento de 1999: “Desvendando as redes da memória local: ensino de história e vida
cotidiana”, de Ângelo Priori. No ano em questão, já havia um GD voltado a linha de força, o
GD. “Memória e Ensino de História” (1 trabalho), coordenado por Andrea Delgado.
Já entre 2000 e 2006, foi analisado apenas o evento organizado em 2001, onde foi
encontrado um total de três trabalhos na linha de força estabelecida e todos relacionados a
museus. No evento analisado, não foi possível identificar os GDs a qual os trabalhos se
relacionavam e devido ao número extremamente reduzido de eventos e trabalhos, não foi
possível analisar o impacto do decreto 3551 de 2000.
O recorte entre 2007 e 2018 foi o período de maior recorrência em trabalhos
encontrados, mas também o período com maior disponibilidade de anais online. Neste
período, foram analisados os eventos de 2007, 2012, 2015 e 2018.Sendo que, durante os
quatro anos, houve um total de 66 publicações e maioria das pesquisas estava relacionada a
questão da Memória, em 2007 foi um trabalho; em 2012, foram 14 trabalhos; em 2015, nove
trabalhos; e bem como no ENPEH, evento anteriormente analisado: em 2018, cinco
trabalhos. Além da memória, o Museu também foi destaque, com um trabalho em 2007;
quatro trabalhos em 2012; oito trabalhos, em 2015; caindo para um trabalho em 2018.
Os anos de 2012 e 2015 são os que contem mais trabalhos na linha de força analisada
e as temáticas mais recorrentes foram Memória e Museus, sendo que, as pesquisas
envolvendo museus somaram quatro trabalhos no primeiro ano e dobraram para oito no
segundo ano, enquanto as pesquisas sobre memória diminuíram de 14, para nove trabalhos..
Não foi possível verificar os grupos de discussão nos quais se inseriram os trabalhos
em 2012, por isso não é possível afirmar que a presença de um GD especifico na linha de
força Memória, Identidades, Educação Patrimonial e Ensino de História tenha influenciado
diretamente este dado. Já em 2015, havia um GD chamado “Os museus e a formação da
consciência histórica”, que concentrou oito, dos 24 trabalhos comunicados naquele ano.
Mas é possível conjecturar que o aumento das pesquisas dentro da linha de força, se
relacione com a legislação especifica – decretos 3551/2000 e 6040/2007. Porém, devido à
falta de anais encontrados no recorte de 1995 a 2006, não é possível confirmar tal hipótese.
Dentro das pesquisas bordando Museus, podemos observar uma tendência, percebendo
que a maioria dos trabalhos consistem em orientações metodológicas para uma aproximação
entre Museus e Ensino de História, em geral, a partir de experiencias de educação em museus,
como é o caso do trabalho intitulado “O espaço museal como ferramenta para o Ensino de
História” (2015), que parte da experiencia do Museu Histórico de Londrina e sua exposição
permanente, que apesar de ser concebida sob uma narrativa oficial, apresenta subterfúgios
para problematizar essa narrativa e conhecer outros olhares sobre a história de Londrina.
Dentro da linha de força proposta por Flávia Cimi (2008), o que mais interessa a este
estado da arte são os trabalhos relativos a memórias da ditadura militar e o ensino de História,
pois este levantamento faz parte de uma proposta de pesquisa mais ampla, visando um
mapeamento e analise de trabalhos que possam dialogar ou inspirar minha dissertação de
mestrado, que apesar de ainda não estar inteiramente delimitado, visa refletir sobre as
memórias da ditadura militar em Criciúma e o ensino de História.
Para afunilar a pesquisa, a busca foi estendida ao banco de teses e dissertações da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPS). É importante
explicar como se desenvolveu este levantamento, levando em consideração que o banco de
teses e dissertações da CAPS apresenta um número muito elevando ao buscar-se as palavras
chaves escolhidas como relevantes para essa pesquisa – memória(s), ditadura e ensino de
História - com um total de 1028367 resultados, considerando-se apenas pesquisas de mestrado
e doutorado, desenvolvidas entre 1996 e 2018. Para refinar essa busca, adicionou-se alguns
filtros, limitando a pesquisa à grande área das ciências humanas e as áreas do conhecimento e
área de avaliação Educação, História e Ensino, visto que não havia a opção por Ensino de
História (nessa seleção, foram consideradas as duas opções idênticas que o filtro ofereceu).
Porém, mesmo com tais refinamentos foram encontrados 88299. Visando ainda a diminuição
desse número e a viabilidade do levantamento, optou-se acrescentou-se por fazê-lo dentro das
demarcações temporais já estabelecidas nesta pesquisa (1996-2000, 2001-2007, 2008 – 2018)
e foram incluídos alguns filtros em área de concentração ou nome do programa.
No caso do recorte temporal entre 1996 e 2000, foram utilizados apenas os resultas
referentes aos programas de Ciências e práticas educativas, Educação, Educação, Educação:
História, política, sociedade, História, História e História Social, contabilizando um total de
6817 trabalhos. Cabe ressaltar as dificuldades encontradas em filtrar os resultados para esta
busca, visto que o banco de teses e dissertações da CAPES não filtra as pesquisas por palavras
encontradas no título, ou entre as palavras chave das pesquisas encontradas, o que incluí entre
os resultados, uma série de pesquisa que não possui relação com a temática pesquisada.
A partir dessa busca e de uma leitura dinâmica dos resultados encontrados, foram
encontrados dentro do primeiro recorte temporal, um total de 119 pesquisas de mestrado, que
falam sobre a temática da memória e possuem a palavra memória ou memórias, ensino de
História e/ou ditadura no título. As pesquisas foram tabuladas conforme as palavras chaves
que implicaram em sua seleção neste levantamento e organizada conforme áreas de
convergência, de modo que, foi possível identificar que muitas pesquisas sobre memória
dialogavam até os anos 2000, com a História da Educação, tratando-se de pesquisas que
compõem indiretamente o campo do ensino de História, porque estão nessa área de limites
pouco definidos. Em sua maioria, essas pesquisas abordam memórias de sujeitos e
instituições, ou memórias de sujeitos sobre instituições, como por exemplo, a dissertação de
Jacqueline de Fátima dos Santos Morais, intitulada Por entre fragmentos: memória e
esquecimento de professores do Instituto de Educação (1998), ou a pesquisa de Viviane
Santana Mendes, intitulada História e Memória: a Escola Estadual de Uberlândia 1912-1929
(2000) e Virginia Maria Santana Chamusca, intitulada Em busca do tempo que não se perdeu -
Memórias de pessoas a respeito de seus professores (2000). Estas pesquisas aparentam lidar
com a temática da memória de diferentes formas, porem por se tratarem de pesquisas
anteriores a Plataforma Sucupira, muitas delas não estão disponíveis online.
Foram levantadas ainda, outras 55 pesquisas relacionadas a memória(s), porem com
enfoques bem diversificados, a maioria sem nenhum diálogo com o ensino de História ou
mesmo com a educação. Sem a identificação de um eixo central, essas pesquisas se tornam
irrelevantes para o levantamento, apensar de estarem diretamente ligadas a palavra chave.
Destas pesquisas com a palavra memória como único eixo norteador, quatro se relacionavam
a temática do patrimônio e duas a temática do museu: A memória do patrimônio histórico
tombado em Ponta Grossa – Paraná, de Marcia Maria Droppa; A Pedagogia da Memória nos
Anos 79-80: Um Estudo sobre A Noção de Memória Social Ensinada pelo IPHAN, de ,
Alayde Wanderley Mariani; Memória Arquitetônica em Ribeirão Preto: planejamento urbano
e política de preservação, de Valéria Margarth de Campos Verde Valadão; Museu no bloco
Afro Ilê Aiyê: um espaço de memória e etnicidade, de Joseania Miranda Freitas; e Guardar e
celebrar o passado: o museu de Porto Alegre e as memórias na cidade, de Zita Rosane
Possamai.
Nas 14 pesquisas em que a palavra chave em questão é o ensino de História, nenhuma
pesquisa encontrada se relaciona com a questão da memória. De modo geral, é possível
identificar uma tendência nessas pesquisas em relacionar o ensino de História as inovações
tecnológicas características dos anos 2000, como a difusão da internet e a consolidação da
televisão como um meio de comunicação de massa de fácil acesso. Foram encontradas
pesquisa como por exemplo a de Olavo Pereira Soares, intitulada O ensino de História e a
cultura midiática (2000), a pesquisa de Marcelo da Silva Murilo, A prática de Ensino de
História: o uso do vídeo agindo na produção de um novo saber (2000) e a dissertação de Celso
Rogério Klammer, O mundo não para de girar: o ensino de história e as tecnologias da
informação: possibilidades e limites (1999).
Já as pesquisas relacionadas a ditadura militar brasileira foram ainda mais reduzidas,
totalizando seis trabalhos. É possível conjecturar que isso aconteceu porque o recorte
temporal em questão se inicia apenas dez anos após o fim da ditadura, um processo conduzido
com o intuito de apaziguar. As pesquisas sobre a ditadura possuem enfoques diversos, como a
pesquisa de Geisa Cunha Franco, intitulada O Papel da Grande Imprensa na Preparação dos
Golpes Militares: um estudo comparativo entre o Brasil, 1964 e a Argentina, 1976 (1997); ou
a pesquisa de David Maciel, Democratização e Manutenção da Ordem na Transição da
Ditadura Militar à Nova República (1974-1985) (1999).
Quanto as pesquisas de doutorado, foram encontradas ao todo, 23 teses, sendo que
apenas uma delas relacionadas ao ensino de História – Ensino de História e nação na
propaganda do milagre econômico-Brasil: 1969-1973, defendida por Luis Fernando Cerri
(2000) – e duas a ditadura militar – Reinventando o otimismo: ditadura, propaganda e
imaginário social no Brasil (1969-1977), de Carlos Fico da Silva Junior e Minas Gerais na
ditadura militar: lideranças e práticas políticas (19771-1983), de Selmane Felipe de Oliveira.
As pesquisas restantes possuem a palavra memória no título e a maioria delas não se relaciona
com a temática do ensino de História ou da ditadura, possuindo como único eixo conectivo a
questão das memórias, mas abordando as memórias de formas variadas, enfocando grupos
específicos, acontecimentos ou instituições. Podemos citar como exemplos, a pesquisa Quem
é do Mar não Enjoa: memória e experiências de estivadores do Rio Grande-RS (1945-1993),
de Carlos Alberto de Oliveira (2000); a tese Memória e administração: O arquivo Público do
Império e a Consolidação do Estado Brasileiro, defendida Celia Maria Leite Costa (1997); e
Cidades e sertões: entre a História e a memória, de Gilmar Arruda (1997). Também é possível
identificar, algumas pesquisas relacionando a temática da memória ao patrimônio e ao museu:
Lugares da memória: no Estado do Paraná: Demandas e políticas pela preservação do
patrimônio cultural, Teresa Jussara Luporini (1997); Os Arquitetos da Memória: a construção
do patrimônio histórico e artístico nacional no Brasil (anos 30 e 40), de Márcia Regina
Romeiro Chuva (1998); Museu Paulista: Memória e História, de Maria José Elias (1996); e
Um lugar de memória para a nação: o Museu Paulista reinventado por Affonso d'Escragnolle
Taunay (1917-1945), de Ana Cláudia Fonseca Brefe (1999).
A partir de 2001, até 2007, a metodologia da busca no repositório da CAPES, bem
como a sistemática de levantamento e tabulação dos dados, precisou sofrer algumas
adaptações, pois ao se buscar pelas palavras chaves Memória/as, ensino de História e ditadura
militar, o número de resultados foi ainda maior que os obtidos no recorte temporal anterior. A
busca foi realizada dentro dos mesmos parâmetros, utilizando as mesmas palavras chaves e os
mesmos filtros aplicados ao recorte anterior, porém o levantamento foi feito de forma um
pouco mais refinada. Observou-se que havia um serie de pesquisas que falavam sobre as
memórias dos alunos e alunas da escola básica, professores e outros sujeitos sobre seus
processos de alfabetização e letramento, pesquisas que a pesar de utilizarem a categoria
memória, operam dentro de um viés que compreende a memória apenas como lembrança, não
problematizando os trabalhos e os usos da memória. Pesquisas sobre essa temática, por
exemplo, não foram contabilizadas no levantamento. Além disso, pesquisas que a pesar de
utilizarem a memória como categoria, dialogavam especificamente com outras áreas de
conhecimento como ensino de física, não foram contabilizadas também.
Das pesquisas que foram contabilizadas, foram encontradas 29 dissertações de
mestrado e 25 teses de doutorado. Dentre as dissertações, sete foram selecionadas por
abordarem o ensino de História e 22 trabalhos sobre memória/s. Dentre os trabalhos sobre
ensino de História, existe uma tendência em abordar a História do ensino de História e
currículo. Já os trabalhos relativos a memória/s, possuem recortes temáticos variados, falando
de diferentes sujeitos e acontecimentos como os trabalhos mencionados no recorte anterior.
Cabe destacar, dois trabalhos que se diferenciaram: Focando a discriminação em sala de aula:
memória, história e ensino de história, de Márcia Regina Poli Bichara (2005), que aborda
questões sobre o uso das memórias em contraponto a História, para discutir a temática da
discriminação e da escravidão no ensino de História, analisando documentos produzidos pelos
alunos durante as aulas de História. A autora dialoga com autores como Walter Benjamin para
desenvolver o conceito de rememoração e E. P. Thompson par desenvolver o conceito de
História. A autora utiliza na área da educação, as contribuições de Vigoski para refletir sobre a
aprendizagem.
Dentre as pesquisas de doutorado, foram selecionadas quinze pesquisas sobre
memória/s e nove sobre ensino de História. Dentre os trabalhos sobre memórias, ales dos
trabalhos sobre memórias de grupos, personagem e acontecimentos históricos específicos, é
possível observar uma forte tendência de aproximações entre a categoria memória e pesquisa
da área de História da educação, que utilizam a categoria memória para narrar e/ou analisar a
História da educação no Brasil, através das narrativas de professores e alunos. Isso pode ser
observado em trabalhos como Histórias e memórias de educandos e educadores na
constituição da identidade do projeto educativo de integração social-peis: referências em
políticas públicas e institucionais para a educação de jovens e adultos e formação de
educadores, tese defendida por Silmara de Campos (2004).
Além dessa tendência, cabe destacar a tese Poder e contrapoder: militares e
historiadores disputam a memória e a história do regime de 1964, onde a autora Lucileide
Costa Cardoso (2004) analisa as disputas pela memória da ditadura no seu tempo presente.
Dentre os trabalhos que abordam o ensino de História, se mantem a tendência de
pesquisas sobre a História do ensino de História e sobre os documentos e currículo. São
exemplos dessa abordagem a tese Parâmetros Curriculares Nacionais: contexto, fundamentos,
processo de elaboração e influência no ensino de História, defendida por Maria de Fátima
Souza de França Cabral; e a pesquisa A formação do professor e o ensino de história. Espaços
e dimensões de práticas educativas (Belo Horizonte, 1980/2003), de Claudia Regina Fonseca
Miguel Sapag Ricci.
Nessa busca, foi possível perceber que nas últimas décadas as pesquisas relacionadas
ao ensino de História ganharam espaço e as pesquisas relacionadas a memória continuaram
sendo produzidas de forma significativa. Porem, a aproximação entre as duas coisas se dá de
forma reduzida, de modo que a forma mais comum, são pesquisas sobre a História do ensino
de História, em que as memórias são fonte para as pesquisa e consequentemente utilizadas
como uma categoria de análise. Uma abordagem bastante distinta da qual me proponho a
desenvolver.
Anexos