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Acórdão - Hotel - Ibope
Acórdão - Hotel - Ibope
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
6ª CÂMARA CÍVEL
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
SUCUMBÊNCIA MANTIDO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO, APENAS
PARA CORRIGIR A BASE DE CÁLCULO DOS HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS DEVIDOS PELO AUTOR.
2. Ainda que não possua poder de polícia ou fé pública, cabe ao ECAD, com
base nos critérios fixados e definidos no regulamento de arrecadação, fixar
valores para cobrança dos direitos autorais. Precedentes do Superior Tribunal de
Justiça.
1. RELATÓRIO
Tratam-se de recursos de Apelação Cível, interpostos pelas partes (1) H.C. SILVA & CIA
LTDA. e outros e (2) ESCRITÓRIO CENTRAL DE ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO –
ECAD, contra a sentença de mov. 64.1, que julgou procedente em parte a “Ação Ordinária”
proposta em desfavor do H. C. SILVA & CIA LTDA. e outros, nos seguintes termos:
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durante o período de 05/2017 a 11/2019, com base na tabela juntada pelo ECAD
na petição inicial, acrescido de correção monetária pela média dos índices INPC
/IGP-DI e acrescido de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês desde cada
vencimento, afastando tão somente a incidência de multa moratória de 10% (dez
por cento) sobre os valores, a ser apurado em liquidação de sentença.
Inconformada, H.C. SILVA & CIA. LTDA. e outros interpuseram recurso de apelação (mov.
75.1), pugnando, preliminarmente, pela nulidade da sentença, para que os autos retornem à
origem e seja reaberta a fase instrutória para produção de provas. Argumenta, em síntese, o
cerceamento da defesa com o julgamento antecipado da lide; o indeferimento da produção de
provas; assim como reafirma a tese da ilegitimidade passiva dos sócios. No mérito, pretende o
reconhecimento da ilegalidade dos métodos de cobrança do ECAD e da inconsistência dos
valores; a ausência de constituição em mora; e, ainda, que o ECAD é entidade particular, não
tendo fé pública e poder de polícia, bem como não tem competência para cobrança de valores.
As partes apresentaram contrarrazões (mov. 90.1 e 106.1), pugnando pelo desprovimento dos
recursos. Ainda, a parte requerida pretende a majoração dos honorários sucumbenciais.
É, em síntese, o relatório.
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Encontram-se presentes os pressupostos de admissibilidade: objetivos (tempestividade,
regularidade formal, inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer e preparo)
e subjetivos (cabimento, legitimação e interesse em recorrer). Merecem, portanto, ser
A sentença julgou procedente em parte a ação, pois: “[...] Em relação a complexos hoteleiros,
hotéis em geral, como é o caso dos autos, há uma presunção de que as obras musicais, lítero-
musicais e fonogramas reproduzidas no ambiente hoteleiro, inclusive através de rádio ou TV
por assinatura, se dá como forma de angariação de clientela, inclusive aquelas reproduções
em quartos ocupados, escolhida de forma privada pelo ocupante, uma vez que integra o
conjunto ofertado e, por conseguinte, o propósito de lucro da atividade hoteleira, enquadrando-
se na normativa da Lei de Direitos Autorais”.
Preliminares
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Assim sendo, não ocorreu qualquer surpresa para os apelantes quanto ao julgamento
antecipado da lide.
Analisando detidamente cada um dos tópicos trazidos no mov. 40.1 e repetidos em sede de
apelo, tem-se que a prova pericial e/ou testemunhal em nada alteraria a conclusão a que se
chega através da prova documental produzida.
Também não se verifica necessidade de, através de prova pericial ou testemunhal durante a
instrução processual, ser explicitada a taxa de juros e a correção monetária empregadas no
“Demonstrativo de Débito Analítico” (mov. 1.33). É certo que ao propor a demanda, a parte
autora trouxe cálculo dos valores que entende devidos, nada impedindo que ao ser julgado o
feito, fixe-se os juros e correção monetária de forma diferente do que foi trazido inicialmente
pela parte. Tanto é assim que o sentenciante fixou os juros e correção monetária, os quais
deverão ser observados nos cálculos a serem elaborados em liquidação de sentença.
A questão da multa foi solucionada pelo magistrado de origem sem qualquer necessidade de
prova pericial ou testemunhal e, ainda, foi afastada a aplicação da multa, de forma favorável à
apelante. Da mesma forma, os esclarecimentos requeridos nos itens ‘h’ e ‘i’ (mov. 40.1) em
nada poderiam ser solucionados com a realização das provas requeridas. Como já
mencionado, o demonstrativo de cálculo trazido pela parte autora não tem o condão de fixar o
valor devido, o qual será apurado, através das balizas do julgamento, em liquidação de
sentença.
Resta de fácil observação que a produção de provas requerida em nada contribuiria aos
anseios da apelante, refletindo na inocorrência de cerceamento de defesa.
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Art. 110. Pela violação de direitos autorais nos espetáculos e audições públicas, realizados nos
locais ou estabelecimentos a que alude o art. 68, seus proprietários, diretores, gerentes,
empresários e arrendatários respondem solidariamente com os organizadores dos espetáculos.
Mérito
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Arrecadação e Distribuição - ECAD, inexistindo bis in idem." (REsp 1870771/SP,
Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 24
/03/2021, DJe 30/03/2021)
Nesse sentido:
Nesse sentido:
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CONTÍNUA, PERMANENTE E HABITUAL OBRAS MUSICAIS EM SUA
ATIVIDADE COMERCIAL – ENQUADRAMENTO COMO “USUÁRIO
PERMANENTE”, SEGUNDO O REGULAMENTO DE ARRECADAÇÃO DO
ESCRITÓRIO CENTRAL DE ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO (ECAD) –
PRESUNÇÃO DE OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR DA OBRIGAÇÃO DE
Cabe destacar que a ficha cadastral (mov. 1.28), ainda que elaborada unilateralmente (não
consta assinatura da parte apelante), não deslegitima o enquadramento como “usuário
permanente”. Note-se que essa ficha foi elaborada em 2012, o que de, de certa forma, foi
reconhecido pelo apelante, já que efetuou recolhimentos ao ECAD em período anterior ao
requerido na inicial.
Nesse sentido, transcreve-se trecho do acórdão proferido pela 5ª Câmara Cível este Tribunal:
Dando sequência, os apelantes argumentam que o ECAD é instituição particular, que não
possui fé pública, não tendo competência para cobrar os valores unilateralmente arbitrados.
O ECAD é uma pessoa jurídica de direito privado constituída para o exercício das funções de
arrecadação e de distribuição dos direitos autorais relativos à execução pública de obras
PROJUDI - Recurso: 0030422-94.2020.8.16.0014 - Ref. mov. 99.1 - Assinado digitalmente por Claudio Smirne Diniz:21083
19/10/2022: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Claudio Smirne Diniz - 6ª Câmara Cível)
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musicais e audiovisuais (art. 99 da Lei n° 9.610/98), com poderes expressos para defendê-los,
conforme os arts. 98 e 99, § 2º, ambos da Lei nº 9.610/1998:
Ainda que não possua poder de polícia ou fé pública, cabe ao ECAD com base nos critérios
fixados e definidos no regulamento de arrecadação, fixar valores para cobrança dos direitos
autorais, conforme já decidido pelo Superior Tribunal de Justiça:
“Está no âmbito de atuação do ECAD a fixação de critérios para a cobrança dos direitos
autorais, que serão definidos no regulamento de arrecadação elaborado e aprovado em
Assembleia Geral, composta pelos representantes das associações que o integram, e que
contém uma tabela especificada de preços. Inteligência do art. 98 da Lei nº 9.610/1998. [...]”
(REsp n. 1.559.264/RJ, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda Seção, DJe de 15
/2/2017.)
No caso, o ECAD instruiu a petição inicial com cópia do seu Regulamento de Arrecadação, no
qual constam os critérios adotados para cálculo do valor devido (mov. 1.13 a 1.23).
Cabe destacar que o regulamento, legitimamente elaborado, prevê o cálculo a ser feito para
hotéis, pousadas, motéis e similares:
PROJUDI - Recurso: 0030422-94.2020.8.16.0014 - Ref. mov. 99.1 - Assinado digitalmente por Claudio Smirne Diniz:21083
19/10/2022: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Claudio Smirne Diniz - 6ª Câmara Cível)
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
O que está em consonância com o critério de cobrança trazido pela parte autora:
Entretanto, a média de utilização conforme cálculos do IBOPE não foi rebatida através de
provas concretas, ônus do qual a parte requerida não se desincumbiu.
Nesse sentido:
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
resolvido através de simples cálculo aritmético, nos termos do art. 509, § 2º, do
CPC, sendo desnecessária a liquidação de sentença para apurar a taxa média de
utilização.(...)” (TJ-RS - AC: 70079246831 RS, Relator: Jorge André Pereira
Gailhard, Data de Julgamento: 18/12/2018, Quinta Câmara Cível, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia 23/01/2019)
Como bem ponderado pelo magistrado a quo: “Por sua vez, o Superior Tribunal de Justiça
também entende que no quesito de fixação de preços para a utilização das obras, o ECAD fica
adstrito à decisão das associações de autores, editores e titulares de direitos conexos, que
representam efetivamente os titulares dos bens imateriais e fixam o preço do produto. É por
este motivo que o valor deverá ser apurado em sede de liquidação de sentença”.
Assim sendo, não há ilegalidade na forma de cobrança adotada pelo ECAD, que também
encontra respaldo na jurisprudência do STJ:
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Desta forma, a obrigação decorre de lei, sendo desnecessária interpelação prévia para
constituir o devedor em mora.
Nesse sentido:
Portanto, em que pesem as alegações do requerido, ora apelante, o ECAD está apto à
cobrança dos valores referentes aos direitos autorais, conforme a legislação e o regulamento
aplicável.
Assim, não socorre aos apelantes quaisquer dos argumentos trazidos em apelo, salientando
que eventual discrepância de cálculo entre os valores trazidos pela autora e o valor devido
(considerando os juros de mora e correção monetária fixados na sentença, bem como o valor
periódico da UDA) será solucionado na liquidação de sentença por simples cálculo.
Ainda, à luz do art. 85, § 11, do CPC – e do entendimento desta Câmara Cível de que os
honorários recursais serão devidos apenas no caso de não conhecimento ou não provimento
do recurso – cabível a majoração dos honorários advocatícios de sucumbência.
PROJUDI - Recurso: 0030422-94.2020.8.16.0014 - Ref. mov. 99.1 - Assinado digitalmente por Claudio Smirne Diniz:21083
19/10/2022: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Claudio Smirne Diniz - 6ª Câmara Cível)
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Dessa forma, fixo os honorários recursais de sucumbência em mais 2% (dois por cento),
perfazendo o total de 12% (doze por cento) sobre a base de cálculo fixada.
O ECAD pretende a condenação dos recorridos nas parcelas vincendas no curso da demanda.
Observa-se, inicialmente, que o pedido foi realizado na exordial (mov. 1.1), entretanto a
sentença restou omissa quanto às parcelas vincendas na condenação dos requeridos (mov.
64.1), e mesmo opostos embargos de declaração a fim de sanar omissão (mov. 91.1), o Juízo
não se manifestou sobre essa possibilidade.
Em relação ao período subsequente, cujos valores, em tese, poderiam ser objeto de cobrança
nos mesmos autos, depara-se com situação significativamente diversa, porque estaria a
abranger período pandêmico, sendo certa a notoriedade do fato de que muitos
estabelecimentos permaneceram fechados ou com atividade reduzida.
Portanto, seria necessária a demonstração dos valores pretendidos pelo ECAD, partindo-se da
taxa de ocupação específica do período, com a identificação do regulamento de arrecadação
vigente no referido período.
Nesse sentido, não havendo espaço processual neste momento para o exercício do
contraditório, não se mostra cabível a condenação em prestações vincendas.
Assim, quanto às parcelas vincendas, por ausência de documentos indispensáveis, com base
no art. 485, I do CPC, não se conhece desse tópico da petição inicial.
Do ônus de sucumbência
PROJUDI - Recurso: 0030422-94.2020.8.16.0014 - Ref. mov. 99.1 - Assinado digitalmente por Claudio Smirne Diniz:21083
19/10/2022: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Claudio Smirne Diniz - 6ª Câmara Cível)
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
O autor pretende a reforma dos ônus de sucumbência, para que seja determinado que pague
as custas processuais, tão somente, no percentual que restou sucumbente (10%); e que os
honorários de sucumbência devidos pelo autor incidam sobre o proveito econômico obtido,
qual seja, tão somente a exclusão da multa moratória.
Por sua vez, CONDENOa parte ré ao pagamento das custas e despesas processuais na
ordem de 70% (setenta por cento) e honorários advocatícios na ordem de 10% (dez por cento)
sobre o valor atualizado da condenação, o que faço com fulcro no art. 85, §2º do Código de
Processo Civil, considerando o grau de zelo do advogado, a natureza e a importância.”
Entretanto, a base de cálculo dos honorários advocatícios devidos pelo autor, efetivamente,
merece ser modificada, devendo ser considerado o proveito econômico obtido pelo requerido,
consistente, apenas, no afastamento da multa moratória. Deve ser mantido o percentual a
incidir sobre referida base de cálculo, porquanto fixada em consonância com os critérios da
legislação processual, conforme fundamentação constante da sentença.
Encaminha-se, portanto, o voto no sentido de negar provimento ao recurso (1) interposto pela
parte ré, com fixação de honorários recursais; e dar parcial provimento ao apelo (2) interposto
pelo autor, apenas para corrigir a base de cálculo dos honorários advocatícios.
3. DISPOSITIVO
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso de ELAINE
RIBEIRO DA ROCHA SILVA, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O
RECURSO DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso de H C SILVA & CIA Ltda, por
unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E NÃO-
PROVIDO o recurso de HELIO CELESTINO DA SILVA, por unanimidade de votos, em
Relator