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E-Book - Direito Civil - Sucessões (Prof. Dra. Maitê Damé)
E-Book - Direito Civil - Sucessões (Prof. Dra. Maitê Damé)
MATERIAL DE APOIO
DIREITO DAS SUCESSÕES
maitelemos@ceisc.com.br
SUMÁRIO
1. SUCESSÃO EM GERAL ..............................................................................................................4
1.1 Abertura da sucessão ...................................................................................................................4
1.2 Momento da transmissão da Herança - Comoriência (Art. 8º CC) ............................................ 10
1.3 Transmissão da Herança - Princípio da Saisine ........................................................................ 12
1.4 Lugar em que se abre a sucessão ............................................................................................. 14
1.5 Espécies de sucessão................................................................................................................ 16
1.6 Espécies de sucessores ............................................................................................................ 17
1.7 Herança e espólio ...................................................................................................................... 21
1.8 Herança como um todo unitário e indivisível ............................................................................. 21
1.9 Cessão de direitos hereditários .................................................................................................. 23
1.10 Responsabilidade dos herdeiros .............................................................................................. 26
1.11 Abertura do Inventário – art. 1.796 .......................................................................................... 26
1.12 Administração provisória da Herança ...................................................................................... 27
1.13 Vocação hereditária - Capacidade para suceder - Art. 1.787 .................................................. 28
1.14 Aceitação da herança .............................................................................................................. 34
1.15 Renúncia da herança – Art. 1.806, CC .................................................................................... 38
1.16 Excluídos da sucessão – art. 1.814 a 1.818, CC ..................................................................... 46
1.16.1 Indignidade – ART. 1.814 ..................................................................................................... 47
AÇÃO DE INDIGNIDADE ..................................................................................................... 55
1.16.2 Deserdação ........................................................................................................................... 58
AÇÃO DE DESERDAÇÃO – ART. 1.965............................................................................. 62
1.17 Herança jacente e herança vacante - Art. 1.819 a 1.823 ........................................................ 66
1.18 Petição de herança - art. 1.824 a 1.828, CC ........................................................................... 69
AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA....................................................................................... 75
2. SUCESSÃO LEGÍTIMA ........................................................................................................... 79
2.1 Ordem da vocação hereditária - arts. 1.829 a 1.850 ................................................................. 79
2.2 Herdeiros necessários................................................................................................................ 93
2.3 Direito de representação ............................................................................................................ 96
3. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA ............................................................................................. 103
3.1 Conceito ................................................................................................................................... 103
3.2 Características ......................................................................................................................... 104
3.3 Capacidade para testar - art. 1.860 ........................................................................................ 105
3.4 Incapacidade para testar (art. 1.860) ....................................................................................... 106
3.5 Formas ordinárias de testamento ............................................................................................ 108
3.6 Formas especiais de testamento ............................................................................................. 115
3.7 Disposições testamentárias em geral - Art. 1.897/1.911 ......................................................... 118
3.8 Invalidade das disposições testamentárias ............................................................................. 121
3.9 Rompimento do testamento ..................................................................................................... 121
3.10 Revogação do testamento ..................................................................................................... 122
3.11 Legados – art. 1.912 e seguintes, CC.................................................................................... 125
3.12 Direito de acrescer entre herdeiros e legatários – art. 1.941 CC .......................................... 126
3.13 Substituições testamentárias ................................................................................................. 130
3.14 Redução das disposições testamentárias ............................................................................. 133
3.15 Testamenteiro ........................................................................................................................ 134
4. INVENTÁRIO E PARTILHA .................................................................................................... 139
4.1 Inventário .................................................................................................................................. 139
4.2 Inventário negativo ................................................................................................................... 139
4.3 Inventário conjunto ................................................................................................................... 139
4.4 Dispensa de Inventário............................................................................................................. 140
4.5 Inventário Judicial..................................................................................................................... 140
ABERTURA DE INVENTÁRIO ................................................................................................ 146
PRIMEIRAS DECLARAÇÕES ................................................................................................ 149
INVENTÁRIO PELO RITO DO ARROLAMENTO SUMÁRIO................................................. 153
INVENTÁRIO PELO RITO DO ARROLAMENTO ................................................................... 158
4.6 Inventário administrativo .......................................................................................................... 162
2
4.7 Sonegados ............................................................................................................................... 163
4.8 Do pagamento das dívidas ...................................................................................................... 164
HABILITAÇÃO DE CRÉDITO ................................................................................................. 166
4.9 Colação .................................................................................................................................... 169
4.10 Partilha ................................................................................................................................... 173
ESBOÇO DE PARTILHA....................................................................................................... 175
SOBREPARTILHA ................................................................................................................ 179
4.11 Garantia dos quinhões ........................................................................................................... 181
4.12 Anulação da partilha............................................................................................................... 181
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011. SUCESSÃO EM GERAL
a) Morte real
Aquela que se dá com corpo presente, ou seja, existe a materialidade (morte
natural, por atropelamento, por um tiro, cerebral...). Neste caso, necessário um laudo
médico, atestando a morte, para a elaboração do registro do óbito.
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- Desaparecimento do corpo da pessoa, sendo extremamente provável a
morte de quem estava em perigo de vida;
- Desaparecimento de pessoa envolvida em campanha militar ou feito
prisioneiro, não sendo encontrado até dois anos após o término da guerra.
1 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das sucessões. V. 6. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p.
13.
2 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das sucessões. V. 6. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p.
14-20.
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Uma vez que tenham sido arrecadados os bens do ausente, o art. 745,
CPC/2015 determina que seja publicado edital na internet, no site do Tribunal de
Justiça e na plataforma de editais do CNJ, onde deverá permanecer por 1 ano. Não
havendo site, a publicação deve ocorrer, de dois em dois meses, no órgão oficial e
na imprensa da Comarca.
Passado 1 ano da arrecadação dos bens do ausente e da nomeação do
curador, a sucessão provisória poderá ser aberta pelos herdeiros. Se o ausente tiver
deixado representante, o prazo para abertura da sucessão provisória é de 3 anos
após a arrecadação. Essa é a previsão do art. 26, CC:
Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele
deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os
interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente
a sucessão.
O CPC/2015, contudo, traz a previsão, no § 1.º do art. 745, que o edital fará a
previsão de prazo e, no final deste prazo, é que poderá ser requerida a abertura da
sucessão provisória.
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I - o cônjuge não separado judicialmente;
II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;
III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua
morte;
IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.
Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão
garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes
aos quinhões respectivos.
§ 1º Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a
garantia exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe
deviam caber sob a administração do curador, ou de outro herdeiro
designado pelo juiz, e que preste essa garantia.
§ 2º Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua
qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na
posse dos bens do ausente.
Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por
desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a
ruína.
Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarão
representando ativa e passivamente o ausente, de modo que contra eles
correrão as ações pendentes e as que de futuro àquele forem movidas.
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Os herdeiros têm direito a percepção dos frutos dos bens. Se descendente,
ascendente ou cônjuge, percebem todos os frutos. Os demais sucessores, somente
a metade.
Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório
do ausente, fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a este
couberem; os outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses
frutos e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo com o
representante do Ministério Público, e prestar anualmente contas ao juiz
competente.
Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi
voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos
frutos e rendimentos.
Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória poderá,
justificando falta de meios, requerer lhe seja entregue metade dos
rendimentos do quinhão que lhe tocaria.
Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exata do
falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa data, aberta a sucessão em
favor dos herdeiros, que o eram àquele tempo.
Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a
abertura da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a
sucessão definitiva e o levantamento das cauções prestadas.
Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o
ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas
notícias dele.
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4.º do art. 745, CPC/2015 determina que no retorno do ausente deverão os
sucessores provisórios ou definitivos serem citados para contestar:
Cristina dos Santos desapareceu após uma enchente provocada por uma forte tempestade que
assolou a cidade onde morava. Considerando estar provada a sua presença no local do acidente e
não ser possível encontrar o corpo de Cristina para exame, responda aos itens a seguir, empregando
os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.
a) Trata-se de hipótese de morte presumida? (Valor: 0,65)
b) Qual é o procedimento para realização do assento de óbito de Cristina? (Valor: 0,60)
PADRÃO DE RESPOSTA:
a) Sim. Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência, se for extremamente
provável a morte de quem estava em perigo de vida. Nesse caso, a declaração de morte presumida
3GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 6.ed. São Paulo:
Saraiva, 2012, p. 34.
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poderá ser requerida após esgotadas as buscas e averiguações. (Artigo 7º, I, e parágrafo único, do
CC)
b) O artigo 88 da Lei de Registros Públicos consagra um procedimento de justificação, nos termos
dos artigos 861 a 866 do CPC, para a finalidade de proceder ao assento de óbito nos casos de
desastre ou calamidade, no qual não tenha sido possível realizar exame médico no cadáver.
Maria de Sousa, casada com Pedro de Sousa, desapareceu de seu domicílio, localizado na cidade de
Florianópolis, sem dar notícias e não deixando representante ou procurador para administrar seus
bens. Passados dez anos do trânsito em julgado da sentença de abertura da sucessão provisória dos
bens deixados por Maria, seu marido requereu a sucessão definitiva.
Considerando o caso relatado, utilizando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação
legal pertinente ao caso, responda aos itens a seguir.
A) Em qual momento haverá a presunção de morte de Maria? (Valor: 0,60)
B) A presunção de morte de Maria tem o condão de dissolver o casamento entre ela e Pedro? (Valor:
0,65)
PADRÃO DE RESPOSTA:
A) Após a abertura da sucessão definitiva. O Art. 6º, do CC, admite a morte presumida, quanto aos
ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva. (Art. 6º c/c Art. 37, do
Código Civil).
B) Sim. O inciso I e o § 1º do Art. 1571 estabelecem que a sociedade conjugal termina com a morte
de um dos cônjuges, aplicando-se a presunção estabelecida pelo Código Civil quanto ao ausente.
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condições que não há como se precisar qual faleceu primeiro (em um acidente de
carro com morte instantânea, por exemplo).
A isso se dá o nome de comoriência, questão que se encontra prevista no
art. 8.º do Código Civil:
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mas devem ser chamados a sucessão os herdeiros daqueles que faleceram, 50%
cada. Os bens serão herdados, respectivamente, por seus parentes, na ordem
da vocação hereditária do art. 1.829 CC.
O Enunciado 610 das Jornadas de Direito Civil prevê que em casos de
comoriência de ascendente e descendente, haverá o direito de representação aos
descendentes. Isto também ocorre em caso de comoriência de irmãos, quando
haverá o direito de representação aos filhos dos irmãos.
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se ao patrimônio dos herdeiros. Trata-se do período existente entre a abertura da
sucessão e a aceitação ou renúncia da herança.
No caso da aceitação, o efeito é retroativo à data do óbito. A aquisição dos
direitos não ocorre com a aceitação, mas sim com a morte do autor da herança. A
aceitação é apenas uma confirmação do direito do herdeiro, mas trata-se de um ato
essencial, já que ninguém pode ser herdeiro contra sua vontade (VENOSA, 2012, p.
15). Havendo renúncia, entende-se que o renunciante jamais foi herdeiro.
A importância de saber o momento da morte é para que seja definida a lei que
regula a sucessão e a capacidade (legitimidade) para suceder, nos termos do art.
1.787, CC:
Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao
tempo da abertura daquela.
13
condomínio (co-herdeiros) (GONÇALVES, 2012, p. 39). Aqui aplicam-se as regras
de condomínio.
c) O herdeiro que sobreviver ao de cujus faz sua a herança por ele deixada.
Ainda que numa fração de segundo. Ele incorpora ao seu patrimônio deixado pelo
morto (GONÇALVES, 2012, p. 41).
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ESTRANGEIRO:
Na sucessão de bens de estrangeiros, há uma disciplina especial. No caso de
bens de estrangeiros, situados no Brasil, aplica-se, via de regra, a lei do último
domicílio do falecido (lei estrangeira), salvo se a lei brasileira for mais favorável ao
cônjuge ou filhos brasileiros (o benefício é para situações em que o falecido for
casado com brasileiro ou tiver filhos brasileiros). Significa dizer que a lei protege o
direito do cônjuge e dos descendentes em prejuízo de outros herdeiros
(ascendentes, colaterais).
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1.5 Espécies de sucessão
O art. 1.786 define que a sucessão dá-se por lei ou por disposição de última
vontade.
a) Legítima
Decorre da lei; obedece a ordem da vocação hereditária (1.829) - ab intestato
(bens fora do testamento, testamento nulo) – art. 1.788. A sucessão legítima será
sempre a título universal, pois os herdeiros recebem a totalidade dos bens do
falecido, ou, uma fração ideal (não localizada) do patrimônio. Desta forma, os
herdeiros participam da totalidade do ativo e do passivo.
b) Testamentária
Decorre da manifestação da última vontade - bens abarcados pelo testamento
(é válido apenas sobre a quota disponível – 50% da sua parte). O falecido não tem o
poder de dispor livremente e integralmente do seu patrimônio. Havendo herdeiros
necessários (cônjuge, ascendentes e descendentes – 1.845), fica limitado pela
liberdade de testar disposta no art. 1.789, CC. O poder de dispor integralmente só
ocorre na hipótese de herdeiros facultativos.
c) Simultânea:
A sucessão será simultaneamente legítima e testamentária quando houver
testamento e o extinto tiver herdeiros necessários.
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d) Sucessão a título universal e singular
Título universal: o herdeiro é chamado a suceder na totalidade da herança,
fração ou porcentagem. Pode ocorrer tanto na sucessão legítima como na
testamentária.
Título singular: quando a transferência é de bens determinados a pessoas
determinadas. Ocorre, apenas, na sucessão testamentária (quando o testador deixa
um legado).
e) Sucessão contratual
Apesar de não existir herança de pessoa viva (art. 426), é possível a
sucessão contratual, sendo vedado o pacto sucessório. Porém, excepcionalmente,
podem em vida, a teor do art. 2.018, os ascendentes partilharem o seu patrimônio
entre os descendentes por escritura pública (com anuência de todos os
descendentes):
Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de
última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros
necessários.
f) Sucessões irregulares
Sucessão irregular ou anômala é aquela que não obedece às normas próprias
e à ordem da vocação hereditária. A CF/88 estabelece, no art. 5.º, XXXI o benefício
ao cônjuge ou filhos brasileiros, na sucessão de bens de estrangeiros situados no
Brasil, permitindo a aplicação da lei pessoal do de cujus, se mais favorável.
1.6 Espécies de sucessores
Herdeiro ou sucessor é aquele que será beneficiado com o patrimônio
deixado pelo falecido. O herdeiro pode ser legítimo ou testamentário.
a) Herdeiro legítimo
O herdeiro legítimo é o que consta na ordem da vocação hereditária, indicada
pela lei. Art. 1.829, CC. Classificam-se como necessários (descendentes,
ascendentes e cônjuge) e facultativos (colaterais). É chamada a sucessão que
resulta da lei.
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- Necessários (legitimário ou reservatário):
É o descendente ou ascendente sucessível e o cônjuge (art. 1.845, CC), isto
é, todo parente em linha reta não excluído da sucessão por indignidade ou
deserdação (ou renúncia). Os herdeiros necessários não podem ser privados por
disposição de última vontade. Sua existência impede que o testador disponha a
totalidade de seus bens. A eles é reservada a legítima (metade da herança).
Segundo o art. 1.846, pertence aos herdeiros necessários a metade dos bens
da herança (legítima). A legítima corresponde, portanto a metade dos bens da
herança deixada pelo falecido, após a retirada da meação (se houver) e pagas as
dívidas e despesas de funeral. Assim, ao lado da expressão herdeiros necessários
surge a ideia de legítima e de porção disponível, conceitos que estão todos
interligados.
Nesse sentido, o art. 1.789 afirma que havendo herdeiros necessários “o
testador só pode testar a metade da herança”. Não existindo herdeiros necessários
(ascendente, descendente e cônjuge) o testador pode dispor de 100% de seus bens.
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CÁLCULO DA LEGÍTIMA
O art. 1.847 traz a forma de cálculo da legítima. A legítima é calculada sobre a
meação do falecido, representada pelos bens existentes a época da abertura da
sucessão.
Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na
abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral,
adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos a colação.
Patrimônio de R$ 100.000,00
Regime de bens: comunhão universal
Cônjuge sobrevivente = meação 50% R$ 50.000,00
Herança = 50% R$ 50.000,00
Dívidas do de cujus = R$ 10.000,00
Funeral = R$ 5.000,00
Total de despesas = R$ 15.000,00
50.000,00 – 15.000,00 = 35.000,00
Parte disponível = ½ R$ 35.000,00 / 2 = 17.500,00
Legítima = a outra metade + eventuais bens doados em vida como adiantamento de legítima.
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§ 1º Em se verificando excederem as disposições testamentárias a porção
disponível, serão proporcionalmente reduzidas as quotas do herdeiro ou
herdeiros instituídos, até onde baste, e, não bastando, também os legados,
na proporção do seu valor.
§ 2º Se o testador, prevenindo o caso, dispuser que se inteirem, de
preferência, certos herdeiros e legatários, a redução far-se-á nos outros
quinhões ou legados, observando-se a seu respeito a ordem estabelecida
no parágrafo antecedente.
Art. 1.968. Quando consistir em prédio divisível o legado sujeito a redução,
far-se-á esta dividindo-o proporcionalmente.
§ 1º Se não for possível a divisão, e o excesso do legado montar a mais de
um quarto do valor do prédio, o legatário deixará inteiro na herança o imóvel
legado, ficando com o direito de pedir aos herdeiros o valor que couber na
parte disponível; se o excesso não for de mais de um quarto, aos herdeiros
fará tornar em dinheiro o legatário, que ficará com o prédio.
§ 2º Se o legatário for ao mesmo tempo herdeiro necessário, poderá inteirar
sua legítima no mesmo imóvel, de preferência aos outros, sempre que ela e
a parte subsistente do legado lhe absorverem o valor.
- Facultativos:
Ao lado dos herdeiros necessários, encontram-se os facultativos, que são os
colaterais até 4º grau. A existência de herdeiros facultativos não impede a
disposição em testamento de todos os bens pelo testador, assim considerado a sua
parte disponível.
- Legatário:
É o contemplado em testamento com coisa certa e determinada,
singularizada, precisa.
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1.7 Herança e espólio
A herança é conjunto patrimonial que é transmitido em razão do falecimento
de alguém. Deve-se destacar que a herança inclui tanto os bens, quanto os créditos
e dívidas existentes em nome do falecido.
A herança constitui o espólio, que é o titular do patrimônio. O espólio é um
ente despersonalizado, uma massa patrimonial ou universalidade de coisas, até a
individualização pela partilha. É utilizado sob o prisma processual. Ao espólio é
reconhecida legitimidade ativa e passiva e o seu representante é o inventariante ou,
antes de sua nomeação, pelo administrador provisório (art. 75, VII, CPC/2015).
O espólio responde pelas dívidas do falecido até a partilha e dentro dos
limites da herança. O espólio tem legitimidade para propor ação de despejo de
imóveis de propriedade do falecido. Após a partilha, cada herdeiro responderá pela
dívida, dentro das forças de seu quinhão. Realizada a partilha, o espólio deixa de
existir, pois desaparece a universalidade patrimonial.
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a) a devolução unitária da herança aos herdeiros: efeito translativo, se opera
de plano, nascendo a indivisibilidade da herança, que diz respeito à posse e ao
domínio dos bens transmitidos.
b) a noção de indivisibilidade do monte hereditário: da abertura até o
momento da partilha a herança permanece em condomínio, um todo unitário e
indivisível até o transito em julgado da partilha.
A indivisão inicia no momento da abertura da sucessão, que é considerada
como um todo unitário e indivisível. Com a partilha, haverá a individualização da
quota parte de cada herdeiro, quando, cada um, passará a administrar seu quinhão.
Depois de julgada a partilha o art. 2.023 determina que o direito de cada herdeiro
fica circunscrito aos bens do seu quinhão.
Contudo, enquanto não operada a partilha, os herdeiros são todos
coproprietários e co-possuidores da herança, tendo a regulação de seus direitos,
conforme as disposições relativas ao condomínio. Assim, como se trata de um
condomínio, cada herdeiro tem os mesmos direitos e deveres com relação ao todo,
de modo que um herdeiro não tem mais ou menos direitos ou deveres sobre bens
específicos da herança. Significa dizer que nenhum herdeiro pode “se apossar” de
um bem determinado, em detrimento dos demais herdeiros. Neste caso, qualquer
herdeiro que se sentir prejudicado pode se utilizar das ações possessórias para
assegurar sua posse (arts. 1.825 e 1.827, CC).
A partir dessa noção de indivisibilidade, pergunta-se, é possível que algum
herdeiro aliene a herança? Sim, cada herdeiro pode alienar ou ceder, mas somente
sua quota ideal, ou seja, pode transferir a terceiro seu quinhão, mas não pode ser
transferida parte certa e determinada da herança. É nesse sentido a disposição do
art. 1.793, § 2.º, CC: “é ineficaz a cessão, pelo coerdeiro, de seu direito hereditário
sobre qualquer bem da herança considerado singularmente”. Neste caso, se o
herdeiro alienar sua quota parte sobre o bem X, esta cessão só terá eficácia se, com
a partilha, o herdeiro, de fato, receber o bem X.
Mas, como são aplicadas as regras do condomínio, o coerdeiro pode alienar,
respeitando a preferência estabelecida no art. 504, CC.
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1.9 Cessão de direitos hereditários
O art. 1.793 prevê que toda a herança ou parte dela (quota) é suscetível de
alienação (onerosa ou gratuita). O titular dos direitos hereditários, desde o momento
da abertura da sucessão, goza da faculdade dispositiva. Com a abertura da
sucessão instaura-se a o condomínio sucessório entre os herdeiros legítimos e
testamentários (art. 1.784). Antes da morte não é possível a cessão, pois o direito
brasileiro veda o chamado pacto sucessório (contrato que tem como objeto a
herança de pessoa viva) – arts. 426 e 166, II e VII, CC. A forma de transmissão
destes direitos é a cessão. O cedente (herdeiro legítimo ou testamentário) transfere
a qualidade hereditária patrimonial.
A efetiva transferência do direito só se opera com a partilha (trânsito em
julgado, registrado no CRI). Porém, o cessionário se investe instantaneamente nos
direitos alienados, devendo, quando da abertura do inventário, se habilitar.
O Herdeiro único e universal pode ceder, também, no todo ou em parte. Se
for universal, o herdeiro-cedente nada mais terá a ver com a herança (persiste, é
óbvio, sua responsabilidade perante o cessionário até a efetividade do título
hereditário: partilha averbada).
FORMA E OBJETO
O direito à sucessão aberta é considerado bem imóvel e, nesse sentido, para
que seja realizada a cessão, deve ser feita por escritura pública, com outorga
uxória como condição de validade do negócio jurídico (art. 1.793; art. 1.647, I; art.
166, IV).
A escritura deve estipular se a cessão é feita de forma gratuita ou onerosa; se
estão sendo cedidos todos os direitos hereditários ou somente de parte do quinhão;
etc.
O objeto do contrato são os direitos hereditários.
O cedente: deve ter capacidade para alienar; garante a existência da
herança, não sua extensão.
O cessionário (aquele que adquire): recebe a herança no estado em que se
encontra, correndo o risco de ser mais ou menos, dependo da existência de dívidas;
sub-roga-se nos direitos do cedente, como se fosse ele próprio.
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A cessão não pode ser feita quanto a um bem determinado, mas somente
quanto à quota parte do herdeiro cedente, sem individualização. Isto se dá em razão
da indivisibilidade da herança (todo unitário), de forma que é ineficaz a cessão de
bem individualizado (art. 1.793, § 2.º, CC).
Não quer dizer que a cessão não possa ser feita, mas dependerá da
concordância dos demais herdeiros. Ex.: “cede para Fulano de Tal os direitos
hereditários que tem por falecimento de XXX, sobre o imóvel Y”. Dependerá da
concordância/liberalidade dos demais co-herdeiros. Isto acontece, normalmente,
quando os herdeiros fizeram a partilha de forma amigável, dividindo entre eles os
bens existentes.
DIREITO DE ACRESCER
A cessão realizada abrange apenas os direitos hereditários existentes no
momento da cessão. Se depois de realizada houver, em favor do cedente,
substituição ou direito de acrescer (em razão de renúncia de um co-herderio, p. e.x.),
os direitos daí resultantes não estarão compreendidos na cessão realizada
anteriormente (GONÇALVES, 2012, p. 58).
Art. 1.794. O co-herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa
estranha à sucessão, se outro co-herdeiro a quiser, tanto por tanto.
Caso não tenha sido dado o direito de preferência à algum coerdeiro, este
poderá, nos termos do art. 1.795, CC, exercer este direito a posteriori:
24
Art. 1.795. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão,
poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o
requerer até cento e oitenta dias após a transmissão.
Este direito deverá ser exercido em até 180 dias após a ciência da alienação.
E se mais de um herdeiro quiser exercer o direito de preferência? Neste caso,
segundo Tartuce (2012, p. 18), deverá o quinhão cedido ser distribuído entre eles,
na proporção de suas quotas hereditárias:
25
A cessão pode sofrer desconstituição Judicial, quando eivada de qualquer
dos vícios de consentimentos;
A ação anulatória deve ser promovida em autos próprios. Pode ocorrer a
suspensão do inventário ou não (depois de decidida a questão, faz-se, então, uma
sobrepartilha).
Os direitos testamentários ou legatários podem ser transferidos por cessão.
Quando o cônjuge cede a totalidade, chamamos de cessão da
universalidade de Bens que compõe a meação. O cônjuge sobrevivo pode ceder
parcialmente.
26
Grande do Sul não há nenhum tipo de sanção. Essa multa é, quase sempre,
relevada pelo juízo do inventário. CADA ESTADO REGULA A APLICAÇÃO DESTA
SANÇÃO 4.
O foro competente para a propositura do inventário é o mesmo do lugar da
abertura da sucessão:
4São Paulo: Lei Estadual 10.705/2000; Minas Gerais: Lei Estadual: 14.941/2003; Maranhão: Lei
Estadual .912/1998.
27
IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos
incisos antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave
levado ao conhecimento do juiz.
28
A partir daí, vem à tona a questão do nascituro. Salienta Gonçalves que os
“nascituros podem ser, assim, chamados a suceder tanto na sucessão legítima como
na testamentária, ficando a eficácia da vocação dependente do seu nascimento.
Podem, com efeito, ser indicados para receber deixa testamentária” (GONÇALVES,
2012, p. 69). Assim, nascendo com vida, os efeitos retroagem a data da concepção.
Se nascer o feto morto, não terá direitos, será como se nunca tivesse existido.
Assim, os direitos do nascituro são subordinados a condição resolutiva, ou seja,
nascimento com vida (TARTUCE, 2012, p. 24). Da mesma forma, caducam as
disposições testamentárias que beneficiam pessoas já falecidas (a deixa
testamentária volta para a sucessão legítima).
Mas para que tenha direitos, já deve estar o embrião implantado no útero
materno? Se for uma situação de fecundação in vitro haverá direitos sucessórios
reservados ou não? De início é preciso que fique claro que não há uma uniformidade
ou unanimidade, nem na doutrina, nem na jurisprudência.
Há quem entenda que apenas o nascituro (o embrião já implantado no útero
materno – com gravidez comprovada) poderá suceder legitimamente e não o
embrião. Nesse sentido: Euclides de Oliveira e Sebastião Amorim afirmam que se
deve exigir a implantação no útero materno para que possa haver o regular
desenvolvimento com vida (TARTUCE, 2012, p. 24).
Em sentido contrário, há os que levam em consideração o art. 1.597, CC, que
dispõe que se presumem concebidas na constância do casamento as pessoas
nascidas a qualquer tempo, em se tratando de embriões excedentários, fecundados
por fertilização homóloga. Neste caso: Zeno Veloso afirma que mesmo após a morte
do pai, havendo a implantação do embrião e sendo a gestação levada a termo, o
nascimento com vida e a aquisição da personalidade fazem com que este filho seja
herdeiro, porque considera-se que estava concebido quando o genitor faleceu e,
além disto, há a questão da igualdade trazida pelo art. 227, § 6.º, CF (TARTUCE,
2012, p. 25).
A III Jornada de Direito Civil, realizada em 2004, aprovou o enunciado 267, do
Conselho da Justiça Federal e do Superior Tribunal de Justiça sobre o tema:
29
Desta forma, entende o STJ que embrião também é considerado sucessor
legítimo. Para que alguém possa suceder, não basta invocar a ordem da vocação
hereditária. Devem ser preenchidas algumas condições (VENOSA, 2012, p. 53):
30
No inciso I, o legislador abre exceção à regra geral, possibilitando que filhos
não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que estas estejam vivas
quando da abertura da sucessão, venham a ser herdeiros testamentários. É a
chamada prole eventual ou o concepturo.
Mas, se, por exemplo, o testador instituir cláusula no testamento,
contemplando o filho não concebido de sua filha (seu eventual neto, portanto) e,
quando a sucessão for aberta sua filha estiver morta, caducará a disposição
testamentária.
Dispõe o art. 1.800, CC que depois de feita a partilha os bens serão
entregues a um curador nomeado pelo juiz:
Deve ser destacado o § 4.º, que estabelece que se até dois anos após a
abertura da sucessão não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados
caberão aos herdeiros legítimos.
Quem deve existir no momento da morte do autor da herança são os pais do
beneficiado, não este, que, na hipótese, sequer precisa estar concebido
(GONÇALVES, 2012, p. 73).
31
Com relação aos filhos havidos em razão de inseminação artificial, a questão
é diferenciada (e, de certa forma, injusta). Gonçalves (2012, p. 75) explica bem a
situação:
Em princípio não se pode falar em direitos sucessórios daquele que foi
concebido por inseminação artificial post mortem, uma vez que a
transmissão da herança se dá em consequência da morte (CC, art. 1.784) e
dela participam as “pessoas nascidas ou já concebidas no momento da
abertura da sucessão” (art. 1.798).
A questão, no entanto, é tormentosa e cabe à doutrina e à jurisprudência
fornecer subsídios para sua solução. A doutrina brasileira se inclina no
sentido de negar legitimação para suceder aos filhos havidos por métodos
de reprodução assistida, quer na hipótese de a morte do ascendente
preceder à concepção, quer na de implantação de embriões depois de
aberta a sucessão. Solução favorável à criança ocorreria se houvesse
disposição legislativa favorecendo o fruto de inseminação post mortem.
[...]
[...]se o Código Civil de 2002 trata os filhos resultantes de fecundação
artificial homóloga,, posterior ao falecimento do pai, como tendo sido
“concebidos na constância do casamento”, não se justifica a exclusão de
seus direitos sucessórios. Entendimento contrário conduziria à aceitação da
existência, em nosso direito, de filho que não tem direitos sucessórios, em
situação incompatível com o proclamado no art. 227, § 6.º, da Constituição
Federal.
32
Se, contudo, os bens destinados para constituir a fundação forem insuficiente
e o testador não dispuser de forma diversa, deverão os bens serem destinados a
outra fundação que tenha finalidade igual ou semelhante (art. 63, CC).
OBSERVAÇÃO: Já caiu questão no exame de ordem sobre esta situação!
33
Assim, mesmo com as proibições dos arts. 1.801, 1.798, 1.799, I, se forem
contempladas pessoas neles constantes, de forma direta ou mediante simulação, as
disposições testamentárias serão NULAS.
34
ESPÉCIES DE ACEITAÇÃO
O art. 1.805, estabelece as duas formas de aceitação: expressa e tácita.
a) Expressa - É a manifestada por escrito, público ou particular, de que o
beneficiário deseja receber a herança.
b) Tácita - É a que prevalece (Art. 1805, segunda parte, CC). A aceitação
tácita resulta de qualquer ato que demonstre a intenção de aceitar a herança, atos
compatíveis com caráter de herdeiro:
Art. 1805, §1º, CC: “não exprimem aceitação da herança os atos oficiosos,
como o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e
guarda interina”. Esses atos são praticados de forma altruísta, sem o intuito de
aceitar a herança.
35
Art. 1805, §2º, CC: a cessão pura e simples para os demais coerdeiros
também não importa aceitação da herança – equivale a uma renúncia
(GONÇALVES, 2012, p. 91).
c) Presumida - É o que ocorre no caso do art. 1807, CC, quando algum
interessado em saber se o herdeiro aceita ou não a herança faz requerimento ao
juiz, após passados 20 dias da abertura da sucessão, para que lhe intime a dizer,
em prazo não superior a 30 dias, se aceita ou não a herança (GONÇALVES, 2012,
p. 91). Nesse caso, o silêncio é interpretado como manifestação da vontade
(aceitação presumida).
Percebe-se, então, que a aceitação tácita difere da presumida, pois a
última depende da provocação de um terceiro interessado, enquanto que a
primeira resulta “de atos próprios da qualidade de herdeiro”.
36
• Podem recusar a herança do avô e aceitar a do pai;
• Podem recusar a do pai;
• Não podem recusar a do pai e aceitar a do avô – seria, de certa
forma, um aceite “parcial” da herança!
37
O que lhe é vedado é aceitar parcialmente a herança. (A segunda parte do §
1º do art. 1.808 é que permite a renúncia parcial). Portanto, não pode o sucessor
aceitar a herança sob determinada condição (aceita, mas se não tiverem dívidas a
serem pagas).
IRREVOGABILIDADE DA ACEITAÇÃO
O Código Civil, em seu art. 1.812, define a irrevogabilidade da aceitação e de
renúncia. Assim, realizada a aceitação (expressa ou tácita ou presumida) não haverá
possibilidade de revogar tal ato, de modo que a aceitação gera efeitos imediatos e
definitivos.
ANULAÇÃO DA ACEITAÇÃO
Assim, depois de realizada a aceitação, se for verificado que o aceitante não
é o herdeiro, como por exemplo, chamar-se à sucessão os colaterais e, depois,
verificar-se a existência de filhos, deverá ser declarada a ineficácia da aceitação,
devolvendo-se a herança a quem de direito. Se, contudo, o inventário já tiver sido
julgado, como homologação da partilha, apenas com a ação de petição de herança é
que será possível reivindicar o que lhe cabe.
Segundo o art. 1.806, CC, deve ser feita por instrumento público ou termo nos
autos, sendo, portanto, vedada a renúncia tácita. Necessita de uma ação, de uma
atividade por parte do herdeiro renunciante. Trata-se, pois, de negócio solene.
38
O art. 1808 do Código Civil NÃO ADMITE CONDIÇÃO OU TERMO na
renúncia, ou seja, ela é essencial, pura e simples.
EXEMPLO: Escritura pública de renúncia: por meio desta escritura pública de
renúncia, Joãozinho renuncia a herança de Carlinhos, para que Marquinhos seja
beneficiado. Nesse caso, se o herdeiro renunciante declarar que deseja beneficiar
outro herdeiro, a hipótese não é de renúncia, mas de cessão de direitos hereditários.
CARACTERÍSTICAS DA RENÚNCIA
Rizzardo aponta as principais características da renúncia, acompanhando o
entendimento doutrinário dominante:
a) A unilateralidade, por não depender da vontade de outros herdeiros.
b) A abstratividade, isto é, a ausência de motivações. Não é colocada
nenhuma razão, e muito menos vem mencionado algum pagamento, posto que aí a
figura seria cessão.
c) A indivisibilidade, porquanto a renúncia se opera em relação à herança, e
não a um bem, continuando o herdeiro a concorrer na partilha do restante do
patrimônio. A lei não admite renúncia parcial (art. 1.808).
d) Ato jurídico puro, ou seja, sem depender de condições ou termo. Art.
1.808 CC.
e) Gratuita, jamais se permitindo algum pagamento ou uma compensação,
sob pena de confundir-se, então, com a cessão de direitos.
f) Efeito retroativo, valendo a contar da morte do autor da herança. Arts.
1.784 e 1.804.
g) O formalismo, que é de rigor, nunca se acolhendo que seja reconhecida à
renúncia por manifestação verbal, nem por instrumento particular. A renúncia deve
ser feita por instrumento público ou termo judicial (art. 1.806). Não há presunção de
renúncia ou renúncia tácita. Deve ser expressa e formal.
39
DISTINÇÃO ENTRE OS TIPOS DE RENÚNCIA
Abdicativa: é a verdadeira renúncia, pura, simples, sem condição, é dizer
que não quer, sem indicar favorecido. Essa renúncia opera-se em favor do monte.
Incide, apenas o imposto mortis causa (ITCD).
Translativa: o herdeiro que renuncia em favor de determinada pessoa, o
que implica em transmissão da herança, envolvendo duas declarações de vontade:
aceitação e alienação simultânea. A renúncia existe apenas no nome, pois se trata
de cessão de direitos hereditários.
A importância de diferenciar a renúncia pura e simples da translativa se dá em
razão da incidência de impostos. No caso da renúncia pura e simples incide, tão
somente o ITCD (causa mortis). Já no caso da renúncia translativa, há a incidência
de dupla tributação: causa mortis (ITCD – de cujus ao herdeiro) e inter vivos (ITBI
– herdeiro ao terceiro/beneficiário). Equivale a uma cessão de direitos hereditários.
40
e) sendo casado o herdeiro, há necessidade do consentimento do cônjuge
– exceto no regime da separação absoluta (art. 1.647, I). A outorga de
consentimento do cônjuge é indispensável para a validade da renúncia, pois o direito
à sucessão aberta é considerado bem imóvel (art. 80, II). Se o cônjuge se nega a dar
o consentimento, o juiz poderá supri-lo, conforme art. 1.648, CC.
Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a outorga,
quando um dos cônjuges a denegue sem motivo justo, ou lhe seja
impossível concedê-la.
41
FORMAS DE RENÚNCIA: ART. 1.806
1) por termo nos autos – A renúncia por termo nos autos independe de
homologação. Basta que seja feito um termo, pelo escrivão judicial (cuja fé pública
se assemelha/equipara a do tabelião) para que tenha validade.
2) por escritura pública – nunca contrato particular, art. 1806, CC. O Código
menciona expressamente por instrumento público, inadmitindo escrito particular.
EFEITOS DA RENÚNCIA
Muitas são as implicações do ato de renunciar, irradiando alguns efeitos, em
especial, a exclusão do herdeiro renunciante de forma ampla e definitiva.
a) Exclusão, da sucessão, do herdeiro renunciante: o RENUNCIANTE é
tratado como se nunca tivesse sido herdeiro (retroage à data da abertura da
sucessão, ou seja, desde o óbito). O renunciante é afastado da sucessão (art.
1.810 e 1811). NÃO CABE, PORTANTO, DIREITO DE REPRESENTAÇÃO.
42
for filho único e tiver filhos, estes serão os herdeiros (os netos do falecido). Nesse
caso, os netos herdam em condição própria, caso esses não existam, são
convocados os ascendentes, seguindo-se a ordem legal.
Herdeiro renunciante
A e B recebem a
cota de “C”.
Herdeiro renunciante
43
diferença no percentual da herança). Se ele for o único descendente e renunciar,
essa renúncia não atinge aos netos, que herdam em condição própria, caso esses
não existam, são convocados os ascendentes...
A, B e C = herdeiros renunciantes
X, H, L e Y herdam
por direito próprio
ou cabeça. Não há
diferença de
percentual na
herança, neste
caso.
44
IRREVOGABILIDADE DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA
Art. 1812, CC – São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da
herança. A renúncia é irrevogável, a não ser que se comprove que o renunciante
obrou por um vício que aderiu a sua vontade. Nesse caso, se o ato de
consentimento encontra-se viciado é anulável.
A renúncia é, também, irretratável, não admite revogação, pois, tratando-se
de ato jurídico unilateral. É um ato solene e se aperfeiçoa no momento da emissão
da vontade, gerando seus efeitos. ELA SE OPERA RETROATIVAMENTE.
É claro, como qualquer ato jurídico, proveniente de erro, dolo ou violência
pode sofrer a sanção de invalidade (é anulável a renúncia). OBS: art. 1813.
Nesse caso, ocorrerá a invalidade absoluta se não tiver sido feita por escritura
pública ou termo judicial, quando feita por pessoa absolutamente incapaz, não
representada e sem autorização judicial; e relativa, quando proveniente de erro, dolo
ou coação, a ensejar a anulação do ato por vício de consentimento, ou quando
realizada sem a anuência do cônjuge, se o renunciante for casado em regime que
não seja o da separação absoluta de bens.
QUADRO COMPARATIVO
45
VII EXAME OAB - QUESTÃO PRÁTICA 1
Marco Antônio, solteiro, maior e capaz, resolve lavrar testamento público, a fim de dispor sobre seus
bens. Tendo em vista que os seus únicos herdeiros são os seus dois filhos maiores e capazes, Júlio e
Joel, ambos solteiros e sem filhos, e considerando-se que o patrimônio de Marco Antônio
corresponde a dois imóveis de igual valor, dois automóveis de igual valor e R$ 100.000,00 em
depósito bancário, ele assim dispõe sobre os seus bens no testamento: deixa para Júlio um imóvel,
um automóvel e metade do montante depositado na conta bancária e, de igual sorte, deixa para Joel
um imóvel, um automóvel e metade do montante depositado na conta bancária.
Logo após ter ciência da lavratura do testamento público por seu pai, Júlio decide imediatamente
lavrar escritura pública por meio da qual renuncia expressamente apenas ao automóvel, aceitando
receber o imóvel, bem como metade do montante depositado em conta bancária. Para tanto, afirma
Júlio que há diversas multas por infrações de trânsito e dívidas de impostos em relação ao automóvel,
razão pela qual não lhe interessa herdar esse bem. Tomando conhecimento da lavratura da escritura
pública de renúncia por Júlio, Marco Antônio e Joel decidem consultar um advogado.
Na condição de advogado (a) consultado(a) por Marco Antônio e Joel, responda aos itens a seguir,
utilizando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.
A) Poderia Júlio renunciar à herança no momento por ele escolhido? (valor: 0,65)
B) Independentemente da resposta dada ao item anterior, poderia Júlio renunciar exclusivamente ao
automóvel, recebendo os demais bens? (valor: 0,60)
PADRÃO DE RESPOSTA:
A) É vedado dispor sobre herança de pessoa viva, na forma do artigo 426, CC/02.
B) De acordo com o artigo 1808, CC/02, é vedada a renúncia parcial. A renúncia é indivisível, razão
pela qual somente é autorizado ao herdeiro renunciar todo o quinhão a que teria direito.
46
1.16.1 Indignidade – ART. 1.814
A indignidade é uma sanção civil que acarreta na perda do direito sucessório
por parte do herdeiro que venha a cometer os atos expressos no art. 1.814, CC.
No caso de prática de atos atentatórios ao de cujus, o legislador cria
uma pena, que consiste na perda da herança. Aplica-se ao sucessor legítimo e/ou
sucessor legatário (testamentário) que houver praticado ato de ingratidão.
O art. 1.814, CC traz expressas as causas que importam na exclusão do
herdeiro considerado indigno. Trata-se de situações taxativas, não se admitindo
qualquer tipo de interpretação expansiva.
47
Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:
I – que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio
doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu
cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
II – que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou
incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou
companheiro.
III – que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor
da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.
48
II – a hipótese retrata caso de denunciação caluniosa (art. 339, CP), da
calúnia (art. 138), injuria (art. 139) e difamação (art. 140, CP). APENAS NA
FORMA CONSUMADA – não existe, neste caso, tentativa
O que diz o art. 339 do CP: “dar causa a instauração de investigação criminal
ou processo judicial contra alguém,(...) imputando-lhe a prática de crime que sabe
ser inocente”. Denunciação caluniosa.
Nos casos de calúnia, injúria e difamação ocorre o mesmo.
Pergunta-se: É necessária a condenação do herdeiro para se reconhecer a
indignidade? O que importa é, sem dúvida, saber se o herdeiro deu causa à ação
penal contra o falecido.
49
objetivo de excluir o herdeiro da herança, possibilitando o devido contraditório e a
ampla defesa do herdeiro excluído.
O legitimado para propor a ação declaratória é qualquer interessado na
sucessão. Assim, admite-se a propositura por coerdeiro, Município, Distrito Federal
ou União, na falta de sucessores legítimos e testamentários. Havendo interesse
público, o Ministério Público pode propor a ação:
Não tem interesse, contudo, aquele que não tiver benefício direto com a
exclusão. EXEMPLO: Quando o excluído tiver filhos, em razão do disposto no art.
1.816, CC, os irmãos do indigno não terão legitimidade para propor a ação, pois não
se beneficiarão com sua exclusão.
Trata-se de ação de interesse privado, mas, quando houver interesse público,
admite-se a legitimidade do Ministério Público. Neste sentido o enunciado 115,
CJF/STJ:
50
EFEITOS DA INDIGNIDADE – ART. 1816 CC
H – Herdeiro indigno.
A e B – herdarão por representação
(no lugar de seu pai, como se ele
nunca tivesse existido).
Com isto:
X – Recebe 1/3
Y – Recebe 1/3
A e B – dividem o 1/3 que caberia a
seu pai.
51
c) perda dos frutos e rendimentos: nos termos do art. 1.817, §único, o
herdeiro excluído deve restituir os frutos e rendimentos que tenha obtido até a
declaração de indignidade, mas tem direito a ser ressarcido das despesas com a
conservação dos bens.
52
excluído, muito embora tenha sido caluniado, injuriado, etc... Exclui-se,
evidentemente, o homicídio, pela lógica do impossível.
Este perdão é solene, porque a lei diz: ATO AUTÊNTICO OU TESTAMENTO,
de forma que deve ser expresso, embora não exista a exigência de palavras
sacramentais. A reabilitação do herdeiro pelo perdão, uma vez concedida, é
irretratável.
Mesmo que o testamento seja anulado, a cláusula que reabilita o indigno
permanece válida.
Ato autêntico é qualquer declaração, por instrumento público, não se
admitindo a validade da escritura particular, cartas, declarações verbais ou de
próprio punho, ainda que corroboradas por testemunhas.
E se o ofendido após o ato de indignidade contemplar o herdeiro, por via
testamentária? Aqui, evidentemente, o herdeiro está reabilitado. Não há a
necessidade de que exista a expressão “perdoo o indigno”, ou algo equivalente, mas
tão somente disposições que indiquem o perdão. A redação do parágrafo único do
art. 1.818, CC. O ato de perdão é inequívoco. Não existe perdão tácito.
Então temos que o perdão, ou melhor, a reabilitação pode ser:
Luiz, viúvo, residente e domiciliado em Maceió, tinha três filhos: Jorge, Clarissa e Joana, e
nenhum neto. Jorge, enciumado com o tratamento preferencial que Luiz dispensava às suas irmãs,
tenta matar seu pai desferindo-lhe dois tiros, dos quais, por sorte, Luiz consegue escapar ileso. Dois
anos antes, este registrara testamento público, estipulando que seu patrimônio disponível deveria ser
herdado por Jorge e Joana.
Luiz vem a falecer durante viagem a Salvador, em 2017, deixando como herança líquida o
montante de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais). Com base na hipótese apresentada, responda
aos itens a seguir.
53
A) Qual medida judicial poderá ser utilizada por Joana para evitar que Jorge venha a suceder Luís?
Há algum prazo-limite para isso? (Valor: 0,85)
B) Qual o foro competente para processar e julgar o inventário de Luiz? (Valor: 0,40)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação ou transcrição
do dispositivo legal não confere pontuação.
PADRÃO DE RESPOSTA:
A) Joana deverá ajuizar ação declaratória de indignidade com fundamento no art. 1.814, I, do Código
Civil visando o reconhecimento judicial da indignidade de Jorge com objetivo de excluí-lo da
sucessão. O prazo para o ajuizamento da demanda é de 04 anos a partir da abertura da sucessão,
conforme art. 1.815, parágrafo único do Código Civil.
B) O foro competente para processar e julgar o inventário de Luiz é o da cidade de Maceió, domicilio
do autor da herança, nos termos dos art. 48 do Código de Processo Civil e art. 1.785 do Código Civil.
54
AÇÃO DE INDIGNIDADE
ATENÇÃO: a peça estruturada abaixo é um modelo básico de ação declaratória de indignidade. Destaca-se que
cada ação deve ser estruturada de acordo com o caso apresentado e os dados devem ser adaptados ao
enunciado fornecido pela banca examinadora.
55
56
57
1.16.2 Deserdação
A deserdação é uma causa de exclusão pela qual o autor da herança, através
de disposição de última vontade – testamento – exclui de sua sucessão o herdeiro
necessário que tenha praticado atos moralmente censuráveis e previstos na lei civil.
Trata-se de uma pena civil que é aplicada pelo próprio autor da herança,
através de testamento.
CARACTERÍSTICAS DA DESERDAÇÃO
a) O arbítrio do autor da herança não é ilimitado (incondicionado); precisa
seguir os pressupostos legais e limites;
b) O autor deve mencionar a causa constitutiva e determinante da
deserdação, entre as indicadas na lei (para permitir a defesa e o contraditório);
c) Deve ser clara e expressa; atendendo os requisitos legais;
d) Não existe deserdação tácita, virtual ou implícita;
e) O testador pode retratar a deserdação (por testamento).
EXEMPLO: não vale simples reconciliação; precisa cancelar, ou fazer um
novo testamento, seguindo o rito anteriormente adotado.
f) O testamento que é anulável (nulo), torna ineficaz a cláusula de
deserdação;
g) Condição ou termo são inconciliáveis com a deserdação;
EXEMPLO: Ameaças, em relação ao herdeiro fazer ou deixar de fazer algo,
sob pena de ser deserdado, não têm o poder nem a legalidade para deserdar.
h) o excluído da sucessão não tem direito ao usufruto e à administração dos
bens (art. 1816, parágrafo único, CC);
i) não há proibição de deserdação parcial (sanção proporcional à gravidade
da ofensa, apesar de não estar pacífica tal posição);
58
j) o herdeiro que falece antes do testador não pode ser deserdado (implicaria
na quebra do princípio da pessoalidade, alcançando os descendentes do punido. A
pena é personalíssima). No entanto, existe a possibilidade de deserdar o neto,
vinculada a pré-morte do filho, condicionada aos mesmos requisitos supracitados.
59
REQUISITOS DE EFICÁCIA DA DESERDAÇÃO
O art. 1.964 afirma que somente com a declaração expressa da causa é que
a deserdação poderá ser ordenada via testamento. Fazendo-se a interpretação
deste dispositivo com o art. 1.961, CC, tem-se que são requisitos para a deserdação:
a) Existência de herdeiros necessários: a deserdação constitui-se da
exclusão do herdeiro necessário (descendente, ascendente ou cônjuge), sendo o
único meio legal de afastá-los da sucessão.
b) Testamento válido: a deserdação não produz efeitos quando o
testamento é nulo, revogado ou caduco. O testamento é a única forma de haver a
deserdação. Não se admite outra forma. A deserdação deve ser expressa, embora
não haja expressões sacramentais. O perdão ao deserdado só pode ser concedido
em novo testamento.
c) Expressa declaração de cláusula prevista em lei: as causas estão no
art. 1.814, 1.962 e 1.963, CC. O rol é taxativo. Não se admitem outras causas não
previstas. O testador deve mencionar no testamento o motivo, a causa que o leva a
deserdar o herdeiro.
d) Propositura de ação ordinária: para que a deserdação seja ultimada, não
basta a simples declaração via testamento. Deve haver, ainda, uma ação ordinária,
promovida pelo beneficiário pela deserdação do herdeiro, que prove a veracidade da
causa alegada pelo testador, nos termos do art. 1.965 do Código Civil.
EFEITOS DA DESERDAÇÃO
O art. 1.816, CC afirma que os efeitos da exclusão são pessoais. Apesar de
não haver previsão expressa para a deserdação, aplica-se este mesmo dispositivo,
tendo em vista que o objetivo da indignidade e da deserdação é o mesmo.
60
DIFERENÇAS ENTRE INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO
61
AÇÃO DE DESERDAÇÃO – ART. 1.965
Conforme afirmado, para que haja a deserdação, além da declaração no
testamento, nos termos do art. 1.964, deve ser proposta uma ação visando a
confirmação da veracidade da causa alegada pelo testador. Sem esta comprovação
é ineficaz a deserdação.
Tal ação deve ser proposta pelo herdeiro instituído ou pelo herdeiro que
aproveitará a deserdação.
A ação deve ser proposta dentro de 4 anos (parágrafo único), contados da
data da abertura do testamento; passado esse prazo, é herdeiro naturalmente.
62
AÇÃO DE DESERDAÇÃO
ATENÇÃO: a peça estruturada abaixo é um modelo básico de ação de deserdação. Destaca-se que cada ação
deve ser estruturada de acordo com o caso apresentado e os dados devem ser adaptados ao enunciado
fornecido pela banca examinadora.
63
64
65
1.17 Herança jacente e herança vacante - Art. 1.819 a 1.823
A herança sempre deve ser entregue aos sucessores do falecido. Se ocorrer
de o falecido ter falecido e não deixar descendentes, esta herança será recolhida
pelo Município, Distrito Federal ou União, dependendo de onde estejam localizados
os bens. Contudo, para que isto ocorra, devem ser observados alguns
procedimentos.
Quando abre-se a sucessão e o de cujus não deixou herdeiros, nem
testamento conhecido, diz-se que a herança é jacente (art. 1.819).
A herança JAZ enquanto não se apresentam herdeiros do falecido para
reclamá-la. Assim, o Estado determina, para evitar o perecimento da herança, que
haja a sua arrecadação para que, ao fim, seja entregue aos herdeiros que se
apresentem e tenham legitimidade para suceder.
Somente depois de realizadas as diligências legais, ainda não aparecerem
herdeiros, é que a herança será declarada vacante, para o fim de ser incorporada ao
patrimônio do Poder Público.
Existem, portanto, duas fases: a jacência e a vacância.
HERANÇA JACENTE: Assim, quando aberta a sucessão verifica-se que o de
cujus não deixou testamento, nem tem herdeiros, diz-se que a herança é JACENTE
(art. 1.819, CC). Mesmo quando haja herdeiro sucessível, enquanto não se souber
da sua existência, a herança será jacente.
HERANÇA VACANTE: depois que o Estado arrecadou os bens, com o intuito
de impedir o perecimento da riqueza, depois de realizadas as diligencias a fim de
verificar a existência de herdeiros, se restar demonstrado não existirem herdeiros
sucessíveis, a herança jacente será declarada VACANTE.
CASOS DE JACÊNCIA:
Para que se configure a jacência deve haver – art. 1.819, CC:
a) Ocorrência do óbito;
b) Sem deixar testamento conhecido ou ser este caduco. Neste caso,
tem-se duas situações:
Sem testamento:
a. Inexistência de herdeiros conhecidos
66
b. Renúncia da herança por todos os herdeiros
Com testamento
c. Herdeiro instituído ou testamenteiro não existir ou não aceitar a
herança
d. Falecido não tiver herdeiros necessários.
c) Sem deixar herdeiro legítimo (art. 1829);
d) Com herdeiros que renunciaram;
e) Com herdeiros ausentes (ou, com beneficiários não conhecidos).
Cabe ao curador:
67
§ 2º Aplica-se ao curador o disposto nos arts. 159 a 161.
DECLARAÇÃO DE VACÂNCIA
Não havendo herdeiro habilitado, após um ano da publicação do edital, a
herança será declarada vacante (art. 743, CPC/2015).
Será VACANTE a herança quando, depois de todas as diligências, inclusive
com a publicação de editais, passado um ano, não houverem herdeiros sucessíveis
habilitados. Há uma exceção: se todos os chamados a suceder renunciarem a
herança, será, desde logo, declarada vacante (art. 1.823, CC), sem que haja a fase
de jacência.
Uma vez sendo declarada, por sentença, a vacância, o cônjuge, companheiro
ou herdeiros só poderão reclamar seu direito através de ação de petição de herança
(art. 743, § 2.º, CPC/2015).
Após a declaração de vacância, podem os credores pedir o pagamento das
dívidas reconhecidas, nos limites da força da herança (art. 1.821, CC + art. 741, §
4.º, CPC/2015).
Mas essa declaração de vacância não faz com que os bens da herança se
incorporem, desde logo, ao patrimônio do Município ou Distrito Federal (se
68
localizados nos seus territórios) ou à União (se localizados em território federal).
Para tanto, o art. 1.822, CC prevê o prazo de 5 anos da abertura da sucessão.
O Código não deixa dúvida sobre a exclusão dos colaterais da sucessão
se não habilitarem até a sentença de vacância – art. 1.822, § único. Os demais
herdeiros têm o prazo de 5 anos.
EXEMPLOS:
1. Alguém que se aposse ilegalmente da herança ou de parte dela;
2. Herança que é recolhida por parentes mais afastados do falecido e o
interessado é de grau mais próximo, de classe preferencial;
Filho 1 = pré-morto.
Filho 2 = desaparecido – não se sabe da existência
Neto 1, 2 e 3 = herdarão por direito próprio, pois a classe anterior (dos filhos)
não existe = 1/3 para cada um.
Neto 1 = pré-morto sua quota parte será divida entre Bisneto 1.1 e 1.2.
69
Quanto o Filho 2 for “descoberto”, terá direito de pleitear a herança (sua quota
parte). Neste caso, ficará com a ½ da herança e a outra ½ será dividida entre os
herdeiros de Filho 1.
3. A herança é distribuída entre os herdeiros legítimos, e aparece testamento
do de cujus, em que outra pessoa é nomeada herdeira;
4. O filho não reconhecido ingressa com ação de investigação de paternidade
e, de forma cumulada, com a petição de herança.
CONCEITO
A petição de herança é uma ação, oferecida pelo herdeiro preterido, no
sentido de que lhe seja deferida a quota parte que lhe cabe, por direito. Trata-se,
pois, do meio jurídico pelo qual o herdeiro (excluído por qualquer razão – não se
sabia da existência, por exemplo) pode se utilizar para garantir sua condição e o
acesso aos bens deixados pelo falecido (art. 1824, CC)
A ação visa, portanto, o reconhecimento da qualidade de herdeiro e a
satisfação quanto ao acervo hereditário, ou seja, contemplar o herdeiro – autor da
ação – com sua quota parte na herança. Necessita, contudo de uma ação de estado,
ou seja, de uma ação que objetive a declaração do parentesco.
70
universal em conformidade com o disposto no art. 1825 -, enquanto nesta o objeto é
coisa determinada. Logo, a ação reivindicatória é o instrumento correto para o
legatário.
RESUMO
LEGITIMIDADE PASSIVA: Será réu nessa ação, aquele que estiver na posse
da herança como se fosse herdeiro, aparentando uma qualidade e assumindo a
posição de herdeiro, sem o ser verdadeiramente.
a) Herdeiro aparente (possuidor dos bens hereditários);
71
b) Terceiro estranho à sucessão causa mortis;
c) Herdeiro que possua por outro título (usucapião);
d) Estado (quando há herança jacente).
EFEITOS DA SENTENÇA
Reconhecida a qualidade hereditária do autor da petição de herança,
transmite-se a titularidade do patrimônio deixado em seu favor. Com a procedência
da ação e o trânsito em julgado há o reconhecimento da ineficácia da partilha em
relação ao autor da ação, sendo dispensada sua anulação. Bastará o requerimento
de retificação da partilha realizada anteriormente.
Esses efeitos também são diferentes com relação ao possuidor de boa e má-
fé e quanto ao terceiro adquirente:
POSSUIDOR
Aquele que possua os bens, com o julgamento da petição de herança, deverá
devolvê-los, com todos os acessórios. Responderá por perdas e danos e pelos frutos
que tiver colhido, salvo direito de retenção, se estiver de boa-fé.
72
d) tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, podendo
levantar as voluptuárias (art. 1219).
Já o possuidor de má-fé
a) Art. 1216, CC – pelos frutos colhidos e percebidos (e pelo que deixou de
perceber por culpa);
b) responde pela perda e deterioração da coisa, a que não der causa (art.
1218);
c) não tem direito de retenção de benfeitorias (nem levantar as voluptuárias);
as necessárias serão ressarcidas (art. 1218, 1220, 1222).
TERCEIRO ADQUIRENTE
A questão que se discute é se a alienação feita pelo herdeiro aparente é
válida ou não.
Art. 1.827. O herdeiro pode demandar os bens da herança, mesmo em
poder de terceiros, sem prejuízo da responsabilidade do possuidor originário
pelo valor dos bens alienados.
Parágrafo único. São eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo
herdeiro aparente a terceiro de boa-fé.
73
3) a posse de herdeiros, quando há posterior reconhecimento de outro em
Ação de Investigação de Paternidade.
4) Se herdeiro (aparente), cumpriu a vontade do testador (com bona fide), tem
seus atos protegidos (terceiro adquirente de boa-fé).
O art. 1.828 prevê que o herdeiro aparente de boa-fé tem seus atos
protegidos por lei em benefício de terceiros de boa-fé:
Art. 1.828. O herdeiro aparente, que de boa-fé houver pago um legado, não
está obrigado a prestar o equivalente ao verdadeiro sucessor, ressalvado a
este o direito de proceder contra quem o recebeu.
74
AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA
ATENÇÃO: a peça estruturada abaixo é um modelo básico de ação de petição de herança. Destaca-se que cada
ação deve ser estruturada de acordo com o caso apresentado e os dados devem ser adaptados ao enunciado
fornecido pela banca examinadora.
75
76
77
2.
3.
4.
78
5.
026. SUCESSÃO LEGÍTIMA
A sucessão legítima é subsidiária da sucessão testamentária. Nestes termos,
o art. 1.788, CC dispõe:
79
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.
Desta forma, se “A”, solteiro, falece, deixando filho e pai vivos, a sucessão
regular-se-á da seguinte forma: o filho recebe toda a herança do pai e, seu avô (pai
do falecido), nada receberá, pois a classe mais próxima exclui a mais remota.
80
§ 1º Na classe dos ascendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto,
sem distinção de linhas.
Art. 1.840. Na classe dos colaterais, os mais próximos excluem os mais
remotos, salvo o direito de representação concedido aos filhos de irmãos.
81
DESCENDENTES
Os filhos herdam por direito próprio, por cabeça ou per capita, recebendo
quotas iguais e, os netos herdam por estirpe, a não ser que todos os filhos já
faleceram. Nesse caso, os netos, por estarem no mesmo grau, herdam por cabeça
ou direito próprio (sucessão avoenga).
EXEMPLOS:
1. Por direito próprio:
Cada filho receberá ¼.
2. Por estirpe:
Assim:
• Filhos – sucedem por cabeça.
82
• Netos – sucedem por estirpe. Se, contudo, os filhos forem todos falecidos, os
netos herdarão por cabeça, por serem todos de mesmo grau.
ASCENDENTES
Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes. Não se
admite o direito de representação na linha ascendente (art. 1.852).
§ 1º - mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas;
Pai = ½ da herança.
Mãe = ½ da herança.
Se, contudo, A falece, deixando a mãe viva e sendo o pai premorto, mesmo
que tenha avós paternos vivos, sua mãe recolherá toda a herança.
83
Sucessão ascendente – ad infinitum – pais, avós, bisavós
Não existe Direito de Representação (art. 1.852 veda).
Assim, se não houver prole, herdam os genitores do falecido, em partes
iguais.
CÔNJUGE/COMPANHEIRO SOBREVIVENTE (observar que o STF
declarou inconstitucional o art. 1.790, CC).
A ordem da vocação hereditária do art. 1.829 coloca o cônjuge sobrevivente
como herdeiro concorrente com descendentes e ascendentes e, na falta destes,
como herdeiro da totalidade da herança.
Assim, traz a grande inovação do Código em matéria de sucessões, em
relação à condição do cônjuge: a concorrência com descendentes (no Regime da
Comunhão Parcial, com bens particulares, etc..) e a concorrência com ascendentes
(desimportando o regime de bens).
84
Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge
sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados
judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo prova,
neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do
sobrevivente.
85
REGIMES EM QUE O CÔNJUGE SOBREVIVENTE NÃO HERDARÁ
a) Regime da comunhão universal de bens: 1ª exceção:
Neste regime de bens, todos os bens, presentes e futuros, dos cônjuges,
assim como as dívidas, se comunicam. Neste caso, como o cônjuge sobrevivente é
meeiro (tem direito a metade do patrimônio por direito), não há razão para
concorrência.
EXEMPLO:
- Patrimônio de R$100.000,00
- Meação: R$ 50.000,00
- Legítima: R$ 50.000,00
- A = R$ 25.000,00
- B = R$ 25.000,00
86
c) Comunhão Parcial: sem bens particulares: 3ª exceção
Sem bens particulares, não há concorrência (regra geral). O cônjuge
sobrevivente não concorre com os descendentes, porque é meeiro, quando o autor
da herança não houver deixado bens particulares (bens doados, havidos por
inventário ou legado, ou adquiridos antes do casamento).
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EXEMPLO:
Cônjuge
Meação – 50% sobre bens comuns
Herança – ¼ (25%) sobre bens
particulares
Filhos
Bens comuns = ¼ para cada
Bens particulares = 18,75% para cada
2.ª corrente – concorrência sobre toda a herança
Sustenta que além de meação sobre os bens onerosos, o cônjuge herda em
concorrência com os descendentes sobre a totalidade da herança, em virtude do
princípio da indivisibilidade da herança.
EXEMPLOS:
Patrimônio: R$ 10.000,00 (particulares)
R$ 100.000,00 (aqüestos)
Herança: R$ 60.000,00 (50 +10).
Art. 1.832
Cônjuge = 50% de meação + 1/4 da herança
em concorrência
Filhos = dividem ¾ da herança = 15% para
cada um
88
c) Regime de participação final nos aquestos (art. 1.672 CC)
Embora não expressamente previsto, nesse regime, ocorre a concorrência. A
opção por este regime deve ser elaborada através de pacto antenupcial. Neste caso,
a partilha assemelha-se aos casos de comunhão parcial de bens:
89
Isto aplica-se, também, nos casos em que houver concorrência com herdeiros
netos. Exemplo:
90
Cônjuge sobrevivente = meação + 1/3
Pai = 1/3
Mãe = 1/3
- Pai = ½
91
Este direito é extensivo ao companheiro, nos termos do Enunciado 117 das
Jornadas de Direito Civil:
Neste caso, mesmo que o bem seja deferido, pelo inventário, a outro herdeiro,
caberá ao cônjuge o direito real de habitação, sendo, então, vedada a venda deste
imóvel (desde que seja o único daquela natureza a inventariar).
92
IRMÃOS BILATERAIS E UNILATERAIS
93
Herdeiros necessários são os que não podem ser afastados da sucessão
legítima por vontade do autor da herança. Possuem a garantia da legítima.
Legítima: a porção (a metade) que a lei reserva aos Herdeiros Necessários,
sobre o acervo existente, quando da abertura da Sucessão.
CLÁUSULAS RESTRITIVAS
O autor da herança, conforme determina o art. 2.014, CC pode definir quais
os bens e valores que comporão os quinhões hereditários de cada herdeiro:
Art. 2.014. Pode o testador indicar os bens e valores que devem compor os quinhões
hereditários, deliberando ele próprio a partilha, que prevalecerá, salvo se o valor dos
bens não corresponder às quotas estabelecidas.
94
Além disso, o autor da herança não pode estabelecer cláusulas de
inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade sobre os bens da legítima
sem que haja justa causa. É o que dispõe o art. 1.848, CC.
Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode
o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de
incomunicabilidade, sobre os bens da legítima.
§ 1o Não é permitido ao testador estabelecer a conversão dos bens da
legítima em outros de espécie diversa.
§ 2o Mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser
alienados os bens gravados, convertendo-se o produto em outros bens, que
ficarão sub-rogados nos ônus dos primeiros.
Assim, apenas se houver justa causa é que essas cláusulas poderão ser
estabelecidas pelo de cujus via testamento. Essa justa causa deve ser trazida pelo
de cujus no testamento. EXEMPLO: incomunicabilidade, pois o cônjuge do herdeiro
necessário é um caçador/caçadora de dotes, porque o cônjuge do herdeiro possui
filho fora do casamento e, em razão do regime da comunhão universal, esse filho
acabará por herdar o patrimônio do de cujus, etc. Inalienabilidade e
incomunicabilidade, pois o herdeiro é consumidor compulsivo e aposta em jogos de
azar, etc.
Art. 1.849. O herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua parte
disponível, ou algum legado, não perderá o direito à legítima.
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COLATERAIS: EXCLUSÃO SEM CONTEMPLAR
Supremacia dos herdeiros necessários sobre os facultativos: colaterais.
Regra: Se os colaterais não forem contemplados pelo testador (e se, a quota
disponível beneficiar outros), estarão excluídos da Sucessão. É uma forma indireta
de deserdação (sem ação e sem complicação).
Herdeiros Facultativos: liberdade de testar é absoluta; a totalidade do
patrimônio por ser objeto de testamento.
96
PRESSUPOSTOS (REQUISITOS)
1) A morte do representado: não há representação de herdeiro vivo.
Exceção: ter sido declarado deserdado, indigno ou ausente. Não cabe na
renúncia.
2) Parentesco em linha descendente: o representante deve ser
descendente do representado, ou, EXCEPCIONALMENTE, colateral – filho do irmão
(sobrinho) do autor da herança. A descendência é a civil e não apenas a biológica
(adoção, também).
3) Capacidade sucessória do representante em relação ao representado:
(legitimação para herdar). Deve ter legitimação para herdar. Ex. O filho substitui o
pai morto na herança do avô (linha descendente); ou filho substitui o pai pré-morto
na sucessão de um tio (linha colateral). Importante ressaltar a isonomia
Constitucional: igualdade dos filhos.
4) Inexistir solução de continuidade no encadeamento de grau entre o
representante e o representado: não se opera per saltum et omisso médio. Ex. o
bisneto não representa o filho do autor da herança se ainda vive o neto deste.
5) Que reste, no mínimo um filho do de cujus ou, na linha colateral um
irmão do falecido. Se não a sucessão será por direito próprio.
EFEITOS DA REPRESENTAÇÃO
A representação produz dois efeitos:
1) O representante (representantes) só pode herdar o que herdaria o
representado, se vivesse (se vivo fosse) (art. 1854, CC). A porção é a mesma;
2) O quinhão do representado partir-se-á por igual entre os representantes
(art. 1855, CC).
3) O renunciante à herança de uma pessoa pode inobstante representá-la na
sucessão de outra. Na renúncia, os descendentes do abdicante não herdam por
direito de representação (art. 1856, CC). Assim, os efeitos da renúncia não passam
da herança à qual houve manifestação de repúdio.
4) Os representantes estão obrigados a trazer à colação os bens doados ao
representado pelo autor da herança (art. 1791); quando os netos, representando os
97
pais, sucedem os avós, serão obrigados a trazerem colação, para igualdade de
legítima.
5) O representante é considerado um herdeiro legítimo (e
necessário...Colaterais, não), com todos os direitos inerentes (direito da saisina – art.
1572 – 1.784), sendo igualitária sua posição relativamente aos co-herdeiros.
6) A responsabilidade do representante por dívidas do espólio se sujeita ao
benefício do inventário – responde por elas até o limite do quinhão.
7) A quota hereditária do representante não responde pelas dívidas do
representado, mas pelas do autor da herança.
8) O direito de representação se opera na sucessão legítima
(excepcionalmente, na testamentária, quando será chamada de substituição.
98
POSIÇÃO
EXEMPLOS:
1º EXEMPLO: Se o de cujus deixa três irmãos, sendo que um deles já
falecido com filhos, a herança será dividida em três partes, cabendo uma para cada
irmão vivo e a terceira deverá ser repartida entre os sobrinhos que herdarão por
representação. Receberão a parte que caberia ao pai, se vivo fosse.
2º EXEMPLO: o de cujus deixa um (1) irmão vivo; um irmão (pré-morto) com
dois filhos e outro irmão (pré-morto) com três filhos. Divide-se em três partes iguais,
correspondente às três estirpes.
3º EXEMPLO: o de cujus deixa 3 irmãos vivos, 1 irmão pré-morto com filhos
e outro irmão pré-morto sem filhos. Divide-se em quatro (4) partes.
4º EXEMPLO: o de cujus deixa três irmãos vivos; um irmão pré-morto com
filhos; outro irmão pré-morto, com um filho pré-morto que tem um filho vivo. Divide-
se em quatro (4) partes... sobrinho-neto não herda.
LINHA ASCENDENTE
Art. 1852: O direito de representação se dá na linha reta descendente; mas
nunca na linha ascendente. Se um filho, ao falecer, deixa o pai vivo e a mãe já se
encontra falecida, sem quaisquer herdeiros descendentes, o progenitor vivo será
contemplado com toda herança. Os progenitores maternos nada herdarão.
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NA RENÚNCIA À HERANÇA (ART. 1.811, CC)
Não há direito de representação. Porém, se todos os herdeiros da classe
renunciarem, os filhos dos herdeiros renunciantes virão ao inventário por direito
próprio, recebendo a herança por cabeça, isto porque, o ato do renunciante tem
caráter pessoal, não se estendendo aos filhos.
Daniel, 30 anos, amealhou ao longo da vida um patrimônio considerável. Era solteiro e decidira não
ter filhos. Seus pais já eram falecidos e Daniel tinha apenas um irmão bilateral, Alexandre, e um irmão
unilateral, Rafael. Após 30 dias em coma induzido em razão de grave acidente de carro, Daniel veio a
falecer em 30 de agosto de 2014.
Diante do exposto, responda aos itens a seguir.
A) Como deverá ser partilhada a herança entre os irmãos de Daniel? (Valor: 0,60)
B) Se depois de três anos do falecimento de Daniel, e já realizada a partilha de seus bens,
aparecesse mais um irmão unilateral, até então ignorado pelos demais, que ação judicial poderia
intentar para receber parte dos bens da herança? Qual o prazo para ajuizamento? (Valor: 0,65)
PADRÃO DE RESPOSTA:
A) Nos termos do Art. 1.841 do Código Civil: “Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais
com irmãos unilaterais, cada um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar”. Assim,
Rafael, irmão unilateral, herdará somente metade do que Alexandre herdar.
B) Nos termos do Art. 1.824 do Código Civil, esse irmão teria direito ao seu quinhão hereditário,
sendo que a ação judicial cabível seria a petição de herança, cujo prazo prescricional é de dez anos a
contar da abertura da sucessão (Art. 205 do CC).
Íris e Apolo, residentes no Rio de Janeiro, iniciaram namoro no final de 2008, estando ambos
divorciados. Desde 2010, mantinham relação pública, notória, contínua e duradoura, coabitando
desde o início desse mesmo ano no domicílio de Íris, juntamente com Selene, de 19 anos, fruto do
primeiro casamento de Íris. Íris e Apolo optaram por não realizar uma escritura de união estável.
100
Alguns meses após a mudança para o domicílio de Íris, Apolo vendeu o apartamento em que residia
e, com o produto da venda, adquiriu uma casa, onde seus filhos gêmeos do primeiro casamento,
Pietro e Dionísio, de 22 anos de idade, passaram a residir. Em janeiro de 2011, o casal, juntamente
com Selene, mudou-se para outro apartamento, arrematado nesse mesmo mês por Apolo, em praça
judicial, com recursos provenientes dos rendimentos do casal. Lá realizaram diversas obras, em
razão de o apartamento necessitar de reformas nas instalações hidráulica e elétrica. Em 26 de
dezembro de 2014, Íris e Apolo, acompanhados de Selene, sofreram acidente automobilístico, no
qual faleceram ao mesmo tempo, sem deixar testamento, tendo sido declarada a morte do casal em
suas respectivas certidões de óbito. Selene, ainda que gravemente ferida, sobreviveu.
Meses depois do acidente, Pietro, na qualidade de inventariante, enviou notificação para Selene, que
ainda residia no mesmo apartamento, comunicando que ele e Dionísio, únicos herdeiros de Apolo,
tomariam a posse do apartamento, caso ela não o devolvesse voluntariamente, sob o argumento de o
bem pertencer somente a seu pai, uma vez que este o arrematara em seu nome apenas. Selene, na
qualidade de única herdeira de sua mãe Íris, o(a) procura em busca de orientação jurídica.
Sobre a situação descrita, responda aos itens a seguir.
A) Quem são os herdeiros dos imóveis adquiridos por Apolo enquanto residia com Íris e como
deverão ser partilhados? (Valor: 0,65)
B) Para buscar a tutela de seu direito, que ação Selene deve ajuizar? Quais serão as partes deste
processo? (Valor: 0,60)
PADRÃO DE RESPOSTA:
A) A CRFB/88 inovou ao conferir à união estável atributos de entidade familiar, proclamando no Art.
226, § 3º, que “para efeito da proteção do Estado é reconhecida a união estável entre o homem e a
mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”, sendo o tema
atualmente disciplinado pelo CC. Restando demonstrada a unidade familiar, impõe-se o
reconhecimento da união estável, nos termos do Art. 1723,
§ 1º, e do Art. 1725, ambos do CC, entre Íris e Apolo, de janeiro de 2010, data que passaram a residir
conjuntamente no apartamento de Íris, a 26 de dezembro de 2014, data do óbito de ambos, incidindo
à hipótese o regime da comunhão parcial de bens para o patrimônio havido em comum no referido
período, uma vez que a questão não menciona a existência de escritura de união estável com adoção
de regime diverso. A casa adquirida para residência de Pietro e Dionísio foi subrogada em bem
particular de Apolo e, portanto, não se comunica com Íris (Art. 1.659, inciso I, do CC), sendo apenas
os filhos gêmeos os herdeiros desse bem. Já o apartamento arrematado foi adquirido com recursos
provenientes do esforço comum do casal, pelo que deve ser partilhado entre o espólio de ambos, na
proporção de 50% para cada um (Art. 1.660, inciso I, do CC). Cumpre ainda destacar que não há que
se falar em direitos sucessórios entre Íris e Apolo, uma vez que são comorientes (Art. 8º do CC), pelo
que Selene herdará 50% do imóvel adquirido durante a constância da união daqueles, enquanto que
Pietro e Dionísio, filhos de Apolo, os outros 50% (Art. 1.835 do CC), na proporção de 25% cada um.
101
OBSERVAÇÃO – esta questão é anterior a decisão do STF que declarou inconstitucional o art. 1.790,
CC. Portanto, este padrão de respostas é o vigente a época da prova realizada. Hoje, contudo,
modifica-se a questão da partilha. Isto porque, tendo havido a equiparação, em termos de direito
sucessório, entre o cônjuge e o companheiro, a partilha, em razão da decisão do STF, ficará da
seguinte forma (considerando os mesmos dados do enunciado acima): Como não realizaram
escritura pública de reconhecimento de união estável, o regime de bens na união estável será o
regime da comunhão parcial de bens. Sendo assim, considerando que morreram Apolo e Íris, ao
mesmo tempo (comoriência), a partilha será da seguinte forma: como o apartamento no qual o casal
morava foi arrematado em leilão, embora tendo sido registrado em nome de Apolo, deverá ser
partilhado metade para seus herdeiros (Dionísio e Pietro) e, a outra metade, para Selene (herdeira de
Íris). Quanto a casa, adquirida para residência de Pietro e Dionísio, considerando que foi subrogada
em bem particular de Apolo, em termos de direito sucessório, caso Íris tivesse sobrevivido a Apolo,
herdaria em concorrência com os descendentes dele. Contudo, tendo havido comoriência (Art. 8º do
CC), um não herda do outro, de maneira que esta casa ficará apenas para Dionísio e Pietro.
B) Assim, Selene, na qualidade de única herdeira e inventariante do espólio da mãe, deve ajuizar
ação de reconhecimento e dissolução pelo óbito de união estável em face do espólio de Apolo, que
será representado por seu inventariante, Pietro (Art. 75, inciso VII, do CPC/15).
102
037. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
3.1 Conceito
A noção de testamento está clara no art. 1.857 e 1.858 do Código Civil, sendo
considerado um “ato personalíssimo e revogável pelo qual alguém dispõe da
totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte”
(GONÇALVES, 2012, p. 228).
Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade
dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
§ 1o A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no
testamento.
§ 2o São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial,
ainda que o testador somente a elas se tenha limitado.
Art. 1.858. O testamento é ato personalíssimo, podendo ser mudado a
qualquer tempo.
103
Mas essa noção do art. 1.857 limita a vontade do testador a disposições de
caráter patrimonial. Contudo, sabe-se que o testamento serve, também, para
disposições de caráter diferente do patrimonial:
3.2 Características
a) Ato personalíssimo: é privativo do autor da herança. Não se admite
testamento por procuração.
b) Ato revogável (mudado a qualquer tempo): a expressão revogável é mais
adequada e correta; é a principal característica dos testamentos. A revogabilidade é
da essência do testamento.
c) Negócio jurídico unilateral: aperfeiçoa-se com a vontade única do
testador. Não há a necessidade de manifestação da vontade do beneficiário.
d) Unipessoal: um só agente pode testar, num só ato. O testamento de mão
comum é defeso em lei, visa garantir a liberdade das disposições e evitar o pacto
sucessório - proibido art. 1.863 CC. Assim é vedado o testamento conjuntivo (mão
comum), feito por duas ou mais pessoas, seja simultâneo (disposição conjunta para
beneficiar terceira pessoa), recíproco (instituindo benefícios mútuos) ou
correspectivo (disposições em retribuição de outras correspondentes). Nada impede,
contudo, que o casal faça cada um seu testamento em que um deixa os bens para o
outro. O que não pode é isso ser feito em um mesmo ato. Podem fazer, no mesmo
momento, mas em atos diferentes.
e) Solene: é um negócio jurídico não apenas formal, mas provido de
formalidades essenciais, prescritas em lei. A solenidade assegura a existência, a
validade e a eficácia. O formalismo constitui garantia e salva-guarda à liberdade de
104
testar. Exceção: testamento nuncupativo (de viva voz), admissível como espécie de
testamento militar (art. 1.896).
f) Gratuito: não exige do contemplado qualquer correspectivo, contrapartida
ou reciprocidade, ou seja, não há vantagens para o testador. Mesmo que haja
encargo para o beneficiário, o testamento segue sendo gratuito. Está contida na
unilateralidade. Não existe contra-prestação (exigível). Entretanto, o herdeiro
responde pelas dívidas (arts. 1.792 e 1.821).
g) Revogável: a vontade testamentária é essencialmente revogável (art.
1.969), é ato de última vontade, desde que não tenha sido modificado; A
revogabilidade é conceito legal e da essência do testamento. É irrenunciável a
liberdade de revogar ou modificar o testamento. Toda renúncia é considerada não
escrita. Pode, contudo, o testador, modificar o testamento a qualquer momento e
quantas vezes quiser (art. 1.858). Exceção: o testamento é irrevogável com relação
a cláusula na qual eventualmente o testador tenha reconhecido filho fora do
matrimônio (art. 1.609, III). Se houverem vários testamentos sucessivos, feitos pelo
mesmo testador, com seu falecimento, terá validade apenas o último, a não ser que
sirva para completar o anterior.
h) Patrimonialidade não necessária: serve para dispor de parte ou de todo
patrimônio (parte disponível), bem como para instituir herdeiros, deserdá-los ou
retratar a deserdação (1.857, § 2º).
i) Ato causa mortis: a morte do testador é condição de eficácia do
testamento, com imediata abertura do processo sucessório. Assim, o testamento só
produz efeitos com a morte do testador. A abertura da sucessão é essencial para o
cumprimento das disposições contidas no testamento.
105
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo,
não tiverem pleno discernimento.
Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos.
O dispositivo legal dispõe sobre os que não podem testar, por não terem
discernimento, de forma que se subentende que todos os demais possuem
capacidade para testar. Assim, podem testar os cegos e os analfabetos, por
exemplo. A norma do art. 1.860 é restritiva e só abrangem os casos específicos, não
permitindo interpretação extensiva.
106
c) Incapacidade testamentária dos relativamente incapazes: os
relativamente incapazes são proibidos de testar, exceto os maiores de 16 anos, cujo
§ único do art. 1.860 prevê a possibilidade. Não podem testar, portanto os ébrios
habituais e os viciados em tóxicos, por não terem consciência dos atos praticados. O
surdo mudo só não testa se não conseguir expressar sua vontade. O surdo, mas não
mudo, poderá testar, conforme art. 1.866.
d) Hipóteses não geradoras da incapacidade: exceto as hipóteses
previstas no art. 1.860, todas as pessoas podem fazer testamento válido. A idade
avançada, por exemplo, não é suficiente para negar a capacidade testamentária. O
que determina a incapacidade testamentária é a falta de discernimento. Deve-se
destacar que, em razão do Estatuto da Pessoa com Deficiência, houve alteração dos
arts. 3.º e 4.º do CC. Sendo assim, os deficientes mentais não são mais incapazes
podendo, portanto, testar.
107
IMPUGNAÇÃO DA VALIDADE DO TESTAMENTO (ART. 1.859)
A validade do testamento só pode ser discutida/questionada após a morte do
testador. Enquanto estiver vivo, não há o que se discutir, mesmo porque o
testamento pode ser alterado.
Assim, prevê o art. 1.859 que se extingue em 5 anos o prazo para impugnar a
validade do testamento, contando da data do seu registro. O lapso quinquenal é
contado da Ação de Registro, Abertura e Cumprimento do Testamento (arts. 735 a
737 do CPC/2015). A ação de Registro só pode ser proposta a partir do óbito.
Por sua vez, o art. 1.909 afirma que são anuláveis as disposições
testamentárias que sejam viciadas por erro, dolo ou coação, extinguindo-se em 4
anos o direito de anular a disposição a partir do momento em que o interessado tiver
conhecimento do erro.
Significa dizer, portanto, que, ainda que se trate de um testamento nulo
(realizado sem a observância da forma legal ou que o testador deliberou mediante
dolo) só pode ser anulado até 4 anos após a ciência do vício.
108
Não se impede, porém, que, SEPARADAMENTE, marido e mulher façam
testamento um para o outro. Pode até ser na mesma data, com termos semelhantes,
mas em ATOS DISTINTOS, separados.
b) Testamento público – Arts. 1.864 a 1.867, CC
O testamento público é aquele escrito pelo Tabelião de Notas, no Tabelionato,
nos termos das declarações prestadas pelo testador. O Tabelião pode servir-se de
notas, minuta ou apontamentos do testador para realizar a escritura, devendo, para
sua validade, haver a presença de duas testemunhas durante todo o ato.
Diz-se PÚBLICO não apenas por estar registrado no livro de notas, mas
também porque é feito perante duas testemunhas. Logo, não é reservado, nem
sigiloso, podendo qualquer pessoa dele tomar conhecimento.
109
público o surdo e o surdo-mudo. Podem fazê-lo o surdo, o analfabeto, o cego e o
alfabetizado.
4) Assinaturas: depois de lido o testamento, deve ser coletada a assinatura
do testador, das testemunhas e do Tabelião.
110
acompanhado de 2 testemunhas. Requer a lavratura do auto de aprovação (art.
1.869).
b) Entrega do testamento: O testamento deve ser entregue pessoalmente
pelo testador ao tabelião, constituindo-se de ato personalíssimo, não admitindo a
utilização de portador.
c) Participação das testemunhas: As testemunhas participam do ato de
entrega do testamento, mas não precisa que conheçam o seu conteúdo.
d) Lavratura do auto de aprovação pelo Tabelião: Depois de aprovado, o
auto de aprovação será lido pelo oficial e assinado pelas Testemunhas, Testador e
Tabelião. O auto de aprovação deve vir, conforme o art. 1.869, CC, logo após a
última palavra do testador. A solenidade de aprovação deve ser feita sem
interrupções.
e) Cerramento: Trata-se da última fase do testamento cerrado. O tabelião
dobra a cédula e costura-a com cinco pontos de retrós e lança pingos de lacre sobre
cada um. Se houver o rompimento do lacre pelo testador, não terá validade o
testamento. Se for feito o rompimento contra a vontade do testador, deverão os
interessados demonstrar ao juiz tal fato, para que não anule o ato.
111
Testamento dilacerado (1.972): ter-se-á como revogado. É o risco desta
modalidade de testamento: uma deterioração ou dilaceramento acidental.
112
testemunhas serão inquiridas pelo juízo e, havendo o reconhecimento da
autenticidade, o juiz confirmará e determinará seu cumprimento.
Art. 737, CPC/2015: com o falecimento do testador deverá haver o
requerimento de registro do testamento. Poderão requerê-lo o herdeiro, legatário,
testamenteiro ou outra pessoa, detentora da cédula testamentária. O herdeiro que
não tiver requerido a publicação do testamento deverá ser intimado (§ 1.º). Uma vez
que esteja tudo nos conformes e ouvido o MP, o juiz confirmará o testamento.
e) Testemunhas instrumentárias
A atuação das testemunhas no testamento tem a função de conferir validade
ao ato.
Em princípio, todas as pessoas capazes, podem ser testemunhas. Contudo, o
art. 228, CC determina as pessoas que não podem ser testemunhas (cuidado com
as alterações do Estatuto da Pessoa com Deficiência):
113
FORMAS
EXECUÇÃO
As mesmas regras do testamento particular. Se público ou cerrado, segue-se
as normas de execução destes (art. 737, § 3.º, CPC/2015).
Art. 1885 – Se fechado, para manter secreto, a abertura se processa como o
testamento cerrado: será aberto pelo juiz que fará registrar.
CONSEQUÊNCIAS
Art. 1.882 – O codicilo pode ser autônomo, ou pode existir como parte
integrante de um testamento.
114
3.6 Formas especiais de testamento
Além das formas ordinárias de testamento previstas (público, cerrado e
particular), o CC prevê formas especiais de testamento, as quais não podem ser
livremente escolhidas pelas pessoas (como nas formas ordinárias), mas sim são
determinadas por circunstâncias e situações excepcionais nas quais se encontra a
pessoa que pretende manifestar sua vontade. Estes testamentos tem como
características a redução das formalidades, em razão da presença destas
circunstâncias ou situações excepcionais.
a) Marítimo
É a declaração de última vontade, feita a bordo de navios, embarcações: em
alto mar. Pode ser feito pelos tripulantes ou pelos passageiros (art. 1.888). Justifica-
se em caso de emergência e necessidade. Não prevalece se a embarcação estiver
em local onde o testador poderia ter desembarcado e testado de forma ordinária (art.
1.892). Caducará se o testador não morrer em viagem, nem nos 90 dias
subsequentes ao seu desembarque em terra, onde possa fazer, na forma ordinária,
outro testamento (art. 1.891).
115
FORMAS
CADUCIDADE: EFEMERIDADE
Art. 1.891 – Caducará: Tem eficácia temporal e condicional:
a) Não morrer na viagem;
b) 90 dias subsequentes ao desembarque não testar da forma ordinária
c) É nulo o testamento feito em portos – neste caso, poderia ser feito através
de uma forma ordinária de testamento. Tem que ser em alto mar (Art. 1892).
116
operações de guerra dentro ou fora do país. Justifica-se pela excepcionalidade da
situação.
FORMAS
117
3.7 Disposições testamentárias em geral - Art. 1.897/1.911
As disposições testamentárias contemplarão unicamente pessoas naturais ou
jurídicas. Inadmissível a contemplação de animais. São de natureza:
a) Interpretação do testamento
Quando da interpretação das cláusulas testamentárias, deve-se atentar para
buscar a verdadeira intenção do testador, ainda que não tenha se saído bem com as
palavras escritas. É nesse sentido a determinação do art. 1.899, CC.
b) Regras proibitivas
• Nomeação a termo: Art. 1898
A designação do tempo: é vedada, com exceção do Fideicomisso. É cláusula
não escrita. A herança se transmite imediatamente, a partir do óbito. Aberta a
sucessão o herdeiro não tem o que aguardar.
Reafirma o princípio da saisine – a herança transmite-se com a morte.
Nesse caso, não há o prejuízo da nomeação em si, mas sim da designação
do termo (inicial ou final).
• Instituição de herdeiro sob condição captatória: Art. 1.900, I
Não admite nenhuma espécie de pacto sucessório (vedação de contrato que
tenha por objeto herança de pessoa viva – art. 426, CC).
Essa condição captatória “é a que representa um induzimento, mediante
nomeação e favorecimento de outrem, como herdeiro, para que este também inclua
o captador, ou terceiro, em suas disposições testamentárias, como beneficiário”
(Gonçalves, p. 331).
EXEMPLO: lego tal quantia para Fulano se ele me contemplar em seu
testamento.
EXEMPLO: deixo a Fulano, que instituo como meu herdeiro, o quanto ele me
transmitir em seu testamento.
118
Essa vedação é em razão de que a instituição de herdeiro deve ser através
da plena liberdade e vontade do testador e, sendo possibilitada essa hipótese,
poderia haver influência do captador sobre o testador.
• Referência a pessoa incerta: Art. 1.900, II
Não há como ser cumprido um ato de disposição de última vontade se o
beneficiário não puder ser identificado. Nesse sentido, não é válida a disposição
testamentária em que conste: “benefício meus amigos” ou “benefício a pessoa mais
digna da cidade”. Trata-se de expressões vagas, de forma que não há como precisar
quem é a pessoa que o testador pretende beneficiar.
Quanto mais claro, melhor será. Contudo, não é preciso indicar o nome da
pessoa, desde que existam características possíveis de identificar o beneficiário.
EXEMPLO: deixo x% dos meus bens para o primeiro filho da minha irmã
Fulana, que nascer após a minha morte.
• Beneficiar pessoa incerta, a ser identificada por terceiro: Art. 1.900, III
É simples. Neste caso, não seria uma liberalidade personalíssima do falecido,
mas sim do terceiro, que determinaria quem seria beneficiado.
• Beneficiar ao herdeiro, ou a outrem, da prerrogativa de fixar o valor do
legado: Art. 1.900, IV
É simples. Neste caso, não seria uma liberalidade personalíssima do falecido.
Quem deve fixar o valor do legado é o testador e não terceiro, ainda que a sua
ordem.
EXEMPLO: A, B e C são meus herdeiros, cada um com a proporção que
Fulano decidir.
• Beneficiar às pessoas indicadas nos arts. 1.801 e 1.802: Art. 1.900, V
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou
companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver
separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem
se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento.
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas
não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato
oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa.
119
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os
descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a
suceder.
c) Regras permissivas
• Nomeação pura e simples: art. 1897
Puro e simples: não tem condição suspensiva e nem resolutiva. Não há
qualquer encargo, condição ou contraprestação.
Ex.: nomeio Fulano como meu herdeiro, que receberá x% da minha herança.
• Nomeação sob condição: art. 1897
Condição é acontecimento futuro e incerto do qual depende a eficácia do
negócio jurídico.
Ex.: deixo minha casa para Marcelo se ele me sobrevier.
Se houver uma condição suspensiva a aquisição do direito pelo herdeiro
dependerá do implemento da condição. O implemento da condição terá efeito
retroativo (ex tunc). Se não houver o implemento da condição, a cláusula
testamentária caducará.
Ex.: Fulano receberá “x valor” mensal enquanto for estudante de direito
Neste caso, havendo uma condição resolutiva, se Fulano parar de estudar,
não mais receberá o valor definido pelo testador.
• Nomeação com a imposição de encargo: art. 1897
A herança pode vir subordinada a um encargo que o beneficiário deverá
cumprir, caso aceite a herança.
Ex.: instituo Fulano como meu herdeiro, que receberá x% do meu patrimônio,
com o encargo de alimentar Cicrano até os 24 anos de idade.
Há discussão doutrinária e jurisprudencial quanto ao descumprimento do
encargo e a perda da validade da disposição testamentária. A maioria da doutrina
entende que, descumprido o encargo, os interessados deverão propor ação judicial
para que seja declarada a ineficácia da deixa testamentária.
• Disposição motivada: art. 1897
É possível a nomeação de herdeiro por certo motivo. O testador ao nomear
alguém como seu beneficiário não é obrigado a indicar o motivo, mas, caso queira,
120
não pode haver a confusão com obrigação modal (de encargo), pois se trata de fatos
passados.
Ex.: nomeio Fulano como meu herdeiro, pois foi ele quem salvou a vida do
meu filho no acidente de carro sofrido em 2006.
• Disposição com cláusulas de inalienabilidade: art. 1.911
O art. 1.911 dispõe sobre a possibilidade de o testador estabelecer ônus ou
gravame sobre os bens que integram a herança. Essa cláusula de inalienabilidade
que pode ser imposta, traz como consequência a impenhorabilidade e a
incomunicabilidade desses bens.
Trata-se, portanto, da transferência do domínio de forma limitada.
Quando se faz a interpretação do art. 1.911 em conjunto com o art. 1.848,
verifica-se que a restrição imposta ao testador de justa causa, refere-se tão somente
a imposição de cláusulas para a legítima. Quanto ao testamento ou legado, não há a
imposição de justa causa.
121
a) Superveniência de descendente sucessível (Art. 1.973)
EXEMPLO: ação de investigação de paternidade procedente posterior ao
testamento, sem o conhecimento prévio do testador.
A existência de qualquer filho quando da feitura do testamento afasta a
caducidade, mesmo que, após, surjam outros.
122
REVOGAÇÃO: O testamento é essencialmente revogável. Trata-se de
mudança na redação feita pelo próprio testador.
a) Espécies de revogação
REVOGAÇÃO EXPRESSA: dá-se mediante a confecção de novo testamento,
onde é indispensável mencionar a revogação do anterior, ou parte dele. Observa-se
a mesma solenidade para a celebração (art. 1.969 CC). Não é necessário que a
revogação seja efetuada por outro testamento da mesma modalidade, mas,
necessariamente, tem de ser feita por outro testamento. Ex: testamento marítimo
pode revogar público; cerrado pode revogar particular.
REVOGAÇÃO TÁCITA: decorre do surgimento de novo testamento, cujos
dizeres e o conteúdo apresentam-se incompatíveis com o anterior. Ante a
contradição, permanece sempre a disposição mais recente. O simples fato de existir
novo testamento não significa que tenha revogado o anterior. Ambos podem
coexistir, desde que não sejam contraditórios, ou seja, desde que se complementem.
b) Formas de revogação
Segundo o art. 1.970, CC, a revogação do testamento pode se dar de forma
total ou parcial.
123
c) Efeitos da revogação
Priva-se o testamento de qualquer eficácia, se total, ou da eficácia na parte
atingida, se parcial;
Passa a vigorar a sucessão (legítima) hereditária, em todos os seus efeitos.
d) Anulabilidade – nulidade do testamento
Tal como em todo negócio jurídico, a vontade do testador é válida e eficaz se
isenta de erro, dolo ou coação.
Tais vícios nodoam, comumente, disposições testamentárias, mas também
podem manchar o próprio testamento. Bem pode ocorrer que alguém teste sob
coação ou dolo.
Provado o vício da vontade, deve ser anulado o testamento, a requerimento
do interessado.
O erro, obstáculo e a violência física determinam a nulidade e não a simples a
nulidade do testamento, visto que determinam a falta de vontade, não sendo,
rigorosamente, vícios de consentimento.
Certas formas testamentárias excluem a possibilidade de ocorrência de
alguns vícios de vontade.
124
3.11 Legados – art. 1.912 e seguintes, CC.
a) Situações ou classificação
Legado de coisa alheia – não pode o testador legar coisa certa que não lhe
pertença no momento da abertura da sucessão (art. 1.912).
Exceções:
Art. 1.912 – será válido o legado de coisa alheia, se a coisa, mesmo não
pertencendo ao testador na época do testamento, após o testamento, vier a integrar
o patrimônio do testador.
Art. 1.913 – o testador determina que o herdeiro entregue bem seu (dele
herdeiro) a terceira pessoa. Trata-se, na verdade, de um encargo que, se não
cumprido, equivale à renúncia.
Art. 1.915 – confuso. Como deve o herdeiro cumprir o legado.
Legado de crédito. Art. 1.918 – trata-se de uma cessão de crédito, em que o
legatário substitui o testador e primitivo credor e pode promover a respectiva
cobrança.
Legado de alimentos. Art. 1.920 – engloba o sustento, a cura, o vestuário e
a casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor. Via de
regra, cabe ao testador fixar o valor. Caso não o faça, o Juiz deverá fixar estes
alimentos, atendendo para as forças da herança e para as necessidades do
alimentário. Exemplo: compelir herdeiro a pagar alimentos a terceiros.
125
c) Direito de pedir
Desde a morte do testador o legatário tem direito de pedir a coisa deixada por
legado, verificar art. 1.923 CC.
126
Este direito de acrescer, no caso do direito sucessório, ocorre apenas na
sucessão testamentária, pois na sucessão legítima o direito de representação
impede a aplicação deste instituto, salvo os casos de direito de renúncia.
EXEMPLOS:
SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
Se o falecido tiver deixado 10% de seu patrimônio (ou uma casa) para A e B,
a herança será dividida: 90% (por sucessão legítima), entra A, B e C (30% para cada
um); 10% entre A e B. Como, neste caso, o testador não deixou expresso como
seria a divisão dos 10% entre A e B, caso B faleça, A receberá todos os 10% (pelo
direito de acrescer). Diferente será se o falecido disser: “Deixo 10% do meu
patrimônio para A e B, em parte iguais” (ou em qualquer percentual definido). Neste
caso, não haverá o direito de acrescer.
127
1.942, CC – quando os nomeados em conjunto receberem uma só coisa (legado) ou
quando esta não puder ser dividida sem risco de desvalorização.
b) Fundamentos
a) Decorrência da vontade presumida do testador – quando nomeia vários
beneficiários pela mesma disposição testamentária, para toda a herança ou parte
dela, sem determinar a porção de cada um; ou quando deixa a vários legatários a
mesma coisa ou parte dela. Presume-se que ele desejava que se um faltasse, os
demais ficassem com a herança.
b) Quando ocorre o direito de acrescer, o acréscimo é forçado, pois não pode
o beneficiário (coerdeiro ou co-legatário) aceitar sua parte e renunciar ao direito de
acrescer. Ademais, nos termos do art. 1.943, § único, os coerdeiros ou co-legatários,
aos quais acresceu o quinhão daquele que não quis ou não pôde suceder, ficam
sujeitos às obrigações ou encargos que o oneravam.
128
c) Pressupostos
Para que ocorra o direito de acrescer, alguns pressupostos ou requisitos
devem estar presentes:
a) Nomeação de vários herdeiros ou legatários na mesma disposição
testamentária;
b) Atribuição sem discriminar as porções ou o quantum, no mesmo bem ou
porção de bens;
c) A falta ou impossibilidade de herdar de um herdeiro ou legatário instituído
no testamento;
d) O testamento não pode ter indicado uma pessoa determinada para que, na
falta do herdeiro ou legatário, receba sua parte – não pode haver substituto;
e) Indivisibilidade do bem, no caso de legados;
f) Indeterminação das quotas hereditárias.
129
EXEMPLO: Marília e Vinicius são meus herdeiros em 20% de meus bens.
Esta disposição estabelece uma solidariedade, uma conjunção entre
herdeiros (RET ET VERBIS – UMA SÓ FRASE DE DISPOSIÇÃO).
Daí necessário que estejam presentes 3 (três) elementos:
a) A instituição de herdeiros numa só cláusula;
b) A identidade de bens ou quotas hereditárias;
c) Indeterminação das quotas hereditárias.
g) Legado de usufruto
Testamento institui o exercício do usufruto em favor de duas ou mais
pessoas. O usufruto é o direito de usar e gozar da coisa, por tempo certo ou
vitaliciamente. Haverá o direito de acrescer quando a nomeação for conjunta, sem
especificação das quotas. Assim, são requisitos: a) que haja a nomeação conjunta,
sem especificar as frações em que incide o usufruto; b) sempre sobre um bem
individuado.
130
determinada para as duas alternativas, ainda que o testador só a uma se
refira.
a) Substituição vulgar
Quando o testador designa uma ou mais pessoas para ocupar o lugar do
herdeiro ou legatário que não quiser ou não puder aceitar o benefício.
Trata-se de uma instituição condicional (que só ocorre que o beneficiário não
puder ou não quiser receber) e subsidiária (só produz efeitos se a disposição
principal não produzir efeitos). Estabelece a vocação direta, pois o substituto herda
diretamente do falecido.
131
Civil). Além disto, só pode beneficiar pessoa ainda não concebida a época do óbito
do instituidor (art. 1.952, CC). Se a pessoa nomeada como fideicomissária já for viva
no momento do óbito do autor da herança, o fideicomisso resolve-se. O
fideicomissário recebe a nua propriedade e o fiduciário fica com o usufruto do bem (§
único do art. 1.952, CC).
132
cláusula não será totalmente nula. Quando A falecer, B adquirirá a propriedade do
bem. O art. 1.959 estabelece que são nulos os fideicomissos além do segundo grau.
133
seu valor. Ex. Se alguém tem 2 filhos faz uma disposição a favor de um no montante
de 60%, a redução ocorre em 10%.
Se o testador, prevenindo o caso de redução, dispuser que se inteirem, de
preferência, certos herdeiros ou legatários, a redução far-se-á nos outros quinhões
ou legados, observando-se ao seu respeito a ordem estabelecida na regra anterior.
Ex. Bens 70mil reais. Deu 20 mil a um amigo e 50 mil a um sobrinho. Tem filho,
reserva da legítima. Desconta, visto que mencionou, primeiro do sobrinho.
3.15 Testamenteiro
Testamenteiro é o executor do testamento. É a pessoa que o de cujus
encarrega de fazer cumprir suas disposições de última vontade.
O testador pode nomear um ou mais testamenteiros, conjuntos (quando a
atuação é conjunta, cumulando funções) ou separados (quando o exercício da
testamentaria é feito uns em falta dos outros).
a) Espécies de testamenteiro
O testamenteiro pode ser:
• Instituído: quando o testador o nomeia.
• Dativo: quando não havendo testamenteiro nomeado ou, se o nomeado
recusar a testamentaria, o juiz nomeia alguém para o encargo – art. 735,
§ 4.º, CPC/2015.
• Testamenteiro universal: a quem se confere a posse e a administração
da herança ou de parte dela, caso não haja herdeiros necessários – art.
134
1.977. O art. 1.978 determina que o testamenteiro universal pode
requerer o inventário e cumprir o testamento.
• Testamenteiro particular: não desfruta do direito de posse ou
administração da herança por não tê-los ou por tê-los perdido.
b) Nomeação do testamenteiro
O testamenteiro pode ser nomeado no próprio testamento ou codicilo. O
testador pode, ainda, instituir um ou vários testamenteiros para atuar em conjunto ou
em separado. Se não houver testamenteiro, o cumprimento do testamento deverá
ser cumprido pelo cônjuge ou companheiro sobrevivente ou qualquer herdeiro. Se
não houver testamenteiro, o juiz nomeará dativo, obedecendo a ordem (§ 4.º, art.
735, CPC/2015).
c) Aceitação do encargo
A pessoa que é nomeada testamenteira pode aceitar ou não o encargo. Em se
tratando de um múnus privado ninguém é obrigado a exercer.
d) Atribuições do testamenteiro
1.979, CC – Registro do testamento – como o testamenteiro é o detentor (em
regra) do testamento, a ele incumbe (compete/pode) levá-lo a registro.
1.980, CC – Obrigação do Testamenteiro: cabe ao testamenteiro a
execução do testamento. Para tanto, deve:
1. apresentar o testamento em juízo para o registro.
2. depois de registrado o testamento, dar cumprimento, ou seja, executar as
disposições nele constantes – prazo – 180 dias.
1.982, CC - O testamenteiro – executor da última vontade – age de acordo
com os poderes conferidos pelo Testador.
1.983, CC - Prazo de 180 dias: suficiente. O prazo pode ser prorrogado (§
único).
1.984, CC – Na ausência de nomeação de testamenteiro, a execução
testamentária, compete a um dos cônjuges ou herdeiro nomeado pelo juiz.
3. defender a validade do testamento – art. 1.981, CC.
135
1.981, CC - Propugnar a validade do testamento: deve defender a validade do
testamento, contra quem impugnar em juízo.
4. exercer as funções de inventariante, se estiver na posse e na
administração da herança ou se não houver cônjuge, nem herdeiros necessários.
1.990, CC - O testamenteiro exerce as funções de inventariante, na hipótese
do testador “tiver distribuído toda a herança em legados”.
5. prestar contas – art. 1.980.
1.985, CC - o encargo não se transmite aos herdeiros do testamenteiro. É
encargo pessoal indelegável. O testamenteiro pode fazer-se representar em juízo
por procurador (1.985) e mandatário (1.764).
1.986, CC - Mesmo conteúdo – responsabilidade solidária dos testamenteiros
aceitantes.
e) Remuneração do testamenteiro
A testamentaria é função remunerada. O testamenteiro tem direito a receber
um prêmio ou vintena pelos serviços prestados, a ser fixado livremente pelo
testador. Se não o fizer, o juiz fixará, dentre os limites de 1 a 5% da herança líquida.
1.987, CC - Direito ao prêmio – Vintena – de 1 a 5% sobre a herança líquida.
Herdeiro ou legatário não recebe a gratificação.
1.988, CC - o herdeiro ou legatário nomeado testamenteiro pode escolher o
prêmio (1 a 5%) ou a herança ou legado (o que lhe for mais favorável).
Destaca-se, contudo, que este herdeiro a que o art. 1.988 refere-se é o
herdeiro instituído ou o legatário e não o herdeiro necessário. No caso de herdeiro
necessário nomeado testamenteiro, terá direito a receber o prêmio, pois não é
obrigado a exercer gratuitamente o encargo.
O pagamento da vintena deve ser feito em dinheiro, não sendo admitida a
adjudicação de bens para pagamento, salvo se for o meeiro.
136
XVI EXAME OAB - QUESTÃO PRÁTICA 3
Roberval não possuía filhos e seus pais já eram falecidos. Seu único parente era seu irmão Ângelo,
sendo certo que tanto Roberval quanto Ângelo jamais se casaram ou viveram em união estável.
Roberval, que tinha um imóvel na Tijuca e outro menor no Flamengo, decidiu beneficiar Caio, seu
melhor amigo, em sua sucessão, razão pela qual estabeleceu em seu testamento que, por ocasião de
sua morte, o imóvel da Tijuca deveria ser destinado a Caio, passando para os filhos de Caio quando
do falecimento deste. Quando Roberval faleceu, Caio já tinha um filho de 05 anos.
Com base no enunciado acima, responda aos itens a seguir.
A) Roberval poderia beneficiar seu amigo Caio em sua sucessão? (Valor: 0,45)
B) Descreva a sucessão de Roberval e como deverá ser dividida a sua herança, consistente nos seus
dois imóveis, a saber, o da Tijuca e o do Flamengo. (Valor: 0,80)
PADRÃO DE RESPOSTA:
A) Considerando que Roberval tinha como parente apenas seu irmão Ângelo, que não é herdeiro
necessário, consoante o disposto nos artigos 1.845 e 1.850 do Código Civil, Roberval poderia
beneficiar Caio em sua sucessão sem qualquer limite quantitativo.
B) O imóvel da Tijuca caberá ao filho de Caio em nua propriedade e a Caio em usufruto, conforme o
disposto no parágrafo único do Art. 1.952. Já o imóvel do Flamengo caberá ao único parente e
herdeiro legítimo de Roberval, a saber, seu irmão Ângelo (Art. 1.829, IV, do CC).
Suzana Carvalho, viúva, tinha como únicos parentes vivos sua irmã Clara Pereira e seu sobrinho
Alberto, filho de Clara. Em 2010, Suzana elaborou testamento público nomeando como sua herdeira
universal sua amiga Marta de Araújo. Em 2012, Suzana mudou de ideia sobre o destino de seus bens
e lavrou testamento cerrado, no qual contemplou com todo o seu patrimônio seu sobrinho Alberto
Pereira. No final de 2013, Alberto faleceu num trágico acidente. Suzana faleceu há um mês. Clara
137
Pereira e Marta de Araújo disputam a sua herança. Marta alega que não ocorreu a revogação do
testamento de Suzana lavrado em 2010, vez que um testamento público só pode ser revogado por
outro testamento público.
Clara procura você como advogado e indaga a quem deve caber a herança de Suzana. Diante disso,
com base nos dispositivos legais pertinentes à matéria, responda aos itens a seguir.
A) Suzana podia dispor de todo o seu patrimônio por meio de testamento? (Valor: 0,40)
B) Um testamento cerrado pode revogar um testamento público? (Valor: 0,30)
C) Com o falecimento de Alberto, quem deve suceder à Suzana? (Valor: 0,55)
PADRÃO DE RESPOSTA:
A) Suzana podia dispor de todo o seu patrimônio, uma vez que não tinha herdeiros necessários,
sendo certo que os colaterais são herdeiros facultativos, nos termos do Art. 1.850 do Código Civil.
B) O testamento público pode ser revogado por qualquer outra forma testamentária. De fato, não há
hierarquia entre as formalidades testamentárias, dependendo a revogação de um testamento da
validade do testamento revogatório, conforme o que dispõe o Art. 1.969 do Código Civil.
C) Nesse caso, a sucessão obedecerá às regras da sucessão legítima, cabendo toda a herança de
Suzana à sua irmã Clara Pereira, nos termos do Art. 1.829, inciso IV, do Código Civil.
138
048. INVENTÁRIO E PARTILHA
4.1 Inventário
Aberta a sucessão com o falecimento do autor da herança, seu patrimônio é,
desde logo, transmitido aos herdeiros legítimos e testamentários, de acordo com o
art. 1.784, CC. Como a herança é transmitida “como um todo unitário”, é preciso que
seja feita a individualização de cada quota parte dos herdeiros, a fim de terminar
com o estado de comunhão. Nesse sentido, deve-se instaurar o processo de
inventário, para que seja possível realizar a partilha dos bens e individualização dos
quinhões hereditários.
Inventário significa achar, encontrar. Utilizada juridicamente no sentido de
enumerar e catalogar aquilo que “foi encontrado”, que pertence, neste caso, ao
falecido.
O procedimento de inventário é previsto no art. 610 e seguintes do CPC/2015.
139
dois cônjuges ou companheiros ou dependência de uma das partilhas em relação à
outra.
140
a) Inventário judicial pelo rito ou procedimento tradicional abertura do
inventário
O art. 611, CPC/2015 prevê que o inventário deve ser aberto dentro de dois
meses a contar do falecimento e terminar nos 12 meses subsequentes, podendo o
juiz prorrogar o prazo, de ofício ou a requerimento da parte. Caso esse prazo não
seja cumprido, haverá sanção de natureza fiscal (aplicação de multa). Na prática, ao
menos no RS, esses prazos não são obedecidos e não há qualquer aplicação de
multa em razão do descumprimento. Outros Estados, contudo, fazem a previsão de
incidência de multa sobre a avaliação do patrimônio (em torno de 20%).
141
FORO COMPETENTE
O foro competente para processamento do inventário é o foro do último
domicílio do de cujus, mesmo que os herdeiros residam em localidade diversa (arts.
1.785 e 1.796, CC e art. 48, CPC/2015).
ADMINISTRADOR PROVISÓRIO
Até que seja nomeado inventariante e este preste compromisso, a
administração da herança ficará a cargo do administrador provisório nomeado pelo
juiz (art. 613, CPC/2015). Este tem a função de representação do espólio, devendo
trazer ao acervo frutos percebidos, tendo direito de ser reembolsado pelas despesas
necessárias. Responde por danos a que der causa (art. 614, CPC/2015).
NOMEAÇÃO DE INVENTARIANTE
Ingressando os herdeiros com o processo do inventário, o juiz despachará e
nomeará o inventariante, que prestará compromisso e as primeira declarações
(prazo de 20 dias) (art. 620, CPC/2015). A função do inventariante é administrar os
bens do espólio, sendo seu representante legal até que a partilha seja efetivada.
A ordem preferencial 5 de pessoas que podem ser nomeadas inventariante é
trazida pelo art. 617, CPC/2015:
5 O STJ entendeu que esta ordem é preferencial e não absoluta (REsp 402.891)
142
As atribuições do inventariante estão dispostas nos arts. 618 e 619,
CPC/2015, de onde se destacam as principais: representação do espólio,
administrador dos bens, prestar as primeiras declarações, juntar aos autos
documentos e certidões necessários.
O inventariante pode ser removido do encargo nos casos previstos no art.
622, CPC/2015. Como o inventariante realiza um múnus público, pode ser removido
a qualquer momento, se comprovada a prática de determinados fatos, descritos no
art. 622, CPC/2015:
Art. 622. O inventariante será removido de ofício ou a requerimento:
I - se não prestar, no prazo legal, as primeiras ou as últimas declarações;
II - se não der ao inventário andamento regular, se suscitar dúvidas
infundadas ou se praticar atos meramente protelatórios;
III - se, por culpa sua, bens do espólio se deteriorarem, forem dilapidados ou
sofrerem dano;
IV - se não defender o espólio nas ações em que for citado, se deixar de
cobrar dívidas ativas ou se não promover as medidas necessárias para
evitar o perecimento de direitos;
V - se não prestar contas ou se as que prestar não forem julgadas boas;
VI - se sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio.
PRIMEIRAS DECLARAÇÕES
Com a nomeação do inventariante, deverá prestar as primeiras declarações
no prazo de 20 dias. Essas primeiras declarações deverão conter (art. 620,
CPC/2015):
143
I - o nome, o estado, a idade e o domicílio do autor da herança, o dia e o
lugar em que faleceu e se deixou testamento;
II - o nome, o estado, a idade, o endereço eletrônico e a residência dos
herdeiros e, havendo cônjuge ou companheiro supérstite, além dos
respectivos dados pessoais, o regime de bens do casamento ou da união
estável;
III - a qualidade dos herdeiros e o grau de parentesco com o inventariado;
IV - a relação completa e individualizada de todos os bens do espólio,
inclusive aqueles que devem ser conferidos à colação, e dos bens alheios
que nele forem encontrados, descrevendo-se:
a) os imóveis, com as suas especificações, nomeadamente local em que se
encontram, extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias, origem
dos títulos, números das matrículas e ônus que os gravam;
b) os móveis, com os sinais característicos;
c) os semoventes, seu número, suas espécies, suas marcas e seus sinais
distintivos;
d) o dinheiro, as joias, os objetos de ouro e prata e as pedras preciosas,
declarando-se-lhes especificadamente a qualidade, o peso e a importância;
e) os títulos da dívida pública, bem como as ações, as quotas e os títulos de
sociedade, mencionando-se-lhes o número, o valor e a data;
f) as dívidas ativas e passivas, indicando-se-lhes as datas, os títulos, a
origem da obrigação e os nomes dos credores e dos devedores;
g) direitos e ações;
h) o valor corrente de cada um dos bens do espólio.
144
FASE DE IMPUGNAÇÕES
Concluídas as citações as partes poderão impugnar alguma declaração
prestada pelo inventariante, no prazo de 15 dias, nos termos do art. 627, CPC/2015.
Se a impugnação for julgada procedente, o juiz determinará que as
declarações sejam retificadas.
Em caso de haver uma questão que demande produção de provas que não a
documental, especialmente no que se refere ao art. 627, III, CPC/2015 – contestar a
qualidade de herdeiro – o juiz deverá remeter o impugnante para as vias ordinárias
(dilação probatória) e suspender o inventário (art. 627, § 3.º, CPC/2015).
ÚLTIMAS DECLARAÇÕES
Depois de aceita a avaliação dos bens ou resolvidas possíveis impugnações à
avaliação, o inventariante deverá prestar as últimas declarações (art. 636,
CPC/2015), quando poderá descrever bens que, porventura tenham sido esquecidos
(mesmo que por desconhecimento). As partes serão ouvidas sobre as últimas
declarações, podendo alegar a sonegação de bens pelo inventariante somente
depois da última declaração feita por ele, de que não existem outros bens a
inventariar (art. 621, CPC/2015).
145
ABERTURA DE INVENTÁRIO
ATENÇÃO: a peça estruturada abaixo é um modelo básico de ação de abertura de inventário. Destaca-se que
cada ação deve ser estruturada de acordo com o caso apresentado e os dados devem ser adaptados ao
enunciado fornecido pela banca examinadora.
146
147
148
PRIMEIRAS DECLARAÇÕES
ATENÇÃO: a peça estruturada abaixo é um modelo básico de petição de primeiras declarações. Destaca-se que
cada ação deve ser estruturada de acordo com o caso apresentado e os dados devem ser adaptados ao
enunciado fornecido pela banca examinadora.
149
150
151
b) Inventário judicial pelo rito do arrolamento sumário
É uma forma simplificada de inventário-partilha, quando todos os herdeiros
são maiores, capazes e a partilha é amigável.
Nesse caso, quando da abertura do inventário já são juntados todos os
documentos necessários, prova da quitação do imposto, partilha, etc, e o juiz apenas
homologa, nos termos do art. 2.015, CC.
Como é um procedimento sumário, é desburocratizado e, nesse sentido, o art.
660, CPC/2015 dispensa a lavratura de termos de quaisquer espécies.
152
INVENTÁRIO PELO RITO DO ARROLAMENTO SUMÁRIO
ATENÇÃO: a peça estruturada abaixo é um modelo básico de ação de inventário pelo rito do arrolamento
sumário. Destaca-se que cada ação deve ser estruturada de acordo com o caso apresentado e os dados devem
ser adaptados ao enunciado fornecido pela banca examinadora.
153
154
155
156
c) Inventário judicial pelo rito ou procedimento do arrolamento comum
Esta modalidade está estabelecia no art. 664, CPC/2015 e aplica-se aos
casos em que o valor dos bens do espólio for inferior a 1.000 salários mínimos,
quando haverá a dispensa de avaliação, sendo indicado o valor pelo inventariante
nas suas declarações. Neste caso, não importa existência ou não de consenso, mas
sim o valor do patrimônio.
157
INVENTÁRIO PELO RITO DO ARROLAMENTO
ATENÇÃO: a peça estruturada abaixo é um modelo básico de ação de inventário pelo rito do arrolamento.
Destaca-se que cada ação deve ser estruturada de acordo com o caso apresentado e os dados devem ser
adaptados ao enunciado fornecido pela banca examinadora.
158
159
160
161
4.6 Inventário administrativo
A lavratura da Escritura Pública de Inventário trata de uma forma facultativa.
Não há obrigatoriedade da partilha extrajudicial. Assim, se todos forem capazes e
concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos no Tabelionato de Notas (art.
610, § 1.º, CPC/2015).
REQUISITOS/PRESSUPOSTOS
Todos capazes (capacidade de todos os interessados) e de acordo (ausência
de litigiosidade). Não pode envolver incapazes, nem existir testamento. Objetiva
desburocratizar e agilizar o procedimento judicial de inventário e partilha. O
enunciado 600 das Jornadas de Direito Civil diz que após o registro do testamento,
poderá ser feito inventário extrajudicial.
162
4.7 Sonegados
Aberto o inventário, é dever do inventariante apresentar as primeiras e últimas
declarações, com a indicação e caracterização dos bens a serem partilhados. Caso
o inventariante ou algum herdeiro não descreva algum bem, intencionalmente, de
forma a desfalcar o ativo do espólio, cometerá o delito civil de sonegação,
sujeitando-se às penas dos arts. 1.992 e 1993, CC.
“Sonegados são os bens ocultados maliciosamente, enquanto sonegação
é a conduta de quem age deste modo, negando informações necessárias ao
conhecimento do monte-mor, com isto, desviando ou deixando de restituir os bens
da herança. (Nader, 2007, p. 577)”.
São diversas as hipóteses de sonegação.
Sonegação – omissão ou ocultação dolosa;
Intenção maliciosa de ocultar os bens do espólio e fraudar a expectativa dos
herdeiros.
PENAS
Os arts. 1.992 e 1.993 do CC determinam as penas aplicadas; ao herdeiro
que sonegar – perderá o direito que teria sobre o bem, devendo restituí-lo, bem
como aos seus frutos; se o sonegador for o inventariante, ainda será removido da
inventariança.
A pena é civil. Remoção do inventariante (art. 622, VI, CPC/2015) e perda do
bem sonegado, que é imposta por sentença.
A pena só poderá ser imposta em ação ordinária (LEITE, p. 724). Se o
sonegador for testamenteiro perde direito à vintena e é removido do cargo de
inventariante.
Para que tenha cabimento a ação de sonegados não é preciso que o
sonegador negue a restituição dos bens, mas que tão somente não os descreva,
estando tais bem em seu poder, ou em poder de terceiros, com sua ciência.
163
ART. 1.995 - INDENIZAÇÃO E PERDAS E DANOS
Julgada procedente a ação de Sonegação, os bens devem ser restituídos ao
espólio. Se já foram alienados, o culpado deverá pagar o valor correspondente aos
bens, além de perdas e danos. Se o bem não estiver mais no patrimônio do
sonegador, será responsável pelo seu valor, mais perdas e danos (art. 1.995, CC).
164
Antes da partilha, podem os credores pedirem ao juiz o pagamento das dívidas
vencidas e exigíveis (art. 642, CPC/2015).
165
HABILITAÇÃO DE CRÉDITO
ATENÇÃO: a peça estruturada abaixo é um modelo básico de habilitação de crédito. Destaca-se que cada ação
deve ser estruturada de acordo com o caso apresentado e os dados devem ser adaptados ao enunciado
fornecido pela banca examinadora.
166
167
168
4.9 Colação
Instituto de origem romana, a colação é reunião dos bens recebidos pelo(s)
descendente(s), a título de liberalidade (doação), antes da abertura da sucessão.
O que exceder a metade disponível, para cálculo das legítimas, devem ser
conferidos na parte indisponível.
Art. 2.002 - Apenas os descendentes estão sujeitos a colação.
Art. 2003 - A colação visa igualar as legítimas dos descendentes e do
cônjuge sobrevivente.
Art. 621, § único, CPC/2015 – os bens a serem colacionados terão seu valor
calculado pelo valor do tempo da abertura da sucessão (para óbitos ocorridos após
a entrada em vigor desta lei). No caso de óbitos ocorridos antes de março de 2016,
aplica-se a regra do art. 2004 – O valor da colação é aquele atribuído na
liberalidade; se não tiver valor, por ocasião da partilha, se estimará o valor da época
da liberalidade (os bens serão avaliados com base no valor do tempo da
liberalidade); as benfeitorias, frutos e rendimentos são do donatário, “que responde
pelos danos e perdas que eles sofrerem”(§§1º e 2º, do art. 2004). Observar que há o
Enunciado 119 das Jornadas de Direito Civil que faz a seguinte previsão:
a) Dispensa da colação
“O doador pode dispensar o donatário da colação, determinando que a
liberalidade saia de sua metade disponível, contanto que a doação não exceda o
valor da quota disponível, comutado o seu valor ao tempo da doação” (Gonçalves, p.
542).
169
ART. 2005 – Contanto que não excedam a parte disponível (sua metade),
computada ao tempo da liberalidade (doação).
Deve ser expressa tal condição, em que pese inexistir forma sacramental.
Se a doação não exceder a parte disponível, não há que falar em colação. Se
exceder, o excesso deve ser colacionado. (Cf. LEITE, p. 770).
ART. 2006 - A dispensa da colação pode ser outorgada pelo doador em
testamento, ou no próprio título de liberalidade.
A dispensa deve constar da Escritura Pública (liberalidade); do testamento:
deve ser expressa e constar do próprio título.
ART. 2.007 - São sujeitas à redução as doações em que se apurar o
excesso... no momento da liberalidade.
O caput do art. tem redação mais técnica que a do Código de 16, determinado
a redução e a colação (e metade disponível).
ART. 2.008 – Determina que o herdeiro renunciante deve conferir as doações
recebidas, para buscar a igualdade das legítimas.
ART. 2010 - São excluídos da colação: gastos ordinários como: educação,
alimentos, vestuário, despesas com casamento e doença. “Havendo excesso...
perdem o caráter de ordinários e devem ser colacionados”(LEITE, p. 782).
ART. 2011 - As doações remuneratórias, também, denominadas sob encargo,
não constituem liberalidade, sendo desnecessária a colação.
ART. 2012 – Por ocasião do inventário de cada cônjuge se travará a colação.
Poucos anos antes de morrer, Silas vendeu, no ano de 2012, por dois milhões de reais, a cobertura
luxuosa onde residia. Com o dinheiro da venda, comprou, no mesmo ano, dois apartamentos em um
mesmo prédio, cada um avaliado em trezentos mil reais, e mudou-se para um deles. Doou o outro
imóvel para sua filha Laura e seu genro Hélio, local onde o casal passou a morar. Mesmo sem o
consentimento dos demais herdeiros, Silas fez questão de registrar, na escritura de doação, que a
liberalidade era feita em favor do casal, não mencionando, todavia, se seria ou não adiantamento de
legítima. Silas morreu no dia 20 de março de 2016 e deixou, além de Laura, dois outros herdeiros:
Mauro e Noel, netos oriundos do casamento de um filho pré-morto, Wagner. O processo de inventário
foi iniciado poucos dias depois de sua morte. Laura foi nomeada inventariante e apresentou as
primeiras declarações em setembro de 2016, sem mencionar o imóvel em que residia.
170
Diante desses fatos, responda aos itens a seguir.
A) A doação realizada é válida? (Valor: 0,65)
B) Há fundamento no direito processual que obrigue Laura a declarar o imóvel? (Valor: 0,60)
PADRÃO DE RESPOSTA:
A) A doação é válida. Em relação a Helio (genro), porque o valor do imóvel não ultrapassa a metade
do patrimônio de Silas (Art. 549, CC) e, em relação a Laura (filha), porque traduz adiantamento de
legítima e, pois, não necessita da anuência dos demais herdeiros (Art. 544 do CC).
B) Laura está obrigada a declarar o bem que recebeu por liberalidade não só pelo fato de ser herdeira
(Art. 639 do CPC/15), mas também por ser inventariante (Art. 620, inciso IV, do CPC/15).
171
ATENÇÃO: a peça estruturada abaixo é um modelo básico. Destaca-se que cada ação deve ser estruturada de
acordo com o caso apresentado e os dados devem ser adaptados ao enunciado fornecido pela banca
examinadora.
172
4.10 Partilha
Terminado o inventário, partilham-se os bens entre os herdeiros e
cessionários, separando-se a meação do cônjuge sobrevivente. É a forma de
terminar com a comunhão dos bens, com o condomínio (salvo se não for possível
dividir o bem – quando deverá ficar em condomínio, sendo, apenas, definido o
percentual de propriedade de cada herdeiro sobre o bem).
Se houver apenas um herdeiro, providencia-se a adjudicação dos bens, pois
não haverá partilha dos bens, nem divisão, de forma que poderá haver o inventário
simplificado.
Procedimento: ver arts. 647 a 658, CPC/2015
173
ART. 2.016 – se houver divergência ou algum herdeiro for incapaz. Nestes
casos, a partilha judicial é obrigatória, sendo a divisão determinada pelo juiz,
respeitando os valores e proporcionalidade das quotas.
PLANO DE PARTILHA
Melhor critério: bom senso, equilíbrio, igualdade possível.
Sempre que os herdeiros divergirem as partes formularão ao juiz pedido de
quinhão e o juiz deliberará. Deverá ser apresentado o esboço da partilha que deverá
ser efetivada pelo juiz.
ART. 2017 – Igualdade possível: quanto à natureza, valor e qualidade.
Igualdade é equidade. Princípio fundamental da partilha.
Neste caso, se o juiz tiver de decidir a partilha, normalmente optará pela mais
justa e equânime possível (provavelmente, dividir tudo entre todos).
174
ESBOÇO DE PARTILHA
ATENÇÃO: a peça estruturada abaixo é um modelo básico de ação de esboço de partilha. Destaca-se que cada
ação deve ser estruturada de acordo com o caso apresentado e os dados devem ser adaptados ao enunciado
fornecido pela banca examinadora.
175
176
177
PARTILHA EM VIDA
A partilha em vida é aquela feita pelo pai ou qualquer ascendente, via
escritura pública ou testamento, mas que não pode prejudicar a legítima dos
herdeiros necessários.
ART. 2018 – Partilha em vida: possibilidade de ser fazer a partilha em vida ou
por testamento, reservada a legítima dos herdeiros necessários.
Art. 2019: Divisão Cômoda: Venda Judicial: Divisão do valor apurado:
“Dos bens insuscetíveis de divisão cômoda”: bens que não o couberem na
meação do cônjuge (ou companheiro) ou no quinhão do herdeiro, serão vendidos
judicialmente.
Se a partilha foi feita com dolo ou outro vício de consentimento, cabe ação de
anulação e, não sobrepartilha.
178
SOBREPARTILHA
ATENÇÃO: a peça estruturada abaixo é um modelo básico de sobrepartilha. Destaca-se que cada ação
é única conforme o caso apresentado e os dados devem ser adaptados ao enunciado fornecido pela banca
examinadora.
179
180
4.11 Garantia dos quinhões
181
182