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ee ARE Le eye es 0 or. a Educacao com sentido: Orientagao para professores Helga Hinkenickel Reinhold adolescéncia se caracteriza por grandes desenvolvimentos Vi N isicos, cog vos, afetivos, espirituais e sociais. Pais ¢ professores nem sempre conseguem entender os comportamentos muitas vezes rebeldes e contraditérios dos jovens; lidar com eles em casa e em sala de aula se transforma num embate estressante para ambos os lados. Na escola, os professores se queixam da falta de interesse e compromisso do adolescente, com a consequente indisciplina em sala de aula, originando um circulo vicioso desanimador: 0 aluno nao vé como significativas as atividades exigidas e desenvolvidas na escola, deixa de participar, executa as tarefas por mera imposicao e necessidade, dedica-se a outros interesses em sala de aula, nao vé as tarefas exigidas como desafio para seu crescimento; o professor, por sua vez, desmotiva- se e perde seu élan, seu dinamismo, sua vontade de ensinar. A aula se transforma, cada vez mais, numa mera formalidade sem sentido, a ser cumprida em nome de um planejamento. E nao se concretiza o verdadeiro objetivo da educagao. 127 Nao ha definicdo universal e atemporal de educacao, mas, de modo geral, podemos dizer que & constituida de medida, processos que ajudem o ser humano a aleancar sua “maioridaden, seu desenvolvimento pleno, o que significa concretizar e rating, seus potenciais ¢ possibilidades, atualizar suas foras ¢ assum, sua humanidade (Biller 2005). Por humanidade, entende logoterapia ou anilise existencial de Viktor E. Frankl (Wicki 1991) as caracteristicas localizadas na dimensio noética ou espiritual do ser humano, que ¢ a dimensdo humana propriamente dita, que engloba nossos ideais, a consciéncia moral e a compreensio dos valores, a orientagao para objetivos, a intencionalidade, a liberdade para tomar decisdes, a fé, 0 pensamento criativo, 4 autotranscendéncia, a responsabilidade, 0 senso de humor e o sentido da vida. Vista dessa forma, a educago precisa ajudar © aluno nao s6 a incorporar todo conhecimento acumulado ¢ construido pelos homens, mas a viver sua verdadeira existéncia, € transforma-se numa “educacdo com sentido” (Biller 2005) quando os alunos assumem responsabilidade plena por seus comportamentos e atos, O modelo antropolégico da andlise existencial de Viktor Frankl constitui arcabougo teérico e pratico (Reinhold 2004) para lados fundamentar uma educagao com sentido. Os saberes veic pela educagao precisam ter sentido para o aluno, devem set avaliados pela consciéncia dos participantes do processo educativo quanto aos seus valores (Dienelt 1984), precisam ser contextualizados. Os saberes veiculados com sentido fazem com | 28 | gue as medidas educativas sejam consideradas tarefa estimulante conjunta do educador e do educando, para um crescimento pmatuo em direcdo ao exercicio de valores humanistas. O sentido eve permear a identidade da instituigao, do docente e do aluno. (Q modelo tridimensional da logoterapia, esbogado a seguir, permite uma melhor compreensio da questio do sentido. De acordo com 0 modelo antropolégico da logoterapia (Reinhold 3004; Wicki 1991), 0 ser humano tem trés dimensoes: (1) a dimensio somatica, constituida pelas fungdes biolégico- fisiologicas, com seus processos quimicos ¢ fisicos; (2) @ imensio psiquica, que abrange instintos, emog6es, disposicoess aptidées intelectuais, padres adquiridos de comportamento ¢ condicionamentos sociais, ou seja, as cognigoes € emogies; (3) a dimensdo noética ou espiritual, que possibilica o distanciamento diante do psicofisico e encerra todas as outras caracteristicas exclusivamente humanas j4 esbocadas anteriormente, como valores, sentido da vida, responsabilidade, intencionalidade, f6. 0 fisico ¢ 0 psiquico ~ 0 psicofisico ~ caminham juntos (é o chamado paralelismo psicofisico), mas, Por intermédio da dimensio noética, 0 homem pode, s¢ necessario, contrapor- se a ele (é processo chamado antagonismo noopsiquico). No psicofisico, 0 homem é condicionado, impulsionado, j4 na dimensio noética ele ¢ livre. que precisa ser acionada para que Ea dimensao noética © aluno possa realizar uma educagao com sentido, E numa educagdo centrada no sentido, 0 edueador ¢ 0 “ajudante” que | 291 facilita ao educando se tornar 0 que, no fundo, na sua esséncia, ele ja 6, a fim de se transformar em um ser tinico, singular e irrepetivel (Biller 2005). A liberdade da vontade precisa ser enfatizada, para que o aluno possa fazer uso dela. Nos processos educacionais, a vontade de sentido deve ser ressaltada, a consciéncia deve ser treinada para captar 0 sentido eos valores inerentes as situagdes, a autotranscendéncia ~ 0 voltar-se para valores no mundo - deve ser incentivada. Do ponto de vista cognitivo, o adolescente potencializa e transcende a representacdo mental e a compreensio do mundo que conseguiu elaborar na infancia (Parra 1983). O pensamento hipotético-dedutivo do adolescente lhe permite refletir sobre possibilidades logicamente vidveis ¢ pensar sistematicamente todas as combinagées possiveis de um problema; o real é concebido como manifestagéo das possibilidades existentes. Assim, o futuro pode ser percebido como algo real que venha a se concretizar, incluindo a construgao da propria identidade ea elaboragao de um projeto de vida. O pensamento formal permite raciocinar sobre varios sistemas ao mesmo tempo. Em suma, o pensamento e a inteligéncia do adolescente atingem um patamar de elevada complexidade simbélica. Essa possibilidade ilimitada de raciocinar abstratamente sobre © mundo explica por que a adolescéncia constitui uma fase de exacerbacdo da curiosidade, caracteristica ontologicamente basica do ser humano, Hite (1996) sugere que a introspec¢ao do adolescente seja Potencializada como processo de “curiosidade epistemoldgica”. > | 30 | que 0 autor entende como uma atitude de reflexo critica, metédica © inquietante sobre os objetos de conhecimento, baseada em um envolvimento afetivo com esses objetos. © adolescente necessita de conflitos e desafios que o inquietem e o desestabilizem levando-o.a buscar novamente 0 equilibrio, de preferéncia com a colaboracao dos outros — colegas, adultos significativos (pais, professores). © conceito de “sindrome normal da adolescéncia” (Aberastury e Knobel 1992; Griffa e Moreno 2001) ajuda a entender os desequilibrios ¢ instabilidades extremas do adolescente. Os autores consideram a adolescéncia um quadro semipatolégico, porém normal nessa fase de desenvolvimento. Sao suas caracteristicas principais: a) busca de si mesmo e da prépria identidade, uma vez que hé uma perda da identidade infantil, o que gera incertezas e instabilidades; b) tendéncia grupal, pois o adolescente vive uma superi- dentificagao com seu grupo etario, para o qual transfere suas ligagdes afetivas com a familia e com o qual cria forte lago de dependéncia; ©) crises religiosas, que podem oscilar entre religiosidade excessiva e aparente ateismo, e preocupagio ética; d) necessidade de intelectualizar e fantasiar, facilitada pelo pensamento formal, com sua capacidade cada vez maior de representar mentalmente o mundo; [31] e) desorientacao € indeterminacao temporal, j4 que o tempo 6 vivido no presente, com dificuldade para adiar gratificagao de necessidades; f) evolucao do autoerotismo para a heterossexualidade, com 0 inicio da atividade heterosexual como estagio preparat6rio para a genitalidade adultas g) atitude social reivindicatéria e rebeldia, quando 0 ado- lescente manifesta o desejo de desempenhar seus papéis na sociedade, as vezes de maneira inadequada; h) contradigdes em todas as manifestagdes da conduta, labilidade de conduta em razio da identidade ainda em construgao; 1) separagio progressiva entre pais e filhos, que é vivida com ambiguidade de ambos os lados, oscilando entre dependéncia ¢ independéncias J) constantes flutuagées de humor e estado de animo, decorrentes de frustragées em contato com a realidade. Considerando as caracteristicas cognitivas, afetivas, espirituais e sociais do adolescente, algumas reflexdes pedagégicas quanto a uma “educagao com sentido” podem ser feitas por Professores que lidam com alunos dessa faixa etaria (Biller 2005; Freire 1996; Hadinger 2003), [32] 1. O sentido como centro constitutivo da educacao Presente em qualquer situagao, o sentido € 0 centro de energia, o ponto central de qualquer ago educativa, Cada detalhe deve estar integrado a um horizonte de sentido mais amplo, em diregao a transcendéncia. O sentido constitui a ponte entre o ser humano e 0 mundo (Biller 2005), As trés “estradas para o sentido” so os valores: fazer, vivenciar ¢ desenvolver atitudes. Considerando os tipos de valores segundo Frankl (Reinhold 2004; Wicki 1991), eles se classificam em trés tipos: criativos, que a pessoa realiza ou coloca no mundo; vivenciais ou de experiéncia, que ela recebe do mundos ¢ atitudinais, que surgem quando a pessoa esta diante de uma situaco-limite — dor, culpa, morte. No processo educative, a todo momento, o aluno é solicitado a realizar valores criativos: elaboracao e realiza¢ao de projetos, abordagem de problemas como desafios, resolugdo desses problemas com criatividade, desenvolvimento de competéncias. Os valores vivenciais sio igualmente importantes na educagao: descobrir sabedoria e beleza no legado de conhecimento da humanidade, comunicar-se com outros atores do processo educativo e relacionar-se afetivamente com eles. E, diante de frustragées ¢ dificuldades, ou de situagdes que exijam mudanga de atitude e adaptagGes significativas, o aluno teré de realizar valores atitudinais, 133] A educacdo deve desenvolver a sensibilidade aa novos valores, para que eles possam ser descobertos e ‘so Universo s¢ tore maisamplo, Segundo Frankh o que dirige © homem em su busca de sentido é a consciéncia moral, feobengne especificamente humano que consiste na capacidade intuitiva, de perceber sentido tinico e singular que estd latente em cada situagao0 (Dienelt 1984). © sentido precisa se tornar perceptivel concretamente, pois s6 existira pela ago concreta da Pessoa — 0 sentido precisa se mostrar na vida da pessoa. Cada situacéo constitui um pequeno recorte da vida, que € uma sucessiio de situag6es em conexZo umas com as outras, envolvendo uma rede de relacionamentos. Cada situacao ¢ “inica, aberta, indefinida, com infinitas possibilidades de sentido muitas opedes de resposta. Qual seria a resposta com maior Conteiido de sentido, aquela que teria sentido nado mas para 0s outros ao meu redor, mundo, para Deus? 86 para mim, Para a humanidade, para 0 es de atividade”, ela nos desafia gir, de atender ao chamado da | 34] situacdo, frequentemente temos aquela sensagio de “por que nao fiz aquilo que achei que devia fazer Acconsciéncia pode ser refinada e desenvolvida pela educagao com sentido. A educacao nao deve se limitar a transmitir os saberes, deve também aperfeicoar a consciéncia (Dienelt 1984). A educacgao com sentido é a educagao para a responsabilidade. Ser responsavel significa ser seletivo, ter capacidade de escolha, O sentido e os valores nao podem ser ensinados. © que a educacao com sentido pode fazer é agucar as competéncias e aperfeigoar a consciéncia das pessoas, para que possam encontrar mais facilmente o sentido e clarificar os seus valores. Numa instituicdo educativa, a situagdo deve ser vista como uma obra conjunta, um projeto do qual todos devem participar. Por exemplo: em sala de aula, aqueles que nao participam ou nio prestam atencdo incomodam os outros que estao concentrados numa atividade. Cada situagao tem de ser percebida de forma precisa, e exige vigilancia, atencao, concentragao. 2. Relacionamentos positivos com pessoas envolvidas no processo educativo Para o adolescente, 0 professor ¢ modelo de ser humano, assim, sao importantes sua biografia, sua formagio profissional e pessoal, sua coeréncia e autenticidade, Baseado em uma relagdo de confianga com o educador, e da empatia deste tiltimo para perceber a esséncia ¢ a unicidade de cada 135] lescente vai construindo sua autoconfianca ¢ | educando, o ado! . nal ositivo. E preciso reconhecer e aceitar cada um autoconceito p web a singularidade. As interferéncias do educador na jovem na su solucao de conflitos podem le sua liberdade com responsabilidad yar o joven a perceber e vivenciar le nas agoes € decisées que venha a tomar. 3. Tomada de decisao, solucao € agao Diante de diversas alternativas, 0 adolescente deve adotar como critério de deciso a op¢do que tem mais sentido. A solugdo encontrada precisa ser fundamentada: as consequéncias tém de ser visualizadas e a solugao implica responsabilidade. Além disso, essa solugio nao pode ser favoravel apenas para a propria pessoa, mas para todos. E tem de ser transformada em acao, demonstrando com isso que é possivel. O autoconceito do educando é fortalecido quando uma solucdo € transposta em ago. E 0 educador como modelo favorece a acao por parte do educando, 4. Desenvolvimento de competéncias fees eecceee Probl mas, conflitos e contetidos dificeis devem ser vistos como s desafios que, por sua vez, necessitam de esforco € persisténcia Para serem superados, Competéncias para enfrentar | 36) situagdes frustrantes ou dificeis podem ser treinadas a medida que as situacdes do cotidiano escolar sejam reconhecidas ¢ utilizadas para resolver problemas na pratica. Os adolescentes devem ser ajudados a lidar construtivamente com as consequéncias de seus erros, por meio de reparacao, pedido de perdao e rentincias. 5. A arte como meio de expressao Os sentidos precisam ser treinados para que o adolescente aprenda a apreciar obras de arte e perceba a expressio artistica, por meio da pintura, da escultura, da miisica, da literatura, da dana, como uma das linguagens dispontveis para comunicar seus sentimentos. Urnau (2010, p. 211) considera a arte como “meio privilegiado de expressio ¢ criagio para os jovens, para reflexdo e critica das.condigdes existenciais dos sujeitos, “ou como possibilidade de transformagao e transcendéncia de ‘suas vivencias cotidianas, de liberdade ¢ de novos vislumbres do futuro”. Vygotsky (apud Urnau 2010) considera que, por “im lado, produgées artisticas so meios de vazao, expresso e transformacao de emogées € outros aspectos psiquicos humanos que nao encontram guarida na vida cotidiana; por outro, a arte no se restringe aos afetos, ela envolve também conhecimentos técnicos ¢ reflexio. Dessa forma, nas producées artisticas dos adolescentes, ocorre a superacao de sentimentos por meio do ato criador, que possibilita a elaboragao ea transformacao desses 137] anscendéncia, num processo sentimentos em seus opostos € sta de catarse qu‘ « combina conhecimento téonico ¢ afetividade e cria algo novo. 6. Curiosidade, encantamento, criatividade, alegria, esperanca ‘A vida € caminhada sem fim, busca constante movida por curiosidade, inquietagao ¢ criatividade. O adolescente deve ter esperanca de sentir encantamento ¢ alegria a0 longo _ dessa caminhada, € nfo somente quando se chega ao objetivo, ‘Na interagZo com os alunos, o entusiasmo do professor pode demonstrar que a atividade educativa é permeada de alegria ¢ oferece descobertas significativas, construtivas, fascinantes. 7. Participacéo em projetos ooccccccccee oe A participacao dos adolescentes em projetos que tenham uma finalidade clara de realizagao de sentido, vislumbrados e desenvolvidos por eles, mobiliza todas as suas potencialidades ~ intelectuais, criativas, afetivas e sociais. O adolescente tem 0 desejo de ser instrumento de melhoria e renovacéo do mundo ¢, muitas vezes, idealiza projetos que visam ao bem-estar dos outros, as S vezes de pessoas menos favorecidas As quais pode Prestar um servico. [38] Portanto, “educagdo com sentido”, ou educagao baseada no sentido, constitui uma rede complexa de medidas e processos, baseada na realizagao de sentido, a qual incentiva o ser humano a concretizar suas forgas e possibilidades, a fim de construir a propria identidade. Concluindo, a educagio com sentido: * educagdo humanista, cujo objetivo é 0 desenvolvimento da singularidade e da dignidade de cada educando, vi- sando a autotranscendéncia e a orientagio pelo sentido; * orientada mais pelo futuro do que pelo passado; as causas de comportamentos inadequados s&o secun- darias; desenvolvem-se no educando mudangas de ati- tudes, para que, no futuro, decisées com mais sentido possam ser tomadas; * enfatiza os contetidos ilimitados e incondicionais de sentido: os saberes, quando contextualizados, consti: tuem importante realizagéo de sentido; + é processo ligado ao desenvolvimento humano: a sensi- bilidade para perceber o sentido inerente a cada situaco depende do estégio de desenvolvimento do educando, ampliand6-s¢ a0 longo do processo de amadurecimento; * 6 ética aplicada: as consequéncias de possiveis agdes so examinadas & luz da responsabilidade; uma aco. somente é aceitavel se é favoravel a todos os envolvidos; 1/39 * tem resultado incerto e inconstante: o SUCESSO do br cesso educativo nao pode ser garantido pelo educa og depende igualmente do educando; * nao pode ser descrita ou praticada passo a PASSO, pois trata de uma rede complexa de interagdes Contetidos, * permite que os educandos reconhegam seu €spaco de liberdade com responsabilidade e suas proprias Pos- sibilidades de tomar decisdes, que aprendam que sig cles que configuram e planejam sua vida e que sejam Copatticipantes do sucesso do processo educativo, » MAS que cada uma delas implica responsabilidade dante de si mesmo dos outros; due elas sao bascadas em valores Subjacentes; gue q vivéncia 5 énci da plenitude significa que o bem-es tar Pessoal Outros e o mundo; tue fazemos parte de um to, cada situagao encerra uma possibil €MPre inclui os idade de seni . : Sentido que precisa ser percebida e concretizada, | 40] Referencias bibliograficas ABERASTURY, A. e KNOBEL, M. (1992), Adolescéncia normal: Um enfoque psicanalitico. Porto Alegre: Artmed. BILLER, K. (2005). “Sinnzentriert erziehen! — Darstellung und Begriindung”. Existenz und Logos, ano 13, caderno 2, pp. 6-31. DIENELT, K. (1984). Von der Metatheorie der Erziehung zur “sin”: Orientierten Padagogik. Frankfurt am Main: Diesterweg. FREIRE, P. (1996). Pedagogia da autonomia. Sao Paulo: Paz e Terra. GRIFFA, M.C. e MORENO, J-E. (2001). Chaves para a psicologia do desenvolvimento. Tomo 2: Adolescéncia, vida adulta, velhice. Sao Paulo: Paulinas. HADINGER, B. (2003). Mut zum Leben machen. Tubingen: Lebenskunst. PARRA, N. (1983). O adolescente segundo Piaget. Sao Paulo: Pioneira. REINHOLD, H.H. (2004). “oO sentido da vida: Prevencao de stress € burnout do professor”. Tese de doutorado. Pontificia Universidade Catélica de Campinas. URNAU, L.C. (2010). “Jovens e arte: Mediacao e apropriagdo de um Projeto social”. In: ZANELLA, A.V. e MAHEIRIE, K. (orgs.). Didlogos em psicologia social e arte, Curitiba: CRV, pp. 211-238, WICKI, B. (1991). Die Existenzanalyse von Viktor E. Frankl als Beitrag 21 einer anthropologisch fundierten Péidagogik. Berna: Haupt. 41] Realizac&o académica: Escola e familia Geraldina Porto Witter Introdugao Como bem caracterizou Savage(2007/2009), uma das grandes revolugdes do século XX foi a criagdo e a introdugao sociocultural ¢ educacional do conceito de adolescéncia, 0 que mudou muito as relagdes nas escolas, na familia e na sociedade. Iniciada e difundida com a cultura americana, em que foi atribuido um papel de destaque a juventude, acabou por estimulas, a partir da segunda década do século passado, a busca e a criacdo de condigdes para que um ntimero crescente de jovens, mesmo dentre os menos privilegiados, buscasse a escola secundaria, para melhor se capacitar, também para o mundo do trabalho. Isso se espalhou pela Europa e, anos mais tarde, a influéncia chegou ao Brasil. Um dos marcos dessa revolucao foi a “Carta de direitos do teenage”, publicada na New York Times Magazine. Com 1431 base na propria Constituicao americana, incluiu dez artigos (Cohen 1945, pp. 16-17), aqui os seguintes direitos: deixa sintetizados, que garantiam aos adolescentes a infancia ser esquecida; manifestar-se a respeito da propria vida; nao impostas; divertir-se e cometer erros e descobrir por si mesmos ter regras explicadas, questionar ideias; estar na idade romantica; ter companheiros; lutar pela prépria filosofia de ter chances e oportunidades justass vida ¢ ter ajuda profissional sempre que necessario. Savage (2007/2009, p. 11) cita como epigral ase de John Lennon, em entrevista de 1966, “A América fe na introdugao de seu livro uma fr: que mostra o ressentimento dos jovens europeus: costumava ser o lugar da juventude na imaginacao de todos. A ‘América tinha teenagers e 0 resto do mundo, s6 pessoas”. Vale lembrar que Lennon nasceu em 1940. Se, na Europa, ainda havia necessidade de redefinir 0 papel da juventude, o que 86 se tornaria marcante apés a Segunda Guerra, ele ja era vigoroso na América, onde a mudanga comegou em 1875, com os escritos e agdes de Marie Bashirtseff ¢ Jesse Pomeroy, que desencadearam movimentos sociais em busca da aceitagao da diferenciagao de uma nova fase da vida, até mesmo como forma de resolugdo de problemas psicossociais ¢ de qualidade de vida. Hoje, no mundo ocidental, a adolescéncia é plenamente aceita como uma fase especifica do ciclo de vida. Entretanto, € um periodo complexo, decisivo em relaco ao futuro e, de modo geral, persistem muitos problemas biopsicossociais sem solucao, tais col i énci: ais como 0 uso de drogas, a delinquéncia, a prostituigao, @ | 44 | baixa escolarizago, a gravidez. precoce etc. Entre os problemas de muitos jovens, est a realizacio académica, que é 0 foco do presente texto. Embora enfoquemos o adolescente que esta na escola, isso decorre do tema do capitulo. Nao se deve esquecer que muitos, especialmente em realidades como a do Brasil, nem sequet chegam aos bancos escolares ou ao ensino primério ou primeiro ciclo do ensino fundamental. Muitos, por contingéncias diversas, nao conseguem se manter na escola ou dela so excluidos de formas diversas, sem que sejam atendidas suas necessidades psicoldgicas, educacionais e sociais (Caro 1998; Assis, Pesce e Avanci 2006; Trombeta e Guzzo 2002). Bem pouco se faz no Brasil para ajudar psicoeducacional e socialmente os que nao adquiriram resiliéncia para enfrentar e superar as adversidades de seu cotidiano. Quando permanecem na escola, muitas dessas pessoas jd sio diferenciadas de seu grupo de origem, mas podem precisar de apoio psicoeducacional para irem além (Tripoli 1998), o que nem sempre lhes ¢ oferecido. Com a criagao e a introducao sociocultural da adolescéncia, mudaram as perspectivas em relagio ao adolescente, mantendo-se as necessidades de melhor conhecer todo o seu desenvolvimento biopsicossocial, a interacdo entre 0s varios aspectos cinfluéncias que recebem, Coma evolugao da valorizagio das evidéncias, mais do que das reflexes ¢ teorizagées sem a devida comprovacéo por dados quase experimentais, experimentais ¢ generalizaveis, é possivel que ocorram mais pesquisas € que se possa ter um [451 conhecimento psicolégico critico e cientifico unificado e melhor de todas as fases do ciclo de vida (Staats 1983). Assim, evita-se a manutengio das distorgées generalizadas do passado nos critérios e padrées adotados (Contini, Koller e Barros 2002). ‘A natureza segue seu curso ao longo da vida de qualquer ser vivo, inclusive do homem, que em dado momento passa por mudangas internas rapidas, que so moldadas, interpretadas e influem nele de acordo com as aprendizagens, as estimulagées decorrentes do ambiente sociocultural e educacional em que vive, com 0 contato com iniimeros eventos, meios e pessoas de todas as idades, Entre esses contextos, na grande maioria das culturas atuais, destaca-se aqui a escola, mas é preciso nao ignorar os demais em momento algum, j que interagem e podem apresentar impactos distintos em cada individuo, mesmo quando vivenciam experiéncias distintas, Entende-se por realizacdo ou desempenho académico do adolescente 0 modo ¢ 0 grau com que ele consegue dar conta das atividades, dos contetidos e dos comportamentos esperados no contexto da vida escolar formal. Realizagao académica na adolescéncia: Variaveis fundamental, quer estej. “ensin , Ja no’ensino médi ima médio. Uma descrica . lescrigdo | 46 | Figura 1: Variéveis que influem na realizacao académica dos alunos e suas consequéncias Settler ‘Competéncias ‘ehabilidades ja adquiridas Com problema ou negativa Varidveis da escola (RH, ‘material, tecnologia, atualizagao, qualidade de trabalho etc.) geral, nao exaustiva, aparece na Figura 1. Vale lembrar que 0 tr que acontece em uma dada fase do desenvolvimento humano, especialmente no aspecto académico, pode ter efeitos nas etapas subsequentes da vida. A figura apresenta no centro a realizagao académica, que inclui todas as dreas de conhecimento e de comportamentos que sdo trabalhadas no ambito da escola, tais como: aprendizagem das matérias escolares, da cidadania, do respeito aos professores e colegas, do amor aos estudos, do empenho e da dedicacio, da pontualidade, do que faz o bom cidadao etc. Esse aprender contetidos e vir a ser alguém depende da vida académica pregressa (desde a educagao infantil até o final do primeiro ciclo do ensino fundamental). Destacaram-se na figura, na parte superior, dois 47 es de variaveis, um decorrente da escolarizagao anterior ¢ paco am outro, do contexto familiar rizagao anterior precisa tet proporcionado ao A escolai stabelecimento de redes neurais. le viabiliz realizaveis os varios tipos de aprendizagem ncluem aprender a olhar, manter aluno condigdes especificas que tomnem de contetidos distintos. Elas i cdo, gostar de aprender (leitura, e ‘o ambiente etc.) (Posner e Rothbart 2007). Também tenha nogao de a aten scrita, Matematica, ciéncias, mei & requerido que a crianga aprenda a se avaliat, autoeficiéncia, saiba redirecionar seu comportamento quando necessario, para obter melhores resultados. Vale dizer que deve ter aprendido a usar estratégias cognitivas e comportamentais que assegurem éxito com menor risco de desempenho insatisfatorio. Os professores precisam ter uma formagdo de alto nivel para propiciar tais aprendizagens. Além disso, € preciso que estejam integrados com as familias para ajudé-las para que possam dar 0 devido apoio a seus filhos. ‘A familia tem um papel fundamental nas aprendizagens feitas pelo bebé e, posteriormente, em todas as fases da vida da crianca. Deve fornecer estimulacao e condigées favoraveis para aprendizagem, motivacao e auxilio no desenvolvimento cognitivo e integragdo com a programagao da escola, tomando cuidado para que o jovem tenha onde estudar sem pressao, para nao gerar stress. Com o avancar dos anos académicos, cresce a responsabilidade da escola no oferecimento a cada aluno das contingéncias individuais requeridas para que tenha éxito. 148 | Habitos regulares de leitura, estudo ¢ interesse formacio precisam ser solidamente estabelecidos naadolescéncia eso imprescindives na formagio da pessoa, do profisional e do cidadao. odin Nesse contexto de escola e familia, sio formadas as competéncias € habilidades basicas do jovem adolescente. Entretanto, ele pode chegar a niveis mais elevados de ensino sem esse repertério, por ter sido cerceado, nao ter tido as devidas oportunidades ou simplesmente por ter sido constantemente submetido a materiais e métodos de ensino incompativeis com suas caracteristicas pessoais. Trata-se de jovens que ja trazem problemas de aprendizagem dos anos anteriores ou que comecardo a apresentar problemas por falta de preparo adequado. Nessas circunstincias, espera-se que a escola ofereca programa: de intervengao, métodos alternativos de ensino-aprendizagem, ‘condiges motivadoras_e, se for o caso, trabalhe também a autoestima e a autoeficacia de todos, mas, prioritariamente,- dos que correm mais risco de nao ter éxito. Isso pede 0 apoio de psicdlogos escolares competentes nas areas de atividade aqui referidas e capazes de contribuir para a atualizacao técnico- cientifica dos professores. ‘Como parte das habilidades e competéncias que também foram modeladas no lar, € necessério continuar cultivando as relagdes escola-familia, especialmente para atender aos adolescentes com problemas. Hé muitas estratégias disponiveis para ajuda-los a suprir © que faltou e a terem éxito no novo nivel de aprendizagem. E no | 49| te, na escola que melhor se 1a entorno e, posteriorment lar, no se ee s sociais do adolescente, peténcias eas habilidades cial no grupo, quer para nto de metas ou, até mesmo, para drao de companheiro estruturamas com} a atuagio eo quer para a inclusio so trabalho em grupo, o estabelecime! 0 ow orientar a escolha do pa evitar rejeiga speito, Cotterell (1996, P- 1) diz: para o futuro. A esse res} [As relagdes com os outros jazem no coragao da experiéncia ovens esto preocupados em fazer € manter adolescente. Os j amigos, investem grande parte de seu tempo ¢ energia em participar de grupos sociais, Dao muita importancia a pertencer, a ser incluido e fazer parte de um grupo; a afiliacao ao grupo no apenas fornece seguranca emocional, como também é fonte de status e reputagao com propriedades motivacionais. Assim, 0 contexto do grupo de relagées sociais assume uma importante centralidade no desenvolvimento da personalidade durante os anos da adolescéncia. Realmente, os amigos representam 0 eixo das relacdes interpessoais na adolescéncia e a escola tem influéncia ai. O autor referido lembra que, na maior parte do mundo, a escola e suas salas de aula so arenas importantes para a formagao de grupos de pares e de relagées de amizade. Ainda que sej seja fre gl i ja frequente o adolescente pertencer a grupos € colegas e amigos da mesma escola, a dea la, as vezes, ele conta com terpessoais desse nivel ci e nivel com parentes, pessoas que moram pet idénci; perto de sua residéncia ou frequentam os mesmos | 50 | espacos sociais (clubes, lanchonetes, centros comerciais etc.). S40 pessoas que tanto podem ser positivas, estimulando e respeitando. comportamentos de estudo e pré-sociais, como podem agir negativamente, estimulando comportamentos inadequados, como faltar as aulas, ndo assumir 0 compromisso de estudar ou, pior, seduzindo para as drogas e para a delinquéncia. Mais uma vez, escola e familia precisam agir integradamente e, conforme 0 caso, pode ser necessdria uma intervengao clinica. Vale lembrar a tensao e o stress que sofre 0 jovem no ensino médio, por ser pressionado a fazer escolhas essenciais para sua vida, como definicio do companheiro, da profissio que deseja seguir e, consequentemente, do curso e da universidade que frequentaré. Familiares e amigos tendem a pressionar, por vezes veementemente, para que o jovem tente entrar em uma dada escola ou curso. Sem dados de pesquisa recentes ou que viabilizem comparacées seguras, parece que 0 maior ntimero de opcées, bolsas e outras facilidades para ingresso nas universidades devem estar gerando menos stress nos jovens. Mas é preciso pesquisar 0 que esta ocorrendo, pois sobram vagas, hd evasao ¢ o percentual de jovens brasileiros que cursam a universidade é muito baixo. A criagdo da adolescéncia nao encontrou a escola preparada adequadamente para receber os jovens com suas caracteristicas. Isso gerou dificuldades, pois os padrées fora da escola entravam em choque com 0 comportamento “adulto” cobrado por ela. O mundo ocidental, influenciado pelos militares jovens dos Estados Unidos, passou a aceitar € a compreender melhor © [st adolescente, mas a formacao dos docentes ¢ @ mudanga nos padrées das escolas m mais acelerado. Os proprios io ocorreram, nem ocorrem hoje, em ritmo pais nao estavam preparados. A dade que passou a marcar as mudangas na adolescéncia tade do século passado foi ducar uma tarefa mais complexa, mas veloci da segunda me aumentando, tornando 0 € que nio esta acompanhando o ritmn progressivamente 0 das alteragées do mundo nem seus efeitos sobre os jovens. Entre as varidveis da escola, muitas vezes em dissonancia estio falta de flexibilidade e de capacitagao materiais didaticos, uso de um nico ividuais, entrosamento com essas mudangas, dos recursos humanos, método sem respeitar as diferencas indi insuficiente com a familia, ma qualidade do ensino etc. Tudo isso pode afetar a realizacao académica, prejudicando o desempenho de alguns alunos, pois gera um ambiente educacional que leva a desmotivacao, ao desencanto, ao desamor pelos estudos, ao stress, 4 autoimagem negativa ¢ a falta de perspectiva positiva quanto a propria autoeficacia. Arealizagao académica, desde o final do ensino fundamental até o término do ensino médio, estende-se em um continuum que vai do pleno éxito até o extremo fracasso (apenas os dois polos sao apresentados na Figura 1). Quando 0 jovem tem bom desempenho, suas probabilidades de éxito no mundo do trabalho, social e meio afetivo sao maiores. Alguns dao continuidade aos estudos indo para o ensino superior, privilégio de poucos. $6 a fs wa 2 ‘ pos concluida a universidade é que muitos adentram o campo | 52 | profissional. Outros, principalmente por | ou por pretenderem outros destinos, entram nas_ trabalho mais cedo. Um terceiro grupo, por qu ou filos6ficas, continua os estud i s los, mas paralelamente comega a_ exercer alguma atividade rentavel ou um trabalho que viabilize o estudo concomitante. Quando 0 jovem nao tem éxito nem apoio psicoeducacional e familiar adequados, os prejuizos psicol6gicos sio muito grandes. A tendéncia é recorrer & evasio. Os adolescentes abandonam a escola e muitos se sentem escorragados ou incompetentes como pessoas. Resta-lhes a op¢ao de um trabalho que nao desejavam. Outros conseguem com sofrimento completar o ensino médio, por vezes, levando mais tempo do que o previsto. Perdem o prazer nos estudos e no aprendizado e a confianga em si mesmos. Nao buscam a universidade, Entram no mundo do trabalho e, as vezes, ficam frustrados e lembram com tristeza as limitagées de vida e 0 stress resultantes de experiéncias de abandono escolar er 2006). ou de nao terem podido sequer cursar uma escola ( A Figura 1 apenas esboca as miltiplas variaveis de que vao resultar o ser adolescente e o aluno adolescente, estando eles cientes ou ndo. Quando se destaca um aspecto, para viabilizar um estudo, nao se pode esquecer do mundo subjacente. Se foram complexas, mas lentas, no passado, hoje as mudangas so mais rapidas e mais complexas € diversificadas. Vale dizer que a realizagao académica é apenas uma das caracteristicas do adolescente-aluno que decorre da complexidade ja referida e que | 53 | resulta na pessoa que ele é, mas que, como todas as demais, das varias idades, esté sempre em transformagao. Tecidas essas consideragées gerais, podemos enfocar alguns aspectos mais especificos, resultantes das varidveis aan e intrafamilia e de suas relaces com a realizagio académica do aluno. A escola e a realizacao académica dos alunos eee eeeccccee Aadolescéncia é um periodo que, de inicio, foi considerado de rebelido, crises, patologias e problemas de comportamento, mas, conforme Santrock (1997/2006) bem justifica, em face das evidéncias disponiveis, ela é uma fase de evolucao, de tomada de decisées importantes, de integracao a um mundo que esta sempre mudando. A problemética decorrente pode fazer da adolescéncia tanto o melhor como o pior tempo da vida dos adolescentes de hoje. Acresce-se af que as contingéncias diversas mostram que, cada vez mais cedo, as criangas estado entrando tanto na adolescéncia biolégica (puberdade e menarca) como na Psicossocial (namoro, sexualidade, escolhas diversas que influirio em suas vidas, anorexi; > Padrdes de fisico e comportamento). Esse quadro também corre na escola, os niveis de ensino etc., que requerem muita flexibilidade e rn Pressionam muito os alunos. E preciso que 0 contexto académico seja competente Para atuar facilitando as opgGes e reduzindo o im, ipacto negativo de variaveis, como auséncia de atengao: q personalizada, tratamento impessoal em escolas com muitos alunos, falta de acesso a psicélogos ¢ conselheiros escolares, entre outros aspectos. Tanto a escola softe a influéncia das sucessivas geracoes que recebe como leva a mudangas marcantes nos jovens que a frequentam. Nesse aspecto, um primeiro item a ser lembrado € que, por razGes diversas (financeiras, mudanga de residéncia, trabalho, separagao dos pais etc.), muitas vezes, ao longo da vida académica, muitos alunos mudam de classe, de professores, de escola, o que pode trazer reducao na realizagdo académica, pois se requerem concomitantemente muitas adaptagdes do jovem (materiais, métodos, professores, colegas, regras), gerando por vezes medo, stress, fragilidade e comportamentos inadequados. Nessas circunstancias, conforme revisdo de Cotterell (1996), € comum ocorrerem perdas na realizagao académica. udancas na sociedade também esto associadas a mudangas na educacio, mas atualmente as mudangas fora da lerado, especialmente escola estao ocorrendo em ritmo muito acel eA tecnologia, € os jovens esto muito integrados As m no que concern para se comunicar. Nesse aspecto, assimilar as tecnologias nsformé-las em a elas e as usam ativamente a escola nao consegue mudar nem de comunicagao no mesmo ritmo para tral [55] i 6 i is, quer recursos educacionais, quer por questées financeiras, quer por limitagdes nos recursos humanos, quer ainda pela necessidade de cientificamente testar as propostas antes de generalizar seu uso como meio de ensino. Obter evidéncias educacionais requer tempo e também avaliagao de médio e longo prazo. Pela revisao feita por Cotterell (1996), um dos erros cometidos e que precisa ser corrigido é 0 da criagao de grandes escolas, juntando um mimero muito grande de jovens no inicio da adolescéncia ou jé no ensino médio, Todos acabam sendo inadequadamente atendidos. A pretendida redugao de custos pela maximizagao de uso dos recursos mostra-se inadequada e vem acompanhada de queda nos niveis de participacao nas atividades escolares, no aproveitamento e na realizagdo académica. ‘Também com 0 gigantismo da escola cresceram a apatia, os comportamentos inadequados, a violéncia e a incapacidade de atender as necessidades de cada aluno. Também foi constatado que escolas menores apresentam clima mais favordvel ao. -aprendizado, mais calor emocional, oportunidades para os alunos assumirem papéis diferentes e fazerem crescer 0 comportamento pr6-social. No caso dos jovens do ensino médio, em transigdo para a universidade, a situagao fica ainda mais adversa em escolas muito grandes. Eles acabam nao tendo uma ideia nitida da administraco, que fica distante, nem ficando cientes das mudangas curriculares, al Alem de as escolas muito grandes nao serem mais eficientes- psicoeducacionalmente, hd no Brasil um outro problema, resultante do mimero muito grande de alunos por classe. vezes, Além disso, muitas nao ha um preparo adequado para a passagem do primeiro ao segundo ciclo do ensino fundamental ¢ deste para o ensino médio. Esse € um problema para o qual outros paises procuravam solugdes jé nos anos 1970-1980, com base em evidéncias do ue realmente € relevante para melhorar o quadro educacional, ue realmente ¢ relevante | _especialmente se valendo de uma melhor capacitagao docente e da dlucdo do gigantismo de algumas escolas, reduzindo, assim, os “problemas de stress em professores ealunos, os aspectos negativos ja referidos, inchuindo comportamentos inadequados entre pares (educadores ¢ alunos), como agressio, violéncia, afastamento ¢ liderangas negativas, alienacdo social, clima de sala de aula adverso, uso de drogas ¢ evasio escolar Sintetizando SugestOes para apoiar 0 adolescente na escola, _a fim de que tenha bom desempenho académico ¢ dlesenvolva su ‘potencial, Santrock (1997/2006) sugere estas medidas dteis: (1) tornar as escolas muito grandes | menos impessoais, criando Pequenos grupos ou comunidades; 6) ‘ter conselheiros na razio de 10 alunos por conselheiro; (3) envolver pais ¢ lideres da comunidade nas atividades da escola; (4) cuidar para que o curriculo atente Para leitura/escrita, ciéncias e matematica, com énfase na satide, na ética e na cidadania; (5) ter uma equipe docente flexivel, que atue de forma integrada, sem fragmentar nem desconectar o saber, sem estabelecer rigidamente aulas de 50 minutos; (6) cuidar da satide [57] estudantil. Vale acrescentar que, Para @ realizagio académica, ¢ preferivel recorrer a prevencio do que & intervenga0. hd outras providencias 4 ¢ influéncias da escola que geram Entretanto, jue se fazem necessarias para reduzir o impacto di problemas psicossociais € que acab gue nao tem como resolvé-los. Isso prejudica seu desempenho am por estressar 0 aluno. académico e agrava outros problemas biopsicossociais que ele presente. mica dos alunos A familia e a realizacao acadé1 No ambito familiar, é preciso que oS filhos confiem no conhecimento que os pais tém ou que estes saibam orientar os filhos a buscar bases e formas adequadas para que a) uerem. £, uma forma, também, de manter prendam que precisam eo que q ‘uma ligacdo entre pais e filhos. Conforme Santrock (1997/2006), os adolescentes tenham éxito quando os pais \e interesse em suas é mais provavel que demonstram afeicao e respeito por eles, firm do ¢ se adaptando as mudangas decorrentes do vidas, reconhecent \s filhos, quando desenvolvimento cognitivo ¢ socioeconémico do comunicam a eles os padrées esperados de conduta e realizagao académica ¢, além disso, quando usam meios positivos para lidar com os problemas ¢ conflitos que possam surgit. E preciso que tenham conhecimentos e saibam agir consoantemente diante do necessario enfrentamento de qualquer problema, buscando solugdes com harmonia. [581 Ao longo da vida, no convivio com os pais, 0 adol as al sofreu o impacto da influéncia de seus genitores que, como lembra Gomide (2003), procuram orientar 0 comportamento dos filhos de acordo com os padrdes de moral ¢ de ado que adotam e que esperam que, no futuro, Ihes deem independéncia, autonomia, responsabilidade e competéncia social. Para tanto, recorrem a diversas estratégias, também denominadas estilos parentais. As praticas positivas que adotam podem ter efeitos positivos e vio se refletir na competéncia social, moral e no comportamento dos filhos na escola. Usar praticas negativas, fisicas ou psicolégicas, pode gerar comportamentos inadequados, que também aparecerdo na escola, com varios problemas para a crianga e para o adolescente, como 0 baixo desempenho académico. A adolescéncia é também um periodo de risco; tanto contingéncias do lar como da escola podem gerar problemas diversos, como stress e outros distirbios emocionais. Tais circunstncias, conforme revisio de Gourley (2009), podem levar A evasao escolar e 4 nao obtengao do diploma de ensino médio. Ha diferencas individuais e de género, mas os problemas sao alarmantes de modo geral. Considere-se, por exemplo, o falhar na escola. Frequentemente, isso se associa a expulsio, suspensio ou evasio com maior frequéncia entre os rapazes do que entre as mogas (22% versus 17%, respectivamente). No entanto, 33% das adolescentes que se evadem do ensino médio entram ém na em depressio, 0 que ocorre com 19% das que se mantém {591 escola (McCarty et al. 2008). Muitos dos que apresentam problemas emocionais tendem a faltar ou a chegar tarde ¢ isso pode melhorar significativamente com um atendimento psicoeducacional. A origem desses problemas tende a vir dos contextos do lar, da atividade académica, do trabalho, das relagées familiares e da vida social. Segundo dados da Substance Abuse and Mental Health Services Administration (Samhsa 2008), mais de 50% dos adolescentes relatam problemas em pelo menos um desses contextos. Nessas circunstancias, é [recomendado que as escolas mantenham contrato com servigos ou oferegam atendimento para diagnéstico e orientacao, 86 fazendo encaminhamentos nos casos mais graves e sem viabilidade de atendimento na escola. Consideracées finais se ecceee Escola e familia sdo dois contextos que podem gerar diversos problemas biopsicolégicos ¢ psicossociais nos adolescentes, com efeitos no seu desempenho académico e nas Perspectivas de futuro. Ha uma ampla variagao de gravidade. Isso tende a ocorrer quando ha falta de envolvimento ou envolvimento inadequado entre pais ¢ filhos, quando os pais nao sabem como resolver os problemas familiares, quando as familias sao desestruturadas ou violentas, com caréncia de regras valores definidos, desmotivadoras. A escola pode detectar esses problemas precocemente, especialmente contar com um bom psicdlogo escolar, que planeje e programe | 60| * intervengoes envolvendo 0 lar e a escola, cursos de orientagao ou grupos de atendimento a pais que convivem com os mesmos problemas ou, ainda, conforme 0 caso, fazendo o encaminhamento para um atendimento clinico. A escola pode gerar problemas diversos que tendem a se complicar com 0 tempo. Eles decorrem da adocdo impositiva de uma tinica “teoria ou modelo” de ensino-aprendizagem, da inadequago de materiais, de meios diversos e estratégias, j4 que hd uma grande variedade de alunos, de professores insuficientemente idade formados, desatualizados, desmotivados, de incompatibi entre a cultura académica e o contexto de vida do aluno, frequentemente ignorado e nao trabalhado pela escola etc. Para que o adolescente tenha éxito académico, é preciso uma melhor integracao entre escola e familia. Conseguir uma boa realizacgio académica pode ter efeito positivo no controle do stress, na autoestima, no autocontrole, na autoeficdcia e em muitos outros aspectos presentes e futuros do jovem. Ajuda- dificuldades na escola € contribuir para que lo a superar suas académica, mas em toda possa se sair melhor nao so na vida sua existéncia. Referéncias bibliograficas NCI, J.Q. (2006). Resiliéncia: ‘centes. Porto Alegre: Artmed. ASSIS, $.G. de; PESCE, R.P. ¢ AVAL Enfatizando a protegao dos adoles jor | CARO, S.M.P. (1998). Adolescentes desprotegidos e necessidades especiais, Sio Paulo: Salesiana Dom Bosco. COHEN, E.E. (1945). “A teen-age bill of rights”. Times Magazine, 7 de janeiro, pp. 16-17. CONTINI, M. de L.J.; KOLLER, $.H. ¢ BARROS, M.N. dos 5, (orgs.) (2002). Adolescéncia & psicologia: Concepées, praticas ¢ reflexdes criticas, Brasilia: Conselho Federal de Psicologia e Ministério da Satide. COTTERELL, J. (1996). Social networks and social influences in adolescence. 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