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Aula Prática Histologia - Material de Apoio
Aula Prática Histologia - Material de Apoio
Biologia Celular
e Molecular
Documento de apoio à aula prática
de histologia
Documento Elaborado por Cláudio Maia
1. Introdução aos tecidos
No desenvolvimento de organismos multicelulares complexos, como os animais, células
progenitoras diferenciam‐se em distintos tipos que possuem composições, estruturas e
funções específicas. Células de um determinado tipo pode agregar‐se num tecido para
cooperar em funções comuns: os músculos contraem‐se; células nervosas conduzem um sinal
eléctrico. Diferentes tecidos podem organizarem‐se em órgãos, que mais uma vez executam
funções específicas. Por exemplo, os músculos, válvulas e vasos sanguíneos do coração
trabalham conjuntamente para bombearem o sangue. O funcionamento coordenado de
muitos tipos de células e tecidos permitem ao organismo mover‐se, metabolizar, reproduzir, e
realizar outras actividades essenciais. Os vertebrados possuem centenas de diferentes tipos de
células, incluindo leucócitos (glóbulos brancos) e eritrócitos (glóbulos vermelhos);
fotoreceptores na retina; adipócitos para armazenarem a gordura; fibroblastos no tecido
conjuntivo; e centenas de diferentes subtipos de células nervosas no cérebro humano. Embora
tenham diversas formas e funções, todas as células animais podem ser classificadas como
sendo componentes de quatro principais classes de tecidos: tecido epitelial, tecido conjuntivo,
tecido muscular, e tecido nervoso.
Figura 1‐ Origem dos tecidos do organismo a partir dos 3 folhetos germinativos do embrião
1.1 Tecido epitelial
O epitélio é constituído por células que revestem as superfícies corporais (exemplos: a pele, os
intestinos, os rins, etc), excepto as cartilagens articulares, o esmalte dos dentes e a superfície
anterior da íris. Muitas das glândulas também são formadas por tecido epitelial, formando as
unidades funcionais das glândulas de secreção exócrina e endócrina. As funções básicas dos
epitélios são de proteção (pêlo), absorção (intestinos delgado e grosso), transporte de
substâncias sobre a superfície (mediado por cílios), secreção (glândulas), excreção (túbulos do
rim), e trocas gasosas (alvéolos pulmunares). Grande parte das células epiteliais dividem‐se
por mitose, desde que estimuladas adequadamente. As células epiteliais quase não
apresentam substâncias intercelulares livres entre si (em contraste com o tecido conjuntivo). A
natureza coesiva de um epitélio é mantida por moléculas de adesão celular e complexos
juncionais (que formam as junções celulares). Todos os tecidos epiteliais têm um suporte que
lhes é conferido por uma lâmina basal de espessura variável que o liga ao tecido conjuntivo
subjacente.
Classificação
Os epitélios são classificados em três categorias principais com base no número de camadas
celulares e na forma das células da camada mais externa:
1. Os epitélios simples (Fig. 2) são constituíddos com apenas uma camada de células, e
revestem as superfícies envolvidas em processos de difusão, de absorção ou de
secreção. Os epitélios simples são subdivididos em epitélios simples pavimentosos,
epitélios simples cúbicos, e epitélios simples cilindricos, de acordo com a altura e a
largura das células.
Figura 2‐ Epitélios simples
2. Os epitélios estratificados (Fig. 3) são formados por várias camadas de células. Devido
à sua espessura possuem principalmente um papel protector. O grau e a natureza da
estratificação relacionam‐se com o tipo de stress físico a que cada superfície epitelial
está sujeita. Por exemplo, na pele, encontramos um epitélio estratificado que
contribui para as funções de protecção necessárias à superfície corporal,
permanentemente exposta ao desgaste, nomeadamente mecânico e químico. Os
epitélios estratificados são ainda classificados de acordo com o formato das células da
camada mais externa ou superfícial em epitélios estratificados pavimentosos, epitélios
estratificados cúbicos, e epitélios estratificados cilindricos. Os pavimentosos ocorrem
mais frequentemente e podem ser divididos em moderadamente queratinizados
(também designados por não‐queratinizados) ou altamente queratinizados. As células
da camada mais externa de um epitélio estratificado pavimentoso não‐queratinizado
podem apresentar núcleos (por exemplo o epitélio do esófago e vagina). Os núcleos
estão ausentes na camada mais externa de epitélios estratificados pavimentosos
queratinizados (por exemplo na epiderme da pele). As células basais alinhadas ao
longo da lâmina basal são mitoticamente activas e substituem as células das camadas
superiores.
Figura 3‐ Epitélios estratificados
3. Os epitélios pseudo‐estratificados (Fig. 4) são constituídos por células basais e
cilindricas apoiadas sobre a lâmina basal. Entretanto, somente as células cilíndricas (ou
colunares) atingem a superfície luminal. Pelo facto de os núcleos das células basais e
cilíndricas serem vistas em diferentes níveis, tem‐se a impressão de uma organização
epitelial estratificada. Esta categoria engloba o epitélio pseudo‐estratificado cilindrico
ciliado da traqueia e de outros segmentos das vias respiratórias, o epitélio pseudo‐
estratificado cilindrico estereociliado do ducto do epidídimo, e o epitélio de transição
das vias urinárias, também denominado urotélio.
Figura 4‐ Epitélios pseudoestratificados
Polaridade das células epiteliais
As células que formam o tecido epitelial apresentam uma organização polarizada. Esta
propriedade depende das interacções entre as células epiteliais, e entre estas com a matriz
extracelular. As células epiteliais apresentam dois domínios principais (Fig. 5):
• Um domínio apical
• Um domínio basolateral
Figura 5‐ Domínios de uma célula epitelial polarizada
Cada domínio é caracterizado por características estruturais e funcionais específicas. Por
exemplo, o domínio apical tem importantes estruturas para a protecção da superfície epitelial
(tais como cílios no tracto respiratório) ou para a absorção de substâncias (tais como
microvilosidades no epitélio intestinal). Os complexos que formam as junções celulares e as
moléculas de adesão celular estão presentes no domínio basolateral de modo a ancorar as
células epiteliais umas às outras e à membrana basal. O domínio apical de algumas células
epiteliais pode apresentar principalmente dois tipos de especializações de superfície:
1. Cílios
2. Microvilosidades
Os cílios (Fig. 6) formam um estrutura denominada por axonema. Cada cílio é formado por um
par central de microtúbulos circundados por nove pares de microtúbulos dispostos
concentricamente. A traqueia e a tuba uterina são revestidas por células epiteliais ciliadas. O
axonema também é um componente da cauda do espermatozóide. Nesses epitélios
desenpenham uma importante função na defesa do tracto respiratório e para o transporte do
oócito fertilizado para a cavidade uterina.
As microvilosidades (Fig 6) são projecções celulares digitiformes (forma de dedo) da superfície
apical de células epiteliais, que contêm um eixo de microfilamentos de actina unidos por
ligações cruzadas. Na extremidade citoplasmática de cada microvilosidade, feixes de actina e
de outras proteínas estendem‐se para a trama terminal, uma rede de filamentos proteicos do
citosqueleto que encontra‐se paralelamente ao domínio apical da célula epitelial. O epitélio
intestinal e parte do nefrónio no rim são revestidos por células epiteliais com microvilosidades,
que formam uma bordadura em escova.
Figura 6‐ Especializações da superfície apical de células epiteliais: cílios, microvilosidades e estereocilios.
1.2 Tecido conjuntivo
O tecido conjuntivo proporciona suporte estrutural e matabólico a outros tecidos e órgãos. Os
tecidos conjuntivos contêm vasos sanguíneos que medeiam as trocas de nutrientes,
metabolitos e produtos de despedício entre o sangue e os tecidos. Também desenpenham um
papel importante nos processos de reparação/cicaterização, assim como de armazenamento
(Exemplo: tecido adiposo). Os tecidos conjuntivos são formados por células (fibroblastos,
adipócitos e células de defesa) e pela matriz extracelular, em que esta representa uma
combinação de colagénios, glicoproteínas não‐colagénicas e proteoglicanos (formam a
substância fundamental) envolvendo as células do tecido conjuntivo. As células do tecido
conjuntivo, ao contrário do tecido epitelial, estão amplamente separadas pelos componentes
da matriz extracelular.
Classificação
Os tecidos conjuntivos são classificados em três grupos principais (Fig. 7): tecidos conjuntivos
embrionários, tecidos conjuntivos adultos e tecidos conjuntivos com propriedades especiais.
Os tecidos conjuntivos adultos têm uma diversidade estrutural considerável, porque a
proporção das células em relação às fibras e à substância fundamental varia de um tecido para
outro. Esta relação está na base da classificação dos tecidos conjuntivos adultos:
1. Tecido conjuntivo frouxo (ou lasso)
2. Tecido conjuntivo denso
O tecido conjuntivo frouxo contém mais células do que fibras de colagénio, sendo
normalmente encontrado nas mucosas de vários órgãos, envolvendo vasos sanguíneos, nervos
e músculos.
O tecido conjuntivo denso contém mais fibras de colagénio do que células. Quando as fibras de
colagénio estão preferencialmente orientadas (como nos tendões, nos ligamentos e na córnea)
o tecido é designado de tecido conjuntivo denso ordenado. Quando as fibras de colagénio
estão orientadas aleatoriamente (como na derme da pele) o tecido é designado por tecido
conjuntivo denso desordenado. Para além disso, as fibras reticulares e as fibras elásticas
ocorrem em grandes quantidades no tecido conjuntivo frouxo e no tecido conjuntivo denso
desordenado.
O tecido conjuntivo reticular contém fibras reticulares, as quais formam o estroma dos órgãos
linfóides do sistema imunológico (por exemplo gânglios linfáticos e baço), e da medula óssea.
Este tipo de tecido conjuntivo fornece uma rede delicada que permite a passagem de células e
líquidos.
O tecido conjuntivo elástico contém fibras elásticas, formadas principalmente por elastina,
dispostas irregularmente nos ligamentos da coluna vertebral; a elastina é encontrada ainda
sob a forma de lamelas concêntricas na parede da aorta. A elastina confere elasticidade a
esses locais.
Os tecidos conjuntivos especiais compreendem os tecidos conjuntivos com propriedades
especiais não observadas nos tecidos conjuntivos adultos. Existem quatro tipos de tecidos
conjuntivos especiais (Fig. 8):
1. Tecido adiposo
2. Tecido cartilaginoso
3. Tecido ósseo
4. Tecido hematopoiético (medula óssea)
Figura 7‐ Classificação do tecido conjuntivo
Figura 8‐ Classificação do tecido conjuntivo
2. Introdução à histologia e imunohistoquímica
Diversas técnicas histológicas e histoquimicas permitem a visualização de tecidos através da
utilização de microscópios.
2.1 Preparação de secções histológicas
A preparação de secções finas para exame microscópico requer a prévia preservação dos
tecidos (fixação) e a sua inclusão num meio de suporte (como a cera ou as resinas de parafina)
antes de seccionar. As secções são geralmente coradas de modo a aumentar o contraste entre
as estruturas.
Fixação
O fixador deve manter os tecidos com uma estrutura que seja a mais próxima possível do
tecido “in vivo”. Os fixadores geralmente estabilizam ou desnaturam proteínas, sendo o
formaldeído um dos mais utilizados.
Inclusão
O meio mais frequente usado na inclusão é a parafina. Antes do tecido ser embebido com a
parafina líquida (ponto de fusão: cerca de 56 °C), é necessário remover toda a água do tecido
(desidratação). A desidratação é obtida através da imerção em soluções com concentrações
crescentes de etanol (70%, 95% e 100%). Após a desidratação, segue‐se a imersão do tecido
num solvente de parafina como por exemplo o xilol ou clorofórmio. O tecido é então
transferido para parafina líquida, sendo posteriormente colocado num molde que vai dar
forma ao bloco de parafina.
Corte por microtomo
Os blocos de parafina são cortados num micrótomo. Tipicamente as secções têm uma
espessura de 6‐8 µm. As secções obtidas são transferidas para um banho aquecido (onde as
secções ficam direitas e perdem todos os enrugamentos) e daí são transferidas para lâminas
de microscopia.
Cortes de congelação
A inclusão dos cortes em parafina é um processo longo durante o qual muitos componentes
celulares (tais como os lipidos) são perdidos ou alterados. As actividades enzimáticas são
também destruídas. Uma alternativa à inclusão em parafina, congela‐se fatias de tecidos e de
seguida procede‐se a cortes num criostato (semelhante a um micrótomo que funciona a baixas
temperaturas, geralmente abaixo de ‐30ºC). As fatias de congelação podem então ser coradas
ou usadas em técnicas de histoquimica associadas à detecção de actividade enzimática.
Coloração
A técnica mais comum é a de hematoxilina e eosina (H&E), marcando núcleos e citoplasma,
respectivamente. Antes de se proceder à coloração dos núcleos e citoplasma, tem‐se que
proceder à remoção da cera (parafina), que é feito com o solvente da parafina (xilol). Depois
da remoção da parafina, a lâmina contendo o tecido, é imersa numa série de soluções com
concentrações decrescentes de álcool (100%, 95% e 70%), permitindo a hidratação e
permeabilização do tecido. A lâmina de microscopia com os cortes é então mergulhada nos
corantes e posteriormente lavada, para remover o excesso de corante.
Técnicas de coloração
Hematoxilina e eosina
A hematoxilina é um corante básico que cora componentes ácidicos da célula conferindo‐lhes
uma cor azul. Esta característica é designada por basofilia. A hematoxilina cora os núcleos das
células e o RER. A eosina é um corante acidico que cora os componentes básicos das células
com uma cor rosa‐avermelhada. Esta característica é conhecida como acidofilia. A maior parte
do citoplasma é corada pela eosina. A matriz óssea é também corada pela eosina.
Coloração com ácido periódico de Schiff (PAS)
É uma técnica que cora os açucares neutros dos glicosaminoglicanos de cor‐de‐rosa. Os
componentes mais comuns que coram com o PAS incluem as mucinas, a lâmina basal
(colagénio tipo IV) e o glicogénio.
Coloração tricrómica de Masson
Cora de púrpura o citoplasma, queratinas, fibras musculares e o axónio não mielinizado. Cora
de azul ou verde as fibras de colagénio tipo I, o muco, a cartilagem e osso. Cora o núcleo de
azul‐escuro.
2.2 Imunohistoquímica
Com esta técnica é possível determinar a presença de proteínas ou péptidos específicos em
células ou tecidos utilizando anticorpos específicos contra a proteína que se pretende
detectar. Esta técnica baseia‐se no reconhecimento específico dos antigénios pelos anticorpos.
Os anticorpos usados são conjugados a compostos corados ou fluorescentes que permitem a
sua visualização. Os anticorpos podem ainda ser conjugados a enzimas. Neste caso a detecção
é feita por adição de substratos específicos das enzimas. Nos locais em que estão presentes as
enzimas há deposição de produtos corados.
Figura 1‐ Células endoteliais da artéria pulmonar incubadas com um marcador mitocondrial
(fluorescência vermelha). Após a fixação e permeabilização, as células foram marcadas com
um marcador dos filamentos de actina (anticorpo anti‐actina) que emite fluorescência verde e
com um marcador nuclear (DAPI) que emite fluorescência azul.
Este documento foi preparado com base nas seguintes referências:
‐ Kierszenbaum AL, Histologia e Biologia Celular‐ Introdução à Patologia, 2008, Elsevier.
‐ Wheater; Histologia Funcional. Churchill livingstone. Tradução da 5ª edição. 2007
‐ Quintas A., Freire AP., Halpern MJ. Bioquímica – Organização Molecular da Vida, 2008, LIDEL