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2. Entender a teoria da mudança do projeto.

Qual é a sua opinião sobre a teoria da mudança:


ela estabelece nexo (ligação) causal entre o que ocorre no projeto e os benefícios
socioambientais produzidos? Há fragilidades ou falhas na teoria da mudança?

R: Sim. Teoria da mudança é a representação de uma sequência de eventos que leva a


benefícios socioambientais, cujo passo inicial é a caracterização de recursos, ou seja, o
orçamento, os materiais e as pessoas disponíveis para o projeto.

Nesse contexto, as ações adotadas em relação à utilização dos recursos disponíveis e suas
transformações nos produtos e serviços passam, também, a compor as atividades do projeto,
razão pela qual a própria implementação do projeto consiste na conversão de recursos em
produtos e serviços, a gerar indicadores de desempenho específico.

Um dos objetivos da adoção da teoria da mudança é, para além de proporcionar um


mapeamento bem definido os resultados e impactos esperados com o projeto, também
proporcionar a geração de resultados não-financeiros positivos para a população-alvo, que não
estão sob controle dos executores, os chamados “benefícios socioambientais”.

A teoria da mudança prevê a divisão do projeto em 4 etapas sucessivas e interligadas: (i)


recursos; (ii) atividades; (iii) produtos e serviços; e (iv) resultados. As três primeiras
correspondem a etapas de implementação, sob controle e monitoramento dos executores,
enquanto a etapa dos resultados (última), os benefícios socioambientais auferidos.

Portanto, um mapeamento adequado dos produtos e serviços a serem oferecidos, bem como
os problemas sociais a serem combatidos, são etapas do processo de elaboração do projeto
essenciais, tendo em vista que um oferecimento equivocado dos primeiros não afetará
positivamente o público social objeto dos benefícios socioeconômicos almejados, de modo
que é a combinação de recursos com fins lucrativos e o aspecto filantrópico de mudança do
cenário socioeconômico o princípio basilar a determinar o sucesso da empreitada.

Nesse contexto, com base na experiência do projeto da Fundação Rabo é possível identificar
alguns aspectos de maior atenção na replicação da iniciativa para outras localidade e
contextos. Em primeiro lugar, deve-se ter uma estrutura de execução consolidada, pois, como
já mencionado, as etapas do processo estão interligadas e dependem necessariamente do
mapeamento anterior sobre os produtos e serviços a serem oferecidos, bem como o potencial
impacto no público-alvo em questão.

Nesse sentido, a teoria da mudança se mostra mais efetiva em localidades já organizadas e


uma compreensão adequada da realidade social vivida e a melhor forma de apoio a ser
disponibilizada. Portanto, infelizmente, a aplicação da teoria da mudança não é algo
facilmente implementável, muito menos bem sucedida a curto e médio prazo em todos os
cenários.

Outro aspecto de fragilidade, justamente, está relacionado à eventual armadilha em não se


oferecer o produto e serviço necessário e impactante, capaz de gerar benefícios
socioambientais sensíveis. Assim, não é possível conceber o oferecimento de produtos e
serviços típicos dos ofertados no livre mercado, mas com pequenas mudanças. Pelo contrário,
para que haja um engajamento do público-alvo que permita mudanças consideráveis em sua
qualidade de vida e no impacto socioambiental auferível, às vezes será preciso renunciar a
conceitos tradicionais e em visões comercialistas voltadas à obtenção de lucro máximo, para
que se possa melhor atender ás necessidades daquela população em questão.
Por fim, sem recursos filantrópicos sólidos e um acompanhamento engajante dos executores
do projeto, não é possível afirmar que um coeficiente de produtividade e aproveitamento dos
recursos financeiros disponíveis será alcançado. Garantir uma assistência e acompanhamento
durante todas as etapas do projeto, inclusive, após a aferição dos benefícios é outra parte
essencial que muitos executores esquecem e acabam por inviabilizar impactos socioambientais
mais vindouros e impactantes.

3. Na teoria da mudança, os recursos, atividades e produtos estão sob o controle da gestão


do projeto. Entretanto, os benefícios socioambientais não estão sob controle da gestão do
projeto. Eles dependem dos efeitos gerados no público-alvo. Identifique, no relatório,
indicadores relacionados a gestão do projeto e as métricas utilizadas para avaliar os
benefícios socioambientais.

R: No contexto da aplicação da teoria da mudança para a linha de crédito da Fundação Rabo,


via Cresol, para os produtores associados à APOMS, podemos destacar que o primeiro passo é
definir os recursos a serem empregados no projeto, tendo uma parte sido destinada ao crédito
(60%) e outra como capital de filantropia estratégica (40%). Essa última foi canalizada no
formato de doação, cujos recursos foram alocados no formato de treinamento sobre aspectos
de gestão da propriedade, de tecnologias e processos de plantio em agroecologia.

Na sequência, definiu-se as atividades a serem desempenhadas para implementação do


projeto. Para a linha de créditos, as atividades versaram sobre a identificação dos perfis dos
tomadores, cadastro e concessão de crédito, além de desenvolvimento de método para
análise e concessão do crédito aos pequenos produtores agrícolas. Tratou-se do “Plano de
crédito simplificado”, documento simples com dados do solicitante e da propriedade a
permitir maior celeridade da concessão da linha de crédito, já que a falta de documentos é um
dos principais responsáveis pela falta de empréstimo a pequenos agricultores.

Já para a parte filantrópica, focou-se na disponibilização de assistência técnica e treinamento,


trazendo aspectos de inovação na mitigação dos riscos de inadimplência. Assim, o pequeno
produtor receberia treinamento para a produção e gestão dos recursos obtidos, favorecendo
condições para o pagamento do empréstimo no tempo previsto ou razoável. 92% dos
produtores agrícolas que tomaram o empréstimo receberam algum tipo de treinamento,
resultando em taxas baixíssimas de inadimplência.

Além disso, a assistência técnica percorreu todas as etapas do uso dos recursos dentro da
propriedade, desde a fase anterior ao empréstimo, até o produto a ser vendido. Muitos planos
simplificados de crédito foram elaborados pelos próprios técnicos da APOMS. Assim, o
sucesso do método de avaliação de crédito está associado à atuação dos técnicos do CETAF
(Centro de Treinamento a Agricultura Familiar), financiados pela doação.

No tocante à fase de produtos e serviços, em 2 anos, 50 empréstimos foram realizados sem


acesso a crédito, enquanto foram realizadas cerca de 107 atividades auxiliares, dentre cursos,
dia de campo e palestras.

As atividades de restauração do bioma Cerrado permitiu o plantio de cerca de 3 mil árvores


nas instalações do CETAF, assim como foram realizadas atividades de pesquisa e
desenvolvimento junto à EMBRAPA, com a implantação de cultivo experimental de mandioca,
gerando 40 toneladas de alimentos e 135 metros cúbicos de rama que atenderam 4
produtores locais.
Os produtos e serviços encontram-se sob controle dos executores do projeto, mas os
resultados são representados pelos chamados benefícios socioambientais. Nesse sentido, o
acesso ao crédito gerou maiores oportunidades para os agricultores, com o consequente
aumento de renda, bem como os tomadores dos empréstimos passaram a adotar práticas
sustentáveis de produção com a linha filantrópica de atividades oferecida.

No mais, o plantio e árvores no Parque Natural de Glória de Dourados, que está localizado nas
instalações do CETAF, contribui para recuperação de áreas de verdes, para a conscientização
ambiental da população e para o desenvolvimento cultural e de lazer (plantio de 150 hectares
de novas variedades de mandioca orgânica, p.e.).

Resumidamente, portanto, dentre os indicadores de desempenho adotados no referido


projeto encontram-se: (i) aporte de R$ 1 milhão de reais, sendo que 60% desse valor foi
destinado para empréstimo aos pequenos produtores, enquanto que o restante (40%)
adotado em assessoria técnica; (ii) firmação de 50 contratos de empréstimo, cujo valor médio
correspondeu a R$ 11.500,00; (iii) o reflorestamento de 3000 árvores na localidade alvo; e (iv)
135 metros cúbicos de rama de mandioca para produtores locais.

Em relação aos benefícios socioambientais, temos: (i) a geração de maiores oportunidades de


renda à população beneficiada pelos empréstimos; (ii) adoção de práticas mais sustentáveis de
produção; (iii) recuperação de áreas desmatadas no Cerrado; (iv) maior envolvimento da
população na conscientização ambiental e tomada de ações menos impactantes e negativas ao
meio-ambiente; e (iv) plantio de 150 hectares de área destinada a novas variedades de
mandioca orgânica.

Há ainda que se falar de outros benefícios através do CETAF, representado por um conjunto de
atividades auxiliares que também geram benefícios socioambientais significativos.

Assim, cumpre destacar que o CETAF funciona como ponto de referência para as atividades
principais de formação e aprimoramento técnico dos pequenos produtores, mitigando riscos
de inadimplência da linha de crédito. Em paralelo, pela experiência acumulada, as atividades
de formação disseminam técnicas mais sustentáveis – agroecológicas – de produção.

Além disso, o centro permite a produção de insumos, biofertilizantes e outras atividades de


pesquisa e desenvolvimento, representando forte potencial de receitas para o CETAF e
caminho para autonômica econômica de suas instalações. Como já mencionado, produtores
que fazem parte do experimento de introdução de nova variedade na região já produziram 15
hectares de mandioca, sendo que a produção inicial possibilitou a multiplicação para outros
150 hectares. A introdução de novas variedades dentro de uma abordagem agroecológica,
aprimorando técnicas para produtores locais, gera benefícios ambientais significativos para a
região.

Paralelamente, o CEFAT ainda se mostra como meio de disseminação de técnicas sustentáveis


e modernas (agroecológicas) de produção aos produtores locais, o que contribui para
diminuição de impactos socioambientais negativos e maior garantia de preservação de áreas
verdes durante a produção.

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