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PISO NACIONAL DA ENFERMAGEM

Perguntas e respostas
Ednaldo Brito
Instagram @ednaldo_brito_mpt22
Email ednaldobritosilva@gmail.com
Nesse material, compartilho, em forma de perguntas e respostas, minha
interpretação sobre a decisão do STF no segundo referendo na medida cautelar na ADI 7222,
com o propósito de estimular o debate acadêmico sobre uma decisão do Supremo Tribunal
Federal que inovou substancialmente o Direito do Trabalho, pois:

- criou uma condição (a necessidade de intervenção sindical prévia) para a


aplicação de um piso salarial estabelecido em lei nacional;

- assentou o entendimento de que piso salarial nacional pode ser reduzido por
convenção ou acordo coletivo do trabalho;

- firmou o entendimento da inconstitucionalização progressiva dos pisos salariais


nacionais, no sentido de que os próximos pisos criados por lei nacional poderão
ser considerados potencialmente inconstitucionais.

As decisões e leis mencionadas nesse material podem ser acessadas nos seguintes
links:

Lei 14.434/2022 (Piso Nacional da Enfermagem)


Portaria GM/MS 597, de 12.5.2023, do Ministério da Saúde
Constituição Federal
Código Civil
CLT
Lei 12.690/2012 (Cooperativas de Trabalho)
Voto complementar conjunto do Min. Roberto Barroso e Min. Gilmar Mendes que
prevaleceu no julgamento do piso da enfermagem.
Voto do Min. Alexandre de Moraes no piso nacional dos agentes comunitários de
saúde
Link para o processo ADI 7222/DF

Deixe o seu entendimento, a sua opinião, no direct no nosso Instagram


@ednaldo_brito_mpt22 a respeito do tema debatido nesse material.

Bons estudos!

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Ednaldo Brito
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Perguntas e respostas
1. Quais os valores do piso da enfermagem estabelecidos na Lei 14.434/2022?

a. Enfermeiro: R$ 4.750,00
b. Técnico de enfermagem: R$ 3.325,00
c. Auxiliar de enfermagem e parteira: R$ 2.375,00

2. Quando o piso será pago pelas empresas privadas em geral?

a. Em 60 dias, contados da publicação da ata do julgamento do segundo


referendo na medida cautelar na ADI 7222. Até o momento (5.7.2023) a ata
não foi publicada.
b. Mas atenção: Nesse prazo, sindicatos e empresas poderão celebrar acordo
coletivo ou convenção coletiva estabelecendo um valor diferente da lei,
conforme explicado na próxima pergunta. Se essa negociação ocorrer, será
aplicado o valor negociado.

3. Quais as condições para que o piso seja pago pelas empresas privadas em geral?

Basicamente, o pagamento do piso passa pelas seguintes etapas:

1ª Fase: Tentativa de negociação


a. Primeiramente, sindicatos de trabalhadores e de empregadores (ou
sindicatos de trabalhadores e empresas) precisam estabelecer diálogo no
sentido de verificar a possibilidade de celebrar acordo coletivo ou
convenção coletiva de trabalho estabelecendo o valor do piso, que pode ser
menor, igual ou maior que o fixado pela Lei 14.434/2022;

2ª Fase: celebração (ou não) de negociação

b. Se, no prazo de 60 dias, contados da data de publicação da ata de


julgamento (ver pergunta 2 acima), sindicatos e empresas chegarem a um
acordo, será aplicado o valor que as partes negociaram, que poderá ser
menor, igual ou maior que o piso estabelecido na Lei 14.434/2022;

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c. Se as partes não chegarem a um acordo nesse prazo, as empresas deverão
pagar o valor do piso estabelecido na Lei 14.434/2022.

4. E se não houver tentativa de negociação entre os sindicatos e as empresas?

a. As empresas não estarão obrigadas a pagar o piso estabelecido na Lei


14.434/2022.

5. O que acontece se o sindicato dos empregadores evitar dar início ao processo


de negociação para impedir a incidência do piso?

a. Entendo que essa situação caracteriza falta de boa-fé objetiva e poderá


motivar o ajuizamento de ação coletiva pelo sindicato dos trabalhadores
exigindo o pagamento do piso no valor estabelecido em lei, com base no
art. 129 do Código Civil (Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a
condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem
desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição
maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento).

6. E se as negociações ultrapassarem o prazo de 60 dias?

a. As empresas deverão efetuar o pagamento do piso no valor estabelecido


na Lei 14.434/2022 quando terminar o prazo de 60 dias (pergunta 2) até
enquanto não se chega a um acordo. Se, depois, as partes celebrarem
acordo coletivo ou convenção coletiva, será aplicado o valor negociado.

7. Se houver acordo coletivo ou convenção coletiva de trabalho em vigor com um


piso menor que o da Lei 14.434/2022, é preciso nova negociação coletiva no
prazo de 60 dias?

a. Aplicam-se as mesmas regras e fases da pergunta 3:

i. Se as partes não tentarem promover nova negociação coletiva, não


há como obrigar a empresa ao pagamento do valor estabelecido na

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Lei 14.434/2022. Nesse caso, continuarão sendo aplicados os valores
estabelecidos na convenção ou acordo coletivo em vigor;
ii. Se as partes iniciarem nova negociação coletiva, mas não chegarem
a um acordo no prazo de 60 dias (pergunta 2), as empresas deverão
pagar o piso estabelecido na Lei 14.434/2022, mesmo que ainda não
tenha chegado à data base da categoria;
iii. Quando as partes chegarem a um novo acordo coletivo ou
convenção coletiva, será aplicado o valor negociado.

8. As partes (sindicatos e empresas) podem iniciar as negociações após o prazo de


60 dias, contados da publicação da ata de julgamento?

a. A decisão do Supremo não regulamentou essa situação. Entendo que a


tentativa de negociação pode ocorrer após o prazo de 60 dias da ata de
julgamento. Porém, nesse caso, considero razoável interpretar que as
partes teriam novo prazo de 60 dias, contados do início das negociações,
para a celebração do acordo ou convenção coletiva. Decorrido esse prazo
sem a formalização do acordo ou convenção, a empresa estaria obrigada a
pagar o valor estabelecido na Lei 14.434/2022.

9. O valor do piso pode ser reduzido por acordo coletivo ou convenção coletiva de
trabalho?

a. Sim. Também pode ser pactuado um valor igual ou maior ao da lei.

10. O valor do piso pode ser reduzido por acordo individual entre empregado e
empresa?

a. Não.

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11. Existe alguma contrapartida para os trabalhadores se houver concordância com
a redução do piso em convenção ou acordo coletivo de trabalho?

a. Sim. Além das contrapartidas que podem ser negociadas entre sindicatos
e empresas, a CLT prevê que, se for pactuada cláusula que reduza o salário
ou a jornada, a convenção coletiva ou o acordo coletivo de trabalho
deverão prever a proteção dos empregados contra dispensa sem justa
causa durante o prazo de vigência do instrumento coletivo (art. 611-A, §
3º).

12. O valor do piso nacional da enfermagem estabelecido na Lei 14.434/2022 pode


ser pago de forma proporcional à jornada reduzida?

a. Sim. O valor mensal completo do piso é para quem executa 220h mensais.
Se a jornada do empregado é reduzida, o piso pode ser reduzido
proporcionalmente.

13. Os empregados públicos também estão sujeitos à redução do piso por acordo
coletivo ou convenção coletiva de trabalho?

a. Não. A redução do piso por convenções e acordos coletivos de trabalho foi


estabelecida pelo STF como medida para evitar demissões no setor privado
e em razão do princípio da liberdade de iniciativa. No serviço público, vale
a regra de que a União deve complementar os recursos necessários ao
pagamento do piso para servidores e empregados públicos dos Estados,
Distrito Federal e Municípios.

14. Quando o piso deve ser pago aos servidores e empregados públicos da União?

a. Imediatamente. Não existe norma estabelecendo prazo para o pagamento


do piso pela União. Portanto, em tese, desde a decisão do Min. Roberto
Barroso determinando o retorno da obrigatoriedade de pagamento, em
15.5.2023, o piso é devido aos servidores e empregados públicos federais.

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15. Quando o piso deve ser pago aos servidores e empregados públicos dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios?

a. Pelos prazos de repasse estabelecidos na Portaria GM/MS 597, de 12.5.2023,


do Ministério da Saúde, é possível prever que o piso pode começar a ser
pago a partir do mês de julho de 2023 aos servidores e empregados
públicos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
b. Essa portaria estabelece que o FNS (Fundo Nacional de Saúde) repassará
aos fundos estaduais e municipais de saúde os recursos necessários à
complementação do piso em 9 parcelas, sendo a primeira paga em
maio/2023. Depois, os Estados, Distrito Federal e municípios têm 30 dias
para realizar o repasse aos respectivos estabelecimentos de saúde (ou seja,
junho/2023). Portanto, possivelmente em julho já haverá recursos
financeiros para pagamento do piso.

16. Quando o piso deve ser pago aos empregados dos estabelecimentos de saúde
que participam do SUS de forma complementar e atendem, no mínimo, 60%
dos seus pacientes pelo SUS?

a. Os prazos serão iguais aos da pergunta 14.

17. Esgotadas as parcelas anuais de repasse da União, os Estados, o DF, os


municípios e as entidades privadas que atendam pelo menos 60% dos pacientes
pelo SUS estarão desobrigadas do piso?

a. Sim. Eles poderão continuar efetuando o pagamento do piso com recursos


próprios caso optem por essa solução.

18. Os empregados dos estabelecimentos de saúde que participam do SUS de


forma complementar e atendem, no mínimo, 60% dos seus pacientes pelo SUS,
também podem ter o piso reduzido por convenções ou acordos coletivos de
trabalho?

a. Não. A União precisa repassar recursos financeiros a esses


estabelecimentos de saúde para viabilizar o pagamento do piso no valor

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que está na Lei 14.434/2022. No entanto, se não houver o repasse de valor
suficiente, os empregados poderão receber valor inferior ao estabelecido
na lei.

19. O valor do piso nacional da enfermagem estabelecido na Lei 14.434/2022 deve


corresponder ao vencimento básico do cargo ou à remuneração para os
servidores públicos?

a. Essa definição não foi objeto de votação por todos os Ministros do STF.
Entendo que, no serviço público, poderia ser adotado o entendimento
proposto pelo Ministro Alexandre de Moraes no julgamento do piso dos
agentes comunitários de saúde (RE 1279765/BA, Tema 1132).
A tese proposta é a seguinte: “A expressão "piso salarial" deve ser interpretada
como a contraprestação pecuniária mínima paga ao profissional da categoria
acrescida das verbas fixas, genéricas e permanentes, pagas indistintamente a toda
a categoria, e que sejam desvinculadas de condições de trabalho específicas de cada
servidor, e não tenham por base critérios meritórios individuais”.

20. Os sócios das cooperativas de trabalho terão direito a fazer retiradas


equivalentes ao piso da enfermagem?

a. Essa situação não foi tratada na decisão do STF. Contudo, entendo que, em
regra, as cooperativas de trabalho regulamentadas pela Lei 12.690/2012
precisarão garantir aos sócios cooperados retiradas equivalentes, no
mínimo, ao piso da enfermagem, em razão da previsão contida no art. 7º,
I, da referida lei. Porém, se houver negociação coletiva reduzindo o valor
do piso, a cooperativa deverá garantir aos cooperados o valor estabelecido
no acordo ou convenção coletiva.

21. Profissionais da enfermagem contratados diretamente pela família terão direito


a receber o piso da Lei 14.434/2022 dos seus empregadores?

a. Não. O § 12 do art. 198 da CF estabelece que o piso da enfermagem deve


ser pago por pessoas jurídicas, não obrigando os empregadores
domésticos, que são pessoas físicas. Além disso, a Constituição Federal não

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estendeu aos empregados domésticos o direito ao piso salarial previsto no
art. 7º, V.

A DECISÃO DO STF (com títulos e destaques acrescidos)

Decisão: Por 8 votos a 2, o Tribunal referendou a decisão de 15.05.2023, que revogou


parcialmente a medida cautelar, acrescida de complementação, a fim de que sejam
restabelecidos os efeitos da Lei nº 14.434/2022, à exceção da expressão acordos,
contratos e convenções coletivas (art. 2º, § 2º), com a implementação do piso salarial
nacional por ela instituído nos seguintes termos:

SERVIDORES DA UNIÃO
(i) em relação aos servidores públicos civis da União, autarquias e fundações públicas
federais (art. 15-B da Lei nº 7.498/1986), a implementação do piso salarial nacional
deve ocorrer na forma prevista na Lei nº 14.434/2022;

SERVIDORES DOS ESTADOS, DF E MUNICÍPIOS


(ii) em relação aos servidores públicos dos Estados, Distrito Federal, Municípios e de
suas autarquias e fundações (art. 15-C da Lei nº 7.498/1986), bem como aos
profissionais contratados por entidades privadas que atendam, no mínimo, 60% de
seus pacientes pelo SUS (art. 15-A da Lei nº 7.498/1986):

a) a implementação da diferença remuneratória resultante do piso salarial


nacional deve ocorrer na extensão do quanto disponibilizado, a título de
assistência financeira complementar, pelo orçamento da União (art. 198, §§
14 e 15, da CF, com redação dada pela EC nº 127/2022);

DEVER DE PROVIDENCIAR CRÉTIDO SUPLEMENTAR


b) eventual insuficiência da assistência financeira complementar
mencionada no item (ii.a) instaura o dever da União de providenciar crédito
suplementar, cuja fonte de abertura serão recursos provenientes do
cancelamento, total ou parcial, de dotações tais como aquelas destinadas ao
pagamento de emendas parlamentares individuais ao projeto de lei

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orçamentária destinadas a ações e serviços públicos de saúde (art. 166, § 9º,
da CF) ou direcionadas às demais emendas parlamentares (inclusive de
Relator-Geral do Orçamento). Não sendo tomada tal providência, não será
exigível o pagamento por parte dos entes referidos no item (ii);

PISO SALARIAL PROPORCIONAL


c) uma vez disponibilizados os recursos financeiros suficientes, o
pagamento do piso salarial deve ser proporcional nos casos de carga horária
inferior a 8 (oito) horas por dia ou 44 (quarenta e quatro) horas semanais,
vencidos os Ministros Edson Fachin e Rosa Weber.

Pelo voto médio, referendou também o seguinte item da decisão:

PROFISSIONAIS CELETISTAS EM GERAL


(iii) em relação aos profissionais celetistas em geral (art. 15-A da Lei nº 7.498/1986), a
implementação do piso salarial nacional deverá ser precedida de negociação coletiva
entre as partes, como exigência procedimental imprescindível, levando em conta a
preocupação com demissões em massa ou prejuízos para os serviços de saúde. Não
havendo acordo, incidirá a Lei nº 14.434/2022, desde que decorrido o prazo de 60
(sessenta) dias, contados da data de publicação da ata deste julgamento, vencidos os
Ministros Dias Toffoli, Luiz Fux, Nunes Marques e Alexandre de Moraes. Tudo nos
termos do voto conjunto do Ministro Luís Roberto Barroso (Relator) e do Ministro
Gilmar Mendes.

Proclamação realizada pelo Ministro Luís Roberto Barroso, Vice-Presidente no


exercício da Presidência. Plenário, Sessão Virtual de 23.6.2023 a 30.6.2023.

Bons estudos!

Ednaldo Brito

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