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POLÍTICA DE SAÚDE

Unidade 3
Instrumentos de Regulação
em saúde e uso de
tecnologias
Diretor Executivo

DAVID LIRA STEPHEN BARROS

Gerente Editorial

ALESSANDRA FERREIRA

Projeto Gráfico

TIAGO DA ROCHA

Autoria

MARIANA MARTINS GARCIA


Mariana Martins Garcia
AUTORIA

Olá! Fiz a faculdade de Farmácia na Universidade Federal


do Paraná, e mestrado em Ciências Farmacêuticas na mesma
instituição, também fiz pós-graduação em Gestão Estratégica
de Organizações de Saúde pela UNICESUMAR. Já atuei
como farmacêutica em farmácia de dispensação, farmácia
hospitalar, prática clínica e manipulação de nutrição parenteral
e quimioterapia e como palestrante em uma indústria de
dermocosméticos. Trabalhei em empresas como Droga Raia,
Hospital da Policia Militar, CEQNEP e Stiefel.

Atualmente sou professora do Instituto Equilibra e


professora convidada na Universidade Positivo, além disso, atuo
Unidade 3

como conteudista para diversas instituições como a Inspirar,


Telesapiens, São Braz, Uniandrade e UniBrasil.

Amo estudar e adquirir novos conhecimentos! Também sou


apaixonada por ensinar, por isso estou aqui. Conte comigo no
que eu puder ajudar e vamos aprender cada vez mais juntos!

4 POLÍTICA DE SAÚDE
Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que:

ÍCONES
Para o início do
Houver necessidade
desenvolvimento
de apresentar um
de uma nova
novo conceito.
OBJETIVO competência. DEFINIÇÃO

Quando necessárias
As observações
observações ou
escritas tiveram que
complementações
ser priorizadas para
para o seu
NOTA IMPORTANTE você.
conhecimento.

Curiosidades e
Algo precisa ser indagações lúdicas

Unidade 3
melhor explicado ou sobre o tema em
EXPLICANDO detalhado. estudo, se forem
MELHOR VOCÊ SABIA?
necessárias.

Textos, referências Se for preciso acessar


bibliográficas um ou mais sites
e links para para fazer download,
aprofundamento do assistir vídeos, ler
SAIBA MAIS ACESSE
seu conhecimento. textos, ouvir podcast.

Se houver a
necessidade de Quando for preciso
chamar a atenção fazer um resumo
sobre algo a acumulativo das
REFLITA ser refletido ou RESUMINDO últimas abordagens.
discutido.

Quando alguma Quando uma


atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
ATIVIDADES for aplicada. TESTANDO forem explicadas.

POLÍTICA DE SAÚDE 5
Conhecendo os instrumentos de regulação em saúde........... 9
SUMÁRIO

A História da regulação em saúde no Brasil.................................................... 9

Diferença entre regulamentação e regulação .............................................. 11

A Regulação na legislação................................................................... 12

Os Instrumentos de regulação ........................................................................ 13

O Pacto pela Saúde............................................................................. 14

A Regulação dos prestadores de serviço em saúde ................................... 15

A Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998............................................. 18

Conhecendo os níveis de complexidade e forma de liberação.20


As Redes de Atenção à Saúde.......................................................................... 20

Os Níveis de complexidade............................................................................... 23
Unidade 3

A Liberação dos procedimentos...................................................................... 27

A Incorporação de novas tecnologias em saúde.......................................... 28

Analisar os impactos da indústria da saúde em diversas


áreas.......................................................................................... 32
A Indústria da saúde.......................................................................................... 32

O Complexo Industrial da Saúde...................................................... 35

O Complexo político e institucional do complexo da saúde........ 37

Políticas públicas para o desenvolvimento do CEIS no Brasil.................... 38

Desafios e oportunidades na Indústria da Saúde........................................ 40

O Mercado de trabalho....................................................................... 42

Compreendendo as consequências econômicas da doença.44


A Saúde do trabalhador.................................................................................... 44

Adoecimento psíquico do trabalhador........................................................... 47

Crise econômica, saúde e doença................................................................... 50

Adoecimento físico do trabalhador................................................................. 54

6 POLÍTICA DE SAÚDE
Na unidade passada conversamos sobre a regulação em
saúde, mas você sabe de que forma ela é realizada? Não, pois

APRESENTAÇÃO
bem, nesta unidade vamos conversar sobre os instrumentos de
regulação em saúde.

Lembrando que a própria legislação descreve sobre a


regulação do acesso, vamos compreender sobre os níveis de
complexidade tecnológica no sistema de saúde e de que forma
acontece as liberações para que o indivíduo possa realizar esses
procedimentos.

Compreendendo que esses níveis de complexidade estão


relacionados com tecnologia, a qual é desenvolvida pela indústria
da saúde vamos conversar também sobre ela e sua importância.

Unidade 3
Por fim, compreendendo as necessidades do mercado
como um todo, muitas empresas, independentemente de sua
área de atuação, sobrecarregam seu profissionais em busca de
resultados, o que acarreta, muitas vezes problemas de saúde
para o indivíduos, por isso, vamos falar um pouco sobre a saúde
do trabalhador e as consequências econômicas.

POLÍTICA DE SAÚDE 7
Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é
auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de
OBJETIVOS

aprendizagem até o término desta etapa de estudos:

1. Identificar os instrumentos de regulação em saúde;

2. Identificar os níveis de complexidade e forma deliberação;

3. Analisar os impactos da indústria da saúde em diversas


áreas;

4. Identificar as consequências econômicas da doença.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
Unidade 3

8 POLÍTICA DE SAÚDE
Conhecendo os instrumentos
de regulação em saúde
Neste tópico vamos compreender melhor os
instrumentos de regulação tanto no setor público
como do setor privado de saúde. E então? Motivado
OBJETIVO para desenvolver esta competência? Então vamos
lá. Avante!

A História da regulação em saúde


no Brasil
Você se lembra de como era a assistência à saúde antes
do SUS? Era baseada na prestação de serviços do setor privado

Unidade 3
para o governo, por isso, desde essa época era necessário
que se avaliasse os serviços prestados e analisasse as contas
comparando o que foi pago com o que realmente foi realizado.

Nas Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) e nos


Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) já acontecia
a regulação. A partir de regras para a utilização de serviços,
medicamentos, a oferta de serviços de saúde para os beneficiários,
com regras de utilização estabelecidas.

Você se lembra o que são CAPs e IAPs? as Caixas


de Aposentadorias e Pensões (CAP) foram criadas
pela Lei Eloy Chaves em 1923, e em 1930 houve
IMPORTANTE a unificação de várias CAPs criando diversos
Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP)
de acordo com o tipo de trabalho (marítimos,
comerciários, bancários, entre outros).

Nos IAPs, o modelo de assistência à saúde utilizado, era a


partir de compras de serviços, por isso, nesse período, a regulação
dos serviços de saúde era necessária e estava em estruturação.

POLÍTICA DE SAÚDE 9
Esse processo de regulação acelerou com a criação do
Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), pois a prestação
de assistência médica ainda era baseada na aquisição de serviços
privados. Perceba que o INPS necessitava de uma grande rede
de prestadores por todo o país. Para formação dessa rede
necessitava de um mecanismo regulatório eficiente com critérios
estabelecidos, o perfil da rede credenciada.

Essa regulação era comercial, administrativa, financeira e


assistencial e os mecanismos e fluxos de avaliação e controle
começaram a induzir o tipo de assistência prestada pela rede,
bem como as revisões administrativas, autorizações e glosas
que podiam ou não ser feitas, além de também padronizar a
operação dos prestadores de serviços. Já a regulação financeira
Unidade 3

se fez necessária devido às restrições orçamentárias e a definição


de valores de remuneração previamente tabelados.

Glosa é a recusa ou cancelamento, parcial ou


total, de orçamento, verba, conta, por serem
considerados ilegais ou indevidos. São os itens
VOCÊ SABIA? identificados pelo auditor da operadora (plano
de saúde) que ele não considera cabível para
pagamento. (GARCIA, VIANA, & BRAGAS, 2015)

Esse processo de regulação foi aprofundado e expandido


com a criação do Instituto Nacional de Assistência Médica
(INAMPS), que controlava principalmente a produção e os gastos
na assistência médica aos segurados, baseado em excessivas
normas, imposição de regras e de fluxos, fatores que ficaram
mais intensos a medida que a crise financeira da instituição
crescia. (SANTO & MERHY, 2006)

Foram desenvolvidos sistemas de controle, avaliação e


auditoria como parte do processo regulatório do INAMPS, com

10 POLÍTICA DE SAÚDE
objetivo de acompanhar a relação econômica com os prestadores
de serviços credenciados.

O processo de regulação é entendido como a


intervenção de uma terceira entidade entre a
demanda do usuário e a prestadora de serviços
VOCÊ SABIA? prestados. Mas atualmente os serviços prestados
são realizados pelo governo, então, quem faz
a regulação? Apesar de também ser um órgão
público, as agências responsáveis pela regulação
têm autonomia para auditar os estabelecimentos
públicos e agir conforme a necessidade,
independentemente de sua captação de recursos.

Diferença entre regulamentação


e regulação

Unidade 3
Podemos entender a regulação como a capacidade de
intervenção nos processos de prestação de serviços, orientando
ou alterando a sua execução, através de mecanismos indutores,
normas, regulamentação ou restrições (SANTO; MERHY, 2006).

Santos e Merhy (2006, p.29) trazem o conceito de


regulamentar como “o ato de normalizar em regras essa mesma
intencionalidade”. Já o conceito de regulação é descrita por
esses autores como “a intencionalidade do ator ao exercer a sua
capacidade, o seu poder instituído ou em disputa”.

Apesar de esses termos serem usados sem muito critério,


muitas vezes como sinônimos, a regulamentação pode ser
utilizada para o processo de produção de atos para regulamentar,
para gerar regulamento, seguido por um processo político-
administrativo para regulação.

Vale ressaltar que o processo regulatório pode estar


relacionado com o ponto de vista do acesso cotidiano das

POLÍTICA DE SAÚDE 11
pessoas (microrregulação), ou em aspectos mais amplos, como
as definições das políticas (macrorregulação) a qual pode ser
considerada um dos mecanismos mais estratégicos de gestão.
(SANTO; MERHY, 2006)

É necessário compreender que não existe sistema


sem regulação, sendo essa regulação capaz de
nortear os rumos e definir se esse sistema vai ser
IMPORTANTE um modelo de estímulo e expansão para o setor
privado, ou com predominância do setor público.

A Regulação na legislação
Como vimos na unidade passada, no artigo 197 da
Constituição Federal de 1988 descreve que:
Unidade 3

São de relevância pública as ações e serviços de


saúde, cabendo ao poder público dispor, nos temos
da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e
controle, devendo sua execução ser feita diretamente
ou através de terceiros e, também, por pessoa física
ou jurídica de direito privado. (BRASIL, 1988, art.197).
Figura 1 – Capa da Constituição de 1988 do Brasil

Fonte: Wikimedia

12 POLÍTICA DE SAÚDE
Outra legislação que fala sobre regulação em saúde é a
Lei nº 8.080/90 a qual define as competências das três esferas
de governo e estabelece o Sistema Nacional de Auditoria
(BRASIL, 1990).

Mas, como você pode lembrar, são as Normas Operacionais


Básicas (NOB) e as Normas Operacionais da Assistência à Saúde
(NOAS) que tratavam de forma mais prática o processo de regulação,
controle e avaliação. Elas são consideradas instrumentos, por isso,
vamos ver de forma mais aprofundada cada uma delas.

Os Instrumentos de regulação
Os instrumentos de regulação são importantes para que
o governo consiga exigir o cumprimento de suas decisões. São

Unidade 3
divididos em ferramentas e estratégias, que podem ser utilizadas
juntas e vão desde legislações até requisitos e exigências
administrativas (FARIAS, JUNIOR COSTA, 2009)

O governo pode utilizar alguns incentivos positivos


ou negativos para que suas decisões sejam
cumpridas. Um exemplo de incentivo positivo
IMPORTANTE são os subsídios e de incentivos negativos são as
sanções legais.

No Brasil, esses instrumentos que norteiam as ações dos


gestores e servem de base para o acompanhamento e fiscalização
da implementação das políticas do setor. Vale ressaltar que
a regulação é função do Estado com objetivo de responder às
demandas de saúde nos diversos níveis e nas diversas etapas
do processo de assistência buscando integrar as necessidades
sociais e coletivas. (FARIAS; JUNIOR COSTA, 2009)

Mas, você sabe como acontece essa regulação no Brasil?


Pois bem, historicamente esse processo regulatório vem de uma

POLÍTICA DE SAÚDE 13
série de normatizações definidas a partir da Lei nº 8.080/90 e
reforçada pela Norma Operacional da Assistência à Saúde
(NOAS-2001 e 2002) bem como pelo Pacto da Saúde, em 2006.
Todas essas normatizações fundamentaram o sistema de
planejamento, controle, avaliação e regulação do SUS.

Além disso, a Portaria nº 1.559/2008 que trata sobre a


regulação em saúde nas três dimensões de atuação: regulação
de sistemas de saúde, regulação da atenção à saúde e regulação
do acesso à assistência.

Sobre essa portaria e as NOAS nós já conversamos na


unidade passada, então vamos conhecer melhor o Pacto da
Saúde.
Unidade 3

O Pacto pela Saúde


Esse Pacto surgiu em 2006, com a finalidade de facilitar o
relacionamento entre os gestores das três esferas de governo.
Desenvolvido como um conjunto de reformas cujo foco está
nos resultados, ou seja, a gestão das ações e serviços de saúde
acontece com o objetivo de alcanças os resultados estabelecidos
com impactos positivos para a população.

O Pacto da Saúde foi instituído pela portaria nº


399, de 22 de fevereiro de 2006, a qual busca
a “Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes
VOCÊ SABIA? Operacionais do Referido Pacto” (BRASIL, 2006
caput). E a Portaria nº 325, de 21 de fevereiro de
2008 a qual “estabelece prioridades, objetivos e
metas do Pacto pela Vida para 2008, os indicadores
de monitoramento e avaliação do Pacto pela Saúde
e as orientações, prazos e diretrizes para a sua
pactuação” (BRASIL, 2008 caput)

14 POLÍTICA DE SAÚDE
O Pacto pela Saúde foi dividido em três dimensões (BRASIL,
2008):

• Pacto pela Vida: estabelece um conjunto de compro-


missos sanitários implementados pela esfera federal e
pactuados de forma tripartite. Lembre-se que a gestão
pública deve buscar resultados, por isso, a esfera nacio-
nal implementa ações e serviços que devem ser priori-
dades estaduais e municipais.

• Pacto em Defesa do SUS: é o compromisso entre os


gestores do sistema com o processo de Reforma Sani-
tária através de ações com a finalidade de qualificar e
assegurar as políticas públicas do SUS. Uma das formas
de colocá-lo em prática é pela participação social.

Unidade 3
• Pacto de Gestão: busca a relação cooperativa e soli-
dária entre os gestores a partir de diretrizes e respon-
sabilidades fortalecendo a descentralização, regiona-
lização, financiamento do SUS, planejamento no SUS,
Programação Pactuada Integrada (PPI), regulação da
Atenção à Saúde e Regulação da Assistência, partici-
pação e controle social, gestão do trabalho na saúde e
educação na saúde.

A Regulação dos prestadores de


serviço em saúde
Você se lembra que já conversamos sobre o setor privado
na saúde? Antes do SUS o governo terceirizava todos os serviços,
atualmente há uma grande parcela de serviços realizados pelo
próprio SUS, mas existe casos que é necessário que o governo
pague para o setor privado realizar o serviço.

Mas de que forma ter a certeza que esses serviços são de


qualidade? Mesmo que o próprio individuo pague pelo serviço,

POLÍTICA DE SAÚDE 15
é direito do cidadão ter acesso a serviços de qualidade, como
o governo pode garantir isso no setor privado? Através da
regulação!

Garrama (2018) relata que, conforme dados de dezembro


de 2016 da Agência Nacional de Saúde Suplementar,
aproximadamente de 25% da população brasileira possui plano
privado de assistência à saúde. Pois esse setor é uma alternativa
ao atendimento no setor público, por isso vem ganhando
importância tanto pela quantidade de serviços prestados quanto
pela satisfação em relação a qualidade dos atendimentos, na
percepção do usuário do serviço. A saúde suplementar possui
mais de 50 milhões de vínculos de planos de saúde, e cada vez
mais se estabelece como uma das bases do sistema de saúde
Unidade 3

atual brasileiro.

Tenha em mente que a saúde suplementar se tornou


importante para o Estado, pois desafoga o SUS nos atendimentos
ao público, além de reduzir esses gastos.

Por outro lado, a regulamentação desse setor


ainda se apresenta em um cenário desafiador para
a manutenção das empresas que atuam na saúde
IMPORTANTE suplementar, e os obstáculos estão relacionados
com as questões econômicas e as dificuldades de
adaptação à regulamentação atual. (GARRAMA,
2018)

Outro aspecto que influencia a saúde suplementar é a


busca pela melhoria contínua da qualidade. A própria agência
reguladora do setor, Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS), busca auxiliar na melhoria da qualidade dos serviços
prestados pela saúde suplementar. Um exemplo é o seu
Programa de Qualificação de Operadoras desenvolvido pela ANS.

Segundo Garrama (2018, p. 223) “a auditoria pode ser uma


importante estratégia na saúde suplementar uma vez que atua

16 POLÍTICA DE SAÚDE
nos dois principais desafios desse setor: redução de custos e
a melhoria da qualidade da atenção prestada nos serviços de
saúde”. Vale ressaltar que essa auditoria busca a avaliação da
qualidade assistencial e a melhoria da gestão dos recursos.
(GARRAMA, 2018)

Flottorp et al (2010) relata que existem evidências indicando


uma lacuna entre os cuidados de saúde que os pacientes
recebem na prática do que é recomendado, com variações sem
justificativa na prática e nos resultados que não são explicadas
somente pelas características dos pacientes.
Figura 2 – Comissão de Assuntos Sociais (CAS) em audiência pública sobre reajuste e franquia
em planos de saúde, publicadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)

Unidade 3
Fonte: Wikimedia

Perceba que a auditoria pode ser utilizada para avaliar os


cuidados de saúde durante um determinado período de tempo,
auxiliando os profissionais de saúde a se avaliarem e ajustarem
seu desempenho para melhoria da prática profissional.
(FLOTTORP, 2010)

Considerando os dois aspectos citados, custos e


qualidade, a auditoria em saúde vem ganhando
força nos sistemas de saúde como método de
IMPORTANTE coleta de informações sobre os cuidados clínicos
prestados. As quais são de interesse dos usuários
que compram esses serviços, buscando o mais alto
padrão de qualidade possível e esperando receber
segurança nos cuidados de saúde realizados.
(GARRAMA, 2018)

POLÍTICA DE SAÚDE 17
Para regulamentar os Planos de Saúde foi elaborada a Lei
nº 9.656, de 3 de junho de 1998 a qual dispõe sobre os planos e
seguros privados de assistência à saúde, como vamos ver melhor
a seguir

A Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998


Essa lei começa descrevendo a definição de operadoras de
planos privados de assistência à saúde e operadoras de seguros
privados de assistência à saúde da seguinte forma:
Operadoras de planos privados de assistência à saúde:
toda e qualquer pessoa jurídica de direito privado,
independente da forma jurídica de sua constituição,
que ofereça tais planos mediante contraprestações
Unidade 3

pecuniárias, com atendimento em serviços próprios


ou de terceiros.

Operadoras de seguros privados de assistência à


saúde: as pessoas jurídicas constituídas e reguladas
em conformidade com a legislação específica para
a atividade de comercialização de seguros e que
garantam a cobertura de riscos de assistência à saúde,
mediante livre escolha pelo segurado do prestador
do respectivo serviço e reembolso de despesas,
exclusivamente. (BRASIL, 1998, Art. 1º. § 1º).

Vale ressaltar que ficam sob responsabilidade do Conselho


Nacional de Seguros Privados (CNSP) regulamentar os planos
privados de assistência à saúde.

A partir da implementação dessa Lei que foi realizada a


padronização do desenho de benefícios ofertados por operadoras
de planos privados, além da implementação de planos e seguro
saúde com cobertura plena ou parcial, entre outros.

18 POLÍTICA DE SAÚDE
Essas medidas impostas pela lei exigiram que as empresas
do setor buscassem formas de adequação ao novo modelo
como a exigência de fornecimento de dados, criação de reservas
técnicas, realização de auditorias contábeis, auditorias de saúde,
como parte da rotina operacional dessas empresas. (KOYAMA,
2006)

Outro ponto importante de você saber é que antes da Lei


9.656/98 não havia cobertura mínima definida para os planos e
seguros de saúde, sendo estabelecida pelos contratos realizados
entre a operadora e o beneficiário.

O que realmente acontecia eram exclusões de cobertura e


restrições de acesso a procedimentos e serviços, muitas empresas
excluíam os contratos de beneficiários com doenças crônicas

Unidade 3
e degenerativas, doenças infecciosas, doenças preexistentes,
doenças mentais, exames e tratamentos de alto custo, ou
apresentava limitações para utilização de procedimentos e dias
de internação.

Além disso, havia restrições de idade para acesso e


permanência no plano, além de não aceitarem determinados
perfis de indivíduos, com doenças preexistentes e idosos devido
a possíveis custos maiores que os previstos. (KOYAMA, 2006)

Neste tópico vimos sobre os instrumentos de


regulação, já havíamos falado sobre as NOAS, por
isso, aqui nós focamos em novos conhecimentos
RESUMINDO como o Pacto pela Saúde e a legislação voltada a
regulação do setor privado. E então? Gostou do
que lhe mostramos? Consegui compreender mais
sobre esses instrumentos? Espero que sim.

POLÍTICA DE SAÚDE 19
Conhecendo os níveis de
complexidade e forma de
liberação
Neste tópico vamos falar sobre os níveis de
complexidade tecnológico da saúde, estão
distribuídos no sistema e sobre a incorporação
OBJETIVO dessas tecnologias. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá.
Avante!

As Redes de Atenção à Saúde


Antes de falarmos sobre os níveis de complexidade,
Unidade 3

é importante que você compreenda como é, atualmente, a


estrutura do SUS. Lembra-se que falamos sobre hierarquização,
certo? Essa é uma das diretrizes importantes do SUS, e está
relacionada com os níveis de complexidade de cada tipo de
atendimento.

Quando ela foi desenvolvida, foi pensada na forma de


pirâmide, demonstrando que a base atende de forma mais
abrangente e o ápice de forma mais especifica. Porém essa
visualização dificulta a compreensão de que deve haver inter-
relação entre os níveis.

Em 2011, com o Decreto nº 7.508, de 28 de junho de


2011 algumas coisas mudaram. Esse decreto regulamenta a
Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor “sobre a
organização do Sistema Único de Saúde, regulamentando o
planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação
interfederativa, e dá outras providências”.

20 POLÍTICA DE SAÚDE
O Decreto 7.508/2011 regulamenta a Lei 8.080/90 e
traz conceitos e regulamento em relação a redes de
atenção à saúde. Mas a legislação que estabelece
SAIBA MAIS diretrizes para a organização da Rede de Atenção à
Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)
é a Portaria nº 4.279, de 30 de dezembro de 2010,
na qual você pode encontrar por que organizar
Rede de Atenção À Saúde.

Dentre as mudanças que esse decreto trouxe, a mais


impactante está na estrutura dos níveis de atendimento.
Como vimos, no início o SUS era estruturado em três níveis de
atenção, primária (considerada porta de entrada), secundária e
terciária diferenciadas pelos níveis de complexidades, mas sua
estrutura visualizada de forma piramidal gerava o conceito de

Unidade 3
superioridade da atenção com maior tecnologia.
Figura 3 – A mudança dos sistemas piramidais e hierárquicos para as redes de atenção à
saúde

Fonte: Adaptado pelo autor

POLÍTICA DE SAÚDE 21
Lembrando que essa complexidade está atrelada
as tecnologias aplicadas, porém, essa visão
aparenta uma simplicidade na atenção primária
IMPORTANTE e a única possibilidade de entrar no SUS através
dela. Essa nova legislação traz uma nova visão e
um novo conceito nessa estrutura, chamado de
“Redes de Atenção à Saúde”.

A Portaria nº 4.279, de 30 de dezembro de 2010 define as


Redes de Atenção à Saúde “arranjos organizativos de ações e
serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que
integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e
de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado” com o
objetivo de “promover a integração sistêmica, das ações e dos
serviços de saúde com o cuidado contínuo, integral, de qualidade,
Unidade 3

responsável e humanizado, além de incrementar o desempenho


do Sistema, em relação ao acesso, a equidade, a eficácia clínica, a
eficácia sanitária e eficiência econômica” (BRASIL, 2010)

A própria Organização Mundial de Saúde,


recomenda para os países a implantação de
modelos de assistência mais integrados entre si e
VOCÊ SABIA? o modelo tradicional, que trabalha com níveis de
atenção focada na complexidade, principalmente
tecnológica, que acaba sendo fragmentado com
foco nas condições agudas ou agudização das
condições crônicas.

Perceba que esse modelo de atenção em redes tem uma


característica horizontal, tendo a unidade básica como centro
(Atenção Primária à Saúde – APS), em geral a porta de entrada do
usuário, mas não exclusiva.

Dessa forma, a atenção básica, coordena a rede e o


cuidado central de forma estratégica para garantir acesso
equitativo aos serviços de saúde e responsável pelo cuidado do

22 POLÍTICA DE SAÚDE
usuário do sistema durante todo o processo de tratamento e
acompanhamento.

Além disso, cada ponto, com sua densidade tecnológica, não


tem necessariamente uma ordem e nem grau de importância,
sendo todos igualmente importantes para atender as
necessidades do usuário. Essa estruturação horizontal fortalece
e, em alguns casos, modifica as funções de cada área bem como
seu perfil assistencial.

Além disso, traz uma mudança na visão dos níveis de


atenção e solidifica suas funções e o perfil da assistência à
saúde para melhorar o atendimento, seguindo os novos padrões
descritos pela OMS e se adaptando ao novo perfil dos usuários,
pois, como já vimos a transição demográfica e epidemiológica

Unidade 3
veem modificando nos últimos anos.

Os Níveis de complexidade
Ficou claro que chamamos de níveis de complexidade
devido à densidade tecnológica do procedimento de cuidado,
certo? Então vamos falar sobre essa complexidade tecnológica.

O Rol de procedimentos considerados de média e de alta


complexidade é definido pelo Ministério da Saúde, por meio
de diversas portarias. Basicamente o Ministério classifica em
Atenção Básica e de Alta Complexidade, os procedimentos que
não entram nessa classificação passam a ser considerado de
Média Complexidade.

A Atenção Básica é definida como responsabilidade da


gestão municipal, já a assistência de Média e Alta Complexidade
depende do grau de descentralização presente no Estado,
podendo ser do município, quando ele se encontra em Gestão
Plena do Sistema Municipal, ou do estado.

POLÍTICA DE SAÚDE 23
Na Gestão Plena do Sistema Municipal,
o município recebe a totalidade dos recursos
federais programados para o custeio da
IMPORTANTE assistência em seu território, quando tem
capacidade para ofertar com suficiência
esses serviços à população.

Vale ressaltar que a atenção básica é vista como o primeiro


nível de atenção, e preferencial porta de entrada no sistema,
a qual é orientada por todos os princípios do SUS, inclusive
a integralidade, empregando baixa densidade tecnológica.
(CONASS, 2007)

Mas você sabe o que quer dizer baixa densidade


Unidade 3

tecnológica na atenção básica? Nessa atenção são incluídos um


rol de procedimentos mais simples e baratos, que são capazes
de atender à maior parte dos problemas de saúde da população
(CONASS, 2007).

Vale ressaltar que essa organização, desenvolvimento e


aplicação demandam estudos de alta complexidade teórica
e profundo conhecimento empírico da realidade, mas, em se
falando de tecnologia, tem pouca complexidade (CONASS, 2007).

A estrutura dessa unidade básica deve atender as


prioridades para a saúde local, bem como garantir o fluxo e
contra-fluxo aos serviços especializados, de apoio diagnóstico e
terapêutico, ambulatorial e hospitalar.

24 POLÍTICA DE SAÚDE
Figura 4 – movimentação dos usuários no sistema

Unidade 3
Fonte: Pixabay

O Ministério da Saúde elaborou, em 2009, um material


chamado de “O SUS de A a Z”, o qual traz uma relação dos grupos
que compõem os procedimentos de média complexidade do
Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA):

• Procedimentos especializados realizados por profissio-


nais médicos, outros profissionais de nível superior e
nível médio;

• Cirurgias ambulatoriais especializadas;

• Procedimentos traumato-ortopédico;

• Ações especializadas em odontologia;

• Patologia clínica;

• Anatomopatologia e citopatologia;

• Radiodiagnóstico;

POLÍTICA DE SAÚDE 25
• Exames ultrassonográficos;

• Diagnose;

• Fisioterapia;

• Terapias especializadas;

• Próteses e órteses;

• Anestesia.

é importante ter em mente que essas áreas


de atenção representam grandes dificuldades
para os gestores, pois viemos de uma estrutura
IMPORTANTE fragmentada, com procedimentos relacionados
em tabelas, muitas vezes selecionados por
exclusão, ou seja, quando o procedimento “não
Unidade 3

cabe” na atenção básica pelos custos ou densidade


tecnológica que o envolve.

Esse mesmo material (O SUS de A a Z, 2009, p.32) descreve


a alta complexidade da seguinte forma:
Conjunto de procedimentos que, no contexto do
SUS, envolve alta tecnologia e alto custo, objetivando
propiciar à população acesso a serviços qualificados,
integrando-os aos demais níveis de atenção à saúde
(atenção básica e de média complexidade). As principais
áreas que compõem a alta complexidade do SUS, e
que estão organizadas em “redes”, são: assistência ao
paciente portador de doença renal crônica (por meio
dos procedimentos de diálise); assistência ao paciente
oncológico; cirurgia cardiovascular; cirurgia vascular;
cirurgia cardiovascular pediátrica; procedimentos
da cardiologia intervencionista; procedimentos
endovasculares extracardíacos; laboratório de
eletrofisiologia; assistência em traumato-ortopedia;
procedimentos de neurocirurgia; assistência em

26 POLÍTICA DE SAÚDE
otologia; cirurgia de implante coclear; cirurgia das
vias aéreas superiores e da região cervical; cirurgia da
calota craniana, da face e do sistema estomatognático;
procedimentos em fissuras labiopalatais; reabilitação
protética e funcional das doenças da calota craniana,
da face e do sistema estomatognático; procedimentos
para a avaliação e tratamento dos transtornos
respiratórios do sono; assistência aos pacientes
portadores de queimaduras; assistência aos pacientes
portadores de obesidade (cirurgia bariátrica); cirurgia
reprodutiva; genética clínica; terapia nutricional;
distrofia muscular progressiva; osteogênese
imperfeita; fibrose cística e reprodução assistida. Os
procedimentos da alta complexidade encontram-se
relacionados na tabela do SUS, em sua maioria no

Unidade 3
Sistema de Informações Hospitalares do SUS, e estão
também no Sistema de Informações Ambulatoriais
em pequena quantidade, mas com impacto financeiro
extremamente alto, como é o caso dos procedimentos
de diálise, da quimioterapia, da radioterapia e da
hemoterapia (MS, 2009, p. 32).

Observe quantos procedimentos há na alta complexidade,


muitos deles para condições de saúde específicas que necessitam
não apenas de cuidado especializado, mas também de tecnologia
para serem realizados.

A Liberação dos procedimentos


Você se lembra que conversamos sobre a Regulação do
acesso? Pois bem ela é uma importante ferramenta do SUS, e ela
serve para todos os níveis de complexidade.

Porém, nós sabemos que ainda há dificuldades no acesso à


atenção primária, por isso, muitos indivíduos buscam os serviços

POLÍTICA DE SAÚDE 27
de urgência e emergência como porta de entrada no sistema de
saúde.

O Manual Técnico Operacional do Sistema de Informação


Hospitalar do SUS, 2012, descreve que nos procedimentos eletivos
o fluxo começa com uma consulta em um estabelecimento de
saúde ambulatorial, público ou complementar, da rede SUS
no qual o profissional de saúde emite o laudo. Já nos casos de
atendimento de urgência inicia onde o usuário foi atendido.

Para que o indivíduo possa ser internado é necessário que


essa consulta, de urgência ou eletiva seja realizada em uma
instituição de saúde integrante do SUS.

Essa consulta realizada pelo profissional da saúde resulta


Unidade 3

em uma Autorização para Internação Hospitalar (AIH) com


preenchimento obrigatório do laudo para Solicitação de AIH.

Na internação eletiva, o laudo preenchido deve ser entregue


para o gestor local pelo paciente ou responsável. Essa AIH é
avaliada pelo autorizador que pode considerar a internação
necessária ou desnecessária, liberando ou não a internação.

Existem dois tipos de AIH, o tipo 1 é de


internamento inicial, e o 5 é de continuidade. No
caso de permanência do indivíduo internado a 5
VOCÊ SABIA? é renovada enquanto houver necessidade, com o
período máximo de um mês.

A Incorporação de novas
tecnologias em saúde
A Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) estuda a
implementação, difusão e uso das tecnologias em saúde baseado
em dados de eficácia, efetividade, segurança, custos, custo-
efetividade, entre outros (SILVA A. e., 2019).

28 POLÍTICA DE SAÚDE
A Lei 12.401/2011 “Altera a Lei nº 8.080, de 19 de
setembro de 1990, para dispor sobre a assistência terapêutica
e a incorporação de tecnologia em saúde no âmbito do Sistema
Único de Saúde - SUS” (BRASIL, 2011, caput). Essa Lei define que:
A incorporação, a exclusão ou a alteração pelo SUS
de novos medicamentos, produtos e procedimentos,
bem como a constituição ou a alteração de protocolo
clínico ou de diretriz terapêutica, são atribuições do
Ministério da Saúde, assessorado pela Comissão
Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS.
(BRASIL, 2011, art. 19).

Vale ressaltar que essa mesma Lei, oficializou a


participação social nesse processo de incorporação
de tecnologias, mas o Decreto 9.759/2019 vai na

Unidade 3
IMPORTANTE contra mão dessa participação social em diversos
cenários em nosso país pois “extingue e estabelece
diretrizes, regras e limitações para colegiados da
administração pública federal” (BRASIL, 2019,
caput)

Figura 5 – Participação Social

Fonte: Freepik

POLÍTICA DE SAÚDE 29
A Lei 12.401/2011 traz algumas inovações para a
incorporação de tecnologias em saúde no âmbito do SUS, dentre
elas podemos citar:

• Análise das solicitações de incorporação de tecnologias


com base em evidências de eficácia, efetividade,
segurança e em estudos de impacto no sistema;

• Oferta de tecnologias baseada em Protocolos Clínicos e


Diretrizes Terapêuticas (PCDT);

• Participação da sociedade garantida por meio de


representantes do Conselho Nacional de Saúde (CNS);

• Estabelecimento de prazos para conclusão do processo


administrativo de incorporação, exclusão ou alteração
Unidade 3

de tecnologias (180 dias corridos, prorrogáveis por mais


90, contados a partir da data em que foi protocolado o
requerimento);

• Obrigatoriedade de consulta pública e de audiência


pública, se a relevância da matéria justificar, antes da
tomada de decisão.

Porém colocar em prática a o princípio da integralidade que


norteia o SUS, é um grande desafio pois, segundo Lima 2019,
a incorporação de tecnologias, por si só, sem ações articuladas
tem pouco impacto na melhoria do acesso.

Esse processo de avaliação e incorporação de tecnologias


em saúde evoluiu nos últimos anos no Brasil, porém ainda
necessita de novos aprimoramentos, pois precisa de pesquisas
para observar as prioridades devido aos elevados custos,
aumento da expectativa de vida da população, entre outros.

Por isso, a incorporação dessas tecnologias deve ser


constantemente analisada e aprimorada para que aconteça de

30 POLÍTICA DE SAÚDE
forma sustentável e transparente favorecendo sua consolidação
no SUS.
Figura 6 – Quebra-cabeça da Tecnologia em saúde, avanços tecnológicos utilizados de
maneira adequada

Unidade 3
Fonte:Pixabay

E então? Gostou de aprender mais sobre os níveis


de complexidade? Conseguiu compreender a
importância dos níveis de atenção e da sua relação
RESUMINDO como redes de atenção à saúde? Vale ressaltar
que a incorporação de tecnologias em saúde é de
extrema importância para a melhoria da qualidade
do sistema e deve ser feita de forma adequada,
tanto na escolha das tecnologias quanto na
necessidade de uso.

POLÍTICA DE SAÚDE 31
Analisar os impactos da
indústria da saúde em
diversas áreas
Você compreende o que é a indústria da saúde?
Sabe quais os impactos que essa indústria tem
sobre o sistema de saúde atual? Se anda não
OBJETIVO consegue fazer essas conexões, não tem problema,
pois esse será o tema deste tópico. Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá!

A Indústria da saúde
Os serviços tecnológicos são de extrema importância para
Unidade 3

o desenvolvimento nacional quando observamos a dimensão


socioeconômica e seu impacto na oferta de tecnologias seguras
e efetivas aos serviços de saúde.

Essa tendência da lógica capitalista foi identificada, no


final do século 19 e início do século 20, por grandes pensadores
como Marx (1983), Schumpeter (1985) e Weber (1993), ao
observarem a expansão do capitalismo voltada ao processo de
“desenvolvimento das forças produtivas” e à “destruição criativa”
(GADELHA C. , 2003).

Nesse panorama o conceito do Complexo Econômico-


Industrial da Saúde (CEIS) foi desenvolvido no início dos anos
2000. No começo foi chamado de “Complexo da Saúde” e
adquiriu diferentes denominações como Complexo Industrial da
Saúde, Complexo Produtivo da Saúde e Complexo Industrial e de
Serviços em Saúde, todos com a com ênfase na aplicação teórica
e política.

32 POLÍTICA DE SAÚDE
É uma área com grande dinamismo, envolvendo atividades
de alta intensidade de inovação nos paradigmas tecnológicos,
pois existe a base produtiva de produtos e serviços relevantes.

Vale ressaltar que a interação entre estudos e pensamento


acadêmicos e políticos dos autores aliou a visão de saúde coletiva
com a de economia política.

Estudos sobre a dinâmica industrial e a competitividade


na área da saúde é um grande desafio acadêmico e político-
normativo. Perceba que, como escrito por Gadelha, 2012, o
processo de inovação e de desenvolvimento envolve uma forte
articulação entre a geração e difusão de tecnologias, a dinâmica
institucional e social, bem como a estruturação do Estado e sua
relação com o setor privado.

Unidade 3
Perceba que o grande desafio é trabalhar de forma
simultânea a visão sistêmica da área da saúde a partir de dois
pontos: a lógica econômica e a lógica sociossanitária; observando
a interface que existe entre elas. (GADELHA C. a., 2012)

A saúde corresponde a cerca de 20% do


gasto mundial com atividades de Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D) além do alto interesse
VOCÊ SABIA? estratégico para a sociedade, como políticas
públicas e debates políticos nacionais.

POLÍTICA DE SAÚDE 33
Figura 7 – Pesquisa & Desenvolvimento em equipamentos de saúde
Unidade 3

Fonte:Pixabay

Vale ressaltar que a partir do conceito do Complexo


Econômico-Industrial da Saúde podemos demarcar um conjunto
de setores inseridos no contexto produtivo da tecnologia da área
da saúde.

Há uma diversidade de estudos tecnológicos na saúde


para a produção industrial o que converge para o mercado
fortemente articulado da prestação de serviços em saúde, como
hospitais, ambulatoriais e de saúde pública, a partir da dinâmica
competitiva e tecnológica.

Talvez você já tenha percebido que tanto o setor privado


quanto o setor público estão passando por um processo de
transformação no modelo de gestão e organização da produção
de produtos e serviços de saúde, mesmo nas situações que o
lucro não é a principal finalidade, muitas vezes o foco está na
qualidade, redução de custos, entre outros.

34 POLÍTICA DE SAÚDE
O Complexo Industrial da Saúde
Gadelha, 2003, descreve que o Complexo Industrial da
Saúde pode ser considerado um complexo econômico, a partir
de um conjunto de atividades para manter relações entre setores
de compra e venda de produtos e serviços e/ou de tecnologia e
conhecimento.

Neste mesmo artigo, Gadelha, 2003, traz uma visão geral


do Complexo Industrial da Saúde, mostrando, como você
pode observar na Figura 8, um conjunto de indústrias que
produzem produtos e equipamentos especializados para essa
área em conjunto com organizações prestadoras de serviços
que consomem esses produtos. Você consegue observar a

Unidade 3
interdependência desses setores?
Figura 8 – Complexo industrial da saúde – caracterização geral

Fonte: Adaptado pelo autor

Quando pensamos nas indústrias de base química e


biotecnológicas, qual o primeiro tipo que vem à sua cabeça?

POLÍTICA DE SAÚDE 35
Medicamentos? Pois bem, essa relação é muito comum e faz
muito sentido, pois o setor de medicamentos constitui o grande
mercado desse grupo.

Outra grande área está relacionada com a base física,


mecânica, eletrônica e de materiais, envolvendo as indústrias de
equipamentos e instrumentos mecânicos e eletrônicos, órteses e
próteses e materiais de consumo em geral.

Aqui podemos compreender uma relação muito


importante entre estrutura física e equipamentos,
segundo Miquelin, 1992, conforme citado por
SAIBA MAIS Mendes, 2007 p.29, “A estrutura pode durar 100
anos ou mais enquanto as instalações, com boa
manutenção e sorte, chegarão no máximo a 30
anos; 30 alguns equipamentos poderão estar
Unidade 3

obsoletos em menos de 20 anos”. Caso você


queira compreender mais sobre essa relação entre
equipamentos e estrutura física, vale a leitura
dessa dissertação de mestrado. Disponível em:

Voltando para a figura 8, o terceiro grupo de atividades


está relacionado com a prestação de serviços de saúde, como
hospitais, ambulatórios, serviços de diagnóstico e tratamento,
entre outros.

Perceba que esse setor que articula a produção industrial em


saúde e o consumo por parte da população, independentemente
do setor, seja público ou privado.

36 POLÍTICA DE SAÚDE
O Complexo político e institucional do
complexo da saúde
Você percebeu que o complexo industrial da saúde está
imerso em um contexto político e institucional? Nesse sentido,
a intensidade de conhecimento e tecnologia das atividades de
saúde é uma fonte essencial de inovações relacionadas com as
instituições de ciência e tecnologia, sendo um fator crítico de
competitividade no mercado.

A área da saúde é a que possui maior grau de interação


das universidades e institutos de pesquisa com as empresas
(GADELHA C. , 2003).
Figura 9 – Complexo político e institucional do complexo da saúde

Unidade 3

Fonte: Adaptado pelo autor

Observe que nesse contexto também há a população,


devido ao caráter diretamente social do destino dessa produção
em saúde. Dessa forma, a atuação da sociedade bem como
as políticas públicas atua de forma importante nas atividades
econômicas desse setor.

POLÍTICA DE SAÚDE 37
Consegue perceber a importância do Estado nesse
contexto? As ações de promoção e de regulação na saúde estão
diretamente relacionadas a utilização das inovações existentes e
o rumo dos estudos futuros.

Mas de que forma o Estado influencia? Através das


da compra de produtos e serviços, repasses de
recursos, investimentos na indústria, entre outras.
IMPORTANTE

Porém, vale ressaltar que apenas 16% das empresas


inovadoras no Brasil receberam algum tipo de apoio do Estado
o que leva muitas indústrias da saúde a comprarem seus
insumos e tecnologias em outros países o que acarreta em uma
Unidade 3

dependência do comércio exterior.

Dessa forma uma das grandes vulnerabilidades econômicas


do setor saúde e seu complexo industrial está na dependência
das condições externas e da política macroeconômica.

Perceba que, por se tratar de importação e compra em


moedas estrangeiras, na maioria das vezes em dólar, qualquer
alteração da taxa cambial modifica substancialmente os gastos
do setor, muitas vezes incompatível com as disponibilidades
orçamentárias.

Políticas públicas para o


desenvolvimento do CEIS no Brasil
O papel estratégico do Complexo Econômico-Industrial da
Saúde é de estimular a articulação de diversas dimensões como
social e econômica, através de políticas públicas relevantes para
garantir o acesso a medicamentos, produtos e procedimentos
de saúde para a população (SILVA, ANDREOLI; BARRETO, 2016).

38 POLÍTICA DE SAÚDE
O desenvolvimento e a política industrial são pontos de
pauta em diversas discussões sobre o pape do Estado para
superar a condição de dependência dos insumos e tecnologias
importadas. (SILVA, ANDREOLI; BARRETO, 2016)

Mas o que é desenvolvimento? Segundo conceito


apresentado por Viana e Elias (2007, p.1766), desenvolvimento
pode ser entendido “como um processo dinâmico e virtuoso que
combina, ao mesmo tempo, crescimento econômico, mudanças
fundamentais na estrutura produtiva e melhoria do padrão de
vida da população”.

E a política industrial, o que é? Ela engloba, quando


pensamos em uma abordagem mais ampla, medidas para a
indústria, podendo ser macroeconômicas, que influenciam a

Unidade 3
competitividade industrial. (SILVA, ANDREOLI; BARRETO, 2016)

Mas quando falamos de indústria da saúde, estamos


falando de competitividade? Também, mas no caso da saúde
essas políticas também englobam a garantia do acesso, o que
relaciona a dimensão social.

Vale ressaltar que no Brasil, ainda existe uma desarticulação


da política industrial e de inovações com as políticas de saúde,
mas a tendência é que essa desarticulação diminua.

Silva, Andreoli e Barreto (2016 p.13) trazem algumas


políticas industriais importantes:

• Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior


(PITCE), de 2004 a 2008;

• Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), 2008 a


2010;

• Plano Brasil Maior (PBM), 2011 a 2014

POLÍTICA DE SAÚDE 39
A primeira teve como objetivo fortalecer a expansão da
base industrial através da melhoria da capacidade inovadora
das empresas. Um exemplo desse momento foi a criação de
um instrumento de financiamento: o Programa de Apoio de
Desenvolvimento da Cadeia Produtiva Farmacêutica ‑ (Profarma
I), criado pelo BNDES para estimular a produção nacional de
fármacos e medicamentos, dividido em três subprogramas:
Produção; Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação; e
Fortalecimento das Empresas Nacionais.

A Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), implantada


em maio de 2008, sob a coordenação do MDIC, para substituir a
PITCE, porém com a continuidade desta política. Seu objetivo era
promover a competitividade e fortalecer a economia brasileira,
consolidar o crescimento e aumentar a exportação. (SILVA,
ANDREOLI; BARRETO, 2016)

Já em 2011, foi instituído o PBM, considerado o terceiro


Unidade 3

período importante das políticas industriais, com objetivo de


estimular a inovação e a competitividade das indústrias nacionais.

Nesse período foi publicado o Decreto nº 7.713,


de 3 de abril de 2012, que estabeleceu a aplicação
de margem de preferência para aquisição,
IMPORTANTE em licitações, de fármacos e medicamentos
produzidos no país com a finalidade de promover
o desenvolvimento nacional sustentável por meio
do uso do poder de compra da saúde.

Desafios e oportunidades na
Indústria da Saúde
Acredito que está claro que a área da saúde está em grande
expansão, por isso, há muitas oportunidades principalmente
quando pensamos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).

40 POLÍTICA DE SAÚDE
Figura 10 – Desafios e oportunidades

Fonte: Pixabay

Esses estudos são realizados de forma estratégica,


observando as reais necessidades, e os impactos que realmente

Unidade 3
podem ser gerados. Gadelha, 2012, p.33, traz alguns exemplos
de alto impacto sobre os processos de transformação que estão
em curso atualmente:
• Novas tecnologias médicas de alta complexidade que
mobilizam todo o sistema de inovação (transplante, por
exemplo);
• Novas biotecnologias de fronteira;
• Terapia celular, caracterizando a dificuldade de se definir
a fronteira entre serviços assistenciais e a biotecnologia
industrial;
• Química orgânica avançada (química fina);
• Tecnologia diagnóstica que envolve plataformas tecnoló-
gicas para testes de diagnóstico em grande escala, com
facilidade e alta precisão;
• Utilização intensiva de Tecnologia da Informação (TI),
tanto nos serviços quanto nos equipamentos para
diagnóstico e tratamento;
• Nanotecnologia.

POLÍTICA DE SAÚDE 41
Vale ressaltar que esses estudos acontecem de forma
assimétrica, ou seja, países desenvolvidos, em geral, investem
mais que países com fragilidade econômica como o Brasil, sendo
esse um grande desafio dos países em desenvolvimento.

É importante que você saiba que há uma relação entre os


desenvolvimentos da indústria da saúde com o ensino e pesquisa
em universidades. A área da saúde está crescendo na produção
científica e elevando o número de doutores.

O Mercado de trabalho
Quando se fala em trabalhadores de saúde, devemos ter em
mente que é um grande conjunto de diversos profissionais, com
Unidade 3

conhecimentos técnico-científico diferentes, com formulações


de políticas com autonomia, também reguladas pelas políticas
especificas de suas classes, não apenas as políticas públicas.
(POZ, PERANTONI; GIRARDI, 2013)
Figura 11 – Trabalhadores da saúde

Fonte: Freepik

42 POLÍTICA DE SAÚDE
Além disso, esse mercado de trabalho necessita de
profissionais com formação e/ou habilitação específica para
desempenhar suas funções. Perceba que esse perfil de
profissional necessita investir em sua formação e atualização
para se manter no mercado de trabalho, mas esse mercado
está realmente disposto a investir em profissionais qualificados?
Ou prefere contratar profissionais que aceitem receber o piso
salarial? Mas como investir em atualização recebendo apenas o
piso salarial?

Vale ressaltar que o setor saúde ampliou a oferta de vagas


na última década, o que mostra a crescente desse setor. Mas
a visão ortodoxa ainda permanece: no mercado de trabalho
o equilíbrio entre oferta e demanda que influencia no “preço”

Unidade 3
chamado de salário (VARELLA & PIERANTONI, 2008)

E então? Gostou do que lhe mostramos? Conseguiu


compreender sobre a indústria da saúde?
Devemos ter em mente que há uma dicotomia
RESUMINDO entre mercado e assistência à saúde, que deve
ser equilibrada e o Estado, por meio de políticas
públicas, pode auxiliar nesse equilíbrio.

POLÍTICA DE SAÚDE 43
Compreendendo as consequências
econômicas da doença
Em algum momento você desse nosso estudo você
chegou a se perguntar de que forma a doença dos
indivíduos pode influenciar na economia? Não?!
OBJETIVO Sem problemas, vamos refletir sobre esse tema a
partir de agora! Motivado para desenvolver esta
competência? Então vamos lá!

A Saúde do trabalhador
Vimos que a saúde é um bem está físico, psicológico e social,
e quando relacionamos o social na saúde estamos colocando
Unidade 3

todas as formas de socialização, incluindo o trabalho. Dessa


forma as condições de trabalho estão diretamente relacionadas
à condição de saúde do indivíduo, mas acredito que isso não seja
novidade para você!

Não é à toa que na área da Saúde Pública tem um espaço


específico para a Saúde do Trabalhador. Essa área tem como objeto
de estudo e intervenção as relações entre o trabalho e a saúde,
bem como a promoção e a proteção da saúde do trabalhador. (MS
& OPAS, Doenças Relacionadas Ao Trabalho, 2001)

44 POLÍTICA DE SAÚDE
Figura 12 – Trabalhadores de diversas áreas

Unidade 3
Fonte: Freepik

Trabalhadores são todos os homens e mulheres


que exercem atividades para sustento próprio e/ou
de seus dependentes, qualquer que seja sua forma
VOCÊ SABIA? de inserção no mercado de trabalho, nos setores
formais ou informais da economia, podendo ser
assalariados, autônomos, trabalhadores rurais,
entre outros. (MS, 2012)

Segundo o parágrafo 3.º do artigo 6.º da Lei nº 8.080/90, a


saúde do trabalhador é definida como
(...) um conjunto de atividades que se destina, por
meio das ações de vigilância epidemiológica e
vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde
do trabalhador, assim como visa à recuperação e à
reabilitação dos trabalhadores submetidos aos riscos
e agravos advindos das condições de trabalho (BRASIL,
1990, art.6)

POLÍTICA DE SAÚDE 45
Esse conjunto de atividades está detalhado nos incisos de I
a VIII do referido parágrafo, abrangendo:
I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de
trabalho ou portador de doença profissional e do
trabalho;

II - participação, no âmbito de competência do


Sistema Único de Saúde (SUS), em estudos, pesquisas,
avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à
saúde existentes no processo de trabalho;

III - participação, no âmbito de competência do


Sistema Único de Saúde (SUS), da normatização,
fiscalização e controle das condições de produção,
extração, armazenamento, transporte, distribuição e
Unidade 3

manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas


e de equipamentos que apresentam riscos à saúde do
trabalhador;

IV - avaliação do impacto que as tecnologias provocam


à saúde;

V - informação ao trabalhador e à sua respectiva


entidade sindical e às empresas sobre os riscos
de acidentes de trabalho, doença profissional e do
trabalho, bem como os resultados de fiscalizações,
avaliações ambientais e exames de saúde, de
admissão, periódicos e de demissão, respeitados os
preceitos da ética profissional;

VI - participação na normatização, fiscalização e


controle dos serviços de saúde do trabalhador nas
instituições e empresas públicas e privadas;

VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças


originadas no processo de trabalho, tendo na sua
elaboração a colaboração das entidades sindicais; e

46 POLÍTICA DE SAÚDE
VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de
requerer ao órgão competente a interdição de máquina,
de setor de serviço ou de todo ambiente de trabalho,
quando houver exposição a risco iminente para a vida
ou saúde dos trabalhadores (BRASIL, 1990, art.6).

As novas tecnologias utilizadas em diversas áreas de


trabalho tendem a facilitar algumas atividades, mas levam a
instabilidade do emprego, modificam o perfil de adoecimento e
sofrimento do trabalhador.

Atualmente é possível observar as Lesões por Esforços


Repetitivos (LER) e dores lombares, principalmente em
profissionais que passam muito tempo sentados em frente ao
computador, mas também o surgimento de novas formas de

Unidade 3
adoecimento mal caracterizadas, como o estresse e a fadiga física
e mental e outras manifestações de sofrimento relacionadas ao
trabalho.

Vale ressaltar que essas tecnologias deixaram


o ambiente de trabalho menos insalubres em
determinados aspectos, porém, a concorrência do
IMPORTANTE mercado de trabalho, sobrecarga de funções pela
redução do quadro de funcionários, insegurança
em relação a garantia do emprego, levam a outros
problemas de saúde, mais relacionados com o
psicoemocional.

Adoecimento psíquico do
trabalhador
Os transtornos mentais são agravos de saúde muito comuns
atualmente em nossa sociedade. Viapiana, 2018 p.176, traz dados
da Organização Mundial da Saúde “transtornos mentais como
depressão, abuso de álcool, transtorno bipolar e esquizofrenia se

POLÍTICA DE SAÚDE 47
encontram entre as 20 principais causas de incapacidade” Outro
dado da OMS que essa autora traz é a estimativa atual da OMS
que a depressão afeta cerca de 350 milhões de pessoas, sendo
que a taxa de prevalência na maioria dos países varia entre 8%
e 12%.

Além disso, depressão é considerada a principal causa de


incapacitação dos indivíduos quando se avalia anos perdidos,
mas a relação entre o adoecimento psíquico e o trabalho é
pouco estudada. Isso porque o sofrimento psíquico e emocional
não é facilmente mensuráveis, e por não possuírem agravos
físicos é difícil relacionar o trabalho como causa do adoecimento
(VIAPIANA, 2018).
Figura 13 – Transtornos mentais e a incapacidade de trabalho
Unidade 3

Fonte: Freepik

Viapiana (2018) discute em seu artigo sobre a complexidade


da relação biopsíquico humano, pois, como vimos no conceito
de saúde ampliada, os determinantes sociais influenciam no
indivíduo como um todo. Essa autora relata que na medicina

48 POLÍTICA DE SAÚDE
social latino-americada foi desenvolvida a categoria ‘cargas
de trabalho’ para identificar os elementos do processo de
trabalho que influenciam tanto o biológico quando o psíquico do
profissional gerando desgastes e, consequentemente, perda da
capacidade potencial.

As cargas são expressões particulares do processo


e podem ser divididas em físicas, químicas, biológicas,
mecânicas, fisiológicas e psíquicas, as quais atuam em conjunto
potencializando umas às outras.

Observando essa relação é possível compreender que


mesmo as cargas físicas, químicas, mecânicas e biológicas
podem ter efeitos psíquicos nos trabalhadores a elas submetidos
(VIAPIANA, 2018).

Unidade 3
Quando se fala especificamente em carga psíquica, Viapiana,
2018, subdivide esse elemento em duas causas:

• Sobrecarga psíquica: tensão prolongada, como atenção


permanente, supervisão com pressão, altos ritmos de
trabalhos, entre outros;

• Subcarga psíquica: impossibilidade de desenvolvimento


e uso da capacidade psíquica, perda do controle
sobre o trabalho, apenas observando a máquina,
desqualificação do trabalho, repetitividade, monotonia,
entre outros.

O trabalho não é apenas um mero passatempo dos seres


humanos, ou apenas a possibilidade de sobrevivência, de
acordo com a sociologia, o trabalho tem um caráter ontológico,
constituidor do ser social e fundador do gênero humano.

Perceba que trabalhar vai além de satisfazer as necessidades


básicas, ele também é uma fonte de autoestima, de e

POLÍTICA DE SAÚDE 49
desenvolvimento das potencialidades humanas e de sentimento
de participação nos objetivos da sociedade (VIAPIANA, 2018).

Dessa forma, o trabalho faz parte do processo de formação


da consciência e da personalidade, do despertar das emoções e
dos sentimentos, todos elementos que envolvem o sofrimento e
o adoecimento psíquico quando não bem estruturado.

Você consegue perceber como os transtornos mentais


e emocionais podem estar relacionados com o trabalho e,
consequentemente, como a perda de produtividade do indivíduo?

As doenças profissionais estão cada vez mais comuns e


são diferentes dos acidentes de trabalho, mas a legislação ainda
os fundamenta da mesma forma. Vamos compreender suas
Unidade 3

semelhanças e diferenças?

Em ambos os casos ficam marcas nos indivíduos, sejam


físicas ou emocionais, podendo ter complicações técnicas, legais,
bem como física, psicológica (permanente ou temporária) e
financeiras.

Isso porque, pelo menos por um período o indivíduo


fica incapaz de exercer suas atividades habituais, passando a
desempenhar funções mais compatíveis com sua atual situação
física e/ou psicológica.

Crise econômica, saúde e doença


As crises econômicas produzem impactos significativos
na saúde física e mental da população, pois essa crise reflete
no aumento do desemprego, na exclusão social e na pobreza,
bem como na redução de investimentos em serviços públicos de
saúde e de proteção social e, consequentemente, aumento dos
fatores de risco para a saúde. (ANTUNES, 2015)

50 POLÍTICA DE SAÚDE
Antunes, 2015, p. 271, descreve que uma boa Saúde Mental
permite a flexibilidade cognitiva e comportamental necessária
para que as competências sociais se manifestem, bem como
assegura a resiliência necessária para lidar com situações de
estresse, seja no trabalho, seja no convívio social.

Esse autor também descreve que as pessoas que


são afetadas pelo desemprego e, consequentemente, pelo
empobrecimento têm um risco maior de sofrer com transtornos
mentais como depressão, problemas relacionados com o álcool
e suicídio.
Figura 14 – Transtornos mentais e alcoolismo

Unidade 3

Fonte: Freepik

Para evitar ou minimizar esses acontecimentos, são as


políticas públicas, principalmente relacionadas à proteção social
que podem fazer a diferença. Como por exemplo, investimento
em políticas para aumentar o emprego, políticas voltadas para
a saúde mental dos trabalhadores, e dos desempregados, entre
outras.

POLÍTICA DE SAÚDE 51
As empresas, cada vez mais, querem que os
trabalhadores estejam totalmente a disposição,
mas se a jornada formal de trabalho é limitada, em
REFLITA geral oito horas por dia, não tem como burlar esse
sistema! Você acredita nisso? Mas e a flexibilização
do tempo de trabalho? Por exemplo, o trabalho
home office. A justificativa é para que o funcionário
trabalhe no momento que mais lhe agrade, mas
como é contabilizada essas horas? E a tecnologia
de comunicação? Muitos funcionários levam o
celular da empresa para casa, ou utilizam seu
número pessoal para o contato com os clientes,
que, muitas vezes, vão ligar em qualquer horário.
Como contabilizar essa “hora extra”?

Como já conversamos, o trabalho é constituidor do ser


Unidade 3

social e fundador do gênero humano e, quando há dedicação,


o indivíduo busca o reconhecimento. Muitas vezes o excesso
de trabalho é visto como excesso de responsabilidade porque
a empresa “confia” em seu trabalho, principalmente quando é
acompanhada de promoções financeiras.

E o estresse causado por esse excesso é considerado


por muitas empresas como um fator estimulante e necessário
para que o trabalhador invista cada vez mais, por isso, a gestão
por metas ou objetivos é muito utilizada, incentivando seus
funcionários a entregar resultados em um curto prazo de tempo.

Perceba que vários fatores influenciam no psíquico do


indivíduo levando ao adoecimento:

• Alcançar os resultados como forma de comprovar sua


capacidade;

• Ser visto pela gestão como uma opção no momento de


uma promoção;

52 POLÍTICA DE SAÚDE
• Aumento da remuneração pela sua dedicação que,
ao ver do funcionário, está se dedicando ao máximo,
porém para a empresa, muitas vezes, ele só está
cumprindo sua obrigação;

• Medo de perder o emprego;

• Medo de ser julgado por estar cansado, como se não


fosse capaz de atuar na função.
Figura 15 – Excesso de trabalho e sobrecarga mental

Fonte: Freepik Unidade 3

POLÍTICA DE SAÚDE 53
Cardoso, 2015, traz um relato de caso de uma
jovem que trabalha em um banco e, por querer
muito uma promoção se dedica ao extremo e, ao
SAIBA MAIS conseguir, aumenta mais ainda a sobrecarga o que
leva ao adoecimento psíquico, e como a empresa, e
o próprio INSS, avaliam essa situação. Vale à pena a
leitura, não apenas do relato mas das constatações
da autora em relação a essas situações. Disponível
em:
Unidade 3

Adoecimento físico do trabalhador


Estamos falando do adoecimento psíquico, mas existem os
“tradicionais” que estão relacionados ao adoecimento, mesmo em
situações que levam ao dano físico, as empresas não reconhecem
a relação com o trabalho realizado (CARDOSO, 2015).

Mesmo no caso de doenças semelhantes às lesões por


esforços repetitivos e distúrbios osteomusculares vinculados
ao trabalho (LER/DORT). Vale ressaltar que a LER/DORT é
considerada como a segunda patologia do trabalho com maior
incidência no Brasil e tem como consequência a mudança de
hábitos cotidianos que geram muitas vezes incapacidade laboral.

A dor e as limitações funcionais afetam não apenas


fisicamente mas também o psicoemocional, pois o anseio da
demissão, não conseguir atuar como os demais, o julgamento
dos gestores, as dificuldades nas atividades de rotina em casa,

54 POLÍTICA DE SAÚDE
como a limpeza, por exemplo, a necessidade de cuidado, entre
outras tantas situações.

Por isso é necessário incorporar ações de promoção,


prevenção, vigilância, diagnóstico e reabilitação para que seja
garantido ao trabalhador uma atenção integral.

E então? Gostou do que lhe mostramos? Conseguiu


compreender a relação entre o trabalho, e o seu
excesso, e a saúde do indivíduo? A busca por
RESUMINDO colocação no trabalho, muitas vezes leva a pessoa
a se esforçar física e mentalmente de forma que o
desgaste logo chega, o cansaço bate, e a perda de
função é inevitável. Esse tema não é apenas uma
reflexão sobre a Política da Saúde, mas também
uma reflexão sobre a sua saúde. Pense nisso!

Unidade 3

POLÍTICA DE SAÚDE 55
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