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Cap 6 DIPIRONA
Cap 6 DIPIRONA
a CAPÍTULO VI
CONSEQUÊNCIAS DO USO IRRACIONAL DE
DIPIRONA
DOI: 10.51859/AMPLLA.tam719.1121-6
Jessica Araújo Cavalcante ¹
Tatiana Paschoalette Rodrigues Bachur ²
¹ Acadêmica do curso de Medicina. Universidade Estadual do Ceará - UECE.
² Professora Doutora do curso de Medicina. Universidade Estadual do Ceará - UECE.
RESUMO
A dipirona, ou metamizol, é o fármaco mais utilizado no Brasil para o alívio das dores
físicas em geral. Ainda que seja um fármaco proibido em diversos países, nacionalmente,
o seu uso segue de modo indiscriminado, o que favorece o aumento dos casos de
sobredosagem e de intoxicações agudas e crônicas. Nos Estados Unidos da América, a
dipirona foi proibida na década de 1970 devido a importantes efeitos hematológicos,
como agranulocitose e anemia aplásica, além de graves distúrbios gastrintestinais.
TOXICOLOGIA: UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR – VOLUME I
Neste contexto, este estudo teve como objetivo realizar um levantamento bibliográfico
acerca do uso irracional de dipirona, os tipos de intoxicações relacionados ao uso deste
fármaco, os principais grupos de riscos e os desafios envolvidos para combater a
automedicação com dipirona. Para isso, foi foram selecionados artigos disponíveis na
íntegra nas bases de dados Science Direct, MEDLINE e LILACS, publicados em português,
inglês ou espanhol, sem recorte temporal, bem como literatura científica disponível no
Google Acadêmico. Os resultados apontaram que o abuso de dipirona pode resultar em
injúria renal não-oligúrica e alterações hematológica graves, como a agranulocitose. No
entanto, os mecanismos implicados em tais processo não estão completamente
elucidados. Ressalta-se que a educação em saúde é um importante meio para a
conscientização da população acerca do uso irracional de medicamentos, incluindo a
dipirona.
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1. INTRODUÇÃO
a De acordo com Clark e Horton (2018), o mundo está vivendo uma epidemia de
dor lancinante, com aproximadamente 60 milhões de pessoas sendo acometidas a cada
ano, e destas, 1,2 milhões são brasileiras. Este contexto acaba por estimular o uso de
medicamentos para o alívio da dor, o que pode configurar um risco à saúde humana.
A dipirona, ou metamizol, é um derivado de pirazolona, não narcótico, analgésico
e antipirético pertencente à classe dos anti-inflamatórios não-esteroides. Este fármaco
é comumente utilizado na Alemanha, Espanha e Itália, e em muitos países da América
do Sul, inclusive no Brasil, embora seu uso seja proibido em outros países devido à sua
capacidade de induzir efeitos deletérios sobre a medula óssea, acarretando
agranulocitose irreversível e anemia aplásica. Reações cutâneas, reações
idiossincráticas alérgicas como broncoespasmo, choque anafilático, necrólise
epidérmica tóxica, hepatite e hipotensão grave também são reações adversas ou
consequências tóxicas do uso desta substância (HERDEG et al., 2002).
Apesar dos efeitos adversos e toxicidade da dipirona é o analgésico mais utilizado
no Brasil (91,4%) entre pacientes que fazem uso regular de medicamentos para dor e
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febre (AMAND et al., 2017). De acordo com o IMS Health (2012), Dorflex® e Neosaldina®,
medicamentos que possuem dipirona em sua composição, estão entre os analgésicos
mais consumidos no Brasil, movimentando uma indústria bilionária da dor a cada ano
(FEBRAFAR, 2013).
Paradoxalmente, o uso indiscriminado de dipirona também pode contribuir para
aumentar os casos de dores, principalmente de cabeça. Além disso, existe o risco
inerente de superdosagem devido ao fato dessa medicação ser isenta de prescrição
médica (HERDEG et al., 2002).
Diante deste contexto, o presente estudo teve como objetivo realizar um
levantamento bibliográfico acerca do uso irracional de dipirona, os tipos de intoxicações
relacionados ao uso deste fármaco, os principais grupos de riscos e os desafios
envolvidos para combater a automedicação com dipirona.
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2. METODOLOGIA
a O presente trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica apresentada na
forma de revisão narrativa. Para tal, foram conduzidas buscas de produções científicas
sobre a temática proposta nas bases de dados MEDLINE (Medical Literature Analysis and
Retrieval System Online), LILACS (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências
da Saúde), Scienc eDirect através do Portal de Periódicos CAPES (Portal de Periódicos da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), utilizando os seguintes
descritores e seus correspondentes em inglês: "Abuso de medicamentos"; "Dipirona";
"Overdose". Além disso, foram incluídos artigos, dissertações e bulas de medicamento
recuperados no Google Acadêmico. Os critérios de inclusão definidos foram: produções
científicas com temática congruente ao assunto desta revisão bibliográfica, publicados
nos idiomas português, inglês e espanhol; foram, portanto, excluídos os artigos em
duplicata e aqueles que não preencheram os critérios de inclusão. A partir da pesquisa
bibliográfica e avaliação dos artigos, foram selecionados 18 estudos para construir esta
revisão (Figura 1).
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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
a Características gerais e da dipirona
A dipirona é um analgésico, antipirético e anti-inflamatório sintético feito a partir
da anilina extraída do alcatrão, a qual pertence à classe das pirazolonas. Em doses
baixas, atua com antipirético; em doses médias, tem ação analgésica; e, em doses altas,
tem atividade anti-inflamatória e antiespasmódica. Em ratos, em doses muito elevadas
apresenta efeito anticonvulsivante (BENSEÑOR, 2001; BURKE; SMYTH; FITGERALD,
2005).
A dipirona foi proibida nos Estados Unidos da América em 1977 devido a graves
efeitos adversos hematológicos, tais como agranulocitose e anemia aplásica, além de
anafilaxia e complicações grastrointestinais graves, sendo a mortalidade ocasionada por
tais efeitos de 25 óbitos por 100 milhões de usuários. Ainda assim, em diversos países,
inclusive no Brasil, este fármaco ainda é usado amplamente e, na maioria dos casos, sem
orientação médica (BENTUR; COHEN, 2004).
A agranulocitose consiste em uma reação imunoalérgica rara, mas que pode ser
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aaaaaaaaaaaaa até o momento (VENTURINI; ISAKSON; NEEDLEMAN, 1998; DORETTO, 1998; DIPIRONA
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aaaaaaaaaaaaa do sistema nervoso central seria o alvo específico e, mais recentemente, a proposta de
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aaaaaaaaaaaaa foi conduzido no pronto-socorro pediátrico do Instituto Materno-Infantil Prof. Fernando
três anos. Os dados foram submetidos à análise descritiva. Um total de 243 prontuários
atenderam aos critérios de inclusão e exclusão da pesquisa, a partir da qual verificou-se
que a média de idade dos pacientes foi de 17 anos, a quantidade média de dipirona
ingerida foi de 5 g e o tempo médio entre a ingestão e a consulta foi de 2 horas, sendo
maior nos pacientes sintomáticos e nas crianças. Eventos tóxicos ocorreram em 39
pacientes; 57% destes eram gastrointestinais e considerados leves. Os pacientes
suicidas ingeriram quantidades significativamente maiores, assim como os pacientes
com sintomatologia gastrointestinal. Nenhum caso de agranulocitose foi relatado
(BENTUR; COHEN, 2004).
Outro estudo, objetivou descrever a incidência de injúria renal aguda após
overdose de dipirona em crianças. Para isso, usou os dados dos prontuários de todos os
pacientes menores de 18 anos de idade durante um período de três anos apresentados
no Assaf Harofeh Medical Center, em Israel, entre 1 de janeiro de 2005 e 31 de dezembro
de 2007. Os pacientes foram identificados utilizando-se o banco de dados informatizado
hospitalar e as notas de consulta toxicológica da Unidade Clínica de Farmacologia e
Toxicologia. Foram extraídos os seguintes dados dos pacientes: demografia, substância
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aaaaaaaaaaaaa envolvida, quantidade ingerida, modo e tempo de apresentação, características clínicas
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aaaaaaaaaaaaa de 1448 casos de intoxicação por metamizol relatados de 1985 a 2017, com mortalidade
a de 16%. Não houve relato de dose letal; entretanto o uso de doses maiores que 10 g ou
em um curto período de tempo acarretou náuseas, vômitos, dor abdominal,
deterioração da função renal, sintomas do sistema nervoso central e até choque
(AEMPS, 2018; HOFFMANN; BANTEL; JOBSKI, 2020; MELGAREJO-ORTUÑO et al., 2021).
Na prática clínica, o metamizol é usado por via parenteral dose de 2 g a cada 8 h,
que é alterada para uma dose oral de 575 mg a cada 8 h quando a situação clínica
melhora. Como resultado desta diferença e da comunicação da AEMPS sobre o
metamizol e seus efeitos adversos, foi realizada uma revisão da farmacocinética,
consenso de especialistas e especificações técnicas das diferentes apresentações
comercializadas na Espanha, a fim de determinar a dosagem mais apropriada deste
fármaco. Em 13 de dezembro de 2018, após revisão de medicamentos contendo
metamizol e considerando que seus efeitos adversos podem estar relacionados com a
dose, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) fez uma recomendação de consenso
da dose máxima na União Europeia (EU) e abordou inconsistências nas informações do
produto comercializadas em muitos estados da UE. As recomendações incluíam um
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máximo dose oral única de 1 g até 4 vezes ao dia em pacientes com mais de 15 anos, e
uma dosagem diária máxima de 5 g quando a formulação é parenteral (AGÊNCIA
ESPANHOLA DE MEDICAMENTOS E PRODUTOS SANITÁRIOS, 2018; HOFFMANN;
BANTEL; JOBSKI, 2020; MELGAREJO-ORTUÑO et al., 2021).
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aaaaaaaaaaaaa supor que essa terapia poderia ter contribuído para a subsequente melhora na função
a renal do paciente. Além disso, o histórico menstrual e o teste de gravidez precoce devem
fazer parte do acompanhamento rotineiro em adolescentes com overdose de drogas,
incluindo fármacos (PECES; PEDRAJAS, 2004).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A alta eficácia da dipirona na terapêutica de dores agudas fracas e medianas, o
baixo custo, a ampla disponibilidade e a boa margem de segurança fazem com que este
seja um fármaco analgésico muito utilizado em vários países, inclusive no Brasil. No
entanto, faz-se necessário um estudo multicêntrico internacional com base na medicina
baseada em evidências sob sua proscrição.
Ressalta-se que a educação em saúde é um importante meio para a
conscientização da população acerca do uso irracional de medicamentos, incluindo a
dipirona.
REFERÊNCIAS
TOXICOLOGIA: UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR – VOLUME I
ALVES, João Guilherme Bezerra; NETO, Fortunato José Cardoso; ALMEIDA, Camila
Dornelas Câmara; ALMEIDA, Natalia Dornelas Câmara. Dipyrone and
acetaminophen: correct dosing by parents? Med J, São Paulo, vol. 125, n 1, p. 57-
59, 2007.
AMAND, C.; SZNEJDER, H.; SALAZAR. R.; STEWART, R. W A. Real-world evidence for
metamizole(dypirone) utilization by Brazilian population. A retrospective cohort
involving over 380.000 patients. In press. 2017.
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a BURKE, A; SMYTH, E; FITGERALD, G. Goodman & Gilman´s The Pharmacological Basis
of Therapeutics: Analgesic-Antipyretic and Antiinflmatory Agents;
Pharmacotherapy of Gout. 11 ed. New York: McGraw-Hill, 2005. 671 p.
BENSEÑOR, M. To use or not to use dipyrone. Or maybe, Central Station versus E.R.?
That is the question. Med J, São Paulo, vol. 119, p.190-191, 2001.
BENTUR, Yedidia; COHEN, Omri. Dipyrone overdose. J Toxicol Clin Toxicol, vol. 42, n. 3,
p.261-265, 2004.
CLARK, Stephanie; HORTON, Richard. Low back pain: a major global challenge. The
Lancet, vol. 391, n. 10, p. 137, 2018.
FEBRAFAR. Confira a lista dos 10 medicamentos mais vendidos do país em 2012. São
Paulo, 2013. Disponível em: <https://www.febrafar.com.br/confira-a-lista-dos-
TOXICOLOGIA: UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR – VOLUME I
HERDEG, C.; HILT, F.; BÜCHTEMANN, A.; BIANCHI, L.; KLEIN, R. Allergic cholestatic
hepatitis and exanthema induced by metamizole: verification by lymphocyte
transformation test. Liver. v. 22, n. 6, p. 507-513, 2002.
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