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DA PROVA

Nas palavras de Roxin, provar significa proporcionar ao juiz a


convicção da existência de um fato.
Um dos fundamentos básicos do processo penal é que o ônus
da prova cabe a quem alega.
Há, também, a presunção de inocência, segundo a qual todo
homem deve ser considerado inocente até que sua culpa esteja
provada e reconhecida por sentença judicial.
Pelo sistema adotado no nosso Código, e de acordo com as
teorias que inspiraram o legislador, o juiz tem a faculdade de preparar
a produção de provas.
Provar algo num processo significa oferecer ao juiz convicção da
existência de um determinado fato. O objetivo da produção da prova e
do direito como um todo é, portanto, encontrar a verdade.
Fala-se de "provas indiciárias" quando somente indiretamente se
conclui sobre matérias relevantes de prova, partindo-se de um ato
direto anterior. Assim, por exemplo, as impressões digitais num
determinado momento naquele local.
Em princípio, necessitam de prova todos os fatos nos quais o juiz
se baseará para oferecer sua decisão. Não há nenhum fato admitido
que possa excluir, isoladamente, a necessidade de prova. Nem
mesmo a confissão do acusado vincula o juiz. Se ele tem qualquer
dúvida sobre a correção ou exatidão total ou parcial da confissão,
deve suscitar outras provas.
O direito à reserva dos segredos profissionais e o impedimento à
devassa no interrogatório das testemunhas além do tema da causa,
são exemplos das barreiras que o direito processual coloca à
apuração da verdade. Pois são exatamente as testemunhas que mais
sabem, ou que pelo menos mais deveriam saber do caso, em virtude
de suas profissões, ou dos segredos que lhes foram confiados pelo
réu, são precisamente estas que estão impedidas de declarar a
verdade em juízo. Os profissionais – advogados, médicos,
confessores, etc. têm direito ao silêncio.
Nosso direito processual proíbe, também, através de Lei ou de
interpretações jurisprudenciais, vários meios de prova, que poderiam
ser de grande importância como por exemplo as escutas telefônicas
clandestinas, espionagem na privacidade, etc.
O juiz, portanto, pela nossa legislação, tem o dever de coletar a
prova e averiguar a verdade, mas não a qualquer preço. Os limites são
os direitos e garantias individuais, o respeito à integridade física e
moral do cidadão, à sua intimidade e de sua família.
O juiz tem que dirigir o processo e orientar a preparação da
prova isolando-se de influências externas e dessas insinuações
subliminares que muitas vezes mensagens tendenciosas pretendem
fazer penetrar em sua vontade e no seu subjetivismo. Pois nunca se
deve esquecer que não é o acusado que deve provar sua inocência,
mas, sim, cabe ao Estado provar sua culpabilidade.
“O juiz – assinala Carnelutti – ao julgar, quer saber o que houve
mais além do presente, no passado da pessoa a quem se julga, e o
que fará no futuro; se cometeu ou não certo crime, e se certa pena
valerá ou não para os fins de prevenção e da repressão. O juízo é,
definitivamente, uma espécie de salto mais além, mas para saltar é
necessário algo firme sob os pés. Este algo firme presente, do qual se
ergue aquele desconhecido passado ou futuro, são as provas."

TÍTULO VII - CAPÍTULO I  - DISPOSIÇÕES GERAIS

IRRESTRIÇÃO DA PROVA

 
O dispositivo é claro ao prescrever que, no que se refere à
prova, somente as restrições estabelecidas na lei civil quanto ao
estado das pessoas é que deverão ser observadas no juízo penal.
Quanto aos demais, há total e ilimitada amplidão.
Podem as mesmas ser obtidas através de:
I – confissão;
II – atos processados em juízo;
III – documentos públicos ou particulares;
IV – testemunhas;
V – presunção;
VI – exames e vistorias; e
VII – arbitramento".
LIVRE CONVICÇÃO DO JUIZ

Finda a instrução, com a apresentação de toda a prova


produzida pela acusação e pela defesa, o juiz formará sua convicção.
Esta convicção deverá defluir do conjunto probatório (art.157).
Por isso, mesmo em se tratando de perícia, "o juiz não ficará
adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte"
(art. 182).
A confissão, conforme consta no Código, será divisível e
retratável, sem prejuízo do livre convencimento do juiz, fundado no
exame das provas em conjunto.
Conforme anota Espínola Filho “servindo de base à ação penal o
inquérito em geral não constitui uma prova preconcebida ao ato
delituoso. Essa prova deve ser produzida na fase da instrução,
assegurada a defesa do acusado e o contraditório”.
Averdadeira prova é a que se harmoniza com o conjunto,
levando o magistrado ao seu convencimento.

ÔNUS DA PROVA – DILIGÊNCIA

Um dos princípios básicos do processo penal é o de que o ônus


da prova cabe a quem alega. O Ministério Público, como órgão
acusador do Estado, deverá provar, item por item, o que consta da
denúncia, no decorrer da instrução.
Mas, afora isso, se o juiz tiver notícia da existência de
documento relativo a ponto relevante da acusação ou da defesa,
providenciará, independentemente de requerimento de qualquer das
partes, para sua juntada aos autos, se possível.

COMPETÊNCIA

ÁREA DE ATUAÇÃO
Cada tribunal (com seus desembargadores e juízes) tem um
determinado campo de jurisdição. Entretanto, o alcance dos efeitos
dos atos judiciais não se limita ao seu território; todo tribunal pode não
só dispor das pessoas e coisas que estão no seu território, mas a
jurisdição de cada tribunal se estende até onde se estende a jurisdição
brasileira em geral. Por isto têm validade e são obrigatórias as
citações a acusados e testemunhas, ainda quando estes não
pertençam à área jurisdicional do tribunal.
O juiz tem a plenitude do poder jurisdicional, enquanto ao
escrivão e serventuários só lhes cabe uma atividade expressamente
circunscrita, quer dizer ao escrivão se atribui a atividade relativa à
documentação e ao manejo dos autos e aos serventuários, a
execução dos despachos, citação e intimação das partes, etc. “
A cada um dos distintos tribunais a lei lhes assina uma
determinada esfera de assuntos, isto é, uma determinada parte das
causas que estão pendentes e que são da competência do Tribunal. A
competência é basicamente por matéria e por território.

TÍTULO V
§ 9º DA COMPETÊNCIA (arts. 69 a 91)

"Art. 69 – Determinará a competência jurisdicional:


I – o lugar da infração;
II – o domicílio ou residência do réu;
III – a natureza da infração;
IV – a distribuição;
V – a conexão ou continência;
VI – a prevenção;
VII – a prerrogativa de função."
A palavra "jurisdição", em sua origem etimológica, quer dizer
exatamente "dizer o Direito". No sentido jurídico, amplia-se sua
concepção. No nosso caso significa o poder de que se investe o juiz
para exercer a função de decidir o processo penal, e todos os
incidentes, em nome do Estado. Vai "dizer o Direito", mas de forma
coativa, aplicando justiça ao caso concreto, obedecidos os preceitos
legais.
Competência é o poder jurisdicional; é a capacidade de que está
investido o juiz para decidir. Logo, o simples fato de se tratar de um
juiz, isto não significa que terá competência para receber o processo,
presidi-lo e julgá-lo.
A competência do juiz está demarcada pela área de sua
jurisdição. Além desses limites, ele se torna incompetente. A
competência é fixada por leis específicas.
Cada juiz tem competência dentro de sua comarca. Quem
delimita o espaço que compreende cada comarca é a Lei de
Organização Judiciária. Se a comarca possui somente um juiz, este
dispõe de competência para decidir todas as ações: civis, criminais,
trabalhistas, fiscais, administrativas, eleitorais, etc., sem distinção de
espécie alguma.
Na matéria regem seguintes princípios:
 Nenhum juiz pode julgar fora dos limites de sua competência;
 Competência é matéria de ordem pública. Por isso, o juiz pode e
deve declarar-se – quando for o caso – incompetente ex officio,
quer dizer, independentemente de provocação das partes; e, por
provocação do interessado, em qualquer fase do processo.
 Leis referentes à competência têm aplicação compulsória e
imediata sobre todos os processos, mesmo os já iniciados quando
de sua promulgação.
Havendo dúvida quanto à competência, instaura-se o conflito
(negativo ou positivo), que vem regulado nos arts. 113 e seguintes,
conforme comentaremos adiante. .

COMPETÊNCIA INCERTA – PREVENÇÃO

De acordo com nosso código a competência se firmará pela


prevenção quando incerta e não se determinar de acordo com as
normas estabelecidas nos arts. 89 e 90.

CAPÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES ESPECIAIS

 CRIMES FORA DO TERRITÓRIO BRASILEIRO

No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será


competente o juízo da capital do Estado onde houver por último
residido o acusado. Se este nunca tiver residido no Brasil, será
competente o juízo da capital da República (art. 88).

O PESSOAL DOS TRIBUNAIS


 

O pessoal dos tribunais está constituído em parte, por "juízes" e


em parte pelo "pessoal auxiliar dos Tribunais" (secretário, escrivão
judiciário, escrevente, oficial de justiça, etc.). O papel mais importante
na Justiça é desempenhado pelos juízes.
A participação dos leigos na jurisdição deve ser considerada
sumamente discutível. Esta é hoje a opinião, não só de uma grande
maioria dos juristas (teóricos e práticos), mas também de muitos leigos
cultos que, francamente, declaram que, via de regra, não são capazes
para a tarefa que se lhes impõem, e que não podem ter esta
capacidade.

DA COMPETÊNCIA PELA NATUREZA DA INFRAÇÃO

NATUREZA DA INFRAÇÃO

"A competência pela natureza da infração será regulada pelas


leis de organização judiciária, salvo a competência privativa do júri"
(art. 74).
Disciplinando assuntos referentes ao processo penal, há,
também, a Lei de Organização Judiciária, ou Código de Organização e
Divisão Judiciária através do qual o Estado-membro da Federação
organiza seus serviços judiciários.
Aos Estados, portanto, fica facultado estabelecer esta espécie de
competência, dependendo de suas peculiaridades e necessidades. Os
Tribunais de Justiça, de acordo com os interesses de bom
funcionamento da máquina judiciária, disciplinam a matéria, entrando
em maiores detalhes, nos seus Regimentos Internos.

TRIBUNAL DO JÚRI

Cabe ao Tribunal do júri, presidido por um juiz togado e


composto de juízes leigos (jurados), julgar os crimes dolosos contra a
vida (CF, art. 5º, XXXVIII, d).
Já o dispositivo acima, da Lei Processual Penal, detalha quais
são os crimes de competência do tribunal do júri como por ex. o
homicídio doloso simples e o qualificado; induzimento, instigação ou
auxílio ao suicídio; infanticídio etc.
CASOS DE COMPETÊNCIA CONTROVERTIDA

Há alguns casos de competência que têm suscitado


controvérsia, devido à obscuridade da lei, mostrando a orientação
vigente. Seguem alguns exemplos.
Os desembargadores e os conselheiros dos Tribunais de Contas
dos Estados e do Distrito Federal estão submetidos à jurisdição do
Superior Tribunal de Justiça, nos crimes comuns e de
responsabilidade;
Os governadores de Estados e do Distrito Federal, nos crimes
comuns são processados e julgados originariamente perante o
Superior Tribunal de Justiça.
Aos Tribunais de Justiça não se pode atribuir competência por
prerrogativa de função, quando lhes falta jurisdição.
“Compete ao Tribunal Regional Federal processar e julgar
deputado estadual que tenha no Tribunal de Justiça o foro por
prerrogativa de função, se acusado da prática de crime em detrimento
de bens, serviços ou interesses da União, suas entidades autárquicas
ou empresas públicas” (Tourinho Filho).
A competência especial para os crimes praticados por policial
militar no exercício do policiamento civil somente se dá quando o
agente se encontre no exercício regular da função.

COMPETÊNCIA DO STF

 
Fora dada pela nossa gloriosa CF, de forma taxativa, a
competência para o Supremo Tribunal Federal, art. 102 – "Compete ao
STF: I – processar e julgar originariamente; b) Nas infrações comuns,
o presidente da República, o vice-presidente e os ministros de Estado,
os membros do Congresso Nacional, seus próprios ministros e o
procurador-geral da República; c) nas infrações penais comuns e nos
crimes de responsabilidade, os ministros de Estado, os membros dos
Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas e os chefes de missão
diplomática de caráter permanente".
COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS

"Compete ao Superior Tribunal de Justiça processar e julgar


originariamente: nos crimes comuns os governadores dos Estados e
do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade os
Desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito
Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do
Distrito Federal, dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais
Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou
Tribunais de Contas dos Municípios e do Ministério Público da União
que oficiem perante tribunais" (CF, art. 111, I, a).

E: "Compete aos Tribunais Regionais Federais processar e julgar


originariamente os juízes federais da área de sua jurisdição, inclusive
os da Justiça Militar e do Trabalho, nos crimes comuns e de
responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral" (art. 114, I, a).

CAPÍTULO VII
DA COMPETÊNCIA PELA PRERROGATIVA DE
FUNÇÃO

DETERMINAÇÃO

"A competência pela prerrogativa de função é do STF e dos


Tribunais de Apelação, relativamente às pessoas que devam
responder perante eles por crimes comuns ou de responsabilidade"
(art. 84).
Esta é a competência em razão da pessoa. Decorre da natureza
da função ocupada pelo acusado no dia do crime.
Assim, por exemplo, o juiz de direito é processado pelo Tribunal
de Justiça a que estiver subordinado. A competência para processar
desembargadores cabe ao Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 105,
I, a). Os deputados federais são processados perante o STF. E assim
corre entre outros.
Em todas estas hipóteses há uma competência excepcional, que
decorre da chamada "prerrogativa de função".
É bom lembrar que há casos bem interessantes como por ex. se
um deputado estadual comete um crime e deve ser julgado pelo
Tribunal de Justiça, e, ocorrendo que ele venha a não se candidatar
ou a perder a eleição seguinte, ficando sem mandato, mesmo assim o
processo deverá continuar tramitando no Tribunal de Justiça. Ainda
que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após ele perder o
mandato, o foro por prerrogativa de função continuará o mesmo. Logo
crime cometido após o afastamento definitivo do cargo não goza do
foro por prerrogativa de função;

EXCEÇÃO DA VERDADE

"Nos processos por crime contra a honra, em que forem


querelantes as pessoas que a Constituição sujeita à jurisdição do STF
e dos Tribunais de Apelação, àquele ou a estes caberá o julgamento,
quando oposta e admitida a exceção da verdade" (art. 85).
É bom anotar que ainda que admitida, a exceção deve ser
processada e instruída nos limites do que couber, pois a esta Corte
cabe tão-somente o julgamento. À vista do douto parecer e do
precedente referido, devolvo os autos à origem, para que o MM. juiz
competente proceda de acordo com o sugerido pela Procuradoria-
Geral da República" (DJU de 25.02.86, pág. 1049).

AÇÃO PRIVADA – PREFERÊNCIA DE FORO

De acordo com o art.73 do CPP, nos casos de exclusiva ação


privada, o querelante poderá preferir o foro do domicílio ou da
residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.
Neste caso o querelante poderá optar por acionar o querelado no
foro de sua residência, ou de seu domicílio, desprezando o do local da
infração.
Trata-se de concessão excepcional, cabível apenas na ação
privada. Não se admite na ação privada subsidiária, nem tampouco na
ação pública condicionada.

CAPÍTULO II
DA COMPETÊNCIA PELO DOMICÍLIO OU RESIDÊNCIA
DO RÉU

DOMICÍLIO OU RESIDÊNCIA DO RÉU

Às vezes, surgem dificuldades para se identificar o local do


crime. Ou mesmo é impossível. Isso é muito comum acontecer em
crimes, por exemplo, de estelionato, contrabando, falsificação de
documentos e outras fraudes semelhantes.
Define o CC o conceito de domicílio: "O domicílio civil da pessoa
natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo
definitivo". E: "Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências
onde alternadamente viva, ou vários centros de ocupações habituais,
considerar-se-á domicílio seu, qualquer destes ou daquelas".
Esclarece mais ainda: "Ter-se-á por domicílio de pessoa natural,
que não tenha residência habitual, ou emprega a vida em viagens,
sem ponto central de negócios, o lugar onde for encontrado" (art. 33).
Esta determinação da competência tem por objetivo não
prejudicar a determinação do fim do processo, a sua finalidade
institucional, que é a de perseguir o crime. Não se deve afastar nunca
da vocação natural do processo penal, que é a de servir de
instrumento para realização da justiça.

CAPÍTULO I

DA COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA INFRAÇÃO

LUGAR DA INFRAÇÃO
Desde os tempos dos romanos sempre se entendeu que o réu
deve ser julgado e, se condenado, cumprir sua pena no local onde
cometeu o crime, para que todos vejam e presenciem a execução dos
rigores da lei, dando-se, assim, satisfação à sociedade agredida.
É ali, também, onde houve a infração, que se torna mais fácil a
coleta das provas, a intimação das testemunhas, perícias, etc.
Portanto, competente, antes de mais nada, é o juiz em cuja
comarca foi cometido, total ou parcialmente, o crime. De acordo com o
Código Penal, "considera-se praticado o crime no lugar em que
ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se
produziu ou deveria produzir o resultado" (art. 6º). Para os
participantes existe também um local da ação, que é onde foi cometida
a ação principal.
A doutrina moderna considera o princípio da ubiqüidade como o
mais eficaz no combate ao crime, porque assim o criminoso poderá
ser preso, processado e condenado, pelo ato que praticou, em
qualquer dos lugares onde foi cometida "parte do crime", oferecendo
meios para se evitar a impunidade. Como ele não poderá ser punido
duas vezes pelo mesmo crime, não há risco de injustiça.

CAPÍTULO V
DA COMPETÊNCIA POR CONEXÃO OU
CONTINÊNCIA

CASOS DE CONEXÃO

"A competência será determinada pela conexão:


I – se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido
praticados, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por
várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou
por várias pessoas, umas contra as outras;
II – se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar
ou ocultar as outras, ou para conseguir a impunidade ou vantagem em
relação a qualquer delas;
III – quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas
circunstâncias elementares influir na prova de outra infração" (art. 76).

É possível uma conexão de várias matérias penais, partindo-se


do pressuposto básico que o mesmo juiz seja competente, quando
ocorre a chamada conexão pessoal. Diz-se que há conexão material
quando várias pessoas participaram dum mesmo crime: como autor,
co-autor, favorecedor, receptador.
Em síntese diz-se que há conexão quando são cometidos dois
ou mais crimes, pela mesma pessoa, ou não, e haja uma relação entre
eles.
É importante frizar que na conexão, cada fato constitui crime
distinto, embora todos entrelaçados. Podem ser de natureza
semelhante ou diferente. O que não se admite é a conexão entre uma
infração administrativa e um crime.
Costuma-se diferenciar a conexão entre "subjetiva" e "objetiva".
Na conexão subjetiva a identidade do agente é que constitui o
denominador comum entre os vários crimes cometidos. Já na conexão
objetiva há pluralidade de agentes e de crimes: crimes recíprocos ou
cometidos na mesma ocasião; crimes que sejam efeito de outros
crimes.
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CASOS DE CONTINÊNCIA

"A competência será determinada pela continência quando:

I – duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;

II – nos casos de infração cometida nas condições previstas nos arts.


51, § 1º, 53, segunda parte e 54 do Código Penal" (art. 77).

Antes de mais nada convém salientar que o texto se refere à Parte


Geral antiga, do Código Penal.

Na nova Parte Geral, introduzida pela Lei nº 7.209, de 11.07.84, houve


as seguintes substituições: o antigo art. 51 § 1º (concurso formal)
passou a ser regulado pelo artigo 70; o art. 53, segunda parte (erro na
execução) consta agora do art. 73; e o art. 54 (resultado diverso do
pretendido), equivale ao art. 74.

Então, como se vê, nesses casos, o juiz competente para o processo


tem sua competência alargada, para que se possa apurar o crime em
toda sua amplidão, evitando-se que haja dupla orientação na formação
da prova e investigação, e, também, que surjam decisões
contraditórias.

O dispositivo estabelece os casos de continência: quando duas ou


mais pessoas forem acusadas pelo mesmo crime; no concurso formal;
no aberratio ictus e no resultado diverso do pretendido, também
chamado aberratio delicti. Remetemos o leitor aos comentários aos
respectivos artigos no estudo da Parte Geral do Código Penal que já
apresentamos.

Assim, por exemplo: A dá vários tiros em B, para matá-lo. Na hora


acerta C e D, provocando-lhes lesões corporais. Quer dizer que vai
responder por homicídio consumado na pessoa de B e lesões
corporais consumadas em C e D (CP, art. 73). Suponhamos que na
comarca haja uma vara privativa para o processo do júri, que será,
naturalmente, a competente para o processo por crime de homicídio, e
que os processos correspondentes às lesões corporais estejam
sujeitos à competência de outra vara. Acontece que, por continência, o
juiz da Vara do Júri se tornará competente para julgar, também, os
demais processos. A competência para o julgamento do crime maior –
homicídio – absorve a dos crimes menores que com ele se
relacionaram através da figura do aberratio ictus (erro na execução do
crime).

Ou: A coloca uma bomba no carro de B, para matá-lo. Ao explodir, o


artefato fere C, causando-lhe lesões corporais. Vai responder por
homicídio de B e lesões corporais em C, em concurso formal (CP, art.
70). A competência para o julgamento de ambos os processos será a
do juiz da Vara do Júri, por continência.

MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA – REGRAS

"Na determinação da competência por conexão ou continência, serão


observadas as seguintes regras:

I – no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão de


jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri;
II – no concurso de jurisdições da mesma categoria:

a) preponderará a do lugar da infração à qual for cominada a pena


mais grave;

b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido maior número de


infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade;

c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;

III – no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a


de maior graduação;

IV – no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá


esta" (art. 78).

A competência especial prevalece sobre a comum, e a superior sobre


a inferior. Excluem-se os casos sujeitos à Justiça Militar e privativos do
Juízo de Menores.

Acha-se em vigor, também, como exceção, a Súmula nº 52 do antigo


Tribunal Federal de Recursos: "Compete à Justiça Federal o processo
e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e
estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a do CPP".

Por exemplo: o agente é preso por policial federal, levando maconha.


Na hora da prisão comete crime de desacato contra policial. O porte
da maconha, sem estar vinculado ao tráfico internacional, é crime de
competência da Justiça estadual. O desacato contra policial federal é
de competência da Justiça Federal. Aplica-se, aí, a Súmula nº 52 do
TRF, isto é, a competência será da Justiça Federal, não obstante o
crime de desacato (CP, art. 331) ser apenado muito menos
severamente do que o art. 12 da Lei nº 6.368/76.

Se o processo é contra deputado estadual ou prefeito municipal, a


competência é do Tribunal de Justiça do Estado respectivo. Estando
envolvidas outras pessoas, sujeitas ao juiz de primeiro grau, a
competência do Tribunal de Justiça, maior, absorve a menor. Tanto o
deputado estadual e o prefeito municipal, quanto os demais, serão
julgados pelo Tribunal de Justiça. A competência, entretanto, é do
Tribunal Regional Federal, se acusados da prática de crime em
detrimento de bens, serviços ou interesses da União, suas entidades
autárquicas ou empresas públicas (vide RSTJ 17/134).

E: "Já se firmou a orientação desta Corte no sentido de que a


competência para o processamento e julgamento originários da ação
penal, relativa a crimes praticados em detrimento de bens, serviços ou
interesses da União e imputados a prefeito municipal, é do Tribunal
Regional Federal, e não do Tribunal de Justiça" (RE nº 192.461-6,
Amapá, rel. Min. Moreira Alves, DJU de 08.03.96, pág. 6235).

A Suprema Corte decidiu: "Ministro de Estado – Processo penal. Ao


STF compete processar e julgar Ministros de Estado, à vista de
queixa-crime ou de denúncia do Procurador-Geral da República.
Queda ressalvada unicamente a hipótese de crime de
responsabilidade conexo com crime – de igual natureza – imputado ao
Presidente da República (CF, arts. 42, I e 119, I, a e b) (RTJ 113/202).

Esclarece o relator Min. Francisco Rezek: "O equívoco do impetrante


consiste em supor, com base na Lei nº 1.079/50, que no Congresso
Nacional deve ter curso o processo contra Ministro de Estado, por
crimes de responsabilidade. De acordo com a sistemática
constitucional, isto só ocorre na hipótese de conexão com o crime da
mesma natureza, imputado ao Presidente da República. Tal é o caso
em que o processo se desenvolve em duas fases, a primeira, a do
processamento, perante a Câmara dos Deputados, conduzindo ao
impeachment; e a segunda, a do julgamento, perante o Senado. À
falta da precitada conexão, compete a esta Casa processar e julgar,
originariamente, os Ministros de Estado".

Pelo dispositivo supra fica nítido que a competência do júri prefere a


toda e qualquer outra jurisdição comum. O crime mais grave atrai a
competência do crime mais leve. Mede-se a gravidade pela pena.

É, ainda, da Suprema Corte: "Conflito julgado procedente. Aplicação


do art. 78, II, letra a, do CPP. Em havendo conexão, ou continência, a
competência do lugar da infração mais gravemente punível, é a que
prevalece" (RTJ 35/259).
Acórdão do STF fixa mais uma vez: "Conflito de jurisdição –
Desaconselhável o desmembramento do processo, pelo princípio da
economia processual, recomenda-se, todavia, o julgamento dos crimes
capitulados em leis diversas pelo juízo cuja competência seja
preponderante – no caso, a Justiça castrense" (RTJ 39/455).

Encontramos, ainda, da Suprema Corte: "Tipicidade penal


caracterizada – apropriação indébita e fraude no pagamento por meio
de cheque. Alegação de incompetência – preclusão. Competência por
conexão (art. 78, II, a do CPP)" (RTJ 111/255).

Enfatiza o relator, Min. Djaci Falcão: "Vê-se que houve justa causa
para a ação, caracterizando-se a tipicidade penal tanto em relação à
apropriação indébita (art. 168, § único, inc. III do CP), como pela
prática de fraude no pagamento por meio de cheque sem fundos (art.
171, § 2º, inc. VI, do CP). Quanto à alegada incompetência ratione
loci, observo que não foi argüida até às Alegações Finais, ficando
preclusa a matéria (art. 571, inc, II do CPP). Ademais, no caso, as
infrações acham-se entrelaçadas, justificando-se a competência pela
conexão, como previsto no art. 76, inc. III do CPP), ou seja, do juízo
onde foi praticado o crime de apropriação indébita qualificada".

Vemos em aresto do STF: "Tóxicos – Procedimento – Defesa . Não há


vício no processo crime que para apurar delito tipificado na lei de
tóxicos, adota o procedimento ali mesmo estabelecido" (RTJ 111/283).

Aduz o relator, Min. Francisco Rezek, que "não há controvérsia, à luz


da Lei nº 6.368, cujo art. 28 é expresso no dispor que nos casos de
conexão entre crimes definidos nesta lei e outras infrações penais, o
processo a seguir é o da infração mais grave".

Trata-se de agravo de instrumento interposto contra despacho da


Senhora Vice-Presidente do Tribunal Regional Federal da Quarta
Região, que negou seguimento a recurso extraordinário interposto
com fundamento no art. 102, III, a, da Constituição Federal.

2. Na espécie, o acórdão recorrido teve em conta o que destacou, às


fls. 55, acerca da matéria, verbis:
"Penal. Execução Penal. Juízo competente. Agravo Previsto no art.
197 da LEP/Lei nº 7.210/84.

1. Para a execução da pena é competente o Juízo das Execuções


Criminais Estadual, na forma do art. 2º e parágrafo único da Lei nº
7.210/84, e Código de Processo Penal.

2. Inteligência da LEP. A execução penal consagra idêntico tratamento


aos condenados oriundos da Justiça comum estadual e federal, bem
como das Justiças especializadas, Militar e Eleitoral. Igualmente de
tratamento aos detentos.

3. Em sede de execução penal, o recurso é o agravo previsto no art.


197 da LEP, processado na forma do recurso em sentido estrito, por
falta de regulamentação própria.

4. Agravo improvido".

3. O agravo não comporta seguimento.

4. Com efeito, em pronunciamento anterior, dirimiu a c. Primeira Turma


do STF questão relativa à competência para a execução das
sentenças condenatórias proferidas pela Justiça ordinária Federal,
estando o réu recolhido a presídio estadual, nos seguintes termos:

Ementa: – Competência. Execução penal. Condenados pela Justiça


Federal que cumprem pena em estabelecimento estadual:
competência da Justiça estadual: inteligência do art. 109, § 3º, da
Constituição, que, atenta as peculiaridades da questão,
adequadamente deslocou, da noção puramente geográfica de
comarca para o caráter estadual ou federal do estabelecimento
penitenciário do cumprimento da pena, o critério de determinação da
competência para a execução" (RE-145318-RS, rel. Min. Sepúlveda
Pertence, DJU de 14.10.94, pág. 27603)

5. Guardando, assim, a decisão recorrida conformidade com a


jurisprudência do STF, o apelo extremo não há de ser efetivamente
admitido.
6. Do exposto, com base no art. 38, da Lei nº 8.038, de 28 de maio de
1990, combinado com o art. 21, § 1º, do RISTF, e na conformidade do
parecer da Procuradoria-Geral da República, nego seguimento ao
agravo. (DJU, STF, 24.02.97, Agr. de Instr. nº 183738-1-RS, rel. Min.
Néri da Silveira, pág. 3239).

PRORROGAÇÃO DE COMPETÊNCIA – AVOCAÇÃO

"Se não obstante a conexão ou continência, forem instaurados


processos diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deverá
avocar os processos que correm perante os outros juízes, salvo se já
estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos
processos só se dará ulteriormente, para o efeito de soma ou de
unificação das penas" (art. 82).

Temos, a respeito, do STF: "Se não obstante a conexão ou


continência foram instaurados processos diferentes, a autoridade de
jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante
os outros juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste
caso, a unidade dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito
de soma ou unificação de penas – art. 82 do Código de Processo
penal" (RTJ 94/135).

Esclarece o relator Min. Cordeiro Guerra: "Vários foram os furtos em


dias diversos: Cumpre, assim apreciá-los, em face das provas dos
autos, e o V. acórdão recorrido assim decidiu, sem afastar a hipótese
de crime continuado. Sugere, com acerto, a douta Procuradoria-Geral
da República a aplicação do art. 82 do CPP à espécie, aos processos
ainda não julgados definitivamente. Parece-me que, para esse fim,
deve ser provido o recurso, isto é, para que todos os processos sejam
avocados e julgados pelo juiz competente para conhecer do primeiro,
por distribuição, que ainda não tenha proferido sentença definitiva,
sem prejuízo da unificação das penas por processos definitivamente
julgados, no juízo das execuções, quando, então, se decidirá sobre o
benefício da continuidade eventualmente admissível".
Os processos iniciados em juízos diferentes devem ser juntados antes
dos respectivos julgamentos. Se não, far-se-á a unificação de penas,
no juízo das execuções.

Temos, do STF, sobre o assunto: "Embora o crime continuado seja um


só, não se configurando, portanto, conexão ou continência de crimes,
a ele se aplica, por analogia, o art. 82 do CPP. Sentença definitiva,
nesse dispositivo legal, significa sentença final, razão por que a
avocação não se poderá dar – nem, pela mesma razão, o tribunal
competente para julgar a apelação contra tal sentença poderá dar pela
incompetência do juiz que a prolatou, anulando o processo ab initio –
porque com referência aos fatos praticados contra particulares, já há
sentença final com recurso de apelação e na Justiça Federal tramita
apenas a ação penal cuja vítima seria empresa pública. Conflito
conhecido, e declarada a competência da Justiça estadual comum,
remetidos os autos ao tribunal suscitado para que ele, afastada a
preliminar de incompetência que o levou a declarar a nulidade do
processo ab initio, prossiga no julgamento da apelação, como
entender de direito" (RTJ 111/178).

Esclarece o relator Min. Moreira Alves; "Ora, no caso, como resulta


claro, o juiz da Justiça estadual apreciou apenas os crimes comuns
descritos na denúncia, não se manifestando sobre crime que teria sido
praticado contra a agência de Correios e Telégrafos, e apenas aludido
naquela, que não dispunha sequer de elementos para descrevê-lo,
pois fôra ele objeto de inquérito separado remetido para a Justiça
Federal e transformado na ação penal 1.863/82, e aludido a título de
reforço da ocorrência de concurso material de crimes.

Portanto, já havendo sentença final, prolatada por juiz incompetente


para julgar crimes comuns praticados por particulares contra outros,
não é cabível a avocação pelo juiz federal, em nome da unidade do
processo e do julgamento do crime continuado como crime único,
desse processo, nem, pela mesma razão, pode o competente para
julgar a apelação contra tal sentença dar pela incompetência da
Justiça Estadual comum, anulando o processo ab initio. Em casos
como o presente, a unidade dos processos, se for o caso, só ocorrerá
ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas, como
preceitua a parte final do art. 82 do CPP".
"Sentença definitiva nesse dispositivo, não significa sentença
transitada em julgado, mas sentença final, como sucede no art. 593, I,
do mesmo Código, onde se lê que caberá apelação: "das sentenças
definitivas de condenação ou de absolvição" a traduzir evidentemente
sentenças finais, uma vez que não cabe apelação de sentenças
transitadas em julgado".

REUNIÃO DE PROCESSOS – PRORROGAÇÃO

"Verificada a reunião de processos por conexão ou continência, ainda


que no processo da sua competência própria venha o Juiz ou Tribunal
a proferir sentença absolutória ou que desclassifique a infração para
que outra não se inclua na sua competência, continuará competente
em relação aos demais processos" (art. 81).

Este preceito é uma decorrência do princípio da perpetuatio


jurisdictionis (perpetuidade da jurisdição).

Digamos que houve a junção de vários processos, por conexão ou


continência. Se o juiz desclassificar o crime, num deles, afastando sua
competência, mesmo assim continuará competente para julgar os
demais.

Do STF, a respeito: "Competência por prerrogativa de função: não


nega vigência ao art. 81 do Código de Processo Penal acórdão que
entende que continua competente o Tribunal de Justiça para julgar co-
réus submetidos a processo e julgamento perante ele em virtude de
conexão, ainda quando, no início do julgamento, haja reconhecido a
existência de circunstância prerrogativa de função. Foro por
prerrogativa de função não é foro privilegiado, nem quando se estende
por conexão ou continência, cerceia a ampla defesa dos acusados"
(RTJ 90/950).

O Tribunal de Justiça, no caso, havia decretado a prescrição do crime,


quanto ao réu cujo processo havia atraído os demais para aquele foro
especial. O STF entendeu que o mesmo Tribunal de Justiça
continuava competente para os demais processos apesar de só
estarem submetidos ao foro especial por continência ou conexão.

Quanto ao júri, decisão do STF fixa o assunto nos seguintes termos:


"Júri. Se a acusação é por um crime e o júri o desclassifica para outro
que não cabe na sua competência, sobre este decidirá o presidente do
tribunal popular; se se trata porém, de processos reunidos por
conexão ou continência, o júri julgará os restantes, ainda que não
reconheça a existência do crime que justificaria a sua competência"
(RTJ 67/828).

Em seu voto, esclarece o relator, Min. Luiz Gallotti: "Em capítulo


referente à "competência pela natureza da infração", dispõe o CPP, no
art. 74, § 3º, de referência aos crimes de competência do júri: "Se o
juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra atribuída à
competência de juiz singular, observar-se-á o disposto no art. 411
(remessa do processo ao juiz competente); mas, se a desclassificação
for feita pelo próprio Tribunal do Júri, a seu presidente caberá proferir
em seguida a sentença".

Nenhuma dúvida, portanto, que, se, por exemplo, o crime de tentativa


de homicídio for desclassificado para o de lesões corporais, o júri não
poderá sentenciar sobre este, cabendo ao seu Presidente fazê-lo.

A mesma regra será aplicável ao caso de competência por conexão ou


continência?

Dessa competência, cuida o CPP, em outro capítulo, onde se inclui o


art. 81, que dispõe a respeito dela.

É indubitável que o preceito também se refere ao júri, expressamente


mencionado no parágrafo, com relação à hipótese de verificar o juiz,
antes da pronúncia, que está excluída a competência do tribunal
popular, caso em que remeterá o processo ao juízo competente. Neste
ponto, a regra é a mesma que antes se adotara no art. 74, § 3º,
combinado com o artigo 492, § 2º. Mas, com relação à hipótese de ser
o próprio Tribunal do Júri que, no caso de reunião de processos por
conexão ou continência, exclui o crime que o tornaria competente, a
regra estatuída é diversa da que se fixara nos citados arts. 74, § 3º e
492, § 2º, pois, de referência a tal caso, o que expressamente
determina o art. 81 é que o júri continuará competente em relação aos
demais processos.

Norma oposta, como se vê, à estabelecida no art. 74, § 3º, que o art.
492, § 2º, reproduz.

Por isso é que Espínola Filho, embora proclamando o princípio contido


nestes preceitos, acentua que princípio inverso prevalece, quando se
trata de crimes conexos.

Eis o que observa, ao concluir o comentário citado ao art. 81:


"pronunciado, porém, o réu pela infração que, normalmente, o
sujeitava ao Tribunal Popular, a desclassificação feita por este no
julgamento, "ou a sua absolvição, não terá a virtude de tolher ao júri a
apreciação dos crimes conexos". Fora de dúvida que, se houver
desclassificação para o crime, que o júri não tem competência para
julgar, caberá ao seu Presidente solucionar o mérito da causa, nos
termos do art. 74, § 3º, final, c/c o art. 492, § 2º."

Está aí feita, por conseguinte, a distinção: se a acusação é por crime e


o júri o desclassifica para outro que não cabe na sua competência,
sobre este decidirá o presidente do tribunal popular; se se trata,
porém, de processos reunidos por conexão ou continência, o júri
julgará os restantes, ainda que não reconheça a existência do crime
que justificaria a sua competência".

SEPARAÇÃO DE PROCESSOS

"Será facultativa a separação dos processos quando as infrações


tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo e lugar diferentes,
ou quando pelo excessivo número de acusados e para não lhes
prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz
reputar conveniente a separação" (art. 80).

Por decisão judicial tanto pode ser determinada a juntada, como a


separação de processos.
Este dispositivo relaciona-se com o artigo 413 parágrafo único: "O
processo não prosseguirá até que o réu seja intimado da sentença de
pronúncia – se houver mais de um réu, somente em relação ao que for
intimado prosseguirá o feito".

A prescrição constante deste artigo vai ao encontro de uma das mais


importantes regras que devem orientar o processo penal, que é a de
visar sempre à maior facilidade do julgamento e evitar, o mais
possível, coação desnecessária.

Assim, não obstante a conexão e a continência determinarem a junção


do julgamento, a lei admite a sua separação, nas hipóteses que
menciona expressamente, mas deixando ainda uma faixa muito ampla
submetida ao arbítrio do juiz, quando lhe permite agir "por outro motivo
relevante", que, como acentua, "reputar conveniente".

O juiz pode, portanto, separar os processos, desde que considere esta


medida mais conveniente e aconselhável. Naturalmente, no despacho
que assim decidir deverá dizer suas razões e apresentar seus
fundamentos.

Encontramos, a propósito, em julgamento do STF (RTJ 113/824): "A


decisão baseou-se na conexão entre os crimes de homicídio doloso e
tentativa de homicídio; entendendo ser obrigatório julgamento
simultâneo do réu e do co-réu. Observo que correto foi o
desdobramento processual, de modo a permitir o julgamento no júri,
do réu Emanuel, enquanto pendia o Recurso em Sentido Estrito contra
a sentença que impronunciara o co-réu Carlos, este somente julgado
em data posterior ao julgamento de Emanuel, que se achava preso.

É oportuno repetir que o julgamento, pelo júri, de Emanuel, deu-se a


22.12.81, enquanto o julgamento do recurso contra a impronúncia de
Carlos ocorreu em 04.11.82, quase um ano depois. Aliás, a defesa
concordou com essa separação processual, que encontra apoio no art.
80 do CPP".

Finaliza o relator, Min. Djaci Falcão: "Não há dúvida de que a despeito


da conexão ou continência cabe a separação do processo e
pluralidade de julgamentos, para evitar-se a demora no julgamento se
há réu preso. É caso de motivo relevante, previsto na citada regra".
TRIBUNAL DO JÚRI

"Reconhecida inicialmente ao júri a competência por conexão ou


continência, o juiz, se vier a desclassificar a infração ou impronunciar
ou absolver o acusado, de maneira que exclua a competência do júri,
remeterá o processo ao juízo competente" (art. 81, parágrafo único).

Por exemplo: o réu está respondendo por tentativa de homicídio numa


vítima e lesões corporais em outras. O Juiz, pela apuração das provas,
verifica que não houve "tentativa de homicídio", mas apenas crimes de
lesões. Desloca-se, portanto, a competência, e o processo deverá ser
remetido ao juiz competente. Excluiu-se a ação da esfera de
atribuições do júri.

Ou: há um crime de homicídio e vários de lesões. Os de lesões foram


atraídos, por conexão ou continência, para a competência do júri. Se o
juiz impronunciar o réu, ou absolvê-lo liminarmente, reconhecendo
uma das causas de exclusão da ilicitude, "remeterá o processo ao
juízo competente", porque ficou excluída a competência do júri quanto
aos demais crimes. Realmente, não se justificaria submeter o réu a júri
para ser julgado pelos crimes de lesões corporais.

UNIDADE DE PROCESSO E JULGAMENTO

"A conexão e a continência importarão unidade de processo e


julgamento, salvo:

I – no concurso entre a jurisdição comum e a militar;

II – no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.

§ 1º – Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo se, em


relação a algum co-réu, sobrevier o caso previsto no art. 152.
§ 2º – A unidade do processo não importará a do julgamento, se
houver co-réu foragido que não possa ser julgado à revelia, ou ocorrer
a hipótese do art. 461" (art. 79).

Havendo o crime sido cometido por um maior e um menor, não existirá


unidade de processo. O processo do menor correrá, separadamente,
na forma estabelecida pela lei própria, perante o juiz da Vara da
Infância e da Juventude. E o processo do agente de maior idade, no
juízo criminal correspondente.

O parágrafo primeiro determina, também, a cessação da unidade do


processo, se se verificar doença mental num dos acusados, após a
infração. Na forma do art. 152 do CPP, o processo contra o enfermo
ficará suspenso, prosseguindo quanto ao acusado sadio.

Às vezes, ocorre, ainda, que são dois, três ou mais réus num júri; mas
algum, ou alguns, estão foragidos. Aí o parágrafo segundo prescreve
que pelo fato de existir unidade estabelecida em lei, admite-se o
julgamento dos que se acham presentes, à disposição da justiça.

Aresto do STF, apreciando a questão, assim decidiu: "Cúmulo


processual – Em caso de conexão e continência, o processo pode ser
separado, mas não pode cindir o fato. Havendo concurso entre a
jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta, na conformidade da
regra do art. 78, IV do CPP. Homicídio e tentativa de homicídio
praticados na mesma ocasião, por militar contra militar e contra civil.
Competência da Justiça Militar para julgar ambas as infrações" (RTJ
36/223).

Ainda da Suprema Corte: "Competência da Justiça Militar. Conexão. O


art. 79 do CPP, ao dispor que a conexão e a continência importarão
unidade de processo e julgamento, abre expressamente exceção para
o "concurso entre a jurisdição comum e a militar" (nº I).

Assim, se os autores do crime são dois: um civil e um militar, o civil


será julgado pela Justiça comum, e o militar pela Justiça Militar.

Aresto do STF: "Ainda que presente a continência subjetiva em evento


em que se envolveram policiais militares, e policial civil, no plano da
autoria, compete à Jurisdição comum o julgamento do último.
Aplicação do art. 79, I, do Código de Processo Penal" (RTJ 115/629).

Salienta o relator, Min. Rafael Mayer: "Dentre os precedentes, consta


o acórdão proferido no CJ 6.295, relatado pelo eminente Min. Moreira
Alves, de cuja ementa se lê: "Crimes comum e militar. Conexão. Neste
caso, há a cisão de processos, em consonância com o disposto no
artigo 79, I, do CPP, e no art. 102 do CPP, e, conseqüentemente, o
civil responderá pelo crime comum perante a Justiça comum, ao passo
que o policial militar, pelo crime militar, responderá diante da Justiça
Militar estadual" (RTJ 102/505).

CAPÍTULO IV
DA COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO

DISTRIBUIÇÃO – PROCEDÊNCIA – PREVENÇÃO

"A precedência da distribuição fixará a competência quando, na


mesma circunscrição judiciária, houver mais de um juiz igualmente
competente" (art. 75).

"A distribuição realizada para o efeito da concessão de fiança ou da


decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à
denúncia ou queixa prevenirá a da ação penal" (parágrafo único).

Em toda comarca há um cartório distribuidor, onde trabalha a pessoa


encarregada de fazer a distribuição dos processos, de acordo com a
Lei de Organização Judiciária.

Quando vários juízes são competentes para o mesmo tipo de


processo, determina-se a competência por distribuição.

Por exemplo: a comarca possui dois juízes para as ações cíveis e três
juízes para as ações criminais. A distribuição fixará a competência
para cada processo, dentre os três juízes criminais, de acordo com a
ordem de precedência.
Diz-se que neste caso os três juízes têm competência cumulativa.
Todos são competentes. Qualquer um deles pode receber o processo.
Para dizer-se qual, a lei estabelece o critério da distribuição.

Acontece, às vezes, que um dos juízes, dentre os que têm a


competência cumulativa, toma conhecimento, primeiramente, do
processo, tal como na hipótese de concessão de fiança, "da
decretação da prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à
denúncia ou queixa". Aí este juiz firma sua competência por
prevenção. O inquérito, ao chegar, já vai sendo encaminhado
diretamente a ele, independentemente de nova distribuição.

Da mesma forma, se a autoridade policial negar-se a arbitrar a fiança,


ou arbitrá-la em nível exagerado, e a parte recorrer ao juiz, a
distribuição desse recurso tornará o juiz competente, também, para a
ação penal.

Tudo isso é importante, porque no julgamento de todo processo penal


entra como fator de muita importância a avaliação da conduta anterior
do acusado e de todas as etapas da perseguição judicial que lhe é
movida. O dispositivo ajusta-se com esse princípio, que visa a conferir
ao julgador a capacidade de conhecer todos os momentos
processuais.

O julgamento penal exige análises objetivas e subjetivas. Impõe o


estudo da personalidade, da conduta e do caráter do delinqüente,
verificação de seu arrependimento, observação do seu estado de
ânimo antes e depois do crime, etc.

Por isso, a boa doutrina processual aconselha manter-se, o mais


possível, a competência já iniciada.

CAPÍTULO VI
DA COMPETÊNCIA POR PREVENÇÃO

PREVENÇÃO – REGRA
"Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que
concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com
jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática
de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que
anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (art. 70, § 3º, 711,
72, § 2º, e 78, nº 11, letra "código")" (art. 83).

O Código disciplina os casos em que, havendo competência


cumulativa, estabelece-se a preferência em favor de um, dentre os
demais juízes igualmente competentes.

Quer dizer: dois ou mais juízes têm a mesma competência para julgar
determinado processo. Mas, forma-se a competência nas mãos de um
deles, por prevenção, nas hipóteses mencionadas no artigo.

Por exemplo: "Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais


jurisdições, ou quando incerta a jurisdição, por ter sido a infração
consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a
competência firmar-se-á pela prevenção" (CPP, art. 70, § 3º).

Ou: "Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em


território de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela
prevenção" (art. 71).

Ou: "Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu
paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do
fato" (art. 72, § 2º).

É competente por prevenção, aquele Juiz que antecedeu aos outros


"na prática de algum ato do processo ou de medidas a este relativas,
ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa"

Por exemplo: "A distribuição realizada para efeito da concessão de


fiança ou da decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência
anterior à denúncia ou queixa prevenirá a da ação penal" (art. 75, §
único).

E: "Quando incerta e não se determinar de acordo com as normas


estabelecidas nos arts. 89 e 90, a competência se formará pela
prevenção" (art. 91).
JURISDIÇÃO

AVOCATÓRIA DO STF

"O Supremo Tribunal Federal, mediante avocatória, restabelecerá a


sua jurisdição, sempre que exercida por qualquer dos juízes ou
tribunais inferiores" (art. 117).

Naturalmente, poderá haver conflito entre todos os juízes e tribunais


do País, exceto entre qualquer juiz ou tribunal e o Supremo Tribunal
Federal, que é a mais alta corte de justiça brasileira.

Se alguém invadir a esfera de jurisdição da Suprema Corte, não se


estabelecerá conflito. Esta apenas avocará a sua competência.

A matéria acha-se regulada nos arts. 156 a 162 do Regimento Interno


do STF.

Processual penal. Ações penais contra o mesmo réu. Avocatória.


Sentença condenatória recorrível. Reunião dos processos.
Impossibilidade. CPP, art. 82. Prisão preventiva. Fundamentação
suficiente. Constrangimento ilegal. Inocorrência.

O fenômeno processual da avocatória, previsto no art. 82, do Código


de Processo Penal, pressupõe a ocorrência de conexão ou
continência e a inexistência de sentença definitiva, sendo, por isso,
inaplicável a providência na hipótese em que os fatos são distintos e o
processo no qual se postulou o benefício já se encontra com sentença
condenatória.

A prisão preventiva, medida cautelar processual que se impõe quando


efetivamente presente pelo menos uma das circunstâncias previstas
no art. 312, do Código de Processo Penal, não consubstancia
constrangimento ilegal desde que adequadamente fundamentada.
Recurso ordinário desprovido (DJU, STJ, 01.09.97, Rec. de HC nº
5.622-SP, rel. Min. Vicente Leal, pág. 40884).

CONFLITO DE JURISDIÇÃO OU DE COMPETÊNCIA

"Haverá conflito de jurisdição:

I – quando duas ou mais autoridades judiciárias se considerarem


competentes, ou incompetentes, para conhecer do mesmo fato
criminoso;

II – quando entre elas surgir controvérsia sobre unidade de juízo,


junção ou separação de processos" (art. 114).

Se ambos os juízes se considerarem competentes, há conflito positivo


de jurisdição. Se ambos se considerarem incompetentes, há conflito
negativo de jurisdição. Aí, então, o processo é remetido à instância
superior para decidir.

Mas, o dispositivo prevê, também, a hipótese de controvérsia em torno


da competência por conexão ou continência, prevenção e prerrogativa
de função (CPP, arts. 80 a 82), quando, então, ocorre conflito de
jurisdição, também.

Na forma da Constituição da República, compete ao Superior Tribunal


de Justiça processar e julgar originariamente "os conflitos de
competência entre quaisquer tribunais bem como entre tribunal e
juízes a ele não vinculados; e entre juízes vinculados a tribunais
diversos" (art. 105, I, d), bem como "os conflitos de atribuições entre
autoridades administrativas e judiciárias da União, ou entre
autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro, ou do
Distrito Federal, ou entre as deste e da União" (art. 105, I, g).

A Suprema Corte firmou que "consoante antiga e reiterada


jurisprudência do STF, não pode haver conflito entre o Tribunal de
Justiça e Tribunal de Alçada do mesmo Estado de Federação" (RTJ
90/35).
Esclarece o Min. Moreira Alves, em seu voto, como relator, que "as
normas regimentais e legais, que subordinam os tribunais de Alçada
às decisões do Tribunal de Justiça, são perfeitamente válidas".

E: "Prática contravencional punida pelo Código Florestal –


incriminando corte de árvores às margens de cursos de água.
Interesse da União, que tem competência exclusiva para legislar sobre
florestas, caça e pesca" (art. 8º, XVIII, b, da Constituição Federal).
Conflito conhecido para declarar competente para o julgamento da
contravenção a Justiça Federal" (RTJ 106/84).

Compete agora ao STF julgar apenas "os conflitos de competência


entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre
Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro Tribunal" (art.
102, I, e).

CONFLITO NEGATIVO

"Quando negativo o conflito, os juízes e tribunais poderão suscitá-lo


nos próprios autos do processo" (art. 116, § 1º).

Quer dizer: o juiz A se dá por incompetente e encaminha o processo


para o juiz B, que é o que ele considera competente. O Juiz B, por sua
vez, também se considera incompetente. Aí, encaminha os próprios
autos ao Tribunal Superior, encarregado de determinar a competência.

Como ambos os juízes se deram por incompetentes, recusando-se a


proferir decisão no processo, este, naturalmente, não terá andamento
quanto à notitia criminis enquanto não se decidir o conflito negativo.

CONFLITO POSITIVO – SUSPENSÃO DO ANDAMENTO DO


PROCESSO

 
"Distribuído o feito, se o conflito for positivo o relator poderá
determinar, imediatamente, que se suspenda o andamento do
processo" (art. 116, § 2º).

São muito comuns conflitos positivos nos casos de crimes conexos,


em que dois juízes se julgam competentes. Ou em crimes ocorridos
em dois ou mais Estados. Ou em comarcas diferentes.

Além dos casos de conexão e continência, que mais comumente


suscitam conflitos positivos ocorrem também em todas as hipóteses
em que haja processos idênticos, em torno do mesmo fato, correndo
ao mesmo tempo perante dois ou mais juízes.

Convém esclarecer que se estiverem tramitando dois processos, e um


deles já tiver sido julgado, não há mais conflito. Caberá, então, a
exceção de "coisa julgada" (CPP, art. 95, V).

Acerca do assunto, temos do STF: "Conflito de jurisdição. Dele não se


conhece se, antes de sua suscitação, pelo réu, já foi proferida
sentença, por um dos juízes suscitados. Pressupõe a instauração de
conflito de jurisdição a pendência de relação processual, ainda sem
decisão definitiva por um dos magistrados" (CJ 6539-6- RJ, rel. Min.
Néri da Silveira, DJU de 14.03.86, pág. 3384).

PROCEDIMENTO

"Os juízes e tribunais, sob a forma de representação, e a parte


interessada, sob a de requerimento, darão parte escrita e
circunstanciada do conflito, perante o tribunal competente, expondo os
fundamentos e juntando os documentos comprobatórios" (art. 116).

CAPÍTULO IV
§ 13. DO CONFLITO DE JURISDIÇÃO (ARTS. 113 A
117)

 QUESTÕES ATINENTES À COMPETÊNCIA


"As questões atinentes à competência resolver-se-ão não só pela
exceção própria, como também pelo conflito positivo ou negativo de
jurisdição" (art. 113).

Além das "exceções", o Código criou a figura processual do "conflito


de jurisdição", também, para resolver as dúvidas e controvérsias
acerca da competência.

Exemplifiquemos, para melhor compreensão da matéria:

a) a parte argüi a exceção de incompetência. O juiz dá-se por


incompetente e remete o processo para outro juiz. Este outro juiz
considera-se competente, aceita a jurisdição e prossegue no
andamento do processo;

b) a parte argüi a exceção de incompetência. O juiz dá-se por


incompetente e remete o processo para outro juiz que entende ser o
competente. O outro juiz, no entanto, entende ser incompetente e
recusa a jurisdição: estabelece-se, assim, o conflito de jurisdição.

Diz-se que há conflito de competência quando a divergência entre os


juízes se refere apenas à competência territorial. Ambos têm
competência jurisdicional, mas a dúvida surge sobre a competência de
que comarca ou a que vara pertence a área onde se deu o crime, ou a
comarca, ou a qual dos juízes está sujeito o julgamento daquela
espécie de crime.

O conflito de jurisdição pode ser negativo ou positivo. É negativo


quando os dois juízes se consideram incompetentes e mandam o
processo, então, para o tribunal decidir. É positivo, quando ambos se
dão por competentes.

À parte fica facultado suscitar o conflito através da exceção de


incompetência do juízo (art. 95, II). Esta exceção, como vimos
anteriormente, "poderá ser oposta verbalmente ou por escrito, no
prazo de defesa" (art. 108 e parágrafos).

A direção do processo por juiz incompetente é causa de nulidade,


expressamente prevista em lei: CPP, art. 564, I.
Vale frisar que em se tratando de conflito surgido entre promotores
públicos, a decisão compete ao procurador-geral da Justiça, por via
meramente administrativa, e não através da exceção.

Por outro lado, preceitua o Código de Processo Civil que "os


regimentos internos dos tribunais regularão o processo e julgamento
do conflito de atribuições entre autoridade judiciária e autoridade
administrativa" (art. 124). Este dispositivo seria válido para o processo
penal, por aplicação analógica, permitida pelo art. 3º do Código de
Processo Penal.

Acerca do assunto, temos do STF: "Se um juiz pratica atos que levam
a ter-se ele como se dado por competente, mas, posteriormente,
pratica outro pelo qual se vê que deixou, inequivocamente, de assim
considerar-se, entendendo ser matéria afeta à Justiça Federal, e não
tendo esta última, ainda tido oportunidade de manifestar-se a respeito,
não chegou a configurar-se o conflito de competência entre os juízes:
o estadual e o federal. Remessa dos autos à Justiça Federal, a fim de
que um dos seus juízes possa manifestar-se sobre sua competência,
somente vindo a configurar-se o conflito se ele não a aceitar" (RTJ
113/955).

Ainda do STF: "Entorpecentes. Procedência do exterior. Tráfico


interno. Qualificação. Competência da Justiça do Distrito Federal.
Qualificado o fato punível como tráfico de entorpecentes, realizado em
associação, no território nacional, sem a imputação da qualificadora do
art. 18, I, da lei de Tóxicos, a procedência externa da substância, em
operação internacional que não está em causa, não suscita a
competência da Justiça Federal"

Consta do julgamento que, "não se deve confundir a origem


estrangeira do entorpecente, com o seu tráfico, pois este pode ser
internacional e pode ser local. Embora originário do exterior, pode o
entorpecente ser objeto de tráfico nacional" (RTJ 112/1104).

Idêntica orientação foi firmada: RTJ 92/540, 93/58, DJU de 01.07.83,


pág. 10.000, e no RHC 61643-7-RJ, DJU de 06.04.84, pág. 5100, cuja
ementa está assim redigida: "Entorpecentes. Procedência do exterior.
Tráfico interno. Qualificação. Competência da Justiça estadual.
Qualificado o fato punível como tráfico de entorpecentes realizado no
território nacional, sem a imputação da qualificadora do art. 18, I, da
Lei nº 6.368/76, a procedência externa da substância, em operação
internacional, que não está em causa, não suscita a competência da
Justiça Federal".

REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES – PRAZO – JULGAMENTO –


REMESSA DE CÓPIAS DO ACÓRDÃO

"Expedida ou não a ordem de suspeição, o relator requisitará


informações às autoridades em conflito, remetendo-lhes cópia do
requerimento ou representação" (art. 116, § 3º).

"As informações serão prestadas no prazo marcado pelo relator" (art.


116, § 4º).

"Recebidas as informações, e depois de ouvido o procurador-geral, o


conflito será decidido na primeira sessão, salvo se a instrução do feito
depender de diligência" (art. 116, § 5º).

"Proferida a decisão, as cópias necessárias serão remetidas, para a


sua execução, às autoridades contra as quais tiver sido levantado o
conflito ou que o houverem suscitado" (art. 116, § 6º).

Costuma acontecer que nenhuma das autoridades em conflito seja, de


fato, a competente. O tribunal, diante disso, declara a competência de
uma terceira, mesmo que esta não faça parte do processo.

Nessas circunstâncias, e em todos os demais casos, fará comunicar


sua decisão.

SUSCITANTES DO CONFLITO

"O conflito poderá ser suscitado:


I – pela parte interessada;

II – Pelo órgão do Ministério Público junto a qualquer dos juízes em


dissídio;

III – por qualquer dos juízes ou tribunais, em causa" (art. 114).

BUSCA EM TERRITÓRIO DE JURISDIÇÃO ALHEIA

"A autoridade ou seus agentes poderão penetrar no território de


jurisdição alheia, ainda que de outro Estado, quando, para o fim de
apreensão, forem no seguimento de pessoa ou coisa, devendo
apresentar-se à competente autoridade local, antes da diligência ou
após, conforme a urgência desta" (art. 250).

"Entender-se-á que a autoridade ou seus agentes vão em seguimento


da pessoa ou coisa, quando:

a) tendo conhecimento direto de sua remoção ou transporte, a


seguirem sem interrupção, embora depois a percam de vista;

b) ainda que não a tenham avistado, mas sabendo, por informações


fidedignas ou circunstâncias indiciárias, que está sendo removida ou
transportada em determinada direção, forem ao seu encalço" (§ 1º);

§ 2º – "Se as autoridades locais tiverem fundadas razões para duvidar


da legitimidade das pessoas que, nas referidas diligências, entrarem
pelos seus distritos, ou da legalidade dos mandados que
apresentarem, poderão exigir as provas dessa legitimidade, mas de
modo que não se frustre a diligência" (§ 2º).

Este dispositivo entrelaça-se com o artigo 22 deste Código, que


estabelece: "No Distrito Federal e nas comarcas em que houver mais
de uma circunscrição policial, a autoridade com exercício em uma
delas poderá, nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar
diligências em circunscrição de outra, independentemente de
precatórias ou requisições, e bem assim providenciará, até que
compareça a autoridade competente, sobre qualquer fato que ocorra
em sua presença, noutra circunscrição".

Temos, ainda, que: "Se o réu, sendo perseguido, passar ao território


de outro município ou comarca, do mesmo ou de outro Estado, o
executor poderá efetuar-lhe a prisão no lugar onde o alcançar,
apresentando-o imediatamente à autoridade local, que, depois de
lavrado, se for o caso, o auto de flagrante, providenciará para a
remoção do preso" (art. 290).

Disposições semelhantes aplicam-se ao flagrante (art. 302).

Como se vê, o agente que vai proceder à busca e apreensão tem


permissão legal para penetrar em território de jurisdição alheia, mesmo
em se tratando de Estado diferente. O Código impõe, apenas, que o
executor se apresente à autoridade local, antes ou após a diligência,
para mostrar, naturalmente, que age de acordo com as prescrições
legais.

CAPTURA FORA DA JURISDIÇÃO

"Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de outro município ou


comarca, do mesmo ou de outro Estado, o executor poderá efetuar-lhe
a prisão no lugar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à
autoridade local, que, depois, de lavrado, se for o caso, o auto de
flagrante, providenciará para a remoção do preso" (art. 290).

"§ 1º – Entender-se-á que o executor vai em perseguição do réu


quando:

a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embora


depois o tenha perdido de vista;
b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu tenha
passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar em que
procure, for no seu encalço.

§ 2º – Quando as autoridades locais tiverem fundadas razões para


duvidar da legitimidade da pessoa do executor ou da legalidade do
mandado que apresentar, poderão pôr em custódia o réu, até que
fique esclarecida a dúvida".

Este dispositivo ajusta-se com o que consta do artigo 250, que vimos
páginas atrás, estando imbuído do mesmo espírito.

Da mesma forma como acontece com a busca e apreensão, como


também com a prisão em flagrante (art. 302), a Lei prevê a hipótese
da perseguição ao acusado foragido que vai para comarca diferente,
admitindo a comunicação a sua apresentação à autoridade local,
antes ou depois, dependendo das circunstâncias.

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