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Monografia Fernanda Marques de Oliveira
Monografia Fernanda Marques de Oliveira
Curitibanos
2019
Curitibanos
2019
Fernanda Marques de Oliveira
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de
bacharelado em Medicina Vterinária e aprovado em sua forma seguinte banca:
________________________
Prof. Alexandre de Oliveira Tavela, Dr.
Coordenador do Curso
Banca Examinadora:
________________________
Prof. Rosane Maria Guimarães da Silva, Dr.ª
Orientadora
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof.ª Marcy Lancia Pereira, Dr.ª
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof. Adriano Tony Ramos, Dr.
Universidade Federal de Santa Catarina
Este trabalho é dedicado aos meus amados pais, por todo o amor,
paciência, confiança e carinho que venho recebendo desde 1993.
AGRADECIMENTOS
Meus mais sinceros aplausos vão para meus pais, Fernando e Susana, por me apoiarem
na decisão mais difícil de minha vida, enviarem uma enxurrada de encorajamento, amor,
compressão e permanecerem segurando minha mão mesmo a longos quilômetros de distância.
Agradeço a minha irmã Thayanne, por ser a extensão de tudo o que sou, a continuação
do meu jeito de ser, de viver e de olhar o mundo, obrigada por ser minha pessoa.
Agradeço ao meu cunhado Rafael, por ter se inserido no papel de irmão e amigo e
desempenhado excelentes funções nesta atuação, obrigada por todo o apoio.
Ao meu namorado Caio, por ter se tornado a minha canção favorita e ter me emprestado
seus pais e seu cachorro quando os meus estavam distantes.
Agradeço as minhas amigas Amanda, Renata, Janayna, Eliane, Jolline e Dalila, por
sentarem ao meu lado, trazerem alegria aos meus dias e permitirem que compartilhássemos
nossas vidas, meu mais sincero agradecimento.
Gratidão pela minha Hana, minha vira-lata companheira, obrigada por não me permitir
se sentir sozinha, me recepcionar com entusiasmo mesmo nos dias mais frios do ano, por deixar
minhas roupas repletas de pelos e meu coração repleto de amor.
Um agradecimento especial a minha orientadora Rosane, por sua paciência,
compreensão e disponibilidade em sanar minhas dúvidas.
Aos demais professores, obrigada pelas sementes de pensamentos.
A todos os meus bichos de estimação ao longo destes 25 anos, vocês foram o incentivo
para eu desejar ser médica veterinária.
Aos queridos pacientes que tive o privilégio de conhecer durante a graduação, desejo
profundamente ter contribuído positivamente para seu bem-estar.
As unidades concedentes, Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina e
Vet Plus, obrigada pela oportunidade de estágio, por contribuírem com minha formação
acadêmica e me permitirem conhecer outras tantas pessoas fenomenais.
Aos demais familiares, se um dia eu vier a duvidar da bondade de Deus, só terei de olhar
para vocês, obrigada por serem a melhor família.
E por último e mais importante, a Deus, por me ouvir, realizar os sonhos do meu coração
e ter guardado minha vida até aqui.
Não é o castelo de areia a coisa mais importante na brincadeira da
criança. O mais importante é a imagem de um castelo de areia que a
criança tem na cabeça antes de começar a construir o castelo. Por que
outra razão você acha que ela destrói com as mãos o castelo que acabou
de construir?
(Jostein Gaarder, [s.d.])
RESUMO
O linfoma é a neoplasia de tecido hematopoiético mais prevalente em cães e está entre as mais
frequentes diante de todos os tumores caninos. A maioria dos pacientes afetados tem entre 6 a
7 anos. O Boxer, Basset Hound, Rottweiler, São Bernardo, Labrador Retriever são algumas das
raças mais acometidas por esta desordem linfoproliferativa. O linfoma é classificado de acordo
com sua localização anatômica, sendo divididos em multicêntrico, mediastínico, alimentar,
extranodal e cutâneo. O linfoma multicêntrico corresponde a 75% de todos os linfomas em cães.
Inclui-se como alternativas diagnósticas para linfoma multicêntrico a citologia aspirativa,
avaliação histopatológica, hemograma e exame bioquímico, imaginologia e imuno-
histoquímica. Os tratamentos incluem quimioterapia, radioterapia e cirurgia, sendo a primeira
a mais utilizada. O presente trabalho tem como finalidade relatar o caso de um canino, fêmea,
Rottweiler, com cinco anos de idade, pesando 37kg, apresentando dificuldades visuais,
emagrecimento progressivo, linfadenomegalia generalizada e ixodidiose. Realizado
hemograma, exame bioquímico, citologia de linfonodos cervical superficial, mandibular,
poplíteo e baço, raio-x de tórax e abdômen e ultrassom abdominal. Estão inclusas nas alterações
encontradas anemia não regenerativa, trombocitopenia e hiperproteinemia. Confirmado
linfoma com citologia e uveíte como alteração secundária. Tutora não retornou junto a animal
para iniciar tratamento poliquimioterápico com vincristina, prednisona, ciclofosfamida e
doxorrubicina.
Lymphoma is the most prevalent hematopoietic tissue neoplasm in dogs and is among the most
frequent in all canine tumors. Most affected patients are between 6 and 7 years old. The Boxer,
Basset Hound, Rottweiler, Saint Bernard, Labrador Retriever are some of the breeds most
affected by this lymphoproliferative disorder. Lymphoma is classified according to its
anatomical location, being divided into multicenter, mediastinal, alimentary, extranodal and
cutaneous. Multicenter lymphoma accounts for 75% of all lymphomas in dogs. Diagnostic
alternatives for multicentric lymphoma include aspiration cytology, histopathologic evaluation,
blood count and biochemical examination, imaging and immunohistochemistry. Treatments
include chemotherapy, radiation therapy and surgery, the first being the most used. The present
work aims to report the case of a five year old canine female Rottweiler weighing 37 kg,
presenting with visual difficulties, progressive weight loss, generalized lymphadenomegaly and
ixodidiosis. Performed hemogram, biochemical examination, cytology of superficial cervical
lymph nodes, mandibular, popliteal and spleen, chest X-ray and abdomen and abdominal
ultrasound. Non-regenerative anemia, thrombocytopenia and hyperproteinemia are included in
the changes. Confirmed lymphoma with cytology and uveitis as secondary alteration. Tutora
didn’t return to the animal to initiate polychemotherapy treatment with vincristine, prednisone,
cyclophosphamide and doxorubicin.
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................15
2 REVISÃO DE LITERATURA................................................................................ 17
2.1 LINFÓCITOS ............................................................................................................. 17
2.3.5 Imunofenotipagem.................................................................................................... 23
2.5.3 Radioterapia.............................................................................................................. 28
4 DISCUSSÃO ............................................................................................................. 38
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 42
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 43
15
1 INTRODUÇÃO
A medicina veterinária apresentou relevantes avanços nos últimos anos, seja na área de
medicamentos, alimentação ou convivência entre homem e animal de companhia, em que o
mesmo passou a ser integrante das famílias, refletindo assim na qualidade de vida e longevidade
especialmente de cães e gatos (DALECK; NARDI, 2016). Entretanto, esta longevidade permite
que estes animais recebam maior exposição aos agentes carcinogênicos e isso associado à
debilidade do sistema imunológico comum no processo de envelhecimento, favorece a
incidência de neoplasias em pequenos animais (DALECK; NARDI, 2016).
A palavra “câncer" tem sua origem do grego “karkínos”, que significa “caranguejo” e
foi utilizada pela primeira vez por Hipócrates, considerado o pai da medicina, ou seja, não é
uma doença nova e muito se aprendeu desde então (BRASIL, 2012). Sabe-se que o termo
“câncer” refere-se aos tumores malignos ou neoplasias malignas, caracterizadas pela perda do
controle da divisão celular e capacidade em invadir outras regiões do corpo, provocando as
ditas metástases (BRASIL, 2012).
De acordo com Daleck e Nardi (2016), os tumores de pele e os de tecido mole são os
mais prevalentes dentro da medicina veterinária, seguidos pelas neoplasias de glândulas
mamárias, de tecido hematopoiético, incluindo os linfomas, tumores ósseos, urogenitais,
endócrinos e digestório.
Dentre as neoplasias de tecido hematopoiético, a que se destaca com cerca de 85% dos
tumores malignos em cães são os linfomas, este retrata aproximadamente 20% de todos os
tumores caninos. A maioria dos pacientes afetados tem entre 6 a 7 anos, embora haja
diagnósticos em animais mais jovens e mais idosos. Não há predisposição conforme sexo
quando se fala de linfoma. As raças mais comprometidas são: Boxer, Basset Hound, Rottweiler,
São Bernardo, Labrador Retriever, Cocker Spaniel, Scottish Terrier, Airedale Terrier e Bulldog.
(CARVALHO, 2014; DALECK; NARDI, 2016).
Os linfomas recebem classificação de acordo com localização anatômica, sendo
divididos em multicêntrico, mediastínico, digestório, extranodal e cutâneo, destes, o primeiro
apresenta maior prevalência em cães. De acordo com Valli, Bienzle e Meuten (2017), o linfoma
multicêntrico corresponde a 75% de todos os linfomas em cães, e costuma apresentar-se como
linfadenomegalia em linfonodos viscerais e superficiais, adicionalmente hepatoesplenomegalia
e comprometimento da medula óssea podem estar presentes.
A etiologia do linfoma permanece desconhecida, apesar de relatos que o correlacionam
com herbicidas, especialmente o ácido 2,4diclorofenoxiacético (2,4D), exposição a campos
16
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 LINFÓCITOS
Os linfócitos são células que pertencem à classe dos leucócitos e como tal, possuem
papel importante na defesa do corpo. São as menores células leucocitárias e apresentam em sua
morfologia núcleo arredondado e citoplasma escasso pouco basofílico (CARNEIRO;
JUNQUEIRA, 2004). Representam entre 25-35% do total dos leucócitos. São predominantes
em órgãos como baço, linfonodos e timo. Há duas categorias de linfócitos, a primeira refere-se
aos linfócitos Natural Killer (NK) que fazem parte da imunidade inata e a segunda aos linfócitos
T e linfócitos B que fazem parte da imunidade adaptativa. (COELHO NETO et al., 2009)
De acordo com Martinho, Barros e Barros (2004), a medula óssea e o timo são
entendidos como tecido linfoide primário, visto que são responsáveis pela produção e/ou
maturação de figuras celulares do sangue. A medula óssea é responsável pela formação e
maturação das hemácias, monócitos, plaquetas e leucócitos, com exceção dos linfócitos T, que
sofrem o processo de maturação no timo (MARTINHO; BARROS; BARROS, 2004). Uma vez
completa a maturação celular, os dois tipos de linfócitos (T e B) entram na corrente sanguínea,
migrando para os órgãos linfoides secundários (THRALL et al., 2015).
Os órgãos linfoides secundários representados especialmente pelo baço e linfonodos,
são ricos em macrófagos, células dentríticas/marcadores de superfície (CD), linfócitos T e B.
Os dois primeiros capturam e processam os antígenos, já os linfócitos intermediam as respostas
imunes (TIZARD, 2002).
De acordo com Tizard (2002), cada vez que um agente estranho como vírus, bactéria,
fungo, entre outros, são detectados pelo sistema imune, um grande número de linfócitos
idênticos (clones) é formado e liberado na circulação sanguínea com o intuito de promover a
destruição dos mesmos. Essas respostas ocorrem dentro dos órgãos linfoides, que reflete num
ambiente apropriado para que ocorra interação eficiente entre linfócitos, células apresentadoras
dos antígenos e antígenos estranhos. Após os agentes serem eliminados, uma memória
imunológica com relação a ele permanece circulante pelo sistema vascular, o que confere
proteção contra novos ataques deste agente (TIZARD, 2002).
As células NK como já mencionado, possuem participação importante no sistema imune
inato e são consideradas tumoricidas, além de destruírem células infectadas por vírus. Seu nome
"natural killer" se deve ao fato de não necessitarem de ativação primária para destruir células.
Os linfócitos NK tem a capacidade de distinguir células tumorais de células normais através do
18
2.2 LINFOMA
Preconiza-se o diagnóstico oncológico o mais precoce possível, visto que este é um dos
fatores fundamentais para a eficácia do tratamento antineoplásico. Em vista disso, serão
discutidos nesta sessão métodos diagnósticos, não apenas para identificar a neoplasia mas
também para estadiá-la.
O plano diagnóstico deve incluir exame citológico e/ou histopatológico do tecido
comprometido, assim como exames complementares com o intuito de definir o estadiamento
clínico, fornecendo informações sobre a extensão da doença no paciente (DALECK; NARDI,
2016). Compreende-se aqui, hemograma, bioquímicos pensando especialmente em função
hepática e renal, exames radiográficos, ultrassonografia abdominal, citologia, histopatologia,
entre outros menos frequentes na rotina de pequenos animais.
O exame físico é a porta de entrada para um diagnóstico preciso, portanto, não pode ser
negligenciado. Ao pensar em linfoma multicêntrico, as alterações comuns no exame clínico
incluem: apatia, hiporexia, emagrecimento progressivo, linfadenomegalia, alterações
oftálmicas como uveíte, hipópio e glaucoma, hepatomegalia, esplenomegalia, alterações
cardíacas e respiratórias (CARDOSO et al., 2004, CÁPUA et al., 2011).
Preconiza-se exame físico completo, com palpação minuciosa, avaliação oftálmica e
ausculta torácica cardíaca e pulmonar rigorosa (CARDOSO et al., 2004).
2.3.3 Citologia
os resultados obtidos por Suzano et al. (2010), o grau dos linfomas mais frequentes utilizando
a técnica citológica são intermendiário, alto e baixo, respectivamente.
2.3.5 Imunofenotipagem
2.3.6 Imagenologia
2.4 ESTADIAMENTO
Após definir o tipo tumoral e avaliar o comprometimento geral do paciente, seja ele
relacionado a neoplasia ou não, o próximo passo é determinar a extensão, a disseminação e a
gravidade do câncer, ou seja, estadiá-lo.
25
Os estádios III, IV e V são os mais frequentes na clínica de pequenos animais visto que
os proprietários na maioria das vezes não possuem habilidade ou sensibilidade para identificar
estádios iniciais.
2.5 TRATAMENTO
A quimioterapia adequa-se melhor ao linfoma multicêntrico como terapia, por tratar-se
de uma doença sistêmica, porém, há outras metodologias de tratamento que serão abordadas
aqui.
2.5.1 Quimioterapia
De acordo com Daleck e Nardi (2016), 80% dos casos de linfoma multicêntrico
apresentam remissão total da neoplasia com poliquimioterapia, com duração desta remissão
entre quatro a oito meses.
De forma generalizada, a quimioterapia fundamenta-se em três etapas, indução,
manutenção e terapia de resgate. Na primeira etapa, as doses são maiores e o intervalo entre as
sessões quimioterápicas são menores. Durante a segunda etapa que ocorre após a remissão, as
doses utilizadas são menores e o intervalo entre as sessões são maiores, objetiva-se com isso,
manter a remissão clínica da doença. A terceira etapa ocorrerá a partir de um novo foco
neoplásico com o intuito de uma nova remissão, podendo ser repetido o protocolo de indução
se a recidiva ocorreu após três meses (DALECK, NARDI, 2016).
Pelo caráter mielossupressivo dos agentes antineoplásicos, deve-se realizar hemograma
completo do paciente a cada sessão de quimioterapia, uma vez que a leucopenia é um fator
limitante do tratamento, em que preconiza-se que os pacientes apresentem valores acima de
3.000 neutrófilos/uL, caso contrário, a sessão de quimioterapia deverá ser adiada (COSTA,
2018).
Os cães devem ser monitorados a cada sessão quimioterápica conforme sua resposta ao
tratamento, podendo apresentar remissão completa em que ocorre o desaparecimento total da
neoplasia. Remissão parcial, caracterizada pela diminuição maior ou igual a 50% da neoplasia,
sem evidência de novos focos. Doença estável que ocorre a diminuição ou aumento em até 50%
do tamanho do tumor, sem evidências de novos focos. Doença progressiva, em que há aumento
de pelo menos 50% do tamanho do tumor ou o aparecimento de novos focos (DHALIWAL et
al., 2003).
Para linfomas trabalha-se com a poliquimioterapia, ou seja, utilizam-se mais de uma
droga antineoplásica. Um dos protocolos mais antigos disponíveis envolve ciclofosfamida,
vincristina e prednisona (COP), sendo que diversos protocolos utilizam este como base. Sua
aplicabilidade é para linfomas de baixo grau de acordo com o estadiamento (DALECK,
NARDI, 2016).
O protocolo que promove melhor tempo de remissão e sobrevida é uma variação do
COP, com o diferencial de adição da doxorrubicina (CHOP) e que está pré-estabelecido em 19
semanas. Este protocolo não requer manutenção, entretanto para alguns animais se faz
necessário aumentar o intervalo entre as administrações intravenosas (iv) (DALECK, NARDI,
2016).
Por esta questão já conhecida do aumento de sobrevida e remissão satisfatória do
linfoma ao protocolo CHOP, associado ao fato desta neoplasia ser facilmente diagnosticada por
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citologia, acaba-se preconizando este tratamento sem avaliar o grau, o que acarreta em animais
que apresentam linfoma de baixo grau sendo tratados por um protocolo intensivo (DALECK,
NARDI, 2016).
Os quimioterápicos podem ser classificados em: alquilantes, antimetabólicos,
alcaloides, antibióticos e miscelâneas. Os alquilantes são quimioterápicos de ciclo-inespecífico,
ou seja, atuam em qualquer fase da replicação celular, estando estas em repouso ou em processo
de divisão. Como exemplos que podem ser utilizados para linfoma multicêntrico estão a
ciclofosfamida e a clorambucila (FERDINANDI; FERREIRA, 2019; RIUL; AGUILLAR,
1999).
Os antimetabólicos são considerados ciclo-específico e fase-específica, agindo na fase
de síntese do DNA e como exemplos está o metotrexato. Os alcalóides também são
considerados ciclo e fase específicos, entretanto, atuam como inibidores mitóticos, impedindo
o processo de divisão celular e como exemplos temos a vincristina e vimblastina (GABRIEL et
al., 2017, RIUL; AGUILLAR, 1999).
Os antibióticos antitumorais são de ciclo-específico e fase-inespecífica, agindo em
várias fases do ciclo celular por impedirem a transcrição do DNA, como exemplos temos a
doxorrubicina, bleomicina e actinomicina D (GABRIEL et al., 2017, RIUL; AGUILLAR, 1999.
As miscelâneas são medicamentos com mecanismos de ação pouco conhecidos e como
exemplo temos a L-asparaginase. (RIUL; AGUILLAR, 1999).
O tratamento cirúrgico é eficaz apenas nos estádios iniciais (I ou II) para nódulos
isolados. Entretanto, a biopsia incisional ou excisional é fundamental para a caracterização
histopatológica do linfoma, independentemente de sua localização, visto que fornece
informações histomorfológicas relevantes para sua graduação, assim como já descrito na sessão
2.3.4 (MINAS GERAIS, 2013).
2.5.3 Radioterapia
3 RELATO DE CASO
de 2019, um canino, fêmea, Rottweiler, cinco anos idade, pesando 37kg, com queixa de apatia,
hiporexia, emagrecimento progressivo há cerca de 30 dias e cegueira aguda há um dia. Ao
exame físico do paciente, frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR), pressão
arterial sistólica (PAS) ausculta pulmonar e cardíaca, temperatura retal (TR), tempo de
preenchimento capilar (TPC) e turgor cutâneo apesentaram-se normais de acordo com os
valores de referência. Foram observados: mucosas hipocoradas, presença de ixodidiose,
hifema, opacidade da lente, congestão de vasos episclerais e secreção purulenta em globo ocular
direito (GOD) e globo ocular esquerdo (GOE) e hiperplasia mamária bilateral em mamas
inguinais (M5) e abdominais caudais (M4) com secreção serosa em ambas. Além disso, a
alteração mais marcante em exame físico foi a linfadenomegalia generalizada, envolvendo
linfonodos mandibular, cervical superficial, axilar, inguinal e poplíteo, que se apresentavam
firmes e sem sensibilidade dolorosa à palpação.
Após a realização do exame físico, foi solicitado hemograma completo (Tabela 1) e
perfil bioquímico do paciente (Tabela 2). Foi realizada PAF para citologia em linfonodos
cervical superficial, mandibular e poplíteo. Foi prescrita medicação (Quadro 3), e agendado
retorno em uma semana para realizar radiografia, ultrassonografia, discutir resultados
citológicos e avaliação oftálmica com a docente responsável pelos atendimentos de
oftalmologia.
CHCM 33,1 32 a 36
Reticulócitos 30.170 (0,7%) -
Plaquetograma Resultado Valores de referência Morfologia
Plaquetas (ml/dL) 294 180 – 400 -
Leucograma Resultado Valores de referência Morfologia
Leucócitos (mm³) 13.300 6.000 – 17.000
Segmentados 8.246 (62%) 3.000 – 11.500
Bastonetes 133 (1%) 0 – 300
Eosinófilos 399 (3%) 100 – 1.200
Basófilos 0 Raros
Monócitos 0 0 – 1.200
Linfócitos 4.522 (34%) 1.000 – 5.000
Fonte: Hospital Veterinário UEL, 2019.
Fonte: Hospital Veterinário UEL, 2019. * Glicose: tubo inapropriado para análise, valor não fidedigno.
VCM 55,8 60 a 77
32
CHCM 33,1 32 a 36
Reticulócitos 25.380 (0,6%) -
Plaquetograma Resultado Valores de referência Morfologia
Plaquetas (ml/dL) 168 180 – 400 -
Leucograma Resultado Valores de referência Morfologia
Leucócitos (mm³) 10.400 6.000 – 17.000
Segmentados 5.200 (50%) 3.000 – 11.500
Bastonetes 133 (1%) 0 – 300
Eosinófilos 416 (4%) 100 – 1.200
Basófilos 0 Raros
Monócitos 0 0 – 1.200
Linfócitos 4.784 (46%) 1.000 – 5.000
Fonte: Hospital Veterinário UEL, 2019.
Fonte: cedida pelo Laboratório de Citologia e Patologia do Hospital Veterinário UEL, 2019.
Nota: eventuais figuras mitóticas (círculo branco). Alta quantidade de corpúsculo linfoglandular (em ponta
de seta amarela).
Fonte: cedida pelo Laboratório de Citologia e Patologia do Hospital Veterinário UEL, 2019.
Nota: nucléolos eventualmente evidentes (em ponta de seta vermelha). Alta quantidade de corpúsculo
linfoglandular (em ponta de seta amarela).
36
Quadro 4 – Protocolo quimioterápico instituído pelo HV – UEL para casos de linfoma canino.
Vincristina Ciclofosfamida 250 - Doxorrubicina
Semanas Prednisona VO SID
0,7mg/m² IV 300mg/m² VO 30mg/m² IV
1 X 2mg/Kg
2 X 1,5mg/Kg
3 X 1mg/Kg
4 X 0,5mg/Kg
5 ----- ----- ----- -----
6 X
7 X
8 X
9 X
10 ----- ----- ----- -----
11 X
12 X
13 X
14 X
15 ----- ----- ----- -----
16 X
17 X
18 X
19 X
Fonte: cedido pelo Hospital Veterinário UEL, 2019
38
4 DISCUSSÃO
secundários a uveíte (DALECK; NARDI, 2016). De acordo com Vail e Young (2007),
alterações como esta podem ser secundárias ao linfoma e são frequentemente observadas em
pacientes que se encontram em estádios mais avançados como IV e V (referente classificação
da OMS).
O tratamento prescrito para as alterações oftálmicas visibilizadas na primeira consulta
incluem diclofenaco sódico 0,1% uso tópico, atropina 1%, uso tópico, piroxicam 10mg, uso
sistêmico e omeprazol 40mg, uso sistêmico. Esta prescrição foi substituída pela docente
responsável pelos atendimentos oftalmológicos por de prednisolona 1%, uso tópico. O objetivo
do tratamento da uveíte é aliviar a dor e controlar a inflamação com o intuito de preservar a
visão (RIBEIRO; SCHRODER, 2015). Por estes motivos, são recomendados o uso de
cicloplégicos tópicos como é o caso da atropina, anti-inflamatórios tópicos e sistêmicos
(PINHEIRO; NETTO, 1999). De acordo com Ribeiro e Schroder (2015), a prednisolona 1% é
o fármaco tópico de escolha para cães e gatos com uveíte anterior, independente da causa.
Diante disso, é possível estabelecer que nenhum dos tratamentos foi equivocado.
As diferentes projeções dos exames radiográficos não refletiram nenhuma alteração. De
acordo com Hora (2012), a busca por metástases torácicas torna-se mais eficiente quando
realizadas três projeções (DLD, DLE, DVD) ao invés de duas. Na universidade concedente
foram realizadas duas projeções (DLD e DVD).
As alterações ultrassonográficas encontradas referem-se a hepatoesplenomegalia e
linfadenomegalia abdominal. Estes achados são consistentes com linfoma multicêntrico. Em
estudo realizado com cães positivos para os mais variados linfomas, foram avaliadas alterações
abdominais por ultrassonografia, em que 57%, 54% e 51%, dos animais apresentaram
linfadenomegalia abdominal, hepatomegalia e esplenomegalia, respectivamente. A
esplenomegalia e hepatomegalia observados no animal estudado são consequências da
infiltração neoplásica linfoproliferativa.
Em razão da facilidade em diagnosticar linfomas pelo exame citológico, as práticas
envolvendo o exame histopatológico e a imunofenotipagem acabam sendo negligenciadas, o
que impede a determinação precisa do grau de malignidade. Por conta disso, são utilizados
protocolos que comprovadamente promovem tempo de sobrevida mais duradouro, ainda que
sejam mais intensivos, como é o caso do protocolo CHOP.
Ao levar em consideração o estadiamento proposto pela OMS, pode-se afirmar que a
terapia prevista para a paciente em questão seria ideal, visto que a mesma se encontrava em um
estádio avançado e como tal, uma abordagem mais agressiva seria condizente com o quadro.
Entretanto, não foi possível classificar o linfoma de acordo com seu grau de malignidade, visto
41
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CÁPUA, Maria Luisa Buffo de et al. Linfoma canino: clínica, hematologia e tratamento
com o protocolo de Madison-Wisconsin. 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/cr/2011nahead/a4011cr3979.pdf>. Acesso em: 23 jun. 2019.
FADEL, Thaís Ribeiro et al. Estudo retrospectivo das alterações hematológicas e bioquímicas
observadas em cães com linfoma multicêntrico e sua importância no prognóstico desta
neoplasia. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNESP, 27., 2015, SÃo
Paulo. CONGRESSO. São Paulo: Unesp, 2015. p. 1 - 1.
GARCIA FILHO, Sérgio Pinter; DIAS, Maria Angélica; ISOLA, Geraldo Meirelles
Palma. ERLIQUIOSE CANINA. 2010. 7 f. Monografia (Especialização) - Curso de
Medicina Veterinária, Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2010.
MOURA, Veridiana Maria Brianezi Dignani de; SEQUEIRA, Júlio Lopes; BANDARRA,
Enio Pedone. Linfoma canino. Revista de Educação Continuada do Crmv-sp, São Paulo, v.
2, n. 2, p.29-33, mar. 1999.
THRALL, Mary Anna et al. Hematologia e bioquímica: clínica veterinária. 2. ed. Rio de
Janeiro: Roca, 2015.
SUZANO, Sara Maria de Carvalho e et al. Classificação citológica dos linfomas caninos.
Braz. J. Ver. Res. Anim. Sci, São Paulo, v. 47, n. 1, p.47-54, out. 2010.
TIZARD, Ian R.. Imunologia Veterinária: uma Introdução. 6. ed. Brasil: Roca, 2002.
VAIL, D.M.; YOUNG, K.M.. Hematopoietic Tumors. In: WITHROW, S.J.; MACEWEN’S,
E.G.. Small Animal Clinical Oncology. Philadelphia: Wiley Blackwell, 2007. Cap. 31. p.
699-733.
VALLI, Victor E.; BIENZLE, Dorothee; MEUTEN, Donald J.. Tumors of the
Hemolymphatic System. In: MEUTEN, Donald J.. Tumors in Domestic Animals. Usa:
Wiley Blackwell, 2017. Cap. 7. p. 203-221.