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Resumo p2 Raquel
Resumo p2 Raquel
● As condições estipuladas pelo sujeito para o amor, a satisfação das pulsões e suas
metas são resultado de predisposições inatas e influências na infância. Surge daí
um clichê (ou vários), que é repetido regularmente ao longo da vida e reeditado
conforme permitido pelas condições exteriores e pela natureza dos objetos de amor
acessíveis. Apenas uma parte dessas emoções determinantes da vida amorosa se
desenvolveu psiquicamente plenamente, está inclinada à realidade e acessível à
consciência. Outra parte dessas moções só teve expansão na fantasia ou
manteve-se completamente no inconsciente. Se não há satisfação da necessidade
de amor pela realidade, o sujeito terá que se aproximar das novas pessoas próximas
com representações de expectativas libidinosas.
● Por isso, é normal que uma pessoa insatisfeita parcialmente tenha seu investimento
libidinal, carregado de expectativa, direcionado para a figura do psicanalista. Esse
investimento será guiado por modelos, dará sequência a um clichê, e o analista será
inserido em uma das “sequências psíquicas” formadas até então pelo paciente. A
transferência pode ocorrer a partir da imagem do pai (expressão de Carl Jung), do
imago da mãe ou do irmão.
(1) Por que a transferência é tão mais intensa na análise em casos de pessoas neuróticas?
(2) Por que a transferência, que fora da análise possui efeito de cura e é condição para o
tratamento bem sucedido, durante a análise é a mais forte resistência contra o tratamento?
Para compreendermos o uso da transferência como meios para a resistência, não podemos
pensar apenas em uma “transferência” pura. É necessário separá-la em dois tipos:
Nesse texto Freud ainda faz recomendações aos médicos que exercem a psicanálise, mas
em “A questão da análise leiga” ele mesmo discute se a análise deveria ou não ser
exclusividade dos médicos. Embora a Psicanálise tenha origem na medicina (Freud era
neurologista), ela não é uma prática exclusiva de profissionais com essa formação. Desse
modo, leia as “recomendações ao médico que pratica a psicanálise” como dirigidas aos
analistas em geral.
● a) Pode parecer difícil para o analista manter na memória e não confundir as
inúmeras informações de diversos pacientes. Contudo, a técnica sugerida por Freud
é muito simples. Consiste unicamente em não querer memorizar nada
especificamente, e sim prestar a mesma “atenção equiflutuante” ao que se ouve.
● A “regra psicanalítica fundamental” para o analisando é falar sobre tudo que vem à
mente, sem criticar ou selecionar. A contraparte do analista é lembrar de tudo
igualmente. A regra para o médico é não permitir influências conscientes em sua
capacidade de memorização, e sim utilizar sua “memória inconsciente”, ou seja,
ouvir o que for dito e não se preocupar se vai se lembrar ou não de algo. O material
se tornará disponível à consciência do médico assim que houver uma
contextualização.
● b) Freud não recomenda que o analista faça anotações extensas, nem registros da
sessão. Além de causar uma má impressão em alguns pacientes, aqui valem os
mesmos aspectos da memorização. Enquanto anotamos, selecionamos de forma
nociva o material, além de ocupar parte da própria atividade intelectual, que deveria
ser melhor aplicada na interpretação do que é ouvido. Exceções à regra são aceitas
em casos de datas, resultados específicos relevantes ou textos de sonho.
● c) Caso a intenção seja usar o caso tratado em uma publicação científica, a
anotação durante a sessão de análise seria justificada. Porém, obtêm-se menos
benefícios de registros do histórico analítico de um transtorno do que se poderia
esperar.
● d) O trabalho analítico tem como um de seus méritos a coincidência entre pesquisa
e tratamento, contudo há uma oposição entre a técnica utilizada em um e a outra. O
comportamento correto do psicanalista é se alçar entre configurações psíquicas, não
fazer especulações ou meditar enquanto analisa e só trabalhar o material obtido, por
meio do pensamento, depois do término da análise.
● e) Freud recomenda que no tratamento psicanalítico se aja como, por exemplo, um
cirurgião que, suspendendo seus afetos e compaixão humana, tem como único
objetivo estabelecido para suas forças psíquicas a realização da operação da forma
mais perfeita possível. Essa frieza necessária ao analista justifica-se porque cria
condições mais favoráveis para os dois lados: oferece maior amplitude de
assistência ao paciente e preserva a vida afetiva do médico.
● f) Essas regras confluem no objetivo de produzir no psicanalista o contraponto da
“regra psicanalítica fundamental”. O médico deve ser capaz de interpretar o que foi
dito e reconhecer o inconsciente oculto, sem selecionar as informações por uma
censura própria. Para isso, é necessária uma condição psicológica: o psicanalista
não pode ter dentro de si resistências, que repelem da consciência o material
inconsciente, e provocam uma nova forma de seleção e deformação da análise.
Desse modo, é necessário que ele seja submetido a uma purificação psicanalítica e
tome conhecimento dos próprios complexos que podem atrapalhar a absorção do
conteúdo exposto pelo paciente. Os recalques do próprio analista são como pontos
cegos em sua percepção analítica.
● Como nos tornamos analistas? A análise dos próprios sonhos é suficiente para
muitas pessoas, mas não para todas. Uma boa recomendação é tornar-se um
especialista. Se abrir diante de uma pessoa sem ser pressionado por uma doença
tem várias vantagens: podemos conhecer o oculto em nós em menos tempo e com
menos esforço afetivo, adquirimos convicções e impressões no próprio corpo
inalcançáveis ao ouvir conferências ou estudar por livros, e temos um ganho devido
à relação psíquica que geralmente se estabelece com o guia. O analisando que
souber valorizar o autoconhecimento e o aumento do autocontrole adquiridos pode
prosseguir o desbravamento analítico de si mesmo como uma autoanálise. Aquele
que negligenciar esse cuidado com o próprio psiquismo pode perder capacidade de
aprender com seus analisandos, e pode projetar na Ciência as particularidades de
sua pessoa; isso pode levar descrédito ao método analítico e induzir pessoas sem
experiência ao erro.
● g) A técnica afetiva que consiste em o analista mostrar seus próprios conflitos e
defeitos psíquicos ao paciente não é recomendável. Ela se aproxima dos
tratamentos por sugestão, se afastando da psicanálise, e aumenta no analisando a
incapacidade de superação das resistências mais profundas. Essa técnica também
pode fazer com que o paciente queira inverter a situação, tendo mais interesse na
análise do analista do que em sua própria.
● A postura de intimidade do psicanalista pode dificultar um dos principais objetivos da
terapia: a resolução da transferência. Freud sugere que o analista deve ser opaco e,
tal como um espelho, não mostrar ao analisando nada além do que lhe é mostrado.
● h) Outra tentação a ser evitada é a ambição educativa. O analista deve controlar-se
ao apontar novos objetivos ao doente, e ter tolerância perante a sua fraqueza. Nem
todos são capazes de realizar bem a sublimação de suas pulsões, portanto deve-se
ter cuidado ao indicar isso.
● i) Deve-se ter cuidado com a cooperação intelectual do paciente, especialmente com
aqueles que tendem a praticar a intelectualização. A resolução dos mistérios da
neurose se dá por meio da regra psicanalítica de trazer à tona os materiais do
inconsciente sem crítica. Freud não recomenda oferecer a literatura psicanalítica a
pacientes ou seus parentes, mas afirma que, no caso de internação em uma
instituição, pode haver vantagem no uso da leitura para o estabelecimento de um
clima de influência e para a preparação dos analisandos.
● Freud conclui exprimindo sua esperança de chegar a um consenso, por meio do
progresso nas experiências dos psicanalistas, sobre as questões da técnica a ser
usada para o tratamento mais eficaz dos neuróticos.
● Freud trabalha com seus pacientes todos os dias, exceto domingo e feriados, ou
seja, geralmente seis vezes por semana. Para casos leves ou continuações de
casos já muito avançados, três horas semanais são suficientes. Um trabalho com
maior intervalo de tempo entre as sessões pode trazer o risco do não
acompanhamento da vivência real do analisando e de que o tratamento sofra com
uma perda de contato com a realidade, sendo levado a desvios. Em certas ocasiões,
alguns pacientes precisam de mais que a média de uma hora por dia, porque
gastam a maior parte dessa hora para tornar-se extrovertidos e comunicativos.
● Uma questão colocada pelo paciente no início da terapia que pode incomodar o
psicanalista é: “Quanto tempo irá durar o tratamento? Quanto tempo o senhor
precisa para me libertar do meu sofrimento? ”. A resposta pode ser dada, depois do
período inicial probatório de duas semanas, usando a fábula de Esopo. Um
andarilho pergunta sobre o comprimento do caminho, Esopo responde: “Anda! ”, e
explica que para calcular a duração da caminhada precisa conhecer o passo do
andarilho. A comparação tem como problema a possibilidade de o neurótico mudar
sua velocidade e fazer pouco progresso em certas épocas. Na verdade, a questão
sobre a duração do tratamento psicanalítico praticamente não pode ser respondida.
● De forma direta: a Psicanálise exige longos períodos de tratamento, semestres ou
anos inteiros, sempre mais tempo que o paciente espera. Devido a isso, o
psicanalista deve esclarecer a situação antes que o analisando decida dar início à
análise. Isso também pode ser considerado como prova para uma seleção de
pacientes aptos ao tratamento em psicanálise.
● Um fator importante que impede um tratamento psicanalítico rápido é a
vagarosidade da ocorrência das transformações psíquicas profundas. Os pacientes
podem subdividir seus problemas e buscar na psicanálise um tratamento rápido para
apenas um (por exemplo, dor de cabeça ou certa angústia), mas o psicanalista não
consegue determinar o que virá à tona. O analista pode introduzir o processo (da
dissolução dos recalques), estimulá-lo, supervisioná-lo, tirar obstáculos do caminho,
e também estragá-lo em certa medida. Mas geralmente o processo segue seu
próprio caminho e não permite a escolha de direção nem sequência dos pontos que
irão ser atacados. Analogamente, é como um homem que pode iniciar o processo de
geração de uma criança, mas não pode escolher seu sexo ou a sequência com que
as partes de seu corpo surgirão durante o parto. A neurose possui características de
um organismo, suas manifestações parciais possuem independência em relação às
outras, se condicionam mutuamente, costuma apoiar-se; não se sofre de várias, mas
sempre de uma neurose.
Em que ponto e com que material o tratamento deve se iniciar? Antes de tudo, o
psicanalista apresenta a regra fundamental da psicanálise, que prescreve que o
paciente diga tudo que vem à sua mente, sem censura, comportando-se
análogamente à um viajante que descreve as mudanças da paisagem que observa
pela janela de um trem. Após o estabelecimento da regra, o psicanalista deixa a
cargo do paciente a escolha do ponto inicial, e pode solicitar que ele conte o que
sabe a respeito e si.
● O analista não deve esperar ou estimular uma narrativa sistemática, pois tudo será
contado novamente, e nessas repetições surgirão os conteúdos importantes. É
recomendável desaconselhar que o paciente prepare sua narrativa antes da sessão,
com a intenção de aproveitar melhor o tempo. Essas preparações evitam o
surgimento de ocorrências indesejadas, servindo à resistência, que faz com que o
material mais valioso não seja comunicado. Outro comportamento a se evitar é o
“vazamento” de material da análise pelo fato de o paciente falar sobre o tratamento
com outras pessoas. Devemos aconselhar o paciente a encarar o tratamento como
um assunto que diz respeito apenas a si e a seu analista.
● A recusa inicial do paciente em falar, afirmando que nada lhe vem à mente, pode ser
sinal de uma forte resistência defendendo a neurose. Tudo que é associado à
situação presente (por exemplo: pensar sobre os objetos na sala, ou pensar no fato
de que está no divã) corresponde a uma transferência para o analista, apropriada
para uma resistência. O psicanalista é então obrigado a iniciar desvendando essa
transferência, a partir da qual rapidamente encontrará a entrada do material
patogênico do paciente.
● Assim como a primeira resistência, pode haver demanda de um interesse especial
por parte dos primeiros sintomas ou primeiros atos casuais, denunciado um
complexo dominante em sua neurose. Por exemplo: uma jovem pode usar a saia
para esconder o tornozelo à mostra, e mais tarde revelar um orgulho narcísico de
sua beleza física e suas tendências ao exibicionismo.
● O tema da transferência deve permanecer intocado enquanto não houver
interrupções das informações e ocorrências do paciente. Esse procedimento
continua até a transformação da transferência em resistência.
Mas será que o psicanalista deveria prolongar o tratamento? Não deveria terminá-lo
o mais rápido possível? O paciente não sofrerá por esse desconhecimento? Para
responder a essas questões, Freud apresenta algumas considerações sobre a
importância do saber e sobre o mecanismo de cura na Psicanálise.
● Na prática, essa perlaboração das resistências pode ser uma tarefa difícil
para o analisando e exigir paciência do analista. Mas essa é a parte do
tratamento que terá maior influência na transformação do paciente e que
distingue a terapia psicanalítica de todo influenciamento por sugestão. Da
perspectiva teórica, a perlaboração das resistências pode ser comparada à
abreviação dos montantes de afeto retidos pelo recalque, fator de influência
essencial no tratamento hipnótico.
● “Se existe um objeto do teu desejo, ele não é outro senão tu mesmo”
(Jacques Lacan).
● Lacan nesta sua famosa colocação sobre o ato de amar, que sintetiza
os conceitos desenvolvidos no Seminário 8 a respeito da
transferência, afirma que “amar é dar o que não se tem, a alguém que
não o quer.”
● Dessa forma, podemos definir o amor como o ato de doar ao outro a
falta reconhecida em si próprio, o desejo in natura de desejar-se,
levando-nos de volta a outra máxima lacaniana ao concluirmos que
“se existe um objeto de teu desejo, ele não é outro senão tu mesmo”,
pois que, o amante faz-se objeto amado para encontrar no semblante
que apresenta ao outro, a satisfação de seus próprios desejos.