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19/08/2023, 19:36 Conceitos de infância

Conceitos de
infância
Prof. Leandro Henrique de Jesus Tavares

Descrição Apresentação dos conceitos sobre a infância e sua construção prática a


partir do século XIX.

Propósito Reconhecer a evolução histórica dos conceitos de infância para


identificar a criança atual como um ser competente, ativo e sujeito de
direitos.

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Objetivos

Módulo 1 Módulo 2

Concepção de infância nos Concepção contemporânea


séculos XIX e XX de infância
Identificar as concepções existentes sobre Reconhecer o conceito contemporâneo de
a infância nos séculos XIX e XX. infância como resultado de um processo
histórico e legislativo.

Introdução
Você já parou para pensar em como as crianças eram vistas socialmente?

Historicamente, percebemos diversos olhares sobre a infância que nos


permitem identificar os conceitos construídos sobre a criança ao longo de
nossa história. No entanto, para compreendê-los, não podemos perder de
vista as relações sociais e a cultura nas quais a criança está inserida. Por
isso, é importante fazer um percurso histórico sobre o atendimento à
criança, de acordo com as concepções históricas, sociais e políticas de cada

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época, que influenciaram no modo de percebê-las, bem como na legislação


voltada para elas. Para começar a nossa reflexão, leia o poema As cem
linguagens da criança, de Loris Malaguzzi, cujo teor versa pela complexidade
das crianças, de seu pensamento, de como elas se expressam por meio de
múltiplas linguagens e de como ressignificam os saberes produzindo cultura
e conhecimento. Feita a leitura, vamos compreender como a criança era
considerada ao longo dos séculos XIX e XX.

A criança é feita de cem.


A criança tem cem mãos, cem pensamentos, cem modos de pensar,
de jogar e de falar.
Cem, sempre cem modos de escutar as maravilhas de amar.
Cem alegrias para cantar e compreender.
Cem mundos para descobrir. Cem mundos para inventar.
Cem mundos para sonhar.
A criança tem cem linguagens (e depois, cem, cem, cem),
mas roubaram-lhe noventa e nove.
A escola e a cultura separam-lhe a cabeça do corpo.
Dizem-lhe: de pensar sem as mãos, de fazer sem a cabeça, de escutar e de
não falar,
De compreender sem alegrias, de amar e maravilhar-se só na Páscoa e no
Natal.
Dizem-lhe: de descobrir o mundo que já existe e, de cem,
roubaram-lhe noventa e nove.
Dizem-lhe: que o jogo e o trabalho, a realidade e a fantasia, a ciência e a
imaginação,
O céu e a terra, a razão e o sonho, são coisas que não estão juntas.
Dizem-lhe: que as cem não existem. A criança diz: ao contrário,
as cem existem.

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MALAGUZZI, L. As cem linguagens da criança. Porto Alegre: Artes Médicas,


1999.

1 - Concepção de infância nos séculos XIX e XX


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as concepções existentes sobre a infância nos
séculos XIX e XX.

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A infância ao longo do século XIX

Quem cuidava das crianças no século XIX?


As classes mais abastadas
mantinham em suas estruturas
familiares mulheres, escravizadas e
alforriadas, que assumiam a função
de tutela das crianças. Eram amas de
leite, cantavam as cantigas de roda,
envolviam-se com o cotidiano dessas
crianças. As mães ensinavam bons
A redenção de Cam (Modesto Brocos - 1895).
modos e habilidades às meninas,
como tocar piano, falar línguas, ser
uma anfitriã que soubesse organizar a
casa de seu futuro marido,
preparando-as para um bom
casamento. Isso mesmo: a formação
das meninas visava ao casamento.

A classe média urbana reproduzia um misto das linhas da influência da


modernidade europeia (crianças mais “funcionais”, criadas para atender à
sociedade) com traços da família patriarcal, com empregadas – mucamas ou
assalariadas. As mães poderiam até cuidar dos próprios filhos, mas isso
acontecia em classes menos favorecidas, nas quais os maridos conseguiam
reproduzir o ideal burguês com suas esposas se dedicando ao lar e à criação

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dos filhos. Os meninos entravam nesse modelo social. Deveriam se exercitar,


aprender números e letras para assumirem a condição que sua família
permitisse. Deveriam aprender o ofício de seus pais ou profissões que lhes
concedessem um papel superior. Os filhos dos menos favorecidos eram
integrados ao mercado de trabalho muito cedo e as filhas assumiam a condição
de cuidar dos irmãos menores para que a mãe pudesse trabalhar.

Curiosidade
Nesse período, surgiu a roda dos expostos (ou roda dos enjeitados), criada pela
Santa Casa de Misericórdia como um instrumento que recolhia as crianças
rejeitadas. Ao atingirem uma idade em que já tinham força para se preparar e
trabalhar, os meninos eram enviados para casas de custódia. As meninas se
mantinham por mais tempo, pois a Santa Casa buscava benfeitores que
pudessem ceder-lhes um dote, permitindo que essas moças conseguissem um
casamento. A roda dos expostos era uma representação social importante,
icônica; ela não é uma política pública, mas uma ação dos grupos sociais que
inserem as crianças de alguma forma.

Outra peça importante da relação com as crianças eram as figuras das


criadeiras, mulheres que passaram a tomar conta das crianças enquanto suas
mães trabalhavam. Essas mulheres, que eram remuneradas por isso, reuniam
em suas casas e terrenos algumas dezenas de crianças, onde eram alimentadas
e aprendiam as primeiras letras (VELLOSO, 2009).

Em se tratando do Estado, quais foram as ações com foco no cuidado das


crianças ao longo do século XIX? Veja a seguir sua trajetória cronológica no
período colonial:

1530 a 1822
E i ti t t l d E t d i fl ê i d d l
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Existia a tutela do Estado e influência do modelo europeu no
flag atendimento à criança, com uma evidente diferença no trato
entre brancas e negras, uma vez que estas eram
incorporadas ao trabalho desde os 5 anos e aos 12 eram
consideradas adultas. As crianças sofriam castigos
corporais e havia elevado índice de mortalidade infantil.

flag 1824

De acordo com Aragão e Kreutz (2010, p. 27), o Brasil


escravocrata e monocultor – que cedia espaço para a
urbanização, com a abertura de portos e a reorganização
administrativa – sofria fortes pressões dos ideais liberais
europeus, que defendiam a instrução populacional em
massa. Assim, em 1824, a Constituição estabeleceu, no
artigo 179, a gratuidade da instrução primária para todos os
cidadãos.

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flag 1827

Uma lei determinou a criação de uma escola de primeiras


letras em cada cidade, que não chegou a ser cumprida.

flag 1861

Houve a criação do Instituto de Menores, para onde


passaram a ser encaminhadas as crianças infratoras ou
abandonadas e, em seguida, as não infratoras também. Isso
causou um problema, uma vez que o objetivo da educação
ficou perdido. A criança das classes menos favorecidas era
tratada como criminosa.

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flag 1875

Nesse ano, foi criado o Jardim de Crianças do Colégio


Menezes Vieira, localizado no Rio de Janeiro. Essa foi uma
das primeiras instituições brasileiras a atender crianças de 0
a 6 anos. Dois anos mais tarde, a cidade de São Paulo
passou a ter os seus primeiros jardins de infância,
pertencentes à esfera privada (REIS; CUNHA, 2010).

Em relação à repercussão do surgimento do jardim de infância no Brasil, Oliveira


declara o seguinte:

No final do século XIX, é trazido ao Brasil,


através das influências americana e
europeia, o jardim de infância, que também
foi alvo de muitas discussões entre os
políticos da época. Alguns o criticavam
porque consideravam-no mais um local de
mera guarda das crianças. Os Jardins de
Infância eram considerados prejudiciais
porque tiravam a criança do convívio

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familiar precocemente. Outros os


defendiam por acreditarem que trariam
benefícios ao desenvolvimento da criança,
já se vislumbrando um aspecto
pedagógico influenciado pelo Movimento
das Escolas Novas.

(OLIVEIRA, 2011, p.101)

Agora observe a trajetória cronológica, desta vez, no período do Brasil República:

flag 1889 a 1930

Como o índice de mortalidade infantil era alto nesse período


e não diminuía, foi criado o Movimento Higienista, visando
um melhor atendimento à criança para que ela sobrevivesse
às epidemias e aos maus-tratos. Desse modo, surgiram as
primeiras leis para os menores.

flag 1932

Surge o Manifesto dos pioneiros, defendendo uma


revolução educacional, com a criação da escola não

li i t it bi tó i f ã d E t d U
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religiosa, gratuita e obrigatória, função do Estado. Uma
escola única, para meninos e meninas, com um ensino
ativo.

flag Primeiras décadas do século XX

Uma parcela do movimento operário, em virtude da maior


participação das mulheres no trabalho, reivindicava um local
onde as mães pudessem deixar as crianças enquanto
trabalhavam. Logo, os empresários construíam creches
próximo às fábricas, embora tal ação não constituísse
bondade ou descaso.

Movimento Higienista
No fim do século XIX e início do XX, surgia uma nova mentalidade que se propunha
a cuidar da população, educando e ensinando novos hábitos. (...) Convencionou-se
chamá-la “movimento higienista”. Muitos “higienistas” tomavam como referência a
ideia que preconizava ser a falta de saúde e educação do povo responsável por
nosso atraso em relação à Europa (GÓIS JUNIOR, 2002).

Manifesto dos pioneiros

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O Manifesto da Escola Nova foi um documento elaborado por 26 educadores, em


1932, com o objetivo de oferecer diretrizes para a política educacional. Veja um
trecho desse manifesto:

“Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade o da

educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar a primazia nos planos de
reconstrução nacional. Pois, se a evolução orgânica do sistema cultural de um país depende de

suas condições econômicas, é impossível desenvolver as forças econômicas ou de produção,

sem o preparo intensivo das forças culturais e o desenvolvimento das aptidões à invenção e à

iniciativa que são os fatores fundamentais do acréscimo de riqueza de uma sociedade”.

Creches
Apesar do tímido processo de expansão das escolas e creches, tanto por parte dos
sistemas de educação como pelos órgãos de assistência ou saúde, a legislação
trabalhista que determinava a criação desses estabelecimentos tornou-se sem
efeito, pois não atendia a todas as necessidades.

A partir desse breve descritivo histórico sobre o tratamento dispensado às


crianças ao longo do século XIX, podemos perceber que, em geral, a infância foi
considerada sem importância e a criança era objetificada, ou seja, apontada
como um ser que deveria ser protegido ou punido, seguindo a lógica do
tratamento diferenciado, de acordo com classe social ou raça.

E quanto ao conceito de infância, a partir desse histórico, você


consegue defini-lo?

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Como você pode perceber, durante muito tempo não se pensou sobre o que é a
infância. As decisões que eram tomadas com o objetivo de tutelar e cuidar das
crianças, não eram estabelecidas baseadas em um conceito definido sobre a
criança. No máximo, havia uma classificação a partir de debates sobre até
quando se é uma criança. Essa discussão é antiga e tem como base a Teoria
das Idades, de Agostinho de Hipona (354-430), que destaca duas fases da
infância, veja:

Agostinho de Hipona
Agostinho foi um importante filósofo, escritor, bispo e teólogo
cristão e suas concepções sobre a fé e a razão, Igreja e o
Estado influenciaram toda a Idade Média.

0 a 6 anos expand_more

Momentos de fragilidade das crianças que inspira cuidados e é de


responsabilidade sempre da mãe.

7 e 8 anos expand_more

As crianças passam a ter outros locais de atuação-treinar para batalhas


(espartanos), aprender a falar e a dominar a palavra (romanos), ir para a

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Igreja e conter suas paixões (III Concílio de Toledo).

Mesmo para renascentistas (século XVI), iluministas (séculos XVII e XVIII) e


cientificistas (séculos XVIII e XIX), as crianças tinham classificações e, ao longo
do tempo, as percepções de cuidado foram alteradas sem nunca se discutir
efetivamente o que era chamado de infância. Parecia algo tão óbvio, tão
presente, que qualquer debate conceitual perdia para a observação direta:
infância é esse momento de amadurecimento do ser.

A infância ao longo do século XX


O século XX é tratado como o século da infância e esse fenômeno ocorreu por
muitos elementos. Nunca tinham ficado tão claras as diferenças sociais sobre
como as sociedades pensam e se relacionam com as crianças. Etnógrafos
perceberam que as crianças e os relatos de como lidar com elas eram
diferentes. Vejamos como exemplo o relato de Heloisa Schurmann:

Heloisa Schurmann

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Graduada Professora de Inglês pela New York University com especialização na área
de Pedagogia, Heloísa Schurmann educou os quatro filhos nas duas expedições de
volta ao mundo da Família Schurmann. Desenvolveu o Programa Pedagógico da
expedição Magalhães Global Adventure, intitulado “Educação na Aventura”, que foi
acompanhado por mais de 2 milhões de alunos no Brasil e nos Estados Unidos.
Além de palestrante, é responsável pelo núcleo de dramaturgia da produtora e pelo
conteúdo digital da Família Schurmann.

Em certa ocasião, ao visitar algumas ilhas


da Polinésia, percebi que as crianças de lá
pareciam estar sempre felizes, elas
corriam e brincavam sem a supervisão de
um adulto. Então, perguntei a algumas
pessoas se eles não tinham receio de que
as crianças se machucassem, uma vez que
na maioria das vezes estavam sozinhas.
Foi então que aprendi uma lição
inesquecível: para eles, uma criança
deveria ser criança, crescer, brincar,
aprender como a comunidade funcionava e
como poderia ser um local de felicidade.
Dessa forma, a criança pouco a pouco se

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sentiria responsável por si e pelos que as


acompanhavam.

(SCHURMANN)

Perceba que esse relato se distancia da forma como as crianças eram tratadas
ao longo do século XIX, quando eram constantemente supervisionadas. Ao
contrário disso, nas ilhas da Polinésia, as crianças cresciam livres e se
desenvolviam na medida em que interagiam com a sua comunidade. Não há
aqui a intenção de taxar como certa ou errada essas diferentes formas de se
perceber e lidar com a infância, no entanto, essa diferenciação nos faz refletir
sobre o papel social da criança nas comunidades. Pensando nesse contexto, no
século XX surgiram diversos movimentos científicos, cada um com o seu
enfoque particular, mas que tinham como objetivo conceituar e classificar a
infância, veja:

Psicologia Medicina Pedagogia


Pensando nas fases Buscava estudar o Desenvolveu teorias
do desenvolvimento desenvolvimento dos sobre a absorção de
infantil, buscava corpos, definindo conhecimentos, sobre

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analisar os estímulos como deviam ser os as trocas e interações


e condicionamentos cuidados com as do sujeito.
que poderiam ser crianças, estudando
desenvolvidos nos cérebros, medula,
seres humanos. hormônios entre
outros aspectos.

A ciência moderna tentava constituir uma versão singular sobre as formas de


pensar e lidar com a criança, com o objetivo de garantir o melhor
desenvolvimento infantil. Nesse cenário, o mundo passou a perceber e discutir a
importância de cuidar de nossas crianças ainda que ninguém soubesse muito
bem o que era isso.

Como exemplo de ações desenvolvidas com esse objetivo, destacamos os


órgãos internacionais que foram criados com a finalidade de discutir sobre os
cuidados necessários às crianças:

Convenção de 1919 da Organização Internacional do Trabalho expand_more

Fala sobre limitar o trabalho infantil em dois dos seus itens.

Declaração de Genebra de 1924 expand_more

Com o fim da Primeira Guerra Mundial e a questão dos órfãos, foi o


primeiro documento internacional a abordar sobre a proteção das

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crianças.

Declaração do Direito das crianças e dos adolescentes de 1954


(ONU) expand_more

Após a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a ONU foi


pressionada a constituir um caminho de proteção e defesa internacional
das crianças. O Brasil só adotou essas medidas a partir da Constituição
de 1988.

Sobre a Convenção de 1919, cabe dizer que ela foi fundada como parte do
Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. Já Organização
Internacional do Trabalho (OIT) tem como objetivo promover a justiça social.
Ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 1969, a OIT é a única agência das
Nações Unidas que tem estrutura tripartite, na qual representantes de governos,
de organizações de empregadores e de trabalhadores de 183 Estados-membros
participam em situação de igualdade das diversas instâncias da Organização.

A OIT é responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do


trabalho (Convenções e Recomendações). As Convenções, uma vez ratificadas

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por decisão soberana de um país, passam a fazer parte de seu ordenamento


jurídico.

Já acerca dos Direitos, podemos afirmar que são as vantagens, permissões e


oportunidades que cada criança ou adolescente deve ter. A Convenção sobre os
Direitos da Criança estabelece esses direitos em 54 artigos e em um conjunto de
"Protocolos Facultativos" que listam direitos adicionais.

A partir de 1980, a criança passou a


ser percebida, também, em seu âmbito
social. Nesse sentido, os enfoques
psicológicos, biológicos e médicos
sobre a criança começaram a dialogar
com os fenômenos sociais que
englobam a infância. Essa nova
percepção trouxe à tona o problema
da marginalização da infância e, na
década de 1990, temas como abuso
sexual passaram a ser abordados. A
partir desse direcionamento, novas
ideias sobre a infância puderam ser
concluídas, veja:

face face face


Está imersa em Está sujeita à Pode ser considerada
contextos sociais. sexualização. objeto de consumo.

face face
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Estrutura relações e se Faz conexões com a


constitui a partir da cultura na qual está
complexidade delas. imersa.

Perceba que as mudanças sociais e econômicas ocorridas no século XX


provocaram significativas mudanças nos modos de ver e de lidar com as
crianças. Apesar disso, manteve-se uma clara separação entre crianças pobres e
ricas, brancas e negras:

close

Às crianças das classes mais elevadas, quase Às crianças de classes me


sempre brancas, era garantida a educação desde maioria negras, posteriorm
a pré-escola, a partir das primeiras décadas do creche, com caráter assis
século XX. mãe que trabalhava, não d

Ainda no século XX, surgiu a preocupação com um investimento maciço no


ensino fundamental, mas não para todos. Houve, também, uma movimentação
dos operários que passaram a reivindicar melhorias no atendimento
educacional prestado às crianças pequenas, uma vez que as condições

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trabalhistas precárias às quais eram submetidos os havia impulsionado na luta


por seus direitos.

Esse cenário nos mostra como a visão que os adultos têm sobre as crianças
mudou e continua em transformação, segundo as culturas nas quais estão
imersas. Seja considerando-as seres mais ou menos frágeis, capazes ou
incapazes, dignos ou não de proteção, costuma haver diferentes compreensões
a respeito do que podem ou não fazer, dos lugares adequados para elas, das
vivências permitidas ou não, das expectativas para seu futuro e dos seus
direitos.

Tratamento dado às crianças pelas


video_library representações artísticas
Veja a seguir uma análise sobre o tratamento dispensado às crianças a partir de
representações artísticas.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

No século XIX, as crianças eram vistas como pessoas que precisavam ser
assistidas e tuteladas, com a necessidade de supervisão constante. Nesse
sentido, assinale a alternativa que indica de quem era a responsabilidade de
cuidar das crianças.
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A responsabilidade de cuidar das crianças era da família. As


que eram mais abastadas mantinham em suas estruturas
mulheres, escravizadas e alforriadas, que cuidavam das
A crianças. Já as famílias de classe média urbana tentavam, na
medida do possível, reproduzir os traços da família patriarcal:
o pai era o provedor e a mãe era responsável por cuidar dos
próprios filhos.

A responsabilidade de cuidar das crianças era do Estado, que


B disponibilizava creches e escolas para todas as crianças,
sejam elas de classes mais pobres ou mais abastadas.

A responsabilidade de cuidar das crianças era da igreja, por


meio das instituições religiosas que tinham como objetivo
C
oferecer espaços nos quais as famílias poderiam deixar os
seus filhos para serem educados.

A responsabilidade de cuidar das crianças era do Estado e da


Igreja que, juntos, ofereciam escolas acessíveis para todos,
D
onde os alunos poderiam desenvolver o seu potencial, de
acordo com os interesses de cada família.

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E As famílias deveriam responsabilizar-se pelo cuidado das


crianças: meninos e meninas eram educados para poder
seguir a profissão do pai, ou o cuidado da casa, a exemplo da
mãe

Parabéns! A alternativa A está correta.

As famílias eram as responsáveis por cuidar de suas crianças, de acordo com


o contexto social no qual se encontravam. Cada família educava os seus
filhos de acordo com as suas possibilidades econômicas e com o objetivo de
prepará-los para o papel social estabelecido para eles. Assim, às meninas era
ensinado bons modos: piano, como ser uma boa anfitriã etc., tudo isso com o
objetivo de torná-las prontas para o casamento. Já os meninos deveriam se
exercitar, aprender números e letras, e aprender o ofício ou profissão de seus
pais.

Questão 2

Como vimos, no século XX, a ciência moderna buscou construir uma versão
singular sobre as formas de pensar e lidar com a criança, com o objetivo de
garantir o melhor desenvolvimento infantil. Sobre isso, assinale a alternativa
que apresenta o novo paradigma que foi utilizado para se pensar a infância.

A criança passou a ser compreendida em seus aspectos


A
biológicos.

B
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A criança passou a ser percebida nos âmbitos social e


biológico.

A criança passou a ser percebida, também, em seu âmbito


C
social.

A criança passou a ser compreendida em seu âmbito


D
psicológico.

A criança passou a ser compreendida em seus aspectos


E
fisiológicos.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Esse novo direcionamento permitiu que os enfoques psicológicos, biológicos


e médicos sobre a criança começassem a dialogar com os fenômenos
sociais que englobam a infância. Esse cenário permitiu que novas ideias
sobre a criança fossem construídas, como: a criança está imersa em
contextos sociais; pode ser sexualizada; pode ser objeto de consumo;
estrutura relações e se constitui a partir da complexidade delas; faz conexões
com a cultura na qual está imersa.

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2 - Concepção contemporânea de infância


Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer o conceito contemporâneo de infância como
resultado de um processo histórico e legislativo.

Os Parâmetros Nacionais de Qualidade


para a Educação Infantil (PNQEI)
Atualmente, tanto as pesquisas quanto os teóricos apresentam uma imagem de
criança e infância bem diferente da que existia, ou seja, ela é considerada um ser
competente, ativo, crítico e comunicativo, capaz de posicionar-se sobre as

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situações que mais lhe afetam, de representar o mundo e a si mesma, como


coconstrutora de sua cultura lúdica, a partir das interpretações que faz sobre os
conteúdos encontrados durante as interações sociais ocorridas em seus jogos e
brincadeiras.

Seguindo essa mesma linha de pensamento, os Parâmetros Nacionais de


Qualidade para a Educação Infantil (PNQEI) definiram a criança como ser
integrante da sociedade, que tem direito à dignidade e ao respeito, bem como à
autonomia e participação. Desse modo, as crianças devem ser:

Apoiadas em suas iniciativas espontâneas


e incentivadas a expressar sentimentos e
pensamentos, desenvolver a imaginação, a
curiosidade e a capacidade de expressão.

(PNQEI)

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Com base nesses novos preceitos, houve, então, a necessidade de se criar


espaços onde a criança pudesse se expressar livremente. Para isso, novas leis
foram criadas com o objetivo de garantir que os direitos das crianças fossem
cumpridos. É o que veremos neste momento. Vamos lá!

Aspectos legislativos sobre a infância


Nunes (2011) afirma que o lugar da criança também na política pública
corrobora com a visão que permeia a legislação nacional da atualidade, ou seja,
que entende a criança como um sujeito histórico, protagonista e cidadão. Sendo
assim, a criança precisa ter os seus direitos garantidos e um deles é a educação,
desde o seu nascimento, em instituições que assegurem o cuidar e o educar
indissociáveis e que possibilitem seu desenvolvimento integral, em seus
múltiplos aspectos.

Segundo Cury (2002), vivemos novos desafios no mundo contemporâneo e a


cidadania também os enfrenta à medida que deve ser reafirmada a todo instante,
sem que se esqueça da luta histórica que garantiu seus direitos. Para ele, a
educação, como um desses direitos é uma “dimensão fundante da cidadania”,

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nunca perderá sua atualidade no debate. Diz ainda que, em todo o mundo, as
legislações garantem o acesso à educação de seus cidadãos. Assim, “tal
princípio é indispensável para políticas que visam à participação de todos nos
espaços sociais e políticos e, mesmo, para inserção no mundo profissional”. Por
isso, a seguir, você encontrará um quadro legislativo que mostra as principais
leis criadas com o objetivo de garantir os direitos da criança, dos mais básicos
aos mais específicos, veja:

Constituição Federal 1988 expand_more

A Constituição Federal (CF) de 1988, conhecida como Constituição


cidadã, apresenta mudanças com relação ao tratamento dado à
educação infantil, pois a partir dela esta etapa passa a ser vista como
direito da criança, e não da mãe que trabalha. Dos artigos 205 ao 214,
apresenta um rol dedicado apenas à Educação e alça a criança a sujeito
de direito, garantindo a educação básica e gratuita dos 4 aos 17 anos,
por força da emenda Constitucional n° 59 de 2009.

ECA - Lei 8.069/90 expand_more

ECA – Lei 8.069/90, por sua vez, regulamentando o art. 227 da CF, ratifica
a visão da criança e do adolescente como sujeitos de direitos
fundamentais (individuais, difusos e coletivos). Ademais, os reafirma
como titulares de prioridade absoluta e de proteção integral.

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Segundo Amin (2014, p. 50), “o Estatuto da Criança e do Adolescente


resultou da articulação de três vertentes: o movimento social, os agentes
do campo jurídico e as políticas públicas.” Em seu artigo 3º ficam
expostos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, os quais
a criança e o adolescente devem ter assegurados para que seja possível
seu “desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
condições de liberdade e dignidade” (BRASIL, 1990). Para Nunes, (2011,
p. 26), “o ECA, de 1990, é que vai fazer a revolução conceitual e criar os
mecanismos operacionais para a implementação dos direitos da criança
no Brasil”.

Lei de diretrizes e bases da educação nacional, Lei nº 9.394 de


1996 expand_more

A atual LDBEN insere a educação infantil como primeira etapa da


educação básica. De acordo com seu art. 21, “a educação escolar
compõe-se de: I - educação básica, formada pela Educação Infantil,
ensino fundamental e ensino médio”. Em seu art. 29 afirma que a EI “tem
como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 anos, em
seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a
ação da família e da comunidade.” (Redação dada pela Lei nº 12.796, de
2013).

Para Nunes (2011), a EI “vem se tornando não só uma demanda cada vez
mais expressiva, um objeto explícito da política educacional e um dever
dos organismos governamentais, mas também um claro empenho de
organizações da sociedade civil.” (NUNES, 2011, p.15). Desse modo, não

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se modifica apenas a visão da criança, mas também, do papel do Estado


para que a EI seja garantida a todos, a partir dos 4 anos de idade.

Lei n° 12.796 de 2013 expand_more

A Lei n° 12.796, de 2013, regulamenta a EC 59/2009, pois estende a


obrigatoriedade do Estado em oferecer educação para todos, dos 4 aos
17 anos. De acordo com a alteração proposta pela Lei nº 11.700, de 2008,
no inciso X do art. 4° da LDB, no caso da EI e do ensino fundamental, a
oferta de vaga deve ocorrer em escola pública mais próxima da
residência de toda criança a partir do dia em que completar 4 anos de
idade.

Marco legal da primeira infância - Lei nº 13.257, de 2016 expand_more

O Marco Legal da Primeira Infância é a Lei n° 13.257, de 8 de março de


2016, dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância e altera
algumas leis, entre elas o ECA, o Código de Processo Penal (CPP), a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a Lei n° 12.662, de 5 de junho
de 2012 (que regula a expedição e a validade nacional da Declaração de
Nascido Vivo – DNV).

Em seu artigo 1°, essa lei estabelece os princípios e as diretrizes a serem


utilizados na formulação e a implementação de políticas públicas para a
primeira infância em atenção à especificidade e à relevância dos
primeiros anos de vida no desenvolvimento infantil e no desenvolvimento

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do ser humano. A Lei n° 13.257/2016 está em consonância com os


princípios e as diretrizes expressos na legislação que esta lei altera.

Você consegue visualizar a trajetória legislativa que conferiu às crianças a


imagem contemporânea de infância no Brasil?

É possível afirmar que historicamente


ocorreu uma luta intensa para que a
infância fosse prioritária e houvesse
um olhar atento às suas
especificidades e às necessidades
das crianças, como sua constituição
em sujeito de direitos, merecedoras de
proteção. Apesar dessa evolução de
conceitos, as práticas aqui no Brasil
permaneceram apontando a família
como responsável máxima pela
infância, seguida pelo Estado,
garantidor daqueles cujas famílias não
tivessem condição, e pelas ações
religiosas como caridade.

Fato é que a Educação, como direito social, requer a atuação do Estado para a
garantia de sua efetividade e acesso a todos. Nesse sentido, Bobbio diz sobre os
direitos sociais que:

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Para sua realização prática, ou


seja, para a passagem da
declaração puramente verbal à sua
proteção efetiva, (...) é necessária
a ampliação dos poderes do
Estado.
(BOBBIO, 2004, p. 67)

Uma proposta para a solução desses percalços é a criação de mecanismos de


fiscalização que permitam monitorar se todos os esforços para se garantir os
direitos das crianças estão sendo realizados e alcançando os objetivos
propostos. O Brasil é um dos líderes mundiais em termos de políticas de
atendimento à infância, no entanto, é importante reconhecer que há a
necessidade de que essas políticas se tornem em ações efetivas que atendam
de forma satisfatória às crianças, foco desses direitos.

Uma nova concepção sobre a criança


Os estudos da área, realizados tanto por universidades como por centros de
pesquisa brasileiros, têm contribuído para o surgimento de uma nova concepção
das crianças e sua capacidade criadora:

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A criança passou a ser vista como produtora de cultura e


sujeito de direitos, bem como um ser sócio-histórico que atua
na sociedade na qual está inserido.

Seguindo essa concepção, a Política Nacional da Educação Infantil (2006)


passou a preconizar a indissociabilidade entre o cuidar e o educar, possibilitando
outra função para as ações que são desenvolvidas com as crianças, segundo
suas especificidades. Posteriormente, tal filosofia é incorporada pelas Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010).

De acordo com Bobbio (2004), essa


caracterização da criança como um
ser que merece proteção especial não
surge naturalmente na sociedade,
antes, é fruto de estudos e debates
que comprovam essa necessidade de
especificação. A ampliação dos
direitos do ser humano ocorre de
acordo com categorias específicas.
Nesse sentido, a humanidade deixa de
ser vista de maneira genérica para ser
encarada de acordo com suas
especificidades. Ou seja, são levadas
em consideração características de
sua diversidade, quais sejam, a idade,
o sexo ou as condições físicas, por
exemplo, que não permitem que todos
sejam tratados igualmente. O autor
conclui que a mulher é diferente do

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homem; a criança, do adulto; o adulto,


do velho; o sadio, do doente etc.

O Marco Legal pela Primeira Infância se tornou crucial para garantir ao Brasil o
alinhamento com os países que estão na vanguarda do cuidado com suas
crianças. Tal preocupação evidencia a importância que os primeiros anos de
vida têm sobre todo o desenvolvimento do ser humano, desde o crescimento
físico, a aquisição de habilidades motoras e a aprendizagem da fala até a
criação das bases para o desenvolvimento cognitivo, social, psicológico e
cultural.

Dessa forma, o trabalho com as crianças deve ser um conjunto de:

Um trabalho consciente na educação A participação da família por meio de


infantil. políticas intersetoriais.

Essa convergência entre o trabalho da educação infantil e a participação da


família poderá gerar repercussões em toda a vida da criança, além de garantir
que as suas necessidades sejam de fato atendidas. Vejamos o que Corsaro nos
diz sobre isso:

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Corsaro
Professor titular do Departmento de Sociologia da Indiana University, Blommington,
onde ocupa a cátedra Professor Robert H. Shaffer. Entre seus interesses de
pesquisa, destacam-se a Sociologia da Infância, Etnografia e Sociologia da
Educação.

As crianças são agentes sociais, ativos e


criativos, que produzem suas próprias e
exclusivas culturas infantis enquanto,
simultaneamente, contribuem para a
produção das sociedades adultas.

(CORSARO, 2011, p.15)

Ao se posicionarem diante dos acontecimentos do mundo, as crianças


expressam sua visão da realidade que as cerca. Ou seja, de acordo com o
pensamento de Corsaro, elas agem na sociedade e contribuem para que os
adultos entendam um pouco como encaram determinados fatos sociais. Por
isso, é necessário um trabalho conjunto entre escola, família e comunidade, pois
esses três âmbitos permitirão que se conheça um pouco mais as necessidades
e realidades nas quais a criança está inserida.

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A Sociologia da Infância aparece aqui como contribuição teórica, trazendo


pesquisas que, atualmente, têm sido importantes para os delineamentos da
política nacional para a infância. Os autores dessa Sociologia afirmam que esse
é um campo recente do estudo da infância e evidenciam a importância de que os
investigadores busquem observar as relações entre as crianças, desvelando os
jeitos de ser criança. Para a Sociologia da Infância, as crianças são atores
sociais, imersas em seus mundos; a infância, por sua vez, é entendida como
uma categoria social do tipo geracional, socialmente construída.

Para esses autores, a infância ainda é colocada numa relação de dependência


nas sociedades em relação aos adultos. Por isso, a necessidade de olhar para as
crianças com o objetivo de conhecer as suas construções e particularidades e
permitir que elas se tornem participantes de suas culturas, manifestando as
suas interpretações e percepções sobre os diferentes contextos nos quais estão
inseridas.

Sociologia da Infância
A Sociologia da infância é um campo de estudo que passa a analisar a criança
como parte do tecido social. Assim, traz a ideia de que a educação funciona em
teias de saberes, ou seja, os grupos sociais, ao se relacionarem, constroem regras
próprias. Ao mesmo tempo se relacionam com outros grupos são, também,

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influenciados por essas regras. A Infância faz parte desta dinâmica, sendo assim, as
crianças criam as suas próprias regras, trocam e fazem micro modelos sociais, mas,
ao mesmo tempo, são marcadas pela sociedade dos adultos, suas disputas, vícios e
formas de violência.

Essa teoria está de acordo com as ideias do modelo construtivista, proposto por
Lev Vygotsky, que desenvolveu pesquisas na área de Psicologia, enfatizando os
processos de aprendizagem, sendo estes de grande relevância para a Educação.
Vygotsky enxerga a criança como um ser competente, que deve ser colocada
numa posição mais ativa que passiva e que é capaz de construir uma
interpretação própria do mundo. Assim, ele relaciona o desenvolvimento social
da criança às ações grupais que ocorrem na sociedade, possibilitando o
desenvolvimento de estratégias coletivas por meio da interação com outras
pessoas para superar os problemas que surgem.

Alguns autores, fundamentados na teoria de Vygotsky, criticam o que foi feito


por muito tempo no campo educacional, ou seja, a fixação em concepções de
criança e infância advindas da psicologia do desenvolvimento, pautada na
herança biológica, conformando-a num modelo universal, a-histórico, abstrato e
predeterminado, que as remetem à condição de dependência. As maiores
críticas que surgem residem no fato de muitas práticas revelarem a vontade de
apagar esse “ser criança” ativo e crítico, exigindo a renúncia de seu desejo para
prevalecer a vontade dos adultos que lidam com elas.

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Você consegue notar como fica clara a necessidade de


reconhecer a competência dos discursos infantis e da
urgência em se ouvir as crianças?

A ideia de criança como pessoa


completa, competente, curiosa e
criativa, com direito a ser ouvida e
atendida nas suas necessidades
específicas, surge tanto nos discursos
dos profissionais envolvidos com elas
como nas pesquisas e estudos que
propõem escuta e olhar sensíveis e
livres de preconceitos, que sejam
capazes de ver e ouvir crianças
concretas, vivas, reais. Ou seja, os
novos paradigmas apresentam uma
perspectiva diferente de criança,
definindo-a como ser competente para
interagir e produzir cultura no meio em
que se encontra.

Nesse sentido, cabe às instituições a disponibilização de espaços de


participação nos quais as crianças, mais que ouvidas, sejam auscultadas de
modo que sua opinião seja considerada e gere efetivas mudanças, a começar
pela proposta pedagógica, que constitui um espaço privilegiado no qual a
criança deve poder se expressar acerca de seus desejos e expectativas com
relação à sua institucionalização. Indubitavelmente, não é uma tarefa fácil e
requer metodologias capazes de captar essas vozes e transformar esses
desejos em ações. Segundo Rocha (2008, p. 47), os projetos pedagógicos

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deixam de ser apenas para as crianças e passam a ser definidos a partir delas e
com elas.

Diferentes visões sobre o limite de idade


video_library infantil
Veja a seguir diferentes profissionais e as visões das suas respectivas áreas
sobre até qual idade uma pessoa é considerada criança.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

No Brasil, tivemos o desenvolvimento de diversas legislações que foram


construídas com o objetivo de tornar as crianças mais ativas na sociedade e
de atender às suas reais necessidades. A seguir, você encontrará uma lista
com as principais legislações brasileiras. Observe cada legislação e marque a
que apresenta corretamente a sua contribuição para a construção desse novo
cenário.

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Constituição de 1988: determinou a mãe como sujeito de


A direitos, podendo ter acesso a creches onde pudesse deixar o
seu filho enquanto trabalha.

ECA: reafirmou a criança como sujeito de direitos e titular de


B
prioridade absoluta e proteção integral.

LDB: determinou que a educação básica deve começar pelo


C
ensino fundamental e concluir com o ensino médio.

Marco Legal da Primeira Infância: determinou que as crianças


D devem ter acesso à educação nas escolas mais próximas de
suas casas.

ECA: teve como marco a inclusão da educação infantil como


E
primeira etapa da educação básica.

Parabéns! A alternativa B está correta.

A Constituição de 1988 na verdade mudou a relação de tratamento dado à


educação infantil, estabelecendo como direito da criança e não mais da mãe,
a ter acesso a esse nível de educação. Já a LDB teve como marco a inclusão

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da educação infantil como primeira etapa da educação básica. Por fim, o


Marco Legal estabeleceu os princípios e diretrizes a serem utilizados na
formulação e implementação de políticas públicas para a primeira infância.

Questão 2

Ao discutirmos o conceito contemporâneo de infância, notamos uma


transformação nas imagens de criança e de infância. Sobre isso, assinale as
alternativas a seguir e marque a que apresenta a concepção contemporânea
de criança e de infância.

A criança passou a ser vista como um sujeito frágil e


A dependente, cujas vontades deveriam ser renunciadas para
que a vontade dos adultos fosse sobreposta.

A criança passou a ser vista como um ator social à medida


B
que seguia as regras determinadas pelos adultos.

A criança passou a ser vista como produtora de cultura e


C sujeito de direitos, bem como um ser sócio-histórico que atua
na sociedade na qual está inserido.

A criança passou a ser vista como um ser pensante e capaz


D de absorver as regras e orientações dos adultos de modo a

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reproduzi-las para seu grupo social.

A criança passou a ser vista como sujeito de direitos, mas


E ainda incapaz de ser produtora de cultura na sociedade na
qual está inserida.

Parabéns! A alternativa C está correta.

De acordo com essa nova concepção, a criança precisa ser ouvida e atendida
nas suas necessidades específicas. Ela passa, então, a ser vista como um ser
competente, capaz de interagir com o seu meio social, criando soluções a
partir da sua própria interpretação da realidade.

Considerações finais
Você percebeu que compreender o conceito de infância é fundamental a todo
profissional que, direta ou indiretamente, colocará seus esforços com o objetivo
de formar as crianças. Quanto mais entendermos tal conceito como constituído
ao longo dos últimos séculos, melhor teremos condições de buscar
possibilidades de uma atuação mais eficaz no processo educativo das crianças.

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Ao sairmos de um conceito forjado ao longo dos séculos XIX e XX que, por um


lado, tutelava a infância sob o Estado e a Religião e, por outro, definia a mesma
exclusão social e étnica presente no ambiente adulto, chegamos à visão
contemporânea que tem como foco a garantia de uma educação integral das
crianças. Busca, assim, alcançar um equilíbrio que não volte a transformar a
criança em mini adulto, agora como que sem necessidade de cuidados
específicos, por já possuir autonomia necessária a sua formação.

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Para encerrar, ouça um bate-papo sobre os conceitos de infância.

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Para se aprofundar no conhecimento dos pensamentos que contribuíram para o


avanço da Educação, leia a obra Manifestos dos Pioneiros da Educação Nova
(1932) e dos educadores (1959), de Fenando Azevedo. Coleção Educadores.
Fundação Joaquim Nabuco. Recife: Massangana, 2010.

Visite o site da Organização Internacional do Trabalho – OIT.

Busque, no site da UNICEF, a versão para crianças e adolescentes da Convenção


sobre os Direitos da Criança, que traz uma linguagem mais simples para o
documento promulgado pelo Decreto nº 99.710, em 1990.

Conheça os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil


(PNQEI) – volume 1, publicados em 2010, que tratam do ensino infantil das
crianças na faixa etária de 0 a 6 anos.

Leia a matéria Pelo direito das crianças de zero a seis anos à Educação, 2006.

Busque e conheça as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil


(2010).

Visite o portal do MEC e conheça a Política Nacional da Educação Infantil.

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(coordenação) Curso de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e
práticos. – 7. ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2014.

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ARAGÃO, M.; KREUTZ, L. Considerações acerca da Educação Infantil: história,


representações e formação docente. Conjectura. v. 15. nr. 1. jan./abr. Caxias do
Sul, 2010.

BARROS, R. P.; COUTINHO, D.; MENDONÇA, R. Monitoramento e avaliação:


desenhando e implementando programas de promoção do desenvolvimento
infantil com base em evidências. In: Avanços do Marco Legal da Primeira
Infância. Caderno de debates. Brasília: Senado Federal, 2016.

BRASIL. Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,


1988.

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros nacionais de qualidade para a


educação infantil. v. 1. Brasília, 2006.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Política nacional de educação


infantil. Brasília, 2006.

BRASIL. Ministério da Educação. Política de educação infantil no Brasil:


Relatório de avaliação. Brasília, 2009.

BRASIL. Ministério da Educação. Plano Nacional Pela Primeira Infância. (Versão


Resumida). Rede Nacinal Primeira infância. Brasília, 2010.

BRASIL. Ministério da Educação. A educação infantil nos países do MERCOSUL:


análise comparativa da legislação. Brasília, 2013.

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apresentado na 27ª Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, 2004.

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