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INSTRUMENTAÇÃO

A MEDIDA
ARQUIVO

CERTA
34 REVISTA PROTEÇÃO NOVEMBRO / 2007
Reportagem de Aline Mendes e Gustavo Azevedo

A melhor instrumentação para controle de ambientes


de trabalho requer seleção criteriosa, cuidados no uso,
treinamento constante e calibração periódica
A invasão de instrumentos de Higiene deixasse o equipamento guardado por um
Ocupacional de qualidade duvidosa no longo período.
mercado brasileiro e a falta de conheci- Domingos explica que os bons instru-
mento e experiência dos prevencionistas mentos ficam caros no Brasil com o acrés-
que operam estes equipamentos tornam- cimo dos impostos. “Por serem de uso so-
se cada vez mais comuns no Brasil. A de- cial, isto é, são ferramentas que ajudam
pendência quase exclusiva dos importa- na prevenção de doenças e isso é no fundo
dos - que encarece o preço final do instru- saúde pública, eles deveriam pagar baixís-
mento - também é vista como um aspec- simos impostos”, critica. Ele aponta ainda
to negativo neste segmento, considerado que poucos distribuidores têm condições
vital para a manutenção da qualidade de de oferecer a manutenção e o treinamen-
vida dos trabalhadores. Para os fornece- to. A exigência de uma série de critérios
dores, o custo final do produto é o preço na hora da compra pode evitar uma futu-
que se paga por uma tecnologia de ponta ra dor de cabeça. Empresas de grande
e totalmente adequadas às normas vigen- porte já têm cadastro de fornecedores. Is-
tes. Há quem acredita que a produção na- so possibilita uma aquisição mais segura
cional pode baratear o custo, melhorar a e a garantia de orientações pós-venda. Po-
logística e facilitar a difusão dos equipa- rém, das micro às médias empresas a re-
mentos. “Porém, o mercado é muito res- alidade é outra e o fator preço bate forte
trito para o surgimento de empresas brasi- na hora de escolher um instrumento.
leiras no setor”, afirma o professor de Saú- O engenheiro de Segurança do Trabalho
de Pública da USP e diretor da Toxikón Antônio Carlos Vendrame diz que muitas
(laboratório de análises ambientais), Sér- vezes a importância do equipamento se
gio Colacioppo. sobrepõe à saúde do trabalhador. “No caso
O presidente da Associação Brasileira da avaliação de vibrações ocupacionais
de Higienistas Ocupacionais (ABHO), (mãos e braços e corpo inteiro), há vári-
Marcos Domingos da Silva, cita um caso os prestadores de serviço que não possu-
que descreve um pouco da realidade bra- em equipamento compatível com as nor-
sileira no setor. Ele verificou, ao visitar mas ISO 2631 (corpo inteiro) e ISO 5349
uma empresa, que a espuma de um estojo (mãos e braços) realizando avaliações
onde estava guardado um instrumento com instrumentos inapropriados. Eles só
estava podre. Motivo: o profissional não avaliam vibrações mecânicas, para efeito
sabia manusear o equipamento já que o de manutenção preditiva, ou com instru-
manual estava em inglês e o fabricante mentos antigos, que ainda não incorpo-
não disponibilizou a tradução para o por- raram as curvas de freqüência exigidas
tuguês. A vergonha fez com que o técnico pelas atuais normativas”, relata.

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MARCOS DOMINGOS DA SILVA INSTRUMENTAÇÃO
frustração aumenta”, afirma. Para ele, o
consumidor que analisa cuidadosamente
sua opção de compra multiplica suas
chances de encontrar bons equipamen-
tos, fabricantes, distribuidores e presta-
dores de serviço. “Lembro que existem
medidores de nível sonoro de R$ 500 até
R$ 50 mil, todos apontando conformi-
dade com as normas internacionais. Al-
guma diferença deve existir entre eles”,
expõe. Bondarenco diz que as empresas
precisam tomar cuidado com as falsas
“barbadas” do mercado. “Uma empresa
entra numa concorrência e seus especia-
listas sabem que para caracterizar certo
local com a exatidão requerida serão ne-
cessárias 20 medições amostrais de oito
horas cada. O concorrente convence o
comprador de que três medições de duas
horas é mais do que suficiente, portanto
ele cobra 70% mais barato com maior
margem de lucro”, conta. Ao descrever
uma visita a uma metalúrgica feita anos
Instrumentos e profissionais qualificados permitem análise correta
atrás, Bondarenco sintetiza um pouco os
A análise ambiental dos locais de tra- menta. De acordo com o diretor da 01dB, meandros da má utilização ou da total falta
balho depende essencialmente da qualida- existem casos de o dosímetro apresentar de uso dos instrumentos necessários. “O
de dos instrumentos. A chegada de produ- variação de cinco decibéis (dB) para mais ruído era ensurdecedor e os operários não
tos importados sem a comprovação de ou para menos. “Se medir uma dose de usavam proteção. Quando perguntei sobre
eficiência e a utilização de “jeitinhos” para 85 dB durante oito horas com um equipa- a forma com que ele controlava a questão
burlar normas e legislações põem em aler- mento desse tipo com variação superior do ruído e seu impacto nos empregados
ta profissionais e fabricantes do setor. a cinco dB, significa que o valor considera- ele (o proprietário da empresa) comentou:
Nicolas Isnard, diretor de Negócios da do pode ser 80 dB, então tudo é normal, ‘uma vez por ano passa um cara que mede
01 dB, multinacional francesa de equipa- não tem risco, ou 90 dB, que já leva a pro- tudo e resolve a papelada pra mim’ ”, lem-
mentos de controle de ruídos e vibrações, blemas e uma ação onerosa para a empre- bra.
afirma que existem vários produtos que sa”, destaca. Para ele, as empresas podem Bondarenco denuncia a existência de
não atendem as normas. “O famoso barato se preservar desses produtos especifican- “serviços duvidosos ou piratas”, como plá-
que sai caro. Há empresas que fornecem do melhor o que é preciso ser comprado gios de certificados de calibração. “Em-
dosímetros fabricados na China que não e proporcionar cursos de capacitação téc- presas que não têm a mínima capacidade
atendem as normas de fabricação do pro- nica dos funcionários para que eles te- técnica de executar certo serviço, mas
duto. Embora digam que atendem as le- nham condições de escolher a melhor re- que o oferece ao mercado. Copiam o
gislações brasileiras, a prática mostra que lação custo/benefício. “Usar o bom senso knowhow dos certificados RBC para dar
mais de 50% desses equipamentos não também vale. Se um medidor de ruído ou a cara de um certificado completo, que
passam por calibração e quando dá um dosímetro custa R$ 100 e os de marca atenda a todos os requisitos do sistema
problema de manutenção, não têm con- consagrada custam de R$ 5.000 a R$ de gestão da qualidade. Estes certifica-
serto”, aponta. Segundo ele, o valor mais 10.000 não é por acaso”, sinaliza. dos irão atender às expectativas de qual-
baixo do equipamento não compensa. quer auditor. Só quem trabalha na área
“Ainda mais se tem que comprar nova- BARBADAS terá olhos para detectar pequenos desli-
mente um aparelho a cada ano. Em 50% Enrique Bondarenco, diretor da Total zes que são o flagrante”, revela.
dos casos pelo menos, é um desgaste e Safety, laboratório de eletroacústica cre-
sai muito mais caro que adquirir um bom denciado à Rede Brasileira de Calibração PRECAUÇÕES
aparelho de uma vez, porque durará mais (RBC) do Instituto Nacional de Metrolo- De acordo com Bondarenco, a maturi-
e terá a garantia de medir certo”, atesta. gia, Normalização e Qualidade Industrial dade do consumidor é o melhor filtro para
Ele alerta que existe desgaste também pa- (Inmetro), ressalta que o preço ainda tem evitar a má compra. “Se o consumidor se
ra os trabalhadores. “Se usar um equipa- um peso grande nas decisões. “Pressupor convencer que o prejuízo da compra mal
mento de baixa qualidade que tem varia- que todos os fabricantes são éticos é um sucedida não é só o financeiro, ele mesmo
ções grandes nos níveis medidos, você po- engano. O comércio global é predatório e criará anticorpos.” Outro fator apontado
de não estar sabendo que existe um pro- a ética nos negócios nem sempre preva- é a pesquisa. “É muito chato, mas tem que
blema ocupacional e que poderá lhe tra- lece. Se a principal virtude do equipamen- pesquisar. É aconselhável consultar cole-
zer sérios prejuízos no futuro”, comple- to for o preço, a chance de uma posterior gas de outras empresas. Normalmente a

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pessoa que se deu mal com uma marca e ção de riscos físicos, químicos e biológi- umidade, campo magnético e radiofre-
modelo estará pronta a compartilhar a ex- cos, afirma que antigamente as empresas qüência”, ressalta.
periência com outros, uma espécie de jus- selecionavam os instrumentos pelo
ta vingança”, destaca. Ele também ressal- menor valor e que hoje, em função dos NECESSIDADES
ta a importância da utilização de serviços vários cursos existentes e de várias nor- Para o engenheiro de segurança e con-
acreditados como garantia para o cliente, mas e instruções normativas, a grande sultor da Du Pont, de São Paulo/SP, Anis
especialmente em áreas como eletroacús- maioria das empresas está ciente de que Saliba, o preço é último parâmetro na hora
tica onde há normatização, pois a oferta é se deve comprar equipamentos certifica- de adquirir um instrumento. Ele destaca
tão heterogênea que confunde o cliente. dos e normatizados, buscando qualida- antes a aplicabilidade da real necessida-
“Talvez quando ele especificar a compra de técnica. Segundo ele, não se pode, por de da empresa. “Às vezes compram-se
do equipamento poderia requisitar que se- exemplo, fazer um laudo para o Perfil medidores de ruído com sofisticados fil-
ja acompanhado do certificado de calibra- Profissiográfico Previdenciário (PPP) se tros de freqüências e softwares, quando
ção, e, assim, analisar os resultados antes o instrumento não atende as normas in- a real necessidade seriam apenas audio-
de dar aceitação ao produto. Para quem ternacionais IEC (International Elec- dosímetros”, afirma. Saliba ressalta a im-
fornece o equipamento não sentirá a dife- trotechnical Commission) e ANSI (Ame- portância da análise das normas específi-
rença, pois naturalmente haverá de repas- rican Standards Institute), que estão pre- cas, a confiabilidade dos instrumentos
sar o custo da calibração. Enquanto que vistas na Norma de Higiene Ocupacional frente às adversas condições de uso, a pra-
o equipamento de qualidade duvidosa - Avaliação da Exposição Ocupacional ao ticidade de operação, facilidade de aces-
provavelmente terá um resultado desfa- Ruído (NHO 01). “Quando se fala em sar as funções e obter as leituras deseja-
vorável, mas o prejuízo não atingiria o con- certificação, não é relacionado somente das. “Deve-se levar em conta também a
sumidor, exceto pelo tempo perdido”, a- à precisão do instrumento, mas também economia e autonomia de energia, a possi-
conselha. em garantir que ele não sofra interferên- bilidade de programação e configuração
Alberto Belmont, diretor da Almont, cia quando da variação brusca do ambi- para critérios técnico-legais nacionais e a
distribuidor de equipamentos para medi- ente medido, como pressão, temperatura, qualidade e agilidade da assistência técni-
ca para revisões periódicas, calibrações e
reparos”, analisa. Saliba sinaliza duas for-
FORNECEDORES AVALIADOS mas de as empresas se preservarem de
A unidade Bacia de Campos da Petrobras avaliados”, revela o técnico de Segurança produtos de qualidade inferior. A primeira
não adquire instrumentos voltados à higiene Sênior da unidade, José Roberto Zago. delas, sustenta ele, é a solicitação de ates-
ocupacional sem uma pesquisa de merca- Na unidade, os trabalhadores lidam prin- tados, comprovantes, certificados e de-
do. A empresa leva em conta critérios como cipalmente com riscos químicos e também mais documentos correlatos. “No entanto,
garantia, se o equipamento é fornecido por com ruídos. Para um trabalho completo de é a segunda forma que realmente pode
empresa idônea, se há assistência técnica Higiene Ocupacional, opina Zago, deve-se
trazer maior segurança. Reside no conhe-
disponível, manual completo em português, antecipar, identificar, avaliar e controlar os
cimento que os profissionais de SST que
compatibilidade entre o custo e o benefício riscos.
e se o equipamento possui características Os dados das avaliações nos ambientes
solicitam instrumentos devem ter. Isso en-
necessárias para utilização nas áreas em de trabalho são comparados com as refe- volve treinamento e capacitação especí-
que será utilizado. “Nós mantemos cadas- rências legais, os conhecidos limites de tole- fica em higiene ocupacional, aliado à ex-
tro de fornecedores que são periodicamente rância estipulados pela legislação vigente periência profissional”, argumenta.
para cada tipo de agente avaliado. Se o re- Walter Hoffmann, chefe do Laboratório
sultado encontrado estiver acima do limi- de Eletroacústica do Inmetro, ressalta que
J.C. ARAÚJO

te de tolerância, a empresa elabora um Pla- como em outras áreas técnicas e comer-


no de Ação. “A instalação de uma cabine ciais, nem sempre aquilo que é veiculado
em uma das áreas de produção mais rui- corresponde à real efetividade. “Quando
dosas, para minimizar o tempo de exposi-
tratamos de equipamentos na área da ava-
ção do operador ao ruído, foi uma das ações
liação das condições acústicas de salubri-
tomadas. Assim como a mudança no siste-
dade, devemos considerar não somente
foto Zago ma de injeção de produtos químicos para
reduzir as emissões por evaporação nas os audiodosímetros e os medidores de ní-
operações”, informa o técnico de segurança. vel sonoro (MNS - conhecidos popular-
(aguardando) Essas medidas de controle foram tomadas
antes mesmo de uma avaliação quantitati-
mente por decibelímetros), mas também
os calibradores de nível sonoro (CNS), os
va do ambiente. Porém, normalmente, a se- microfones e os audiômetros utilizados
qüência lógica de um trabalho de Higiene nas avaliações auditivas iniciais, periódi-
Ocupacional na unidade é a identificação, cas e demissionais”, explica. Segundo ele,
avaliação com uso da instrumentação e a escolha do equipamento merece um
depois aplicação de medidas de controle.
grande cuidado, no sentido de evitar os
Após a implementação das medidas de con-
equipamentos de baixo custo, que se pro-
trole, novas avaliações, com uso da ins-
trumentação são realizadas para verificar
liferam no mercado, muitas vezes desti-
se as medidas foram eficazes. nados apenas a propósitos de equalização
Zago: controle periódico dos cadastros
de equipamentos de áudio, de caráter de-

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INSTRUMENTAÇÃO

EDU PINTO/JORNAL O FAROL


monstrativo, didático ou mesmo de tões de necessidade das empresas em
hobby. que trabalham, se tornam genera-
listas, optando pela contratação de
(DES)CONHECIMENTO empresas terceirizadas, que possuem
O presidente da ABHO observa que sua própria instrumentação, para re-
alguns prevencionistas no Brasil, em- alização das avaliações”, argumenta.
bora sérios e criteriosos no exercício
de suas profissões básicas, falham TREINAMENTO
grosseiramente quando atuam em pe- O treinamento se torna ferramenta
rícias trabalhistas e assessorias técni- básica para que os instrumentos se-
cas, na área de Higiene Ocupacional jam utilizados de forma correta e que
(HO). Segundo ele, usam instrumen- tenham sua vida útil aumentada. Para
tos de medição de procedência duvi- o consultor da Du Pont, de São Pau-
dosa, emitindo muitas vezes parece- lo/SP, Anis Saliba, alguns fornecedo-
res baseados em poucas medições, de res têm capacidade técnica de forne-
leituras instantâneas. “Tal comporta- cerem treinamento teórico e prático
mento é parcialmente explicado pelo na operação dos instrumentos comer-
vazio existente nos cursos de preven- cializados. “Mas se a equipe de profis-
Nicolas: Valor mais baixo não compensa
ção de acidentes e doenças ocupacio- sionais de uma empresa que adquire
nais, cujos currículos não visam à forma- A chefe do serviço de instrumentação instrumentos não estiver treinada em ra-
ção de um profissional especializado em da Fundacentro/SP, Teresa Nathan, acre- zoável profundidade com os conceitos e
Higiene Ocupacional”, atesta. dita que o desconhecimento dos profissio- técnicas da HO, não terá grande valor o
Ele aponta que os prevencionistas têm nais não se limita aos instrumentos, mas domínio dos comandos e funções dos ins-
um currículo preparado para evitar aci- à Higiene Ocupacional como um todo. “E- trumentos”, determina.
dentes do trabalho e não doenças ocupa- xistem excelentes profissionais atuando Nicolas Isnard, da 01dB, afirma que as
cionais, criado nos anos 70. “Hoje, eles es- na área, mas o número é reduzido se com- empresas fornecedoras precisam oferecer
tão envolvidos com tantas normas de qua- pararmos às necessidades do país”. O pro- treinamentos de uso dos equipamentos.
lidade e sistemas de gestão que não têm fissional de HO deve reconhecer os ris- Diz que o estudo acústico para reduzir na
tempo de aprender Higiene Ocupacional cos potenciais e a partir daí decidir se vai fonte os problemas depende cada vez do
e, por conseqüência, o uso de instrumen- ou não realizar avaliação quantitativa, o bom conhecimento dos profissionais. Ele
tos. Muitos são apenas administradores e que significa medir as concentrações dos cita o caso da empresa Saint Gobain, mul-
não mais técnicos ou engenheiros de Se- agentes químicos e as intensidades dos tinacional francesa do ramo de vidros, em-
gurança do Trabalho”, informa. O treina- agentes físicos a que os trabalhadores po- balagens e produtos para construção, que
mento, garante ele, é indispensável em dem estar expostos no exercício diário de adaptou a sua política de controle de ruído
qualquer área. Na área prevencionista não suas funções. José Roberto Zago, técnico nas unidades da América do Sul aos mol-
é diferente e nos últimos anos a instru- de Segurança Sênior da Unidade Bacia de des europeus. Para isso, foi montada
mentação ganhou os avanços da informá- Campos da Petrobras, aponta outro fator consultoria nas unidades para treinar os
tica, exigindo permanente atualização dos que colabora para a falta de formação de profissionais, implantando novas metodo-
usuários. HO. “Normalmente os técnicos, por ques- logias de medição e controle.

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Na hora de comprar e operar gurança do Trabalho e diretor de empresa
de consultoria de São Paulo.

Critérios devem ser adotados para o melhor aproveitamento do produto ESTRA TÉGIAS
ESTRATÉGIAS
Manusear instrumentos que custam o
Antes de adquirir um equipamento é por exemplo, não adquire equipamentos valor de um carro importado e gerar o má-
muito importante saber que tipo de fina- sem que o vendedor forneça um curso ximo de aproveitamento dessas tecnolo-
lidade ele terá. “Não é necessário um equi- prático para utilização do instrumento. gias depende de um cuidado muito grande
pamento ultra-sofisticado, superpreciso e “Os instrumentos de Higiene Ocupacional dos profissionais que atuam no controle
caríssimo caso se pretenda utilizá-lo ape- devem ser de alta confiabilidade e a sua ambiental. O professor da Faculdade de
nas em campo. Os mais sofisticados são escolha deve passar por criteriosas avali- Saúde Pública da USP e diretor da Toxi-
geralmente usados em laboratórios, como ações tanto de sua qualidade quanto da kón, Sérgio Colacioppo, afirma que os ins-
padrão para os de campo. É preciso ade- qualidade de quem os está fornecendo. É trumentos devem ser utilizados apenas
quar a compra ao uso que o instrumento importante solicitar sempre uma demons- por pessoal habilitado e capacitado para
terá”, ensina a chefe do serviço de instru- tração, ver mais de um modelo, pesquisar tal. “Qualquer outra alternativa leva a re-
mentação da Fundacentro/SP, Teresa Na- vários fornecedores e procurar sempre sultados desastrosos. Os instrumentos
than. consultar um especialista da área”, orienta não funcionam sozinhos. E por melhor
Instrumentos de boa procedência pos- o técnico de Segurança Sênior da Unidade que seja a operação, devemos lembrar que
suem certificado de conformidade com Bacia de Campos da Petrobras, José Ro- o que se quer é uma estimativa da exposi-
normas internacionais e certificado de ca- berto Zago. ção do trabalhador. Se a estratégia de a-
libração, geralmente válidos por um ano. A orientação pós-venda é um ponto fun- mostragem e a coleta de amostras não es-
Sem isso não se recomenda a utilização damental na decisão de adquirir um pro- tiverem corretas, por melhor que seja o
para fins de Higiene Ocupacional. Ve- duto. “O usuário deve descartar fornece- aparelho de coleta ou de análise, o resulta-
rificar o prazo e condições de garantia do dores que não sejam autorizados ou que do não terá valor”, alerta.
equipamento também é recomendável an- não tenham condições técnicas de ofere- Conforme o engenheiro de segurança e
tes de se concretizar a compra. Além dis- cer pós-venda. Já presenciei muitas aqui- consultor da Du Pont, de São Paulo/SP,
so, o fabricante deve fornecer assistência sições de bons equipamentos que se Anis Saliba, para se extrair o máximo em
técnica com peças de reposição, comple- transformaram em peças de museu por- termos de confiabilidade dos instrumen-
mentação ou possível suplementação com que ninguém sabia operá-los”, declara An- tos, e, ao mesmo tempo, proporcionar sua
acessórios periféricos. A Fundacentro, tonio Carlos Vendrame, engenheiro de Se- maior vida útil é necessário possuir amplo
conhecimento teórico e prático em Higie-
QUADRO 1 Evitando desperdícios e aborrecimentos ne Ocupacional. Isto permite alocar o uso
de determinados instrumentos nas situa-
ções aplicáveis, evitando medições incor-
ANTES DA COMPRA APÓS A COMPRA retas ou submeter os instrumentos a con-
dições inapropriadas. “Precisam conhecer
Medidas simples podem evitar aquisi- Instrumentos de medição não custam barato. Fique atento para
ções indevidas e gastos desnecessários. procedimentos básicos que podem significar maior durabilidade e
as limitações dos instrumentos, tanto com
Antes de optar por um equipamento tenha otimização destes produtos: base na experiência profissional, quanto,
em mente: e mais intensamente, através da leitura
No uso completa e cuidadosa do manual do pro-
Critérios de compra Limitações ambientais, como por exemplo, exposição à umida- prietário”, destaca.
Sempre avaliar o custo-benefício do e- de, a temperaturas extremas, à radiação, etc. podem danificar o O vice-presidente de vendas da Quest
quipamento em questão verificando tam- equipamento ou alterar os dados por ele fornecidos. Neste caso,
Technologies Corporation, Wilson Rodri-
bém se atende as normas de fabricação, pode ser necessário algum tipo de correção dos dados obtidos.
gues, afirma que o cliente precisa sem-
qualidade e de uso (NR).Muito importante
também informar-se sobre garantias de Na guarda pre pedir por escrito na proposta cópia
manutenção e calibração no Brasil e se o Certos instrumentos devem ser guardados em dessecadores, das certificações Ansi, IEC e UL (quan-
fabricante e/ou distribuidor possui tradi- como, por exemplo, microfones para a avaliação de ruído, pois a do for o caso de atmosfera explosiva). Se-
ção em território nacional. umidade pode danificá-los. gundo ele, é necessário saber especificar
os instrumentos adequados para sua ati-
Conhecimento Na calibração vidade, destacando sempre sobre o que a
É preciso estudar as características Alguns equipamentos necessitam de calibração antes e após o
norma solicita de um instrumento. “Pri-
técnicas do instrumento e consultar ou- seu uso em campo, que podem ser feitas pelo próprio usuário, des-
tros usuários para ver se tiveram algum de que este possua o calibrador adequado. Existe, ainda, a neces-
meiro tem que entender os processos da
problema com relação ao produto. O trei- sidade de se realizar a calibração em empresa credenciada, que empresa, depois saber das condições
namento é fundamental e pode ser dado deverá fornecer certificado de calibração e que poderá ser feita ambientais e quantos postos de trabalhos
pelo próprio fabricante ou mediante con- anualmente, ou a cada manutenção ou troca de componentes do medir, verificando as certificações de pre-
tratação de capacitação específica. A no- equipamento. É importante anotar a periodicidade de calibração e cisão dos instrumentos”, reforça.
ta fiscal deve sempre ser exigida. fazer um plano de envio do equipamento à empresa credenciada. Para Enrique Bondarenco, diretor da
Total Safety, seguir as recomendações do
Fonte: Associação Brasileira de Higiene Fonte: Fundacentro/SP
Ocupacional (ABHO) fabricante, ler e estudar as instruções de

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INSTRUMENTAÇÃO

DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO

lacioppo, diretor da Toxikón, afirma que


os laboratórios não devem só estar bem
aparelhados, mas também ter um progra-
ma de renovação e atualização dos equipa-
mentos. Para ele, sete itens devem ser le-
vados em conta na hora de selecionar os
equipamentos. “Antes do custo e do retor-
no financeiro estão, por ordem, a aplica-
bilidade, sensibilidade, praticidade, insta-
lação e manutenção”, atesta. O principal,
de acordo com o professor, é que equipa-
mentos devam realmente atender as ne-
Vendrame: peças de museu Colacioppo: capacitação Dexheimer: investimento alto cessidades do laboratório. “Muitas vezes
operação, além de observar as limitações são eletroquímicos e perdem sensibilida- temos equipamentos que fazem muitas
de uso, representam as condições básicas de. A única forma de manter-se seguro é coisas, mas não aquilo que realmente pre-
para o uso correto dos aparelhos. Bon- tendo à mão cilindros com gás de refe- cisamos”, alerta.
darenco sustenta que se for preciso é rência, com concentração conhecida”, a- A gerente de qualidade da Ecolabor, Ju-
necessário contratar treinamento. “O que conselha. liana Maroto, afirma que o cliente deve
poderá ser indispensável para equipa- optar sempre por empresas acreditadas
mentos mais complexos”, complementa. CUSTO MAIOR na norma que regula laboratórios de en-
Instrumentos destinados às áreas classi- Na instrumentação analítica (em nível saio e calibração (NBR ISO/IEC 17025).
ficadas devem ser observados com mui- de laboratório), os equipamentos são pra- “Desse modo, ele está mais bem assegu-
ta atenção, alerta ele. “Nunca entrar em ticamente todos importados, o que repre- rado quanto à qualidade dos resultados
áreas classificadas, potencialmente explo- senta grandes dificuldades para as empre- que recebe, da amostragem ao resultado
sivas, com equipamentos que não tenham sas que precisam dessas análises, assim final.
esta característica. Detectores de gases como os laboratórios, pois os altos custos A exigência quanto à acreditação da
devem ser acompanhados de cilindros aliado à falta de assistência técnica e ma- amostragem ainda é muito pouco difundi-
para verificação do estado de funciona- nutenção podem contribuir para resulta- da, e essa atividade é o primeiro passo pa-
mento. Mandar calibrar fora, serve ape- dos não-confiáveis. O professor da Facul- ra um monitoramento adequado. Se exis-
nas para confronto dos dados. Os sensores dade de Saúde Pública da USP Sérgio Co- tem empresas pouco idôneas no merca-

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do, elas tendem a desaparecer quando o
próprio cliente passar a exigir acredita-
ções ou a rastreabilidade daquilo que está
O futuro já chegou
sendo medido”, sustenta. Segundo ela, a Equipamentos cada vez menores, com alta velocidade e em linguagem digital
NBR ISO/IEC 17025 estabelece suficien-
tes requisitos para assegurar que os equi- Novas tecnologias não páram de chegar mais ampla e com maior pureza no trata-
pamentos utilizados pelo laboratório aten- ao setor de instrumentação. A forte con- mento dos sinais, e as informações digi-
dam à exatidão requerida e especificações corrência do mercado nacional e interna- tais são armazenadas em grandes volumes
dos ensaios. “Um equipamento de quali- cional faz com que os fabricantes invis- e posteriormente transferidas para um
dade duvidosa invalida todo o trabalho do tam em instrumentos cada vez mais mo- computador via cabo ou até infraverme-
laboratório, e, por outro lado, a aquisição dernos, empregando vários dispositivos lho. Alguns equipamentos se comunicam
da maioria dos equipamentos envolve amplamente utilizados nos mais diversos entre eles por wireless (sem fio) montan-
grandes investimentos”, aponta. setores da indústria. Tecnologias larga- do uma grade de informações bastante
O gerente de Higiene Ocupacional da mente usadas em celulares e sistemas de relevante para a segurança.”
Pró-Ambiente (análises químicas e toxico- áudios, o bluetooth (conectividade sem- A simplicidade de operação e a agilida-
lógicas), Celso Felipe Dexheimer, diz que fio de baixo custo e de curto alcance) e a de na coleta de dados são os grandes trun-
a necessidade de importação destes equi- gravação em MP3, estão agora em apare- fos dos fabricantes. Foi lançado este ano
pamentos, tanto os analíticos como os de lhos de controle de ruído e vibração. Da um dosímetro para ruído com tecnologia
campo, assim como todos os tipos de a- mesma forma, a linguagem digital tomou bluetooth, o que permite a transmissão
mostradores, requer um alto investimen- conta do mercado, fazendo com que os de dados sem o uso de fios. A verificação
to e manutenção preventiva. “Caso ve- instrumentos analógicos gradativamente com o calibrador também é muito fácil,
nham a estragar, podem demorar mais de desapareçam. somente um botão no aparelho. Também
60 dias para o conserto. Muitos compo- Para Enrique Bondarenco, da Total Sa- foram lançados novos medidores de ruí-
nentes como, por exemplo os sensores fety, a miniaturização dos componentes e do com controle remoto por PDA Wifi,
eletroquímicos de monitor de gases, têm o aumento da velocidade de processa- gravação de áudio MP3 para identificação
vida útil de 18 meses, dependendo das mento contribuem fortemente neste de fonte e módulos de específicos para
condições de uso. Além disso, vários pa- avanço. Os aparelhos ficam cada vez me- normas. Wilson Rodrigues, da Quest, des-
drões analíticos e reagentes precisam ser nores e oferecem ainda mais recursos. “A taca o aparecimento de vibrômetro inte-
importados para dar maior exatidão às a- eletrônica permite processar as informa- grador com análises em tempo real em vi-
nálises”, acrescenta. ções analógicas com uma faixa dinâmica bração e ruído por freqüências em ban-

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INSTRUMENTAÇÃO
das de terças e oitavas, o que facilita a zação (PID - termo usado na língua ingle- ensaios acreditados pelo Inmetro têm re-
adoção de medidas de ação, pois o instru- sa). Este último é útil para detectar con- conhecimento internacional. A relação
mento gera o relatório e gráficos específi- centrações totais de Compostos Orgâni- completa dos laboratórios hoje acredita-
cos. cos Voláteis (COV). “Por exemplo, quanti- dos pode ser encontrada na internet
Celso Felipe Dexheimer, gerente de Hi- fica juntos hidrocarbonetos, benzeno, to- (http://www.inmetro.gov.br/laboratorios/
giene Ocupacional do laboratório Pró-Am- lueno, xileno e etilbenzeno em partes por rbc).
biente, lembra que para atender à nova milhão de ar contaminado (ppm), sem in- O engenheiro de segurança e consultor
NR-33 (espaços confinados), há equipa- dividualizar suas concentrações”, explica. da Du Pont, de São Paulo/SP, Anis Saliba,
mentos com nova tecnologia, que são os Estes equipamentos possuem Log de da- afirma que a calibração tem uma impor-
detectores de gases múltiplos, que pos- dos disponível com download por infraver- tância fundamental no processo de análi-
suem detectores para gases combustíveis, melho, e ainda procedimentos de calibra- se de ambientes. “Considerando que tais
oxigênio, e os gases tóxicos monóxido de ção automática simples. Podem possuir equipamentos são destinados à amostra-
carbono (CO) e gás sulfídrico (H2S). Po- sistema de alarme triplo, com visual atra- gem de situações de exposição de pessoas
dem ter também um detector de foto ioni- vés de LEDs, sonoro e vibratório. a determinados riscos ambientais, é fun-
damental que os valores e conclusões que
dali se extraia tenham a máxima represen-
A pleno somente com calibração tatividade da realidade”, destaca.

Ensaios acreditados pelo Inmetro têm reconhecimento internacional DIFERENÇAS


Enrique Bondarenco, diretor da Total
ARQUIVO TOTAL SAFETY

Safety, laboratório de eletroacústica cre-


denciado à RBC, ressalta que é preciso
esclarecer que a calibração realizada pelo
laboratório e o procedimento de regula-
gem realizado pelo usuário (apesar desta
última ser chamada também de calibra-
ção), não são a mesma coisa. “Se entende-
mos que são diferentes, não tem proble-
ma chamá-los da mesma forma”, explica.
Segundo ele, os dois procedimentos são
importantíssimos. O primeiro porque per-
mite identificar se os desvios (sejam eles
de projeto ou por defeito) são baixos o
suficiente para atender aos pré-requisitos
técnicos, enquanto que o segundo tem por
objetivo regular o equipamento para um
determinado nível (ajuste de sensibilida-
de). “Por exemplo, um decibelímetro (e-
quipamento utilizado para realizar medi-
ção de níveis de ruído) é encaminhado ao
laboratório para calibração. São detecta-
dos desvios que estão dentro das tolerân-
Execução de calibração RBC de medidores de nível sonoro e de audiodosímetros
cias da norma. O usuário analisa o certifi-
Para o Instituto Nacional de Metrologia, se utilizar instrumentos de medição cali- cado verifica que o equipamento está apto
Normalização e Qualidade Industrial brados. Há, porém, necessidade de se pro- ao uso. Agora será necessário efetuar o
(Inmetro) a calibração é a forma mais se- mover ainda mais a importância da cali- procedimento de regulagem com o cali-
gura de se certificar que o instrumento bração dos instrumentos de medição, co- brador de nível sonoro. É recomendável
está em plenas condições de medir corre- mo também que seja feita por laboratórios que o usuário analise o certificado de ca-
tamente e, com isso, estabelecer iniciati- que evidenciaram sua competência, ou libração. O equipamento poderia estar em
vas de controle e de preservação dos am- seja, acreditados”, destaca. Atualmente, desacordo com as tolerâncias”, alerta.
bientes de trabalho. Para o Chefe da Divi- a Rede Brasileira de Calibração (RBC) Segundo ele, a periodicidade das cali-
são de Credenciamento de Laboratórios conta com 197 laboratórios de calibração brações precisa ser reduzida ao máximo.
do Inmetro, João Carlos Antunes de Sou- que estão acreditados no país, além de 254 “Claro que isso tem limitações práticas,
za, muitas empresas ainda não se deram laboratórios de ensaios. Todos com capa- mas é desejável que se busque uma situa-
conta da necessidade de ter os seus apa- cidade de calibrar ou realizar ensaios em ção de compromisso, lembrando uma coi-
relhos devidamente calibrados. “Este pa- produtos nacionais e importados. O Inme- sa muito importante: resultados de cali-
norama, no entanto, vem mudando no de- tro é o órgão brasileiro membro do Inter- bração favoráveis asseguram que as medi-
correr destes últimos anos, havendo uma nacional Laboratory Accreditation Coope- ções do último período estavam todas cor-
maior conscientização da importância de ration (Ilac). Pelos acordos com o Ilac, os retas, enquanto que resultados desfavorá-

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INSTRUMENTAÇÃO
veis colocam em dúvida todo o último pe- dos para outras grandezas”, acrescenta. O sistema de gerenciamento de riscos
ríodo de medição”, argumenta. Nos laboratórios, a calibração também em espaços confinados deve prever a utili-
é importante. Conforme Juliana Maroto, zação de instrumentos de medição da at-
SER VIÇO GARANTIDO
SERVIÇO gerente de Qualidade da Ecolabor, de São mosfera para reconhecer e avaliar a quali-
Bondarenco afirma que o procedimen- Paulo (SP), o equipamento deve ser cali- dade do ar no interior do espaço confina-
to de calibração depende de uma série de brado em intervalos definidos. “Onde hou- do. Kulcsar orienta que a medição deve
fatores, o equipamento que se pretende ver fornecedor disponível, a calibração transcorrer do lado de fora do espaço con-
calibrar, os recursos do laboratório do deve ser realizada por laboratório da RBC. finado antes da entrada, e deve permane-
ponto de vista da instrumentação requeri- O prestador de serviço deve, sempre que cer contínua na liberação da frente de tra-
da, a sua capacidade técnica para execu- requerido pelo cliente, fornecer os certifi- balho e no desenvolvimento do trabalho
tar um certo procedimento. “Onde há nor- cados dessas calibrações”, ressalta. Ela a ser executado.
malização, como em eletroacústica, os lembra que deve ser mantido um plano
métodos estão definidos nas normas apli- de verificação do status da calibração e CUIDADOS
cáveis e então estes são a garantia para o manutenção preventiva. “As condições Paula Scardino, também membro do
cliente de qual o método correto”, analisa. ambientais em que os equipamentos se GTT que elaborou a NR 33, faz um alerta:
Bondarenco ressalta a importância da Re- encontram devem atender aos requisitos “Caso eu tenha a suspeita de atmosferas
de Brasileira de Calibração. “Quando o cli- do fabricante. O laboratório pode indireta- inflamáveis, o único instrumento que po-
ente faz opção pelo serviço da RBC ele con- mente monitorar a qualidade das medi- derá ser baixado diretamente no local é
ta com esta garantia. Não é assim no caso ções de seus equipamentos por meio de o de marcação Exia. Muitos estão amar-
de serviços não acreditados, mesmo quan- ensaios de padrões de controle e até mes- rando em cordas e abaixando o instru-
do executados por laboratórios acredita- mo ensaios interlaboratoriais”, declara. mento em locais com essa probabilidade.
Devemos fazer uso de mangueiras e o ar
deverá ser succionado através de bom-
Risco Mortal bas elétricas incorporadas no instrumen-
to ou por aspiradores tipo pêra. É impor-
Avaliação atmosférica para entrada em espaços é vital tante também que se faça a medida em
pelo menos três níveis de altura (fundo,
Em espaços confinados, o risco atmos- nos Trabalhos em Espaços Confinados). meio e topo do local), devido a outra pro-
férico é o que mais causa óbitos no Brasil Os instrumentos portáteis para avaliação priedade físico-química dos gases que é
e no exterior. Sempre que forem identifi- atmosférica nestes locais são “vitais” para a densidade, ou seja, quanto o gás é mais
cados deve ser aplicada a NR-33 (Norma a liberação da entrada de pessoas. A medi- leve ou mais pesado que o ar.”
Regulamentadora de Segurança e Saúde ção, porém, é apenas um dos itens da Ges- Kulcsar complementa que dentro do
tão de Segurança e Saúde princípio das medidas técnicas de preven-
ARQUIVO MSA

nos Trabalhos em Espaços ção deve ser utilizado equipamento de lei-


Confinados. Para o mem- tura direta, intrinsecamente seguro, pro-
bro do Grupo de Trabalho vido de alarme, calibrado e protegido con-
da NR-33, Francisco Kulc- tra emissões eletromagnéticas ou interfe-
sar, a maioria dos aciden- rências de radiofreqüência devem propi-
tes fatais ocorre porque ciar monitoramento contínuo”, explica.
não é feita a avaliação da at- Em áreas classificadas onde ocorre o ris-
mosfera. “Os acidentes em co de explosão e incêndio os equipamen-
espaços confinados não são tos devem estar certificados ou possuir
freqüentes, mas quando documento contemplado no âmbito do
ocorrem podem ser fatais e Sistema Brasileiro de Avaliação da Con-
também se transformarem formidade do Instituto Nacional de Metro-
em desastres ambientais logia e Normalização e Qualidade Indus-
que podem repercutir na trial (Inmetro).
comunidade vizinha.” Um Alguns gases somente são detectáveis
resgate mal planejado com instrumentação adequada e o Minis-
transforma um acidente tério do Trabalho e Emprego (MTE) exi-
com uma vítima em um aci- ge a medição. “Deve-se ter cuidado princi-
dente com várias vítimas palmente em atmosferas com pouco ou
fatais. A ação de resgate excesso de oxigênio, gases e vapores infla-
sem treinamento onde se máveis, monóxido de carbono e gás sul-
usa a emoção em vez da ra- fídrico. Outros agentes químicos identifi-
zão é o que ocasiona os aci- cados na APR (Análise Preliminar de Ris-
dentes fatais em série, este co) que apresentem risco para o trabalha-
fenômeno é denominado dor também devem ser investigados, ex-
Medição é um dos itens da gestão de SST em locais confinados efeito dominó. plica o pesquisador”.

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