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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO

Disciplina: Filosofia da Educação I Professor: Homero Luís Alves de Lima


Estudante: Marcelo de Paiva Ribeiro Matricula: 538046

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo, Editora Ática. 2006.

Platão, célebre filósofo, teve como genitor Apolo e nasceu da virgem Perictione, nascido
no ano 427, segundo seus biográficos os escritos destinados a este filósofo não se limita a vida
de um homem, visto que são tributos determinados por um gênio. Nesse sentido, a concepção
platoniana afirma que o Thaumazein(espanto) é a origem de toda a filosofia, pois esse assombro
se faz presente na vida de todos os filósofos e o ato de pensar se exprime por meio de um
discurso(logos) silenciosamente e a si mesmo. É elementar destacar a analogia que Platão faz
na obra A República por meio do mito da caverna ao modo de vida sombrio que os indivíduos
se encontravam, o qual se aplica sublimemente a diversos cenários no mundo contemporâneo.
Desse modo, por intermédio da interpretação de Marilena Chauí será retratado os fatores mais
pertinentes.

Em primeiro plano, é necessário idealizar uma caverna escondida, onde por inúmeras
gerações há pessoas encarceradas desde a infância com seus membros acorrentados de tal forma
que não conseguem se movimentar, permanecendo em uma única posição, destinando sua visão
a contemplar somente sua fronte, sem ao menos realizar o movimento de seu pescoço. A
caverna possui uma entrada, permitindo que uma pequena luminescência exterior penetre o
ambiente, de maneira que na semi-sombriedade possa se enxergar o que acontece ali.

Nessa condição, o feixe de luz que permeia o ambiente, provém de um grande e alto
fogaréu externo, entre essa fonte de luz e os encarcerados, no exterior há um caminho onde foi
levantada uma muralha, tornando a condição daquelas pessoas semelhante à um palanque de
marionetes. Desse modo, é projetado para os encarcerados por meio do fogaréu a sombra de
diversas esculturas, como a de ser humanos, animais, aves e de tudo que se passa no exterior,
limitando-se apenas a essa representação falsa da realidade, sem poder conhece-la
verdadeiramente.
Em decorrência disso, os encarcerados observam as sombras como uma realidade
determinada, pois não sabem que são frutos de uma exibição condicionada das coisas, sendo
inconcebível a existência de “outro mundo”. Dessa forma, eles desconhecem que a
luminosidade que impera na caverna é resultado do fogaréu e da luminosidade externa, logo
acreditam que esse fulgor de luz é o único no mundo.

Seguindo o estudo, o filosofo questiona o que aconteceria se um dos encarcerados fosse


libertado, o que executaria? A princípio, observaria todo o ambiente como uma criança admira
novas sensações, apreciaria a caverna, a representação das esculturas e o fogaréu. Apesar de
sensível devido aos anos de paralisia, buscaria caminhar lentamente conduzindo-se a saída da
caverna, esbarrando com a passagem e nela adentraria.

Concomitantemente, permaneceria inteiramente ofuscado, pois o fogaréu na realidade é


a luminescência do sol, ocasionando o obscurecimento de sua visão. Após familiarizado com o
ambiente, distinguiria que as esculturas são na verdade outros homens, o fogaréu é o sol,
constatando-se, portanto, que toda sua vida não passará de uma encenação, pois a sua existência
se restringiu a vislumbres condicionados pela esfera que habitava.

Nesse contexto, eximido da caverna e esclarecido do mundo, o encarcerado retornaria a


prisão ficando novamente erradio pela obscuridade, informaria aos demais o que observará e
tentaria por meio do diálogo transformar o pensamento limitado dos que estavam naquele
ambiente, afim de mostrar uma nova perspectiva do mundo.

É inegável que nesse regresso a caverna, o encarcerado não seria compreendido por seus
colegas, pois devido o condicionamento causado pelo ambiente em que estavam, tudo o que
eles conheciam era admitido como verdades inquestionáveis, alegando, portanto, que não há
nenhuma realidade fora aquela. Desse modo, qualquer outra visão é reconhecida como uma
alucinação. Logo, após o encarcerado relatar toda a existência de um novo mundo, seus colegas
debochariam de sua fala, e diante as tentativas de transformar os pensamentos limitados dos
seus companheiros, a insipiência imperaria, de forma que seus colegas tentariam assassina-lo.
Contudo, talvez, um dos encarcerados seguido de muito diálogo buscaria verificar se tal mundo
descrito pelo homem livre existe e o acompanhe para fora da caverna.

Em uma analogia ao mito da caverna, na contemporaneidade a sociedade carrega com


si, uma visão patriarcal, de forma que a heterossexualidade é o único modelo de organização
relacional afetivo sexual que a coletividade é apresentada e toda relação que seja diferente desse
padrão é condenado pelo corpo social, ou seja, as diferentes formas de se relacionar que o ser
humano desenvolveu ao longo do tempo, perpetuando a heterossexualidade compulsória.

Nesse sentido, a heterossexualidade compulsória empregada como uma “normatividade


social” admite a forma da caverna, que acorrenta todas as pessoas que nascem nesse ambiente,
sendo forçadas a seguir essa realidade, imposta pelas sombras da heteronormatividade e pelos
grilhões que os aprisiona. A heteronormatividade impõe que apenas as relações entre as pessoas
do sexo oposto são corretas. Os grilhões são os principais perpetuadores da heterossexualidade.
Dessa maneira, a igreja, o conceito de família e as escolas representam os grilhões que impõe
a heterossexualidade e abominam qualquer outra orientação sexual. A igreja apresenta esse
papel no momento em que seu discurso evangelizador condena todas as pessoas que não sejam
heterossexuais ao “inferno”, ambiente este que segundo a religião cristã todas as pessoas que
descontentarem a Deus, estarão fadadas.

Outro grilão é o conceito de família heterossexual manuseado pela coletividade, no qual


é composta por um homem e por uma mulher, ou até mesmo um dos indivíduos sozinho, ou
seja, é preferível pela coletividade que as crianças vivam em orfanatos ou nas ruas em condições
desumanas do que possuírem uma família homossexual. O último grilhão manifestado nessa
alusão é o da escola, instituição social que atua como reprodutora de padrões discriminatórios,
na medida em que qualquer diálogo abordado pelos alunos sobre diversidade sexual é cortado
imediatamente na maioria dos casos pelos docentes.

As esculturas retratadas na caverna são a representação de vários casais héteros,


enfatizando a existência dessa relação como única, verdadeira e digna de vivenciar na fase
adulta. Nessa perspectiva, todas as pessoas idealizam um dia encontrar alguém do sexo oposto
para concretizar esse “sonho” de vida. O fogaréu é a própria filosofia que cerca toda a caverna
e atinge em pequenos feixes de luz os homens que estão ali, entretanto nenhum homem tinha
buscado conhecer essa luz, pois portava consigo medo da repressão do corpo social.

Contudo, um dia, um homem decide procurar conhecer o fogaréu que tanto o agita
interiormente, então esse desejo de conhecer o fogaréu destrói todos os grilhões que o aprisiona.
Em um primeiro momento, o homem contempla o sentimento de liberdade, de modo que ao
mesmo tempo percebe a tristeza que impera no rosto de algumas pessoas que vivem naquela
caverna. Posteriormente, motivado pelo desejo de conhecer o que o espera naquela luz que
cerca a caverna, o homem se direciona a saída daquele ambiente, ao sair ele aprecia e admira
uma realidade diferente, predominante de relações diversas, casais de homens andam de mãos
dadas e se beijam, casais de mulheres também e não há nenhum julgamento social naquele
local, as pessoas são o que elas são, não reprimem sua identidade, não há nenhum grilhão para
os acorrentar, elas apenas vivem sua felicidade de forma livre.

Entusiasmado com toda aquela descoberta, o homem debuta em choro, pois sempre foi
imposto há viver uma vida que não desejava, a ter ideais de relações que ele não sonhava, e a
partir desse momento poderia ser quem ele é, a viver conforme sua identidade, a sua natureza
de ser humano. À medida que o homem ficou esclarecido da existência de um mundo em que
podia manifestar sua identidade e ser livre, ele se lembrou das pessoas que estavam aprisionadas
na caverna, então decidiu retornar para revelar que todos os valores que elas conheciam como
únicos e verdadeiros não passavam de uma ilusão condicionada pela caverna.

Sem dúvidas, as pessoas não o compreenderam, pois para elas não existia a possibilidade
desse mundo relatado pelo homem liberto, logo o julgaram como um devasso, doente,
merecedor de piedade por Deus, pois estava condenado a morte. Talvez depois de muito diálogo
alguém da caverna teria coragem de enfrentar os grilhões para manifestar sua identidade e
conhecer junto com o homem liberto esse mundo acolhedor das diferenças e que não impõe
valores segregadores.

Diante dessa alusão, é perceptivo que a sociedade contemporânea possui inúmeras


cavernas, que condicionam muitas pessoas a viver o modo pregado como único e verdadeiro.
Nesse sentido, cabe a nós buscar essa liberdade, esse desejo de conhecer novas perspectivas de
pensamentos, não se limitando a modos de vida excludentes e destruindo a perpetuação de
preconceitos na história da sociedade.

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