Você está na página 1de 10

Diário de Filhote - Por Luana

Alencar
Como apresentar seu filhote para o mundo e o perigo de não fazer
isso do jeito certo.

O que é "apresentar um filhote ao mundo de forma correta”?

Processo de apresentação de um cão ao mundo com objetivo de que ele se torne um


cão autoconfiante, suprido de suas necessidades como cão, sociável, habilidoso na
comunicação e habituado com os mais diversos tipos de situações do nosso dia a dia.

Autoconfiante: “Autoconfiança é a convicção que uma pessoa tem, de ser capaz


de fazer ou realizar alguma coisa". Fonte: Global Mentoring Group
Trazendo pro lado dos cães:

Um cão que tem a convicção da sua capacidade de lidar com as coisas do dia
a dia na vida que tem conosco.

Diário de Filhote - Por Luana Alencar 1


Um cão que não entra em pânico, não fica superestimulado a ponto de perder
o controle e passar do limite, um cão que consegue relaxar em locais
diferentes, consegue ir para diversos locais com a família sem se abalar com o
que encontra.

Um cão que se recupera rápido de algum susto ou novidade. Um cão que,


diante de um desafio, consegue superá-lo!

Um cão que acredita nas próprias habilidades de comunicação para


evitar/cessar conflitos - sem precisar usar a agressividade - só a usa em último
caso.

Um cão que tem a sensação de ter o controle da própria segurança! Poder de


escolha! Aproximar-se ou afastar-se de acordo com o nível de segurança que
sente - e ter os resultados que busca com esses sinais adequados!

Suprido de suas necessidades como cão: cão que tem uma vida onde suas
necessidades, de acordo com a espécie, são supridas.

Gasto de energia adequado para aquele cão específico

Aprendizados constantes

Alimentação de qualidade

Saúde em dia

Sono adequado

Vida social de qualidade

Diversão! Vida de cachorro! - faz coisas que o divertem! Faz coisas próprias da
raça (exemplos: um golden nadar e buscar brinquedos, um beagle farejar, um
border brincar com frisbee, etc.)

Sociável - cães são animais sociais (assim como nós). A tendência é de ter
necessidade de vida social! De estar perto de outros seres vivos. Principalmente
pela domesticação, cães têm uma tendência a serem ligados aos humanos, mas
também de cães. Quando preparamos os nossos filhotes pro mundo, precisamos

Diário de Filhote - Por Luana Alencar 2


pensar em como fazer para que essas relações sejam prazerosas e feitas de forma
correta.

Aspectos importantes a se pensar:

"Cão não é obrigado a gostar" é diferente do cão não ter segurança


suficiente para interação e por isso decidir manter distância (nosso papel é
ajudar nosso cão a ter essa segurança e, aí sim, ele tomar a decisão de
quem ele quer se relacionar). Não podemos deixar o medo dominar seu
poder de escolha.

Interação não é apenas o encontro físico! Ver de longe e sentir cheiros de


outros, por exemplo, são formas de interação social.

Gostar de interagir não pode levar nosso filhote ao exagero, descontrole e


formas inadequadas de interagir. Nossos filhotes precisam aprender em
quais situações podem ou não interagir fisicamente, precisam saber ler na
pessoa ou outro cão se eles querem essa interação (quando for momento
propício pra isso) e precisam saber como fazer essa abordagem.

Habilidoso na comunicação - “A comunicação é um processo que envolve a troca


de informações entre dois ou mais interlocutores por meio de signos e regras
semióticas mutuamente entendíveis. Trata-se de um processo social primário, que
permite criar e interpretar mensagens que provocam uma resposta". Fonte:
Wikipédia.

Para um cão ser habilidoso na comunicação, ele precisa praticar! Os sinais de


comunicação dos cães surgem de forma muito natural! Nós não ensinamos os
nossos filhotes a lamberem o focinho, desviarem olhar, endurecer corpo,
balançar a cauda, bocejar! Tudo isso vem de fábrica! Porém, as experiências
que esse filhote terá e as consequências dessas experiências que vão moldar
a forma como ele vai se tornar no quesito de habilidades na comunicação.

Um filhote que não tem seus sinais de desconforto respeitados, passará a


entender que eles não funcionam e que precisam subir o nível para sinais
mais intensos (normalmente medo/agressividade).

Um filhote que quer tanto interagir e consegue o que quer independente


dos sinais do outro, aprende a não associar aqueles sinais do outro como

Diário de Filhote - Por Luana Alencar 3


um sinal para não interagir!

Ser um cão habilidoso na comunicação tanto diz respeito ao cão saber emitir
sinais e saber que eles funcionam (por isso a importância das primeiras
escolhas de interação com nosso filhote) e que, se não funcionarem, saberão
sair das situações ao invés de partir pra cima com agressividade, como
também com relação ao cão saber ler no outro quando não quer interação - e
respeitar isso!

Habituado - “Ato ou efeito de habituar ou habituar-se. Em psicologia animal,


redução progressiva e às vezes desaparecimento temporário de uma reação
reflexa particular, na repetição de uma situação estimulante." Fonte: Dicio

Existem muitas coisas no dia a dia de um cão que nós não queremos (e nem
seria saudável) que ele ficasse atento e tivesse respostas emocionais!
Algumas coisas só queremos que eles ignorem! Que convivam tranquilamente.
Alguns exemplos: lugares, barulhos, moto, caminhão, skate, bicicleta, patins,
carro, estátuas...

Nós não precisamos que nossos cães gostem desses itens... se não temos
nenhum problema ainda, a melhor solução seria que eles simplesmente se
habituassem! Ignorassem! Convivessem sem respostas emocionais como
salivação, relaxamento, excitação pra brincar, etc.

Agora que entendemos nossos objetivos com a apresentação do


mundo ao nosso filhote, o que devemos levar em consideração e
como fazer essa apresentação?

Linguagem corporal

Precisamos entender pelo menos o básico sobre linguagem corporal quando temos
um filhote! Precisamos saber identificar quando esse filhote está com medo,
apenas desconfortável mas conseguindo superar, quando está mostrando
agressividade, quando está verdadeiramente alegre, quando está estressado, etc.

Diário de Filhote - Por Luana Alencar 4


Poder de escolha do cão!

O filhote precisa ter em "suas mãos” o poder de decisão de se aproximar, de


permancer, de se afastar. Por esse motivo, não indico a apresentação do filhote ao
mundo no colo! Quando colocamos nosso filhote no colo e o levamos para
apresentar ao mundo, toda a decisão de se aproximar, afastar ou permanecer está
sendo nossa, não do filhote! Isso interfere diretamente no poder de escolha do cão
→ que acaba interferindo da sensação de controle da própria segurança.

Ele precisa ter o tempo necessário para tomada de decisão (sem ficarmos
induzindo, apressando, etc.) e também ter espaço para se afastar e se aproximar.

Apresentação proativa

Não esperar as coisas acontecerem!


Planejar e buscar aquilo que queremos do nosso filhote.

Aqui entra a preparação que precisa ser feita antes dele ir de fato para a rua
(justamente naquele tempo antes da liberação veterinária). O primeiro mês da
vinda desse filhote para nossa casa pode ser focado nesses itens.

Desenvolvimento do relacionamento e aumento da confiança do filhote


no tutor (uma vez que temos um filhote confiando naquele adulto, todas
as propostas que forem feitas no processo de apresentação ao mundo
serão melhores recebidas pelo filhote). Ele terá um porto seguro durante
o processo! Imagine-se indo para uma situação totalmente nova quando
criança (como ao dentista, por exemplo) - se você estiver com a sua
mãe será muito mais fácil lidar do que se você for colocado junto a uma
tia distante, não é?

Habituação com equipamento de passeio.

Treinos em casa que ajudarão no processo de apresentação ao mundo:

Vínculo

Autocontrole

Andar na guia sem puxar

Vem

Diário de Filhote - Por Luana Alencar 5


Apresentação para pessoas escolhidas a dedo por você para visitarem
sua casa ou você visitar a casa da pessoa - dando todas as
recomendações de como devem ser essas interações (calmas,
respeitosas, equilibradas e positivas pro cão). Será necessário sempre
observar padrões de higiene nessas interações, como limpeza do local,
uso de produtos específicos, retirada de sapatos fora da casa, etc.
Converse sempre com seu veterinário antes de iniciar essas
apresentações. A interação social com esses humanos por si só já pode
ser a associação positiva, ou seja, não precisamos usar comida nesses
momentos.

Apresentação para cães escolhidos a dedo por você para visitarem sua
casa ou você visitar a casa do cão. Nesse caso, precisará ser autorizado
pelo veterinário e a escolha dos cães deverá seguir padrões de
segurança como vacinação, locais que ele frequenta, pós banho do
outro cão e, principalmente, como ele se comunica com cães! Precisa
ser um cão equilibrado, tolerante às interações de filhotes e bom
comunicador da linguagem canina.

Apresentação para barulhos e objetos comuns da vida de um filhote


dentro da própria casa! Não precisamos ter pressa em apresentar o
mundo externo da nossa casa a um filhote! Vai ter o tempo de fazer isso
de forma segura! Porém, a vida dele dentro da nossa casa também faz
parte do mundo dele! Como queremos que ele se habitue com barulho
de uma moto passando se ele toma um baita susto com um liquidificador
sendo ligado? Há muito o que fazer no mundo "interno” antes de
levarmos para o mundo “externo".

Apresentação gradual

Ambientes: a dificuldade do ambiente precisa subir de forma gradual! Não


precisamos já colocar nossos filhotes em ruas super lotadas e barulhentas...
Podemos começar com lugares amplos, tranquilos e com poucos estímulos pra
começar.

Duração: O tempo de exposição precisa subir gradualmente a novos


estímulos! Aos poucos podemos aumentar o tempo de passeio com nosso

Diário de Filhote - Por Luana Alencar 6


filhote! Não precisamos começar já com 1 hora! Podemos começar com 10, 15,
20 minutinhos... A linguagem corporal dele que nos dirá se ele está pronto para
aumentarmos.

Dificuldades: Podemos escolher apresentar nosso filhote para 5 pessoas


eufóricas ou para 1 super tranquila! Podemos escolher levar em um parque de
cães com 15 cães (cada um de um jeito) ou apresentar para 1 ou 2 adequados.
Podemos escolher ficar em um local com poucos carros passando de longe ou
em uma calçada super apertada com dezenas de carros passando ao lado. Eu
prefiro sempre a qualidade do que a quantidade! Escolham bem e proponham
desafios alcançáveis pros filhotes de vocês!

Com intervalos e descanso adequados para absorver o que viveu


O descanso é primordial (principalmente uma boa noite de sono, mas também os
longos cochilos ao longo do dia) para firmar os aprendizados que aquele filhote
teve ao ser apresentado para o mundo! É durante o sono que muitas experiências
se firmam na mente do cão! Cuidado com a exposição exagerada e principalmente
com a falta de qualidade de descanso pro seu filhote! Ele precisa de uma
exposição adequada para sua maturidade e um descanso reparador!

Aprendendo a gostar e saber como interagir com o que gosta

Boas experiências: ter boas experiências não necessariamente significa ter


brincadeira, toque, carinho, comida, etc. Ter boas experiências engloba: ter seu
espaço respeitado, ter seu tempo respeitado se quiser brincar, ter uma
brincadeira legal com bons aprendizados, ter seus sinais respeitados. Quando
temos interações que aumentam as habilidades sociais, aumentam a
autoconfiança, geram aprendizados e proporcionam alegria pro nosso cão,
estamos falando de boas experiências!

Escolhas adequadas:

Escolhas adequadas de pessoas e animais que nosso filhote vai poder


interagir e aprender coisas boas com isso.

Tranquilos

Diário de Filhote - Por Luana Alencar 7


Respeitadores

Habilidosos na comunicação

Quando escolhemos cães/pessoas que invadem espaço, que são muito


eufóricos, que desrespeitam ou não entendem os sinais do filhote de
desconforto, que mostram agressividade por pouco, intolerantes, etc.,
teremos um filhote que enxerga as relações sociais de forma perigosa ou
eufórica demais, e isso será um prato cheio para um cão adulto que
apresenta reatividade!

Aprendendo a ignorar o que precisar ser ignorado.

Como já falamos em outro tópico, nem tudo precisa ter uma associação
positiva! Várias coisas no mundo podem simplesmente ser ignoradas pelo cão
e está tudo bem!!!

O que esperamos durante o processo:

Cão mais confiante, habilidoso e maduro a cada etapa.

Cão conseguindo se recuperar de forma mais rápida diante de aversivos da vida.

Diante de pequenos desafios, cão tendo sucesso naquilo. Isso irá aumentar a
autoconfiança.

Cão sabendo utilizar sinais adequados para se livrar de desconfortos - sem


precisar recorrer à agressividade (apenas em situações extremas e justificáveis,
afinal, agressividade é uma forma de comunicação).

Cão sabendo o momento para cada coisa (tempo de brincar, de permanecer calmo,
de falar com pessoas e receber carinho, de só seguir o caminho, etc.).

Cão podendo participar cada vez mais da vida com a gente!

"Associação positiva" não significa dar petisco!

Diário de Filhote - Por Luana Alencar 8


Não devemos associar tudo com comida! Existem estímulos que queremos apenas que
o cão ignore! Habitue-se. Não queremos que nosso cão associe o mundo à comida,
certo?

As interações com pessoas também não precisam ser regadas à comida! A própria
interação (quando bem selecionada) pode ser a associação positiva que queremos.
Ter o controle sobre a própria segurança também aumenta a segurança do cão em si e
nos outros, o que acaba se tornando, também, uma associação positiva.

Esqueçam a ideia de que para tudo precisamos dar petiscos! Adestramento positivo
não é dar petiscos! É sermos proativos na educação do nosso cão, ensinarmos tudo
aquilo que esperamos deles ao invés de esperarmos eles fazerem o que é errado para
punirmos, respeitarmos de acordo com o que eles são como espécie, termos empatia
por eles e também colocarmos limites de forma menos aversiva possível!

Nem sempre queremos que nosso cão tenha associações


positivas! Às vezes só queremos que eles ignorem!

Voltando um pouco para o assunto lá do primeiro tópico sobre habituação! Existem


coisas que queremos que nosso cão interaja socialmente e tem coisas em que não
precisamos dessa interação:

Habituação (ignorar): Interação social:

Veículos Pessoas
Barulhos Cães

Outros animais (pássaros, gatos, etc) Outras espécies que convivem com o
Lugares cão

Objetos

Sons

Diário de Filhote - Por Luana Alencar 9


Os perigos de não apresentar ou de apresentar de forma incorreta

Perigos de não apresentar (colocar em uma bolha)


Tendência maior ao medo, uma vez que não tem bagagem, experiência, histórico
de boas interações, oportunidade para se habituar.

Tudo acaba assustando de forma mais intensa.

Tudo pode se tornar extremamente excitante e disparar comportamentos eufóricos.

Desenvolvimento de reatividade (seja por medo/agressividade, seja por excitação).

Diminuição, a longo prazo, de exposição pelo mau comportamento do cão → uma


vez que os tutores diminuem as vezes que levam seus cães para fazerem coisas
com eles pelo mundo (menos passeios, viagens, visitas, etc.)

Perigos de apresentar de forma incorreta (exposição exagerada,


falta de critério nas escolhas)
Tendência maior à hiper excitação e frustração (reatividade).

Tendência a mostrar agressividade para tudo aquilo que quer distância


(reatividade).

Medo excessivo → que pode evoluir para agressividade.

Diminuição, a longo prazo, de exposição pelo mau comportamento do cão.

O que não fazer:


Expor a tudo de uma vez.

Não ter critérios de como fazer essas apresentações.

Apresentar no colo ou em locais sem opção de afastamento.

Utilizar equipamentos que machuquem e/ou guia curta (o que também vai interferir
no poder de escolha do filhote).

Levar para parques de cães "até se acostumar".

Deixar pessoas e cães invadirem o espaço do nosso filhote.

Diário de Filhote - Por Luana Alencar 10

Você também pode gostar