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FACULDADE ESTÁCIO DO AMAPÁ

DELIMITAÇÃO DO HORIZONTE DE CONSCIÊNCIA NO PROCESSO


DE TOMADA DE DECISÃO EM PROJETOS DE ENGENHARIA

Aluno(a): George Silva Barros

Orientador(a): Prof.ª Ma. Camila Jéssica Sampaio dos Santos

Macapá
2021
FACULDADE ESTÁCIO DO AMAPÁ

DELIMITAÇÃO DO HORIZONTE DE CONSCIÊNCIA NO PROCESSO


DE TOMADA DE DECISÃO EM PROJETOS DE ENGENHARIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Graduação em Engenharia Civil, da
Faculdade Estácio do Amapá, no período de
2021.2, como requisito final à obtenção do título
de Bacharel em Engenharia Civil. Orientador:
Prof.ª Ma. Camila Jéssica Sampaio dos Santos.

Macapá
2021
FACULDADE ESTÁCIO DO AMAPÁ

DELIMITAÇÃO DO HORIZONTE DE CONSCIÊNCIA NO PROCESSO


DE TOMADA DE DECISÃO EM PROJETOS DE ENGENHARIA

George Silva Barros

Aprovada em ____/____/_____.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________
Prof. Me. Cassio Cleidsen Rabelo Cruz (Faculdade Estácio do Amapá)

__________________________________________________
Prof. Ma. Camila Jéssica Sampaio dos Santos (Faculdade Estácio do Amapá)

__________________________________________________
Prof. Esp. Andrea Girlene Barreto Alves (Faculdade Estácio do Amapá)

CONCEITO FINAL: _________________

Macapá
2021
DELIMITAÇÃO DO HORIZONTE DE CONSCIÊNCIA NO PROCESSO
DE TOMADA DE DECISÃO EM PROJETOS DE ENGENHARIA

George Silva Barros


Faculdade Estácio do Amapá
http://lattes.cnpq.br/8827132426213018
Camila Jéssica Sampaio dos Santos
Faculdade Estácio do Amapá
http://lattes.cnpq.br/1867888815243812

Resumo: neste artigo pretendeu-se apresentar os elementos necessários à tomada de


decisão no âmbito da atividade do engenheiro (mais especificamente em projetos de
engenharia) a partir do conceito de horizonte de consciência1; além de uma introdução à
engenharia de sistemas e campos correlatos de conhecimento que podem servir de base para
a formação de um quadro geral de possibilidades para a resolução de problemas a partir de
um modelo geral desenvolvido.
Palavras-chave: Horizonte de consciência. Tomada de decisão. Engenharia de Sistemas.
Abstract: in this article it was intended to present the elements necessary for decision making
in the context of the activity of the engineer (more specifically in engineering projects), from
the concept of horizon of consciousness; in addition to an introduction to the engineering
systems and related fields of knowledge that can serve as a basis for the formation of a general
framework of possibilities for problem solving from a general developed model.
Keywords: Conscience of Horizon. Decision-Making. Systems Engineering.

1. INTRODUÇÃO

Diante da vasta área de atuação da profissão e do constante desenvolvimento


de novas tecnologias, pouco se absorve – durante a graduação e, mais dificilmente
ainda, após a formação – das múltiplas especialidades da engenharia, o que é
possível perceber pela preferência por conhecimentos específicos que mais tarde
delimitar-se-ão em especialidades (como planejamento, design, estradas,
saneamento, materiais, etc.).

1 Termo técnico da filosofia de Olavo de Carvalho (ROBSON, 2020).


3
“Muitos engenheiros qualificados tendem a desconsiderar a herança que
moldou o conhecimento técnico da engenharia e passam a focar exclusivamente no
estado-da-arte e na tendência atual de suas especialidades”2 (LABI, 2014, p. 3,
tradução do autor), o que pode, de certa maneira, empobrecer o debate acerca do
papel da engenharia no mundo e sua relação com a sociedade. Pois, “conhecer a
história dos sistemas de engenharia habilita, aqueles que a praticam, entender melhor
o relacionamento simultâneo entre engenharia e outros setores do desenvolvimento
humano, tais como, saúde, agricultura e indústria”3 (LABI, 2014, p. 3, tradução do
autor).

Não foi objeto deste trabalho, contudo, enfatizar uma abordagem superficial
ou estritamente generalista da prática da engenharia. Pois, conforme ressalta A. D-
Sertillanges, “um perigo espreita os espíritos que muito se espalham: contentar-se
com pouco” (SERTILLANGES, 2019, p. 112).

Trabalhos como o de Samuel Labi, que trata das variadas especialidades da


engenharia, e sua relação com os diversos fatores da vida humana em uma
abordagem mais abrangente, contribuem para a construção de uma visão holística e
sistêmica da engenharia. Buscando não somente estabelecer quais habilidades e
características o engenheiro pode desenvolver nas áreas tradicionais para atender às
necessidades da sociedade, como também fomentar a pesquisa contínua e a
implementação de ferramentas tradicionais e emergentes de outras áreas como, por
exemplo, pesquisas operacionais, economia, direito, finanças, estatística e outras
áreas, (LABI, 2014, p. XX).

As decisões diante dos muitos cenários – não raro “caóticos” – em projetos


de engenharia, estarão de acordo com as metas e objetivos previstos, se, analisados
e articulados os requisitos a partir de um conjunto de possibilidades, o engenheiro for

2No original: many skilled engineers today tend to be dismissive of their heritage and instead focus
solely on state-of-the-art or current trends in their specialized areas of practice.
3 knowing the history of engineering systems enables those who practice engineering to better
understand the simultaneous relationship between engineering and other sectors of human
development, such as health, agriculture, and industry.
4
capaz de reconhecer a inter-relação entre o objeto de sua investigação e outros dados
da realidade. O ponto de partida comum deste processo é o uso dos dados disponíveis
“para fazer conjecturas informadas sobre perguntas mais amplas para as quais não
temos informação completa”, (WHEELAN, 2016, p. 21), no entanto, para a
composição de um quadro maior de possibilidades, exige-se que o engenheiro amplie
também o seu horizonte de consciência, e é o que pretendeu-se demonstrar no
decorrer deste trabalho.

1.1. Justificativa

“A engenharia criou, da maneira mais literal possível, o tecido das nossas


vidas; moldou os espaços nos quais vivemos, trabalhamos e existimos”4 (AGRAWAL,
2018, p. 266, tradução do autor). Portanto, para maior controle do ciclo de vida dos
sistemas de engenharia, é necessário expandir o campo de conhecimentos e
habilidades do engenheiro para além das fronteiras das especialidades, abrangendo
e integrando a tradição da engenharia, assim como o conjunto de possibilidades que
outros campos de estudo dispõem, (LABI, 2014), com o intuito de facilitar o processo
de tomada de decisão.

1.2. Problema

O ponto de partida deste trabalho veio da seguinte questão proposta por Olavo
de Carvalho em algumas de suas obras e cursos, e adaptada ao tema deste artigo: o
que o engenheiro deveria saber para entender o que já sabe?5

4 Engineering has created, in the most literal way, the fabric of our lives; it has shaped the spaces in
wich we live, work and exist.
5 O mapa da ignorância é um termo técnico da filosofia de Olavo que o define como “um conjunto

esquemático de interrogações pelo qual tomamos consciência daquilo que nos falta saber para
compreender melhor aquilo que já sabemos numa determinada fase de nossa evolução cognitiva”
(OLAVO, 2017), apud (ROBSON, 2020, p. 78).
5
1.3. Objetivo geral

Analisar a importância da integração do conhecimento da engenharia e a


obtenção de conhecimentos, aparentemente desconexos, sem os quais torna-se
impossível a formação de um quadro geral para resolução de determinados problemas
de ordem prática.

1.4. Objetivos específicos

 Apresentar os conceitos de horizonte de consciência, sistemas de


engenharia e campos correlatos de conhecimento;
 Combinar os conceitos apresentados para mostrar, através de
exemplos, como eles podem servir de baliza na tomada de decisão em
projetos de engenharia;
 Desenvolver um mapa mental do processo de projeto a partir dos
conceitos abordados.

1.5. Metodologia

O método adotado neste trabalho foi o fenomenológico e o procedimento foi


a revisão bibliográfica, pela qual buscou-se o entendimento do tema através de
documentos relacionados, tais como: livros, artigos, revistas e documentários sobre o
conceito de horizonte de consciência assim como os sistemas de engenharia e demais
campos do conhecimento.

2. HORIZONTE DE CONSCIÊNCIA

Antes de abordar o conceito de horizonte de consciência e sua relação com


os projetos de engenharia, fez-se necessária uma explicação a respeito do sentido de
alguns termos empregados no decorrer deste texto para dá-lo maior clareza.

Horizonte pode ser definido como:

6
o âmbito de visão que abarca e encerra tudo o que é visível a partir de um
determinado ponto. [...] Aquele que não tem um horizonte é um homem que
não vê suficientemente longe e que, por conseguinte, supervaloriza o que lhe
está mais próximo. Pelo contrário, ter horizontes significa não estar limitado
ao que há de mais próximo, mas poder ver para além disso. Aquele que tem
horizontes sabe valorizar corretamente o significado de todas as coisas que
caem dentro deles, segundo os padrões de próximo e distante, de grande e
pequeno. (GADAMER, 1997, p. 452).

Em suma, é a fronteira que separa o conhecido do desconhecido, na qual a


atenção do observador – assim como o seu próprio ser – está contida.

Autor do qual foram expostos alguns conceitos chave neste artigo, Olavo de
Carvalho, é um professor, filósofo autodidata e escritor brasileiro. O tema central de
sua obra é:

a defesa da interioridade humana contra a tirania da autoridade coletiva,


sobretudo quando escorada numa ideologia “científica”. Para Olavo de
Carvalho, existe um vínculo indissolúvel entre a objetividade do conhecimento
e a autonomia da consciência individual, vínculo este que se perde de vista
quando o critério de validade do saber é reduzido a um formulário impessoal
e uniforme para uso da classe acadêmica, (CARVALHO, 2017).

Termo técnico de sua filosofia, horizonte de consciência pode ser definido por
meio da seguinte ilustração: tome-se um ponto de luz projetado sobre um plano
horizontal, o qual, à medida que se expande, revela e integra ao conjunto dos objetos
visíveis, novos objetos. Uma análise dos objetos (dentro do horizonte de consciência)
deve estender-se não apenas ao conjunto dos objetos visíveis, com os quais
interagem de maneira aparente, mas também aos demais que ainda não vieram “à
luz” do conhecimento, (DE CARVALHO, 2011, p. 12); sendo necessário, desta forma,
a ampliação do horizonte de consciência até que os envolva integralmente.

Diz-se de um indivíduo dotado de horizonte de consciência amplo aquele que


integrou mais elementos da cultura, da ciência e das artes, do que outro de horizonte
de consciência estreito; este, embora capaz de expandi-lo, é incapaz de compreender
as razões que explicam as decisões e escolhas do primeiro. No entanto, não é apenas

7
sobre o que o indivíduo conhece do mundo ao seu redor, mas o que conhece da
própria vida, isso define seu horizonte de consciência (NASSER, 2017).

Na engenharia, este conceito pode ser adaptado (embora esvaziando-se de


parte do seu significado) ao que MacCahan chama de espaço de projeto, que é um
espaço que “abrange todas as ideias de soluções do projeto que são consideradas”,
(MCCAHAN et al., 2017).

Arthur Koestler conclui que “não existe uma fronteira demarcando o fim do
domínio da ciência e o início do domínio da arte, e o homo universae do renascimento
era um cidadão de ambos os territórios”, (KOESTLER, 2021, p. 30), e apresenta três
dos que ele chama de domínios da criatividade: “o humor, a descoberta e a arte”
(KOESTLER, 2021, p. 29). O foco deste trabalho está situado, evidentemente, neste
segundo domínio, mas a afirmação inicial de Koestler, somada ao exposto a respeito
de horizonte de consciência, apresentam a importância da abertura ao que os dados
realmente querem mostrar.

3. SISTEMAS DE ENGENHARIA

Diversas soluções de engenharia do passado foram obtidas por meio do


processo de tentativa e erro, o que não é mais uma realidade nos processos atuais,
devido à preocupação das universidades em desenvolver nos novos engenheiros
habilidades de outras disciplinas, que os auxiliam em suas tarefas tradicionais (nas
fases de projeto e construção) e também na aplicação de suas habilidades analíticas
em novas tarefas menos óbvias em toda a fase do desenvolvimento de um sistema,
(LABI, 2014, p. xix).

A engenharia não é, portanto, uma coleção de disciplinas autônomas (como


estrutura, geotecnia, hidráulica, elétrica, etc.), mas um conjunto de sistemas
integrados com intuito de solucionar diferentes demandas.

8
3.1. O que é um sistema?

É possível reconhecer diferentes tipos de sistemas durante o dia a dia, dentre


os quais pode-se incluir os sistemas de comunicação, sistemas de controle de tráfego,
sistemas transporte, etc. Uma das diversas definições de sistema o descreve como

uma coleção de diferentes elementos que, quando combinados, produzem


resultados não alcançáveis pela ação individual dos mesmos. O valor que é
intrínseco ao sistema em sua totalidade, está na inter-relação entre seus
elementos 6 (MAIER; RECHTIN, 2000, p. 22, tradução do autor).

Os sistemas podem ser classificados por suas disciplinas (sistemas de


engenharia, sistema político, sistemas sociais, sistemas culturais); pela sua hierarquia
(supersistemas e subsistemas); natureza (físicos ou abstratos); grau de
complexidade, entre outros (LABI, 2014).

3.2. Engenharia de Sistemas

A Engenharia de Sistemas é definida como

a aplicação de princípios de múltiplas disciplinas (assim como matemática,


ciência e negócios) para formular, selecionar, e desenvolver soluções para
cada fase do ciclo de vida de um sistema, com a intenção de satisfazer os
objetivos e restrições colocados pelo operador/proprietário, usuário,
comunidade e outros envolvidos em uma relação de custo-benefício7, (LABI,
2014, p. 54, tradução do autor).

6
No original: A system is a collection of different things that together produce results unachievable by
themselves alone. The value added by systems is in the interrelationships of their elements.
7 is the application of principles from multiple disciplines (such as mathematics, science, and business)

to formulate, select, and develop solutions at any phase of a system’s life cycle, with the intention of
satisfying the given objectives and constraints posed by the system owner/operator, user, community,
and other stakeholders in a costeffective manner.
9
O engenheiro, mesmo quando especialista, é responsável por todo o ciclo de
vida do sistema a ser desenvolvido e deve buscar a unidade das informações acerca
do problema o qual pretende resolver. O impacto das soluções desenvolvidas deve
ser avaliado a partir de uma perspectiva ampla que abranja sua influência no meio no
qual estão inseridas.

4. O PROBLEMA DA ESCOLHA

Durante o processo de projeto (Figura 1), muitas soluções costumam ter


pouca chance de serem escolhidas devido a ordem com que são avaliadas durante o
processo decisório, privilegiando as alternativas mais óbvias e com a quais os
gerentes possuem mais familiaridade, (OLIVEIRA, 2009, p. 76). Isso se deve por
diversos fatores, desde o tempo e recursos disponíveis, até mesmo vieses de escolha
a que os engenheiros estão sujeitos. Este fato corrobora com o que já foi apresentado
a respeito do horizonte de consciência, tendo como intuito a inclusão das alternativas
desperdiçadas e mesmo não consideradas no processo de tomada de decisão.

Figura 1: Processo de projeto.

Fonte: MCCAHAN et al., 2017

4.1. Heurísticas e Vieses: a psicologia das escolhas

A tomada de decisão pode ser feita utilizando-se de ferramentas que


forneçam atalhos cognitivos; reduzindo recursos, como por exemplo o esforço e o
tempo, ao longo desse processo, (TONETTO; KALIL; MELO, 2006).

10
No entanto, os julgamentos humanos, não raro, costumam falhar. Os
chamados vieses de escolha ocorrem porque o ser humano costuma superestimar
sua capacidade de julgamento.

Foi o que aconteceu durante um estudo, quando os pesquisadores solicitaram


a um grupo de alunos que estimassem, dentro de um espaço de tempo reduzido, o
produto de 8 × 7 × 6 × 5 × 4 × 3 × 2 × 1; enquanto outro grupo, dentro do mesmo
intervalo de tempo, estimaria o produto de 1 × 2 × 3 × 4 × 5 × 6 × 7 × 8. Os resultados
do primeiro grupo foram, em média, 2.250; já do segundo grupo, a média foi 512. Ou
seja, a disposição dos primeiros números causou um viés na estimativa de ambos os
grupos (TVERSKY; KAHNEMAN, 1974), apud (TONETTO; KALIL; MELO, 2006).

A área de investigação hoje conhecida como “Heurísticas e Vieses” provém


de pesquisas em Psicologia datadas das décadas de 50 e 60, que
demonstraram que os julgamentos humanos são menos coerentes que
modelos matemáticos como aquele proposto pelo Teorema de Bayes
(TONETTO; KALIL; MELO, 2006).

Portanto, a fim de elencar um conjunto de ferramentas de auxílio – embora


tentando distanciar-se de esquemas estáticos e limitantes não só da criatividade como
também do campo de possibilidades, já que cada problema com o qual o engenheiro
irá se deparar necessita da coleta de novos dados, assim como uma análise daqueles
disponíveis –, foram reunidos casos hipotéticos de tomada de decisão que deram
suporte aos conceitos apresentados, não como aplicações para casos específicos,
mas como tipos genéricos aplicáveis a diversos outros casos semelhantes.

4.2. Algoritmo de parada ótima

Partindo de um problema de escolha mais básico em um canteiro de obras e


com um número limitado de opções, um engenheiro que se depara com a necessidade
de contratar um novo membro de uma equipe técnica (em um mercado cuja mão de
obra é escassa) e que, a cada candidato dispensado, a chance de encontrar o ideal
diminui, não conta com muitos recursos para outra que não seja uma opção ótima.
Este problema é conhecido na matemática recreacional como problema da
11
secretária (CHRISTIAN; GRIFFITHS, 2017, p. 23), e é análogo a diversas situações
em que haja um problema de escolha como, por exemplo, pesquisa de preços, ofertas
de compra, seleção de ideias de uma equipe de projetos, etc.

Este problema pode ser solucionado de maneira intuitiva, escolhendo o


melhor candidato que superar os demais. No entanto, como a hipótese é a de que os
candidatos dispensados não estarão mais disponíveis por conta da alta procura (ou
qualquer outra restrição semelhante), essa não é uma opção. Outro meio de resolução
seria escolher o melhor candidato entrevistado até o momento, mas, ao iniciar a
entrevista, o primeiro candidato, por definição, seria o melhor até então, e não
alcançaria-se um resultado otimizado.

Para resolver este problema, foram selecionadas algumas regras práticas. A


primeira, consiste em avaliar durante certo tempo (ou durante determinado número de
candidatos) e depois escolher o melhor deles. É a chamada Regra de Olhar-e-
Depois-Saltar (CHRISTIAN; GRIFFITHS, 2017, p. 27), na qual analisa-se as opções
durante um período, sem, no entanto, escolher um candidato, por melhor que seja
(olhar). Transcorrido este período de avaliação, o entrevistador passa para a etapa de
escolha (saltar), ficando assim com o primeiro que se mostrar a melhor opção
comparado aos candidatos da fase anterior. No entanto, por quanto tempo deve-se
“olhar” antes de “saltar”?

Com apenas um candidato, a escolha é bastante óbvia. Ao adicionar mais um


candidato, tem-se uma proporção de 50/50, ou seja, tem-se 50% de chance de
escolha do melhor candidato ao optar pelo primeiro, e 50% de chance de escolher o
melhor candidato ao ficar o segundo. Com três candidatos, tem-se então 1/3 de
chance de escolher-se a melhor opção, mas isso pode ser melhorado, pois, no caso
de três candidatos, tudo depende do que se faz com o segundo, (CHRISTIAN;
GRIFFITHS, 2017):

Quando entrevistamos a primeira, não dispomos de muita informação – ela


sempre parecerá ser a melhor até então. Ao entrevistarmos a terceira
candidata, não temos alternativa – temos de lhe propor o emprego porque
dispensamos as outras. Mas quando entrevistamos a segunda candidata,
temos um pouco de ambos, sabemos se ela é melhor ou pior do que a

12
primeira, e temos a alternativa de ou contratá-la ou dispensá-la, (CHRISTIAN;
GRIFFITHS, 2017, p. 27).

A solução para o ponto exato, entre passar da análise para escolha, está em
uma outra regra matemática conhecida como Regra dos 37%. Ela se baseia numa
𝟏
fórmula um pouco extensa, mas que pode ser resumida em −𝒙 𝐥𝐨𝐠 𝒙 = 𝒆 =

𝟎, 𝟑𝟔𝟕𝟖𝟕𝟗 …, (FERGUSON, 1989), ou seja, aproximadamente 37%, e nos mostra que


o ponto ideal de escolha de candidatos em um grupo, encontra-se nos primeiros 37%8,
(CHRISTIAN; GRIFFITHS, 2017, p. 28).

Logo, para um grupo de quinze candidatos, significa dizer que não se deve
escolher ninguém antes de entrevistar o sexto candidato. Após isso, deve-se contratar
o primeiro candidato que se sair melhor que os demais.

4.3. Princípio Copernicano ou o que se pode ver do futuro

Nenhum projeto está completamente imune a riscos, por mais que seja bem
planejado; estes podem, inclusive, fugir totalmente ao controle do engenheiro.
Contudo, não concentrando-se no campo da análise de riscos em si – já que
“imprevistos”, por definição, não podem ser previstos –, mas na sua extensão
temporal, resta aos gestores tentar descobrir quão duradouros certos eventos podem
ser; eventos estes que vão desde uma paralização forçada de uma obra por motivos
legais entre investidores, até eventos de maior magnitude como, por exemplo, uma
pandemia.

Deriva-se da revolução copernicana a conclusão de que é um erro considerar,


sem uma razão específica, que o ser humano ocupa um lugar especial no universo.

8
Dado que 𝑝 é uma razão de 𝑘 para 𝑛. À medida que 𝑛 aumenta, a probabilidade de escolher a melhor
𝟏
candidata converge para −𝒑 𝒍𝒐𝒈 𝒑, que tem o valor máximo quando 𝒑 = = 𝟎, 𝟑𝟔𝟕𝟖𝟕𝟗 …, (CHRISTIAN;
𝒆
GRIFFITHS, 2017, p. 418).

13
Baseado nessa ideia, Richard Gott chegou à conclusão de que, em relação a duração
de um evento qualquer, um observador não ocupa uma posição particularmente
especial, e que, do ponto em que ele se encontra, até o início de um evento em
andamento, observa-se a mesma distribuição de peso, (GOTT, 1993, p. 315, tradução
do autor). Assim, Gott concluiu que um evento tem 50% de probabilidade de terminar
antes do seu ponto médio, e 50% de probabilidade de terminar depois, (CHRISTIAN;
GRIFFITHS, 2017, p. 215). Essa ideia recebeu o nome de Princípio Copernicano.

Retornando ao exemplo citado anteriormente, onde uma ação judicial é


impetrada em desfavor de um empreendimento e, enquanto os investidores
competem na justiça pelo prosseguimento das atividades, a diretoria de uma
construtora, juntamente com o gestor da obra, procuram analisar os custos financeiros
de uma longa paralisação. Mas quanto tempo pode durar esse evento é o que o
princípio copernicano pretende responder.

Considere-se que o evento tenha uma data inicial 𝑡 , e que transcorreu-se


desde então 45 dias (𝑡 ). Qual seria o tempo final (𝑡 )?

O princípio copernicano garante que a melhor estimativa é considerar estar


localizado exatamente na metade da duração do evento, já que há 50% de chance de
que se esteja certo.

Portanto, para 𝒕𝒇 = 𝒕𝒎 × 𝟐, em que 𝒕𝒎 = 𝟒𝟓, tem-se, 𝒕𝒇 = 𝟒𝟓 × 𝟐 = 𝟗𝟎. A


duração restante do evento (𝒕𝒓 ) será então 𝒕𝒓 = 𝟗𝟎 − 𝟒𝟓 = 𝟒𝟓.

5. DELIMITANDO O HORIZONTE DE CONSCIÊNCIA

Consoante o que já foi apresentado, elaborou-se um mapa, o mais genérico


possível, que, a partir do que descreve McCahan sobre processo de projeto, servisse
de roteiro para a delimitação do horizonte de consciência no processo de tomada de
decisão (Figura 2).

14
Figura 2: Delimitando o horizonte de consciência no processo de projeto

Fonte: Autoria própria

O ponto inicial é a caracterização do problema, reunindo tudo que é possível


saber a seu respeito (quantitativa e qualitativamente); seguido pela revisão histórica
do conhecimento acumulado a respeito de soluções existentes, onde busca-se
descobrir o que a engenharia já desenvolveu, ou tem desenvolvido, para solucionar
este ou outros problemas similares, além de buscar soluções de outros campos do
conhecimento.

Após este passo, retorna-se ao modelo apresentado inicialmente (Figura 1),


onde serão identificados os requisitos do problema seguido da etapa de
desenvolvimento, onde será implementada a solução escolhida na etapa anterior.
Estes três últimos passos são iterativos, ou seja, retroalimentam-se a partir de novas
descobertas.

6. CONCLUSÃO

De acordo com a proposta descrita nos objetivos, foram apresentados


conceitos filosóficos e de outros campos (principalmente de engenharia) a respeito do
repertório de ideias e de como o conhecimento nele contido deve servir de suporte na
resolução de problemas de projeto (tomada de decisão).

15
O conteúdo reunido foi então analisado e aplicado a alguns casos hipotéticos,
demonstrando assim sua aplicabilidade em diversos outros contextos similares. Desta
forma, conclui-se que estes objetivos foram atingidos neste trabalho. Observe-se
ainda que, a própria elaboração deste trabalho exemplifica a aplicação do conteúdo
apresentado, haja vista o esforço necessário na demonstração da relação sistêmica
entre o que se entende como conhecimento de engenharia e as diversas disciplinas
de outros campos, a saber, filosofia, psicologia, estatística, probabilidade, biologia,
etc.

Embora cumpra seu papel de instigar o engenheiro a um entendimento da sua


própria limitação, a pergunta do problema apresentado no início deste artigo,
conforme constatou-se, só poderá ser respondida pelo próprio engenheiro, através de
um mapeamento do seu próprio repertório de ideias e do que lhe falta (horizonte de
consciência), dos requisitos, funções e restrições do projeto; do uso de ferramentas
gerenciais e de projeto (ou mesmo imaginativas). Esse processo deverá ser repetido
sempre que um problema exigir uma solução ótima para a tomada de decisão.

REFERÊNCIAS

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