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O movimento punk emergiu no final da década de 1970, originado principalmente

nas bandas inglesas da época. Além de ser reconhecido como um estilo musical peculiar, o
punk também se estabeleceu como um modo de vida distintivo. Caracterizado por sua
sonoridade simples e acelerada, o punk destacou-se tanto pela sua atitude musical quanto
por suas manifestações políticas. Bandas emblemáticas como Sex Pistols se notabilizaram
por suas letras agressivas, que denunciavam questões políticas, e esse engajamento
político contribuiu para a atração de uma nova audiência - uma plateia participante e
identificada com uma estética visual contundente. Moldando a trajetória do movimento punk
ao longo de um extenso período de tempo.
É imprescindível ressaltar que a emergência do movimento punk se deu em um
momento em que as bandas de rock estavam no auge de sua expressão artística,
demonstrando toda a sua complexidade musical e material. Essa complexidade abrangia
desde a elaboração meticulosa das composições, englobando elementos como riffs, ritmos
e solos, até a utilização de equipamentos de última geração. As diferentes vertentes do
rock, tais como o hard rock e o heavy metal, eram concebidas como produtos resultantes de
um extenso período de dedicação e investimento financeiro, e se destacavam tanto por sua
estética singular quanto pelo seu som característico.
Considerando que o rock possuía e ainda possui uma abrangência internacional,
proporcionando um contato com ritmos diversos e provocando alterações no equilíbrio pré-
estabelecido, bem como apresentando um potencial para introduzir elementos inovadores
em diferentes culturas, ele se configurava como um princípio político em si mesmo. No
entanto, ao longo do tempo, o rock foi gradualmente perdendo sua função política, à medida
que se rendeu a uma lógica comercial, banalizando-se ao se tornar uma mera mercadoria e
uma tendência pronta para ser consumida.
Nesse contexto, o movimento punk assumiu um papel fundamental ao resgatar a
força política do rock, uma vez que ele não se limitava apenas à sonoridade, mas também
se constituía como uma intervenção significativa no cenário musical, por meio de suas letras
contestadoras e de suas atitudes disruptivas. Desse modo, o punk emergiu como uma
resposta, revitalizando o caráter político que havia se perdido, e imprimindo uma nova
dinâmica na esfera musical.

Já no brasil o município do Rio de Janeiro torna-se palco do movimento punk, se


configurando como um campo de estudo de relevância para Janice Caiafa em sua análise
da organização do Movimento Punk. A pesquisadora argumenta que tal movimento emergiu
concomitantemente à ressurgência do gênero musical rock na cidade, engendrando a
formação de inúmeras bandas e a abertura de estabelecimentos voltados a essa expressão
artística. A Lapa e a Cinelândia são exemplos de localidades investigadas por Caiafa, uma
vez que ela constata que esses núcleos sociais operam tanto como espaços de encontro
quanto de conflito, assim como um show de horrores estetico por parte das vestimentas
punks, para aqueles que não faziam parte do movimento como os “boys” (jovens
geralmente de classe media/alta que não faziam parte do movimento) a estética peculiar
desse movimento é devidamente considerada e analisada pela autora em sua obra. Nesse
sentido, ela provê uma descrição minuciosa do visual adotado pelos integrantes desse
movimento subcultural,. citação estetica no formato de citação onde ela explica e desenha
os adereços

Usando métodos que vão alem do comum na pesquisa antropológica, como


observação e interação direta, a pesquisadora Janice Caiafa conseguiu descrever
detalhadamente os lugares frequentados pelos punks no Rio de Janeiro atraves da criação
de um “mapa” por onde os punks circulavam. Esses lugares variavam desde os subúrbios
até os locais de shows e as ruas onde eles se encontravam. É importante destacar que
esses pontos de encontro não eram estaves, mas sim mudavam com o tempo. Por
exemplo, às vezes eles se reuniam na Cinelândia e depois se deslocavam em grupos,
seguindo para casas de shows de punk rock. Essas descrições ajudam a entender melhor o
movimento punk e a complexidade das relações sociais e espaciais envolvidas. citação
sobre a locomoção acho legal oq vc acha?
Nesse contexto, é possível perceber a indispensabilidade da aplicação da
metodologia etnográfica para a análise aprofundada desse grupo social em questão.
Considerando as caracteristicas que constroem sua essencia,enquanto um fenômeno
urbano, a pesquisadora antropológica recorre a métodos descritivos como meio de ordenar
as informações pertinentes, pois o meio tradicional de entrevistas não havia funcionado com
esse grupo. A compreensão do movimento punk suscita uma série de indagações acerca da
sociedade moderna, uma vez que tal movimento é sujeito ao estigma de ser uma subcultura
imersa em seu próprio contexto social. Tal estigma deriva da da virtude de suas realidades,
empenhando-se em forjar suas próprias formas de organização no mundo que habitam.
Dentre essas caracteristicas, destacam-se a relação entre a atitude punk e a música, as
práticas dos punks, a dinâmica dos subúrbios, a violência, o protesto e a estética visual. Ao
problematizar tais questões, a pesquisadora recorre à perspectiva de Foucault onde o
movimento interpretativo baseia-se na apropriação de formas de resistência, resultando em
interpretações que se desdobram em interpretações subsequentes. Nesse sentido, o que se
evidencia são produções simbólicas de natureza diversa, cada qual com seus próprios
efeitos e significados. Em síntese, os punks estabeleceram e desenvolveram um modo de
vida fundamentado em sua percepção da sociedade e de sua identidade como um coletivo,
o qual, por sua vez, gera e perpetua sua própria cultura por meio de suas práticas
cotidianas.
A interação estabelecida entre Janine com os membros do movimento punk,
desempenhou um papel de grande relevância no contexto da pesquisa realizada pela
autora. Por meio desses encontros, os punks compartilharam com a pesquisadora a história
do movimento punk na cidade do Rio de Janeiro, remontando ao período anterior à
chegada da própria pesquisadora. Durante essas interações, a pesquisadora pôde
constatar o uso particular de certas palavras e dialetos pelos punks, os quais, em sua
análise, só poderiam ser adequadamente compreendidos no âmbito das múltiplas práticas
engendradas pelo grupo. Ou seja, revela-se fundamental para apreender os diversos
comportamentos e linguagens adotados pelos punks, fazer parte do bando, uma vez que as
palavras são tomadas como símbolos empregados para se estabelecer uma comunicação
entre individuos, sendo assim, um termo simples pode vir a ter significados paralelos para
os membros do bando, criando assim uma forma de resistencia, e ate reconhecimento para
saber entre os desconhecidos quem faz parte do movimento.

Essas observações permitiram a pesquisadora vir a perceber o distânciamento


cultural enfrentada por ela como antropóloga ao realizar estudos em sua própria sociedade,
em um grupo o qual a mesma não havia proximidade, apesar de fisicamente não estar tão
distante, reconhecendo que a não familiaridade com os padrões culturais pode
comprometer a objetividade e neutralidade da pesquisa. Enfatizando a noção de que cada
indivíduo possui experiências e vivências particulares decorrentes de trajetórias singulares,
o que evidencia a heterogeneidade da sociedade e a existência de diversas culturas
internas em contextos urbanos. Aprofundando-se mais, ela ressalta que a posição do
antropólogo é permeada por tais diferenças e descontinuidades, o que reforça a importância
de uma abordagem sensível e reflexiva ao lidar com a diversidade cultural no contexto de
sua própria sociedade afinal, o antropólogo precisa se comprometer com seu objeto de
pesquisa, uma vez que o estranhamento cultural envolve, em primeiro lugar, uma reflexão
sobre si mesmo. Isso implica questionar seus conceitos já pré-estabelecidos, assim como
adotar uma postura crítica em relação à sua própria cultura e estar aberto ao diálogo com
os sujeitos investigados. Afinal o estranhamento é um processo de desnaturalização que
permite uma compreensão mais profunda e imparcial do fenômeno estudado,
argumentando que o pesquisador deve realizar uma reflexão interna para estabelecer uma
relação entre os conceitos teóricos e a experiência vivenciada no campo de estudo.
O estranhamento cultural, é discutido por Gilberto Velho como uma característica
peculiar da antropologia, é considerado parte intrínseca dessa disciplina. Nesse sentido, a
utilização dessa distância cultural é vista como uma "ferramenta" que permeia a posição do
pesquisador, possibilitando a realização de pesquisas em qualquer contexto. Essa distância
cultural permite uma compreensão mais profunda e crítica do fenômeno estudado. fael
reescreve essa parte pois não sei se compreendi bem, e vc pareceu compreender bastante
o velho, gilberto velho.

Para finalizar, retorna-se ao nessa passagem do texto onde Caiafa teve a


oportunidade de presenciar um show da banda punk localmente famosa, Coquetel,. Durante
o evento, ela observou a postura um pouco peculiar adotada pelo grupo de punks, e assim
relata em sua obra:
O Coquetel não toca para agradar ninguém, não há sequer um movimento de
reverência a quem assiste, nem preocupação de que o público se divirta. Eles não procuram
um lugar para poderem ser acolhidos uma próxima vez. Interessa tão somente provocar
explosão agora, aproveitar o momento para o máximo de intensidade." (CAIAFA, 1985, p. 66).

Logo, depreende-se que esse movimento punk se construiu em torno de suas


particularidades, e os integrantes por não estarem totalmente dentro das normas do status
quo, são julgados como rebeldes.
Em vista disso, Caiafa observa a influência da condição social dos punks
em sua conduta. A maioria deles é pobre, mora nos subúrbios da cidade do Rio, utiliza
transportes urbanos precários. Eles pulam os muros ou passam pelo buraco das cercas
quando vão aos shows, sempre juntos tentando viver em meio ao caos da cidade. Como
consequência, aflora a rebeldia, a violência, a marginalidade e a divergência com outros
grupos.

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