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ALIMENTOS

1. Noções Gerais
➢ Na definição de Paulo Lôbo, os alimentos correspondem aos
valores, bens e serviços destinados a suprir as necessidades
existenciais da pessoa
➢ Em linhas gerais, os alimentos têm como principal fundamento o
princípio da solidariedade
o Nos alimentos devidos de pais para filhos menores, sobressai
o dever de sustento decorrente da autoridade parental
o Decorrem do vínculo de parentesco, quando se tratar de
alimentos devidos entre parentes, como no caso dos
alimentos entre irmãos, ou então dos alimentos entre pais e
filhos maiores
o No caso dos alimentos entre ex-cônjuges ou companheiros,
a doutrina afirma existir um dever de assistência
o No caso de alimentos devidos à pessoa idosa, ressalta-se o
dever de amparo ou de cuidado

2. Características
➢ É direito de natureza personalíssima, o que significa que não pode
ser objeto de cessão entre vivos ou de sucessão hereditária
o Eventuais débitos, contudo, são assumidos pelos herdeiros
no limite das forças da herança
o Quando o alimentado for herdeiro necessário do falecido,
enquanto não houver a partilha, poderá executar alimentos
contra o espólio – neste caso, os alimentos deverão ter sido
previamente fixados em sentença ou acordo
➢ Os alimentos também são irrenunciáveis
o A questão encerra inúmeras controversas, notadamente
quando se pensa nos alimentos devidos entre ex-cônjuges
o Pela literalidade do Código Civil, não é possível renunciar aos
alimentos (art. 1707)
o A súmula 379 do STF veda a renúncia aos alimentos

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o Há entendimentos doutrinários e jurisprudenciais que
flexibilizam a característica da irrenunciabilidade, quando se
tratar de ex-cônjuge ou ex-companheiro
▪ Se a renúncia ocorrer após o casamento ou união,
entende-se que cessa o dever da solidariedade e de
assistência
▪ O próprio STF, em julgados posteriores, flexibilizou a
irrenunciabilidade quando o ex-cônjuge mantiver bens e
rendas suficientes para a subsistência
▪ O STJ, inclusive, já admitiu a renúncia aos alimentos (cf.
REsp 701902); contudo, ela só é possível após o
casamento ou união, não sendo admitida na constância
da relação familiar
➢ Incompensáveis
o Os alimentos não admitem a compensação das dívidas e
obrigações do alimentado para com o alimentante, pois a
natureza das obrigações é distinta (não há como compensar
dívida econômica com dívida existencial – como é o caso dos
alimentos)
o Paulo Lôbo entende que a vedação da compensação não se
estende às modalidades in natura dos alimentos
▪ Contudo, é posição minoritária – notadamente quando
os alimentos forem fixados em dinheiro, em acordo ou
sentença, não sendo possível se desobrigar do
pagamento sob o fundamento de ter adimplido a
obrigação de forma natural
➢ Irrepetíveis
o Uma vez pagos, os alimentos não podem ser repetidos (i.e.,
cobrados de volta)
o A questão é muito controvertida na doutrina, pois há situações
nas quais o alimentado age de má-fé (e.g., “pai” que paga
alimentos para o pretenso filho e depois descobre que, na
verdade, não é o pai)
o Para evitar enriquecimento ilícito, nada impede eventual
direito de regresso em face do verdadeiro titular da obrigação
alimentar
➢ Impenhorabilidade
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o Os alimentos são impenhoráveis, considerando a sua própria
natureza – de manutenção da vida do seu titular
➢ Imprescritíveis
o A pretensão aos alimentos é imprescritível – ou seja, o direito
pode ser exercido a qualquer tempo, sempre que o titular
deles necessitar
o Contudo, a pretensão para haver as prestações alimentares
não pagas prescrevem em dois anos, contados da data em
que vencerem (art. 205, §2º do CC)
▪ No caso de alimentos devidos pelos pais aos filhos
menores, é importante notar que não corre prescrição
entre descendentes e ascendentes, durante o poder
familiar (cf. art. 197, II do CC)
• Assim, por exemplo, enquanto perdurar a
autoridade familiar o filho pode cobrar de seu pai ou
mãe todos os alimentos fixados e já vencidos; por
outro lado, ao alcançar a maioridade (ou antes
disso, se for emancipado), somente poderá cobrar
os alimentos vencidos dentro dos últimos dois anos

3. Requisitos
➢ Art. 1695 – “binômio necessidade-possibilidade”
➢ Alguns autores e juízes falam em “trinômio”, incluindo a
razoabilidade ou a proporcionalidade
o A ideia não se sustenta, pois razoabilidade e
proporcionalidade são requisitos de toda e qualquer decisão
judicial – devem ser intrínsecos à tomada de decisão
o A necessidade de quem precisa e a possibilidade de quem
deve pagar, por sua vez, são requisitos específicos da
obrigação alimentar, que a distinguem de outras obrigações

4. Credores ou alimentandos (e respectivos devedores ou


alimentantes)
➢ Filhos

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o Até 18 anos, o dever alimentar leva em consideração a
autoridade parental (i.e., dever de sustento)
▪ A necessidade do filho menor, portanto, é presumida
o Após a maioridade, eventuais alimentos são devidos em
atenção ao vínculo de parentesco
▪ Embora a maioridade implique no fim do poder familiar,
não implicará na cessação automática do dever de
prestar alimentos
▪ Segundo o STJ (REsp 739004), não há exoneração
automática dos alimentos, sem possibilitar ao
alimentado que prove a impossibilidade de prover sua
própria subsistência
▪ Contudo, a partir de então a necessidade não é mais
presumida, e deverá ser provada pelo alimentado
o Considerando o Estatuto da Juventude (Lei 12.852/2013), é
possível justificar o pagamento de pensão até os 29 anos,
enquanto o filho prosseguir estudando
▪ O entendimento do STJ (REsp. 1218510) é de que a
educação superior encerra-se com a graduação, não
sendo incluída eventual pós-graduação
▪ A fixação dos alimentos, nestes casos, assume a forma
transitória
➢ Parentes
o São devidos alimentos entre ascendentes, descendentes e
irmãos (arts. 1696 e 1697)
o Aplica-se a regra da subsidiariedade – primeiro deve-se
cobrar dos ascendentes; em seguida, dos descendentes; e,
em último caso, dos irmãos
o Caso se demonstre que o parente mais próximo não tem
condições de prover seu sustento (e.g., o pai não tem
condições), o alimentado poderá demandar os parentes mais
distantes (e.g., os avós)
▪ Caso os avós paternos sejam demandados, estes
poderão chamar ao processo os avós maternos – e vice-
versa
• Embora não sejam devedores “solidários”, são
corresponsáveis do dever alimentar e, com relação
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ao alimentado, estão na mesma linha e grau de
parentesco
▪ Os avós também podem ser demandados para fins de
complementar a necessidade alimentar parcialmente
atendida pelos pais
➢ Ex-cônjuge ou ex-companheiro
o Os alimentos têm como fundamento o dever de assistência
o Em atenção ao princípio da responsabilidade individual (ou
autorresponsabilidade), a tendência é fixar os alimentos de
forma transitória – como meio de propiciar àquele que deles
necessita a devida inserção no mercado de trabalho
o A doutrina e a jurisprudência tratam, ainda, daquilo que se
convencionou chamar de “alimentos compensatórios”
▪ Na prática, não são alimentos propriamente ditos, mas
uma espécie de compensação econômica, que leva em
consideração o desiquilíbrio econômico das partes após
o divórcio, tendo como função evitar eventual
enriquecimento sem causa
➢ Idoso
o Os alimentos para pessoa idosa estão previstos nos arts. 11
e ss. do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003)
o Merece destaque a solidariedade entre os devedores,
podendo o idoso escolher entre qualquer deles
▪ Há quem admita a possibilidade de um dos devedores
chamar os demais ao processo
▪ Contudo, há julgados em sentido contrário que levam em
consideração três pontos:
• A escolha caberia apenas ao idoso
• O chamamento atrapalharia a celeridade do
processo
• O idoso não pode ser obrigado a litigar contra todos
os seus descendentes
▪ Se um dos filhos for condenado a pagar a totalidade da
pensão, nada impede que promova demanda autônoma
em face dos demais irmãos para acerto das contas,
evitando enriquecimento sem causa

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o O MP ou a Defensoria Pública poderão referendar transações
envolvendo alimentos de pessoa idosa. Eventual acordo
constituirá título executivo extrajudicial
➢ Nascituro
o Os chamados “alimentos gravídicos” estão previstos na Lei
11.804/2008
o A doutrina diverge sobre quem detém o direito aos alimentos
– se é a gestante ou o nascituro
▪ O art. 1º da estabelece que a lei “disciplina o direito de
alimentos da mulher gestante”
▪ O que ocorre, posteriormente e com o nascimento com
vida, é a transferência da legitimidade da gestante para
a criança
▪ Disso não se segue que o nascituro não possa pleitear
alimentos em seu nome, até porque a jurisprudência
admite, em muitos casos, que promova a investigatória
de paternidade
• Neste caso, contudo, não se deve utilizar a lei de
alimentos gravídicos (que seria reservada à
gestante) ou a lei de alimentos (por ausência de
prova pré-constituída)
o Na fixação dos alimentos, o juiz levará em consideração
indícios de paternidade
▪ A questão ganha vulto quando se pensa nas situações
em que a gestante age de má-fé, considerando,
também, a ideia de irrepetibilidade dos alimentos
▪ É possível a realização de exame de DNA intrauterino;
contudo, o procedimento envolve muitos riscos e não é
recomendado
o Nos termos do par. único do art. 6º, após o nascimento com
vida, os alimentos gravídicos são convertidos em pensão
alimentícia em favor do menor

5. Fixação dos alimentos

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➢ Em geral, os alimentos são fixados levando em consideração um
percentual sobre os rendimentos do devedor, sendo pagos em
dinheiro ou pecúnia
➢ É possível utilizar como base o salário mínimo, cf. art. 533, §4º do
CPC
o Neste caso, os alimentos atingem os rendimentos salariais do
devedor
➢ Os alimentos também podem ser fixados in natura, cf. art. 1701 do
CC
o No pagamento in natura, o alimentante entrega ao alimentado
o bem necessário para sua subsistência, como no caso de
comida, moradia, vestuário etc
➢ É possível, ainda, que o valor seja descontado em folha de
pagamento quando o devedor for funcionário público, militar,
diretor ou gerente de empresa ou empregado sujeito à legislação
trabalhista (art. 529 do CPC)
➢ Nos termos da súmula 277 do STJ, julgada procedente a
investigação de paternidade, os alimentos são devidos a partir da
citação
➢ Em situações de urgência, os alimentos podem ser fixados
provisoriamente, no curso do processo judicial, tendo por
finalidade prover o autor com os meios de realizar o seu direito
o Na forma provisória, são concedidos liminarmente após
cognição sumária, nas quais o juiz verifica os elementos de
verossimilhança do pedido (fumus boni iuris) e o receio de
dano aos direitos e integridade do credor (periculum in mora)
➢ Entende-se como alimentos definitivos aqueles fixados por
sentença após cognição exauriente, muito embora tal sentença
não faça coisa julgada
o Paulo Lôbo entende que, havendo redução do montante
fixado em sede cautelar, o novo valor tem eficácia ex nunc
o Contudo, se os alimentos definitivos forem de valor superior,
a eficácia será retroativa e os alimentos são devidos desde a
citação – o devedor terá, neste caso, que pagar a diferença
➢ Também se fala em alimentos transitórios, entendidos como os
alimentos fixados por tempo certo, ou até que se implemente
determinada condição
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o Em geral, são fixados entre ex-cônjuges ou ex-companheiros,
bem como ao jovem que esteja na condição de estudante de
educação superior

6. Atualização, revisão e extinção do dever alimentar


➢ A sentença que condena ao pagamento de alimentos não faz coisa
julgada
➢ O valor dos alimentos é atualizado conforme os critérios previstos
na sentença ou em acordo
o Caso seja fixado em percentual do salário mínimo, leva em
consideração eventuais mudanças em seu valor
o Se leva em consideração os rendimentos do devedor, da
mesma forma
➢ A revisão de alimentos ocorre por meio da chamada ação
revisional
o Leva-se em consideração mudanças na necessidade do
credor e na possibilidade do devedor; tanto credor como
devedor podem, portanto, pleitear a revisão dos alimentos
➢ Extinguem-se os alimentos no caso de morte do alimentando ou
do alimentante
o Contudo, eventuais pensões alimentícias que não tenham
sido pagas constituem débito em face do espólio, e deverão
ser quitadas nas forças da herança deixada pelo devedor
➢ O casamento, união estável ou concubinato do credor extingue o
dever de prestar alimentos (art. 1708)
➢ O novo casamento do devedor, contudo, não extingue a obrigação
alimentar (art. 1709)
➢ O comportamento indigno do credor em face do devedor também
é levado em consideração pela jurisprudência como fator que pode
ensejar a extinção ou redução dos alimentos
o Cf. arts. 1814, 1815, 1962 e 1963

7. Mecanismos para assegurar o adimplemento do dever alimentar


➢ Prisão civil – art. 528 do CPC

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o Sua natureza jurídica não é punitiva, mas sim coercitiva – visa
forçar o devedor ao pagamento do débito
o Somente os débitos que compreendem as últimas três
prestações podem ser objeto de prisão civil
▪ Paulo Lôbo entende que os débitos mais antigos
perderiam a natureza alimentar, no sentido estrito, o que
não justificaria o decreto de prisão
o Ao fixar a prisão, o juiz deve levar em consideração as
circunstâncias do devedor
▪ A prisão pode, por exemplo, prejudicar o devedor que
trabalha e, por consequência, dificultar o próprio
adimplemento da obrigação
▪ Nestes casos, alguns juízes fixavam regimes
diferenciados (e.g., permitem o trabalho de dia,
recolhendo-se o devedor à prisão durante a noite) –
contudo, o CPC é expresso ao determinar o regime
fechado
o Predomina o entendimento de que o executado não pode ser
preso duas vezes pelo mesmo débito – é necessário o
inadimplemento de outras prestações para que se possa
requerer nova ordem de prisão, sob pena de bis in idem
o Conforme orientação do STJ (HC 39902/MG), débitos
posteriores à prisão devem continuar a ser cobrados no
mesmo processo, originando novos mandados de prisão, não
sendo cabível promover novo processo de execução para
cada débito
➢ Protesto da decisão judicial – art. 528, §1º, c/c art. 517 do CPC
o Há quem defenda que o protesto poderá ser feito de ofício
pelo juiz
▪ Neste sentido, tem-se a visão de Luiz Dellore e
Fernanda Tartuce
▪ A expressão “mandará protestar” (art. 528, §1º)
configuraria ordem clara ao magistrado, como forma de
imprimir maior efetividade ao comando decisório
o Por outro lado, Rafael Calmon Rangel entende que o protesto
não poderia ser ordenado de ofício, pois medidas constritivas

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se encontrariam na esfera de disponibilidade da parte
credora, que pode não ter interesse em sua implementação
ou desistir dela a qualquer momento
➢ Caso o juiz verifique a conduta procrastinatória do executado,
deverá dar ciência do fato ao MP, considerando indícios da prática
do crime de abandono material
➢ Há julgados que admitem, ainda, a fixação de multa (astreinte)
como forma de persuadir o alimentante a cumprir com o dever
alimentar

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