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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

AMANDA ALMEIDA ROCHA

Análise geomorfológica das crateras de impacto de Vargeão e Vista


Alegre.

Brasília

2018

1
AMANDA ALMEIDA ROCHA

Análise geomorfológica das crateras de impacto de Vargeão e Vista


Alegre.

Dissertação apresentada ao Instituto de Geociências da


Universidade de Brasília para obtenção do título de
Especialista em Geoprocessamento Ambiental.

Área de Concentração: Geoprocessamento Ambiental.

Orientador: Profa. Dra. Tati de Almeida.

Co-Orientador: Prof. Dr. Elder Yokoyama.

Brasília

2018

2
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO PARA FINS
DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

3
FOLHA DE APROVAÇÃO

Amanda Almeida Rocha

Análise geomorfológica das crateras de impacto de Vargeão e Vista Alegre.

Dissertação apresentada ao Instituto de


Geociências da Universidade de Brasília para
obtenção do título de Especialista em
Geoprocessamento Ambiental.

Área de Concentração: Geoprocessamento.

Aprovada em:

Banca Examinadora

Prof. Dr. Assinatura: __________________

Prof. Dr. Assinatura: __________________

Prof. Dr. Assinatura: __________________

4
DEDICATÓRIA

Ao reconhecer a posição de privilégio em poder continuar a me desenvolver

intelectualmente em meio a tantas adversidades, dedico este trabalho a todos aqueles

que não tiveram e não terão as mesmas oportunidades que eu, cujos impostos também

contribuíram para custear minha educação até aqui. Que o acesso à educação superior

de qualidade seja um direito universal e não apenas oportunidade de um grupo seleto.

"Se as máquinas produzirem tudo o que precisamos, o resultado vai depender de como
as coisas serão distribuídas. Todos podem usufruir de uma vida de luxo e prazer se a riqueza
produzida pelas máquinas for compartilhada. Ou a maioria das pessoas pode acabar
miseravelmente pobre se os donos das máquinas se posicionarem com sucesso contra a
redistribuição da riqueza. Até agora, a tendência parece seguir na segunda opção, com a
tecnologia conduzindo a uma desigualdade cada vez maior".

(Stephen Hawking)

5
RESUMO

ROCHA, A.A. Análise geomorofológica das crateras de impacto de Vargeão e Vista


Alegre. 2018. 46p. Dissertação (especialização) – Instituto de Geociências, Universidade de
Brasília, DF, 2018.

Neste trabalho apresenta técnicas de sensoriamento remoto, com o uso do radar

de abertura sintética sensor ALOS PALSAR, para análise geomorfológica das crateras

de impacto Vargeão, localizada no estado de Santa Catarina e Vista Alegre, localizada

no estado do Paraná.

A análise indica a classificação de ambas enquanto crateras do tipo complexa.

O trabalho também indica que ambas possuem grande probabilidade de serem um tipo

de duplo crateramento por impacto, com asteróide de sistema binário, pois se encaixam

dentro da equação obedecendo ao limite do raio de Hill-sphere.

Palavras Chave: Geoprocessamento, Geomorfologia, Cratera de Impacto, Vargeão,


Vista Alegre.

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ABSTRACT

ROCHA, A.A. Geomorphological analysis of the impact craters of Vargeão and Vista

Alegre. 2018. 46. Thesis (Specialist’s degree) – Institute of Geoscience, University of Brasilia,

DF, 2018.

This work presents remote sensing techniques using the synthetic aperture

radar ALOS PALSAR sensor for the geomorphological analysis of Vargeão impact

crater, located in the state of Santa Catarina and Vista Alegre impact crater, located in

the state of Paraná.

The analysis indicates the classification of both as craters of the complex type.

The work also indicates that both are very likely to be a type of double impact crater,

with binary system asteroid, because they fit within the equation obeying the limit of the

radius of Hill-sphere.

Keywords: Geoprocessing, Geomorphology, Impact Crater, Vargeão, Vista Alegre.

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APRESENTAÇÃO

A presente dissertação está organizada em 05 capítulos e a referência

bibliográfica que se referem ao agrupamento temático, não correspondendo,

necessariamente, à ordem cronológica em que foi desenvolvida a pesquisa. Essa forma

de apresentação foi escolhida, a fim de sistematizar o conteúdo abordado de forma mais

objetiva.

O capítulo 01 aborda a introdução, a localização do estudo e a geologia

regional.

O capítulo 02 aborda o referencial teórico necessário para o desenvolvimento

da pesquisa, com especificações sobre a geomorfologia das crateras de impacto e duplo

impacto.

O capítulo 03 consiste nos materiais e métodos da pesquisa em que foram

usados técnicas de sensoriamento remoto sobre as imagens oriundas dos satélites ALOS

PALSAR e ASTER.

O capítulo 04 aborda a discussão e apresentação dos resultados obtidos.

O capítulo 05 consiste na conclusão do trabalho e recomendações.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Localização das crateras de Vargeão e Vista Alegre. 13

Figura 2 – Afloramento de brechas polimíticas na Estrutura de Impacto de Vargeão 17

Figura 3 – Brechas polimíticas na Estrutura de Impacto de Vista Alegre 17

Figura 4 – Estágios característicos do processo de crateramento por impacto 18

Figura 5 – Estágio contato/compressão. 19

Figura 6 – Fragmentos de shatter cones. 20

Figura 7 – Condições de pressão e temperatura no metamorfismo de choque. 21

Figura 8 – Diminuição na pressão da frente de onda de choque. 22

Figura 9 – Formação cratera transiente com ejeção de material em fluxo simétrico. 23

Figura 10 – Modelo evolução de uma cratera do tipo complexa. 24

Figura 11 – Fluxograma da metodologia empregada. 29

Figura 12 – Mapa geológico esquemático da Estrutura de Impacto de Vargeão. 30

Figura 13 – Mapa de Declividade (%) - Estrutura de Impacto Vargeão. 32

Figura 14 – Mapa de Relevo Sombreado 45° - Estrutura de Impacto Vargeão. 32

Figura 15 – Lineamentos estruturais da Estrutura de Impacto de Vargeão. 33

Figura 16 – Diagrama de Roseta de Vargeão. 33

Figura 17 – Modelo 3D de terreno ArcScene. 34

Figura 18 – Perfil topográfico sentido Oeste-Leste Estrutura de Impacto Vargeão. 35

Figura 19 – Perfil topográfico sentido Norte-Sul Estrutura de Impacto Vargeão 36

9
Figura 20 – Perfil topográfico sentido NO-SE. Estrutura de Impacto de Vargeão. 37

Figura 21 – Perfil topográfico e geologia sentido SO-NE. Estrutura de Impacto de Vargeão. 38

Figura 22 – Mapa geológico esquemático da Estrutura de Impacto de Vista Alegre. 39

Figura 23 – Mapa de Declividade (%) - Estrutura de Impacto Vista Alegre. 40

Figura 24 – Relevo Sombreado 45º - Estrutura de Impacto Vista Alegre. 41

Figura 25 – Lineamentos estruturais - Estrutura de Impacto Vista Alegre. 42

Figura 26 – Diagrama de Roseta de Vista Alegre. 43

Figura 27 – Modelo 3D de terreno (ArcScene) - Estrutura de Impacto Vista Alegre. 43

Figura 28 – Perfil topográfico sentido Oeste-Leste - Estrutura de Impacto Vista Alegre. 44

Figura 29 – Perfil topográfico sentido Norte-Sul - Estrutura de Impacto Vista Alegre. 45

Figura 30 – Perfil topográfico sentido NO-SE - Estrutura de Impacto Vista Alegre. 46

Figura 31 – Perfil topográfico e geologia sentido SO-NE. Estrutura de Impacto de Vista Alegre. 47

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Diâmetros propostos da estrutura de Vargeão. 38

Tabela 2 - Diâmetros propostos da estrutura de Vista Alegre. 47

Tabela 3, 4, 5 - Discussão acerca dos diâmetros e duplo crateramento. 49

Tabelas 6,7,8,9,10,11 - Discussão acerca dos diâmetros e duplo crateramento. 50

10
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 12
1.1 OBJETIVO ........................................................................................................ 12
1.2 LOCALIZAÇÃO .............................................................................................. 13
1.3 GEOLOGIA REGIONAL .................................................................................14

CAPÍTULO 2

2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 15


2.1 GEOMORFOLOGIA E CRATERAMENTO POR IMPACTO ....................... 15
2.2 DUPLO CRATERAMENTO POR IMPACTO ................................................ 23

CAPÍTULO 3

3. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 26


3.1 Satélite ALOS PALSAR .............................................................................. 27
3.2 Satélite ASTER ............................................................................................ 28
3.3 Fluxograma ................................................................................................... 28

CAPÍTULO 4

4. DISCUSSÃO E RESULTADOS ........................................................................... 29


4.1 ESTRUTURA DE IMPACTO DE VARGEÃO ........................................ ..29
4.2 ESTRUTURA DE IMPACTO DE VISTA ALEGRE ............................... ..39

CAPÍTULO 5

5. CONCLUSÃO......................................................................................................... 48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 51

11
1. INTRODUÇÃO

As crateras de impacto são a forma de relevo dominante na Lua, em Marte e em

outros corpos celestes no nosso sistema solar, sendo também considerado como o mais

importante processo na formação dos planetas (Shoemaker, 1977). Na Terra, as crateras

de impacto são menos frequentes, apenas cerca de 180 estruturas foram confirmadas

terem sido formadas por impacto de hipervelocidade (Jourdan et al., 2012).

A razão pela qual é mais difícil diagnosticar as crateras de impacto na Terra está

intimamente relacionada a um planeta adequado à existência da vida: a Terra é um

planeta geologicamente ativo. As forças que a modelam, como por exemplo tectonismo,

vulcanismo, erosão, intemperismo químico e intemperismo físico, deterioram os traços

do impacto após um período geológico curto (Koeberl, 2004).

Em geral, é o tamanho da cratera o fator determinante de sua morfologia, o qual

depende fundamentalmente da dimensão, velocidade, ângulo de incidência e porosidade

do projétil, bem como da composição da rocha-alvo e da gravidade do planeta

(Yokoyama et al. 2013).

Neste trabalho serão apresentados os dados geomorfológicos adquiridos para as

crateras de impacto de Vargeão (SC) e Vista Alegre (PR) através de técnicas de

sensoriamento remoto. Será discutida a classificação das estruturas de impacto de

Vargeão e Vista Alegre em simples ou complexa.

1.1 Objetivo

O objetivo consiste em discutir e correlacionar as informações geomorfológicas

oriundas de imagem de satélites com os dados de campo das crateras de impacto.

12
1.2 Localização

As estruturas circulares da Estrutura de Impacto de Vargeão e a Estrutura de

Impacto de Vista Alegre estão localizadas na porção oeste do estado de Santa Catarina e

do estado do Paraná, respectivamente, na região Sul do Brasil (Figura 1).

O centro da Estrutura de Impacto de Vargeão está localizado em 26º49' S e

52°10' W e possui diâmetro aproximado de 12,5 km (Yokoyama, 2013). Está distante

aproximadamente 100 km da Estrutura de Impacto de Vista Alegre.

O centro da Estrutura de Impacto de Vista Alegre está localizado em 25º57'52" S

e 52º41' W e possui diâmetro aproximado de 9,5km (Crósta et al. 2010), medido entre

os rins que marcam a borda da estrutura (Crósta et al. 2010).

Figura 1 - Localização das crateras de Vargeão e Vista Alegre (Adaptado de Crósta et al. 2010).

13
1.3 Geologia regional

Ambas as estruturas foram formadas nas rochas vulcânicas de composição

basáltica no Cretáceo e fazem parte da Formação Serra Geral, situadas na porção central

da bacia do Paraná.

Embora crateras de impacto formadas em basalto sejam comuns em outros

planetas rochosos e suas luas, estas são raras na Terra. Há apenas alguns exemplos

conhecidos como a cratera Lonar na Índia (Osae et al. 2005), formada no basalto

Deccan trap e a cratera Logancha na Rússia, formada nos basaltos Siberian trap

(Reichow et al. 2002).

As estruturas de Vargeão e Vista Alegre na bacia do Paraná no Brasil

representam uma proporção significativa do registro de impacto em alvos de basalto na

Terra e podem fornecer informações importantes como análogo para crateras de

impacto em outros planetas rochosos com crosta basáltica, como Marte.

A bacia do Paraná cobre uma área total de aproximadamente 1.500.000 km² no

Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina. Possui sequências vulcânico-sedimentares não

deformadas depositadas entre o Siluriano e o Cretáceo (443.7-65.5 Ma). Faz parte da

Placa Sul-Americana e possui grande quantidade de sedimentos marinhos depositados

no Oceano Pantalásia durante o rompimento da Pangéa (Milani 2004).

A Formação Serra Geral constituí uma das maiores províncias de basalto na

Terra (Peate 1997) e sua formação está relacionada com o rifte do Gondwana. O

rompimento do Gondwana durante a transição no Jurássico-Cretáceo resultou em um

extenso vulcanismo continental, que na porção centro-sul da América do Sul formou o

vulcanismo basáltico da Formação Serra Geral na Bacia do Paraná e na África a Bacia

Etendeka na Namíbia e Angola (Milani et al. 2007). Os basaltos toleíticos dominam a

porção oeste do estado do Paraná com um menor fluxo de lava riodacítico.

14
2. REFERENCIAL TEÓRICO

A associação de uma estrutura geológica ou geomorfológica a processos de

impacto ocorre se, e somente se, houver a presença de material meteorítico, feições de

metamorfismo de choque nas rochas-alvo e/ou de assinaturas geoquímicas

características.

Embora não sejam fatores diagnósticos de impacto, a geometria e a morfologia

têm um papel importante na especulação da origem de impacto de uma cratera (French e

Koeberl, 2010).

Neste capítulo será apresentada a fundamentação teórica necessária para o

desenvolvimento do trabalho.

2.1 Geomorfologia e crateramento de impacto

O tamanho da cratera de impacto é em geral o fator determinante de sua

geometria e morfologia. As crateras de impacto são dividas em três grupos: simples;

complexas e do tipo bacias multi-anelares (Melosh, 1989). Essa classificação considera

o diâmetro das crateras.

i) Crateras Simples:

São as menores estruturas, com diâmetro entre 0-20km. São caracterizadas por

uma geometria uniformemente côncava, em forma de 'tigela', similar à geometria de

uma cratera transiente, sugerindo pouco ou nenhum colapso gravitacional após o

impacto. Profundidade máxima no centro da estrutura e são desprovidas de núcleo

soerguido e terraço nas bordas. A razão entre a profundidade e o diâmetro nas crateras

varia entre (0,2) e (0,33) (Melosh, 1989).

15
ii) Crateras Complexas:

Estruturas com diâmetro final entre 20-150km, e razão profundidade-diâmetro

relativamente baixas. Entretanto, alguns trabalhos sugerem estruturas complexas com

diâmetro de 5km-15km (Kenkmann, 2002).

Feições morfológicas importantes: bordas colapsadas, bacias anelares e núcleo

central soerguido (Melosh, 1989).

A área da borda é caracterizada por escarpas anelares e terraços condicionados

por falhas normais com dobramentos associados. Estes são diagnósticos para a

demarcação da região de borda e consequentemente para a determinação do diâmetro

final da estrutura.

As bacias anelares representam a área entre o núcleo soerguido e as bordas da

cratera ou anéis e são chamadas de bacias, pois nelas é depositada a maior parte das

brechas dos materiais fundidos produzidos pelo impacto e pelo colapso da estrutura.

Nas crateras complexas, o núcleo central soerguido pode ser expresso

topograficamente por um pico simples ou por um sistema de anéis centrais.

As brechas de impacto são encontradas tanto na Estrutura de Impacto de

Vargeão (Figura 2) quanto na Cratera de impacto de Visa Alegre (Figura 3).

De acordo com French 1998, o processo de crateramento por impacto foi

analisado sendo desenvolvido um modelo de geração de crateras com três estágios

principais: contato e compressão, escavação e modificação (Figura 4).

16
Figura 2 - Afloramento de brecha polimítica mostrando clastos de basalto e em menor
quantidade arenitos e clastos de calcita em uma matriz de coloração vermelha e granulometria
fina. Estrutura de Impacto de Vargeão (S26º48'90" W52º09'75"). Adaptado de Crósta et al.
2012.

Figura 3 - Brechas polimíticas em Vista Alegre. Este bloco mostra a cor típica cinza-aço de um
centro com menor intemperismo e um cinza-marrom nas bordas em uma zona mais
intemperisada. A disposição dos fragmentos angulares na matriz é caótica. Adaptado de Crósta
et al. 2010.
17
Figura 4 - Estágios característicos do processo de crateramento por impacto (adaptado de
French 1998, Yokoyama 2013).

i) Estágio contato / compressão:

Corresponde ao momento do contato entre o projétil e a superfície e tem duração

de uma fração de segundos. Se a superfície é uma rocha sólida, o projétil penetra não

mais do que uma ou duas vezes o seu próprio diâmetro (Melosh, 1989).

18
Uma imensa quantidade de energia cinética é transferida para as rochas da

superfície através das ondas de choque geradas na interface entre projétil e superfície.

As ondas de choque são ondas mecânicas de alta energia, nas quais a pressão, a

densidade, a velocidade das partículas e a temperatura mudam abruptamente (Krehl,

2009). A propagação destas ondas em um sólido só ocorre se este for acelerado a

velocidades supersônicas.

De acordo com French 1998, modelos numéricos e computacionais demonstram

que ondas de choque esféricas e concêntricas originadas no ponto de contato e

resultantes da pressão exercida no choque propagam-se simultaneamente pela superfície

dos dois corpos - projétil e alvo (Figura 5).

Figura 5 - Estágio contato/compressão: geração de ondas de choque e deformação do projétil.

Isolinhas indicando as pressões (GPa) geradas nesse estágio (French 1998).

A pressão gerada pelas ondas de choque é de tal magnitude que promove

mudanças significativas no estado físico e químico das rochas impactadas (French,

1998). Um dos efeitos das ondas de choque nas rochas-alvo é a formação de shatter

19
cones (cones de estilhaçamento), assim como ocorre na Estrutura de Impacto de

Vargeão e Vista Alegre (Figura 6). Um resumo dos efeitos de impacto em minerais e

rochas (metamorfismo de choque) pode ser observado no diagrama da Figura 7.

Figura 6 - Fragmentos de shatter cones. Acima na Estrutura de Impacto de Vargeão e abaixo na

Estrutura de Impacto de Vista Alegre (figura adaptada de Crósta et al. 2012 e 2010).

20
Figura 7 - Condições de pressão e temperatura no metamorfismo de choque. Modificado de

French (1998).

O fim do estágio de compressão é marcado pela diminuição da energia das ondas

de choque e expansão das ondas de rarefação (Figura 8). O aumento da distância radial

entre o ponto de contato e a onda de choque, reduz a densidade total de energia e

consequentemente a pressão na frente de onda de choque. Além disso, parte da energia

da frente de onda de choque é transmitida para as rochas-alvo através do aquecimento,

deformação e aceleração.

Durante a transição entre o estágio de compressão e o estágio de escavação, as

grandes flutuações de pressão e temperatura fazem com que o projétil e uma parte do

alvo vaporizem.

21
Figura 8 - Diminuição na pressão da frente de onda de choque em função da distância radial

(French 1998).

ii) Estágio escavação:

A reflexão das ondas de impacto no estágio de transição converte parte da

energia inicial da colisão em energia cinética, de modo que diversos tipos de fragmentos

dentro da cratera são ejetados a velocidades supersônicas (Figura 9).

Neste estágio a cratera expande-se e adquire a geometria de uma 'tigela' - a

cratera transiente, que possui cerca de metade do tamanho da cratera final. À medida

que a expansão progride, suas bordas se elevam, tornando-se cada vez mais abruptas,

funcionando como uma rampa de lançamento para o material que continua sendo

ejetado - o ângulo de ejeção se torna mais agudo.

Ao final desse estágio, as rochas da área de choque estarão completamente

transformadas. Uma enorme quantidade de rocha é fundida, formando os impact melts

(fundidos de impacto), de acordo com Osinski et al. 2008. Além dos fundidos de

22
impacto, formam-se também brechas de diversos tipos, podendo se formar nas rochas-

alvo sob o assoalho da cratera (brechas parautóctones) ou podem ser depositadas no

interior da cratera (brechas alóctones), já no estágio de modificação.

Figura 9 - Formação cratera transiente com ejeção de material em fluxo simétrico.

iii) Estágio modificação:

Após a compressão e escavação, no estágio de modificação, as rochas-alvo

acomodam-se em níveis gravitacionalmente estáveis.

Para as crateras simples a acomodação se dá apenas pelo colapso das paredes da

cratera transiente com o fluxo de material para o centro da estrutura (Figura 8A). Para as

crateras complexas ocorre o soerguimento do assoalho da cratera transiente e o colapso

concomitante das paredes da cratera transiente.

A forma final da cratera se deve à reologia das rochas durante o impacto, que é

semelhante a um fluido de Bingham. O fluido de Bingham não escoa até que o limite

crítico de esforços exceda a coesão, após o qual o escoamento é diretamente

proporcional ao esforço, como materiais Newtonianos.

A formação do núcleo soerguido continua a aumentar até que o esforço

cisalhante diminua e permaneça abaixo do limite de coesão, até que o movimento é

cessado e esse soerguimento é 'congelado' (Figura 10B).


23
Figura 10 - Modelo evolução de uma cratera do tipo complexa na fase de modificação. (A)
Colapso da cratera transiente; (B) núcleo atinge seu pico máximo e o esforço cisalhante é menor
que o limite de coesão das rochas que voltam a se comportar como um corpo rígido. (Collins et
al. 2002).

2.2 Duplo crateramento por impacto

A baixa probabilidade de duas crateras de impacto se formarem muito próximas

no espaço e no tempo sugerem que esssa "dupla" foi formada por crateramento de

impacto simultâneo de um asteróide binário: dois asteróides que giram em torno de um

mesmo centro de massa (Miljkovic et al. 2013).

A aplicação das leis de escala usando gravidade terrestre e velocidade média de

impacto na Terra, sugerem que a separação no solo, L, entre os centros do par de duplo

crateramento é maior que 7 vezes o tamanho do diâmetro do asteróide impactante.

Separações tão largas não podem ser produzidas pelo rompimento atmosférico,

rompimento do limite Roche (distância mais próxima para orbitar sem ser puxado pelo

campo gravitacional do planeta), nem por perturbações da maré durante a última

24
aproximação próxima ao impacto (Bottke e Melosh, 1996). Melosh e Stansberry (1991)

concluíram que os asteróides binários e sua separação não são alteradas

substancialmente durante o encontro final com a Terra.

Miljkovic et al. (2013) mostram que o impacto de um asteróide binário pode

resultar em um dos 3 resultados: (i) duplo crateramento, (ii) sobreposição de cratera ou

(iii) cratera simples. O duplo crateramento é onde o asteróide binário de impacto forma

duas crateras separadas com pouca influência em cada uma embora tenham se formado

ao mesmo tempo.

Para pares crateras duplas de tamanhos diferentes o limite esperado é de:

0.8 Dav = 0.4 (Dcp + Dcs).

Onde Dav denota o diâmetro do asteróide, Dcp diâmetro da cratera primária e o

Dcs diâmetro da cratera secundária. Para converter esse critério de limite em uma

relativa separação para o diâmetro primário impactante não é trivial, pois a relação entre

o diâmetro final da cratera e ambas as propriedades do asteróide impactante e o alvo são

extremamente complexas.

Então com base nas leis de escala demonstradas por Collins et al. (2005),

assumindo a densidade do alvo e do asteróide impactante são os mesmos, as equações 1

e 2 definem a distância L, para crateras simples e complexas, respectivamente:

(1)

(2)

onde a incógnita Ldoublet , Dp (diâmetro do asteróide primário), Ds (diâmetro do asteróide

secundário) e Dc (diâmetro da cratera Dc = Dcp = Dcs ) estão em metros, v é a velocidade

25
média de impacto do asteróide (m/s), g é a gravidade (m/s²), θ é o ângulo de impacto

relativo à superfície.

As equações (1) e (2) podem ser usadas para estimar a separação do asteróide

binário necessária para formar duplo crateramento de impacto na Terra, dada a

velocidade de impacto, gravidade da superfície e diâmetro de transição.

Segundo Bottke e Melosh (1996) a velocidade média de impacto na superfície

terrestre é de 17,2 km/s. Considerando um asteróide primário representativo de tamanho

Dp = 1 km e um ângulo de impacto médio de θ = 45°.

Ambas as equações satisfazem as condições de separação L, se e somente se, os

rins das crateras não se sobreporem e não inclui nenhum efeito do material ejetado.

A equação (2) prevê que a separação L para uma duplo crateramento por

impacto para se formar está entre 7 e 11Dp na Terra, com um range entre 0.2 <Ds/Dp <1.

Com base em uma combinação da incerteza da idade e separação L < 10Dp, o par

de cratera é considerado muito provável de ser duplo; com separação L < 20Dp, o par de

cratera é considerado provável de ser duplo; e com separação L < 120Dp, o par de

cratera é considerado possivelmente duplo (Miljkovic et al. 2013).

De acordo com Miljkovic et al. (2013) os requerimentos para o par de cratera ser

identificado como uma dupla potencial são: (a) separação da cratera ser menor que

120Dp e (b) a estimativa da idade das crateras obedecem o limite da incerteza indicada.

De acordo com Bottke e Melosh (1996), Dp foi computada usando leis de escala

de cratera assumindo condições de impacto terrestre típicas. A separação limite de

120Dp foi escolhido pois esta é a aproximação do raio de Hill-sphere para 1 AU (Roy,

1988), que define o limite máximo de estabilidade de um satélite-asteróide.

26
3. MATERIAIS E MÉTODOS

Neste trabalho serão utilizadas como metodologia técnicas de sensoriamento

remoto para análise da geomorfologia e correlação de informações de campo das

crateras de impacto de Vargeão e Vista Alegre.

O objetivo do sensoriamento remoto é fornecer informação útil sobre as

superfícies planetárias para correlacioná-las ao estudo de campo. O princípio básico

envolve coleta, entendimento e uso de dados adquiridos como resultado da interação

entre matéria (rocha ou superfície) e energia eletromagnética. Uma variedade de banco

de dados de sensoriamento remoto e técnicas tem sido usadas para determinar (i)

geologia; (ii) morfometria/altimetria/topografia; (iii) composição; (iv) propriedades

físicas (Wright et al. 2013).

As imagens selecionadas para processamento e análise das informações

geomorfológicas foram oriundas dos satélites ALOS PALSAR e ASTER.

3.1 Satélite ALOS PALSAR

O satélite ALOS (Advanced Land Observing Satellite), é um projeto conjunto

entre a Japan Aerospace Exploration Agency (JAXA) e a Japan Resources Observation

System Organization (JAROS).

Seu desenvolvimento tem como um dos principais objetivos proporcionar dados

de observação da Terra que contribuam ao desenvolvimento sustentável com uma

cartografia topográfica com alta resolução espacial (12,5m por pixel).

O satélite dispõe de três instrumentos de sensoriamento remoto: dois

instrumentos ópticos, PRISM (Panchromatic Remote-sensing Instrument for Stereo

Mapping) e AVNIR-2 (Advanced Visible and Near-Infrared Radiometer type 2) e um

27
radar polarimétrico de abertura sintética de banda larga PALSAR (Phased Array L-band

Synthetic Aperture Radar) para observação terrestre de dia e de noite.

Dentre as vantagens de um sensor imageador ativo de alta frequência por

microondas como o PALSAR, reside na possibilidade de aquisição de dados

topográficos reais da superfície terrestre, uma vez que não sofrem interferências de

nuvens e possui facilidade em ultrapassar o dossel vegetal. Como também para controle

e monitoramento, visto que independe de iluminação natural ou de emissão própria do

alvo.

3.2 Satélite ASTER

O ASTER foi produzido através do esforço cooperativo entre a NASA, o

Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão e do Japan Earth Remote

Sensing Data Analysis Center (ERSDAC).

O ASTER é o instrumento do satélite Terra que oferece melhor resolução

espacial (15 m por pixel nas bandas do VNIR e SWIR) e opera nas regiões do visível,

infravermelho próximo, infravermelho de ondas curtas e infravermelho termal. O

ASTER oferece 14 canais que variam de 0,5 a 12 µm, contudo o intervalo de 0,76 a

0,86 µm é captado duplamente (no Nadir e Off-Nadir) para geração de modelos digitais

de elevação. O ASTER ainda conta com uma resolução temporal de 16 dias e

radiométrica de 8 bits (VNIR e SWIR) e 12 bits (TIR).

Com o uso desse sensor espera-se contribuir com informações sobre as

mudanças globais, incluindo a vegetação, a dinâmica dos ecossistemas, geologia e

solos, a superfície terrestre, climatologia, hidrologia e a cobertura vegetal.

28
3.3 Fluxograma

O fluxograma deste trabalho consistiu na aquisição das imagens de satélite,

recorte da área de interesse, tratamento das imagens utilizando software ArcGIS 10.4 e

ENVI 5.1 e uso do software RockWorks v.16 para extração dos diagramas de rosetas,

conforme exemplificado na Figura 11.

Figura 11 - Fluxograma da metodologia empregada.

4. DISCUSSÃO E RESULTADOS

Neste capítulo serão apresentados e discutidos os resultados das informações

geomorfológicas extraídas das imagens de satélite.

4.1 Estrutura de Impacto de Vargeão

A Estrutura de Impacto de Vargeão está situada na porção oeste do estado de

Santa Catarina, na Formação Serra Geral (Freitas et al. 2002) e se divide em unidades

estratigráficas distintas: Alto Uruguai, sequência inferior de basalto toleítico; Palmas e

29
Chapecó, duas sequências intermediárias de rochas vulcânicas ácidas; e Cordilheira

Alta, uma sequência superior de basalto toleítico (Figura 12).

O contexto geomorfológico regional onde está situada a Estrutura de Impacto de

Vargeão, possui dois terrenos distintos, que diferem devido a litologia e a nível de

intemperismo.

A região oeste de Santa Catarina é caracterizado por terrenos altamente

dissecados, relacionados ao fluxo de lava basáltica, onde os vales dos rios, como o de

Pelotas e o Irani são marcantes na superfície. Esta dissecação do basalto é favorecida

pelo intemperismo químico dessas rochas ricas em ferro sob as condições do clima

subtropical.

Figura 12 - Mapa geológico esquemático da Estrutura de Impacto de Vargeão. (Adaptado de

Crósta et al. 2012, Yokoyama 2013).

30
O oposto ocorre nas áreas onde o fluxo vulcânico ácido ocorre, pois essas rochas

são consideravelmente mais resistente ao intemperismo químico e físico.

Consequentemente essas áreas exibem padrões morfológicos dissimilares, com platôs

planos combinados com vales de rios rasos e profundos, como os rios Chapecó e

Chapecozinho (Crósta et al. 2012).

A Estrutura de Impacto de Vargeão é uma anomalia circular marcante.

Apresenta um padrão multianular concêntrico interno com uma leve elevação da porção

central (Figura 19), brechas polimíticas e feições de shatter cones. Esta elevação central

e as brechas implicam na classificação da Estrutura de Impacto de Vargeão como

cratera complexa (Kenkmann et al. 2002).

Através do mapa de declividade da Estrutura de Impacto de Vargeão (Figura

13), infere-se uma borda íngreme com declividade superior a 22% e com boa precisão

acerca dos limites e diâmetro de rim a rim (Figura 15).

De modo análogo, através do mapa de relevo sombreado (Figura 14) a um

ângulo de 45º, foi possível extrair informações acerca dos principais lineamentos

morfoestruturais da Estrutura de Impacto de Vargeão com boa precisão (Figura 15).

Estes lineamentos morfoestruturais são interpretados como falhas normais (ou lístricas)

na superfície, responsável pela formação do rim.

A Figura 16 apresenta o diagrama de roseta gerado a partir dos lineamentos

morfoestruturais de Vargeão e mostra as principais orientações dos conjuntos de

fraturas observadas, nas direções principais NO-SE e SO-NE.

A Figura 17 apresenta o modelo 3D com a composição RGB 3,2,1 do VNIR do

satélite ASTER, com exagero vertical de 5 vezes, onde é possível utilizar as escarpas

para auxiliar na marcação dos lineamentos e estruturas para uma melhor análise e

interpretação das feições geomorfológicas da Estrutura de Impacto de Vargeão.

31
Figura 13 - Mapa de Declividade (%) - Estrutura de Impacto Vargeão.

Figura 14 - Relevo Sombreado 45º - Estrutura de Impacto Vargeão.

32
Figura 15 - Lineamentos estruturais extraídos do relevo sombreado e mapa de declividade da
Estrutura de Impacto de Vargeão.

Figura 16 - Diagrama de Roseta de Vargeão.

33
Figura 17 - Modelo 3D de terreno (ArcScene) superfície composta com exagero vertical de 5x e
com 13m de interpolação da imagem ALOS e com imagem sobreposta ASTER VNIR RGB 231
- Estrutura de Impacto Vargeão.

As Figuras 18, 19 e 20 apresentam o modelo TIN (Triangulated Irregular

Network) gerado a partir da interpolação linear das curvas de nível extraídas do modelo

digital de elevação da imagem de satélite de radar de abertura sintética sensor ALOS

PALSAR.

A Figura 18 exemplifica o perfil topográfico da Estrutura de Impacto de

Vargeão no sentido Oeste-Leste e infere-se que esta possui um gradiente topográfico de

mais de 200 m de variação em altitude.

A Figura 19 apresenta outra perfil topográfico na Estrutura de Impacto de

Vargeão agora com direção N-S para evidenciar as feições do soerguimento central do

núcleo.

34
Figura 18 - Modelo TIN. Perfil topográfico sentido Oeste-Lete. Estrutura de Impacto de
Vargeão.

35
Figura 19 - Modelo TIN. Perfil topográfico sentido Norte-Sul. Estrutura de Impacto de Vargeão.

36
As Figuras 20 e 21 apresentam a interpretação e correlação da geologia da

estrutura de impacto e do perfil topográfico de Vista Alegre, aqui interpretado com D1=

10.5 km, D2= 11.7 km, D3= 12.5 km (Yokoyama, 2013), D4= 13.7 km e D5= 14.5km

de diâmetro de rim a rim, de acordo com a Tabela 1.

Núcleo
soerguido

Figura 20 - Modelo TIN. Perfil topográfico sentido SO-NE. Estrutura de Impacto de Vargeão.

37
Figura 21 - Perfil topográfico e geologia sentido SO-NE. Estrutura de Impacto de Vargeão.

VARGEÃO Dcp and Dcs (km) Dp and Ds (km)


D1 10.5 0.7
D2 11.7 0.8
D3 12.5 0.9
D4 13.7 1
D5 14.5 1.1
Tabela 1 - Diâmetros propostos da estrutura de Vargeão.

38
4.2 Estrutura de Impacto de Vista Alegre

A Estrutura de Impacto de Vista Alegre está situada na porção oeste do estado

do Paraná, na Formação Serra Geral, a litoestratigrafia mais jovem da região.

Compreende diferentes tipos de rochas vulcânicas (Wildner et al. 2006), com maior

proporção (90%) de rochas básicas (principalmente basaltos toleíticos), quantidade

secundária (7%) de rochas intermediárias (toleíticos andesitos) e em menor proporção

(3%) rochas ácidas (dacitos, riolitos e riodacitos). A Figura 22 apresenta o mapa

geológico esquemático da Estrutura de Impacto de Vista Alegre.

Figura 22 - Mapa geológico esquemático da Estrutura de Impacto de Vista Alegre (Adaptado de


Crósta et al. 2010).

A geomorfologia da região ao redor da estrutura de Vista Alegre é caracterizada

por uma intensa dissecação do platô formado nas rochas basálticas pelo sistema de

39
drenagem fluvial. A dissecação é favorecida pelo intemperismo químico destas rochas

ricas em ferro nas condições predominantes do clima subtropical.

O relevo regional é caracterizado com morros de topos arredondados e encostas

íngremes inclinadas. A geomorfologia da Estrutura de Impacto de Vista Alegre difere

fortemente no relevo da região. A estrutura possui borda circular com escarpa íngreme e

declividade acima de 21% (Figura 23).

A Estrutura de Impacto de Vista Alegre possui um nível de erosão maior que o

da Estrutura de Impacto de Vargeão. De modo que é possível inferir que 30% (Crósta et

al. 2010) da borda da cratera foi erodida principalmente na região oeste por influência

do rio Chopim (Figura 24), que flui parcialmente para o interior da estrutura e então

volta para a porção externa em direção sul-sudeste. As brechas polimíticas possuem

extensa área com vegetação.

Figura 23 - Mapa de Declividade (%) - Estrutura de Impacto Vista Alegre.

40
Figura 24 - Relevo Sombreado 45º - Estrutura de Impacto Vista Alegre.

O mapa de relevo sombreado (Figura 24) com iluminação a um ângulo de 45º,

apresenta algumas informações acerca dos principais lineamentos morfoestruturais da

Estrutura de Impacto de Vista Alegre. Estes lineamentos foram interpretados como

falhas normais e exemplificados na Figura 25. O lineamento rim-a-rim foi interpretado

usando o mapa de declividade do terreno (Figura 23).

A Figura 26 apresenta o diagrama de roseta gerado a partir dos lineamentos

morfoestruturais de Vista Alegre (Figura 25) e mostra as principais orientações dos

conjuntos de fraturas observadas, nas direções principais N-S e NO-SE.

A Figura 27 apresenta o modelo 3D com a composição RGB 3,2,1 do VNIR do

satélite ASTER, com exagero vertical de 5 vezes, onde é possível utilizar as escarpas

41
para auxiliar na marcação dos lineamentos e estruturas para uma melhor análise e

interpretação das feições geomorfológicas da Estrutura de Impacto de Vista Alegre.

A Estrutura de Impacto de Vista Alegre é uma estrutura circular marcante.

Apresenta uma leve elevação da porção central, brechas polimíticas e feições de shatter

cones. Esta elevação central e as brechas implicam na classificação da Estrutura de

Impacto de Vista Alegre como cratera do tipo complexa. Devido ao alto nível de erosão

do relevo, a variação topográfica em Vista alegre é maior com aproximadamente 300m

(Figuras 27, 28 e 29).

Figura 25 - Lineamentos morfoestruturais e geologia de Vista Alegre.

42
Figura 26 - Diagrama de Roseta de Vista Alegre.

Figura 27 - Modelo 3D de terreno (ArcScene) superfície composta com exagero vertical de 5x e


com 13m de interpolação da imagem ALOS e com imagem sobreposta ASTER VNIR RGB 231
- Estrutura de Impacto Vista Alegre.

43
Figura 28 - Modelo TIN. Perfil topográfico sentido Oeste-Leste. Estrutura de Impacto Vista
Alegre.

As Figuras 28, 29 e 30 apresentam o modelo TIN (Triangulated Irregular

Network) gerado a partir da interpolação linear das curvas de nível extraídas do modelo

digital de elevação da imagem de satélite de radar de abertura sintética sensor ALOS

PALSAR.

44
Figura 29 - Modelo TIN. Perfil topográfico sentido N-S. Estrutura de Impacto Vista Alegre.

As Figuras 30 e 31 apresentam a interpretação e correlação da geologia da

estrutura de impacto e do perfil topográfico de Vista Alegre, aqui interpretado com D1

= 9.5 km (Crósta et al. 2010), D2 = 10km e D3 = 11km de diâmetro de rim a rim,

conforme indica a Tabela 2.

45
Figura 30 - Modelo TIN. Perfil topográfico sentido NO-SE. Estrutura de Impacto Vista Alegre.

46
Núcleo
soerguido

Figura 31 - Perfil topográfico e geologia sentido NO-SE da Estrutura de Impacto de Vista


Alegre.

VISTA ALEGRE Dcp and Dcs (km) Dp and Ds (km)


D1-V 11 0.8
D2-V 10 0.7
D3-V 9.5 0.7
Tabela 2 - Diâmetros propostos da estrutura de Vista Alegre.

47
5. CONCLUSÃO
Pode-se concluir diante do exposto que ambas as crateras de impacto de Vargeão

e Vista Alegre apresentam diversas semelhanças, como período de formação,

embasamento rochoso, similaridade inclusive nas feições geomorfológicas com

diâmetro das crateras aproximado, que apesar de ser menor que 20km, ambas são

interpretadas como crateras complexas neste trabalho.

Contudo o nível de erosão das crateras é distinto, sendo que a Estrutura de

Impacto de Vista Alegre mostra-se mais suscetível ao intemperismo devido a ação do

rio Chopim.

De acordo com Miljkovic et al. (2013) ambas as crateras Vargeão e Vista Alegre

estão no limite do raio de Hill-sphere contudo, atende ao requerimento básico para o par

ser identificado como "possível" duplo crateramento por impacto do tipo cratera

complexa, pois a distância L das crateras é menor que 120 vezes o diâmetro do asteróide

primário Dp.

Ambas as crateras estão situadas na Formação Serra Geral com origem de


40
formação e datação com método Ar/39Ar entre 125 e 132Ma (Renne et al. 1992;

Turner et al. 1994). A idade da estrutura de impacto de Vargeão foi datada por

Yokoyama (2013) pelo método de Zircão e obteve o valor de 123±1.4 Ma. Sugere-se
40
que seja realizado uma datação com método Ar/39Ar no centro em cada uma das

Crateras de Vargeão e Vista Alegre, de acordo com os trabalhos de Schmieder et al.

(2015) e (2016).

Dentro do raciocínio feito por Miljkovic et al. (2013) e Collins et al. (2005) as

tabelas 3 a 11 apresentam o resumo dos valores possíveis para as relações escalares de

duplo crateramento das Estruturas de Impacto de Vargeão e Vista Alegre, de acordo

com as informações geomorfológicas das imagens de satélite.

48
As tabelas apresentam a relação escalar para o duplo crateramento com os

valores dos diâmetros das estruturas de impacto propostas para Vargeão igual e superior

a 12.5 km e Vista Alegre, que estão no limite da condição de separação da cratera L ser

menor que 120Dp. A separação limite de 120Dp foi escolhido por ser a aproximação do

raio de Hill-sphere para 1 AU (Roy, 1988), que define o limite máximo de estabilidade

de um satélite-asteróide.

A Tabela 3 apresenta a principal possibilidade proposta com diâmetro de

Vargeão de 12.5 km (de acordo com Yokoyama, 2013) e diâmetro de Vista Alegre de

9.5 km (de acordo com Crósta et al. 2010), apesar de estarem exatamente no limite de

separação L, com L = 120 x 0.9 = 108 km.

Este Trabalho ainda sugere avaliação em campo para definição do diâmetro

médio real das estruturas de impacto estudadas.

Par de Dcp and Dcs Dp and Ds T +- ΔT


Cratera (km) L (km) (km) Ds/Dp L/Dp (Ma) Dupla?
Vargeão 12.5 0.9 123±1.4
108 0.8 120 Possível
Vista Alegre 9.5 0.7 135-125?
Tabela 3 - Discussão acerca dos diâmetros e duplo crateramento.

Par de Dcp and Dcs Dp and Ds T +- ΔT


Cratera (km) L (km) (km) Ds/Dp L/Dp (Ma) Dupla?
Vargeão 12.5 0.9 123±1.4
108 0.8 120 Possível
Vista Alegre 10 0.7 135-125?
Tabela 4 - Discussão acerca dos diâmetros e duplo crateramento.

Par de Dcp and Dcs Dp and Ds T +- ΔT


Cratera (km) L (km) (km) Ds/Dp L/Dp (Ma) Dupla?
Vargeão 12.5 0.9 123±1.4
108 0.9 120 Possível
Vista Alegre 11 0.8 135-125?
Tabela 5 - Discussão acerca dos diâmetros e duplo crateramento.

49
Par de Dcp and Dcs Dp and Ds T +- ΔT
Cratera (km) L (km) (km) Ds/Dp L/Dp (Ma) Dupla?
Vargeão 13.7 1 123±1.4
108 0.7 108 Possível
Vista Alegre 9.5 0.7 135-125?
Tabela 6 - Discussão acerca dos diâmetros e duplo crateramento.

Par de Dcp and Dcs Dp and Ds T +- ΔT


Cratera (km) L (km) (km) Ds/Dp L/Dp (Ma) Dupla?
Vargeão 13.7 1 123±1.4
108 0.7 108 Possível
Vista Alegre 10 0.7 135-125?
Tabela 7 - Discussão acerca dos diâmetros e duplo crateramento.

Par de Dcp and Dcs Dp and Ds T +- ΔT


Cratera (km) L (km) (km) Ds/Dp L/Dp (Ma) Dupla?
Vargeão 13.7 1 123±1.4
108 0.8 108 Possível
Vista Alegre 11 0.8 135-125?
Tabela 8 - Discussão acerca dos diâmetros e duplo crateramento.

Par de Dcp and Dcs Dp and Ds T +- ΔT


Cratera (km) L (km) (km) Ds/Dp L/Dp (Ma) Dupla?
Vargeão 14.5 1.1 123±1.4
108 0.6 98 Possível
Vista Alegre 9.5 0.7 135-125?
Tabela 9 - Discussão acerca dos diâmetros e duplo crateramento.

Par de Dcp and Dcs Dp and Ds T +- ΔT


Cratera (km) L (km) (km) Ds/Dp L/Dp (Ma) Dupla?
Vargeão 14.5 1.1 123±1.4
108 0.6 98 Possível
Vista Alegre 10 0.7 135-125?
Tabela 10 - Discussão acerca dos diâmetros e duplo crateramento.

Par de Dcp and Dcs Dp and Ds T +- ΔT


Cratera (km) L (km) (km) Ds/Dp L/Dp (Ma) Dupla?
Vargeão 14.5 1.1 123±1.4
108 0.6 98 Possível
Vista Alegre 11 0.7 135-125?
Tabela 11 - Discussão acerca dos diâmetros e duplo crateramento.

50
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